1. Descrição e interpretação da atividade cognoscitiva
GNOSIOLOGIA
Origem, natureza, possibilidade e limites do conhecimento.
Estudo do conhecimento – estudo das relações entre o sujeito e o objeto, procurando esclarecer e analisar
criticamente os problemas que essas relações suscitam.
TEORIA DO CONHECIMENTO
O que é o conhecimento?Que tipos de conhecimento existem?
Quais as fontes do conhecimento?Qual a origem do conhecimento?
Será que o conhecimento é possível?Qual o fundamento do conhecimento?
ALGUMAS QUESTÕES GNOSIOLÓGICAS
Representar o objeto é também, em certa medida, construí-lo.
Aquele que conhece
Aquilo que é conhecido
CONHECIMENTO
Um SUJEITO apreende um OBJETO
CORRELAÇÃO: o sujeito só é sujeito em relação a um objeto e este só é objeto em relação a
um sujeito.
INTERAÇÃO: o sujeito interage com a realidade, e é desse processo que o conhecimento emerge.
Exemplo: saber cozinhar.
Conhecimento prático ou
conhecimento de atividades.
Conhecimento direto de alguma
realidade.
TIPOS DE CONHECIMENTO
CONHECIMENTO POR CONTACTO
SABER-QUE (conhecimentoproposicional)
SABER-FAZER (conhecimento poraptidão ou saber-
como)
Conhecimento de proposições ou pensamentos verdadeiros.
Exemplo: saber que «2 + 2 = 4».
Exemplo: conhecer Paris.
O saber-que também se designa por
conhecimento factual, podendo ser expresso
com outras locuções: por exemplo, «sei onde»; «sei
quando»; «sei quem», etc.
Relação adequada entre o sujeito cognoscente e a
realidade.
Atitude de adesão a uma determinada proposição,
tomando-a como verdadeira.
CONHECIMENTO PROPOSICIONAL (SABER-QUE)
Proposições falsasProposições verdadeiras
Saber é acreditar naquilo que se sabe.
CRENÇA OBJETOSUJEITO
O verdadeiro e o falso de qualquer crença dependem de algo exterior à
própria crença.
No conhecimento proposicional verifica-se uma relação entre um sujeito e um objeto.
A crença é uma condição necessária do conhecimento. Mas as crenças podem ser verdadeiras ou falsas.
DEFINIÇÃO TRADICIONAL DE CONHECIMENTO
S acredita que P.
CRENÇA JUSTIFICAÇÃO
CONDIÇÕES DO CONHECIMENTO
VERDADE
P é verdadeira.S dispõe de
justificação ou provas para
acreditar que P.
S sabe que P se, e só se:
CONHECIMENTO – DEFINIÇÃO TRIPARTIDA
CRENÇA VERDADEIRA JUSTIFICADA
PLATÃO – DIÁLOGO TEETETO
Crença, verdade e justificação:
condições necessárias e
suficientes para que haja
conhecimento.
Todas as três condições são
necessárias para que haja
conhecimento. Consideradas isoladamente,
nenhuma delas é suficiente.
EDMUND GETTIER
Contraexemplos à definição de conhecimento como crença verdadeira justificada.
Pode haver crenças verdadeiras que são justificadas apenas acidentalmente, em resultado da sorte, do
acaso ou da mera coincidência.
Pode haver crenças verdadeiras justificadas sem que tais crenças equivalham a um efetivo conhecimento. É possível que alguém não possua conhecimento, ainda que sejam realizadas as três condições: crença, verdade e justificação.
Críticas à definição tradicional de conhecimento
Podemos alegar que uma crença só estará adequadamente justificada se estiver apoiada por razões tão fortes que não exista a menor hipótese de ser falsa.Estipula-se então que, é preciso uma crença estar infalivelmente justificada.Esta é uma forma insatisfatória de evitar os problemas dado que, se dissermos que qualquer crença justificada tem que excluir toda a possibilidade de erro, teremos de concluir que quase nenhuma das nossas crenças está justificada, o que é muito implausível…Por exemplo, parece-nos que acreditamos justificadamente que Saturno é um planeta e que a água e H²O, etc, mas não é completamente impossível que estas crenças sejam falsas…O infalibilismo impõe demasiadas restrições ao conhecimento, pois só reconhece como conhecimento as crenças de que temos provas infalíveis de que são verdadeiras e é óbvio que as crenças que cumprem essa condição são, apesar de tudo, poucas.
Assim, a maior parte dos filósofos é da opinião de que a justificação das nossas crenças não deve ser infalível, mas falível.Admitimos então que podemos ter crenças falivelmente justificadas.Mas, é preciso não esquecer que isso não significa que toda e qualquer explicação (justificação) desde que seja falível, é conhecimento…Uma explicação falível, mas acidental ou má, não é conhecimento.Então:S sabe que P se, e só se:1. S acredita em P2. P é verdadeira3. S tem uma justificação falível para acreditar em P
Justificação falível vs infalível
CONHECIMENTO PROPOSICIONAL
CONHECIMENTO A POSTERIORI Afirmações que ilustram: Estão 3 cadeiras nesta sala. Ontem estive profundamente
triste. O 25 de Abril pôs fim à guerra
colonial. Nem todos os cisnes são
brancos. Dói-me imenso o braço. A neve é branca. Nenhum objeto totalmente azul
é frágil.A justificação para acreditar nestas
afirmações é a experiência/nossos sentidos.
Um sujeito sabe que P a posteriori se e só se, sabe que P, através da experiencia.
CONHECIMENTO A PRIORI
Afirmações que ilustram: Os solteiros não são casados. Tudo aquilo que é branco tem
cor. 523 x 2 = 1046 a + b = b + a O Universo está em expansão
ou o Universo não está em expansão.
Nenhum objeto totalmente azul é vermelho.
A justificação para acreditar nestas afirmações é o pensamento/razão.
Um sujeito sabe que P a priori se e só se, sabe que P, independentemente da experiência, ou pelo pensamento apenas.
CONHECIMENTO PROPOSICIONAL
CONHECIMENTO A POSTERIORI Conhecimento empírico. Depende da experiência, seja
sensorial (advém dos nossos sentidos -visão, audição …- que nos colocam em contacto com o mundo exterior) ou introspetiva (advém daquilo que encontramos dentro de nós – emoções, desejos, dores …).
Constituído por crenças que só podemos justificar se recorrermos a dados empíricos, isto é, à informação que nos é fornecida pelos sentidos ou introspeção.
Conhecimento facultado pelas Ciências da Natureza, Ciências Humanas e conhecimento que obtemos todos os dias é a posteriori.
CONHECIMENTO A PRIORI
Não depende da experiência empírica.
Constituído por crenças que podemos justificar recorrendo unicamente ao pensamento, sem nos basearmos em quaisquer dados empíricos.
As verdades da lógica e da matemática, bem como outras afirmações que possamos saber que são verdadeiras pensando apenas no seu significado, constituem conhecimento a priori.
ORIGEM DO CONHECIMENTO
RACIONALISMO(Racionalismo do século XVII)
EMPIRISMO(Empirismo inglês do século XVIII)
Filósofos:René Descartes
(1596-1650)Gottfried Leibniz
(1646-1716)Bento de Espinosa
(1632-1677) Nicolas Malebranche
(1638-1715)
Filósofos:John Locke
(1632-1704)George Berkeley
(1685-1753)David Hume(1711-1776)
Será que todo o nosso conhecimento provém da
experiência?Ou será que provém também da razão?
Ou procederá de ambas estas fontes, mas tem
maior importância quando provém de uma
do que de outra?
Problemas do conhecimento:
RACIONALISMO
A razão (entendimento) é a fonte principal do
conhecimento.
A razão é fonte de um conhecimento totalmente
independente da experiência sensível .
O sujeito impõe-se ao objeto através das noções
e princípios evidentes que traz em si.
Ideias inatas:As ideias
fundamentais já nascem
connosco.
Intuição e dedução:As ideias
fundamentais descobrem-se por intuição
intelectual. O conhecimento constrói-se de
forma dedutiva.
Desconfiança dos sentidos:Eles são fonte
de crenças confusas e,
muitas vezes, incertas.
Otimismo racionalista:
Há uma correspondência
entre pensamento e
realidade. Toda a realidade pode ser conhecida.
EMPIRISMO
A experiência é a fonte principal do conhecimento.
Todas as ideias têm uma base empírica, até as mais
complexas. O conhecimento do mundo obtém-se através
de impressões sensoriais.
O objeto impõe-se ao sujeito.
Rejeição do inatismo:
Não existem ideias,
conhecimentos ou princípios
inatos. O entendimento assemelha-se a uma página em
branco.
Significado da experiência:É nela que o
conhecimento tem o seu
fundamento e os seus limites.
John Locke: O conhecimento
encontra-se limitado pela experiência
(externa ou interna), ao nível da sua:
Extensão: o entendimento é incapaz de
ultrapassar os limites
impostos pela experiência.
Certeza: as certezas de
que dispomos referem-se
apenas àquilo que se
encontra dentro dos limites da
experiência.
RACIONALISMO EMPIRISMO
FUNDACIONALISMO
EXPERIÊNCIACombinação da RAZÃO e da
EXPERIÊNCIA
RAZÃO
Valorização do conhecimento a
priori (mas não se nega a existência
do conhecimento a posteriori).
Valorização do conhecimento a
posteriori (mas não se nega a existência do conhecimento a
priori).
O conhecimento deve ser concebido como uma estrutura que se ergue e se desenvolve a partir de fundamentos certos, seguros e indubitáveis.
Corre-se o risco da regressão infinita da justificação.
A justificação é inferencial: a crença justificada infere-se daquela que a justifica.
Uma crença é justificada por outra, a qual por sua vez é justificada por outra e assim sucessivamente.
De acordo com a definição tradicional de conhecimento, uma crença encontra-se justificada se
tivermos razões para pensar que ela é verdadeira.
FUNDACIONALISMO
crenças básicas ou fundacionais
permitem evitar a
Suportam o sistema do saber. Não necessitam de uma
justificação fornecida por outras crenças, porque se
justificam a si mesmas.
infalíveis – não podem estar erradas
FUNDACIONALISMO
Crenças básicas Crenças não básicas
incorrigíveis – não podem ser refutadas
indubitáveis – não podem ser postas em dúvida
São justificadas por outras crenças.
DOGMATISMO CETICISMO
Possibilidade do conhecimento
Será que o sujeito apreende efetivamente o objeto? Será que o conhecimento é possível?
NÃOSIM
É o dogmatismo ingénuo. Não
coloca o problema do conhecimento.
Não ocorre propriamente na
filosofia.
DOGMATISMO
Posição própria do realismo ingénuo – ausência de exame
crítico das aparências.
O conhecimento é possível. Esta
perspetiva opõe-se ao ceticismo.
Confiança de que a razão pode atingir
a certeza e a verdade.
Expressando uma ausência de
espírito crítico, o termo adquire
aqui um sentido pejorativo.
Submissão, sem exame pessoal, a certos princípios
ou à autoridade de que provêm.
Opõe-se ao criticismo (Kant).
Exercício da razão, em domínios
metafísicos, sem uma crítica prévia da sua capacidade.
QUATRO ACEÇÕES DO TERMO
Pirro de Élis (c. 365-275 a. C.)
Sexto Empírico (séculos II-III d. C)
CETICISMO
Ceticismo absoluto ou radical
Arcesilau (c. 315-241 a. C.)
Carnéades (c. 213- c. 128 a. C.)
Ceticismo mitigado ou moderado
Não é possível ao sujeito apreender, de um modo efetivo ou então de um modo rigoroso, o objeto.
Pode haver apenas um ceticismo
localizado, que incide sobre um conhecimento
determinado: por exemplo, o
conhecimento metafísico –
ceticismo metafísico.