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O PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA COMO DIRETRIZ
FLEXIBILIZADORA DO DIREITO DO TRABALHO EM MOMENTOS DE CRISE
ECONÔMICA.
Gabriel Seabra de Freitas Medeiros1
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo abordar o princípio da preservação da empresa como diretriz flexibilizadora do Direito do Trabalho em momentos de crise econômica, demonstrando não apenas as consequências benéficas de sua aplicação para a sociedade, mas também a consequência maléfica de sua não-aplicação no Direito Brasileiro. Desse modo, esse artigo tem como objetivo abordar as vantagens da preservação da saúde empresarial frente ao interesse unicamente individual daqueles que fazem parte da força produtiva da empresa nos momentos em que este tipo de flexibilização for possível, garantindo à maioria os seus direitos constitucionais, como o da função social da propriedade e da busca do pleno emprego; vedando-se sempre a ofensa ao meio ambiente, o abuso de direito, a má-fé e o interesse egoísta do empresário que visa única e exclusivamente o lucro em detrimento da dignidade da pessoal humana e do bem-estar social.
PALAVRA-CHAVE: Princípio da Preservação da Empresa. Princípio da Função Social da Empresa. Crise econômica e jurídica atual. Paternalismo. Flexibilização no Direito do Trabalho
INTRODUÇÃO
O Princípio da Preservação da Empresa no Direito do Trabalho se traduz em um
tema bastante atual e polêmico não apenas por suas consequências ambientais, políticas,
econômicas mas, especialmente, jurídicas. Todavia, cabe a nós destacar, de maneira
preliminar, a relação conceitual entre Empresa e Direito e suas consequências para o nosso
sistema jurídico atual, tendo sempre em vista os princípios constitucionais da “busca do pleno
emprego”, “função social da propriedade” e “boa-fé”, fazendo um nexo com os princípios
garantidos pela legislação trabalhista da “proteção ao trabalhador” e o “princípio da
preservação da empresa”, no que tange à necessidade de flexibilização de direitos para evitar
o engessamento jurídico frente aos tão oscilantes problemas sociais, em especial, a crise
econômica atual. Assim, para evitar problemas ainda maiores, opta-se pela flexibilização das
1 Discente do curso de Direito pela Faculdade Natalense para o Desenvolvimento do Rio Grande do Norte; Discente do curso Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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normas trabalhistas em prol do empregador, quebrando de vez o tabu de que o Direito do
Trabalho assume apenas um papel paternalista frente à figura do trabalhador.
1 DESENVOLVIMENTO
1.1 O conceito de empresa e sua relação com a sociedade contemporânea
Com o passar dos tempos, desde o surgimento das empresas no campo da produção,
a expressão do modelo capitalista e produtivo-industrial assumiu, em um só polo, a faceta de
representar os meios de produção e os produtores, tornando-se um sujeito de direitos com
personalidade jurídica bem como a propriedade de um sujeito civil de direitos.
Segundo Evaristo de Moraes Filhoi, o surgimento da empresa se deu em meados da
fase final da Idade Média, onde as condições técnicas ainda eram quase unicamente rurais e a
atividade industrial como hoje se conhece era mínima. Ao abandonarem a atividade agrícola e
os campos feudais, instalaram oficinas próprias e ali recebiam pedidos encomendados por
parte de outro novo personagem na história da evolução das relações sociais: o cliente. A
evolução foi fazendo surgir nessas relações o interesse precípuo da venda de mercadores
mediante o pagamento em moeda com a característica da continuidade até chegar ao que
temos na atualidade.
Hoje, a empresa representa para a sociedade o papel de agente gerador de emprego e
renda, produtor e distribuidor de bens e serviços, bem como arrecada receitas fiscais e
parafiscais para o Estado e participa na criação de novas tecnologias e no avanço da produção,
acarretando no desenvolvimento da economia. Dessa forma, percebe-se que a empresa
reproduz na sociedade um papel de exercício da propriedade individual de forma a gerar
beneficies ao Estado social como um todo.
Diante disso, a Constituição da República Federativa Brasileira de 1988 veio a
reconhecer a livre iniciativa e a livre concorrência. Porém, preocupou-se com a observação da
função social da propriedade, com a busca do pleno emprego, com a boa-fé; tudo isso com a
intenção de evitar que a iniciativa econômica privada se desenvolvesse em prejuízo à
dignidade da pessoa humana e à justiça social, enveredando sempre pela repreensão ao abuso
de direito de atos que violem a ética, a moral e os bons costumes, o que nos leva a concluir
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pela preservação do emprego e, consequentemente, pela preservação do seu respectivo órgão
gerador: a empresa.
1.2 O princípio da preservação da empresa e o combate ao paternalismo jurídico
Após uma breve análise do conceito de empresa e de sua importância para a
sociedade contemporânea, não é lógico pensar em flexibilizar o que está perfeito,
demostrando que, para que concebamos a possibilidade de flexibilização das normas
trabalhistas, devemos estar diante de situações nas quais não se mostre mais eficaz a simples
aplicação do que se está previamente determinado pelas Leis laborais. Assim, diante da crise
econômica e jurídica na qual o Direito do Trabalho hoje se encontra, o princípio da
preservação da empresa veio a se fortalecer perante o combate ao paternalismo jurídico que
comprometia esse ramo do Direito.
Nas palavras de Maria Christina Filgueira de Morais, alguns fundamentos justificam
tais mudanças no âmbito do Direito do Trabalho, são eles:
“A pura necessidade de reformar e rever conceitos que hoje são considerados
superados; o excessivo ‘engessamento’ das relações de trabalho pela indevida
intromissão estatal; o extraordinário avanço da tecnologia, que torna incompatível as
modernas formas de produção com os atuais modelos de relação de trabalho; o
excesso de proteção, que teria efeitos pervensos, resultando em diminuição dos
postos de trabalho, aumento do subemprego e do trabalho informal, afetando,
principalmente, a pequena e média empresa; além da obstrução das Varas
Trabalhistas com infindáveis processos, fazendo com que a celeridade da Justiça
Trabalhista seja brutalmente comprometida”ii.
Assim, no Título VII, Capítulo I, que trata dos princípios gerais da atividade
econômica do Estado brasileiro, a Constituição Federal irá afirmar que:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
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II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus
processos de elaboração e prestação;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte
constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer
atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo
nos casos previstos em lei. (GRIFOS MEU)
Portanto, ao garantir expressamente os princípios da “propriedade privada”
concomitante com a “livre iniciativa” e a “livre concorrência”, fundamentando a ordem
econômica na “valorização do trabalho” humano em conformidade com os ditames da “justiça
social” e com os princípios da “função social da propriedade”, da “busca pelo pleno
emprego”, a nossa Carta Magna assegura implicitamente a existência do princípio da
preservação da empresa, desde que esse ente (propriedade privada do empresário) cumpra sua
“função social” em sentido amplo, concorrendo até mesmo na “redução das desigualdades
regionais e sociais” na medida em que oferece emprego e renda para nas diversas regiões em
que fixam suas instalações; observando-se sempre, a “defesa do meio ambiente, inclusive
mediante o tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e
de seus processos de elaboração e prestação”, na medida em que fornece produtos e serviços
para o mercado e desenvolve a tecnologia industrial do país.
E, como garantia Constitucional, resta inegável a aplicação deste princípio em estudo
nos casos concretos, implicando na conclusão de que hoje, mais do que nunca, o Direito luta
pela igualdade nas relações jurídicas, sem jamais assumir o papel paternalista em relação a um
dos polos litigantes. Ao Direito cabe equilibrar as relações sociais, tratando com isonomia os
iguais e com desigualdade os desiguais, mas somente na medida exata para se atingir um
equilíbrio perfeito.
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1.3 A liberdade limitada da livre iniciativa e o combate às práticas arbitrárias e abusivas
Diante da atual busca pela garantia de trabalho seguro e estável em momentos de
crise econômica com o avanço global do capitalismo, percebe-se que é nesse plano do
processo de globalização da economia que ocorre o crescimento da degradação das relações
de trabalho, atingindo, principalmente, a parte mais fácil na relação contratual interna da
empresa: o empregado. Por tal razão, este se submete constantemente à instabilidade social e
econômica, restando ao Direito do Trabalho a busca pela forma mais justa de se assegurar a
proteção ao trabalhador e à sua dignidade, sem gerar obstáculos ao avanço econômico das
empresas.
Para tanto, com o intuito de resolver esse dilema, busca-se limitar os casos em que se
deve aplicar o princípio da preservação da empresa à vedação de práticas arbitrárias e
abusivas que desrespeitem a função social da propriedade.
A função social da propriedade apareceu expressamente no Direito brasileiro a partir
da Lei das S.A (Lei nº 6.404/76), nos artigos 116 e 154, afirmou-se que:
Art. 116. Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural ou jurídica, ou o
grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que:
a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria
dos votos nas deliberações da assembléia-geral e o poder de eleger a maioria dos
administradores da companhia; e
b) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o
funcionamento dos órgãos da companhia.
Parágrafo único. O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer
a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres e
responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela
trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses
deve lealmente respeitar e atender. (Grifo meu)
Art. 154. O administrador deve exercer as atribuições que a lei e o estatuto lhe
conferem para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as exigências
do bem público e da função social da empresa. (Grifo meu)
De acordo com a Teoria da Eficiência de Paretto, a empresa cumpre sua função
social quando exerce sua atividade sem gerar prejuízo à nenhuma das partes envolvidas ou a
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terceiros. Nesse caso, os prejuízos podem ser morais, patrimoniais ou ambientais, sendo as
parte envolvidas, na maioria dos casos, o Estado que não recebe a contribuição fiscal ou
parafiscal a que lhe é cabível pela empresa; os consumidores diretos ou indiretos que saem
prejudicados pelos produtos ou serviços fornecidos pela empresa; o empregado que tem seus
direitos abusados pelo empregador; ou a sociedade em geral pelo dano ambiental causado pela
empresa em suas atividades ou funções.
Assim, nas palavras de Marlene Teresinha Fuverki Suguimatsuiii:
“A liberdade de iniciativa, portanto, não equivale a alguma espécie de salvo conduto
para qualquer prática arbitrária e abusiva. Antes, deve ser compreendida como base
da ordem econômica e social, em que os indivíduos são livres para desenvolver
atividade socialmente útil, mas sem desprezar, jamais, o objetivo precípuo de justiça
social. A proposta no Título Direitos e Garantias Fundamentais, Capítulo dos
Direitos Sociais, de assegurar o direito ao trabalho (art. 6º) e a proteção da relação
emprego contra a despedida arbitraria e sem justa causa (art. 7º, I), e no título da
Ordem Econômica e financeira, a valorização do trabalho humano e a busca do
pleno emprego, torna imprescindível que na leitura do principio da preservação da
empresa, considere-se o Direito Empresarial indissociavelmente vinculado ao
Direito do Trabalho, e ambos se movam pela diretriz constitucional de tutelar o ser
humano”.
Portanto, quando a empresa atua em prol da coletividade e em conformidade com sua
função social, age sob a égide do princípio da preservação da empresa, estando a ela
assegurada a sua saúde empresarial nos momentos em que algum outro possível fator venha a
por em jogo a sua existência e funcionamento, causando grande prejuízo à sociedade.
Foi essa a intenção do legislador ao decretar a Lei das Falências (Lei nº 11.101, de 09
de fevereiro de 2005). No artigo 47 da lei das Falências ficou expresso que “a recuperação
judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do
devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e
dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social
e o estímulo à atividade econômica”.
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Como restou supramencionado, a análise a essa Lei apenas reforça o que já vínhamos
mencionando sobre o princípio da preservação da empresa e a necessidade desta em cumprir,
no exercício de suas atividades, a função social. Não estando presente estes requisitos, não há
de se falar em flexibilização pró-empregador e a empresa faltosa com seus deveres sociais não
tem motivos de permanecer viva em uma sociedade na qual pratica suas faltas.
Para ilustrar, segue a casuística:
EMENTA CONFLITO DE COMPETÊNCIA - RECUPERAÇÃO JUDICIAL - SUSPENSÃO DAS AÇÕES E EXECUÇÕES CONTRA O DEVEDOR - COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA RECUPERAÇÃO - PRINCIPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA - CONFLITO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.1 - A competência para processar e julgar as ações e execuções suspensas por força do art. 6º, caput, da Lei 11.101⁄05 é do juízo da recuperação judicial, ainda que iniciadas antes do deferimento daquele pedido, ressalvadas as hipóteses legais, que não se verificam no caso concreto.2 - O princípio da preservação da empresa, insculpido no art 47 da Lei de Recuperação e Falências, preconiza que "A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica". Motivo pelo qual, sempre que possível, deve-se manter o ativo da empresa livre de constrição judicial em processos individuais.3 - O destino do patrimônio da empresa-ré em processo de recuperação judicial não pode ser atingido por decisões prolatadas por juízo diverso daquele da Recuperação, sob pena de prejudicar o funcionamento do estabelecimento, comprometendo o sucesso de seu plano de recuperação.4. A questão jurídica aventada no Agravo Regimental assemelha-se ao mérito do Conflito de Competência, razão porque o julgamento deste, implica na prejudicialidade daquele.5. Precedentes: CC 90.075⁄SP, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, DJ de 04.08.08; CC 88661⁄SP, Rel. Min, Fernando Gonçalves, DJ 03.06.08. (STJ - CC 79170 ⁄ SP - Rel. Ministro CASTRO MEIRA - DJe 19⁄09⁄2008).6. Conflito de Competência conhecido e parcialmente provido. Agravo Regimental Prejudicado. (Ministro Relator HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/APCC 101552 / AL. CONFLITO DE COMPETENCIA. 2008/0272295-5)
Temos então que, desde que a flexibilização não seja proposta de forma radical ou
seja, com a finalidade de abusar de direitos, os instrumentos flexibilizadores detêm o poder de
adaptar preceitos de ordem pública às grande alterações no panorama interno da empresa,
evitando o desemprego e estimulando o desenvolvimento tecnológico em tempos de crise.
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O Direito do Trabalho, orientado pelo princípio constitucionalmente implícito em
estudo, preza pela continuidade da empresa no sentido de se admitir a flexibilização de
direitos como o banco de horas, a suspensão do contrato de trabalho para qualificação
profissional, o artigo 620 da CLT e aquela estória do tempo no transporte no caminho do
trabalho ser fixado em X, quando na verdade deveria ser X+Y. (explicar melhor)
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição, 1988.
PEREIRA, José de Lima Ramos. O constitucionalismo social e a crise na efetividade das normas constitucionais. Revista do Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Norte/ Procuradoria Regional do Trabalho – 21ª Região. V.10, n.07. Natal: PRT – 21ª Região
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i MORAES FILHO, Evaristo de. Do contrato de trabalho como elemento de empresa.São Paulo: LTr, 1993. p. 19.ii MORAIS, Maria Christina Filgueira de. A flexibilização trabalhista como consequência da atual conjuntura econômica mundial. Revista de Direito do Trabalho 28/02/2009. RDT 15-02, pag. 15iii SUGUIMATSU, Marlene Teresinha Fuverki. Preservação da empresa e trabalho humano: perspectiva constitucional à luz da diretriz de tutela da pessoa. Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.