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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS
UNIDADE UNIVERSITRIA CORA CORALINA
JEFFERSON XAVIER DE CARVALHO
FOGO NO CERRADO:
Causas e Conseqncias da Ao do Fogo no Bioma Cerrado no Municpio de Gois
GOIS-GO
2009
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JEFFERSON XAVIER DE CARVALHO
FOGO NO CERRADO:
Causas e Conseqncias da Ao do Fogo no Bioma Cerrado no Municpio de Gois
Monografia apresentada ao curso de
Licenciatura em Geografia da Universidade
Estadual de Gois Unidade Cora Coralina,
como requisito final, para a obteno do ttulo
de licenciado em Geografia.
Orientador: Prof. Dnd. Pedro Alves Vieira
GOIS-GO
2009
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Dedico este trabalho aos meus pais que sempre me
incentivaram nos estudos;
minha esposa Anglica que nas horas difceis soube
apoiar-me para que continuasse a jornada, possibilitando
esta vitria e ao meu filho recm-nascido Gabriel, razo da
minha vida;
Aos amigos e colegas das diversas turmas que freqentei,
pelo companheirismo, tristezas divididas e alegrias
compartilhadas;
A todos os integrantes do Corpo de Bombeiros da cidade
de Gois que juntamente comigo subiram e desceram
morros e serras para combater os incndios na vegetao
do Cerrado, deixando suas famlias em casa por at mais
de um dia para voltar para casa com a misso cumprida;
A todas as pessoas importantes ou annimas que
acreditam na preservao do meio ambiente, porque a
melhor herana que esta gerao poder deixar para a
humanidade e que esta causa ainda um projeto que vale a
pena;
A todos os bombeiros ao redor do mundo que pereceram
no combate a incndios florestais;
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AGRADECIMENTOS
Deixo aqui meus agradecimentos quelas pessoas que contriburam de forma direta ou
indireta par que este trabalho fosse realizado;
Deus por sua divina proteo e pelas bnos alcanadas, por possibilitar essa realizao
em minha vida;
minha famlia: esposa, filho, pais e irmos;
Ao Prof. Dnd. Orientador Pedro Alves Vieira, pela competncia, profissionalismo e ajuda
oferecida;
minha sogra Jane Dias de Oliveira Ribeiro que me ajudou muito durante o perodo em que
fomos colegas de turma;
Aos meus professores pelos incentivos e contribuio para uma boa formao acadmica;
Ao Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Gois, instituio que escolhi para dedicar
minha vida, dedico s horas e o tempo dispensado na elaborao deste trabalho na esperana
de contribuir para que se torne uma corporao ainda melhor;
Ao Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Gois por permitir que eu conciliasse minhas
funes profissionais com os estudos, de forma particular ao meu ex-Comandante Sr. Major
Sebastio Nolasco Ribeiro e ao Sr. Capito Jailton Pinto de Figueiredo, atual Comandante da
8 Companhia Independente Bombeiro Militar, quartel que sirvo com muito orgulho. Deixo
aqui os meus sinceros agradecimentos a estes dois oficiais do CBMGO que sempre me
incentivaram nos estudos para que pudesse concluir o curso de Geografia, trazendo mais
conhecimentos para corporao, fato que me proporciona e proporcionar a crescer mais
ainda profissionalmente no CBMGO.
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hora de abrir os olhos e de enxergar o que a Terra est
dizendo, o que o ar est mostrando, o que os mares esto
fazendo sentir e comear a agir de forma correta para que
nosso futuro, o futuro dos nossos descendentes, no seja
de misria ou de destruio total (Clia Jurema Aito
Victorino).
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RESUMO
O estudo faz uma abordagem do Cerrado, com o intuito de compreender os efeitos do fogo
neste bioma. Desta forma, busca-se analisar as causas, os tipos, a prtica das queimadas e
incndios, para ento, compreender a ocorrncia destes fatores no municpio de Gois. O
Cerrado vem sofrendo todos os anos no perodo de estiagem, modificaes em sua paisagem
devido ocorrncia da ao do fogo. O fogo um elemento presente no Bioma Cerrado,
sendo um dos determinantes na caracterizao de sua flora. Tcnicas de manejo do fogo e
medidas compensatrias podem contribuir para a conservao desse bioma. Dessa maneira,
torna-se necessrio um planejamento de aes que evitem, ou, at mesmo, minimizem os
danos causados pelo fogo. Isso pode ser feito a partir de iniciativas de preveno, como a
construo de aceiros, queima controlada, com destaque para a educao ambiental que
oferece o menor custo com benefcios em longo prazo.
Palavras-Chave: Cerrado. Fogo. Queimadas. Incndios. Educao Ambiental.
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LISTA DE ILUSTRAES
Mapa 1: Domnios morfoclimticos e fitogeogrficos do cerrado...................................... 13
Mapa 2: Bacias Hidrogrficas do Brasil.............................................................................. 16
Mapa 3: Biomas do Brasil................................................................................................... 22
Mapa 4: rea de abrangncia do cerrado............................................................................ 23
Mapa 5: Municpio de Gois............................................................................................... 75
Foto 1: Rio Raizama, Chapada dos Veadeiros..................................................................... 17
Foto 2: rvore tpica do cerrado com troncos retorcidos, casca grossa............................... 19
Foto 3: Vooroca causada pelo desmatamento, Caipnia-GO............................................. 21
Foto 4: Campo Limpo.......................................................................................................... 25
Foto 5: Campo Sujo na Chapada dos Veadeiros.................................................................. 25
Foto 6 Cerrado Stricto Sensu............................................................................................. 26
Foto 7 Cerrado Stricto Sensu, Bairro Jd. das Accias, Gois-GO.................................... 26
Foto 8: Cerrado................................................................................................................... 27
Foto 9: Cerrado prximo ao viaduto da rod. GO 164 Gois-GO..................................... 27
Foto 10: Cerrado rupestre na Chapada dos Veadeiros........................................................ 28
Foto 11: rvore papiro na Serra Dourada............................................................................ 28
Foto 12: Cerrado rupestre na Serra Dourada........................................................................ 28
Foto 13: Veredas as margens da Rod. GO-070 (sada para Jussara-GO)............................ 29
Foto 14: Ip amarelo mata seca. Fazenda Quilombo Bom Sucesso, Gois-GO............... 29
Foto 15: Mata de Galeria. Crrego Bacalhau, Gois-GO.................................................... 30
Foto 16: Mata Ciliar. Rio Paraso, Caiapnia-GO............................................................... 30
Foto 17: Incndio em cerrado, Gois-GO.......................................................................... 43
Foto 18: Combustvel de queima rpida, no Parque da Serra Dourada............................... 49
Foto 19: Fumaa fina, cerrado, Gois-GO........................................................................... 51
Foto 20: Fumaa grossa....................................................................................................... 51
Foto 21: Fumaa espalhada, Serra Dourada, Gois-GO...................................................... 52
Foto 22: Fumaa vaga, proveniente de queima de folhas, Gois-GO.................................. 52
Foto 23: Fumaa crescente, Serra Dourada, Gois-GO....................................................... 53
Foto 24: Fumaa leve, Serra Dourada, Gois-GO............................................................... 53
Foto 25: Fumaa pesada, Serra Dourada, Gois-GO........................................................... 54
Foto 26: Vento alterando o comportamento do fogo........................................................... 57
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Foto 27: Rebrota de gramneas ps-fogo............................................................................. 62
Foto 28: Eroso provocada por falta de cobertura vegetal................................................... 68
Foto 29: Tamandu-bandeira ps-fogo................................................................................ 69
Foto 30: Emisso de gases provocada por incndio na Serra Dourada................................ 71
Foto 31: Cinzas depositadas cobrem o solo ps- fogo......................................................... 73
Foto 32: Rio Vermelho, Gois- GO..................................................................................... 78
Foto 33: Rio Bagagem, Gois-GO....................................................................................... 78
Foto 34: Desmatamento prximo a GO-164, Gois-GO..................................................... 79
Foto 35: Fogo ultrapassando o aceiro em razo do vento. Serra Dourada........................... 81
Foto 36: Aceiro construdo na reserva da Serra Dourada.................................................... 81
Foto 37: Bombeiros combatendo fogo no cerrado rupestre na Serra Dourada.................... 82
Foto 38: Fumaa das queimadas invade a cidade de Gois................................................. 83
Imagem 1: Vegetao do cerrado com razes profundas..................................................... 16
Imagem 2: Representao dos subsistemas do cerrado....................................................... 24
Imagem 3: Formao Fitofisionmia do Cerrado................................................................ 32
Imagem 4: Incndio de copa originando-se na superfcie, caudado pelo vento.................. 44
Imagem 5: Tringulo do Fogo............................................................................................. 45
Imagem 6: Tringulo do Incndio Florestal........................................................................ 45
Imagem 7: Tetraedro do Fogo............................................................................................. 45
Imagem 8: Partes do Incndio............................................................................................. 47
Imagem 9: Influncia do vento no incndio em terreno ngreme....................................... 55
Imagem 10: Influncia do vento no incndio...................................................................... 56
Quadro 1: Uso e objetivo das queimadas em pastagem...................................................... 36
Quadro 2: Uso e objetivo das queimadas para preparao do plantio................................ 37
Quadro 3: Uso e objetivo das queimadas para colheita...................................................... 38
Tabela 1: Perda de nutrientes para a atmosfera, durante uma queimada............................. 72
Tabela 2: Hectares de vegetao queimados no municpio de Gois 2004-2009................ 77
Grfico 1: Representao dos gases presentes na atmosfera............................................... 46
Grfico 2: Temperatura superficial do solo durante queimada........................................... 61
Grfico 3: Hectares de vegetao queimados no municpio de Gois 2004-2009.............. 78
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SUMRIO
RESUMO............................................................................................................................. 6
LISTA DE ILUSTRAES.............................................................................................. 7
CONSIDERAES INICIAIS......................................................................................... 10
1 O CERRADO NA ANLISE GEOGRFICA............................................................. 13
1.1 Definies e caractersticas do cerrado........................................................................... 13
1.2 rea de abrangncia e os tipos de cerrados.................................................................... 23
2 O FOGO NO BIOMA CERRADO................................................................................ 31
2.1 Os incndios florestais e a prtica das queimadas.......................................................... 31
2.2 As causas e os tipos de queimadas e incndios.............................................................. 39
2.3 O comportamento do fogo na propagao dos incndios no cerrado............................. 45
2.4 Os efeitos do fogo no bioma cerrado.............................................................................. 60
2.5 As ocorrncias de queimadas e incndios no municpio de Gois................................ 75
3 EDUCAO AMBIENTAL........................................................................................... 84
3.1 Conceitos e Consideraes sobre Educao Ambiental................................................. 84
3.2 Aplicao da Educao Ambiental................................................................................. 90
CONSIDERAES FINAIS............................................................................................. 99
REFERNCIAS.................................................................................................................. 100
ANEXOS
Anexo A................................................................................................................................ 106
Anexo B................................................................................................................................ 109
Anexo C................................................................................................................................ 111
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CONSIDERAES INICIAIS
A paisagem do Cerrado sofre todos os anos principalmente durante o perodo de
estiagem, transformaes ocasionadas pela prtica das queimadas, que podem ter origem
natural ou humana. Isso pode ser percebido no municpio de Gois, que todos os anos durante
um perodo que geralmente vai do ms de junho a setembro sofre as conseqncias dessa
prtica que muitas vezes, inicia-se de forma intencional e provocada pelo homem, dando
origem a incndios em vegetao de grandes propores.
O Cerrado entendido como um sistema. Pode-se dizer que o Cerrado um
Sistema Biogeogrfico, que ostenta dentro de seu domnio uma srie de biomas,
diversificados entre si pelo carter fisionmico e pela composio vegetal e animal,
constituindo um conjunto de partes ou elementos interconectados atravs de seus subsistemas
de modo que forma um todo organizado.
Este trabalho resultado de pesquisa sobre os efeitos do fogo no bioma Cerrado,
ressaltando tambm a ocorrncia de queimadas e incndios no municpio de Gois. O mesmo
prope uma abordagem quantitativa e qualitativa em reas alvos sobre as transformaes
ocorridas com o uso das queimadas no sistema bitico e abitico do bioma cerrado, inserido
na paisagem natural do stio urbano da cidade de Gois. Foram utilizados procedimentos de
pesquisa bibliogrfica e pesquisa de campo.
Trabalhou-se com um conhecimento cientfico atravs de pesquisa bibliogrfica
para buscar o entendimento do Bioma Cerrado. Partiu-se da compreenso da paisagem do
cerrado e desenvolveu-se um estudo atravs de pesquisa sobre sua definio, caractersticas,
abrangncia e tipos de cerrado, assim como, foram ressaltados os tipos de cerrado existentes
no municio de Gois.
Desenvolveu-se um estudo sobre o fogo no Cerrado e as possveis conseqncias
que podem ser ocasionadas a partir do uso constante das queimadas no perodo de estiagem.
Alm disso, apresenta-se uma proposta de Educao Ambiental, para ser utilizada em escolas
e na sociedade em geral para que haja a conscientizao no sentido de compreender as
conseqncias que o fogo pode causar no cerrado, bem como, incentivar a preservao deste
bioma, utilizando tcnicas adequadas de manejo do fogo.
Diante do exposto, a pesquisa foi direcionada por alguns questionamentos:
Quais so as principais causas das queimadas e incndios em vegetao?
Quais so as prticas de queimadas mais utilizadas?
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Quais os impactos ambientais que podem ser ocasionados atravs do uso
contnuo do fogo no cerrado?
Quais so as principais caractersticas do cerrado?
Quais so as principais causas das queimadas e incndios na vegetao do
cerrado?
Quais as conseqncias que podem ser ocasionados atravs do uso contnuo do
fogo no cerrado?
Quais as solues que podem ser propostas para a minimizao das queimadas
no cerrado?
O objetivo geral foi o de identificar o efeito das queimadas no sistema bitico e
abitico do bioma Cerrado, analisando suas principais causas e conseqncias na
degradao deste bioma.
Estabeleceram-se tambm alguns objetivos especficos:
Observar como constituda a paisagem do bioma cerrado, inclusive do
entorno do stio urbano da cidade de Gois, fazendo um relato dos processos de
transformaes ocorridas neste bioma durante as queimadas;
Desenvolver aes preventivas a serem realizadas no perodo da estiagem, no
intuito de preservar o meio ambiente, minimizando os danos e conseqentes
prejuzos na fauna, flora, hidrografia e pedologia do sistema;
Analisar os possveis impactos ambientais causados pelas queimadas e suas
conseqncias na mudana da paisagem durante o perodo de estiagem;
Apresentar sugestes para minimizar os problemas causados pelas queimadas
no bioma cerrado atravs da Educao Ambiental nas escolas e para a sociedade
vilaboense.
Percebe-se que muitas pessoas no tem se preocupado com a preservao
ambiental do bioma cerrado no qual o municpio de Gois est inserida. Isso pode ser
observado pelo fato de muitas pessoas no terem o conhecimento necessrio sobre os
impactos negativos que as queimadas que so comuns em pocas de estiagem em nosso
municpio podem trazer. Muitas pessoas no tm esse conhecimento, no entanto, existem
aquelas que o tem e mesmo assim, provocam as queimadas de forma intencional, o que
mostra o descaso em relao preservao, por parte de alguns cidados.
Nesse sentido, a pesquisa se justifica pela necessidade de compreender os efeitos
provocados pelas queimadas no bioma cerrado.
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A contribuio dada por esta pesquisa para o curso de Geografia, da Unidade
Universitria Cora Coralina, UEG, da cidade de Gois, est em proporcionar aos acadmicos
uma fonte de estudo e conhecimentos dos processos de transformaes do cerrado com o uso
das queimadas, alm de saber o que pode ser feito para evitar esta prtica.
Esta pesquisa se justifica ainda, pela importncia para o Corpo de Bombeiros
Militar do Estado de Gois, principalmente para a 8 Companhia Independente Bombeiro
Militar da cidade de Gois nas aes de combate incndio em vegetao em nossa regio,
bem como, na elaborao de plano de ao para as prximas Operaes Estiagem; enquanto
acadmico este trabalho servir como aprimoramento de toda bagagem de conhecimento
adquirido durante o curso de Licenciatura em Geografia; como morador da cidade de Gois
ser de grande importncia conhecer os processos de transformaes e conseqncias no
bioma cerrado com as queimadas, pois convivo com este problema todos os anos no perodo
de seca, alm de estar no combate direto nestes incndios em vegetaes que circundam a
nossa cidade.
Os resultados da pesquisa constituem esta monografia, que est organizada em
trs captulos. Nas presentes consideraes apresentada a estruturao do trabalho
monogrfico, bem como a problematizao que determinou o tema da referida pesquisa,
delimitando os objetivos propostos, finalizando com a justificativa sobre a elaborao de tal
tema junto funo acadmica perante a sociedade.
No primeiro captulo, apresenta-se o Cerrado, na viso de alguns autores.
Apresenta-se suas definies, caractersticas, tipos e rea de abrangncia. No segundo
captulo faz-se uma abordagem do fogo no Bioma Cerrado, ressaltando as principais causas e
tipos de queimadas e incndios, o comportamento do fogo, bem como seus efeitos e sua
ocorrncia no municpio de Gois. No terceiro captulo apresenta-se propostas de se trabalhar
a Educao Ambiental em escolas.
Nas consideraes finais feita uma anlise reflexiva sobre a realizao da
pesquisa, suas contribuies, assim como, perspectivas futuras de pesquisa.
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1 O CERRADO NA ANLISE GEOGRFICA
1.1 Definies e caractersticas do Cerrado
importante, ao iniciar as consideraes sobre o bioma cerrado, ressaltar que
existem vrias definies para este bioma de acordo com o estudo de vrios autores. Sobre as
origens do Cerrado existem vrias hipteses. Alguns atribuem sua existncia s condies
climticas da regio que ele abrange; outros indicam que a vegetao tpica do Cerrado
condicionada pela ocorrncia do fogo, ou ainda pelo tipo de solo, que rico em alumnio.
Contudo, a idia mais aceita diz que sua origem deve estar na unio de todos estes fatores.
Pires, apud Rigonato (2005) afirma que o cerrado tem uma posio destacada no
s pelas suas extensas reas como tambm pela sua heterogeneidade vegetal, em grande parte
desconhecidas pela comunidade cientfica. A distribuio espacial da diversidade das espcies
do Cerrado pode ser fruto de variaes climticas pretritas. No ltimo perodo glacial, teria
ocorrido um avano do Cerrado sobre as florestas e, nesse perodo interglacial, o Cerrado teria
se consolidado no domnio fitogeogrfico1
e morfoclimtico2 numa rea contnua da regio
central do territrio brasileiro (mapa 1).
Mapa 1: Domnios morfoclimticos e fitogeogrficos do cerrado
Fonte: www.eco.ib.usp.br/cerrado. Acesso em: 29 ago.2009
____________________________
1 Domnio fitogeogrfico o tipo de vegetao de uma determinada regio (NASCIMENTO, M., 2002, p.47).
2 Domnio morfoclimtico caracterizado pelo inter-relacionamento entre o clima, a cobertura vegetal e a
forma de relevo. (NASCIMENTO, M., 2002, p.47)
Escala 1:4956944
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A palavra cerrado de acordo com Pires (1996) significa fechado ou vegetao
densa. At o sculo passado, usava-se a expresso genrica tabuleiro, porque tabuleiro era o
nome com que os antigos costumavam caracterizar os pontos mais ou menos elevados e de
vastas superfcies planas do serto e na linguagem sertaneja significa cerrado. Porm, na
segunda metade do sculo XIX a denominao tabuleiro passou a ser substituda por campo, e
as formaes vegetais passaram a ser conhecidas como campo limpo, campo sujo, campo
cerrado. Recentemente, convencionou-se chamar de cerrado:
toda a vegetao caracterstica que ocorre na regio central do pas, transformando-
se na designao mais utilizada pela comunidade cientfica. Mas ainda conhecido
por denominaes regionais: campina ou gerais, em Minas Gerais, oeste da Bahia, e
leste de Gois; chapada no Mato Grosso, Maranho e Piau, com tipos especiais de
menor rea que recebem nomes como costaneira, morraria, carrasco, ou carrasco
espinheiro, ao sul de Loreto, Maranho. (EITEN, apud PIRES, 1996, p. 49).
Segundo Alho e Martins apud Nascimento, M. (2002, p. 50) O cerrado um
mosaico de diferentes tipos de vegetao, reflexo de sua heterogeneidade espacial
resultante da diversidade de climas, solos e topografia existente nessa extensa regio.
Ainda de acordo com esses autores:
Os eclogos tm em mente dois conceitos de cerrado: um fisionmico e outro
florstico. Em termos fisionmicos, o cerrado uma savana tropical, ou seja, um
bioma em que rvores e arbustos coexistem com uma vegetao rasteira formada
principalmente por gramneas. As rvores e arbustos distribuem-se esparsamente
pela vegetao rasteira, e raramente formam uma cobertura arbrea continua. Em
termos florsticos, o cerrado possui uma flora especfica que o distingue de outros
biomas brasileiros, como Floresta Amaznica, a Mata Atlntica ou a Caatinga.
(ALHO; MARTINS apud NASCIMENTO, M., 2002, p.48)
Christofoletti apud Nascimento, M. (2002) preocupado com a definio de
cerrado como savana considera a savana africana como um tipo vegetacional antrpico,
enquanto no Brasil esse tipo de vegetao mais condicionado pelos fatores climticos e
edficos, ou seja, que resulta de fatores inerentes ao solo, ou por eles influenciado, do que
pelas causas antrpicas, adotando o termo cerrado para vegetao brasileira.
Dambris; Dias; Fonzar apud Nascimento, M. (2002), buscando a origem da
palavra savana, lembram que o conceito de Savana muito antigo e originrio da Venezuela.
No sculo XV foi levado para a frica pelos naturalistas espanhis e a conceituado como
lhano: formao herbcea graminosa contnua, e, geral coberta de plantas lenhosas.
Eiten apud Nascimento, M. (2002) esclarece que na frica a savana no uma
categoria fisionmica, mas um tipo de vegetao de grande escala, determinado pelo clima,
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pelos solos e pela composio de espcies. Possui as mesmas caractersticas dos outros tipos
de vegetao do continente: floresta tropical e subtropical sempre verde, deserta e com
vegetao mediterrnea. Vegetaes includas nesse conceito amplo de savana abrangem
todas as possveis fisionomias, de floresta fechada (de espcies de savana) at campo limpo.
Se savana fosse usada no Brasil com o sentido que tem na frica, incluiria todas
as formas de cerrado, todos os tipos de mata seca, os campos midos, todas as formas de
caatinga do Nordeste e vrias outras vegetaes de menos escala e, assim, a palavra no teria
utilidade nenhuma. Esse uso mltiplo do termo savana na literatura geobotnica provoca
muita confuso.
Atravs de estudos realizados por engenheiros florestais atravs de mapeamento
de vegetao por meio de imagens de radar e nos sistemas de classificao fitogeogrfica
adotados para as fisionomias intertropicais da Amrica, frica e sia, elaborou-se o
documento: Fitogeografia Brasileira Classificao Fisionmicas-Ecologica da Vegetao
Neotropical. Esse estudo possibilitou uma fitogeografia em nvel de formao bem mais
apurada da savana brasileira. Assim, utilizam o termo savana e a definem como uma
vegetao xeromrfica com fisionomias diversas, de arbrea densa, com porte quase florestal,
a gramneo-lenhosa, fisionomia essencialmente campestre (DAMBRIS; DIAS; FONZAR
apud NASCIMENTO, M., 2002, p.49).
Muito se tem cogitado sobre a origem do cerrado. Sua vegetao, por apresentar
caractersticas de vegetao xeromorfa, no incio do sculo fez com que cientistas
acreditassem que sua gnese fosse determinada pela estacionalidade climtica, motivada pela
longa estao seca. Entretanto, estudos desenvolvidos j na dcada de 1940 comprovaram
abundncia de gua disponvel no subsolo, poucos metros abaixo da superfcie, mesmo na
estao seca (MONTOVANI; PEREIRA apud NASCIMENTO, I., 2001). Estudos posteriores
demonstram que, em virtude do lento processo de percolao3 nos solos do cerrado, seus
lenis freticos adquirem sua mxima carga justamente quando no mximo da seca em
superfcie, o que d regio reservas de gua (superfcies e subsolo) durante os 365 dias do
ano.
____________________________
3 Percolao movimento de penetrao de gua no solo e subsolo. Este movimento geralmente lento e vai dar
origem ao lenol fretico. (GUERRA, Antnio Teixeira. Dicionrio Geolgico-Geomorfolgico. 7 ed. Rio de
Janeiro - RJ: IBGE, 1987. p. 322)
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Grande parte das espcies vegetais do cerrado possuem razes pivotantes tambm
chamado de razes axiais. Elas formam na planta uma raiz principal, geralmente maior que as
demais e que penetra verticalmente no solo; da raiz principal partem razes laterais, que
tambm se ramificam, por essa razo as rvores e arbustos conseguem aproveitar a gua que
se acumula sob o solo, nos lenis freticos, graas aos seus sistemas radiculares bastante
desenvolvidos, chegando a doze metros de profundidade conseguindo assim se frutificar no
perodo das secas (imagem 1).
Imagem 1: Vegetao do cerrado com razes profundas
Fonte: www.scielo.br/img/fbpe/rbf/v24n1/9903f1.gif. Acesso em: 30 ago. 2009.
Os cerrados so a savana que tem a maior disponibilidade de recursos hdricos do
planeta. Sua extensa e recortada rede fluvial que em quase sua totalidade perene, contribui
de maneira significativa para estabilidade cclica hidrolgica de importantes bacias brasileiras,
como a Amaznica, a do Prata e a de So Francisco (mapa 2).
Mapa 2: Bacias Hidrogrficas do Brasil
Fonte: acaradobrasil.vilabol.uol.com.br/zuz/hidrografia. Acesso em: 30 ago. 2009
Escala 1:5067933
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Ainda no que se refere hidrografia do cerrado, Barbosa apud Moyss e Silva
(2007, p. 02) salientam que:
O cerrado a cumeeira da Amrica do Sul, distribuindo guas para as grandes
bacias hidrogrficas do continente. Isto ocorre porque na rea de abrangncia do
Cerrado se situam trs grandes aqferos, responsveis pela formao e alimentao
dos grandes rios do continente: o aqfero Guarani, associado ao arenito Botucatu e
a outras formaes arenticas, mais antigas responsveis pelas guas que alimentam
a bacia do Paran. Os aqferos Bambu e Urucuia.[...] so responsveis pela
formao e alimentao dos rios que integram as bacias do So Francisco,
Tocantins, Araguaia e outras, situadas na abrangncia do Cerrado. Estes aqferos,
que vem se formando durante milhes de anos, de pouco tempo para c no esto
sendo recarregados como deveriam, para sustentar os mananciais. Isto ocorre porque
a recarga dos aqferos se d pela suas bordas nas reas planas, onde a gua pluvial
infiltra e absorvida cerca de 60% pelo sistema radicular da vegetao nativa,
alimentado no primeiro momento o lenol fretico e lentamente vai abastecendo e se
armazenando nos lenis mais subterrneos. Com a ocupao dos chapades de
forma intensa, que trouxe como conseqncia a retirada da cobertura vegetal, sua
substituio por vegetaes temporrias de raiz subsuperficial, a gua da chuva
precipita, porm no infiltra o suficiente para reabastecer os aqferos.
Conseqncia, com o passar dos tempos, estes vo diminuindo de nvel,
provocando, num primeiro momento, a migrao das nascentes, das partes mais
altas, para as mais baixas e diminuio do volume das guas, at chegar o ponto do
desaparecimento total do curso dgua. Convm ressaltar que este um processo irreversvel.
O cerrado como j foi dito a cumeeira da Amrica do Sul, distribuindo gua
atravs das nascentes, gerando crregos, riachos e rios que vai drenando por todo o seu trajeto
para as bacias hidrogrficas de sua abrangncia (foto 1).
Foto 1: Rio Raizama, Chapada dos Veadeiros Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2008)
Vale ressaltar tambm que o Cerrado devido a sua vasta extenso territorial,
posio geogrfica, heterogeneidade vegetal, e por ser cortado pelas trs maiores bacias
hidrogrficas da Amrica do Sul, destaca-se por sua biodiversidade.
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No que se refere biodiversidade, isto , variedades ecossistmicas, genticas e
de espcies:
O Cerrado tem uma posio destacada no s pelas suas extensas reas como
tambm pela heterogeneidade vegetal, em grande parte desconhecida. Estima-se que
seja responsvel por 5% da biodiversidade mundial. Por exemplo, no caso de
microorganismos, somente no Distrito Federal so catalogados 419 espcies de
fungos. No caso da flora, o Cerrado considerado a mais rica dentre as savanas do
mundo. possvel que sua flora alcance entre 4 mil e 10 mil espcies de plantas
vasculares, nmero superior em grande parte s outras floras. Da mesma forma, h
uma enorme variedade de fauna (KLINK, apud PIRES, 1996, p. 52).
Incluindo os exemplos de fauna e flora citados acima, estima-se que o Cerrado
possui 10 mil espcies de plantas, onde 4.400 so endmicas (que s existem neste Bioma). A
fauna constituda por 837 espcies de aves (29 so endmicas), 194 espcies de mamferos
(19 endmicos), 185 rpteis (24 endmicos) e 150 anfbios (45 endmicos). Estudos apontam
que o Cerrado abranja 14.425 espcies de invertebrados. Rigonato (2005) salienta que
estimativas apontam que no Cerrado, existem cerca de seis mil espcies de rvores muito
utilizadas na produo de artesanato, uso medicinal e alimentcio, alm de outros. Calcula-se
que mais de 40% das espcies de plantas lenhosas e metade das abelhas deste bioma sejam
endmicas. De gramneas existem mais de cinco centenas, sendo a grande maioria endmica
da regio.
Como os nmeros indicam o Cerrado possui rica biodiversidade. Observa-se que,
entre as diferentes espcies, muitas so endmicas. Porm, esse bioma, sua fauna, sua flora,
seu relevo, suas bacias hidrogrficas, suas fitofisionomias, etc., vm sendo destrudos pela
ocupao humana em um curto espao de tempo.
De acordo com Rigonato (2005), o Cerrado fisionomicamente, se caracteriza pela
existncia de um extrato herbceo formado basicamente por gramneas e um estrato
arbreo/arbustivo de carter lenhoso. H tambm a predominncia de um ou de outro estrato
arbustivo, herbceo e arbreo. De acordo com ele, Estas metamorfoses ou alternncias do
bioma Cerrado ocorrem devido relao intrnseca com o nvel do lenol fretico, da
fertilidade e da composio do solo, da geomorfologia do relevo (RIGONATO, 2005, p. 69).
Alm disso, tambm importante levar em considerao o papel da ao dos seres humanos
nas alteraes e composio deste bioma.
O Cerrado de acordo com Gomes (2008) possui caractersticas de ambientes
ridos:
- Estrutura radicular espessa, s vezes com mais de 20 metros de profundidade;
-
19
- Plantas que possuem a maior parte de sua biomassa subterrnea, a ponto de ser
chamado de floresta de cabea pra baixo;
- Plantas com mecanismos de controle de reteno e perda de gua pelas folhas
evaporao e evapotranspirao;
- Plantas que dispem de xilopdios, rgos subterrneos protetores contra o
fogo condicionante vital de sua existncia;
- Solos em sua maioria cidos e dotados de baixos nveis de macro e
micronutrientes, alm de elevada concentrao de alumnio, elemento txico que impede a
absoro de nutrientes pelas plantas;
- gua em boa disponibilidade no subsolo;
- Plantas com caules retorcidos, casca grossa, com folhas largas, espessas pilosas,
submetidas a prolongada estao seca ( foto 2).
Foto 2: rvore tpica do cerrado com troncos retorcidos, casca grossa
Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2008)
A vegetao dos cerrados deve ser caracterizada em relao ao solo e no ao
clima ou temperatura. As primeiras teorias sobre a origem desse tipo de vegetao
sustentaram por quase meio sculo a Teoria Climtica, que dizia que as principais
caractersticas do cerrado como, por exemplo, cascas grossas e troncos retorcidos deviam-se
estacionalidade do clima, ou seja, a estiagem prolongada garantia caractersticas xerfitas4 s
plantas. No entanto, foram desenvolvidos estudos que revelaram que essas teorias estavam
equivocadas.
____________________________
4 Xerfita Chama-se xeromorfas ou xerfitas as plantas que vivem em regies com pouca gua. uma planta
adaptada ao clima seco. Estas adaptaes so: caules carnudos para armazenar gua, folhas menores e mais
coureceas (rgidas), s vezes cobertas por uma camada de cera para diminuir a evaporao, e folhas reduzidas a
espinhos, alm de razes longas. Disponvel em: www.babylon.com/definition/Xerfita
-
20
Nesse sentido, Chaves, apud Mendona e Souza, 2001, p. 16 salientam que:
Praticamente em duas dcadas de estudos, em reas de cerrado em todas as regies
do Brasil, os cientistas chegaram concluso de que as caractersticas qumicas e
fsicas do solo so os fatores determinantes para explicar a origem e permanncia do
cerrado no territrio brasileiro. Os solos antigos, muito profundos e intensamente
lixiviados, determinam uma escassez de clcio, fsforo, nitrognio, etc. A presena
acentuada de alumnio contribui para deficincia nutricional das plantas, causando
Oligotrofismo Distrfico5.
De acordo com Dias, apud Pires (1996) os solos do Cerrado so antigos,
profundos, com pouca inclinao e predominncia do Latossolo Vermelho-Amarelo, do
Latossolo Vermelho Escuro, e da Areia Quartisoza. Isso significa que grande parte rica em
argila e xido de ferro, de cor avermelhada. Segundo os estudiosos, aproximadamente 90%
dos solos so distrficos, ou seja, cidos com baixa fertilidade (baixa concentrao de matria
orgnica e de macro-nutrientes como clcio, magnsio, fsforo e potssio) e alta
concentrao de alumnio e ferro. A pouca fertilidade agravada pelas chuvas fortes e
concentradas que carreiam o clcio para as profundidades do solo, diminuindo a oferta dos
macro-nutrientes s plantaes. Alm disso, a alta concentrao de alumnio pode inibir a
absoro de nutrientes pelas razes, ou mesmo causar toxidez s plantas (CASTILHO;
CHAVEIRO, 2007).
Os solos do Cerrado eram considerados improdutivos at os anos sessenta e eram
sinnimos de terra arrasada, que no valiam qualquer investimento. Da mesma maneira,
recebiam os adjetivos de raquticos, venenosos, etc. Contudo, essas vises foram sendo
modificadas proporo que se ampliava o nmero de pesquisas agronmicas que indicavam
as potencialidades das reas, com o devido emprego de tecnologias apropriadas.
Quanto s caractersticas qumicas, os solos so bastante cidos, com PH que pode
variar de menos de 4 a pouco mais de 5, caracterizando estes solos profundamente distrficos
e, por isto, imprprios para a agricultura. A correo do PH pela calagem (aplicao de
calcrio, de preferncia o calcrio dolomtico, que um carbonato de clcio e magnsio) e
adubao, tanto com macro quanto com micronutrientes, podem torn-los frteis e produtivos,
seja para a cultura de gros ou de frutferas.
____________________________
5 Oligotrofismo Distrfico - Associa a baixa fertilidade dos solos e o excesso de alumnio s suas caractersticas
de nanismo e tortuosidade. (MENDONA; SOUZA, 2001, p.16)
-
21
Segundo Castilho e Chaveiro (2007), em parte dos Cerrados, o solo pode
apresentar concrees ferruginosas - canga - formando couraas, carapaas ou bancadas
laterticas, que dificultam a penetrao da gua de chuva ou das razes, podendo s vezes
impedir ou dificultar o desenvolvimento de uma vegetao mais exuberante e a prpria
agricultura. Quando tais couraas so espessas e contnuas, vamos encontrar sobre estas
superfcies formas mais pobre e mais aberta de Cerrado.
Quando pastagens nativas de cerrado so sobrepastejadas - retirada de parte da
vegetao para formao de pastos para pecuria extensiva, o solo fica muito exposto e
facilmente erodido. Devido s suas caractersticas texturais e estruturais ele tambm
freqentemente sujeito formao de enormes voorocas (foto 3).
Foto 3: Vooroca causada pelo desmatamento, Caipnia-GO.
Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2006)
Segundo Guerra (1987, p. 437), Voorocas so escavaes ou rasgo do solo ou
de rocha decomposta, ocasionado pela eroso do lenol de escoamento superficial.
As voorocas podem ser geradas e/ou alimentadas pelo escoamento superficial e
subterrneo, desenvolvendo sobre material inconsolidado. Caracterizam-se por ser fendas de
grande porte nas vertentes do relevo, que evoluem lateralmente e a montante da vertente, com
fluxo de gua intermitente (LATRUBESSE;CARVALHO,2006,p.82).
Existem caractersticas de solo que no podem ser ignoradas, ou mesmo
desconsideradas, quando se quer fazer uso de uma rea de terra, sob pena de se estar levando
esse pedao de solo degradao total em um curto espao de tempo. Para isso existem
maneiras dessas terras desgastadas pela mo do homem serem recuperadas, atravs dos
plantios de rvores de crescimento rpido que so capazes de adubar o solo com matria
-
22
orgnica, como camada de hmus6 e nitrognio evitando assim que a eroso aumente
formando grandes voorocas.
Gomes (2008) salienta que o cerrado uma estrutura fsica geolgico-
geomorfolgico, pedolgico-edafolgica, climtica e hdrica que ocupa principalmente as
terras do Planalto Central brasileiro. Por sua centralidade, trata-se de um bioma ectone, isto
, de transio para os outros biomas nacionais (mapa 3).
Mapa 3: Biomas do Brasil
Fonte: www.wwf.org.br. Acesso em: 05 set. 2009.
Da a sua importncia fito e zoogeogrfica como corredor natural de migrao,
polinizao e reproduo de espcies biticas.
____________________________ 6
Hmus- produto da decomposio parcial de restos vegetais ou animais, que se acumulam no cho florestal,
onde enriquece o solo. (FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Miniaurlio Sculo XXI Escolar: o
minidicionrio da lngua portuguesa. 4. ed. rev. amp. Rio de Janeiro-RJ: Nova Fronteira, 2001.p.369)
Escala 1:7978694
-
23
1.2 rea de abrangncia e os tipos de cerrados
O Cerrado, em extenso, o segundo maior bioma do Brasil, sendo o primeiro a
Floresta Amaznica. A rea original era de 2 milhes de quilmetros quadrados, ou seja, 22%
do territrio nacional. Como mostra a figura abaixo, abrange grande rea da regio Centro-
Oeste brasileira como tambm partes do Norte, Nordeste e Sudeste. H tambm uma pequena
rea na regio Sul, no estado do Paran.
Mapa 4: rea de abrangncia do Cerrado
Fonte: www.wwf.org.br. Acesso em: 05 set. 2009.
O cerrado para se ter idia equivale a nada menos do que trs Franas, seis Itlias,
ou 40 Holandas. Dentro desse enorme espao brasileiro caberiam, juntas, a Alemanha, a
ustria, a Blgica, a Espanha, a Frana, a Holanda, a Itlia, a Sua e Portugal. Tal dimenso
subcontinental j constitui, por si s, razo suficiente para reconhecermos a importncia dos
cerrados como um dos principais biomas brasileiros. Aliem-se a isto a enorme diversidade
biolgica, o potencial em plantas e espcies frutferas (COUTINHO, 1990).
O sistema biogeogrfico do cerrado no pode ser tomado como uma unidade
homognea. Ele ostenta dentro do seu domnio uma srie de biomas, diversificado entre si
pelo carter fisionmico e pela composio vegetal e animal. Estes biomas constituem os seus
subsistemas. Sua compreenso pr-requisito para entender o sistema como um todo, a
diversidade dos recursos que oferece, permitindo reunir elementos que possam ser utilizados
para explicar a ocupao por populaes humanas. Este sistema biogeogrfico de acordo com
Escala 1:5267533
-
24
Castilho e Chaveiro (2007) compe-se dos seguintes subsistemas: campos limpos, campos
sujos, cerrados stricto sensu, cerrades, matas secas, matas midas (de galeria e ciliares),
veredas e cerrados rupestres (imagem 2). Mas h tambm, neste Domnio, outras formaes,
como as florestas, as quais constituem ecossistemas de outros biomas.
Imagem 2: Representao dos Subsistemas do Cerrado
Fonte: www.agencia.cnptia.embrapa.br. Acesso em: 07 set.2009
- Os campos limpos (foto 4), como o prprio nome indica, so constitudos
principalmente por gramneas (popularmente conhecidos como capim, grama, etc). Tais
campos so encontrados nas encostas, nas reas de chapadas e nas proximidades das
nascentes de gua, circundando as bordas das matas de galeria. O Campo Limpo corresponde
vegetao baixa, sem rvores ou com raras arvoretas, muito afastadas entre si (RIGONATO,
2005).
Um local no Estado de Gois, que existe esse tipo de vegetao o Parque das
Emas. Esse ambiente especfico para uma fauna que necessita se deslocar constantemente,
como a Ema, a Ona Pintada, o Tamandu Bandeira, o Lobo Guar, a Seriema entre outros.
Na estao seca ocorrem queimadas naturais. Este fator contribui para que as gramneas no
monopolizem o ambiente, dando lugar a outras plantas de pequeno porte, como as ervas
rasteiras. Essas plantas possibilitam a sobrevivncia dos animais citados acima e de diversas
aves.
-
25
Foto 4: Campo Limpo
Fonte: eco.ib.usp.br/cerrado. Acesso em: 07 set. 2009
- O campo sujo (foto 5), tambm conhecido por Cerrado Ralo, refere-se
imbricao de campos com diversas plantas herbceas. Os arbustos so pouco expressivos. A
fauna dos campos limpos tambm habita os campos sujos.
Foto 5: Campo Sujo na Chapada dos Veadeiros
Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2008)
- O Cerrado Stricto Sensu (sentido estrito), refere-se vegetao mais
representativa deste bioma. Isto porque a mais peculiar deste Domnio. Apresenta-se como
um subtipo de vegetao predominantemente arbreo-arbustivo, com cobertura de 20% a
50%. H nesta fisionomia uma variedade de arbustos, subarbustos e gramneas, sendo que a
estao seca a mais propcia a ocorrncias das queimadas como se registra freqentemente.
As espcies vegetais so em maioria arbustivas (rvores de pequeno porte, 3 a 8 m de altura),
com troncos tortuosos (devido a acidez do solo), cascas grossas e folhas largas e grossas.
-
26
A ocorrncia dos arbustos no densa como nas matas. As gramneas (tpicas dos
campos limpos) tambm existem no cerrado stricto sensu (foto 6). Por condio de adaptao,
as razes dos arbustos so profundas, alcanando at 18 metros de profundidade. Isto, pois os
lenis freticos (guas subterrneas) que garantem vida a essa vegetao so encontrados
bem abaixo da superfcie.
Segundo Rigonato (2005) das espcies que compe o Cerrado Stricto Sensu
podemos citar algumas de poder medicinal, como por exemplo: algodozinho, assa-peixe, pau
santo, barbatimo, entre outras. As espcies de plantas que servem de alimentos no Cerrado
Stricto Sensu so: baru, caju, curriola, ing, mangaba, murici, entre outras.
Na cidade de Gois podemos identificar no loteamento Jardim das Accias
prximo a rodovia GO-070 sada para Goinia, uma vegetao de Cerrado com caractersticas
de Cerrado Stricto Sensu (foto 7).
Foto 6: Cerrado Stricto Sensu Foto 7: Cerrado Stricto Sensu, Bairro Jd. das Accias
Fonte: eco.ib.usp.br/cerrado. Acesso em 07 set. 2009. Gois-GO.
Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2008)
- O Cerrado (foto 8), de acordo com Rigonato (2005) refere-se a uma vegetao
de transio entre a mata seca e o cerrado stricto sensu. uma vegetao de carter florestal,
com rvores mais desenvolvidas que as dos demais tipos fitofisionmicos. Possui rvores
frondosas (que tem muitas folhas e muitos ramos), mas tambm espcies tortuosas, tpicas do
cerrado stricto sensu. O cerrado encontra-se nos chapades ou nas encostas midas. Esta
fitofisionomia caracteriza-se pela presena de rvores que cobrem mais de 50% da superfcie
do solo e podem chegar at 15 metros de altura. So exemplos que compem o Cerrado,
rvores altas como o jatob, a pimenta de macaco, a sucupira branca e a preta, o baru, o
marmelo e o pequizeiro. Entre as espcies identificadas no Cerrado, verifica-se que algumas
so empregadas contra doenas comuns no sexo feminino, contra a lcera e para fazer sabo.
-
27
Na Cidade de Gois tambm podemos identificar a vegetao do Cerrado com
caractersticas de Cerrado (foto 9) prximo as margens da rodovia GO-164 junto ao viaduto.
Foto 8: Cerrado Foto 9: Cerrado prximo ao viaduto da rod. GO 164
Fonte: eco.ib.usp.br/cerrado. Acesso em: 07 set. 2009 Gois-GO Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2009)
- O Cerrado Rupestre (foto 10) refere-se a formao onde h vegetao em
ambientes litlicos ou rochosos, principalmente nas Serras. Podemos citar algumas espcies
tpicas, como o Papiro (rvore do papel foto 11), o caju (cajuzinho da serra), o murici, a
mangaba, bromlias, liquens (juno de fungos e algas que contribuem com a decomposio
das rochas), etc. O Cerrado Rupestre possui cobertura arbrea varivel de 5% a 20%, com
altura mdia de dois a quatro metros, e camada arbustivo-herbcea destacada. Pode ocorrer
em trechos contnuos, mas geralmente aparece em mosaicos, includo em outros tipos de
vegetao.
Segundo Sano e Almeida, apud Rigonato (2005, p. 71) Essa formao
caracteriza-se pela ocorrncia em altitudes elevadas acima de 900 metros, em solo raso e pela
presena de indivduos arbreos encontrados nas fendas e entre os afloramentos rochosos.
No Cerrado Rupestre as rvores concentram-se nas fendas entre as rochas, e a densidade
arbrea varivel e dependente do volume de solo.
-
28
Foto 10: Cerrado rupestre na Chapada dos Veadeiros Foto 11: rvore papiro na Serra Dourada
Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2008) Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2007)
Como j foi ressaltada, a vegetao do municpio de Gois apresenta exemplos de
vegetao de transio entre Cerrado stricto sensu, Cerrado e Cerrado Rupestre. Na Serra
Dourada (foto 12) e nos morros do entorno do stio urbano da cidade de Gois encontram-se
exemplos de Cerrado Rupestre. Essa fisionomia bem representativa nesses locais porque
apresentam altitudes elevadas com terrenos bem drenados e presena de inmeros
afloramentos rochosos de quartzitos. Podemos identificar tambm, um subtipo de vegetao
arbreo-arbustiva que ocorre em ambientes rupestres (Litlicos ou rochosos).
Foto 12: Cerrado Rupestre na Serra Dourada
Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2007)
- As veredas (foto 13) so tambm chamadas de vrzeas. So de extrema
importncia no conjunto de drenagem do Bioma Cerrado e de outros Biomas, pois se
constituem nas principais nascentes de muitas bacias hidrogrficas. A sua vegetao
formada basicamente pelo Buriti e por espcies de matas e de campo. So circundadas por
campos limpos e campos sujos. Por isso so de extrema exuberncia, compondo paisagens
-
29
povoadas de pssaros e gerando contornos belos em seu desenho natural. Povos tradicionais
do Cerrado afirmam que o Buriti um timo indicador de gua no solo. Essa formao do
cerrado inspirou o Escritor mineiro Guimares Rosa a escrever o livro Grande Sertes
Veredas, que se tornou um clssico da literatura brasileira.
Foto 13: Veredas as margens da Rod. GO-070 (sada para Jussara-GO)
Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2009)
- As matas secas so mais afastadas dos cursos dguas (crregos e rios), por isso
so tambm conhecidas como matas de interflvios. H uma alta quantidade de rvores
frondosas, como o ip (foto 14), a aroeira, o pau-d'leo, etc. Por condies de adaptao,
durante a estao seca, boa parte das rvores perde as folhas. Isso ocorre pela diminuio da
disponibilidade de gua. As rvores que passam por esse fenmeno so chamadas de
semidecduas.
Foto 14: Ip amarelo mata seca. Fazenda Quilombo Bom Sucesso, Gois-GO.
Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2008)
-
30
- As Matas midas, tambm conhecidas como matas de galerias (foto 15), so
aquelas que acompanham os cursos dgua. As rvores atingem at 30 metros de altura, por
isso formam galerias. As de menor porte, que no formam galerias so chamadas de matas
Ciliares (foto 16) (parecido com os clios de nossos olhos quando abertos), isso, pelo fato das
copas das rvores de um lado do rio ou crrego no tocarem nas do outro lado. A vegetao
das matas midas frondosa de troncos lisos e folhas pequenas, e, diferente das matas secas,
durante todo o ano mantm sua folhagem verde. Dentre exemplos podemos citar o jatob, o
jequitib e o tamboril.
Foto 15: Mata de Galeria. Crr. Bacalhau, Gois-GO Foto 16: Mata Ciliar. Rio Paraso, Caiapnia-GO
Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2008) Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2006)
-
31
2 O FOGO NO BIOMA CERRADO
2.1 Os incndios florestais e a prtica das queimadas
O homem e os incndios sempre tiveram uma estreita relao, primeiro porque
aquele o principal responsvel pelas suas ocorrncias e, segundo, porque o fogo teve uma
atuao efetiva na sua evoluo. O fogo foi a primeira fonte de energia natural dominada e
utilizada para diversos fins, como em rituais religiosos, na guerra, na comunicao, na caa,
no preparo do terreno para as plantaes e no preparo dos alimentos.
Ao longo de sua histria, o homem sempre conviveu com o fogo. Seja como
modificador do meio em que vive ou como elemento mstico, o fogo sempre foi temido e
respeitado ao longo da evoluo humana, da mesma forma como ocorre nos dias atuais. O
fogo tambm foi um dos primeiros elementos a causar a destruio daquilo que o homem
produzia.
Toda e qualquer destruio causada pelo fogo, que se processa fora do desejo e do
controle do humano, com prejuzos considerveis e no previstos, tem a denominao de
incndio. Assim, a queima de um palito de fsforo, usado para acender um cigarro, no
poder ser considerado um incndio, uma vez que ele produzido para esse fim. Do mesmo
modo, o fogo que alimenta um alto forno de uma siderrgica, embora consuma milhes em
combustvel, no poder ser considerado como incndio, pois o mesmo est sob controle.
Ao contrrio, o fogo que lavra em um prdio, por exemplo, causando danos
materiais, fsicos e morais ao homem, tem que ser considerado como um incndio. Assim
sendo, podemos definir incndio como toda e qualquer destruio ocasionada pelo fogo, de
bens materiais, mveis e imveis, alm de danos fsicos ou morais aos seres humanos.
Em relao aos incndios florestais, podemos defini-los como uma combusto6
sem controle que se propaga livremente consumindo os combustveis naturais de uma floresta
ou vegetao, tendo como principal caracterstica o fato de propagar-se livremente,
respondendo apenas s variaes do ambiente e influncias derivadas dos combustveis
naturais, clima e topografia.
____________________________
6Combusto- uma reao qumica de oxidao com desprendimento de luz e calor. Disponvel em:
http://www.cimi.com.br/Site/conceitos/Combustao
-
32
Fonseca e Ribeiro apud Parizotto (2006) definem incndios florestais como a
ocorrncia de fogo em qualquer forma vegetativa, cujas causas vo de naturais a criminosas,
podendo tambm estar associadas forma acidental e, portanto, inesperada pelo proprietrio
ou responsvel pela rea atingida.
Ao se falar de incndio florestal j imaginamos incndios em grandes florestas
como a Amaznia, mas ele pode ocorrer em qualquer forma vegetativa, inclusive no Cerrado,
que como j foi falado no captulo anterior dividido em vrios subsistemas e classificado de
acordo com suas formaes: formaes florestais, formaes savnicas e formaes
campestres. Nas formaes florestais esto includos as matas de galerias, ciliares e secas e o
cerrado (imagem 3).
importante falar sobre incndios florestais no Cerrado, principalmente quando o
fogo sai do seu controle e transforma-se em grandes incndios.
Imagem 3: Formao Fitofisionmia do Cerrado
Fonte: www.agencia.cnptia.embrapa.br. Acesso em: 01 out. 2009.
Os incndios florestais representam uma grande preocupao, pois se de um lado
o fogo desempenha um importante papel na manuteno de alguns ecossistemas naturais e
artificiais a sua ocorrncia de forma descontrolada pode representar uma fonte de perturbao
permanente, acarretando perdas e danos materiais (NUNES, apud PARIZOTTO, 2006).
J as queimadas, de acordo com Silva (1998), representam a aplicao controlada
de fogo na vegetao natural ou plantada sob determinadas condies ambientais que
permitam ao fogo manter-se confinado em uma determinada rea e ao mesmo tempo produzir
-
33
uma intensidade de calor e velocidade de espalhamento desejveis aos objetivos de manejo.
Quando essa queimada torna-se incontrolvel j caracterizada como incndio.
A prtica das queimadas no um processo recente, o homem a usa como
ferramenta necessria para realizar seu trabalho desde a antiguidade e antes os incndios no
Cerrado j ocorriam em conseqncia dos raios, sendo esta uma das formas naturais de
incndios.
Incndios em vegetao sempre existiram na face da Terra. H indcios de que
ocorreram naturalmente, atingindo extensas florestas, na era paleozica, h milhes
de anos. No Pleistoceno, h cerca de 500 mil anos, o Homo erectus j sabia usar e
controlar o fogo. O homem neoltico da Europa boreal se servia dele para abrir
clareias nas florestas de pinheiros (COUTINHO, 1990, p. 26).
A prtica de utilizar o fogo para limpeza de reas florestais sempre foi a principal
ferramenta do homem, no entanto, essa prtica muitas vezes foge do seu controle causando
grandes incndios florestais.
A queima de vegetao uma prtica que ocorre desde os tempos da Idade
Mdia e considerada a causadora de perdas e prejuzos difceis de serem calculados. Solo
queimado o comeo do deserto (VICTORINO, 2000, p.93).
Quando se trata de utilizao das queimadas, o Brasil o pas que mais faz uso
desse recurso, apropriando-se do fogo para diversos fins (KIRCHHOFF, 1992).
De acordo com (VICTORINO, 2000, p.93) No Brasil, os jesutas j eram contra
as queimadas e ensinavam aos colonos e aos ndios, alternativas de manejo do campo e do
solo.
A queimada uma prtica antiga (nossos ndios j a exerciam) feita com a finalidade
de recuperar a terra principalmente as pastagens. O solo brasileiro, como a maioria
dos solos tropicais, predominante cido. A acidez natural tende a aumentar com o
uso indevido do solo sem a devida reposio do que lhe retirado para contornar a
situao que sobre ele se encontra (DIRANI, apud MENDONA; SOUZA, 2001, p.
33).
Segundo Silva apud Mendona e Souza (2001) a utilizao do fogo como prtica
de preparo do solo se d desde a agricultura nmade dos indgenas, sendo depois incorporada
pelos colonizadores e atualmente pelos pequenos e grandes proprietrios de terra,
constituindo-se na forma mais fcil e barata de limpeza do solo.
No Brasil os rgos licenciadores permitem a prtica das queimadas desde que ela
seja realizada de forma adequada e segura em espao que no comprometa reas de interesse
ambiental. Segundo o decreto 2.661, de 8 de julho de 1998:
-
34
Art. 2 - permitido o emprego do fogo em prticas agro-pastoris e florestais,
mediante Queima Controlada.
Pargrafo nico. Considera-se Queima Controlada o emprego do fogo como fator de
produo e manejo em atividades agropastoris ou florestais, e para fins de pesquisa
cientfica e tecnolgica, em reas com limites fsicos previamente definidos.
Art. 3 - O emprego do fogo mediante Queima Controlada depende de prvia
autorizao, a ser obtida pelo interessado junto ao rgo do Sistema Nacional do
Meio ambiente - SISNAMA, com atuao na rea onde se realizar a operao.[...]
Art. 4 - Previamente operao de emprego do fogo, o interessado na obteno de
autorizao para Queima Controlada dever:
I - definir as tcnicas, os equipamentos e a mo-de-obra a serem utilizados;
II - fazer o reconhecimento da rea e avaliar o material a ser queimado;
III - promover o enleiramento dos resduos de vegetao, de forma a limitar a ao
do fogo;
IV - preparar aceiros de no mnimo trs metros de largura, ampliando esta faixa
quando as condies ambientais, topogrficas, climticas e o material combustvel a
determinarem;
V - providenciar pessoal treinado para atuar no local da operao, com
equipamentos apropriados ao redor da rea, e evitar propagao do fogo fora dos
limites estabelecidos;
VI - comunicar formalmente aos confrontantes a inteno de realizar a Queima
Controlada, com o esclarecimento de que, oportunamente, e com a antecedncia
necessria, a operao ser confirmada com a indicao da data, hora do incio e do
local onde ser realizada a queima;
VII - prever a realizao da queima em dia e horrio apropriados, evitando-se os
perodos de temperatura mais elevadas e respeitando-se as condies dos ventos
predominantes no momento da operao:
VIII - providenciar o oportuno acompanhamento de toda a operao de queima, at
sua extino, com vistas adoo de medidas adequadas de conteno do fogo na
rea definida para o emprego do fogo.
1 - O aceiro de que trata o inciso IV deste artigo dever ter sua largura duplicada
quando se destinar proteo de reas de florestas e de vegetao natural, de
preservao permanente, de reserva legal, aquelas especialmente protegidas em ato
do poder pblico e de imveis confrontantes pertencentes a terceiros.
2 - Os procedimentos de que tratam os incisos deste artigo devem ser adequados
s peculiaridades de cada queima a se realizar, sendo imprescindveis aqueles
necessrios segurana da operao, sem prejuzo da adoo de outras medidas de
carter preventivo.
Art. 5 - Cumpridos os requisitos e as exigncias previstas no artigo anterior, o
interessado no emprego de fogo dever requerer, por meio da comunicao de
Queima Controlada, junto ao rgo competente do SISNAMA, a emisso de
Autorizao de Queima Controlada.
E ainda Art. l6 - O emprego de fogo, como mtodo despalhador e facilitador do corte de
cana-de-acar em reas passveis de mecanizao da colheita, ser eliminado de
forma gradativa, no podendo a reduo ser inferior a um quarto da rea
mecanizvel de cada unidade agroindustrial, a cada perodo de cinco anos, contados
da data de publicao deste Decreto.
Art. 17 - A cada cinco anos, contados da data de publicao deste Decreto, ser
realizada pelos rgos competentes, avaliao das conseqncias scio-econmicas
decorrentes da proibio do emprego do fogo para promover os ajustes necessrios
nas medidas impostas.
Isso busca tambm, conscientizar os agricultores sobre a utilizao do fogo e
muitas vezes acabam levando a utilizao de outros mtodos mais ecologicamente adequados.
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35
O incndio considerado crime no Brasil segundo a lei 9.605/98 que assevera:
Art 41. Provocar incndio em mata ou floresta: Pena - recluso, de dois a quatro
anos, e multa.
Pargrafo nico. Se crime culposo, a pena de deteno de seis meses a um ano, e
multa.
Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar bales que possam provocar
incndios nas florestas e demais formas de vegetao, em reas urbanas ou qualquer
tipo de assentamento humano:
Pena - deteno, de um a trs anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
Mas, vrias leis anteriores, que foram revogadas por esta lei j o incriminavam. O
Cdigo Florestal, por exemplo, considerava o incndio como Contraveno Penal, porm, de
forma mais branda e mais preocupada com a propriedade particular que com o bem de todos
que o meio ambiente.
Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renovveis (IBAMA), a queimada deve ser feita sob determinadas condies ambientais -
como, por exemplo, a umidade do ar, o sentido do vento, a temperatura, a umidade do solo -
que permitam que o fogo se mantenha confinado rea que ser utilizada para a agricultura
ou a pecuria. Antes de fazer uma queimada preciso analisar os prejuzos que ela poder
causar. Se realmente for necessria, a pessoa deve usar o fogo de maneira correta.
Ao realizar uma queimada deve se reunir e mobilizar os vizinhos para fazer
queimadas controladas e em regime de mutiro; pedir autorizao ao IBAMA; estudar as
caractersticas do terreno (declividade, tamanho da rea a ser queimada); fazer aceiros (3
metros de larguras); ter cuidado com a altura da vegetao; atentar para o clima e horrio;
instruir e preparar o pessoal que ir fazer a queimada.
De acordo com o IBAMA, para realizao de queimada controlada dever ser
apresentado os seguintes documentos: comprovante da propriedade ou de justa posse do
imvel onde se realizar a queima e cpia da autorizao de desmate, quando legalmente
exigida.
No Brasil tradicionalmente utiliza-se o fogo na preparao do solo e renovao de
pastagens, muitas vezes incendiando reas de grande extenso.
Nos ltimos anos, campanhas tm sido feitas no sentido de eliminar esta prtica,
at porque a pobreza nutricional dos solos do cerrado necessita de correes para seu uso
agronmico, fazendo com que as perdas pelo fogo tornem necessrios espaamentos menores
na correo dos solos, com conseqente encarecimento da produo agropastoril.
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36
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (EMBRAPA) apud Nascimento,
I. ((2001, p.21), divulgou alternativas propondo ao uso do fogo (quadros 1, 2 e 3):
PASTAGEM
USO E OBJETIVO DAS QUEIMADAS ALTERNATIVAS TCNICAS E
TECNOLGICAS AO USO DO FOGO
Fogo como mtodo de gesto das pastagens - Manejo agroecolgico de pastagens
Eliminar ectoparasitas do rebanho (como
carrapatos, p.ex.) e seus ovos
- Vedar o acesso do gado na rea por um
determinado perodo (160 dias);
- Tratamento sanitrio do rebanho
(carrapaticidas).
Renovar a pastagem nativa, eliminando
plantas invasoras e melhoramento a
digestibilidade da forragem
- Manejar a pastagem com rotaes do gado
e diviso dos pastos;
- Cuidar do PH e da fertilidade do solo;
- Evitar o sobrepastejo e o pisoteio da rea;
-Enriquecer o pasto com outras espcies,
principalmente leguminosas perenes;
- Manter reas com pastagem cultivada.
Obter uma rebrota precoce de pastagem e
uma maior disponibilidade de forragem
durante o perodo seco
- Manter reservas de forragem sob forma de
feno em fardos ou medas. Existem
enfardadeiras motorizadas e manuais, muito
simples. Manter reservas de forragem sob a
forma de silagem;
-Reservar, com cercas, alguns pastos- mesmo
nativos- para uso no perodo seco;
- Criar e manter um banco de forragens para
suplementao alimentar;
- Aumentar a digestibilidade das palhas com
algum complemento prottico ou nitrogenado
(uria) ou com o banco de forrageiras
(leguminosas);
- Confinamento parcial ou total do gado.
Quadro 1: Uso e objetivo das queimadas em pastagem
Fonte: EMBRAPA apud Nascimento, I. (2001, p. 21)
Org.: CARVALHO, Jefferson Xavier de
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37
PREPARAO PARA O PLANTIO
USO E OBJETIVO DAS QUEIMADAS ALTERNATIVAS TCNICAS E
TECNOLGICAS AO USO DO FOGO
Eliminar troncos, galhos etc. aps
desmatamento de floresta
- Regra 1: evitar o desmatamento;
- Regra 2: planejar e minimizar a rea a ser
desmatada;
- Manter reas e faixas sem desmatar (beira
de rios etc.);
- Planejar e buscar o aproveitamento integral
(destino mltiplo) da madeira (uso
prprio/venda) e da lenha (indireto ou
diferido).
Aps derrubada de capoeira - Uso da trao animal ou motorizada para
mobilizar a madeira e remoo de razes;
- Planejar e buscar o aproveitamento integral
(destino mltiplo) da madeira (uso
prprio/venda) e da lenha (indireto ou
diferido).
Limpeza de reas em pousio ou em descanso - Limpeza manual da rea ou ainda roadeira
manual, trao animal ou motorizada;
- Evitar o pousio atravs de rotao,
adubao verde, adubao orgnica,
incentivo calagem e adubao mineral;
- Uso de herbicidas;
- Incorporao parcial ou total dos resduos
vegetais ao solo (rolo faca, p. ex.) com
trao animal ou motorizada;
- Manuteno dos resduos vegetais sobre o
solo plantio direto.
Limpeza de beira de estradas, reas de uso
comum etc.
-Roadeira ou implementos da
minimotorizao, limpeza manual (foices)
ou ainda herbicidas.
Quadro 2: Uso e objetivo das queimadas para preparao do plantio
Fonte: EMBRAPA apud Nascimento, I. (2001, p. 22)
Org.: CARVALHO, Jefferson Xavier de
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COLHEITA
Pr-colheita (cana-de acar); - Mecanizao com colhedeira de cana crua;
Restos de colheitas - Usar trao animal, micro o minimotorizao para
manejar os resduos vegetais;
- Incorporar total ou parcialmente os resduos ao solo
( p.ex. rolo faca) com trao animal ou motorizada;
- Picar e deixar na superfcie do solo (plantio direto);
- Recolher para compostagem;
- Disponibilizar os resduos para o pastejo animal
controlado.
Quadro 3: Uso e objetivo das queimadas para colheita
Fonte: EMBRAPA apud Nascimento, I. (2001, p. 22)
Org.: CARVALHO, Jefferson Xavier de
No municpio de Gois, as queimadas so uma prtica mais comumente utilizada
pelos agricultores e pecuaristas. As principais causas dessa prtica nociva de queimada
segundo Gomes e Neto apud Mendona e Souza (2001, p.35) so:
Falta de recursos econmicos do pequeno e mdio produtor rural para fazer a
derrubada e limpeza do terreno para o plantio; Falta de terras suficientes para o
cultivo e para a prtica da rotao das culturas; Maior facilidade no preparo do
terreno (destocagem e limpeza); Germinao mais rpida das espcies plantadas, em
funo da calcinao produzida pelo fogo (com aumento do teor do clcio).
Como afirma Kirchhhoff (1992, p. 29) As queimadas no cerrado tornaram-se
sistemticas e cada vez de maiores pores medida em que a regio foi sendo ocupada pelo
agricultor. Na verdade, no cerrado, a estruturao fundiria baseada em grandes propriedades
abriu espao ao desmatamento, sendo que a prtica das queimadas, por no representar custos,
tem sido a mais usada. Sem fiscalizao eficiente, o fogo descontrolado atinge outros
complexos vegetacionais, propagando-se por vrios hectares.
A metade da cobertura vegetal do cerrado j foi extinta, e o que resta est
ameaado de extino. As sucessivas queimadas anuais, geralmente provocadas pelo prprio
homem, causam degradao e a destruio dos diversos gradientes do Cerrado, da mata
vereda, e dos solos e de sua vida microbiana, principal responsvel pela formao do solo
agrcola.
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2.2 As causas e os tipos de queimadas e incndios
Uma pergunta que surge com freqncia quando se discutem as queimadas a sua
origem: existem queimadas naturais ou todas so provocadas pelo homem? Hoje em dia, sem
dvida, a maioria das queimadas provocada, direta ou indiretamente, pelo homem, seja o
agricultor, para abrir novas frentes agrcolas, ou o pecuarista que, para obter forragem fresca
para o gado, queima o capim seco no inverno para forc-lo a rebrotar.
H queimadas intencionais, com o objetivo de controlar o adensamento de
arbustos, eliminarem plantas txicas ou combater carrapatos, por exemplo. E h tambm
queimadas de carter criminoso, quase sempre motivadas pela ambio da ocupao de terras.
Existem ainda queimadas acidentais, causadas pelas pequenas fogueiras dos caadores, pelos
bales durante festas juninas etc.
O registro dos incndios ou queimadas fundamental para se conhecer o
problema que tal fenmeno causa em uma vegetao nativa ou plantada, no raramente
ignorado em sua plenitude. fundamental saber a localizao de onde ocorrem os incndios,
e ainda, faz-se tambm necessrio saber quando eles ocorrem e suas principais causas, porque
ao se conhecer as causas pode-se estabelecer um meio eficaz para prevenir ou minimizar suas
conseqncias.
O conhecimento das causas e da freqncia dos incndios ou queimadas florestais
de extrema importncia, principalmente levando-se em considerao que o ponto de partida
para a elaborao dos planos de preveno saber quem (ou o que) iniciou o fogo.
As queimadas ocorrem nas mais diversas formas. De acordo com Kirchhhoff,
(1992, p.35) os principais tipos de queimadas no Brasil so: pequenas queimadas da beira de
estradas; queimadas de palha de cana de acar; queimadas no cerrado e queimadas em
desmatamentos florestais.
De acordo com Pereira e Frana (2005) provvel que as queimadas ocorridas
antes da ocupao antrpica fossem naturais, ou seja, causadas por raios. Nos dias atuais, a
maioria das queimadas no Cerrado causada pelo homem. Apesar da utilizao de modernas
tcnicas na agropecuria, ainda utilizada a antiga e barata prtica de manejo de atear fogo
vegetao para renovao e limpeza de pastagens, para abertura e limpeza de reas agrcolas,
bem como para rebrota de pastagens naturais. Por outro lado, o fogo deixou de ser usado na
limpeza de restos de culturas anuais mecanizadas.
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40
Podemos dizer que um incndio florestal se manifesta, seja qual for o lugar, por
um conjunto de aes humanas e naturais que possam transmitir ou produzir fogo. Assim,
pode se dizer que os incndios florestais tm como origem as causas naturais e as causas
humanas e as causas humanas podem ser: Doloso e Culposo.
Os incndios de causas naturais independem da vontade ou ao do homem. Ex.:
descargas atmosfricas (raios), terremotos, tufes e combusto espontnea7.
As queimadas naturais podem ter causas diversas: vulcanismo, descargas eltricas,
atrito entre rochas por movimentos da crosta ou queda de mataes (grandes
pedras), em zonas escarpadas. As descargas eltricas representam a causa mais
importante, como prova farta documentao relativa s florestas temperadas, aos
chaparrais da Califrnia, s savanas na frica do Sul e na Austrlia etc. bastante
provvel que esse tipo de incndio tambm acontea nos cerrados, mas com menor
freqncia (COUTINHO, 1990, p. 26).
Os incndios dolosos caracterizam-se pela inteno e consumao do fato,
constituindo o crime. Enquadram-se nesta classificao os incndios causados por
incendirios.
Os incndios culposos ocorrem por imprudncia, impercia ou negligncia, ou
seja, sem a inteno, mas previsvel das conseqncias que podem ocorrer. Ex.: incndio
decorrente de uma queimada de lavoura ou queimada controlada.
Existem tambm, como foi citado os incndios acidentais, ou seja, uma causa
independente da vontade humana, sem haver culpa ou dolo. Ex: fogueiras de acampamentos.
Os incndios por causas humanas podem iniciar atravs de queimadas para
limpeza, fogos campestres, incendiarismo, fumantes, operaes florestais e bales.
- As queimadas para limpeza so classificadas em vrias funes, como por
exemplo, o fazendeiro ateia fogo na vegetao com intuito de preparar o solo para o plantio e
para fazer colheita de certos tipos de cultura como a cana- de acar, sem terras para
ocupao territorial, comunidades carentes em busca do aumento de rea de ocupao.
Compreende-se e toleram-se os incndios florestais originados de fogos usados na limpeza do
terreno com propsitos definidos, tais como preparar o terreno para agricultura, pastagem,
reflorestamento, etc.
____________________________
7Combusto Espontnea-Chama-se combusto espontnea o fato de alguns corpos terem como propriedade
caracterstica, a possibilidade de se combinarem com o oxignio do ar ou de outro portador (agentes oxidantes)
com que estejam em contato, ocasionando uma reao esotrica, isto , com desprendimento de calor, o que
favorece sua combusto, sem o concurso de uma fonte externa de calor, centelha ou outra causa de incndio.
Disponvel em: http://www.cimi.com.br/Site/conceitos/Combustaoespontanea
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41
Nos pases tropicais, de uma maneira geral, esta a principal causa dos incndios
florestais. Geralmente, em poca de maior ocorrncia, as condies so propcias
propagao do fogo, ocasio em que so usadas as prticas de queimadas. Estas, embora
realizadas sob controle dos agricultores e algumas vezes e por razes diversas, extrapolam as
reas previstas, provocando a interveno das autoridades competentes.
- Os fogos campestres acontecem com o crescimento do ecoturismo em uma
determinada regio, em que as pessoas com a falta de conscientizao e desconhecimentos
das normas de segurana ateiam fogos em restos de lixos, jogam guimbas de cigarros acesos
na vegetao seca e deixam garrafas de vidro que, aps o uso, so quebradas e jogadas em
locais onde h incidncia de Sol e muito material seco - folhas, pequenos galhos, etc. Esses
fragmentos, com a incidncia dos raios solares, atuam como lentes, gerando a combusto
espontnea, conhecido como efeito lupa. A causa inicial foi a ao do homem, mas o
incndio originou-se de uma causa natural propriamente dita, que foi o efeito lupa.
- Incendiarismo: pode-se distinguir dois tipos de incendirios. Um deles o que
age por vingana, por inimizade ou outro qualquer motivo, colocando fogo em floresta alheia,
agindo dolosamente. O outro aquele que age inconscientemente, por qualquer desequilbrio
mental, tornando-se um piromanaco, agindo, neste caso, de maneira culposa, ao tentar atear
fogo na floresta. Tambm de maneira culposa agem fazendeiros e at mesmo o grupo de
pessoas conhecidas como "sem-terra", ao promoverem queimadas com o objetivo de
transformar florestas em reas de pasto ou agriculturveis, causando danos irreversveis
biodiversidade.
- Fumantes: neste caso esto includos os incndios florestais originados por
fsforos e pontas de cigarros atirados displicentemente ou mesmo de maneira intencional em
locais onde haja material de fcil combusto. muito comum este tipo de incndio s
margens de estradas. As pessoas, ao passarem por elas, jogam pontas de cigarros nas suas
margens, de maneira displicente (culpa) ou mesmo intencionalmente (dolo), causando grandes
incndios em que o fogo vai consumindo a vegetao e a fumaa invadem as rodovias
impedindo a visibilidade dos motoristas causando srios acidentes de trnsito.
- As operaes florestais so incndios causados por trabalhadores florestais,
quando em atividades na floresta. Nas suas atividades, eles utilizam freqentemente o fogo
para o cozimento de alimentos ou pequenos servios. A perda de controle deste fogo pode
provocar um incndio.
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42
- Bales: os incndios causados por bales podem ser caracterizados como
acidental e ao mesmo tempo pelo homem, pois fabricar, soltar, vender e armazenar crime.
Ento se uma prtica proibida, os incndios provocados por bales podem ser considerados
de causa humana.
Com relao aos incndios florestais, a previso tcita e foi elevada categoria
de crimes, diferente da antiga contraveno penal do Cdigo Florestal de 1965, conforme
estabelece os artigos 41 e 42:
Art 41. Provocar incndio em mata ou floresta: Pena - recluso, de dois a quatro
anos, e multa.
Pargrafo nico. Se crime culposo, a pena de deteno de seis meses a um ano, e
multa.
Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar bales que possam provocar
incndios nas florestas e demais formas de vegetao, em reas urbanas ou qualquer
tipo de assentamento humano:
Pena - deteno, de um a trs anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
A classificao mais adequada para definir os tipos de incndios se baseia no grau
de envolvimento de cada estrato do combustvel florestal desde o solo mineral at o topo
das rvores no processo da combusto.
De acordo com Coutinho (1990), do ponto de vista ecolgico, vrios aspectos de
uma queimada devem ser considerados. H trs tipos de fogo ou incndio: o de copa, de
maior intensidade e mais comum nas florestas, no qual o fogo se alastra de uma copa de
rvore para outra; o de palha, freqente nas vegetaes mais abertas, em que o estrato
graminoso o principal agente do alastramento das chamas; e o de manta, no qual a vegetao
propriamente dita no atingida, mas sim a manta ou serrapilheira acumulada sobre o solo,
que se queima lentamente. Nos cerrades, as queimadas mais comuns so de manta ou de
copa, mas nos outros tipos de cerrado predominam os incndios de palha.
Os incndios de palha podem ser chamados tambm de incndios de superfcie,
que so os incndios que se propagam na superfcie do piso da floresta, queimando os restos
vegetais no decompostos, tais como folhas e galhos cados, gramneas, arbustos, enfim todo
material combustvel at cerca de 1,80 metros de altura. Esses materiais, principalmente
durante perodos de seca, so bastante inflamveis e por isto os incndios superficiais
apresentam propagao relativamente rpida, abundncia de chamas e muito calor. Entretanto
quando comparados com outros tipos, os incndios superficiais no so muito difceis de
combater, a no ser em condies extremamente favorveis propagao dos mesmos.
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43
Havendo condies favorveis, o fogo de superfcie pode dar origem a um fogo de copa e a
um fogo subterrneo.
Segundo Silva (1998), os incndios de superfcie apresentam as seguintes
caractersticas: a velocidade da queima depender do tipo de combustvel, tornando-se mais
inflamvel durante a temporada de estiagem; geralmente bastante inflamvel principalmente
durante a temporada de seca.
Os incndios subterrneos os incndios que propagam-se na camada superficial e
subsuperficial do solo, face acumulao de matria orgnica subterrnea, ficando quase que
completamente isolada da atmosfera e, em consequncia, com grande falta de oxignio. Esse
tipo de fogo ocorre em locais onde existe grande acumulao de hmus e em reas alagadias,
tais como brejos ou pntanos, que quando secas formam espessas camadas de turfa abaixo da
superfcie. Normalmente os incndios subterrneos so precedidos por incndios superficiais.
Devido ao pouco oxignio disponvel na zona de combusto, nos incndios subterrneos o
fogo se propaga lentamente, sem chamas e com pouca fumaa. Esse tipo de incndio no
muito frequente, entretanto, sabe-se que sua ocorrncia no cerrado geralmente ocorrem nas
matas fechadas como o cerrado ( foto 17) que possui muita quantidade de folhas secas e
hmus depositados no solo e prximos a brejos que formam ao redor das veredas.
Foto 17: Incndio em cerrado, Gois-GO.
Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2007)
As principais caractersticas dos incndios subterrneos so: eles geram uma
enorme quantidade de calor; queimam de forma muito lenta; dificultam a localizao do foco.
A intensidade do calor e o poder de destruio destes incndios so bastante altos, alm de
causar a morte das razes e conseqentemente das rvores, atingem tambm a microbiologia e
a fertilidade do solo, atravs da destruio da camada orgnica.
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Os incndios de copa caracterizam-se pela propagao do fogo atravs das copas
das rvores, independentemente do fogo superficial. Geralmente considera-se incndio de
copa aquele que ocorre em combustveis acima de 1,80 metros de altura. Com exceo de
casos excepcionais, como alguns incndios causados por raios, todos os incndios de copa
originam-se de incndios superficiais. Este o mais espetacular dos tipos de incndios
florestais. Propaga-se rapidamente, liberando grande quantidade de calor e tornando o
combate extremamente difcil.
Nos incndios de copa as folhagens das rvores so totalmente destrudas
provocando a morte da rvore. Devido o superaquecimento do cmbio, o incndio avana
sempre na direo do vento, gera grande quantidade de calor, possui grande velocidade de
propagao, muito perigoso de se combater, geralmente origina-se no incndio de
superfcie, ocorrem sempre em dias de vento forte e baixa umidade (imagem 4).
Imagem 4: Incndio de copa originando-se na superfcie, caudado pelo vento.
Fonte: CBMGO
J o incndio natural ocorre muito, por exemplo, em determinada variao de
cerrado e na caatinga onde o clima muito seco e quente gerando combusto espontnea, ou
por raios que ocorre em chuvas de curta durao que no dura o suficiente para garantir a
umidade do solo. Mas a ocorrncia de queimadas na estao seca e a intensa ocupao
agropecuria diminuem a possibilidade de ocorrncias das queimadas naturais, pelo
decrscimo de material combustvel susceptvel queima durante a estao chuvosa, perodo
de ocorrncia de raios.
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2.3 O comportamento do fogo na propagao dos incndios no cerrado
Primeiramente para se falar do comportamento do fogo preciso conhecer o
Tringulo do Fogo (imagem 5), pois para ocorrer qualquer incndio florestal necessrio
haver combustvel para queimar, oxignio para manter as chamas e calor para iniciar e manter
o processo de queima. Se retirarmos qualquer um destes elementos, ou mesmo reduzi-los a
certos nveis, o processo da combusto invivel.
No caso dos incndios no cerrado vamos utilizar o termo Tringulo do
Incndio Florestal (imagem 6) que para ocorrer vai depender das condies meteorolgicas,
do tipo de combustvel e topografia do terreno.
Imagem 5: Tringulo do Fogo Imagem 6: Tringulo do Incndio Florestal
Fonte: Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Gois Fonte: CBMGO
(CBMGO)
Segundo Soares (1979), comportamento do fogo, um termo geral usado para
designar o que o fogo faz. A ignio, crescimento, propagao e declnio de qualquer incndio
em combustveis florestais representam um complexo processo de reao em cadeia que faz
parte do que chamamos de Tetraedro do Fogo (imagem 7).
Imagem 7: Tetraedro do Fogo
Fonte: CBMGO
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A reao em cadeia so reaes que se processam durante o fogo produzindo sua
prpria energia de ativao (calor) enquanto houver suprimento de comb