Evolução Estelar: Nascimento, vida e morte das estrelas
John R. Percy
International Astronomical Union
Universidad de Toronto, Canada
Evolução das estrelas
A evolução estelar refere-se às mudanças que ocorrem nas estrelas quando estas consomem seu combustível, desde o seu nascimento até à sua morte.
Compreender a evolução das estrelas ajudará a perceber:
* A natureza e o destino do Sol
* A origem do nosso Sistema Solar.
* A relação entre o Sistema Solar e outros sistemas planetários.
* A possível existência de vida em noutros lugares do Universo.
Nebulosa do Anel, uma estrela moribunda. Fonte: NASA
Propriedades do Sol: a estrela mais próxima e como os astrónomos as determinam - importante!
Distância: 1,5 x 1011 m, refletindo
ondas de radar desde Mercúrio e Vénus
Massa: 2 x 1030 kg, medindo o
movimento dos planetas que orbitam à volta do Sol
Diâmetro: 1,4 x 109 m, a partir do
diâmetro aparente (angular) do Sol e a sua distância
Potência: 4 x 1026 W, a partir da
distância e da potência medida na Terra
Composição química: 98% H e He,
estudando o seu espectro
O Sol Fonte: NASA, Satélite SOHO
Propriedades de estrelas – Sóis distantes e como os astrónomos as determinam - Importante!
Distância: da paralaxe, ou do
brilho aparente, se a potência for conhecida
Potência: distância e brilho
aparente
A temperatura da superfície:
a cor ou o espetro
Rádio: a potência e a
temperatura da superfície
Massa: nas estrelas binárias
Composição química: o
espetro
Constelação de Orion. Fonte: Museu Besser
Os espetros das estrelas luz da estrela, decomposta nos seus componentes
Os astrónomos aprendem sobre os objetos astronómicos através da luz que emitem
O espetro dá informações sobre: composição, temperatura, velocidades e outras propriedades das estrelas
À esquerda: os 13 primeiros espetros são de estrelas de diferentes temperaturas (as mais elevadas na parte superior), os 3 espetros do fundo são de estrelas com propriedades anormais
Espetros estelares Fonte: Obs. US National Optical Astronomy
A diagrama Hertzsprung-Russell Há ordem nas propriedades das estrelas!
A maioria das estrelas estão na sequência principal: estrelas de grande massa são estrelas quentes e com alta potência (em cima à esquerda), as de pequena massa são frias e tem baixa potência (em baixo à direita)
As estrelas gigantes estão em cima à direita, e as estrelas anãs brancas em baixo, à esquerda
Diagrama HR Fonte: NASA
O diagrama HR é um gráfico da temperatura de superfície (classe espectral) e a “magnitude absoluta", que é uma medida logarítmica da potência
Estrelas variáveis São estrelas que variam o seu
brilho.
A maioria das estrelas são variáveis: podem variar, porque pulsam, fulguram, entram em erupção ou explodem, ou são
eclipsadas por uma estrela companheira ou um planeta.
As estrelas variáveis dão informação sobre a natureza e a evolução estelar.
Curva de luz: um gráfico de luminosidade versus tempo.
Brillo
Tiempo
Estrelas binárias (duplas) e múltiplas
Podem ser observadas diretamente (figura à esquerda), ou detetadas pelos seus espetros, ou por eclipse de uma estrela com a outra
São a ferramenta mais importante para medir massas estelares
Estrelas múltiplas são três ou mais estrelas unidas pela gravidade
Movimento orbital de Mizar na Ursa Maior. Fonte: Grupo NPOI, USNO, NRL
São pares de estrelas que estão juntas devido à gravidade, e orbitam em torno umas das outras.
Enxames de estrelas “As experiências da natureza”
São grupos de estrelas que estão juntas devido à gravidade, e movem-se em conjunto através do espaço.
Formarem-se ao mesmo tempo (têm a mesma idade) , no mesmo lugar, do mesmo material, e estão à mesma distância de nós, só diferem na massa.
O enxame aberto das Plêiades. Fonte: Observatório Monte Wilson
De que feito o Sol e as estrelas
Com o uso da espetroscopia e outras técnicas, podemos identificar as "matérias-primas", de que são feitas as estrelas
Hidrogénio e Hélio são os mais abundantes. Foram criados na formação do universo
Os elementos mais pesados são milhões ou milhares de milhão de vezes menos abundantes. Foram criados por pelas reações nucleares nas estrelas
As proporções dos elementos do
Cosmos: a alpista H (90%), o
arroz He (8%), feijão C, N e O e
vestígios de tudo o resto (2%).
As leis da estrutura de uma estrela
No interior das estrelas a pressão aumenta com o peso das camadas superiores.
De acordo com as leis dos gases, a temperatura e a densidade aumentam quando a pressão aumenta.
O fluxo de energia faz-se da zona mais quente do interior para a zona exterior mais fria, por radiação (fotões), convecção (grânulos) ou condução (iões e eletrões).
Se a energia sair da estrela, esta esfria - a menos que se crie energia no interior.
As estrelas são regidos por essas leis simples e universais da física
Exemplo: Por que é que o Sol não colapsa ou contrai?
Encha um balão como o da esquerda.
O balão é “comprimido" para dentro pela pressão atmosférica. Não encolhe porque a pressão do gás está a "empurrar" para fora.
No Sol, a gravidade (que comprime para dentro) é equilibrada pela pressão de radiação (para fora).
A fonte de energia do Sol e das estrelas
Combustão química de gás, petróleo ou carvão? O processo é tão pouco eficiente que só daria energia ao Sol durante alguns milhares de anos
Contração gravitacional lenta? Poderia fornecer energia ao Sol durante cem milhões de anos, mas o Sol tem mil milhões de anos de idade.
Radioatividade (fissão nuclear)? Os isótopos radioativos são quase inexistentes no Sol e nas estrelas.
Fusão nuclear de elementos mais leves em outros mais
pesados?
Sim! Este é um processo muito eficiente, e os elementos leves, como o hidrogênio e o hélio representam 98% do Sol e das estrelas
A Cadeia Protão-Protão o processo principal de fusão no Sol
Em estrelas como o Sol, com elevada temperatura e densidade, os protões (a vermelho) vencem a repulsão eletrostática entre eles, e se juntam-se, para formar 2H (deutério) e um neutrino (ν).
Depois, outro protão junta-se ao deutério para formar o ³He.
Depois, o núcleo de ³He recebe outro protão y I para formar o hélio (4He).
Resultado: 4 protões juntam-se para formar hélio, energia - raios gama e energia cinética.
Ciclo protão-protão Fonte: Australia Nacional Telescope Facility
O ciclo Carbono-Nitrogénio-Oxigénio
Em estrelas de grande massa, com núcleos muito quentes, os protões ( a vermelho) juntam-se ao núcleo ¹²C (carbono) (em cima à esquerda).
Começa uma sequência circular de reações, em que quatro protões se fundem para formar um núcleo de Hélio (em cima à esquerda).
Recupera-se um núcleo de ¹²C, de modo que o ¹²C não é criado nem destruído, atua como um catalisador nuclear.
Ciclo CNO Fonte: Australia National Telescope Facility
Fazer “modelos” estelares As leis da estrutura de estrelas
são expressas em equações e resolvem-se com modelos informáticos.
O computador calcula a temperatura, a densidade, a pressão, e a potência em cada ponto do Sol ou da estrela.
Assim, nós sabemos que no centro do Sol a densidade é 150 vezes a densidade da água e a temperatura é 15.000.000K!
No interior do Sol Com base num "modelo" do Sol feito com computador
No núcleo quente, as reações nucleares produzem energia através da fusão de H para formar He.
Na zona de radiação, por cima do núcleo, a energia transmite-se para fora pelo processo de radiação.
Na zona de convecção, entre a zona de radiação e a superfície, a energia transmite-se para fora por convecção.
A fotosfera, na superfície, é a camada onde a estrela se torna transparente.
Modelo Solar Fonte: Instituto de Física Teórica, Universidade de Oslo
Teste do modelo: heliosismologia
O Sol oscila suavemente em milhares de modos (padrões). (Um delespode ver-se na figura à esquerda)
Podem ser observados e esta informação é usada para inferir a estrutura interna do Sol, e assim, avaliar os modelos. O processo é chamado de heliosismologia.
Oscilações semelhantes podem ser observadas noutras estrelas: astrosismologia.
Visão de Artista da oscilação solar. Fonte: US National Optical Astronomy Observatoty
Teste do modelo: Neutrinos solares
As reações de fusão nuclear produzem partículas elementares chamadas neutrinos.
Apenas têm massa, e raramente interagem com a matéria.
Só foram detetados e medidos graças a observatórios especiais, como o Observatório de Neutrinos de Sudbury (à esquerda). Os resultados estão de acordo com as previsões dos modelos. Observatorio de neutrinos, Sudbury
Fonte: Sudbury Neutrino Observatory
O tempo de vida das estrelas
As estrelas menos massivas que o Sol são mais comuns. Têm menos combustível e potências muito menores, portanto têm vidas mais longas.
As estrelas mais massivas do que o Sol são raras. Têm mais combustível, mas potências muito maiores, portanto vidas mais curtas.
O tempo de vida de uma estrela depende da sua quantidade de combustível nuclear (massa), e da rapidez com que o consomem (potência).
Como aprendem os astrónomos
sobre a evolução das estrelas Observando as estrelas em vários estágios de suas vidas,
e colocando-as numa sequência de evolução lógica.
Fazendo modelos, usando as leis da física, e a quantificação das alterações na composição das estrelas que ocorrem por causa da fusão nuclear.
Estudando enxames de estrelas - grupos de estrelas com massas diferentes, mas com a mesma idade.
Observando as fases rápidas e estranhas da evolução estelar como são as supernovas.
Estudando estrelas variáveis pulsantes , medindo as alterações lentas no período de pulsação, por causa da sua evolução.
A evolução de uma estrela como o Sol
Quando o combustível se esgota, expande-se e transforma-se numa estrela gigante vermelha.
O núcleo aquece o suficiente para rapidamente produzir energia através da fusão de hélio em carbono.
Quando seu combustível de He se esgota, expande novamente formando uma estrela gigante vermelha maior, centenas de vezes maior do que o Sol.
Comparação de tamanhos: Sol - gigante vermelha Fonte: Australia Nacional Telescope Facility
A estrela fica estável durante 90% da sua vida, enquanto gasta o seu combustível: H. É uma estrela da sequência principal.
A morte de uma estrela como o Sol
Quando a estrela se transforma numa gigante vermelha, começa a pulsar (vibrar). Como a estrela Mira.
A pulsação provoca a separação das camadas exteriores da estrela, dando origem a uma bonita nebulosa planetária.
O núcleo da estrela é uma anã densa, branca e pequena, sem combustível (anã branca)
Nebulosa planetária Helix. Fonte: NASA
Anãs brancas
Uma anã branca é o núcleo uma estrela como o Sol que morreu.
Tem uma massa semelhante à do Sol, um volume quase igual ao da Terra e um milhão de vezes mais densa do que a água.
A força centrípeta da gravidade é equilibrada pela pressão de degeneração eletrónica dentro dela.
Muitas estrelas próximas, p.e., Sirius (à esquerda), têm como companheiras anãs brancas.
A companheira anã branca de Sirius (por baixo). Fonte: NASA
A evolução de uma estrela massiva Estrelas massivas são raras, consomem o
seu combustível muito rapidamente, duram poucos milhões de anos.
Enquanto gastam o seu combustível, expandem e tornam-se estrelas supergigantes vermelhas.
Seus núcleos são muito quentes, o suficiente para fundir elementos mais
pesados até ao ferro.
Betelgeuse (à esquerda), em Orion, é uma supergigante vermelha brilhante. Tem uma dimensão maior do que a órbita da Terra. Betelgeuse.
Fonte: NASA/ESA/HST
A morte de uma estrela massiva
A gravidade esmaga o núcleo formando uma estrela de neutrões, liberando enormes quantidades de energia gravitacional, e levando a estrela à explosão de uma supernova (esquerda).
As supernovas produzem os elementos
químicos mais pesados do que o ferro (como ouro e prata), ejetando esses elementos para o espaço, onde se tornam parte de novas estrelas, planetas e vida.
A Nebulosa do Caranguejo, o remanescente da explosão de uma supernova observada em 1054 AD. Fonte: NASA
Quando o núcleo de uma estrela massiva decai no ferro, não tem mais combustível nuclear e não consegue manter a temperatura.
Estrelas de neutrões Os núcleos estelares com massas
entre cerca de 1,5 e 3 vezes a massa do Sol colapsam para se transformarem em estrelas de neutrões no final da vida.
Têm diâmetros de cerca de 10 km e densidades trilhões de vezes maiores que a da água.
São feitos de neutrões e partículas exóticas.
As estrelas de neutrões jovens giram rapidamente e emitem pulsos regulares de radiação de
rádio, chamam-se pulsares.
Pulsar, estrela de neutrões no coração da Nebulosa do Caranguejo. A energia de rotação que emite excita o gás da nebulosa. Fonte: NASA / ESA / Hubble
Buracos negros
Um buraco negro é um objeto astronómico cuja gravidade é tão grande que nada consegue escapar, nem mesmo a luz.
Os núcleos das raras estrelas massivas (mais de 30 vezes a massa do Sol) transformam-se em buracos negros quando ficam sem combustível.
Buracos negros podem ser detetados e "pesados" se uma estrela visível está a orbitar à sua volta (à esquerda).
Visão de artísta de Cygnus X-1, uma estrela visível (à esquerda) com um buraco negro (à direita) num disco de acreção. Fonte: NASA.
Estrelas variáveis cataclísmicas Muitos remanescentes estelares -
anãs brancas, estrelas de neutrões ou buracos negros - têm uma estrela normal visível, orbitando em em seu redor.
Se o gás da estrela normal, cai para o remanescente estelar, forma-se um disco de acreção em torno dela (à esquerda).
Quando o gás cai no remanescente estelar, este pode entrar em erupção ou explodir, formando uma estrela variável cataclísmica.
A estrela variável cataclísmica com uma estrela normal (à esquerda) e uma anã branca (à direita) num disco de acreção. Fonte: NASA
O nascimento das estrelas
As estrelas têm origem em nebulosas, nuvens de gás e poeira.
O gás e poeira interestelar constitui cerca de 10% da matéria na nossa galáxia.
As estrelas mais jovens estão geralmente perto da nebulosa da qual nasceram.
O exemplo mais próximo e perfeito de um "berçário estelar" é a Nebulosa de Orion (à esquerda), a cerca de 1500 anos-luz de distância.
A nebulosa de Orion. Fonte: NASA
Gás interestelar
O gás interestelar (átomos ou moléculas) pode ser excitado por luz ultravioleta de uma estrela quente próxima, produzindo uma nebulosa de emissão (à esquerda).
O gás frio, entre as estrelas, emite no rádio que pode ser detetado por radiotelescópios.
98% do gás interestelar é hidrogénio e hélio. A nebulosa de Orion. O gás é excitado pela
luz ultravioleta das estrelas na nebulosa. Fonte: NASA
Poeira interestelar A poeira interestelar perto de
estrelas brilhantes pode ser detetados na região do visível.
A poeira pode bloquear, por trás dela, a luz das estrelas e do gás (à esquerda). As estrelas formam-se dentro dessas nuvens.
Apenas 1% da matéria entre as estrelas é poeira. As partículas de poeira têm tamanho poucas centenas de nanómetros, e são, em sua maioria, constituidas por grafite ou silicatos.
M16, a Nebulosa da Águia Fonte: NASA / ESA / Hubble
Formação de estrelas
As estrelas têm origem em zonas das nebulosas chamados glóbulos que são densas ou comprimidas.
A gravidade faz contrair esses glóbulos.
A conservação do momento angular aumenta a rotação dos glóbulos, que achatam até se transformarem em discos.
As estrelas formam-se nos centros dos discos. Os planetas formam-se nas zonas exteriores, mais frias, do disco.
Visão de artísta de um sistema planetário No seu processo de formação. Fonte: NASA
Discos protoplanetários: Proplyds Os sistemas planetários no processo de formação
Os discos protoplanetários foram observados na Nebulosa de Orion (à esquerda).
A estrela apenas pode ser visível no centro do disco.
Os discos de poeira tapam a luz que está atrás.
Estas e outras observações fornecem evidências directas da formação de sistemas planetários.
Proplyds na nebulosa de Orion Fonte: NASA / ESA / Hubble
Exoplanetas = Planetas extrasolares Os planetas em torno de outras estrelas
Exoplanetas são geralmente descobertos e estudados pelo seu efeito gravitacional sobre a estrela, ou pela leve diminuição do brilho da estrela se passarem em frente dela (trânsito).
Muito poucos foram observados diretamente (à esquerda).
Ao contrário dos planetas do nosso sistema solar, muitos exoplanetas são enormes e muito perto de sua estrela. Isto força os astrónomos a modificar suas teorias de formação de sistemas planetários.
Sistema exoplanetário HR 8799 Fonte: C. Marois et al., NRC Canadá
Considerações Finais
"A gravidade leva à formação, vida e morte das estrelas" [Professor R.L. Bishop]
O nascimento de uma estrela explica a origem do nosso sistema solar e de outros sistemas planetários.
A vida das estrelas, explica a fonte de energia que torna possível a vida na Terra.
A vida e a morte das estrelas produzem elementos
químicos mais pesados que o hidrogénio, que constituem as estrelas, os planetas e a vida.
Com a morte de uma estrela, a gravidade produz alguns dos objetos mais estranhos no Universo: anãs brancas, estrelas de neutrões e buracos negros.