Download - Fraudes Em Alimentos Tipos e Deteccao
GABRIELA NIEMEYER REISSIG
FRAUDES EM ALIMENTOS:TIPOS E DETECÇÃO
Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de Bacharelado em Química de Alimentos da Universidade Federal de Pelotas como requisito parcial da Disciplina de Seminários em Alimentos.
Orientador: Márcia Arocha Gularte
Pelotas, 2009.
Resumo
REISSIG, Gabriela Niemeyer. Fraudes em Alimentos: Tipos e Detecção.
2009. 38f. Trabalho acadêmico – Bacharelado em Química de Alimentos.
Disciplina de Seminários em Alimentos. Universidade Federal de Pelotas,
Pelotas.
As fraudes em alimentos são artifícios usados sem o consentimento oficial,
resultado da modificação de um produto, visando lucro ilícito e que não fazem
parte de uma prática universalmente aceita. O problema das fraudes é bem
antigo (desde a Idade Média já haviam casos,como por exemplo, de fraudes
com pesos e medidas e adulteração de alimentos e bebidas), e com o
progresso tecnológico e a evolução do mundo também estes fenômenos
evoluíram. O Código de Defesa do Consumidor diz que se o consumidor
adquire um produto e seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes
na embalagem (rótulo, recipiente,mensagem publicitária, etc.) ou se o
consumidor adquirir um alimento com vícios de qualidade que os tornem
impróprios ao consumo (ou lhes diminuam o valor), cabe ao mesmo
consumidor exigir abatimento proporcional do preço, complementação do peso
ou medida, substituição do produto por outro da mesma espécie ( sem o
aludido vício) e restituição imediata da quantia paga. As fraudes em alimentos
são dividas em 4 grandes modalidades : Fraudes por alteração (enzimáticas,
químicas, microbiológicas, macrobianas, etc.), por adulteração (adição,
subtração, etc.), por falsificação e por sofisticação. Do mesmo modo que as
técnicas fraudulentas evoluem, os sistemas de detecção das mesmas
continuam também a melhorar. Sendo a maioria das fraudes de difícil
percepção para o consumidor, cabe a entidades responsáveis pelo controle de
qualidade de alimentos verificar e controlar os possíveis tipos de fraudes que
podem ocorrer.
Palavras-chave: Fraudes. Detecção. Código de Defesa do Consumidor.
Lista de Figuras
Figura 1. Micrografia eletrônica de varredura de grânulos de amido de trigo
(barra= 500µm)……………………………………………………………………….27
Figura 2. Micrografia eletrônica de varredura de grânulos de amido de milho
(barra= 500µm)……………………………………………………………………….27
Figura 3. Micrografia eletrônica de varredura de café torrado e moído fraudado
com 5% de milho (A), cevada (B) e trigo (C) (barra= 100µm)…………………..28
Figura 4. Aparelho para análise de crioscopia…………………………………...33
Lista de Tabelas
Tabela 1. Exemplos de produtos adulterados por adição de alimentos ou
substâncias inferiores………………………………………………………………14
Tabela 2. Exemplos de alimentos adulterados por adição de elementos não
permitidos ou substâncias não reveladas……………………..…………………15
Tabela 3. Exemplos de alimentos adulterados por subtração de seus
constituintes…………………………………………………………………………16
Tabela 4. Exemplos de alimentos adulterados por subtração e adição de
constituintes………………………………………………………………………….17
Tabela 5. Exemplos de alimentos adulterados por extração e adição de
constituintes………………………………………………………………….............17
Tabela 6. Exemplos de alimentos adulterados por recuperação fraudulenta…20
Tabela 7. Exemplos de falsificação envolvendo a qualidade do alimento…....21
Tabela 8. Exemplos de falsificação envolvendo a procedência do alimento…26
Sumário
Resumo................................................................................................................2
Lista de Figuras...................................................................................................3
Lista de Tabelas...................................................................................................4
1.Introdução.........................................................................................................7
2.Fraudes em Alimentos......................................................................................9
3.Tipos de Fraudes………………….……………………………………………….11
3.1.Fraudes por Alteração.................................................................................11
3.2.Fraudes por Adulteração.............................................................................12
3.2.1.Por adição ao produto de alimentos ou substâncias inferiores…………13
3.2.2.Por adição de elementos não permitidos ou adição de substâncias não
reveladas……………………………………………………………………………..14
3.2.3.Por subtração de constituintes dos alimentos…………………………….15
3.2.4.Por subtração e adição de constituintes, simultaneamente……………..16
3.2.5.Por substituição no produto, de um ou mais de seus constituintes…….17
3.2.6.Por substituição de alimento original, por outro elaborado
artificialmente……………………………………………………………………..…..18
3.2.7.Por substituição da matéria-prima anunciada na embalagem, por outra
parecida, porém de menor valor…………………………………………………..18
3.2.8.Por omissão de constituintes constantes da fórmula de registro de
fabricação…………………………………………………………………………….18
3.2.9.Por simulação de quantidade de alimento especificada…………………19
3.2.10.Por aproveitamento de alimentos degenerados…………………………19
3.2.11.Por recuperação fraudulenta de alimentos……………………………….19
3.3.Fraudes por Falsificação………………………………………………………20
3.3.1.Quanto à qualidade…………………………………………………………..21
3.3.2.Quanto ao peso………………………………………………………………22
3.3.3.Quanto à apresentação do produto………………………………………….22
3.3.4.Quanto á procedência do produto………………………………………….22
3.3.5.Quanto à propaganda do produto……………………………………….….23
3.4.Fraudes por Sofisticação………………………………… …………………23
4.Detecção de Fraudes em Alimentos……………………………………………25
4.1.Utilização de microscopia eletrônica de varredura para detecção de fraudes
em café torrado e moído…………………………………………………………..25
4.2.Métodos de detecção de fraude em leite por adição de soro de queij….....28
4.3.Detecção de fraudes em azeite de oliva através da quantificação de
estigmastadienos por cromatografia em fase gasosa……………………….….30
4.4.Detecção de melamina (2,4,6-triamino-1,3,5 triazina) em leite e rações
animais……………………………………………………………………………….30
4.5.Detecção de fraudes em leite pasteurizado………………………………....31
4.6.Análises físico-químicas utilizadas para detecção de fraudes em leite
fluído………………………………………………………………………………….35
4.7.Detecção de fraudes em doce de leite........................................................32
5.Conclusão……………………………………………………………………….….36
Referências…………………………………………………………………………...37
1.Introdução
As fraudes em alimentos são alterações, adulterações e falsificações
realizadas com a finalidade de obtenção de maiores lucros. Estas operações
procuram ocultar ou mascarar as más condições estruturais e sanitárias dos
produtos e atribuir-lhes requisitos que não possuem (EVANGELISTA, 1989).
Vários documentos comprovam que desde a Idade Média já haviam
casos, muito comuns, de fraudes com pesos e medidas e com adulteração de
alimentos e bebidas.
O problema das fraudes é bem antigo, e com o progresso tecnológico e
a evolução do mundo também estes fenômenos evoluíram. Os fraudadores são
muito criativos, freqüentemente bem informados, flexíveis e adaptáveis a novas
situações, por isso novas fraudes aparecem sempre, se ajustando e
aproveitando cada nova oportunidade.
Como acontece na maioria dos crimes, as fraudes podem ser
explicadas pela coexistência de três fatores primários: a existência de golpistas
(fraudadores), disponibilidade de vítimas vulneráveis (consumidores) e a
ausência de um controle rigoroso e eficaz (PALODI, 2009).
De acordo com Evangelista (1989) a venda de produtos mistificados
está sujeita a sanções penais; infelizmente porém, as infrações dessas
disposições são, entre nós, muito mais freqüentes do que se julga, por culpa,
em grande parte, da deficiente fiscalização dos órgãos competentes.
Apesar dos direitos citados no Código de Defesa do Consumidor, o
abatimento sobre o alimento fraudado e uma possível restituição se tornam
difíceis pelo fato da maioria das fraudes não serem de explícita visualização e
quanto ao tempo de notificação da fraude, já que a partir do momento da
compra tem-se 30 dias para fazer a notificação.
Do mesmo modo que as técnicas fraudulentas evoluem, os sistemas
de detecção das mesmas continuam também a melhorar. Sendo na maioria
das vezes impossível a detecção da fraude pelo consumidor.
O método de detecção de fraude a ser utilizado vai variar com o tipo de
alimento que se quer analisar, dependendo da sua composição química e
características específicas.
Este estudo tem como objetivo salientar os diferentes tipo de fraudes
existentes, como um consumidor pode agir quando descobre que adquiriu um
produto fraudado e os possíveis métodos de detecção de fraudes em diferentes
tipos de alimentos.
2. Fraudes em Alimentos
Considera-se fraude, os artifícios usados sem o consentimento oficial,
resultado da modificação de um produto, visando lucro ilícito e que não fazem
parte de uma prática universalmente aceita (KOLICHESKI, 1994).
As fraudes comprometem características sensoriais e muitas vezes o
valor nutritivo dos alimentos. São práticas prejudiciais sempre indo de encontro
aos interesses dos consumidores (EVANGELISTA, 1989).
De acordo com o capítulo IV do Código de Defesa do Consumidor,
artigo 18, são impróprios ao uso e consumo produtos:
- cujos prazos de validade estejam vencidos;
- produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados,
corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda,
aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação,
distribuição ou apresentação;
- produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a
que se destinam (IDEC,2009).
O artigo 19 do Código de Defesa do Consumidor, capítulo IV, diz que:
“Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de
quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de
sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do
recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o
consumidor exigir, alternativamente e a sua escolha:
I - o abatimento proporcional do preço;
II - a complementação do peso ou medida;
III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou
modelo, sem os aludidos vícios;
IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada,
sem prejuízo de eventuais perdas e danos”.
Ainda referente a abatimentos e restituições temos o artigo 20 do
Código de Defesa do Consumidor, capítulo IV, que diz o seguinte:
“O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os
tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por
aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou
mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua
escolha:
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada,
sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço”.
A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por
inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade (IDEC,
2009).
Quase todos os alimentos possuem uma Norma Técnica Especial para
Alimentos (NTA), onde constam as especificações padrão que devem ser
seguidas e respeitadas. Sendo assim, qualquer alimento que apresente
características fora das especificações legais é considerado fraudado
(KOLICHESKI, 1994).
3. Tipos de Fraudes
As fraudes em alimentos são praticadas em diversas modalidades,
desde a mais grosseira que nos leva a uma imediata percepção, à mais astuta
e difícil de ser identificada, se enquadram por suas particularidades, em
diferentes tipos (EVANGELISTA, 1989).
De modo geral, pode-se classificar as fraudes em quatro (4) grandes
grupos que são :
- Fraudes por alteração;
- Fraudes por adulteração;
- Fraudes por falsificação;
- Fraudes por sofisticação.
3.1. Fraudes por Alteração
Segundo Evangelista (1989) entende-se por alteração em alimentos
todas as modificações que neles se operam, destruindo parcial ou totalmente
suas características essenciais, por comprometimento de suas qualidades
físicas e químicas, estado de higidez e capacidade nutritiva.
É um tipo de fraude que ocorre sem a interferência de indivíduos.
Ocorre pela ação de agentes físicos, químicos, microbianos e enzimáticos.
Estas alterações podem ser produzidas por negligência, ignorância, desleixo ou
desobediência às normas estabelecidas durante a etapa de processamento, de
conservação e de armazenamento do produto (KOLICHESKI, 1994).
Apesar de certos alimentos estarem evidentemente alterados, pode-se
ainda autorizar o seu consumo.
Como exemplo temos ovos “podres” (povos orientais), queijos
“passados” e leite acidificado (EVANGELISTA, 1989).
Apesar de nos exemplos acima os caracteres normais do alimento
estarem distorcidos, estes podem ser ingeridos, se as transformações
verificadas não tenham chegado ao ponto de colocarem o consumidor em
perigo de vida (EVANGELISTA, 1989).
A alteração só pode ser considerada fraude se o vendedor, sabendo
que o produto se encontra em condições impróprias, efetua ou ordena a sua
comercialização (KOLICHESKI, 1994).
Desde a etapa de obtenção do alimento até seu consumo, existem
causas que criam condições favoráveis a alterações:
a) Falhas na coleta e obtenção do produto alimentício: sangramento
insuficiente na matança de animais, ordenha de leite feita indevidamente,
utilização de explosivos e arpões durante a pesca, etc.
b) Omissões na elaboração do produto: cocção deficiente de pesos de
carnes de grande espessura, emprego de temperaturas desajustadas em
tempo e grau de calor, etc.
c) Incorreções nos processos de preservação: congelação de verduras
sem que haja prévio branqueamento, o não arejamento de carnes submetidas
à salga, etc.
d) Inadequações do material de envasamento: cerveja acondicionada
em garrafas de cor branca, latas fechadas que apresentam fissuras por
defeitos de soldagem, etc.
e) Impropriedades do transporte: acondicionamento mal feito, longos
percursos sem os cuidados exigidos, exposições ao calor e os choques durante
o trajeto. (EVANGELISTA, 1989)
Segundo Evangelista (1989), as alterações podem ser classificadas em
cinco (5) grupos
- Alterações enzimáticas (ranço hidrolítico e escurecimento enzimático);
- Alterações por agentes químicos (escurecimento químico e ranço
oxidativo);
- Alterações por agentes físicos (temperatura e luz solar);
- Alterações macrobianas (roedores, insetos, etc.);
- Alterações por microrganismos (fungos, bactérias e leveduras).
3.2.Fraudes por Adulteração
O Código Alimentário Argentino diz que alimento adulterado é “aquele
que foi privado em forma parcial ou total, de seus elementos úteis ou
característicos, substituídos ou não por outros inertes ou estranhos, que tenha
sido adicionado de aditivos não autorizados ou submetidos a tratamento de
qualquer natureza, para dissimular ou ocultar alterações, deficiente qualidade
de matéria-prima ou defeitos de elaboração” (EVANGELISTA, 1989).
As fraudes por adulteração de alimentos são realizadas
intencionalmente. Embora este tipo de fraude influencie pouco os caracteres
sensoriais dos alimentos, afeta profundamente o seu valor nutritivo.
Por afetar pouco as características sensoriais dos alimentos, a fraude
por adulteração se torna difícil para a consumidor visualizar, sendo necessário
geralmente análises específicas para sua detecção.
As fraudes por adulteração se verificam em diferentes modalidades:
3.2.1.Por adição ao produto de alimentos ou substâncias inferiores
Ocorre pela adição de elementos estranhos aos produtos. A finalidade
desta fraude é aumentar o peso do alimento ou o seu volume.
Quando autorizado por lei, a adição de produtos inferiores tem aspecto
diferente. Um exemplo muito utilizado para panificação é a colocação de
farinha de milho, de mandioca, de soja em farinha de trigo (EVANGELISTA,
1989).
Tabela 1- Exemplos de produtos adulterados por adição de alimentos ou substâncias
inferiores
Produtos adulterados Causas de fraudes
Café moído Para aumento de volume e peso:
cevada, milho, raízes, casacas de café
etc.
Para aumento da coloração: caramelo
Farinha de trigo Farinhas inferiores
Farinhas inferiores Gesso etc.
Leite Água
Massa de farinha de trigo Farinha de trigo com raspa de
mandioca
Mate Gravetos de erva-mate
Pão de sêmola Farinha de trigo com raspa de
mandioca
Picles Ácido acético no vinagre
Pimenta do reino Sementes de mamão, dessecadas e
moídas
Serragem de madeira
Sal e açúcar Areia
Vinagre de álcool Água
Vinagre de vinho Ácido acético
Fonte: EVANGELISTA, 1989.
3.2.2.Por adição de elementos não permitidos ou adição de substâncias
não reveladas
Consiste na adição em produtos alimentícios, de aditivos não
permitidos ou quando autorizados, em quantidade além dos limites ou
acréscimos de alimentos propositadamente não revelados (EVANGELISTA,
1989).
Tabela 2- Exemplos de alimentos adulterados por adição de elementos não permitidos ou
substâncias não reveladas
Elemento ou substância adicionada Fraude
Estereato Utilizado em massas alimentícias para
dar brilho (polimento)
Cloreto de cálcio Utilizado em massas de macarrão
para evitar a formação de goma
Nitrosina Uso de nitrosina em vez de urease
para dar coloração a envoltórios de
salsichas
Pigmentos Usados para simular envelhecimento
de bebidas em tonéis de carvalho
Amido Utilizado no iogurte para aumentar
seu volume e espessamento
Anilina Banhos de anilina em aves, para que
adquiram coloração amarelada e se
passem por frangos “caipiras”
Terra turfosa Banhos com terra turfosa em
mandiocas para que adquiram
coloração negra, indicando que foram
cultivadas em solo preto, para iludir
que o alimento fornece melhores
condições de cozimento.
Fonte: EVANGELISTA, 1989.
3.2.3.Por subtração de constituintes dos alimentos
Está vinculada com a retirada de um ou mais constituintes do produto,
para utilização na produção de outros alimentos, ou para sua venda em
separado (EVANGELISTA, 1989).
Porém, existem as subtrações industriais de subprodutos alimentícios,
que são obtidos pelos mesmos métodos mas sem a intenção de lucro ilícito.
Como exemplo temos o leite, que através da sua padronização é
retirada sua fração graxa, para a fabricação de manteiga, e o leite
posteriormente vai ser vendido como desnatado (desengordurado)
(EVANGELISTA,1989).
Tabela 3- Exemplos de alimentos adulterados por subtração de seus constituintes
Produtos adulterados Causas das fraudes
Café Extração da cafeína (descafeinização)
Farinha de mandioca Nos casos não previstos,
transgressão na retirada da fécula
Leite Retirada do creme; para a fabricação
de manteiga
Trigo Extração das camadas mais
superficiais do albúmen do trigo.
Fonte: EVANGELISTA, 1989.
3.2.4.Por subtração e adição de constituintes, simultaneamente
O constituinte subtraído é trocado por outro, também pertencente ao
produto ou outro componente de natureza semelhante, porém de qualidade
inferior e de menor preço.
Tabela 4- Exemplos de alimentos adulterados por subtração e adição de constituintes
Produtos Adulterados Causas das fraudes
Azeite de oliva Parte do azeite é retirado e
substituído por óleos vegetais
Bombons e produtos recheados A manteiga de cacau é substituída por
gorduras hidrogenadas
Leite Há subtração de parte do volume do
leite, substituída por elemento
equivalente (água).
Fonte: EVANGELISTA, 1989.
3.2.5.Por substituição no produto, de um ou mais de seus constituintes
A adulteração ocorre por substituição de um ou mais constituintes do
alimento, por outros sem nenhuma expressão, mas que transmitem ao produto
as mesmas características do original podendo ocorrer perdas significativas em
seus nutrientes (EVANGELISTA,1989).
Tabela 5- Exemplos de alimentos adulterados por extração e adição de constituintes
Produtos adulterados Causas de fraudes
Embutidos A carne utilizada, geralmente moída,
é substituída ou misturada com outras
não usualmente empregadas na
alimentação humana.
Massas de bolos, de macarrão etc. O ovo constante da especificação do
rótulo é substituído por corante
Pão de centeio A farinha integral e a de centeio são
trocadas por mistura de açúcar
caramelizado e remoído.
Fonte: EVANGELISTA, 1989.
3.2.6.Por substituição de alimento original, por outro elaborado
artificialmente
Esse tipo de fraude pode ser confundida por uma fraude de falsificação.
Sendo que é por adulteração, quando há substituição do produto declarado no
rótulo por outro artificial e por falsificação, quando ocorre falsa alegação da
natureza do produto.
Como exemplo temos certos refrigerantes, como guaraná (solução
açucarada, contendo aditivos acidulante, flavorizante, conservador etc.) e
também suco de uva (preparado com adoçante, essência, acidulante,
conservador etc.) (EVANGELISTA,1989).
3.2.7.Por substituição da matéria-prima anunciada na embalagem, por
outra parecida, porém de menor valor
Segundo Evangelista (1989), esta fraude é muito utilizada em produtos
industrializados. A seguir alguns exemplos:
- Glicose por mel;
- Cação por filé de bonito;
- Filé de cação por peixe fino (corte enviesado);
- Badejo por filé de viola;
- Amido por gelatina.
3.2.8.Por omissão de constituintes constantes da fórmula de registro de fabricação
Ocorre quando falta no produto um ou mais componentes constantes
da fórmula registrada de fabricação (EVANGELISTA, 1989).
3.2.9.Por simulação de quantidade de alimento especificada
Fraude que simula a quantidade de alimento existente, diferente da
especificada e impressa no rótulo.
A finalidade é ganhar da concorrência com preços mais baratos, à
custa de uma menor utilização de matéria-prima.
Alguns exemplos:
- Doces em pasta (especialmente goiabadas) acrescidos de vegetais
como chuchu, banana e abóbora;
- Conservas com seu conteúdo diminuído, em favor do líquido de
cobertura. Apresentando uma porcentagem maior do que a estabelecida pelas
normas regulamentares;
- Produtos enlatados ou acondicionados em envoltórios plásticos, que
não se apresentam com a quantidade especificada na rotulagem;
- Macarrão embalado em pacotes, com menor quantidade da que se
encontra em produtos concorrentes (EVANGELISTA, 1989).
3.2.10.Por aproveitamento de alimentos degenerados
Prática realizada por indústrias sem escrúpulos, que aproveitam
matérias-primas que se apresentam em condições inteiramente condenadas,
obtendo assim um lucro ilícito e ganhando da concorrência. Modalidade esta
que além de prejudicar nutricionalmente os alimentos, também prejudica
sanitariamente. Óleos rancificados são exemplos deste tipo de fraude
(EVANGELISTA, 1989).
3.2.11.Por recuperação fraudulenta de alimentos
Recuperação de alimentos desfigurados em suas qualidades
sensoriais e às vezes sanitariamente. Apesar da maioria das fraudes causarem
perdas nutricionais nos alimentos, nem todas prejudicam a saúde humana. No
caso desta modalidade, deve-se ter muito cuidado.
Tabela 6- Exemplos de alimentos adulterados por recuperação fraudulenta
Produtos Adulterados Causas de fraudes
Carnes suínas e bacalhau As carnes salgadas são lavadas para eliminar as manchas vermelhas ocasionadas por Serratia marcensis
Feijão velho O cereal de safras antigas é tratado por aplicações de óleos
Frutas não sazonadas Recebem coloração por substâncias pigmentadas
Peixes alterados Pincelagem nas guelras, com corantes ou mercúrio cromo
Produtos cárneos Certas manobras são efetuadas visando à “recuperação” de certos produtos, como por exemplo: carnes em más condições sensoriais adicionadas de SO2, para disfarçar seu mau odor e que posteriormente são descoradas e tingidas por corantes; também carnes de coloração indesejável são tratadas por corantes
Produtos com mau odor São “recuperados” através do emprego de aromatizantes.
Fonte: EVANGELISTA, 1989.
3.3.Fraudes por Falsificação
Segundo o Código Alimentário Argentino alimento falsificado “é o que
tenha a aparência e caracteres gerais de um produto legítimo, protegido ou não
por marca registrada e se denomina como este, sem sê-lo, ou que não proceda
de seus verdadeiros fabricantes ou zona de produção conhecida e/ou
declarada” (EVANGELISTA, 1989 ).
A falsificação é a modalidade de fraude levada a efeito na ocasião da
venda do produto e consiste em enganar o consumidor, induzindo-o a adquirir
o alimento de nível inferior, julgando-o de categoria superior.
A falsificação de alimentos pode proceder de diferentes maneiras:
- Quanto à qualidade;
- Quanto ao peso;
- Quanto à apresentação;
- Quanto à procedência;
- Quanto à propaganda.
3.3.1.Quanto à qualidade
Tipo de falsificação relacionada com a categoria do produto, como se
este fosse de alta qualidade, quando na verdade é de classe inferior
(EVANGELISTA, 1989).
Tabela 7- Exemplos de falsificação envolvendo a qualidade do alimento
Produtos Falsificados Causas de Fraude
Carne Cortes de segunda ou terceira,
vendidos como de primeira
Venda de carne de primeira com
contrapeso de carne diferente ou com
excesso de pelancas
Erva-doce Comercialização de funcho barato,
como erva-doce
Frutas Colhidas antes do tempo e que não
amadurecerão nunca
Laranjas De qualidade inferior (azedas), como
se fossem “seleta” etc.
Ovo Venda de ovos de pata ou de
marreco, com de galinha
Peixe De categoria inferior, vendido como
peixe fino
Vegetais (tomate, frutas), camarões etc. Na venda, vegetais defeituosos e de
pior qualidade, são misturados aos de
boa apresentação.
Fonte: EVANGELISTA, 1989.
3.3.2.Quanto ao peso
Ocorre no momento da comercialização, durante as manobras de
pesagem (EVANGELISTA, 1989).
Exemplos:
- Carnes com maior volume de sal e elevado teor de umidade
(molhagem);
- Pesagens de produtos em balanças não aferidas convenientemente;
- Pesagens reduzidas de alimentos envoltos em papel grosso;
- Carnes pesadas com pelancas, cartilagens, sebo ou carnes de
qualidade inferior;
- Acréscimo de elementos estranhos aos alimentos durante a pesagem:
adição de água em camarões, de pedra, de terra ou pedaços de alimentos
diferentes e mais baratos, ao produto;
- Pesagens em balanças aferidas, havendo, porém pesagens inexatas,
pelo emprego de pesos viciados, de ardis de colocação de objetos no prato ou
o braço da balança e de pressão também no prato (EVANGELISTA, 1989).
3.3.3.Quanto à apresentação do produto
O falsificador procura confundir os consumidores com novos produtos,
utilizando nomes e embalagens (forma, cor, letra, dizeres, símbolos e outros
caracteres) parecidas com marcas de prestígio e de tradição comercial
(EVANGELISTA, 1989).
3.3.4.Quanto à procedência do produto
É quando o falsificador, sabendo da preferência que um alimento tem
por ser de determinada região, usufrui desta qualidade mesmo o produto não
sendo originário do local designado (EVANGELISTA, 1989).
Tabela 8- Exemplos de falsificação envolvendo a procedência do alimento
Produtos Falsificados Causas de Fraudes
Bebidas Bebidas nacionais, vendidas como estrangeiras
Café Venda de café africano, como brasileiro ou colombiano
Chá Venda de chá brasileiro, como asiático
Queijos Venda de queijos nacionais, como estrangeiros.
Fonte: EVANGELISTA, 1989.
3.3.5.Quanto à propaganda do produto
Onde no ato da venda, os falsificadores tentam ludibriar o cliente,
através de cartazes, em que o preço e o peso da mercadoria são inseridos de
maneira ardilosa.
Como por exemplo:
- a abreviatura ¼, faz o comprador julgar que se trata de meio quilo;
- a abreviatura 1 dz., é confundida com 1 dúzia;
- o sinal de igualdade, é feito propositadamente para efeito de confundir
o comprador (EVANGELISTA, 1989).
3.4.Fraudes por Sofisticação
A sofisticação é uma variante da falsificação, porém como o próprio
nome já diz, mais sofisticada. Muita usada em bebidas, os compradores não
conseguem perceber sua falta autenticidade.
Os falsificadores desta modalidade fazem o aproveitamento de rótulos,
etiquetas, garrafas, de latas e de outros tipos de embalagens, geralmente de
origem estrangeiras, para utilização em produtos falsificados.
Ainda na modalidade de sofisticação temos:
-lícita propaganda impressa, acompanhando ou não os produtos;
-Falsos epítetos e apregoações, exaltando qualificações que o alimento
não detém (“ideal”, “integral”, “único”, “dietético”, “nutritivo”, “estrangeiro”, etc.);
-Apresentação de alimentos em ambientes propositalmente preparados
(açougues, por exemplo, com iluminação de lâmpadas vermelhas, para carnes
envelhecidas e de coloração esmaecida se mostrarem com uma cor
avermelhada).
4.Detecção de Fraudes em Alimentos
Sendo a maioria das fraudes de difícil percepção para o consumidor,
cabe a entidades responsáveis pelo controle de alimentos verificar e controlar
os possíveis tipos de fraudes que podem ocorrer, através de detecções por
métodos analíticos quantitativos e qualitativos.
Mesmo com toda a atual tecnologia, ainda assim existem fraudes de
difícil de detecção.
A seguir serão citados alguns exemplos de fraudes e seus respectivos
métodos de detecção.
4.1.Utilização de microscopia eletrônica de varredura para detecção de
fraudes em café torrado e moído
Os adulterantes mais comumente usados desde a década de 80, auge
da adulteração de café no Brasil, são milho, cevada, trigo e centeio, em
concentrações que variam entre 20 e 40%.
A detecção de fraudes por microscopia ótica é muito utilizada para café
em pó desengordurado e tamizado. Porém, há um método alternativo de
microscopia, mais rápido e eficiente que o utilizado atualmente para a detecção
de fraudes amiláceas em café torrado e moído: a microscopia eletrônica de
varredura. Em todas as análises de microscopia eletrônica de varredura de
café fraudado, detectou-se, facilmente, a presença de amido, o que não
ocorreu na microscopia ótica. Sugere-se o uso de microscopia eletrônica de
varredura como um método para a identificação de cereais como adulterantes
em café (AMBONI, 1999 ).
A histologia característica para cada substância propicia ao
microscopista a identificação do produto e a avaliação do grau de pureza do
mesmo. Para detectar fraudes no café pela simples observação microscópica,
geralmente é necessária a utilização de tratamentos preliminares, como
desengorduramento e tamização, além da necessidade de se confirmar os
resultados com análises físico-químicas, pois o método de microscopia ótica
sozinho não é confiável. Existe também a necessidade de se trabalhar com
pessoal altamente treinado para garantir que os resultados sejam confiáveis.
No caso de adulteração de café com substâncias amiláceas é necessário o uso
de solução de lugol para corar os grânulos de amido. Entretanto, como a
coloração do café torrado é muito escura, não há contraste suficiente para uma
identificação rápida e confiável do material amiláceo.
Microscopia ótica: para a utilização da técnica é recomendado um
desengorduramento preliminar da amostra em pó com clorofórmio e filtração
direta em papel filtro, seguida de secagem em estufa. Para cada amostra
devem ser feitas cinco repetições. Para a identificação do amido, a amostra é
tratada com uma solução de lugol. As amostras são examinadas num
microscópio ótico, equipado com luz de transmissão. Observa-se que o lugol
torna amarelo-escuro o campo visual da lâmina microscópica e o amido com
uma coloração variando de azul a preto, sem contraste suficiente para detectar
e identificar o amido com segurança. Sendo assim, não se pode afirmar com
certeza que as partículas escuras nas amostras fraudadas eram amido. Isto
poderia indicar uma possível mudança estrutural da amilose durante o
processo de torrefação, que afetaria a atuação do lugol, diminuindo a eficiência
do único método utilizado atualmente para se detectar fraudes em café torrado
e moído.
Microscopia eletrônica de varredura: é feita com um equipamento
capaz de produzir imagens de alta ampliação (até 300.000 vezes) e resolução.
As imagens fornecidas pelo microscópio eletrônico de varredura possuem um
caráter virtual, pois o que é visualizado no monitor do aparelho é a
transcodificação da energia emitida pelos elétrons, ao contrário da radiação de
luz a qual estamos habitualmente acostumados.
Através de micrografias de amostras das fraudes amiláceas isoladas,
milho e trigo, pode-se observar as formas características dos grãos de amido.
Figura 1- Micrografia eletrônica de varredura de grânulos de amido de trigo (barra= 500µm). Fonte: AMBONI, 1999.
Figura 2- Micrografia eletrônica de varredura de grânulos de amido de milho (barra= 500µm). Fonte: AMBONI, 1999.
Figura 3- Micrografia eletrônica de varredura de café torrado e moído fraudado com 5% de milho (A), cevada (B) e trigo (C) (barra= 100µm). Fonte: AMBONI, 1999.
4.2.Métodos de detecção de fraude em leite por adição de soro de queijo
A legislação brasileira estabelece que o leite pasteurizado, esterilizado
e o leite em pó não podem conter sólidos de soro de queijo. Porém, em
decorrência do baixo custo do soro e por ser uma forma de aproveitamento
desse resíduo da indústria queijeira, torna-se economicamente atrativa a
adição do soro ao leite (DE CARVALHO, 2007).
O soro constitui subproduto do processamento de queijos, da caseína e
de outros produtos lácteos acidificados. Contém a metade do extrato seco do
leite, e é composto por lactose, proteínas e sais. Do volume de leite destinado
à fabricação de queijos, entre 75 e 85% resulta em soro. O soro é composto,
primordialmente, por água e nela estão presentes as substâncias solúveis,
como a lactose, proteínas solúveis, sais minerais e traços de gordura.
Durante os últimos anos tem-se dado especial atenção à pesquisa da
detecção de fraude por adição de soro de queijo em leite. Existem importantes
diferenças entre a composição dos sólidos não-gordurosos do soro de queijo e
a dos sólidos não-gordurosos do leite, além dos aspectos nutricionais e
presença de resíduos de determinados aditivos usados na fabricação de alguns
tipos de queijo, como nitratos e nitritos, que comprometem a qualidade do leite
quando este é adicionado de soro de queijo. Vários métodos foram
desenvolvidos para a detecção desse tipo de fraude: determinação do ácido
siálico; determinação do glicomacropeptídeo, entre outros. A determinação do
glicomacropeptídeo (GMP), por se tratar de um componente específico do soro,
e que deve estar ausente no leite, é um excelente indicador da presença de
fraude. A adição fraudulenta de soro ao leite é normalmente detectada e
quantificada pela determinação do glicomacropeptídeo, que resulta da quebra
da ligação peptídica da k-caseína entre os aminoácidos 105-106 Phe-Met.
Desta cisão forma-se a para-k-caseína (1-105) que permanece nas micelas de
caseína e o glicomacropeptídeo (106-169) que fica no soro (DE CARVALHO,
2007).
A aplicação de modernas técnicas analíticas, como a cromatografia
líquida de alto desempenho (HPLC) e os métodos imunológicos, proporciona
importante auxílio na pesquisa dessa adulteração em leite (DE CARVALHO,
2007).
Apesar dos vários estudos feitos para detecção de fraude em leite por
adição de soro de queijo, ainda se faz necessário o desenvolvimento de um
método rápido, barato e seguro que não necessite de mão de obra
especializada para a verificação da adequação, do leite comercializado, quanto
as normas de legislação vigente no país (DE CARVALHO, 2007).
4.3.Detecção de fraudes em azeite de oliva através da quantificação de
estigmastadienos por cromatografia em fase gasosa
O azeite de oliva é um produto com alto valor nutricional e tem
conquistado seu espaço no mercado consumidor devido às suas marcantes
características organolépticas. O cultivo e a colheita de olivas e a extração do
azeite são atividades trabalhosas e, por isso, o azeite de oliva tem alto custo
comercial. Por conseqüência, as tentativas de adulteração deste produto com
outros tipos de azeites mais baratos, como o azeite de oliva refinado, por
exemplo, é comum. A quantificação de estigmastadienos é a principal técnica
capaz de identificar fraudes em azeites de oliva extra virgem e virgem. Este
método analítico consiste na saponificação da amostra de azeite na presença
de padrão interno (colesta-3,5-dieno), extração e fracionamento dos
componentes insaponificáveis por cromatografia em coluna aberta, seguida
pela identificação e quantificação do estigmasta-3,5-dieno e seu isômero por
cromatografia em fase gasosa com detector de ionização de chama (CANO,
2001).
4.4.Detecção de melamina (2,4,6-triamino-1,3,5 triazina) em leite e rações
animais
A melamina (2,4,6-triamino-1,3,5 triazina) é usada na produção de
resinas, colas e plásticos. Esta substância está normalmente presente nos
alimentos em geral, sob baixas concentrações (e por isso não tóxicas), devido
a difusão das embalagens. Os níveis permitidos de melamina em alimentos
são: 0,5 mg/kg do peso corpóreo/dia na Europa, sendo que as amostras de
leite em pó da China chegaram a apresentar 2500 mg/kg, cinco mil vezes
maior que o permitido na legislação européia.
Na adulteração de alimentos a melamina é adicionada para dar a falsa
aparência de um alto teor de proteínas. Nesta situação, a adição de melanina
ao leite em pó foi utilizada para burlar o controle de qualidade do leite que
determina o teor de proteína, dosando o nitrogênio total presente. A molécula
de melamina é constituída aproximadamente de 67% de nitrogênio e, desta
forma, foi possível mascarar a enorme adição de água ao leite que depois foi
processado a leite em pó.
A melamina quando reage com um de seus subprodutos (o ácido
cianúrico) sob determinadas condições de pH que são atingidas no ambiente
renal, forma cristais insolúveis nos rins.
Ainda não há dados sobre este tipo de adulteração em leite ou rações
ocorrendo no Brasil. Investigações urgentes devem ser feitas neste sentido,
mesmo por que provavelmente em breve será exigido pelo mercado exportador
algum tipo de certificação de produto livre de melamina. A Embrapa
Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro/RJ) está se preparando para
desenvolver métodos de análises capazes de determinar os mais baixos teores
destas substâncias em leite e rações. Graças a um projeto aprovado pelo
CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), em
breve, esta metodologia estará disponível para atender as demandas do
Ministério da Agricultura, indústrias e empresas exportadoras a fim de
salvaguardar o consumidor desse tipo de fraude (DA ROSA, 2008).
4.5.Detecção de fraudes em leite pasteurizado
Na avaliação da qualidade do leite, deve-se levar em consideração
características sensoriais, nutricionais, físico-químicas e microbiológicas; sabor
agradável, alto valor nutritivo, ausência de agentes patogênicos e
contaminantes, reduzida contagem de células somáticas e baixa carga
microbiana.
O leite, por ser um produto considerado um excelente meio de cultura,
pode ser contaminado por muitos e/ou vários grupos de microrganismos que
podem encontrar condições de multiplicação.
As análises físico-químicas são de extrema importância para verificar a
qualidade do leite, podendo detectar fraudes como, por exemplo, adição de
água, desnate, superaquecimento, etc.
São realizadas análises microbiológicas e físico-químicas para a
detecção de fraudes em leite pasteurizado.
Análises microbiológicas: A partir das diluições obtidas através da
amostra que se quer verificar, pode-se fazer análises microbiológicas através
de técnicas como: enumeração de bactérias aeróbias mesófilas (UFC/ml),
enumeração de bactérias aeróbias psicrotróficas (UFC/ml), determinação do
Número Mais Provável de coliformes totais (NMP/ml); determinação do NMP de
coliformes fecais.
Análises físico-químicas: As análises realizadas são: gordura,
densidade a 15ºC, Extrato Seco Total, Extrato Seco Desengordurado, índice
crioscópico (crioscópio eletrônico LAKTRON 312-L), fosfatase, peroxidase e
acidez.
4.6.Análises físico-químicas utilizadas para detecção de fraudes em leite
fluído
Determinação de densidade: Usada para verificar desnate excessivo.
A determinação da densidade baseia-se no princípio de Arquimedes
de que todo corpo mergulhado em um líquido recebe um empuxo
vertical, de baixo para cima, igual à massa do fluido deslocado pelo
corpo. O instrumento utilizado é um termolactodensímetro.
Determinação do ponto de congelamento do leite em relação ao da
água (Crioscopia): Usada para verificar fraude por adição de água ao leite. A
crioscopia baseia-se na determinação do ponto de congelamento do leite em
relação ao da água; devido a sua composição, o leite apresenta um ponto de
congelamento, ou índice crioscópico (IC) de -0,531°C (-0,550°C) e este valor
depende de uma série de fatores relacionados ao animal, ao leite, ao ambiente,
ao manejo e até ao clima.
Figura 5- Aparelho para análise
de crioscopia.
Fonte: FERREIRA, 2007.
Determinação da porcentagem de gordura pelo Método Gerber: o
método Gerber é baseado na propriedade que tem o ácido sulfúrico de
dissolver a caseína do leite, sem atacar a matéria gorda; o álcool isoamílico
facilita a separação da fase de gordura da fase não gordurosa formando uma
coluna límpida. Qualquer alteração nestas porcentagens indica produto fora
dos padrões. A porcentagem de gordura pode variar da seguinte forma:
-Integral: 3,0% (no mínimo);
-Padronizado: =3%;
-Semi-desnatado: 2,9 a 0,6%;
-Desnatado: < ou = a 0,5% (FERREIRA, 2007).
Determinação de Alcalinidade nas Cinzas: Essa análise tem como
princípio o fato de que a presença de substâncias alcalinas (NaOH)
adicionadas ao leite e derivados faz aumentar a “alcalinidade das cinzas”
(INFORME TÉCNICO, 2007).
Determinação de acidez em ácido lático: É estabelecido para o leite
UHT uma tolerância de 0,14 a 0,18g de ácido lático/100mL (INFORME
TÉCNICO, 2007).
Detecção de NaOH (soda caustica): Na área de alimentos, hidróxido
de sódio é classificado como aditivo alimentar (INS 524), previsto na Resolução
GMC 11/06 – Lista Geral Harmonizada de Aditivos do Mercosul, e na
Resolução/ANVISA 386/99 – Aditivos utilizados segundo as boas práticas de
fabricação (Aditivos BPF), com a função de “regulador de acidez”. No Brasil o
uso desse aditivo está previsto para algumas categorias de alimentos, com
essa função de regulador de acidez; contudo não é permitido para a categoria
de leite e produtos lácteos (INFORME TÉCNICO, 2007). Para a realização da
detecção dissolve-se 1,5g da amostra em 40mL de água recentemente fervida
e resfriada a 15º; adiciona-se fenolftaleína TS e titula-se com 1N ácido
sulfúrico. Ao desaparecer a cor rosada, registrar o volume de ácido requerido, e
então adiciona-se metil laranja TS e continua-se titulando até que apareça cor
rosa persistente. Anotar o volume total de ácido requerido para titulação. Cada
mL de 1N ácido sulfúrico é equivalente a 40mg de álcali total, calculados como
NaOH.
Detecção de água oxigenada (peróxido de hidrogênio): O peróxido
de hidrogênio é adequado para uso em alimentos, como coadjuvante de
tecnologia, quando contém a quantidade de H2O2 como especificada pelo
fabricante (normalmente na concentração de 30% a 35% de H2O2 em solução
aquosa). Quando usado para preservar o leite, o peróxido de hidrogênio
geralmente é diluído para 300 – 800 ppm (0,03 a 0,08g de H2O2/100mL de
leite, ou ainda 300 a 800 mg de H2O2/litro de leite). Um excesso de H2O2
pode causar irritação gastrointestinal, mas a severidade depende da
concentração da solução. Dependendo da concentração pode ser fatal
( ingestão de 240mL de solução 35% em mulheres com 49 anos causa a morte
em 78 horas e para crianças de 16 meses a ingestão de 225mL de solução 3%
causa a morte 10 horas depois) (INFORME TÉCNICO, 2007). Para a
realização desta análise transfere-se um volume da amostra, equivalente a
cerca de 300mg de H2O2, para um frasco volumétrico de 100mL; dilui-se para
o volume final com água e misturar fortemente. Adiciona-se 25mL de 2N ácido
sulfúrico a uma porção de 20mL dessa solução, e titula-se com 0,1N
permanganato de potássio. Cada mL de 0,1N permanganato de potássio é
equivalente a 1,701mg de H2O2 (INFORME TÉCNICO, 2007).
4.7.Detecção de fraudes em doce de leite
O doce de leite é um produto obtido pelo cozimento de leite adicionado
de sacarose, que adquire coloração, consistência e sabor característicos em
função de reações de escurecimento não enzimático.
Há, entretanto, falta de dados sobre a composição química de
amostras, especialmente em relação a possibilidade da ocorrência de fraudes.
O doce de leite não apresenta uniformidade, apesar de ser produzido em
grande volume e amplamente empregado como um ingrediente alimentício.
O doce de leite foi listado como um dos produtos que se apresenta com
parâmetros contraditórios na legislação brasileira. De acordo com a legislação,
o doce de leite pastoso deve conter teores máximos de umidade de 30 e de
cinzas de 2,0% (p/p). O teor mínimo de proteínas deve ser de 5,0% (p/p) e o
conteúdo de matéria graxa deve estar entre 6,0 e 9,0% (p/p). Ainda conforme a
legislação, a sacarose é empregada na obtenção do produto e a quantidade
máxima admitida na fabricação é de 30kg/100L de leite. Amidos ou amidos
modificados são admitidos em proporção não superior a 0,5g/100mL de leite,
assim como mono ou dissacarídeos que substituam a sacarose em no máximo
40% (p/p). Creme e sólidos de origem láctea também são tolerados como
ingredientes opcionais. A lista de aditivos é grande, havendo limites máximos
para a maioria deles. A enzima b-galactosidase e o sal bicarbonato de sódio
são considerados como coadjuvantes. O doce de leite pastoso apresenta teor
de sólidos de cerca de 70%, com coloração caramelo de intensidade variável,
desde creme claro até marrom muito escuro, em função da intensidade das
reações de Maillard e da caramelização.
Uma das principais fraudes em doce de leite é a adição de amido além
do permitido pela legislação. Em proporções ideais, o amido pode ser benéfico
para atribuir ao doce de leite maior consistência e aumento da viscosidade.
Quando o amido é usado em quantidades maiores do que a prevista na
legislação, entende-se que o produtor visou lucro, adicionando amido
ilícitamente, para reduzir custos (DEMIATE, 2001).
Determinação de amido: De acordo com Demiate (2001), esta
determinação é realizada pela hidrólise do amido, através da enzima Termamyl
120L®. O pH da amostra deve ser ajustado para 4,5 com ácido acético. Para
completar a hidrólise adiciona-se 20mL da enzima AMG 300L® e os tubos
contendo as amostras são levados a um banho de água mantido a 60°C por 24
horas. O teor de glucose liberado foi determinado enzimaticamente e corrigido
para amido (x0,9).
5.Conclusão
Com base no material pesquisado para a realização deste estudo,
pode-se concluir que conhecer os diferentes tipos de fraudes é muito
importante para facilitar a escolha do método de detecção. Apesar de existirem
diversos métodos de detecção de fraudes, ainda há fraudes de difícil
visualização. Se já é difícil a verificação por pessoas treinadas, por
consumidores comuns é de extrema dificuldade.
Enfim, cabe aos órgãos responsáveis pelo supervisionamento e pela
qualidade dos alimentos investirem mais em tecnologia para melhorar o
sistema de detecção de fraudes, sempre visando como prioridade o
consumidor, que é o maior prejudicado.
Referências
AMBONI, Renata D. de Mello Castanho; DE FRANCISCO, Alícia; TEIXEIRA Evanilda. Utilização de microscopia eletrônica de varredura para detecção de fraudes em café torrado e moído. Ciênc. Tecnol. Aliment. vol.19 n.3 Campinas Sept./Dec. 1999
DA ROSA, Jeane Santos. Melamina: fraude, repercussão e segurança alimentar. Embrapa. 2008.
DE CARVALHO, Bruna Mara Aparecida et al. Métodos de detecção de fraude em leite por adição de soro de queijo. Revista electrónica de Veterinaria, v.8 ,n.6. 2007.
DEMIATE, Ivo Mottin; KONKEL, Francisco Eneias; PEDROSO, Ricardo Alexandre. Avaliação da Qualidade de Amostras Comerciais de Doce de Leite Pastoso - Composição Química. Universidade Estadual de Ponta Grossa. Curso de Engenharia de Alimentos. 2001.
EVANGELISTA, José. Tecnologia de Alimentos. Rio de Janeiro: Atheneu, 1989. p.577-584.
FERREIRA, Márcia de Aguiar. Controle de Qualidade Físico-Químico em Leite Fluído. Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília - CDT/UnB. 2007.
FUKUDA, Sandra Pereira. Estudo da correlação entre o metodo da ninidrina acida e a cromatografia liquida de alta eficiencia para a dosagem de glicomacropeptideo e caseinomacropeptideo em leite. Universidade Estadual de Campinas . Faculdade de Engenharia de Alimentos. 2006.
GAVA, Altanir Jaime. Princípios de Tecnologia de Alimentos. São Paulo: Nobel, 1984.
Informe Técnico. Disponível em : <http://www.anvisa.gov.br/alimentos/informes/34_311007.htm>. Acesso em: 20 Maio 2009.
Íntegra do código de defesa do consumidor. Disponível em: <http://www.idec.org.br/cdc04_8a18.asp >. Acesso em: 28 jun 2009.
KOLICHESKI, Mônica Beatriz. Fraudes em Alimentos. Boletim do Centro de Pesquisa de Processamento de Alimentos, v. 12, n. 1. Curitiba. 1994.
Microscopia eletrônica de varredura. Disponível em: <http://www.degeo.ufop.br/laboratorios/microlab/mev.htm>. Acesso em: 20 jun 2009.
MODOLO, Juliana Stefanon. Quantificação de estigmatadienos em azeite de oliva (Olea europea L.) por cromatografia em fase gasosa. Produção Científica da Faculdade de Engenharia de Alimentos. UNICAMP. 2007.
Química Fácil. Disponível em: <http://ube-164.pop.com.br/repositorio/4488/meusite/qorganicaexperimental/cromatografia.htm>. Acesso em: 25 jun 2009.
SILVEIRA, Neusa Vitória Valério; ZAMBONI, Claydes de Quadros; TAKAHASHI, Michiko Y. Fraudes da pimenta do reino preta (Piper nigrum) moída. Revista instituto Adolfo Lutz. 1983.