Download - Existencialismo e Fenomenologia
COLÉGIO NOVO EVOLUÇÃO
TÉCNICO EM FARMÁCIA
EXISTENCIALISMO E FENOMENOLOGIA
Campinas, 2012
Trabalho desenvolvido para a disciplina de Psicologia.
Amanda, 03
Joyce, 13
Nicolas, 21
Patrícia, 22
Talitha, 32
TURMA B
Sumário1. Introdução.............................................................................................................01
2. Desenvolvimento...................................................................................................03
2.1. História..................................................................................................................03
2.2. Principais Autores..................................................................................................05
2.3. Principais Obras.....................................................................................................08
2.4. Campos de Aplicação.............................................................................................09
2.5. Conceitos e Citações..............................................................................................10
2.6. A Angústia e o Existencialismo...............................................................................13
2.7. Fenomenologia.....................................................................................................13
3. Conclusão..............................................................................................................14
4. Bibliografia............................................................................................................15
1. Introdução:
O Existencialismo foi, dentre todas as outras linhas de pensamento, a que
mais afetou e obteve mais impacto junto às artes e à literatura. Teve seu início
durante as primeiras décadas do século XX, todavia está presente nas
primeiras elucidações filosóficas – passando de Sócrates à Nietzsche. Por isso,
muitos dos filósofos considerados “existencialistas” não o foram de fato por
terem vivido num período muito anterior ao período da formação desta corrente
filosófica, e só são conhecidos assim por trazerem entre seus escritos alguns
conceitos que seriam posteriormente abordados e maior explanados pelo
Existencialismo.
Mais do que uma corrente filosófica, o Existencialismo é tido como um
movimento intelectual intimamente marcado pelas consequências de duas
guerras mundiais, legando à humanidade novos modos de escrita, de
comunicação e de inserção na sociedade. Isso se dê, talvez, pela tremenda
popularidade alcançada pelo Existencialismo junto ao público em geral no
período pós Segunda Guerra Mundial. “O existencialismo é mais do que uma
filosofia em moda (...), em sua essência mais geral, ele tem a ver com a
estrutura e a angústia do mundo moderno” (Levinás, Emmanuel 1994). Por ser
considerada uma filosofia “em moda”, grande parte das obras literárias,
políticas e filosóficas, foram classificadas como existencialistas – isso fez com
que o público em geral acreditasse que o existencialismo era, na verdade, um
modo de vida ou um estilo literário e não uma corrente de pensamento.
Os primeiros registros de neologismos tais como “existencial” e
“existencialismo” datam desde a metade do século XIX – para o termo
“existencial” – e mais de um século mais tarde – para o segundo termo. Um
dos principais precursores do pensamento existencialista foi o filósofo alemão
Friedrich Schelling (1775-1854), que em duas de suas obras (ver Schelling,
Friedrich 1809 e 1815) aborda temas que depois seriam abordados pelos
existencialistas, tais como o conceito da angústia e a vertigem que se apodera
do homem na experiência da liberdade como poder do bem e do mal. Esse
“ressurgimento” de tais conceitos pode ser atribuído à comoção causada pelo
período entre guerras, onde o sentido da tragédia e da brevidade da vida
podem ter suscitado na angústia – tão abordada por essa corrente. O início
desta linha de pensamento “estourou” em países germânicos e eslavos em
meados das décadas de 1930-1950. Pode-se atribuir isso às novas inflexões
exigidas de filósofos e escritores para a questão de uma liberdade ainda a ser
conquistada.
Desde o início ficou-se subtendido que as descrições da existência
humana não poderiam ser reunidas sob uma única alcunha – “existencialismo”
– e por isso, a nova linha de pensamento foi descrita por Jaspers como “a
morte da filosofia da existência” (Jaspers, Karl 1937) – por tentar “diminuir” a
existência sob uma única visão, sendo assim incapaz de designar algo de
preciso, ou de relevante, nos campos da teoria do conhecimento, do
pensamento moral ou político, da filosofia da arte, da cultura ou da religião. Tal
afirmativa, no entanto, não passa de mera especulação; todavia, é preciso
ressaltar que esta mesma afirmativa confirma o fato de que nenhum dos
autores existencialistas reivindicou duradouramente e sem reticências essa
qualificação. Sartre foi um dos poucos que ousou declarar, em sua conferência
O Existencialismo é um Humanismo, que era importante refutar os que viam no
existencialismo apenas pessimismo, ignomínia e desconhecimento das
“belezas alegres, do lado luminoso da existência humana” (Sartre, Jean-Paul
1946), sendo apoiado principalmente por Simone de Beauvoir. Nesta
conferência, Sartre descrevia o humanismo existencialista como o antídoto às
espécies e subespécies de humanismo – e isto já estava presente nas sátiras
feitas no romance A Náusea de 1938. Entrementes, Sartre em 1975 declararia
que não mais gostaria de receber a alcunha de existencialista.
Quanto ao fato de haverem resquícios do Existencialismo em períodos que
o precederam, pode-se alegar que nenhum filósofo deixou de abordar o
homem em sua essência e existência, “todavia, se levarmos em conta as
questões filosóficas de uma problemática coerente quanto à idade e às
conotações dos conceitos, convém, no caso do existencialismo, atermo-nos ao
pensamento moderno e contemporâneo dito pós-idealista à época que sucedeu
à construção dos grandes sistemas alemães do idealismo especulativo”
(Colette, Jacques 2009).
2. Desenvolvimento
2.1História:
Com as duas grandes guerras mundiais, toda a humanidade ficou
negativamente abalada, inclusive no que diz respeito à confiança que a
humanidade mantinha em si mesma. Entre uma guerra e outra, a raça humana
viu seus valores éticos, morais, cultuais e sociais serem obliterados por outros
homens. Além disso, neste período, as guerras mostraram o vazio que
permeava os sistemas filosóficos aceitos até então como o idealismo e o
positivismo – que eram um tanto limitados no tocante a compreensão de
aspectos fundamentais da existência humana e do mundo. Diante de tal
impasse, percebeu-se a urgência de que se houvesse uma renovação na
filosofia – era preciso que se criasse uma corrente filosófica cujo principal tema
de estudo fosse o homem e sua existência no meio em que vive. Assim surgiu
o Existencialismo, e, através dele uma nova maneira de ver e interpretar o
sentido da existência humana.
Considerado o pensamento mais radical da filosofia contemporânea, o
Existencialismo surgiu no início do século XX com o pensador dinamarquês
Kierkegaard, alcançando seu apogeu com Heidegger e Sartre. Todavia, muitos
dos conceitos que seriam objeto de estudo desta nova corrente, foram antes
abordados por filósofos que variam desde Sócrates até Nietzsche. A corrente
existencialista assimilou ainda uma influencia da fenomenologia de Husserl –
que propunha a descrição dos fenômenos tais como eles são, sem que haja
qualquer pressuposto de como eles são na verdade. Assim, para o
Existencialismo, a fenomenologia de Husserl significou um interesse novo no
fenômeno da consciência.
Culturalmente, podemos identificar pelo menos duas linhas de pensamento
existencialista: Alemã-Dinamarquesa – marcada pelas presenças de Heidegger
e Kierkegaard – e Anglo-Francesa – marcada, principalmente por Sartre. As
culturas judaica e russa também contribuíram para esta filosofia. Além da
fenomenologia de Husserl, o Existencialismo sofreu ainda influencias – direta
ou indiretamente – das obras de Schopenhauer e Dostoiévski.
Existem basicamente duas vertentes de Existencialismo, a ateia – formada
pela maioria dos existencialistas – e a cristã, formada por, entre outros,
Kierkegaard. Além disso, grande parte da influencia que esta corrente de
pensamento sofreu, foi de autores religiosos: Pascal era católico, Kierkegaard,
um protestante radical marcado pelo ríspido antagonismo com a igreja luterana.
Dostoiévski era Greco-ortodoxo, a ponto de ser fanático. Kafka era judeu.
Sartre, ao contrário do que muitos pensam, nem sempre fora ateu – o que o
afastou de Deus, foram as atrocidades cometidas durante a segunda guerra.
A corrente existencialista ocupa-se, acima de qualquer coisa, do estudo do
homem em seu ambiente natural, tendo em conta a realidade concreta da
pessoa humana, nas suas ânsias e exigências internas, chamando a atenção
para tais inquietações e para aquilo que poderá apaziguá-las; e tem como
principais características, o método fenomenológico e a subjetividade –
justamente porque ela é o caráter essencial da existência. Assim sendo, pode-
se dizer que o Existencialismo é uma doutrina ético-filosófica e literária que
destaca a liberdade individual, a responsabilidade e a subjetividade do ser
humano. O existencialismo considera cada homem como um ser único que é
mestre dos seus atos e do seu destino – e isso explica o forte “teor” ateísta
dessa escola filosófica.
Pode-se destacar no estudo do Existencialismo, a constante e interminável
procura do homem por sua essência – algo que seja um complemento para sua
vida trazendo a ela algum sentido. Nesse caminho, o homem pode acabar
procurando a liberdade e dando a ela uma importância diferenciada devido ao
poder de escolha – livre arbítrio – que ela representa. Este poder de escolha
acaba gerando no ser humano, segundo os existencialistas, o que se chama de
angústia, tema que será posteriormente abordado.
Logo, em síntese ao que foi dito, o Existencialismo foi uma corrente de
pensamento criada no período em que as grandes guerras estavam em voga, e
que sofreu grande influencia da Fenomenologia alemã. Tem como principal
tema o homem em seu ambiente e sua eterna busca por si mesmo, essa busca
é marcada pela descoberta de que somente o homem é responsável por seus
próprios atos; tal descoberta causa a tão falada angústia.
2.2 Principais Autores:
De todos os autores existencialistas, três serão objeto de estudo:
Kierkegaard, Heidegger e Sartre.
a) Soren Aabye Kierkegaard nasceu em 1831 e viveu até o ano de 1855 na
Dinamarca. Apesar de não pertencer, em termos de tempo, ao
Existencialismo, é considerado o pai desta corrente filosófica. Até então,
o que era considerado realidade, era o determinismo de Hegel – que
dizia que “tudo está logicamente predeterminado para acontecer” – e,
por consequência, o pensamento de Aristóteles. Kierkegaard, porém, foi
contra esta visão de mundo, rejeitando assim, a filosofia hegeliana,
sustentando a importância absoluta do individuo em suas escolhas
lógicas ou não.
Kierkegaard contribuiu com a ideia original do existencialismo de
que “não existe qualquer predeterminação com respeito ao homem”, e
que “esta indeterminação e liberdade levam o homem a uma
permanente angústia”.
Segundo Hegel, “tudo está predeterminado, incluindo as ações
humanas”; Kierkegaard vai contra isso e diz que o homem tem várias
opções disponíveis, sendo assim, inteiramente livre.
A liberdade, segundo Kierkegaard, gera no homem a angústia que
pode levá-lo, de várias formas, ao desespero. Então, cada decisão é um
risco, o que deixa a pessoa mergulhada na incerteza, pressionada por
uma decisão que se torna angustiante.
Segundo o existencialismo kierkegaardiano, a vida sempre nos
coloca diante de escolhas a serem tomadas – e daí vem a causa da
permanente angústia do homem. Além disso, Kierkegaard demonstrava
uma preocupação máxima com o estado de espírito – o estado
psicológico – daquele que sofre da angústia.
Sendo assim, Kierkegaard, embora não inserido no contexto
histórico-filosófico do Existencialismo, tornou-se o pai da corrente por
dar uma definição de angústia que seria, posteriormente, estudada por
filósofos existencialistas.
b) Martin Heidegeer nasceu em 1889 e viveu até o ano de 1976 na
Alemanha. Autodeclarado como um investigador da natureza do ser,
Heidegger contribuiu com seu pensamento sobre o ser e a existência – e
dai surgiu o termo Existencialismo.
A angústia tem, para ele, origem diversa da liberdade: segundo
Heidegger, “a angústia resulta da falta da certeza da base da existência
humana”. Assim sendo, a existência do homem não passa de algo
temporário, com o homem pairando entre o nascimento e a morte – que
ele não pode evitar. A vida humana, segundo ele, está entre o passado,
em suas experiências, e o futuro, sobre o qual ele não tem controle, e
onde seu projeto será sempre incompleto diante da morte inevitável.
A grande ironia presente na filosofia existencialista-ateísta é a de
que o homem luta por construir um futuro, e vê-se impotente diante da
morte – e isso é a causa da angústia.
Heidegger define o homem como um ser de vontade, que pode ser
autônomo em sua vida – graças à liberdade da qual é investido. Assim
sendo, o ser humano não pode ser definido com meros argumentos.
Heidegger diz que, o erro da filosofia, fora nunca achar o que é o ser – e
isso porque o homem deve ser entendido e estudado de forma
independente, livre de suas relações étnico-culturais. Logo, o homem
dever ser compreendido a partir da forma como muda o seu meio, ou
seja, como ele modifica a situação a sua volta.
“A obra de Heidegger se desdobra inteiramente entre duas datas e
dois títulos: Ser e tempo (1927) e Tempo e ser (1962)” (Colette, Jaques
2009). Dentre os dois, o primeiro livro é como um divisor de águas, que
abre caminho para que se trate do segundo. Como em Kierkegaard a
discussão do conceito hegeliano do tempo volta à tona – e tal conceito é
novamente refutado. Criador do conceito do Dasein (ser-no-mundo),
Heidegger e seu pensamento não só se distinguem da concepção
hegeliana de tempo, mas é guiada “em sentido contrário” (Heidegger,
1927).
c) Jean-Paul Sartre nasceu em 1905 e viveu até o ano de 1980 na França. É considerado o pai do existencialismo francês. Para Sartre, a ideia central de todo o pensamento existencialista é que a existência precede a essência. Jean-Paul foi, dentre os Existencialistas ateus, o que fez críticas mais severas a Deus e à religião; entre tais críticas – ou, melhor dizendo, pontos de vista – é a de que não existe nenhum Deus que tenha planejado o homem e, portanto, não existe nenhuma natureza humana estável a qual o homem deva respeitar ou seguir. Assim sendo, pode-se concluir que, para Sartre, o homem está totalmente livre, sendo assim, é o único responsável pelo que faz de si mesmo – e aqui, Sartre e Kierkegaard se assemelham muito. E, quando fala da liberdade e responsabilidade humana, Sartre nos diz que esta mesma liberdade e responsabilidade são as causadoras da angústia. Sartre, ao contrário de seus precedentes, leva o indeterminismo às mais radicais consequências. Logo, Sartre seria, dentre os existencialistas, o que mais se opõe ao determinismo hegeliano. Por não haver qualquer Deus, não há qualquer plano divino que determina o que deve acontecer – logo o determinismo inexiste. O homem é livre, não podendo assim desculpar suas ações apoiado em forças ou circunstâncias, ou ainda, sendo movido pela paixão ou determinismo. Ao lado de Heidegger, Sartre foi o principal filósofo do Existencialismo. Sendo que, ambos foram fortemente influenciados pela fenomenologia husserliana, desenvolvendo a partir daí um método fenomenológico como a base de suas respectivas posições idealistas e filosóficas. Além disso, Sartre foi o maior difusor de ideias deste movimento e o líder da corrente ateísta. “O pensamento de Sartre, contido em seus romances, peças de teatro e em escritos filosóficos influenciou fortemente os intelectuais franceses, entre eles Gabriel Marcel, que desenvolveu sua filosofia no âmbito do catolicismo romano, tornando-se um expoente do existencialismo cristão”. Sua principal obra para o existencialismo foi o livro O Ser e o Nada de 1943, que é tido como um marco para o início do Existencialismo francês. Seu principal objetivo é definir a consciência como algo transcendente. Esta obra foi muito influenciada por Heidegger em seu livro Ser e Tempo. Em resumo, pode-se dizer a filosofia de Sartre dizia que no caso humano a existência precede a essência, pois o homem primeiro existe, depois se define, enquanto todas as outras coisas são o que são, sem se definir, e por isso sem ter uma "essência" posterior à existência.
2.3Principais Obras: A) Kierkegaard:
O Conceito de Angústia (1844): Begrebet Angest em dinamarquês; para Kierkegaard a ansiedade/angústia é um medo fora de foco, disperso¹.
O Desespero Humano (1849): Sygdommen til Døden em dinamarquês, literalmente "A Doença até à Morte"; trata o conceito de desespero de Kierkegaard, equiparado ao conceito cristão de pecado. Muitos dos termos utilizados nesta obra mostram uma conexão inegável com os conceitos utilizados mais tarde por Freud².
Prática do Cristianismo (1850): Nele, o filósofo explora a sua concepção do indivíduo religioso, a necessidade de imitar Cristo de modo a alguém se tornar num verdadeiro cristão, e a possiblidade da ofensa quando em face do paradoxo da encarnação³.
B) Heidegger: Ser e Tempo (1927): Sein und Zeit em alemão; seu principal
propósito é a elaboração concreta sobre a questão do sentido do ser¹.
Da Essência ao Fundamento (1929): Von Essenz des Klagegrundes em alemão; parte da análise do princípio da razão suficiente².
Da Pergunta Sobre o Ser (1956): Die Frage Nach Dem Sein em alemão.
C) Sartre: A Náusea (1938): La Nausée em francês; é um romance filosófico
escrito a partir de anotações feitas por Sartre que Simone de Bevoir aconselhou que virasse um romance.
O Ser e o Nada (1943): L'être et le Néant: Essai d'ontologie phénoménologique em francês ; é tido como o marco de início do Existencialismo francês.
O Existencialismo é um Humanismo (1946): L’existentialisme est un Humanisme em francês; é um ensaio filosófico derivado de uma conferência feita por Sartre em Paris em 1946 para explicar sua doutrina e também defendê-la de algumas acusações¹.
2.4Campos de Aplicação: Psicoterapia Existencial:
A psicologia existencial é a psicologia da existência com toda sua complexidade e paradoxos (Wong, 2004), considerando que a existência humana envolve pessoas reais em situações concretas. Sua finalidade é introduzir os fundamentos da psicologia existencial nos quais se assentam diferentes propostas de psicoterapia existencial, fazendo uma revisão sobre o que caracteriza a existência individual (do paciente) e como se caracteriza o confronto do indivíduo com os dados da existência, procurando situar o perturbar-se mentalmente como uma possibilidade de existir.
Terapia Gestalt: A Terapia Gestalt tem por objetivo levar o indivíduo a restaurar o contato com os outros, com o mundo e, principalmente com o próprio eu interior: consigo mesmo. Este tipo de terapia acredita na capacidade do ser humano em se auto-realizar e de desenvolver seu potencial. A Terapia Gestalt é uma terapia focada no óbvio do aqui-agora. “A Gestalt-terapia parte de uma filosofia existencial que se volta para a prática, desenvolvendo, inter-relações educacionais e psicoterápicas. Assim, poderia se dizer que a Terapia Gestalt é um existencialismo fenomenológico aplicado. A diferença é de ênfase e não de postura ou de crença no ser humano, ou seja, o existencialismo é mais voltado para o pensamento, para a filosofia; a Gestalt é mais voltada para a aplicação, para a prática deste pensamento”. No mundo contemporâneo, o ser humano, cheio de crises e questionamentos existenciais, tem seus valores, crenças e modo de ser – individual e social – desrespeitados constantemente. Assim, o papel da Terapia Gestalt é o de restabelecer a autoconfiança do individuo e o seu modo de interagir com o mundo ao seu redor. E nisso se assemelha e é um dos campos de atuação/aplicação do Existencialismo.
2.5Conceitos e Citações: Dentre todas as correntes de pensamento já abordadas pela filosofia, a que mais se encaixa para o mundo e para o indivíduo contemporâneo é a corrente existencialista – e isso vai além de seu lugar na “linha do tempo” do raciocínio humano. Por abordar temas que assolam o homem atualmente, o Existencialismo está fortemente ligado à cultura e à formação da sociedade modernas, sendo que seus campos de estudos se estendem às mais diversas áreas da psicologia. Conceitos como liberdade, angústia, má-fé, absurdo com relação ao mundo e a vida, a dificuldade na relação com o outro, existência e essência, tempo e morte, são apenas alguns dos campos estudados por filósofos e pensadores existencialistas. Abaixo listamos alguns dos conceitos trabalhados por dois exponenciais do pensamento existencialista: Sartre e Heidegger.
A) Heidegger:A QUESTÃO DO SER: Para Heidegger o grande erro da filosofia foi nunca estudar o Ser como um todo, em sua plenitude, sempre o estudando em seus aspectos particulares, ou seja, a filosofia só estudava algumas partes do Ser. Em Ser e Tempo, Heidegger, a partir do método fenomenológico, elabora uma análise existencial do ser – sendo este o único processo possível, segundo ele, para que haja o esclarecimento e uma boa interpretação dos fenômenos da existência.
Segundo Heidegger (2005), “o ser não somente não pode ser definido, como também nunca se deixa determinar em seu sentido por outra coisa nem como outra coisa. O ser só pode ser determinado a partir do seu sentido como ele mesmo”. – Em outras palavras, o ser é autônomo, independente e indefinível, a menos que seja definido por ele mesmo. Para Heidegger, o ser nunca se manifesta de forma direta ou imediata, mas sim por meio de um ente – e este seria tudo aquilo de que falamos. Porém o único modo de termos acesso ao ser é através do ser humano, pois ele é um ente que pode ter relação singular com o seu Ser.
A QUESTÃO DA EXISTÊNCIA: Heidegger define como existência toda a amplidão das relações mútuas entre o ato de existir e o ser, e entre este e todos os entes a sua volta, e que dentre estes entes, o mais elevado, é o homem. Portanto, somente o homem existe, as outras coisas são, mas não existem. O homem é privilegiado, segundo Heidegger (2005), devido, “a aceitação do dom da existência que lhe entrega a responsabilidade e a tarefa de ser e assumir esse dom”. Heidegger afirma que o homem é sempre um ser-no-mundo, ou seja, está sempre envolvido em alguma situação com algo ou alguém. Porém, que ele não está preso à situação em que se encontra; mas sim, sempre aberto para tornar-se algo novo.
Graças à existência única e exclusiva do homem, este pode, segundo Heidegger, atingir a transcendência, que é o ato do ente se projetar para além do que é no mundo, sendo assim um ser dinâmico que pensa no futuro, se preocupa com o que acontece a sua volta, escolhe possibilidades, etc. E através desses atos, o homem transcende o que é a cada momento.
Outro fator que contribui para a existência é a temporalidade, que une a essência com a existência. Para Heidegger a situação existencial é inseparável da temporalidade; o homem só existe porque está essencialmente ligado ao tempo; sendo assim, a existência não passa de algo temporal. Heidegger afirmava que existir é o mesmo que temporalizar-se. Uma vez que o ser, enquanto presença / existência, é determinado pelo tempo; e que este é também determinado através de um ser.
Mais uma estrutura fundamental característica do ser é a morte, sendo esta a maior certeza do homem, pois o ser está sempre dentro desta possibilidade – de morrer. O homem é um ente que está no mundo para a morte. Contudo, paradoxalmente, só temos experiência com ela – com a morte – indiretamente, através da morte dos outros. Assim, a “noção” de morte é algo que é desenvolvido no ser humano com o passar do tempo. Heidegger afirma que a morte é uma possibilidade presente constantemente, e não distante. Para ele a vida humana só torna-se um todo por intermédio da morte. Existe ai um elo que liga o pensamento de Heidegger com o de Freud (segundo ouvido em aula no dia 27/04/12): os dois autores definem a morte como a única maneira de se conquistar a totalidade da vida, permitindo ao indivíduo encontrar aquilo que sempre procurou – segundo Freud – para que se torne completo.
B) Sartre:O ABSURDO DA VIDA: Este sentimento surge, segundo Sartre, quando o indivíduo confronta-se com a ideia da morte inevitável – e depois disto, o homem passa a se questionar sobre o sentido de sua vida já que está condenado ao nada.
A INEXISTÊNCIA DE DEUS: O maior legado deixado ao existencialismo de Sartre foi a tese da morte de Deus dada por Nietzsche. Os homens criaram Deus à sua imagem e semelhança, logo Ele não existe – então tudo é permitido. A criação do “Deus” não passa de uma ficção devendo sucumbir diante dos impulsos vitais. Assim sendo, a vida não é o plano de uma mente transcendente, que todos os homens deveriam cumprir: a vida é o que se faz dela.
A EXISTÊNCIA PRECEDE A ESSÊNCIA: Se a existência de deus é fictícia, não há nada a que se chame de ‘natureza humana’. Se não há deus, não há um plano preestabelecido a que se tenha que cumprir. Assim sendo, o homem age a partir de conceitos. Segundo Sartre, as coisas têm primeiro uma
essência e depois uma existência, por isso o homem é conduzido à ilusão de um deus criador – que foi feito à nossa imagem e semelhança – demasiado humano, segundo Nietzsche. Portanto, o homem começa por existir e só a medida que vai existindo é que vai se fazendo a si mesmo, o primeiro passo é ser, para depois ser isso ou aquilo. E com isso, Sartre nos diz que a verdadeira essência do homem só aparece no fim, e essa essência vai depender das escolhas feitas anteriormente pelo próprio homem – sendo ele aquilo que suas decisões o tornarem. Isso exige do Existencialismo uma defesa ao livre-arbítrio.
O CONCEITO DE MÁ-FÉ: O conceito de má-fé surge na obra de Sartre O Ser e o Nada e ganha uma relevância especial no contexto de uma filosofia que defende o livre-arbítrio.
A má-fé é um tipo de auto-ilusão – mas não no sentido de um erro, mas sim de uma mentira. Segundo Sartre, a auto-ilusão consiste em querer ocultar de si mesmo uma crença acerca da própria liberdade – em outras palavras, é fingir. Para o autor, “um ser-para-si não pode tornar-se um ser-em-si, a não ser pondo fim à sua própria existência” (Sartre, 1943). Sendo assim, a má-fé é uma maneira de fugir da realidade – e a responsabilidade pelos próprios atos. Sendo assim, agir com má-fé é passível de ser censurado, já que acarreta na negação dos atos.
O HOMEM ESTÁ CONDENADO A SER LIVRE: Se a vida não tem um sentido predeterminado, o indivíduo pode escolher seus próprios caminhos, tornando-se assim um ser condenado à liberdade. Assim sendo, nada obriga o homem a fazer escolhas, entretanto, ser livre significa que o próprio homem, e somente ele, é responsável pelas próprias escolhas. Para Sartre, o fato de o homem se refugiar numa suposta ordem divina, mostra a incapacidade de arcar com a responsabilidade de suas próprias decisões. E essa incapacidade de lidar com as consequências dos próprios atos e da liberdade inevitável e absoluta, está na origem da má-fé.
O CONCEITO DE ANGÚSTIA: Por ser inteiramente livre – e responsável pelas próprias ações – o homem sente angústia. Ser livre significa estar sozinho diante da indiferença do universo; e ser responsável compreende também o fato de que não há uma natureza humana, e ao fazer-se, o homem “cria” o humano. Esse sentimento de estrema liberdade e responsabilidade é a causa da angústia, que acompanha o homem por toda a vida.
O INFERNO SÃO OS OUTROS: Sendo a liberdade de um indivíduo algo inevitável, muitas vezes ela se confronta com o olhar do outro. O outro tende a olhar para o indivíduo como sendo uma natureza permanente, tendo estas ou aquelas características físicas e/ou psicológicas. Desse modo, o outro reduz o indivíduo a uma “coisa”, torna-o um objeto; portanto sua subjetividade é dificilmente compatível com a maneira com que o outro o vê.
2.6 A Angústia e o Existencialismo: Para o “criador” do conceito de angústia existencialista, Kierkegaard, este sentimento vinha pelo fato de que o ser humano não sabe da vontade de Deus; sendo assim, para ele, Deus permanecia em vigília durante toda a vida de um determinado indivíduo, para poder flagrá-lo em ato delituoso – ou suspeito – e isso causava a eterna angústia neste determinado ser: o medo de desagradar a Deus.
Depois disso Heidegger aboliu Deus do Existencialismo e disse que, na verdade, a angústia vinha dos dois vazios que circundavam a existência: nascimento e morte. A angústia, para Heidegger, é resultado da consciência da impotência do ser humano diante da morte.
E para Sartre o conceito de angústia é totalmente diverso daquele que seus predecessores atribuíram ao termo. Para Sartre, a angústia vinha do fato de o homem ser totalmente livre, tendo assim que arcar com o peso de seus atos. Segundo ele, ninguém, nem Deus, pode nos auxiliar a tomar nossas próprias decisões; e a única forma de “driblar” a angústia é agindo com má-fé, mentindo, não só para os outros como para si mesmo.
Assim, a única ideia que os três filósofos têm em comum sobre a angústia, é a de que sem ela, o ser humano não evoluiria nem psicologicamente, nem culturalmente, nem sociologicamente.
2.7Fenomenologia: Fenomenologia é, etimologicamente falando, o estudo do que se vê; tendo como objeto de estudo o próprio fenômeno, isso é, a coisa em si mesma e não o que é dito sobre ela. Assim sendo, a investigação fenomenológica busca a consciência do sujeito através da expressão de suas experiências internas. A fenomenologia busca a interpretação do mundo através da consciência do sujeito formulada com base em suas experiências.
A fenomenologia mostra o que é apresentado e esclarece esse fenômeno. Assim, um objeto é como a pessoa o percebe, e tudo tem que ser estudado como é para a pessoa, sem a interferência de qualquer regra de observação cabendo a abstração da realidade e perda de parte do que é real, já que, tendo como objeto de estudo o fenômeno em si, estuda-se, literalmente, o que se mostra. Para a fenomenologia, tudo – um objeto, uma recordação, uma sensação – tem que ser estudado tal como é para o espectador.
3. Conclusão: A partir da análise dos conceitos estudados, do conceito histórico e social dos filósofos existencialistas, pode-se concluir que esta corrente filosófica foi criada, principalmente, para preencher as angústias vividas pelas pessoas durante a fase pré-guerras, entre-guerras e pós-guerras. No início do século XX, que foi onde, historicamente, começou o Existencialismo, o mundo fervia por conta da guerra que assolava grande parte da Europa e, mais tardiamente, a América. Diante de tantas mortes e tragédias – como os genocídios que a Bélgica e a Armênia sofreram – que aconteciam a sua volta, foi um ato de profunda inteligência por parte dos filósofos e escritores fundar uma nova corrente filosófica que tinha como objeto de estudo o homem em todos os seus sentidos. Os dois exponenciais desta corrente foram o alemão Martin Heidegger e o francês Jean Paul Sartre, definindo conceitos como o da angústia e o do homem inserido no tempo que há entre o nascimento e a morte.
Assim, em minha opinião, pode-se dizer que o Existencialismo é uma escola filosófica muito relevante para ser estudada pelo homem moderno, já que esta apresenta teses que mais se aproximam do pensamento e do comportamento do homem contemporâneo – todavia isso não desmerece as demais escolas que vieram antes dessa e que, de uma ou de outra forma, acabaram influenciando na criação dos conceitos estudados à luz da visão existencialista.
Outro fato que aproxima o Existencialismo do homem contemporâneo é a incredulidade em “algo maior”, pregada por muitos dos filósofos existencialistas – entretanto, há correntes cristãs inseridas no Existencialismo – incredulidade esta que se iniciou com o fim da Segunda Guerra Mundial, quando Hitler dizimou grande parte dos judeus da Europa-Ocidental e o homem sentiu um grande desamparo – e porque não dizer uma grande decepção – com relação a aparente ausência de “Deus” e com as ações da própria raça humana. Com isso chegaram os existencialistas pregando que o homem, e somente ele, é o responsável por tudo aquilo que faz e escolhe para si e que, aliado a isso, o fato de que o homem sabe que está destinado a morrer gera uma profunda angústia em todo e qualquer indivíduo. Por saber que está total e irremediavelmente livre, gozando de seu constante livre-arbítrio, e que, portanto, é o único responsável por suas escolhas e pelo que faz destas escolhas, o homem apresenta um sentimento de angústia por ser livre e abandonado na grande vastidão do universo, já que pode não haver nenhum Ser Supremo que predestine e cuide de nossa existência.
O estudo desse sentimento de angústia é a base para a compreensão do Existencialismo – corrente ora ateia, ora cristã, mas que sempre visa compreender o sentido que permeia a existência humana dando o questionamento onde cada indivíduo busca seu próprio sentido.
Bibliografia Introdução:
Levinas, Emmanuel. Les imprévus de l’histoire. Montpellier: Fata Morgana, 1994; p.120;
Schelling, Friedrich – as obras de que se fala são: Investigações sobre a essência da liberdade humana, de 1809; e a obra póstuma As idades do mundo, de 1815;
Jaspers, Karl – trata-se de uma carta enviada à J. Wahl em 04 de dezembro de 1937, que está na obra Bulletin de la Société française de philosophie; p.196;
Sartre, Jean-Paul. L’existentialisme est un humanisme. Paris : Nagel, 1946 ; p.10 ; Colette, Jacques. Existencialismo. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2009; p.10.História:
http://meuartigo.brasilescola.com/filosofia/conceitos-existencialismo-vistos- martin-heidegger.htm;
http://pt.wikipedia.org/wiki/Existencialismo ; http://pt.scribd.com/doc/56837068/Existencialismo ; http://pt.scribd.com/doc/68396447/existencialismo ;
Principais Autores:
a) Kierkegaard:http://pt.scribd.com/doc/56837068/Existencialismo;
b) Heidegger:http://pt.scribd.com/doc/56837068/Existencialismo;Colette, Jacques. Existencialismo. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2009; p.94;Heidegger, Martin. Sein und Zeit (Ser e Tempo). Tübingen: Niemeyer, 2006 – 19ª edição; p.405.
c) Sartre:http://pt.scribd.com/doc/56837068/Existencialismo;
Principais Obras:
a) Kierkegaard:01: http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Conceito_de_Ang%C3%BAstia;02: http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Desespero_Humano;03: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%A1tica_do_Cristianismo.
b) Heidegger:01: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ser_e_tempo;02: http://www.almedina.net/catalog/product_info.php?products_id=4082.
c) Sartre:01:http://aprenderafilosofar.blogspot.com.br/2010/08/o-existencialismo-e-um-humanismo.html.
Campos de Aplicação:
a) Psicoterapia Existencial:Wong, P.T.P. (2004) Existential psychology for the 21 st century. International Journal of Existential Psychology & Psychotherapy, 1 (1), 1-2
b) Terapia Gestalt:01:http://gestaltemvoce.blogspot.com.br/2009/07/existencialismo-campo-de-atuacao-e.html.
Conceitos e Citações:
Heidegger, Martin. Ser e Tempo. Rio de Janeiro: Vozes, 2005 – 14ª edição; Sartre, Jean-Paul. L’être et le Néant, Paris, Gallimard, 1943. Sobre o conceito de má-fé ver também: Warburton, N., Grandes Livros de
Filosofia, Lisboa, Edições 70, 2001, pp. 212-215.
Angústia e Existencialismo: Texto de: Neves, Nicolas Ferreira – estudante e ex-pesquisador do Programa de
Iniciação Científica Júnior da Unicamp. Fenomenologia:
http://euniverso.com.br/Oque/fenomenologia.htm .