ISSN: 1984-‐1175 – ANAIS ELETRÔNICOS
Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
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FACEBOOK: Ferramentas Digitais no Processo Educativo
Lialda Bezerra Cavalcanti (IFPE)
Elisama Bezerra Cavalcanti (IFPE)
Horhanna Almeida de Oliveira (UFPE)
Yaírla Karla Guedes Alves ( UFPE)
Resumo: Esta pesquisa toma como objeto de análise o Facebook enquanto ferramenta pedagógica e sua utilidade para o ensino da matemática, mais especificamente sua ramificação geométrica. De acordo com Kenski (2007), Valente (2011) e Cavalcanti (2014), a inserção das tecnologias tem impulsionado uma revolução pedagógica sem precedentes que transcende os muros da escola. Estes autores ressaltam a complexidade desta utilização que vai muito além do imediatismo estritamente instrumental e por propiciar processos de produção do conhecimento. O Facebook é uma rede social que vem ganhando grande espaço no meio educacional, por facilitar a comunicação interpessoal, a construção do aprendizado coletivo e possuir ambientes que permitem diálogos e argumentações. Nesta interface foi criado o grupo “Matemática é linda” como um espaço de aprendizagem digital que vem estabelecendo uma comunicação educativa entre docentes e discentes a partir de discussões das experiências individuais e compartilhamentos de soluções ao crescimento cognitivo numa dimensão lúdica. A dinâmica do referido grupo proporcionou a interação entre sujeitos protagonistas desta ação didática, favorecendo a superação de dúvidas, troca de ideias, explicitação de conhecimentos prévios à construção de novos conhecimentos da matemática. Em síntese, os dados parciais deste estudo comprovam a importância das plataformas educativas como um espaço potencial para mediação tecnológica da prática docente.
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Palavras-‐chave: Facebook, Geometria, Educação Matemática; Prática Docente. Resumo em língua estrangeira: This research takes as an object of analysis the Facebook as a pedagogical tool and its usefulness for the teaching of Mathematics, more specifically its geometric branching. According to Kenski (2007), Valente (2011) and Cavalcanti (2014), the insertion of technologies has driven an unprecedented pedagogical revolution that transcends the school walls. These authors emphasize the complexity of this use that goes far beyond the strictly instrumental immediacy and for propitiating processes of knowledge production. Facebook is a social network that has been gaining great space in the educational environment, by facilitating interpersonal communication, building collective learning and having environments that allow dialogue and argumentation. In this interface the group "Matemática é Linda” “Mathematics is beautiful" was created as a space of digital learning that has been establishing an educational communication between teachers and students who discuss individual experiences and share solutions to cognitive growth in a ludic dimension. The dynamics of this group provided the interaction among the protagonists of this didactic action, gain the overcoming of doubts, exchange of ideas, and explicit knowledge prior to the construction of new knowledge of mathematics. In summary, the partial data of this study prove the importance of educational platforms as a potential space for technological mediation for teaching practice. Keywords: Facebook, Geometry, Mathematics Education; Teaching Practice.
Introdução
É factível perceber a diminuição da hegemonia da escola enquanto espaço
protagonista do processo ensino e aprendizagem no trato dos conhecimentos
sistemáticos frente à missão de inovar e assumir que a apropriação das tecnologias
digitais. Esta incorporação está desenhando novo cenário na construção de
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conhecimentos sistemáticos, além de possibilitar alternativas para transmissão,
produção e circulação de conhecimentos de forma mais condizentes aos desafios de
um mundo em constante mutação.
Sobre a utilização das tecnologias na sala de aula, o documento dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) afirma que se constitui “agentes de
transformação da sociedade”, pois estudiosos sobre o tema mostram a crescente
influência desses recursos na forma de escrever, ler, ver ,criar e se instituindo num
desafio a mais para a escola.
Vários pesquisadores (VALENTE, 1999a; ALMEIDA, 2005b; PRADO, 2005b;
MISKULIN, 2006; KENSKI, 2007; MORAN, 2009; ALMEIDA e VALENTE, 2011) ressaltam
a importância de integrar os recursos tecnológicos do âmbito educacional à realidade
da prática docente.
A inserção das tecnologias tem impulsionado uma revolução sem precedentes,
que chega a ultrapassar os muros da escola, a qual necessita redimensionar e inovar
modelos com possibilidades de desfazer cristalizações incorporadas ao ensino
tradicional, enraizadas no processo educativo, dificultando avanços didático-‐
metodológicos que facilitem a aquisição de conhecimentos.
Rugimbana (2007), Shaw e Fairhurst (2008) enfatizam características marcantes
da evolução tecnológica, da qual destacam a “geração Y” de nativos digitais, pelo
intenso conhecimento da tecnologia e da obtenção de informação no processo de
aprendizagem, sobretudo por apresentarem, no seu cotidiano, um engajamento com
uma multiplicidade de atividades simultâneas.
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O alcance das tecnologias digitais com dispositivos atrativos no âmbito
educacional não pode ser desprezado pelo indiscutível envolvimento e independência
dos nativos digitais, cuja autossuficiência e o domínio de recursos de informática
colaboram com métodos de ensino embasados na concepção de aprender a aprender.
Esta inclusão digital no ambiente escolar não ocorre apenas equipando
laboratórios de informática com computadores avançados, mídias e pela
disponibilização de acesso à internet de alta velocidade, mas necessita de especialistas
que conduzam o processo educativo. Estas ferramentas sozinhas não conseguem
transformar a informação em conhecimento por se tratar de uma tarefa complexa que
não apenas exige a criação de formas para acesso à informação.
Por sua vez, é oportuno elucidar o relevante papel do professor nesta condução
didática em que necessita conhecer as especificidades dos recursos tecnológicos e as
teorias educacionais subjacentes para respectiva aplicação no contexto profissional
deste novo educador, de forma que busque “vivenciar o processo de construção de
conhecimento das condições e das ações que permitem essas construções”. (VALENTE,
2011, p.116).
De acordo com Silva e Moraes (2014), as Tecnologias Digitais de Informação e
Comunicação (TDIC) são todas as tecnologias que interferem e permeiam os processos
de informação e comunicação entre os seres humanos; por digitais, entende-‐se a
internet e suas ferramentas como mediadoras.
A expansão das tecnologias digitais favoreceu a dispersão da informação em
todos os segmentos da sociedade, não restringindo apenas à escola e ao professor a
missão de disseminar a informação e gerar o conhecimento. Esta competência está
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vinculada aos mecanismos de processamento e de significação por parte do educando
para a respectiva conversão em conhecimento no processo educacional.
Assim a escola deve prover condições para que os alunos desenvolvam atividades que auxiliem no processo de construção de conhecimento, esse conhecimento gerado deve ser disseminado e compartilhado, de modo que possa ser acessado por intermédio das TDIC. (VALENTE, 2011, p.99).
Face ao exposto, as TDIC ampliam a exploração de ações pedagógicas de forma
ilimitada na busca de novos conhecimentos decorrentes das facilidades técnicas
favorecidas pelo computador, que propicia o aprimoramento do processo de ensino e
de aprendizagem, no sentido de vislumbrar uma educação de qualidade a todos
integrantes da sociedade na perspectiva do exercício de cidadania plena.
1. Redes Sociais e Educação. A incorporação das TDIC tem propiciado transformações incomensuráveis à
prática docente, podendo contribuir para o quadro de um ensino inovador com a
variedade de recursos tecnológicos disponíveis, favorecendo o desenvolvimento de
competências discentes, a capacidade de agregar e enriquecer valores intelectuais, e a
criação de oportunidades para a construção de novos conhecimentos no processo
educacional.
Gardner (2000) afirma a existência de múltiplas inteligências humanas, cujas
competências e habilidades de aprendizagem se revelam de forma distinta, nas áreas
do conhecimento, exigindo da escola diversificar sua atuação, não apenas priorizando
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as áreas da linguagem ou do conhecimento lógico-‐matemático, mas uma abertura para
as discussões que estimulem esta diversidade de inteligências.
Por sua vez, verifica-‐se que cada vez mais os aplicativos tecnológicos invadem o
cotidiano de alunos nascidos nesta geração de nativos digitais, que vivem navegando
nas redes sociais e virtuais, os quais conhecem e dominam com maior facilidade os
dispositivos móveis, assim como demonstram extensiva habilidade a estas inovações
presentes no universo digital.
No final do século XX, surgiram os conceitos de ciberespaço e de cibercultura.
Entende-‐se por ciberespaço o novo meio da intercomunicação dos computadores e,
por cibercultura, um conjunto de práticas, atitudes e modos de pensamentos que se
desenvolvem juntamente com o ciberespaço. Lévy (1998, p. 92), define o ciberespaço
como “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores
e das memórias dos computadores”.
Ampliando este ambiente, surgem outros meios de comunicação eletrônicos
“na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou
destinadas à digitalização”, cujo formato digital é extremamente importante, pois a
codificação digital,
condiciona o caráter plástico, fluido, calculável com precisão e tratável em tempo real, hipertextual, interativo e, resumindo, virtual da informação que é, parece-‐me, a marca distintiva do ciberespaço. Esse novo meio tem a vocação de colocar em sinergia e interfacear todos os dispositivos de criação de informação, de gravação, de comunicação e de simulação (LÈVY, 1998, p. 92-‐93).
Concomitantes à exponencial expansão, no final do século passado, nasceram
mecanismos de interfaces que deram origem à criação de um novo paradigma em
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torno da informação para geração de conhecimentos e de dispositivos para seu
processamento, resultando no desenvolvimento de domínios, cuja configuração é
denominada rede. Por rede, entende-‐se a soma das estruturas físicas (equipamentos)
e lógicas (programas, protocolos) que permitem dois ou mais computadores possam
compartilhar informações entre si. Esse compartilhar de informações ocorre quando
um computador estiver conectado a uma rede de computadores.
É oportuno mencionar que seu surgimento foi decorrente de uma inteligência
coletiva criada no ciberespaço pelo uso das tecnologias da informação e da
comunicação que ampliam o sentido original de tempo e de espaço incidindo na vida
social com promoção de uma descentralização na produção e distribuição do
conhecimento. Os espaços virtuais ficam mais sofisticados, expandindo a
interatividade e a flexibilidade de tempo e de espaço a todos os usuários no processo
educativo.
Rheingold (1994, p. 20) um dos pioneiros a usar a expressão comunidades
virtuais do ciberespaço, define “comunidades são agregados sociais que surgem na
internet, quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas discussões
públicas durante um tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para
formar redes de relações pessoais no espaço cibernético”.
O surgimento da World Wide Web, conhecido como Web ou WWW, aconteceu
no final da década 80. A Web é palavra de origem inglesa que significa rede ou teia,
podendo ser definida como espaço virtual em que o usuário pode acessar todo
conteúdo na rede. De acordo com Baranauskas et al (1999), trata-‐se de uma
denominação dada a um sistema de hipertexto usado para “navegação” na internet,
cujas informações são ligadas a outras por meio de links, em geral representados como
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textos escritos em azul. Navegar na Internet significa, portanto, acessar novas
informações do hipertexto subjacente, por intermédio de seus links ou conexões.
O espaço virtual da World Wide Web1, passa a conectar computadores por
todo o mundo, cuja funcionalidade se baseia em três padrões:
(1) URL (Uniform Resource Locator), é um sistema que se refere ao endereço único de rede no qual se localiza qualquer recurso informático;
(2) HTTP (Hypertext Transfer Protocol) trata-‐se de um protocolo de transferência de Hipertexto que estabelece comunicação entre o navegador e o servidor;
(3) HTML (HyperText Markup Language) consiste numa linguagem de marcação
de hipertexto utilizada para construção de páginas na Web.
Com o crescimento célere das tecnologias, os desenvolvedores desta
inteligência coletiva potencializam modificações na forma de armazenamento de
dados, mas relacionadas ao compartilhamento das publicações e respectiva circulação
das informações no universo digital, não apenas nos aspectos tecnológicos e de
conteúdos, entrando em cena as interações sociais numa cultura de contribuição que
coloca usuário no controle das comunidades virtuais.
A filosofia da Web 2 prioriza a promoção do conhecimento coletivo com
aumento da interação conteúdo-‐usuário, a qual pode propiciar um ambiente social e
acessível a todos os usuários, isto é, “um espaço onde cada um seleciona e controla a
informação de acordo com as suas necessidades e interesses, além de uma natureza
de compartilhamento, coautoria e interatividade” (Leite, 2015. P. 51). 1 O termo World Wide Web (WWW) foi criado em 1989 por Timothy John Berners-‐Lee, físico britânico, cientista da computação e professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Com apoio de Robert Cailliau e um jovem estudante do CERN programaram a primeira comunicação com sucesso entre um cliente HTTP e o servidor através da internet.
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Coutinho e Júnior (2007) apontam a existência de distintas características na
apresentação destas tecnologias, conforme Quadro 1 contendo as diferenças.
Quadro 1: Diferenças entre Web 1.0 e web 2.0 Web 1.0 Web 2.0
Utilizador é consumidor da informação
Dificuldades inerentes à programação e a aquisição de software específico para criação de páginas da web
Para ter um espaço na rede, na maioria dos servidores, é preciso pagar
Menor número de ferramentas e possibilidades
Utilizador é consumidor e produtor da informação
Facilidade de criação e edição de páginas online
O utilizador tem vários servidores para disponibilizar suas páginas de forma gratuita
Número de ferramentas e possibilidades ilimitadas
Fonte: LEITE, B. S.. Tecnologias no ensino de Química: teoria e prática na formação docente. 1. ed. Curitiba: Appris, 2015. 365p
A Web 2.0 passa a ser designada como segunda geração de comunidades e
serviços que potencializam processos comunicativos, permitindo a livre criação e
organização das informações com a mediação do computador. De Clercq (2009)
define a Web 2.0 e sua aplicação na área educativa como:
A Web 2.o é uma nova geração de serviços e aplicações da Web na rede que facilitam a publicação, o compartilhamento e a difusão de conteúdos digitais, que fomentam a colaboração e a interação na rede e que oferecem uns instrumentos que facilitam a busca e a organização na rede (DE CLERCQ, 2009, p. 31).
Neste cenário, nasce a rede Facebook com origem vinculada ao surgimento do
Facemash, um sistema criado em outubro de 2003 por Mark Zuckerberg, estudante da
Universidade de Harvard, e por seus colegas Andrew McCollum, Chris Hughes e Dustin
Moskovitz. A rede social TheFacebook foi criada, em fevereiro de 2004, pelo
americano Mark Zuckerberg, a qual permitia aos estudantes da Universidade Harvard
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usar a internet da instituição para que criassem perfis básicos com informações
pessoais e fotos, estabelecer relacionamentos, promover discussões pautadas em
políticas, conforme Figura 01 mostrando Layout inicial da página.
Figura 1: Layout inicial da rede TheFacebook
Em 2012, este espaço virtual atingiu a marca de um de bilhão de acessos no
âmbito mundial, tendo no Brasil a quantidade que ultrapassa 36 milhões de usuários,
sendo constituída por pessoas físicas e jurídicas, tais como: empresas comerciais,
prestação de serviços, instituições de ensino dentre outras.
As redes sociais são ciberespaços que fornecem uma nova forma de
organização da sociedade, podendo contribuir de forma significativa nos múltiplos
processos cognitivos à aquisição de aprendizagem capaz de promover a comunicação
de ideias, compartilhamento de conteúdos, auxiliando os alunos a explicitarem suas
Fonte: Reportagem do portal Terra “ Facebook completa 10 anos: conheça a história da rede social” (https://www.terra.com.br/)
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dúvidas e reflexões assincronamente a qualquer momento sem a necessidade de
encontros presenciais. De acordo com Leite (2015):
Com acesso a comunidades de pesquisa on-‐line, os alunos são capazes de ganhar um sentido mais profundo de uma disciplina como uma “cultura” especial moldada por formas específicas de ver e interpretar o mundo. Aprender torna-‐se tanto social como cognitivo, tanto concreto quanto abstrato, e torna-‐se interligadas com o julgamento e exploração, assim como é em um ambiente de trabalho real (LEITE, 2015, p.134).
Para este autor, a interação nesta rede Facebook surge essencialmente pelos
compartilhamentos, pelos comentários, pela participação em grupos ou pelo uso de
aplicações e jogos usados de forma intensiva entre estudantes, o qual pontua
pressupostos desse espaço virtual no ensino:
§ Colabora para coesão de grupos de trabalhos; § Incentiva a melhoria da aprendizagem por propiciar o pensamento critico e
reflexivo;
§ Contribui para aumentar a participação e o engajamento dos alunos com os
conteúdos estudados; § Favorece a integração, a colaboração, a interação e a participação de todos os atores sociais no sistema didático;
§ Promove uma comunicação entre docente e estudantes, facilitando processo de
aprendizagem pela flexibilidade de tempo e espaço, dentre outros.
A noção de aprendizagem colaborativa num ambiente educacional é resultante
de um processo de interação entre grupos, cuja aquisição de conhecimentos,
habilidades ou atitudes podem emergir das experiências individuais que são
compartilhadas pelas informações transmitidas, de modo que sejam interpretadas
pelos participantes envolvidos na ação didática.
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A aprendizagem colaborativa emerge de uma ação didática, cujo trabalho do
professor é delineado com os alunos e não sobre eles, lembrando que os educandos
assumem crescente responsabilidade de sujeitos da construção ou reconstrução de
conhecimentos neste processo contínuo de aprendizagem. De acordo com Freire
(2002, p.12), "ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para
sua produção ou a sua construção".
A interação social em ambientes virtuais mediada pela tecnologia, com ênfase
no trabalho colaborativo, torna-‐se um dos eixos norteadores no processo da
aprendizagem do aluno em situações de ensino, que convém refletir, procurar
respostas, formular soluções relativas à construção de uma práxis pedagógica
significativa. De acordo com Cavalcanti (2014):
As ferramentas comunicacionais de um ambiente virtual promovem processos de dialogicidade desencadeado pela proposição de atividades de estudos elaboradas pelo professor, buscando envolver o discente na busca de estratégias sobre a aprendizagem dos conhecimentos teóricos, o domínio e a construção do objeto de estudo (CAVALCANTI, 2014, p.170).
Valente (2009) afirma que na interação com pessoas sempre há possibilidades
de uma alteração comportamental em função da forma que se efetiva a interpretação
desta informação pelo outro, destacando que o conceito de zona de desenvolvimento
proximal (ZDP), de Vygostky, auxilia no entendimento do processo de efetividade
educacional desta interação entre pessoas e na diferenciação entre um dado e uma
informação.
Neste modelo didático, percebem-‐se mudanças de foco na abordagem dos
conteúdos com a possibilidade de “se desenvolver aprendizagens numa comunicação
interativa e colaborativa. Esta condução diferenciada enfatiza uma postura mais ativa
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e autônoma dos alunos, não exercendo mais o papel passivo e de mero expectador no
processo educativo” (CAVALCANTI, 2014, p.165).
2. Delineamento do estudo
A dinâmica deste trabalho constitui-‐se num recorte de uma pesquisa-‐ação que
está sendo desenvolvida na Iniciação Científica com discentes de Cursos Técnicos
integrados ao Ensino Médio, oferecidos pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Pernambuco – IFPE/Campus Recife, e licenciandos do Curso de
Expressão Gráfica da UFPE (2017.1), na rede social Facebook “Matemática é Linda”. O
objetivo deste estudo é analisar a contribuição da ferramenta Facebook como um
espaço de aprendizagem digital que propicie instigar e suscitar a concretização de
transformações significativas nos processos educacionais em função da célere
evolução das tecnologias.
Este estudo preliminar está sendo alicerçado nas teorias da formação inicial
docente, nas pesquisas desenvolvidas por Almeida (2000), Prado (2003) e Cavalcanti
(2014) que realizaram análise-‐interpretativa dos registros textuais abrangendo as
ações de formação inicial e continuada de professores nos ambientes virtuais do
TelEduc e plataforma Moodle, se destacando os três eixos temáticos:
§ Recursos tecnológicos na prática docente (RT);
§ Interação no processo educativo (IP);
§ Aprendizagem matemática mediada pela tecnologia (AM).
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Convém salientar que para efeitos deste estudo será apresentada uma análise
interpretativa dos extratos textuais presentes na interface Facebook.
3. Análise do Estudo
Nesse sentido, fez-‐se um recorte deste estudo nesta interface de edição
colaborativa que envolveu 13 tópicos dos conteúdos matemáticos abordados na
página do Facebook “Matemática é Linda” e que geraram 93 postagens e 95 registros
textuais das reflexões concernentes dos recursos tecnológicos de vídeos e ilustrações
nos momentos de aprendizagem conforme gráfico 1, mostrando o mapeamento dos
conteúdos das disciplinas Matemática III e Matemática IV, nas turmas de Eletrônica,
Eletrotécnica de 2017.1 e 2017.2.
Gráfico 1: Mapeamento dos conteúdos matemáticos no Facebook “Matemática é Linda”
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Com relação aos conteúdos abordados neste ambiente virtual, os dados mostram que os conteúdos da área de Geometria correspondem a 76,3% das postagens inseridas nesta rede, estando compatível com o assunto abordado deste componente curricular da formação geral no processo de construção de novos aprendizados.
3.1. Os recursos tecnológicos postados na interface do Facebook
Nesta interface, foram disponibilizadas postagens com textos e ilustrações,
vídeos, aplicativos de animação (GIFs) que fomentaram as discussões na mediação do
processo de aprendizagem, objetivando a interação de conteúdos matemáticos e
material didático para socialização e difusão do conhecimento, conforme Quadro 2
contendo número de participação e comentários desses aplicativos tecnológicos.
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Quadro 2: Recursos tecnológicos utilizados no grupo
Os recursos dos vídeos conseguem mesclar conteúdo, áudio e imagem em
situações de ensino, tornando-‐se grandes aliados no processo educativo por favorecer
formas de sensibilização constituídas de linguagens que se interagem e promovem a
motivação e a participação mais efetiva dos alunos, visando aprofundar discussões no
grupo de estudo frente à abordagem de temas específicos condizentes com os
objetivos que se espera atingir nas unidades didáticas.
Observa-‐se que os 13 vídeos publicados apresentaram 253 reações com
emocion “Curtir”, gerando um total de 95 registros textuais neste espaço virtual,
Fonte: Dados coletados no grupo do Facebook “Matemática é lInda”, em setembro de 2017
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equivalente a um percentual de 37,5 % desses participantes”. A utilização de vídeos,
arquivos de animação e gravações nas publicações do grupo de estudo “Matemática é
Linda” dão indícios de que esta interface auxilia nas abordagens diferenciadas de
conteúdos, permitindo explorar situações de ensino na busca de relações,
propriedades e regularidades processo de aprender a aprender como mostra Figura 2
contendo o vídeo sobre o número de ouro.
Figura 2: Ilustração de cena do vídeo “ Os números refletem a perfeição da vida”
Foto: Facebook “Matemática é lInda”, em setembro de 2017
Esta imagem do vídeo traz a espiral áurea e sua relação na construção do
retângulo áureo. Nessa abordagem didática do número áureo, percebe-‐se que,
quando um conceito é apresentado atrelado a uma imagem, desperta o interesse no
educando para entendimento de processos implícitos na construção deste conceito
matemático que envolveu as representações algébricas e geométricas.
No tocante a especificidade desses conteúdos postados, eles exploraram
propriedades matemáticas, aspectos históricos relacionados ao contexto de origem
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dos conhecimentos, suas aplicações nas abordagens didáticas de modo mais simples à
compreensão de fatos complexos nos conteúdos específicos neste campo do
conhecimento.
De fato, observa-‐se que esse recurso tecnológico promove a interação entre o
aluno e o conhecimento matemático, pois as imagens complementam a informação
escrita. O recurso do vídeo pode ser expresso pela equação:
Vídeo = Imagem + Áudio + Conteúdo.
Os registros textuais dos alunos nos comentários 1 e 2 revelam a importância
de processos de dialogicidade entre os professores e estudantes nesta ação didática,
pois suscitaram reflexões compartilhadas na dimensão individual e na coletiva,
favorecendo o desenvolvimento de novas competências a construção de novos
conhecimentos.
Com intuito de verificar a eficácia desse espaço virtual como ferramenta
didática para auxiliar e explorar processos de ensino e aprendizagem de conteúdos
matemáticos, foi inserida nesse grupo uma enquete constituída por 9 (nove)
perguntas, da qual mostraremos o gráfico 2, contendo a síntese das respostas da
oitava questão.
Aluno 1: Achei muito interessante o número áureo e a sequência de Fibonacci por sua importância tanto nas obras de arte daquela época, quanto pro avanço que Fibonacci com suas descobertas trouxe pra as ciências exatas daquele tempo e que podem ser usados ainda hj !!! Achei incrível !!!
Aluno 2: Incrível como o número áureo está em tudo. Após ver o vídeo, dei uma pesquisada melhor e vi que ate grandes pintores (Leonardo da Vinci) usou proporções áureas. Impressionante!
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Gráfico 2: Síntese das respostas da oitava questão no grupo “Matemática é lInda”
Referente ao processo de ensino e aprendizagem, a interface do Facebook
possibilitou a aplicação de dispositivos tecnológicos didáticos e de métodos favoráveis
à diversificação de formas de ensinar e aprender, a interação entre os pares, a troca de
ideias com compartilhamentos da explicitação de estratégias e argumentos que
justifiquem o raciocínio das atividades propostas. Comprovando que esta ferramenta
pode desencadear avanços cognitivos à compreensão dos conteúdos tratados de
geometria espacial, geometria plana, geometria analítica vislumbrando a
consolidação dos conceitos matemáticos na formação geral do Ensino Médio.
4. Considerações Finais
Por conseguinte, embora sejam observáveis os resultados positivos do processo
ensino aprendizagem facultados pelo grupo “A Matemática é Linda”, criado na rede
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social Facebook como ferramenta tecnológica de alcance popular e mundial, ainda
existe o preconceito de profissionais docentes frente ao potencial pedagógico dessa
ferramenta computacional.
Cumpre aos educadores e educadoras refletirem sobre as mudanças de ordem
cultural, social, axiológica e outras mais que ampliam os meios para construção de
conhecimentos sistemáticos anteriormente ensinados tão somente nos espaços
escolares, bem como considerar e, até certo ponto, tentar atualizar-‐se frente às
mudanças significativas proporcionadas pelas mídias digitais. Certamente essas mídias
são capazes de tornar o processo ensino-‐aprendizagem ainda mais dinâmico e
prazeroso, além de favorecer a socialização das estratégias pedagógicas para uma
melhor qualidade da prática docente.
O professor que se reconhece como protagonista de sua prática e usa as TDIC de modo crítico e criativo, voltando-‐se para aprendizagem significativa do aluno, coloca-‐se em sintonia com as linguagens e símbolos que fazem parte do mundo do aluno, respeita seu processo de aprendizagem e procura compreender seu universo de conhecimentos por meio de representações que os alunos fazem em um suporte tecnológico (ALMEIDA; VALENTE, 2011, p.33).
Neste contexto, a rede Facebook ainda configura-‐se num desafio no âmbito da
formação docente continuada para ampliação da sua utilização enquanto instrumento
didático a mais para reinvenção e ampliação dos processos ensino aprendizagem, de
modo a transcender os limites da sala de aula e as fronteiras do espaço escolar em
favor da (re) construção de conhecimentos.
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Referências Bibliográficas
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