fogo no cerrado

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA CORA CORALINA JEFFERSON XAVIER DE CARVALHO FOGO NO CERRADO: Causas e Conseqüências da Ação do Fogo no Bioma Cerrado no Município de Goiás GOIÁS-GO 2009

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS

    UNIDADE UNIVERSITRIA CORA CORALINA

    JEFFERSON XAVIER DE CARVALHO

    FOGO NO CERRADO:

    Causas e Conseqncias da Ao do Fogo no Bioma Cerrado no Municpio de Gois

    GOIS-GO

    2009

  • 1

    JEFFERSON XAVIER DE CARVALHO

    FOGO NO CERRADO:

    Causas e Conseqncias da Ao do Fogo no Bioma Cerrado no Municpio de Gois

    Monografia apresentada ao curso de

    Licenciatura em Geografia da Universidade

    Estadual de Gois Unidade Cora Coralina,

    como requisito final, para a obteno do ttulo

    de licenciado em Geografia.

    Orientador: Prof. Dnd. Pedro Alves Vieira

    GOIS-GO

    2009

  • 2

  • 3

    Dedico este trabalho aos meus pais que sempre me

    incentivaram nos estudos;

    minha esposa Anglica que nas horas difceis soube

    apoiar-me para que continuasse a jornada, possibilitando

    esta vitria e ao meu filho recm-nascido Gabriel, razo da

    minha vida;

    Aos amigos e colegas das diversas turmas que freqentei,

    pelo companheirismo, tristezas divididas e alegrias

    compartilhadas;

    A todos os integrantes do Corpo de Bombeiros da cidade

    de Gois que juntamente comigo subiram e desceram

    morros e serras para combater os incndios na vegetao

    do Cerrado, deixando suas famlias em casa por at mais

    de um dia para voltar para casa com a misso cumprida;

    A todas as pessoas importantes ou annimas que

    acreditam na preservao do meio ambiente, porque a

    melhor herana que esta gerao poder deixar para a

    humanidade e que esta causa ainda um projeto que vale a

    pena;

    A todos os bombeiros ao redor do mundo que pereceram

    no combate a incndios florestais;

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Deixo aqui meus agradecimentos quelas pessoas que contriburam de forma direta ou

    indireta par que este trabalho fosse realizado;

    Deus por sua divina proteo e pelas bnos alcanadas, por possibilitar essa realizao

    em minha vida;

    minha famlia: esposa, filho, pais e irmos;

    Ao Prof. Dnd. Orientador Pedro Alves Vieira, pela competncia, profissionalismo e ajuda

    oferecida;

    minha sogra Jane Dias de Oliveira Ribeiro que me ajudou muito durante o perodo em que

    fomos colegas de turma;

    Aos meus professores pelos incentivos e contribuio para uma boa formao acadmica;

    Ao Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Gois, instituio que escolhi para dedicar

    minha vida, dedico s horas e o tempo dispensado na elaborao deste trabalho na esperana

    de contribuir para que se torne uma corporao ainda melhor;

    Ao Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Gois por permitir que eu conciliasse minhas

    funes profissionais com os estudos, de forma particular ao meu ex-Comandante Sr. Major

    Sebastio Nolasco Ribeiro e ao Sr. Capito Jailton Pinto de Figueiredo, atual Comandante da

    8 Companhia Independente Bombeiro Militar, quartel que sirvo com muito orgulho. Deixo

    aqui os meus sinceros agradecimentos a estes dois oficiais do CBMGO que sempre me

    incentivaram nos estudos para que pudesse concluir o curso de Geografia, trazendo mais

    conhecimentos para corporao, fato que me proporciona e proporcionar a crescer mais

    ainda profissionalmente no CBMGO.

  • 5

    hora de abrir os olhos e de enxergar o que a Terra est

    dizendo, o que o ar est mostrando, o que os mares esto

    fazendo sentir e comear a agir de forma correta para que

    nosso futuro, o futuro dos nossos descendentes, no seja

    de misria ou de destruio total (Clia Jurema Aito

    Victorino).

  • 6

    RESUMO

    O estudo faz uma abordagem do Cerrado, com o intuito de compreender os efeitos do fogo

    neste bioma. Desta forma, busca-se analisar as causas, os tipos, a prtica das queimadas e

    incndios, para ento, compreender a ocorrncia destes fatores no municpio de Gois. O

    Cerrado vem sofrendo todos os anos no perodo de estiagem, modificaes em sua paisagem

    devido ocorrncia da ao do fogo. O fogo um elemento presente no Bioma Cerrado,

    sendo um dos determinantes na caracterizao de sua flora. Tcnicas de manejo do fogo e

    medidas compensatrias podem contribuir para a conservao desse bioma. Dessa maneira,

    torna-se necessrio um planejamento de aes que evitem, ou, at mesmo, minimizem os

    danos causados pelo fogo. Isso pode ser feito a partir de iniciativas de preveno, como a

    construo de aceiros, queima controlada, com destaque para a educao ambiental que

    oferece o menor custo com benefcios em longo prazo.

    Palavras-Chave: Cerrado. Fogo. Queimadas. Incndios. Educao Ambiental.

  • 7

    LISTA DE ILUSTRAES

    Mapa 1: Domnios morfoclimticos e fitogeogrficos do cerrado...................................... 13

    Mapa 2: Bacias Hidrogrficas do Brasil.............................................................................. 16

    Mapa 3: Biomas do Brasil................................................................................................... 22

    Mapa 4: rea de abrangncia do cerrado............................................................................ 23

    Mapa 5: Municpio de Gois............................................................................................... 75

    Foto 1: Rio Raizama, Chapada dos Veadeiros..................................................................... 17

    Foto 2: rvore tpica do cerrado com troncos retorcidos, casca grossa............................... 19

    Foto 3: Vooroca causada pelo desmatamento, Caipnia-GO............................................. 21

    Foto 4: Campo Limpo.......................................................................................................... 25

    Foto 5: Campo Sujo na Chapada dos Veadeiros.................................................................. 25

    Foto 6 Cerrado Stricto Sensu............................................................................................. 26

    Foto 7 Cerrado Stricto Sensu, Bairro Jd. das Accias, Gois-GO.................................... 26

    Foto 8: Cerrado................................................................................................................... 27

    Foto 9: Cerrado prximo ao viaduto da rod. GO 164 Gois-GO..................................... 27

    Foto 10: Cerrado rupestre na Chapada dos Veadeiros........................................................ 28

    Foto 11: rvore papiro na Serra Dourada............................................................................ 28

    Foto 12: Cerrado rupestre na Serra Dourada........................................................................ 28

    Foto 13: Veredas as margens da Rod. GO-070 (sada para Jussara-GO)............................ 29

    Foto 14: Ip amarelo mata seca. Fazenda Quilombo Bom Sucesso, Gois-GO............... 29

    Foto 15: Mata de Galeria. Crrego Bacalhau, Gois-GO.................................................... 30

    Foto 16: Mata Ciliar. Rio Paraso, Caiapnia-GO............................................................... 30

    Foto 17: Incndio em cerrado, Gois-GO.......................................................................... 43

    Foto 18: Combustvel de queima rpida, no Parque da Serra Dourada............................... 49

    Foto 19: Fumaa fina, cerrado, Gois-GO........................................................................... 51

    Foto 20: Fumaa grossa....................................................................................................... 51

    Foto 21: Fumaa espalhada, Serra Dourada, Gois-GO...................................................... 52

    Foto 22: Fumaa vaga, proveniente de queima de folhas, Gois-GO.................................. 52

    Foto 23: Fumaa crescente, Serra Dourada, Gois-GO....................................................... 53

    Foto 24: Fumaa leve, Serra Dourada, Gois-GO............................................................... 53

    Foto 25: Fumaa pesada, Serra Dourada, Gois-GO........................................................... 54

    Foto 26: Vento alterando o comportamento do fogo........................................................... 57

  • 8

    Foto 27: Rebrota de gramneas ps-fogo............................................................................. 62

    Foto 28: Eroso provocada por falta de cobertura vegetal................................................... 68

    Foto 29: Tamandu-bandeira ps-fogo................................................................................ 69

    Foto 30: Emisso de gases provocada por incndio na Serra Dourada................................ 71

    Foto 31: Cinzas depositadas cobrem o solo ps- fogo......................................................... 73

    Foto 32: Rio Vermelho, Gois- GO..................................................................................... 78

    Foto 33: Rio Bagagem, Gois-GO....................................................................................... 78

    Foto 34: Desmatamento prximo a GO-164, Gois-GO..................................................... 79

    Foto 35: Fogo ultrapassando o aceiro em razo do vento. Serra Dourada........................... 81

    Foto 36: Aceiro construdo na reserva da Serra Dourada.................................................... 81

    Foto 37: Bombeiros combatendo fogo no cerrado rupestre na Serra Dourada.................... 82

    Foto 38: Fumaa das queimadas invade a cidade de Gois................................................. 83

    Imagem 1: Vegetao do cerrado com razes profundas..................................................... 16

    Imagem 2: Representao dos subsistemas do cerrado....................................................... 24

    Imagem 3: Formao Fitofisionmia do Cerrado................................................................ 32

    Imagem 4: Incndio de copa originando-se na superfcie, caudado pelo vento.................. 44

    Imagem 5: Tringulo do Fogo............................................................................................. 45

    Imagem 6: Tringulo do Incndio Florestal........................................................................ 45

    Imagem 7: Tetraedro do Fogo............................................................................................. 45

    Imagem 8: Partes do Incndio............................................................................................. 47

    Imagem 9: Influncia do vento no incndio em terreno ngreme....................................... 55

    Imagem 10: Influncia do vento no incndio...................................................................... 56

    Quadro 1: Uso e objetivo das queimadas em pastagem...................................................... 36

    Quadro 2: Uso e objetivo das queimadas para preparao do plantio................................ 37

    Quadro 3: Uso e objetivo das queimadas para colheita...................................................... 38

    Tabela 1: Perda de nutrientes para a atmosfera, durante uma queimada............................. 72

    Tabela 2: Hectares de vegetao queimados no municpio de Gois 2004-2009................ 77

    Grfico 1: Representao dos gases presentes na atmosfera............................................... 46

    Grfico 2: Temperatura superficial do solo durante queimada........................................... 61

    Grfico 3: Hectares de vegetao queimados no municpio de Gois 2004-2009.............. 78

  • 9

    SUMRIO

    RESUMO............................................................................................................................. 6

    LISTA DE ILUSTRAES.............................................................................................. 7

    CONSIDERAES INICIAIS......................................................................................... 10

    1 O CERRADO NA ANLISE GEOGRFICA............................................................. 13

    1.1 Definies e caractersticas do cerrado........................................................................... 13

    1.2 rea de abrangncia e os tipos de cerrados.................................................................... 23

    2 O FOGO NO BIOMA CERRADO................................................................................ 31

    2.1 Os incndios florestais e a prtica das queimadas.......................................................... 31

    2.2 As causas e os tipos de queimadas e incndios.............................................................. 39

    2.3 O comportamento do fogo na propagao dos incndios no cerrado............................. 45

    2.4 Os efeitos do fogo no bioma cerrado.............................................................................. 60

    2.5 As ocorrncias de queimadas e incndios no municpio de Gois................................ 75

    3 EDUCAO AMBIENTAL........................................................................................... 84

    3.1 Conceitos e Consideraes sobre Educao Ambiental................................................. 84

    3.2 Aplicao da Educao Ambiental................................................................................. 90

    CONSIDERAES FINAIS............................................................................................. 99

    REFERNCIAS.................................................................................................................. 100

    ANEXOS

    Anexo A................................................................................................................................ 106

    Anexo B................................................................................................................................ 109

    Anexo C................................................................................................................................ 111

  • 10

    CONSIDERAES INICIAIS

    A paisagem do Cerrado sofre todos os anos principalmente durante o perodo de

    estiagem, transformaes ocasionadas pela prtica das queimadas, que podem ter origem

    natural ou humana. Isso pode ser percebido no municpio de Gois, que todos os anos durante

    um perodo que geralmente vai do ms de junho a setembro sofre as conseqncias dessa

    prtica que muitas vezes, inicia-se de forma intencional e provocada pelo homem, dando

    origem a incndios em vegetao de grandes propores.

    O Cerrado entendido como um sistema. Pode-se dizer que o Cerrado um

    Sistema Biogeogrfico, que ostenta dentro de seu domnio uma srie de biomas,

    diversificados entre si pelo carter fisionmico e pela composio vegetal e animal,

    constituindo um conjunto de partes ou elementos interconectados atravs de seus subsistemas

    de modo que forma um todo organizado.

    Este trabalho resultado de pesquisa sobre os efeitos do fogo no bioma Cerrado,

    ressaltando tambm a ocorrncia de queimadas e incndios no municpio de Gois. O mesmo

    prope uma abordagem quantitativa e qualitativa em reas alvos sobre as transformaes

    ocorridas com o uso das queimadas no sistema bitico e abitico do bioma cerrado, inserido

    na paisagem natural do stio urbano da cidade de Gois. Foram utilizados procedimentos de

    pesquisa bibliogrfica e pesquisa de campo.

    Trabalhou-se com um conhecimento cientfico atravs de pesquisa bibliogrfica

    para buscar o entendimento do Bioma Cerrado. Partiu-se da compreenso da paisagem do

    cerrado e desenvolveu-se um estudo atravs de pesquisa sobre sua definio, caractersticas,

    abrangncia e tipos de cerrado, assim como, foram ressaltados os tipos de cerrado existentes

    no municio de Gois.

    Desenvolveu-se um estudo sobre o fogo no Cerrado e as possveis conseqncias

    que podem ser ocasionadas a partir do uso constante das queimadas no perodo de estiagem.

    Alm disso, apresenta-se uma proposta de Educao Ambiental, para ser utilizada em escolas

    e na sociedade em geral para que haja a conscientizao no sentido de compreender as

    conseqncias que o fogo pode causar no cerrado, bem como, incentivar a preservao deste

    bioma, utilizando tcnicas adequadas de manejo do fogo.

    Diante do exposto, a pesquisa foi direcionada por alguns questionamentos:

    Quais so as principais causas das queimadas e incndios em vegetao?

    Quais so as prticas de queimadas mais utilizadas?

  • 11

    Quais os impactos ambientais que podem ser ocasionados atravs do uso

    contnuo do fogo no cerrado?

    Quais so as principais caractersticas do cerrado?

    Quais so as principais causas das queimadas e incndios na vegetao do

    cerrado?

    Quais as conseqncias que podem ser ocasionados atravs do uso contnuo do

    fogo no cerrado?

    Quais as solues que podem ser propostas para a minimizao das queimadas

    no cerrado?

    O objetivo geral foi o de identificar o efeito das queimadas no sistema bitico e

    abitico do bioma Cerrado, analisando suas principais causas e conseqncias na

    degradao deste bioma.

    Estabeleceram-se tambm alguns objetivos especficos:

    Observar como constituda a paisagem do bioma cerrado, inclusive do

    entorno do stio urbano da cidade de Gois, fazendo um relato dos processos de

    transformaes ocorridas neste bioma durante as queimadas;

    Desenvolver aes preventivas a serem realizadas no perodo da estiagem, no

    intuito de preservar o meio ambiente, minimizando os danos e conseqentes

    prejuzos na fauna, flora, hidrografia e pedologia do sistema;

    Analisar os possveis impactos ambientais causados pelas queimadas e suas

    conseqncias na mudana da paisagem durante o perodo de estiagem;

    Apresentar sugestes para minimizar os problemas causados pelas queimadas

    no bioma cerrado atravs da Educao Ambiental nas escolas e para a sociedade

    vilaboense.

    Percebe-se que muitas pessoas no tem se preocupado com a preservao

    ambiental do bioma cerrado no qual o municpio de Gois est inserida. Isso pode ser

    observado pelo fato de muitas pessoas no terem o conhecimento necessrio sobre os

    impactos negativos que as queimadas que so comuns em pocas de estiagem em nosso

    municpio podem trazer. Muitas pessoas no tm esse conhecimento, no entanto, existem

    aquelas que o tem e mesmo assim, provocam as queimadas de forma intencional, o que

    mostra o descaso em relao preservao, por parte de alguns cidados.

    Nesse sentido, a pesquisa se justifica pela necessidade de compreender os efeitos

    provocados pelas queimadas no bioma cerrado.

  • 12

    A contribuio dada por esta pesquisa para o curso de Geografia, da Unidade

    Universitria Cora Coralina, UEG, da cidade de Gois, est em proporcionar aos acadmicos

    uma fonte de estudo e conhecimentos dos processos de transformaes do cerrado com o uso

    das queimadas, alm de saber o que pode ser feito para evitar esta prtica.

    Esta pesquisa se justifica ainda, pela importncia para o Corpo de Bombeiros

    Militar do Estado de Gois, principalmente para a 8 Companhia Independente Bombeiro

    Militar da cidade de Gois nas aes de combate incndio em vegetao em nossa regio,

    bem como, na elaborao de plano de ao para as prximas Operaes Estiagem; enquanto

    acadmico este trabalho servir como aprimoramento de toda bagagem de conhecimento

    adquirido durante o curso de Licenciatura em Geografia; como morador da cidade de Gois

    ser de grande importncia conhecer os processos de transformaes e conseqncias no

    bioma cerrado com as queimadas, pois convivo com este problema todos os anos no perodo

    de seca, alm de estar no combate direto nestes incndios em vegetaes que circundam a

    nossa cidade.

    Os resultados da pesquisa constituem esta monografia, que est organizada em

    trs captulos. Nas presentes consideraes apresentada a estruturao do trabalho

    monogrfico, bem como a problematizao que determinou o tema da referida pesquisa,

    delimitando os objetivos propostos, finalizando com a justificativa sobre a elaborao de tal

    tema junto funo acadmica perante a sociedade.

    No primeiro captulo, apresenta-se o Cerrado, na viso de alguns autores.

    Apresenta-se suas definies, caractersticas, tipos e rea de abrangncia. No segundo

    captulo faz-se uma abordagem do fogo no Bioma Cerrado, ressaltando as principais causas e

    tipos de queimadas e incndios, o comportamento do fogo, bem como seus efeitos e sua

    ocorrncia no municpio de Gois. No terceiro captulo apresenta-se propostas de se trabalhar

    a Educao Ambiental em escolas.

    Nas consideraes finais feita uma anlise reflexiva sobre a realizao da

    pesquisa, suas contribuies, assim como, perspectivas futuras de pesquisa.

  • 13

    1 O CERRADO NA ANLISE GEOGRFICA

    1.1 Definies e caractersticas do Cerrado

    importante, ao iniciar as consideraes sobre o bioma cerrado, ressaltar que

    existem vrias definies para este bioma de acordo com o estudo de vrios autores. Sobre as

    origens do Cerrado existem vrias hipteses. Alguns atribuem sua existncia s condies

    climticas da regio que ele abrange; outros indicam que a vegetao tpica do Cerrado

    condicionada pela ocorrncia do fogo, ou ainda pelo tipo de solo, que rico em alumnio.

    Contudo, a idia mais aceita diz que sua origem deve estar na unio de todos estes fatores.

    Pires, apud Rigonato (2005) afirma que o cerrado tem uma posio destacada no

    s pelas suas extensas reas como tambm pela sua heterogeneidade vegetal, em grande parte

    desconhecidas pela comunidade cientfica. A distribuio espacial da diversidade das espcies

    do Cerrado pode ser fruto de variaes climticas pretritas. No ltimo perodo glacial, teria

    ocorrido um avano do Cerrado sobre as florestas e, nesse perodo interglacial, o Cerrado teria

    se consolidado no domnio fitogeogrfico1

    e morfoclimtico2 numa rea contnua da regio

    central do territrio brasileiro (mapa 1).

    Mapa 1: Domnios morfoclimticos e fitogeogrficos do cerrado

    Fonte: www.eco.ib.usp.br/cerrado. Acesso em: 29 ago.2009

    ____________________________

    1 Domnio fitogeogrfico o tipo de vegetao de uma determinada regio (NASCIMENTO, M., 2002, p.47).

    2 Domnio morfoclimtico caracterizado pelo inter-relacionamento entre o clima, a cobertura vegetal e a

    forma de relevo. (NASCIMENTO, M., 2002, p.47)

    Escala 1:4956944

  • 14

    A palavra cerrado de acordo com Pires (1996) significa fechado ou vegetao

    densa. At o sculo passado, usava-se a expresso genrica tabuleiro, porque tabuleiro era o

    nome com que os antigos costumavam caracterizar os pontos mais ou menos elevados e de

    vastas superfcies planas do serto e na linguagem sertaneja significa cerrado. Porm, na

    segunda metade do sculo XIX a denominao tabuleiro passou a ser substituda por campo, e

    as formaes vegetais passaram a ser conhecidas como campo limpo, campo sujo, campo

    cerrado. Recentemente, convencionou-se chamar de cerrado:

    toda a vegetao caracterstica que ocorre na regio central do pas, transformando-

    se na designao mais utilizada pela comunidade cientfica. Mas ainda conhecido

    por denominaes regionais: campina ou gerais, em Minas Gerais, oeste da Bahia, e

    leste de Gois; chapada no Mato Grosso, Maranho e Piau, com tipos especiais de

    menor rea que recebem nomes como costaneira, morraria, carrasco, ou carrasco

    espinheiro, ao sul de Loreto, Maranho. (EITEN, apud PIRES, 1996, p. 49).

    Segundo Alho e Martins apud Nascimento, M. (2002, p. 50) O cerrado um

    mosaico de diferentes tipos de vegetao, reflexo de sua heterogeneidade espacial

    resultante da diversidade de climas, solos e topografia existente nessa extensa regio.

    Ainda de acordo com esses autores:

    Os eclogos tm em mente dois conceitos de cerrado: um fisionmico e outro

    florstico. Em termos fisionmicos, o cerrado uma savana tropical, ou seja, um

    bioma em que rvores e arbustos coexistem com uma vegetao rasteira formada

    principalmente por gramneas. As rvores e arbustos distribuem-se esparsamente

    pela vegetao rasteira, e raramente formam uma cobertura arbrea continua. Em

    termos florsticos, o cerrado possui uma flora especfica que o distingue de outros

    biomas brasileiros, como Floresta Amaznica, a Mata Atlntica ou a Caatinga.

    (ALHO; MARTINS apud NASCIMENTO, M., 2002, p.48)

    Christofoletti apud Nascimento, M. (2002) preocupado com a definio de

    cerrado como savana considera a savana africana como um tipo vegetacional antrpico,

    enquanto no Brasil esse tipo de vegetao mais condicionado pelos fatores climticos e

    edficos, ou seja, que resulta de fatores inerentes ao solo, ou por eles influenciado, do que

    pelas causas antrpicas, adotando o termo cerrado para vegetao brasileira.

    Dambris; Dias; Fonzar apud Nascimento, M. (2002), buscando a origem da

    palavra savana, lembram que o conceito de Savana muito antigo e originrio da Venezuela.

    No sculo XV foi levado para a frica pelos naturalistas espanhis e a conceituado como

    lhano: formao herbcea graminosa contnua, e, geral coberta de plantas lenhosas.

    Eiten apud Nascimento, M. (2002) esclarece que na frica a savana no uma

    categoria fisionmica, mas um tipo de vegetao de grande escala, determinado pelo clima,

  • 15

    pelos solos e pela composio de espcies. Possui as mesmas caractersticas dos outros tipos

    de vegetao do continente: floresta tropical e subtropical sempre verde, deserta e com

    vegetao mediterrnea. Vegetaes includas nesse conceito amplo de savana abrangem

    todas as possveis fisionomias, de floresta fechada (de espcies de savana) at campo limpo.

    Se savana fosse usada no Brasil com o sentido que tem na frica, incluiria todas

    as formas de cerrado, todos os tipos de mata seca, os campos midos, todas as formas de

    caatinga do Nordeste e vrias outras vegetaes de menos escala e, assim, a palavra no teria

    utilidade nenhuma. Esse uso mltiplo do termo savana na literatura geobotnica provoca

    muita confuso.

    Atravs de estudos realizados por engenheiros florestais atravs de mapeamento

    de vegetao por meio de imagens de radar e nos sistemas de classificao fitogeogrfica

    adotados para as fisionomias intertropicais da Amrica, frica e sia, elaborou-se o

    documento: Fitogeografia Brasileira Classificao Fisionmicas-Ecologica da Vegetao

    Neotropical. Esse estudo possibilitou uma fitogeografia em nvel de formao bem mais

    apurada da savana brasileira. Assim, utilizam o termo savana e a definem como uma

    vegetao xeromrfica com fisionomias diversas, de arbrea densa, com porte quase florestal,

    a gramneo-lenhosa, fisionomia essencialmente campestre (DAMBRIS; DIAS; FONZAR

    apud NASCIMENTO, M., 2002, p.49).

    Muito se tem cogitado sobre a origem do cerrado. Sua vegetao, por apresentar

    caractersticas de vegetao xeromorfa, no incio do sculo fez com que cientistas

    acreditassem que sua gnese fosse determinada pela estacionalidade climtica, motivada pela

    longa estao seca. Entretanto, estudos desenvolvidos j na dcada de 1940 comprovaram

    abundncia de gua disponvel no subsolo, poucos metros abaixo da superfcie, mesmo na

    estao seca (MONTOVANI; PEREIRA apud NASCIMENTO, I., 2001). Estudos posteriores

    demonstram que, em virtude do lento processo de percolao3 nos solos do cerrado, seus

    lenis freticos adquirem sua mxima carga justamente quando no mximo da seca em

    superfcie, o que d regio reservas de gua (superfcies e subsolo) durante os 365 dias do

    ano.

    ____________________________

    3 Percolao movimento de penetrao de gua no solo e subsolo. Este movimento geralmente lento e vai dar

    origem ao lenol fretico. (GUERRA, Antnio Teixeira. Dicionrio Geolgico-Geomorfolgico. 7 ed. Rio de

    Janeiro - RJ: IBGE, 1987. p. 322)

  • 16

    Grande parte das espcies vegetais do cerrado possuem razes pivotantes tambm

    chamado de razes axiais. Elas formam na planta uma raiz principal, geralmente maior que as

    demais e que penetra verticalmente no solo; da raiz principal partem razes laterais, que

    tambm se ramificam, por essa razo as rvores e arbustos conseguem aproveitar a gua que

    se acumula sob o solo, nos lenis freticos, graas aos seus sistemas radiculares bastante

    desenvolvidos, chegando a doze metros de profundidade conseguindo assim se frutificar no

    perodo das secas (imagem 1).

    Imagem 1: Vegetao do cerrado com razes profundas

    Fonte: www.scielo.br/img/fbpe/rbf/v24n1/9903f1.gif. Acesso em: 30 ago. 2009.

    Os cerrados so a savana que tem a maior disponibilidade de recursos hdricos do

    planeta. Sua extensa e recortada rede fluvial que em quase sua totalidade perene, contribui

    de maneira significativa para estabilidade cclica hidrolgica de importantes bacias brasileiras,

    como a Amaznica, a do Prata e a de So Francisco (mapa 2).

    Mapa 2: Bacias Hidrogrficas do Brasil

    Fonte: acaradobrasil.vilabol.uol.com.br/zuz/hidrografia. Acesso em: 30 ago. 2009

    Escala 1:5067933

  • 17

    Ainda no que se refere hidrografia do cerrado, Barbosa apud Moyss e Silva

    (2007, p. 02) salientam que:

    O cerrado a cumeeira da Amrica do Sul, distribuindo guas para as grandes

    bacias hidrogrficas do continente. Isto ocorre porque na rea de abrangncia do

    Cerrado se situam trs grandes aqferos, responsveis pela formao e alimentao

    dos grandes rios do continente: o aqfero Guarani, associado ao arenito Botucatu e

    a outras formaes arenticas, mais antigas responsveis pelas guas que alimentam

    a bacia do Paran. Os aqferos Bambu e Urucuia.[...] so responsveis pela

    formao e alimentao dos rios que integram as bacias do So Francisco,

    Tocantins, Araguaia e outras, situadas na abrangncia do Cerrado. Estes aqferos,

    que vem se formando durante milhes de anos, de pouco tempo para c no esto

    sendo recarregados como deveriam, para sustentar os mananciais. Isto ocorre porque

    a recarga dos aqferos se d pela suas bordas nas reas planas, onde a gua pluvial

    infiltra e absorvida cerca de 60% pelo sistema radicular da vegetao nativa,

    alimentado no primeiro momento o lenol fretico e lentamente vai abastecendo e se

    armazenando nos lenis mais subterrneos. Com a ocupao dos chapades de

    forma intensa, que trouxe como conseqncia a retirada da cobertura vegetal, sua

    substituio por vegetaes temporrias de raiz subsuperficial, a gua da chuva

    precipita, porm no infiltra o suficiente para reabastecer os aqferos.

    Conseqncia, com o passar dos tempos, estes vo diminuindo de nvel,

    provocando, num primeiro momento, a migrao das nascentes, das partes mais

    altas, para as mais baixas e diminuio do volume das guas, at chegar o ponto do

    desaparecimento total do curso dgua. Convm ressaltar que este um processo irreversvel.

    O cerrado como j foi dito a cumeeira da Amrica do Sul, distribuindo gua

    atravs das nascentes, gerando crregos, riachos e rios que vai drenando por todo o seu trajeto

    para as bacias hidrogrficas de sua abrangncia (foto 1).

    Foto 1: Rio Raizama, Chapada dos Veadeiros Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2008)

    Vale ressaltar tambm que o Cerrado devido a sua vasta extenso territorial,

    posio geogrfica, heterogeneidade vegetal, e por ser cortado pelas trs maiores bacias

    hidrogrficas da Amrica do Sul, destaca-se por sua biodiversidade.

  • 18

    No que se refere biodiversidade, isto , variedades ecossistmicas, genticas e

    de espcies:

    O Cerrado tem uma posio destacada no s pelas suas extensas reas como

    tambm pela heterogeneidade vegetal, em grande parte desconhecida. Estima-se que

    seja responsvel por 5% da biodiversidade mundial. Por exemplo, no caso de

    microorganismos, somente no Distrito Federal so catalogados 419 espcies de

    fungos. No caso da flora, o Cerrado considerado a mais rica dentre as savanas do

    mundo. possvel que sua flora alcance entre 4 mil e 10 mil espcies de plantas

    vasculares, nmero superior em grande parte s outras floras. Da mesma forma, h

    uma enorme variedade de fauna (KLINK, apud PIRES, 1996, p. 52).

    Incluindo os exemplos de fauna e flora citados acima, estima-se que o Cerrado

    possui 10 mil espcies de plantas, onde 4.400 so endmicas (que s existem neste Bioma). A

    fauna constituda por 837 espcies de aves (29 so endmicas), 194 espcies de mamferos

    (19 endmicos), 185 rpteis (24 endmicos) e 150 anfbios (45 endmicos). Estudos apontam

    que o Cerrado abranja 14.425 espcies de invertebrados. Rigonato (2005) salienta que

    estimativas apontam que no Cerrado, existem cerca de seis mil espcies de rvores muito

    utilizadas na produo de artesanato, uso medicinal e alimentcio, alm de outros. Calcula-se

    que mais de 40% das espcies de plantas lenhosas e metade das abelhas deste bioma sejam

    endmicas. De gramneas existem mais de cinco centenas, sendo a grande maioria endmica

    da regio.

    Como os nmeros indicam o Cerrado possui rica biodiversidade. Observa-se que,

    entre as diferentes espcies, muitas so endmicas. Porm, esse bioma, sua fauna, sua flora,

    seu relevo, suas bacias hidrogrficas, suas fitofisionomias, etc., vm sendo destrudos pela

    ocupao humana em um curto espao de tempo.

    De acordo com Rigonato (2005), o Cerrado fisionomicamente, se caracteriza pela

    existncia de um extrato herbceo formado basicamente por gramneas e um estrato

    arbreo/arbustivo de carter lenhoso. H tambm a predominncia de um ou de outro estrato

    arbustivo, herbceo e arbreo. De acordo com ele, Estas metamorfoses ou alternncias do

    bioma Cerrado ocorrem devido relao intrnseca com o nvel do lenol fretico, da

    fertilidade e da composio do solo, da geomorfologia do relevo (RIGONATO, 2005, p. 69).

    Alm disso, tambm importante levar em considerao o papel da ao dos seres humanos

    nas alteraes e composio deste bioma.

    O Cerrado de acordo com Gomes (2008) possui caractersticas de ambientes

    ridos:

    - Estrutura radicular espessa, s vezes com mais de 20 metros de profundidade;

  • 19

    - Plantas que possuem a maior parte de sua biomassa subterrnea, a ponto de ser

    chamado de floresta de cabea pra baixo;

    - Plantas com mecanismos de controle de reteno e perda de gua pelas folhas

    evaporao e evapotranspirao;

    - Plantas que dispem de xilopdios, rgos subterrneos protetores contra o

    fogo condicionante vital de sua existncia;

    - Solos em sua maioria cidos e dotados de baixos nveis de macro e

    micronutrientes, alm de elevada concentrao de alumnio, elemento txico que impede a

    absoro de nutrientes pelas plantas;

    - gua em boa disponibilidade no subsolo;

    - Plantas com caules retorcidos, casca grossa, com folhas largas, espessas pilosas,

    submetidas a prolongada estao seca ( foto 2).

    Foto 2: rvore tpica do cerrado com troncos retorcidos, casca grossa

    Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2008)

    A vegetao dos cerrados deve ser caracterizada em relao ao solo e no ao

    clima ou temperatura. As primeiras teorias sobre a origem desse tipo de vegetao

    sustentaram por quase meio sculo a Teoria Climtica, que dizia que as principais

    caractersticas do cerrado como, por exemplo, cascas grossas e troncos retorcidos deviam-se

    estacionalidade do clima, ou seja, a estiagem prolongada garantia caractersticas xerfitas4 s

    plantas. No entanto, foram desenvolvidos estudos que revelaram que essas teorias estavam

    equivocadas.

    ____________________________

    4 Xerfita Chama-se xeromorfas ou xerfitas as plantas que vivem em regies com pouca gua. uma planta

    adaptada ao clima seco. Estas adaptaes so: caules carnudos para armazenar gua, folhas menores e mais

    coureceas (rgidas), s vezes cobertas por uma camada de cera para diminuir a evaporao, e folhas reduzidas a

    espinhos, alm de razes longas. Disponvel em: www.babylon.com/definition/Xerfita

  • 20

    Nesse sentido, Chaves, apud Mendona e Souza, 2001, p. 16 salientam que:

    Praticamente em duas dcadas de estudos, em reas de cerrado em todas as regies

    do Brasil, os cientistas chegaram concluso de que as caractersticas qumicas e

    fsicas do solo so os fatores determinantes para explicar a origem e permanncia do

    cerrado no territrio brasileiro. Os solos antigos, muito profundos e intensamente

    lixiviados, determinam uma escassez de clcio, fsforo, nitrognio, etc. A presena

    acentuada de alumnio contribui para deficincia nutricional das plantas, causando

    Oligotrofismo Distrfico5.

    De acordo com Dias, apud Pires (1996) os solos do Cerrado so antigos,

    profundos, com pouca inclinao e predominncia do Latossolo Vermelho-Amarelo, do

    Latossolo Vermelho Escuro, e da Areia Quartisoza. Isso significa que grande parte rica em

    argila e xido de ferro, de cor avermelhada. Segundo os estudiosos, aproximadamente 90%

    dos solos so distrficos, ou seja, cidos com baixa fertilidade (baixa concentrao de matria

    orgnica e de macro-nutrientes como clcio, magnsio, fsforo e potssio) e alta

    concentrao de alumnio e ferro. A pouca fertilidade agravada pelas chuvas fortes e

    concentradas que carreiam o clcio para as profundidades do solo, diminuindo a oferta dos

    macro-nutrientes s plantaes. Alm disso, a alta concentrao de alumnio pode inibir a

    absoro de nutrientes pelas razes, ou mesmo causar toxidez s plantas (CASTILHO;

    CHAVEIRO, 2007).

    Os solos do Cerrado eram considerados improdutivos at os anos sessenta e eram

    sinnimos de terra arrasada, que no valiam qualquer investimento. Da mesma maneira,

    recebiam os adjetivos de raquticos, venenosos, etc. Contudo, essas vises foram sendo

    modificadas proporo que se ampliava o nmero de pesquisas agronmicas que indicavam

    as potencialidades das reas, com o devido emprego de tecnologias apropriadas.

    Quanto s caractersticas qumicas, os solos so bastante cidos, com PH que pode

    variar de menos de 4 a pouco mais de 5, caracterizando estes solos profundamente distrficos

    e, por isto, imprprios para a agricultura. A correo do PH pela calagem (aplicao de

    calcrio, de preferncia o calcrio dolomtico, que um carbonato de clcio e magnsio) e

    adubao, tanto com macro quanto com micronutrientes, podem torn-los frteis e produtivos,

    seja para a cultura de gros ou de frutferas.

    ____________________________

    5 Oligotrofismo Distrfico - Associa a baixa fertilidade dos solos e o excesso de alumnio s suas caractersticas

    de nanismo e tortuosidade. (MENDONA; SOUZA, 2001, p.16)

  • 21

    Segundo Castilho e Chaveiro (2007), em parte dos Cerrados, o solo pode

    apresentar concrees ferruginosas - canga - formando couraas, carapaas ou bancadas

    laterticas, que dificultam a penetrao da gua de chuva ou das razes, podendo s vezes

    impedir ou dificultar o desenvolvimento de uma vegetao mais exuberante e a prpria

    agricultura. Quando tais couraas so espessas e contnuas, vamos encontrar sobre estas

    superfcies formas mais pobre e mais aberta de Cerrado.

    Quando pastagens nativas de cerrado so sobrepastejadas - retirada de parte da

    vegetao para formao de pastos para pecuria extensiva, o solo fica muito exposto e

    facilmente erodido. Devido s suas caractersticas texturais e estruturais ele tambm

    freqentemente sujeito formao de enormes voorocas (foto 3).

    Foto 3: Vooroca causada pelo desmatamento, Caipnia-GO.

    Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2006)

    Segundo Guerra (1987, p. 437), Voorocas so escavaes ou rasgo do solo ou

    de rocha decomposta, ocasionado pela eroso do lenol de escoamento superficial.

    As voorocas podem ser geradas e/ou alimentadas pelo escoamento superficial e

    subterrneo, desenvolvendo sobre material inconsolidado. Caracterizam-se por ser fendas de

    grande porte nas vertentes do relevo, que evoluem lateralmente e a montante da vertente, com

    fluxo de gua intermitente (LATRUBESSE;CARVALHO,2006,p.82).

    Existem caractersticas de solo que no podem ser ignoradas, ou mesmo

    desconsideradas, quando se quer fazer uso de uma rea de terra, sob pena de se estar levando

    esse pedao de solo degradao total em um curto espao de tempo. Para isso existem

    maneiras dessas terras desgastadas pela mo do homem serem recuperadas, atravs dos

    plantios de rvores de crescimento rpido que so capazes de adubar o solo com matria

  • 22

    orgnica, como camada de hmus6 e nitrognio evitando assim que a eroso aumente

    formando grandes voorocas.

    Gomes (2008) salienta que o cerrado uma estrutura fsica geolgico-

    geomorfolgico, pedolgico-edafolgica, climtica e hdrica que ocupa principalmente as

    terras do Planalto Central brasileiro. Por sua centralidade, trata-se de um bioma ectone, isto

    , de transio para os outros biomas nacionais (mapa 3).

    Mapa 3: Biomas do Brasil

    Fonte: www.wwf.org.br. Acesso em: 05 set. 2009.

    Da a sua importncia fito e zoogeogrfica como corredor natural de migrao,

    polinizao e reproduo de espcies biticas.

    ____________________________ 6

    Hmus- produto da decomposio parcial de restos vegetais ou animais, que se acumulam no cho florestal,

    onde enriquece o solo. (FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Miniaurlio Sculo XXI Escolar: o

    minidicionrio da lngua portuguesa. 4. ed. rev. amp. Rio de Janeiro-RJ: Nova Fronteira, 2001.p.369)

    Escala 1:7978694

  • 23

    1.2 rea de abrangncia e os tipos de cerrados

    O Cerrado, em extenso, o segundo maior bioma do Brasil, sendo o primeiro a

    Floresta Amaznica. A rea original era de 2 milhes de quilmetros quadrados, ou seja, 22%

    do territrio nacional. Como mostra a figura abaixo, abrange grande rea da regio Centro-

    Oeste brasileira como tambm partes do Norte, Nordeste e Sudeste. H tambm uma pequena

    rea na regio Sul, no estado do Paran.

    Mapa 4: rea de abrangncia do Cerrado

    Fonte: www.wwf.org.br. Acesso em: 05 set. 2009.

    O cerrado para se ter idia equivale a nada menos do que trs Franas, seis Itlias,

    ou 40 Holandas. Dentro desse enorme espao brasileiro caberiam, juntas, a Alemanha, a

    ustria, a Blgica, a Espanha, a Frana, a Holanda, a Itlia, a Sua e Portugal. Tal dimenso

    subcontinental j constitui, por si s, razo suficiente para reconhecermos a importncia dos

    cerrados como um dos principais biomas brasileiros. Aliem-se a isto a enorme diversidade

    biolgica, o potencial em plantas e espcies frutferas (COUTINHO, 1990).

    O sistema biogeogrfico do cerrado no pode ser tomado como uma unidade

    homognea. Ele ostenta dentro do seu domnio uma srie de biomas, diversificado entre si

    pelo carter fisionmico e pela composio vegetal e animal. Estes biomas constituem os seus

    subsistemas. Sua compreenso pr-requisito para entender o sistema como um todo, a

    diversidade dos recursos que oferece, permitindo reunir elementos que possam ser utilizados

    para explicar a ocupao por populaes humanas. Este sistema biogeogrfico de acordo com

    Escala 1:5267533

  • 24

    Castilho e Chaveiro (2007) compe-se dos seguintes subsistemas: campos limpos, campos

    sujos, cerrados stricto sensu, cerrades, matas secas, matas midas (de galeria e ciliares),

    veredas e cerrados rupestres (imagem 2). Mas h tambm, neste Domnio, outras formaes,

    como as florestas, as quais constituem ecossistemas de outros biomas.

    Imagem 2: Representao dos Subsistemas do Cerrado

    Fonte: www.agencia.cnptia.embrapa.br. Acesso em: 07 set.2009

    - Os campos limpos (foto 4), como o prprio nome indica, so constitudos

    principalmente por gramneas (popularmente conhecidos como capim, grama, etc). Tais

    campos so encontrados nas encostas, nas reas de chapadas e nas proximidades das

    nascentes de gua, circundando as bordas das matas de galeria. O Campo Limpo corresponde

    vegetao baixa, sem rvores ou com raras arvoretas, muito afastadas entre si (RIGONATO,

    2005).

    Um local no Estado de Gois, que existe esse tipo de vegetao o Parque das

    Emas. Esse ambiente especfico para uma fauna que necessita se deslocar constantemente,

    como a Ema, a Ona Pintada, o Tamandu Bandeira, o Lobo Guar, a Seriema entre outros.

    Na estao seca ocorrem queimadas naturais. Este fator contribui para que as gramneas no

    monopolizem o ambiente, dando lugar a outras plantas de pequeno porte, como as ervas

    rasteiras. Essas plantas possibilitam a sobrevivncia dos animais citados acima e de diversas

    aves.

  • 25

    Foto 4: Campo Limpo

    Fonte: eco.ib.usp.br/cerrado. Acesso em: 07 set. 2009

    - O campo sujo (foto 5), tambm conhecido por Cerrado Ralo, refere-se

    imbricao de campos com diversas plantas herbceas. Os arbustos so pouco expressivos. A

    fauna dos campos limpos tambm habita os campos sujos.

    Foto 5: Campo Sujo na Chapada dos Veadeiros

    Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2008)

    - O Cerrado Stricto Sensu (sentido estrito), refere-se vegetao mais

    representativa deste bioma. Isto porque a mais peculiar deste Domnio. Apresenta-se como

    um subtipo de vegetao predominantemente arbreo-arbustivo, com cobertura de 20% a

    50%. H nesta fisionomia uma variedade de arbustos, subarbustos e gramneas, sendo que a

    estao seca a mais propcia a ocorrncias das queimadas como se registra freqentemente.

    As espcies vegetais so em maioria arbustivas (rvores de pequeno porte, 3 a 8 m de altura),

    com troncos tortuosos (devido a acidez do solo), cascas grossas e folhas largas e grossas.

  • 26

    A ocorrncia dos arbustos no densa como nas matas. As gramneas (tpicas dos

    campos limpos) tambm existem no cerrado stricto sensu (foto 6). Por condio de adaptao,

    as razes dos arbustos so profundas, alcanando at 18 metros de profundidade. Isto, pois os

    lenis freticos (guas subterrneas) que garantem vida a essa vegetao so encontrados

    bem abaixo da superfcie.

    Segundo Rigonato (2005) das espcies que compe o Cerrado Stricto Sensu

    podemos citar algumas de poder medicinal, como por exemplo: algodozinho, assa-peixe, pau

    santo, barbatimo, entre outras. As espcies de plantas que servem de alimentos no Cerrado

    Stricto Sensu so: baru, caju, curriola, ing, mangaba, murici, entre outras.

    Na cidade de Gois podemos identificar no loteamento Jardim das Accias

    prximo a rodovia GO-070 sada para Goinia, uma vegetao de Cerrado com caractersticas

    de Cerrado Stricto Sensu (foto 7).

    Foto 6: Cerrado Stricto Sensu Foto 7: Cerrado Stricto Sensu, Bairro Jd. das Accias

    Fonte: eco.ib.usp.br/cerrado. Acesso em 07 set. 2009. Gois-GO.

    Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2008)

    - O Cerrado (foto 8), de acordo com Rigonato (2005) refere-se a uma vegetao

    de transio entre a mata seca e o cerrado stricto sensu. uma vegetao de carter florestal,

    com rvores mais desenvolvidas que as dos demais tipos fitofisionmicos. Possui rvores

    frondosas (que tem muitas folhas e muitos ramos), mas tambm espcies tortuosas, tpicas do

    cerrado stricto sensu. O cerrado encontra-se nos chapades ou nas encostas midas. Esta

    fitofisionomia caracteriza-se pela presena de rvores que cobrem mais de 50% da superfcie

    do solo e podem chegar at 15 metros de altura. So exemplos que compem o Cerrado,

    rvores altas como o jatob, a pimenta de macaco, a sucupira branca e a preta, o baru, o

    marmelo e o pequizeiro. Entre as espcies identificadas no Cerrado, verifica-se que algumas

    so empregadas contra doenas comuns no sexo feminino, contra a lcera e para fazer sabo.

  • 27

    Na Cidade de Gois tambm podemos identificar a vegetao do Cerrado com

    caractersticas de Cerrado (foto 9) prximo as margens da rodovia GO-164 junto ao viaduto.

    Foto 8: Cerrado Foto 9: Cerrado prximo ao viaduto da rod. GO 164

    Fonte: eco.ib.usp.br/cerrado. Acesso em: 07 set. 2009 Gois-GO Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2009)

    - O Cerrado Rupestre (foto 10) refere-se a formao onde h vegetao em

    ambientes litlicos ou rochosos, principalmente nas Serras. Podemos citar algumas espcies

    tpicas, como o Papiro (rvore do papel foto 11), o caju (cajuzinho da serra), o murici, a

    mangaba, bromlias, liquens (juno de fungos e algas que contribuem com a decomposio

    das rochas), etc. O Cerrado Rupestre possui cobertura arbrea varivel de 5% a 20%, com

    altura mdia de dois a quatro metros, e camada arbustivo-herbcea destacada. Pode ocorrer

    em trechos contnuos, mas geralmente aparece em mosaicos, includo em outros tipos de

    vegetao.

    Segundo Sano e Almeida, apud Rigonato (2005, p. 71) Essa formao

    caracteriza-se pela ocorrncia em altitudes elevadas acima de 900 metros, em solo raso e pela

    presena de indivduos arbreos encontrados nas fendas e entre os afloramentos rochosos.

    No Cerrado Rupestre as rvores concentram-se nas fendas entre as rochas, e a densidade

    arbrea varivel e dependente do volume de solo.

  • 28

    Foto 10: Cerrado rupestre na Chapada dos Veadeiros Foto 11: rvore papiro na Serra Dourada

    Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2008) Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2007)

    Como j foi ressaltada, a vegetao do municpio de Gois apresenta exemplos de

    vegetao de transio entre Cerrado stricto sensu, Cerrado e Cerrado Rupestre. Na Serra

    Dourada (foto 12) e nos morros do entorno do stio urbano da cidade de Gois encontram-se

    exemplos de Cerrado Rupestre. Essa fisionomia bem representativa nesses locais porque

    apresentam altitudes elevadas com terrenos bem drenados e presena de inmeros

    afloramentos rochosos de quartzitos. Podemos identificar tambm, um subtipo de vegetao

    arbreo-arbustiva que ocorre em ambientes rupestres (Litlicos ou rochosos).

    Foto 12: Cerrado Rupestre na Serra Dourada

    Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2007)

    - As veredas (foto 13) so tambm chamadas de vrzeas. So de extrema

    importncia no conjunto de drenagem do Bioma Cerrado e de outros Biomas, pois se

    constituem nas principais nascentes de muitas bacias hidrogrficas. A sua vegetao

    formada basicamente pelo Buriti e por espcies de matas e de campo. So circundadas por

    campos limpos e campos sujos. Por isso so de extrema exuberncia, compondo paisagens

  • 29

    povoadas de pssaros e gerando contornos belos em seu desenho natural. Povos tradicionais

    do Cerrado afirmam que o Buriti um timo indicador de gua no solo. Essa formao do

    cerrado inspirou o Escritor mineiro Guimares Rosa a escrever o livro Grande Sertes

    Veredas, que se tornou um clssico da literatura brasileira.

    Foto 13: Veredas as margens da Rod. GO-070 (sada para Jussara-GO)

    Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2009)

    - As matas secas so mais afastadas dos cursos dguas (crregos e rios), por isso

    so tambm conhecidas como matas de interflvios. H uma alta quantidade de rvores

    frondosas, como o ip (foto 14), a aroeira, o pau-d'leo, etc. Por condies de adaptao,

    durante a estao seca, boa parte das rvores perde as folhas. Isso ocorre pela diminuio da

    disponibilidade de gua. As rvores que passam por esse fenmeno so chamadas de

    semidecduas.

    Foto 14: Ip amarelo mata seca. Fazenda Quilombo Bom Sucesso, Gois-GO.

    Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2008)

  • 30

    - As Matas midas, tambm conhecidas como matas de galerias (foto 15), so

    aquelas que acompanham os cursos dgua. As rvores atingem at 30 metros de altura, por

    isso formam galerias. As de menor porte, que no formam galerias so chamadas de matas

    Ciliares (foto 16) (parecido com os clios de nossos olhos quando abertos), isso, pelo fato das

    copas das rvores de um lado do rio ou crrego no tocarem nas do outro lado. A vegetao

    das matas midas frondosa de troncos lisos e folhas pequenas, e, diferente das matas secas,

    durante todo o ano mantm sua folhagem verde. Dentre exemplos podemos citar o jatob, o

    jequitib e o tamboril.

    Foto 15: Mata de Galeria. Crr. Bacalhau, Gois-GO Foto 16: Mata Ciliar. Rio Paraso, Caiapnia-GO

    Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2008) Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2006)

  • 31

    2 O FOGO NO BIOMA CERRADO

    2.1 Os incndios florestais e a prtica das queimadas

    O homem e os incndios sempre tiveram uma estreita relao, primeiro porque

    aquele o principal responsvel pelas suas ocorrncias e, segundo, porque o fogo teve uma

    atuao efetiva na sua evoluo. O fogo foi a primeira fonte de energia natural dominada e

    utilizada para diversos fins, como em rituais religiosos, na guerra, na comunicao, na caa,

    no preparo do terreno para as plantaes e no preparo dos alimentos.

    Ao longo de sua histria, o homem sempre conviveu com o fogo. Seja como

    modificador do meio em que vive ou como elemento mstico, o fogo sempre foi temido e

    respeitado ao longo da evoluo humana, da mesma forma como ocorre nos dias atuais. O

    fogo tambm foi um dos primeiros elementos a causar a destruio daquilo que o homem

    produzia.

    Toda e qualquer destruio causada pelo fogo, que se processa fora do desejo e do

    controle do humano, com prejuzos considerveis e no previstos, tem a denominao de

    incndio. Assim, a queima de um palito de fsforo, usado para acender um cigarro, no

    poder ser considerado um incndio, uma vez que ele produzido para esse fim. Do mesmo

    modo, o fogo que alimenta um alto forno de uma siderrgica, embora consuma milhes em

    combustvel, no poder ser considerado como incndio, pois o mesmo est sob controle.

    Ao contrrio, o fogo que lavra em um prdio, por exemplo, causando danos

    materiais, fsicos e morais ao homem, tem que ser considerado como um incndio. Assim

    sendo, podemos definir incndio como toda e qualquer destruio ocasionada pelo fogo, de

    bens materiais, mveis e imveis, alm de danos fsicos ou morais aos seres humanos.

    Em relao aos incndios florestais, podemos defini-los como uma combusto6

    sem controle que se propaga livremente consumindo os combustveis naturais de uma floresta

    ou vegetao, tendo como principal caracterstica o fato de propagar-se livremente,

    respondendo apenas s variaes do ambiente e influncias derivadas dos combustveis

    naturais, clima e topografia.

    ____________________________

    6Combusto- uma reao qumica de oxidao com desprendimento de luz e calor. Disponvel em:

    http://www.cimi.com.br/Site/conceitos/Combustao

  • 32

    Fonseca e Ribeiro apud Parizotto (2006) definem incndios florestais como a

    ocorrncia de fogo em qualquer forma vegetativa, cujas causas vo de naturais a criminosas,

    podendo tambm estar associadas forma acidental e, portanto, inesperada pelo proprietrio

    ou responsvel pela rea atingida.

    Ao se falar de incndio florestal j imaginamos incndios em grandes florestas

    como a Amaznia, mas ele pode ocorrer em qualquer forma vegetativa, inclusive no Cerrado,

    que como j foi falado no captulo anterior dividido em vrios subsistemas e classificado de

    acordo com suas formaes: formaes florestais, formaes savnicas e formaes

    campestres. Nas formaes florestais esto includos as matas de galerias, ciliares e secas e o

    cerrado (imagem 3).

    importante falar sobre incndios florestais no Cerrado, principalmente quando o

    fogo sai do seu controle e transforma-se em grandes incndios.

    Imagem 3: Formao Fitofisionmia do Cerrado

    Fonte: www.agencia.cnptia.embrapa.br. Acesso em: 01 out. 2009.

    Os incndios florestais representam uma grande preocupao, pois se de um lado

    o fogo desempenha um importante papel na manuteno de alguns ecossistemas naturais e

    artificiais a sua ocorrncia de forma descontrolada pode representar uma fonte de perturbao

    permanente, acarretando perdas e danos materiais (NUNES, apud PARIZOTTO, 2006).

    J as queimadas, de acordo com Silva (1998), representam a aplicao controlada

    de fogo na vegetao natural ou plantada sob determinadas condies ambientais que

    permitam ao fogo manter-se confinado em uma determinada rea e ao mesmo tempo produzir

  • 33

    uma intensidade de calor e velocidade de espalhamento desejveis aos objetivos de manejo.

    Quando essa queimada torna-se incontrolvel j caracterizada como incndio.

    A prtica das queimadas no um processo recente, o homem a usa como

    ferramenta necessria para realizar seu trabalho desde a antiguidade e antes os incndios no

    Cerrado j ocorriam em conseqncia dos raios, sendo esta uma das formas naturais de

    incndios.

    Incndios em vegetao sempre existiram na face da Terra. H indcios de que

    ocorreram naturalmente, atingindo extensas florestas, na era paleozica, h milhes

    de anos. No Pleistoceno, h cerca de 500 mil anos, o Homo erectus j sabia usar e

    controlar o fogo. O homem neoltico da Europa boreal se servia dele para abrir

    clareias nas florestas de pinheiros (COUTINHO, 1990, p. 26).

    A prtica de utilizar o fogo para limpeza de reas florestais sempre foi a principal

    ferramenta do homem, no entanto, essa prtica muitas vezes foge do seu controle causando

    grandes incndios florestais.

    A queima de vegetao uma prtica que ocorre desde os tempos da Idade

    Mdia e considerada a causadora de perdas e prejuzos difceis de serem calculados. Solo

    queimado o comeo do deserto (VICTORINO, 2000, p.93).

    Quando se trata de utilizao das queimadas, o Brasil o pas que mais faz uso

    desse recurso, apropriando-se do fogo para diversos fins (KIRCHHOFF, 1992).

    De acordo com (VICTORINO, 2000, p.93) No Brasil, os jesutas j eram contra

    as queimadas e ensinavam aos colonos e aos ndios, alternativas de manejo do campo e do

    solo.

    A queimada uma prtica antiga (nossos ndios j a exerciam) feita com a finalidade

    de recuperar a terra principalmente as pastagens. O solo brasileiro, como a maioria

    dos solos tropicais, predominante cido. A acidez natural tende a aumentar com o

    uso indevido do solo sem a devida reposio do que lhe retirado para contornar a

    situao que sobre ele se encontra (DIRANI, apud MENDONA; SOUZA, 2001, p.

    33).

    Segundo Silva apud Mendona e Souza (2001) a utilizao do fogo como prtica

    de preparo do solo se d desde a agricultura nmade dos indgenas, sendo depois incorporada

    pelos colonizadores e atualmente pelos pequenos e grandes proprietrios de terra,

    constituindo-se na forma mais fcil e barata de limpeza do solo.

    No Brasil os rgos licenciadores permitem a prtica das queimadas desde que ela

    seja realizada de forma adequada e segura em espao que no comprometa reas de interesse

    ambiental. Segundo o decreto 2.661, de 8 de julho de 1998:

  • 34

    Art. 2 - permitido o emprego do fogo em prticas agro-pastoris e florestais,

    mediante Queima Controlada.

    Pargrafo nico. Considera-se Queima Controlada o emprego do fogo como fator de

    produo e manejo em atividades agropastoris ou florestais, e para fins de pesquisa

    cientfica e tecnolgica, em reas com limites fsicos previamente definidos.

    Art. 3 - O emprego do fogo mediante Queima Controlada depende de prvia

    autorizao, a ser obtida pelo interessado junto ao rgo do Sistema Nacional do

    Meio ambiente - SISNAMA, com atuao na rea onde se realizar a operao.[...]

    Art. 4 - Previamente operao de emprego do fogo, o interessado na obteno de

    autorizao para Queima Controlada dever:

    I - definir as tcnicas, os equipamentos e a mo-de-obra a serem utilizados;

    II - fazer o reconhecimento da rea e avaliar o material a ser queimado;

    III - promover o enleiramento dos resduos de vegetao, de forma a limitar a ao

    do fogo;

    IV - preparar aceiros de no mnimo trs metros de largura, ampliando esta faixa

    quando as condies ambientais, topogrficas, climticas e o material combustvel a

    determinarem;

    V - providenciar pessoal treinado para atuar no local da operao, com

    equipamentos apropriados ao redor da rea, e evitar propagao do fogo fora dos

    limites estabelecidos;

    VI - comunicar formalmente aos confrontantes a inteno de realizar a Queima

    Controlada, com o esclarecimento de que, oportunamente, e com a antecedncia

    necessria, a operao ser confirmada com a indicao da data, hora do incio e do

    local onde ser realizada a queima;

    VII - prever a realizao da queima em dia e horrio apropriados, evitando-se os

    perodos de temperatura mais elevadas e respeitando-se as condies dos ventos

    predominantes no momento da operao:

    VIII - providenciar o oportuno acompanhamento de toda a operao de queima, at

    sua extino, com vistas adoo de medidas adequadas de conteno do fogo na

    rea definida para o emprego do fogo.

    1 - O aceiro de que trata o inciso IV deste artigo dever ter sua largura duplicada

    quando se destinar proteo de reas de florestas e de vegetao natural, de

    preservao permanente, de reserva legal, aquelas especialmente protegidas em ato

    do poder pblico e de imveis confrontantes pertencentes a terceiros.

    2 - Os procedimentos de que tratam os incisos deste artigo devem ser adequados

    s peculiaridades de cada queima a se realizar, sendo imprescindveis aqueles

    necessrios segurana da operao, sem prejuzo da adoo de outras medidas de

    carter preventivo.

    Art. 5 - Cumpridos os requisitos e as exigncias previstas no artigo anterior, o

    interessado no emprego de fogo dever requerer, por meio da comunicao de

    Queima Controlada, junto ao rgo competente do SISNAMA, a emisso de

    Autorizao de Queima Controlada.

    E ainda Art. l6 - O emprego de fogo, como mtodo despalhador e facilitador do corte de

    cana-de-acar em reas passveis de mecanizao da colheita, ser eliminado de

    forma gradativa, no podendo a reduo ser inferior a um quarto da rea

    mecanizvel de cada unidade agroindustrial, a cada perodo de cinco anos, contados

    da data de publicao deste Decreto.

    Art. 17 - A cada cinco anos, contados da data de publicao deste Decreto, ser

    realizada pelos rgos competentes, avaliao das conseqncias scio-econmicas

    decorrentes da proibio do emprego do fogo para promover os ajustes necessrios

    nas medidas impostas.

    Isso busca tambm, conscientizar os agricultores sobre a utilizao do fogo e

    muitas vezes acabam levando a utilizao de outros mtodos mais ecologicamente adequados.

  • 35

    O incndio considerado crime no Brasil segundo a lei 9.605/98 que assevera:

    Art 41. Provocar incndio em mata ou floresta: Pena - recluso, de dois a quatro

    anos, e multa.

    Pargrafo nico. Se crime culposo, a pena de deteno de seis meses a um ano, e

    multa.

    Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar bales que possam provocar

    incndios nas florestas e demais formas de vegetao, em reas urbanas ou qualquer

    tipo de assentamento humano:

    Pena - deteno, de um a trs anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

    Mas, vrias leis anteriores, que foram revogadas por esta lei j o incriminavam. O

    Cdigo Florestal, por exemplo, considerava o incndio como Contraveno Penal, porm, de

    forma mais branda e mais preocupada com a propriedade particular que com o bem de todos

    que o meio ambiente.

    Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

    Renovveis (IBAMA), a queimada deve ser feita sob determinadas condies ambientais -

    como, por exemplo, a umidade do ar, o sentido do vento, a temperatura, a umidade do solo -

    que permitam que o fogo se mantenha confinado rea que ser utilizada para a agricultura

    ou a pecuria. Antes de fazer uma queimada preciso analisar os prejuzos que ela poder

    causar. Se realmente for necessria, a pessoa deve usar o fogo de maneira correta.

    Ao realizar uma queimada deve se reunir e mobilizar os vizinhos para fazer

    queimadas controladas e em regime de mutiro; pedir autorizao ao IBAMA; estudar as

    caractersticas do terreno (declividade, tamanho da rea a ser queimada); fazer aceiros (3

    metros de larguras); ter cuidado com a altura da vegetao; atentar para o clima e horrio;

    instruir e preparar o pessoal que ir fazer a queimada.

    De acordo com o IBAMA, para realizao de queimada controlada dever ser

    apresentado os seguintes documentos: comprovante da propriedade ou de justa posse do

    imvel onde se realizar a queima e cpia da autorizao de desmate, quando legalmente

    exigida.

    No Brasil tradicionalmente utiliza-se o fogo na preparao do solo e renovao de

    pastagens, muitas vezes incendiando reas de grande extenso.

    Nos ltimos anos, campanhas tm sido feitas no sentido de eliminar esta prtica,

    at porque a pobreza nutricional dos solos do cerrado necessita de correes para seu uso

    agronmico, fazendo com que as perdas pelo fogo tornem necessrios espaamentos menores

    na correo dos solos, com conseqente encarecimento da produo agropastoril.

  • 36

    A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (EMBRAPA) apud Nascimento,

    I. ((2001, p.21), divulgou alternativas propondo ao uso do fogo (quadros 1, 2 e 3):

    PASTAGEM

    USO E OBJETIVO DAS QUEIMADAS ALTERNATIVAS TCNICAS E

    TECNOLGICAS AO USO DO FOGO

    Fogo como mtodo de gesto das pastagens - Manejo agroecolgico de pastagens

    Eliminar ectoparasitas do rebanho (como

    carrapatos, p.ex.) e seus ovos

    - Vedar o acesso do gado na rea por um

    determinado perodo (160 dias);

    - Tratamento sanitrio do rebanho

    (carrapaticidas).

    Renovar a pastagem nativa, eliminando

    plantas invasoras e melhoramento a

    digestibilidade da forragem

    - Manejar a pastagem com rotaes do gado

    e diviso dos pastos;

    - Cuidar do PH e da fertilidade do solo;

    - Evitar o sobrepastejo e o pisoteio da rea;

    -Enriquecer o pasto com outras espcies,

    principalmente leguminosas perenes;

    - Manter reas com pastagem cultivada.

    Obter uma rebrota precoce de pastagem e

    uma maior disponibilidade de forragem

    durante o perodo seco

    - Manter reservas de forragem sob forma de

    feno em fardos ou medas. Existem

    enfardadeiras motorizadas e manuais, muito

    simples. Manter reservas de forragem sob a

    forma de silagem;

    -Reservar, com cercas, alguns pastos- mesmo

    nativos- para uso no perodo seco;

    - Criar e manter um banco de forragens para

    suplementao alimentar;

    - Aumentar a digestibilidade das palhas com

    algum complemento prottico ou nitrogenado

    (uria) ou com o banco de forrageiras

    (leguminosas);

    - Confinamento parcial ou total do gado.

    Quadro 1: Uso e objetivo das queimadas em pastagem

    Fonte: EMBRAPA apud Nascimento, I. (2001, p. 21)

    Org.: CARVALHO, Jefferson Xavier de

  • 37

    PREPARAO PARA O PLANTIO

    USO E OBJETIVO DAS QUEIMADAS ALTERNATIVAS TCNICAS E

    TECNOLGICAS AO USO DO FOGO

    Eliminar troncos, galhos etc. aps

    desmatamento de floresta

    - Regra 1: evitar o desmatamento;

    - Regra 2: planejar e minimizar a rea a ser

    desmatada;

    - Manter reas e faixas sem desmatar (beira

    de rios etc.);

    - Planejar e buscar o aproveitamento integral

    (destino mltiplo) da madeira (uso

    prprio/venda) e da lenha (indireto ou

    diferido).

    Aps derrubada de capoeira - Uso da trao animal ou motorizada para

    mobilizar a madeira e remoo de razes;

    - Planejar e buscar o aproveitamento integral

    (destino mltiplo) da madeira (uso

    prprio/venda) e da lenha (indireto ou

    diferido).

    Limpeza de reas em pousio ou em descanso - Limpeza manual da rea ou ainda roadeira

    manual, trao animal ou motorizada;

    - Evitar o pousio atravs de rotao,

    adubao verde, adubao orgnica,

    incentivo calagem e adubao mineral;

    - Uso de herbicidas;

    - Incorporao parcial ou total dos resduos

    vegetais ao solo (rolo faca, p. ex.) com

    trao animal ou motorizada;

    - Manuteno dos resduos vegetais sobre o

    solo plantio direto.

    Limpeza de beira de estradas, reas de uso

    comum etc.

    -Roadeira ou implementos da

    minimotorizao, limpeza manual (foices)

    ou ainda herbicidas.

    Quadro 2: Uso e objetivo das queimadas para preparao do plantio

    Fonte: EMBRAPA apud Nascimento, I. (2001, p. 22)

    Org.: CARVALHO, Jefferson Xavier de

  • 38

    COLHEITA

    Pr-colheita (cana-de acar); - Mecanizao com colhedeira de cana crua;

    Restos de colheitas - Usar trao animal, micro o minimotorizao para

    manejar os resduos vegetais;

    - Incorporar total ou parcialmente os resduos ao solo

    ( p.ex. rolo faca) com trao animal ou motorizada;

    - Picar e deixar na superfcie do solo (plantio direto);

    - Recolher para compostagem;

    - Disponibilizar os resduos para o pastejo animal

    controlado.

    Quadro 3: Uso e objetivo das queimadas para colheita

    Fonte: EMBRAPA apud Nascimento, I. (2001, p. 22)

    Org.: CARVALHO, Jefferson Xavier de

    No municpio de Gois, as queimadas so uma prtica mais comumente utilizada

    pelos agricultores e pecuaristas. As principais causas dessa prtica nociva de queimada

    segundo Gomes e Neto apud Mendona e Souza (2001, p.35) so:

    Falta de recursos econmicos do pequeno e mdio produtor rural para fazer a

    derrubada e limpeza do terreno para o plantio; Falta de terras suficientes para o

    cultivo e para a prtica da rotao das culturas; Maior facilidade no preparo do

    terreno (destocagem e limpeza); Germinao mais rpida das espcies plantadas, em

    funo da calcinao produzida pelo fogo (com aumento do teor do clcio).

    Como afirma Kirchhhoff (1992, p. 29) As queimadas no cerrado tornaram-se

    sistemticas e cada vez de maiores pores medida em que a regio foi sendo ocupada pelo

    agricultor. Na verdade, no cerrado, a estruturao fundiria baseada em grandes propriedades

    abriu espao ao desmatamento, sendo que a prtica das queimadas, por no representar custos,

    tem sido a mais usada. Sem fiscalizao eficiente, o fogo descontrolado atinge outros

    complexos vegetacionais, propagando-se por vrios hectares.

    A metade da cobertura vegetal do cerrado j foi extinta, e o que resta est

    ameaado de extino. As sucessivas queimadas anuais, geralmente provocadas pelo prprio

    homem, causam degradao e a destruio dos diversos gradientes do Cerrado, da mata

    vereda, e dos solos e de sua vida microbiana, principal responsvel pela formao do solo

    agrcola.

  • 39

    2.2 As causas e os tipos de queimadas e incndios

    Uma pergunta que surge com freqncia quando se discutem as queimadas a sua

    origem: existem queimadas naturais ou todas so provocadas pelo homem? Hoje em dia, sem

    dvida, a maioria das queimadas provocada, direta ou indiretamente, pelo homem, seja o

    agricultor, para abrir novas frentes agrcolas, ou o pecuarista que, para obter forragem fresca

    para o gado, queima o capim seco no inverno para forc-lo a rebrotar.

    H queimadas intencionais, com o objetivo de controlar o adensamento de

    arbustos, eliminarem plantas txicas ou combater carrapatos, por exemplo. E h tambm

    queimadas de carter criminoso, quase sempre motivadas pela ambio da ocupao de terras.

    Existem ainda queimadas acidentais, causadas pelas pequenas fogueiras dos caadores, pelos

    bales durante festas juninas etc.

    O registro dos incndios ou queimadas fundamental para se conhecer o

    problema que tal fenmeno causa em uma vegetao nativa ou plantada, no raramente

    ignorado em sua plenitude. fundamental saber a localizao de onde ocorrem os incndios,

    e ainda, faz-se tambm necessrio saber quando eles ocorrem e suas principais causas, porque

    ao se conhecer as causas pode-se estabelecer um meio eficaz para prevenir ou minimizar suas

    conseqncias.

    O conhecimento das causas e da freqncia dos incndios ou queimadas florestais

    de extrema importncia, principalmente levando-se em considerao que o ponto de partida

    para a elaborao dos planos de preveno saber quem (ou o que) iniciou o fogo.

    As queimadas ocorrem nas mais diversas formas. De acordo com Kirchhhoff,

    (1992, p.35) os principais tipos de queimadas no Brasil so: pequenas queimadas da beira de

    estradas; queimadas de palha de cana de acar; queimadas no cerrado e queimadas em

    desmatamentos florestais.

    De acordo com Pereira e Frana (2005) provvel que as queimadas ocorridas

    antes da ocupao antrpica fossem naturais, ou seja, causadas por raios. Nos dias atuais, a

    maioria das queimadas no Cerrado causada pelo homem. Apesar da utilizao de modernas

    tcnicas na agropecuria, ainda utilizada a antiga e barata prtica de manejo de atear fogo

    vegetao para renovao e limpeza de pastagens, para abertura e limpeza de reas agrcolas,

    bem como para rebrota de pastagens naturais. Por outro lado, o fogo deixou de ser usado na

    limpeza de restos de culturas anuais mecanizadas.

  • 40

    Podemos dizer que um incndio florestal se manifesta, seja qual for o lugar, por

    um conjunto de aes humanas e naturais que possam transmitir ou produzir fogo. Assim,

    pode se dizer que os incndios florestais tm como origem as causas naturais e as causas

    humanas e as causas humanas podem ser: Doloso e Culposo.

    Os incndios de causas naturais independem da vontade ou ao do homem. Ex.:

    descargas atmosfricas (raios), terremotos, tufes e combusto espontnea7.

    As queimadas naturais podem ter causas diversas: vulcanismo, descargas eltricas,

    atrito entre rochas por movimentos da crosta ou queda de mataes (grandes

    pedras), em zonas escarpadas. As descargas eltricas representam a causa mais

    importante, como prova farta documentao relativa s florestas temperadas, aos

    chaparrais da Califrnia, s savanas na frica do Sul e na Austrlia etc. bastante

    provvel que esse tipo de incndio tambm acontea nos cerrados, mas com menor

    freqncia (COUTINHO, 1990, p. 26).

    Os incndios dolosos caracterizam-se pela inteno e consumao do fato,

    constituindo o crime. Enquadram-se nesta classificao os incndios causados por

    incendirios.

    Os incndios culposos ocorrem por imprudncia, impercia ou negligncia, ou

    seja, sem a inteno, mas previsvel das conseqncias que podem ocorrer. Ex.: incndio

    decorrente de uma queimada de lavoura ou queimada controlada.

    Existem tambm, como foi citado os incndios acidentais, ou seja, uma causa

    independente da vontade humana, sem haver culpa ou dolo. Ex: fogueiras de acampamentos.

    Os incndios por causas humanas podem iniciar atravs de queimadas para

    limpeza, fogos campestres, incendiarismo, fumantes, operaes florestais e bales.

    - As queimadas para limpeza so classificadas em vrias funes, como por

    exemplo, o fazendeiro ateia fogo na vegetao com intuito de preparar o solo para o plantio e

    para fazer colheita de certos tipos de cultura como a cana- de acar, sem terras para

    ocupao territorial, comunidades carentes em busca do aumento de rea de ocupao.

    Compreende-se e toleram-se os incndios florestais originados de fogos usados na limpeza do

    terreno com propsitos definidos, tais como preparar o terreno para agricultura, pastagem,

    reflorestamento, etc.

    ____________________________

    7Combusto Espontnea-Chama-se combusto espontnea o fato de alguns corpos terem como propriedade

    caracterstica, a possibilidade de se combinarem com o oxignio do ar ou de outro portador (agentes oxidantes)

    com que estejam em contato, ocasionando uma reao esotrica, isto , com desprendimento de calor, o que

    favorece sua combusto, sem o concurso de uma fonte externa de calor, centelha ou outra causa de incndio.

    Disponvel em: http://www.cimi.com.br/Site/conceitos/Combustaoespontanea

  • 41

    Nos pases tropicais, de uma maneira geral, esta a principal causa dos incndios

    florestais. Geralmente, em poca de maior ocorrncia, as condies so propcias

    propagao do fogo, ocasio em que so usadas as prticas de queimadas. Estas, embora

    realizadas sob controle dos agricultores e algumas vezes e por razes diversas, extrapolam as

    reas previstas, provocando a interveno das autoridades competentes.

    - Os fogos campestres acontecem com o crescimento do ecoturismo em uma

    determinada regio, em que as pessoas com a falta de conscientizao e desconhecimentos

    das normas de segurana ateiam fogos em restos de lixos, jogam guimbas de cigarros acesos

    na vegetao seca e deixam garrafas de vidro que, aps o uso, so quebradas e jogadas em

    locais onde h incidncia de Sol e muito material seco - folhas, pequenos galhos, etc. Esses

    fragmentos, com a incidncia dos raios solares, atuam como lentes, gerando a combusto

    espontnea, conhecido como efeito lupa. A causa inicial foi a ao do homem, mas o

    incndio originou-se de uma causa natural propriamente dita, que foi o efeito lupa.

    - Incendiarismo: pode-se distinguir dois tipos de incendirios. Um deles o que

    age por vingana, por inimizade ou outro qualquer motivo, colocando fogo em floresta alheia,

    agindo dolosamente. O outro aquele que age inconscientemente, por qualquer desequilbrio

    mental, tornando-se um piromanaco, agindo, neste caso, de maneira culposa, ao tentar atear

    fogo na floresta. Tambm de maneira culposa agem fazendeiros e at mesmo o grupo de

    pessoas conhecidas como "sem-terra", ao promoverem queimadas com o objetivo de

    transformar florestas em reas de pasto ou agriculturveis, causando danos irreversveis

    biodiversidade.

    - Fumantes: neste caso esto includos os incndios florestais originados por

    fsforos e pontas de cigarros atirados displicentemente ou mesmo de maneira intencional em

    locais onde haja material de fcil combusto. muito comum este tipo de incndio s

    margens de estradas. As pessoas, ao passarem por elas, jogam pontas de cigarros nas suas

    margens, de maneira displicente (culpa) ou mesmo intencionalmente (dolo), causando grandes

    incndios em que o fogo vai consumindo a vegetao e a fumaa invadem as rodovias

    impedindo a visibilidade dos motoristas causando srios acidentes de trnsito.

    - As operaes florestais so incndios causados por trabalhadores florestais,

    quando em atividades na floresta. Nas suas atividades, eles utilizam freqentemente o fogo

    para o cozimento de alimentos ou pequenos servios. A perda de controle deste fogo pode

    provocar um incndio.

  • 42

    - Bales: os incndios causados por bales podem ser caracterizados como

    acidental e ao mesmo tempo pelo homem, pois fabricar, soltar, vender e armazenar crime.

    Ento se uma prtica proibida, os incndios provocados por bales podem ser considerados

    de causa humana.

    Com relao aos incndios florestais, a previso tcita e foi elevada categoria

    de crimes, diferente da antiga contraveno penal do Cdigo Florestal de 1965, conforme

    estabelece os artigos 41 e 42:

    Art 41. Provocar incndio em mata ou floresta: Pena - recluso, de dois a quatro

    anos, e multa.

    Pargrafo nico. Se crime culposo, a pena de deteno de seis meses a um ano, e

    multa.

    Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar bales que possam provocar

    incndios nas florestas e demais formas de vegetao, em reas urbanas ou qualquer

    tipo de assentamento humano:

    Pena - deteno, de um a trs anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

    A classificao mais adequada para definir os tipos de incndios se baseia no grau

    de envolvimento de cada estrato do combustvel florestal desde o solo mineral at o topo

    das rvores no processo da combusto.

    De acordo com Coutinho (1990), do ponto de vista ecolgico, vrios aspectos de

    uma queimada devem ser considerados. H trs tipos de fogo ou incndio: o de copa, de

    maior intensidade e mais comum nas florestas, no qual o fogo se alastra de uma copa de

    rvore para outra; o de palha, freqente nas vegetaes mais abertas, em que o estrato

    graminoso o principal agente do alastramento das chamas; e o de manta, no qual a vegetao

    propriamente dita no atingida, mas sim a manta ou serrapilheira acumulada sobre o solo,

    que se queima lentamente. Nos cerrades, as queimadas mais comuns so de manta ou de

    copa, mas nos outros tipos de cerrado predominam os incndios de palha.

    Os incndios de palha podem ser chamados tambm de incndios de superfcie,

    que so os incndios que se propagam na superfcie do piso da floresta, queimando os restos

    vegetais no decompostos, tais como folhas e galhos cados, gramneas, arbustos, enfim todo

    material combustvel at cerca de 1,80 metros de altura. Esses materiais, principalmente

    durante perodos de seca, so bastante inflamveis e por isto os incndios superficiais

    apresentam propagao relativamente rpida, abundncia de chamas e muito calor. Entretanto

    quando comparados com outros tipos, os incndios superficiais no so muito difceis de

    combater, a no ser em condies extremamente favorveis propagao dos mesmos.

  • 43

    Havendo condies favorveis, o fogo de superfcie pode dar origem a um fogo de copa e a

    um fogo subterrneo.

    Segundo Silva (1998), os incndios de superfcie apresentam as seguintes

    caractersticas: a velocidade da queima depender do tipo de combustvel, tornando-se mais

    inflamvel durante a temporada de estiagem; geralmente bastante inflamvel principalmente

    durante a temporada de seca.

    Os incndios subterrneos os incndios que propagam-se na camada superficial e

    subsuperficial do solo, face acumulao de matria orgnica subterrnea, ficando quase que

    completamente isolada da atmosfera e, em consequncia, com grande falta de oxignio. Esse

    tipo de fogo ocorre em locais onde existe grande acumulao de hmus e em reas alagadias,

    tais como brejos ou pntanos, que quando secas formam espessas camadas de turfa abaixo da

    superfcie. Normalmente os incndios subterrneos so precedidos por incndios superficiais.

    Devido ao pouco oxignio disponvel na zona de combusto, nos incndios subterrneos o

    fogo se propaga lentamente, sem chamas e com pouca fumaa. Esse tipo de incndio no

    muito frequente, entretanto, sabe-se que sua ocorrncia no cerrado geralmente ocorrem nas

    matas fechadas como o cerrado ( foto 17) que possui muita quantidade de folhas secas e

    hmus depositados no solo e prximos a brejos que formam ao redor das veredas.

    Foto 17: Incndio em cerrado, Gois-GO.

    Autor: CARVALHO, Jefferson Xavier de (2007)

    As principais caractersticas dos incndios subterrneos so: eles geram uma

    enorme quantidade de calor; queimam de forma muito lenta; dificultam a localizao do foco.

    A intensidade do calor e o poder de destruio destes incndios so bastante altos, alm de

    causar a morte das razes e conseqentemente das rvores, atingem tambm a microbiologia e

    a fertilidade do solo, atravs da destruio da camada orgnica.

  • 44

    Os incndios de copa caracterizam-se pela propagao do fogo atravs das copas

    das rvores, independentemente do fogo superficial. Geralmente considera-se incndio de

    copa aquele que ocorre em combustveis acima de 1,80 metros de altura. Com exceo de

    casos excepcionais, como alguns incndios causados por raios, todos os incndios de copa

    originam-se de incndios superficiais. Este o mais espetacular dos tipos de incndios

    florestais. Propaga-se rapidamente, liberando grande quantidade de calor e tornando o

    combate extremamente difcil.

    Nos incndios de copa as folhagens das rvores so totalmente destrudas

    provocando a morte da rvore. Devido o superaquecimento do cmbio, o incndio avana

    sempre na direo do vento, gera grande quantidade de calor, possui grande velocidade de

    propagao, muito perigoso de se combater, geralmente origina-se no incndio de

    superfcie, ocorrem sempre em dias de vento forte e baixa umidade (imagem 4).

    Imagem 4: Incndio de copa originando-se na superfcie, caudado pelo vento.

    Fonte: CBMGO

    J o incndio natural ocorre muito, por exemplo, em determinada variao de

    cerrado e na caatinga onde o clima muito seco e quente gerando combusto espontnea, ou

    por raios que ocorre em chuvas de curta durao que no dura o suficiente para garantir a

    umidade do solo. Mas a ocorrncia de queimadas na estao seca e a intensa ocupao

    agropecuria diminuem a possibilidade de ocorrncias das queimadas naturais, pelo

    decrscimo de material combustvel susceptvel queima durante a estao chuvosa, perodo

    de ocorrncia de raios.

  • 45

    2.3 O comportamento do fogo na propagao dos incndios no cerrado

    Primeiramente para se falar do comportamento do fogo preciso conhecer o

    Tringulo do Fogo (imagem 5), pois para ocorrer qualquer incndio florestal necessrio

    haver combustvel para queimar, oxignio para manter as chamas e calor para iniciar e manter

    o processo de queima. Se retirarmos qualquer um destes elementos, ou mesmo reduzi-los a

    certos nveis, o processo da combusto invivel.

    No caso dos incndios no cerrado vamos utilizar o termo Tringulo do

    Incndio Florestal (imagem 6) que para ocorrer vai depender das condies meteorolgicas,

    do tipo de combustvel e topografia do terreno.

    Imagem 5: Tringulo do Fogo Imagem 6: Tringulo do Incndio Florestal

    Fonte: Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Gois Fonte: CBMGO

    (CBMGO)

    Segundo Soares (1979), comportamento do fogo, um termo geral usado para

    designar o que o fogo faz. A ignio, crescimento, propagao e declnio de qualquer incndio

    em combustveis florestais representam um complexo processo de reao em cadeia que faz

    parte do que chamamos de Tetraedro do Fogo (imagem 7).

    Imagem 7: Tetraedro do Fogo

    Fonte: CBMGO

  • 46

    A reao em cadeia so reaes que se processam durante o fogo produzindo sua

    prpria energia de ativao (calor) enquanto houver suprimento de comb