Download - Estudo Do Impacto Ambiental
Anderson Belarmino de Oliveira Silva
e
Carlos César Da Silva Araújo
O Estudo do Impacto Ambiental
Maceió, 21 Fevereiro de 2013.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
INSTITUTO DE GEOGRAFIA, DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE-IGDEMA
CURSO DE ENGENHARIA DE AGRIMENSURA
DISCIPLINA: Direito e Legislação do Engenheiro Agrimensor
O Estudo do Impacto Ambiental
Trabalho apresentado à
disciplina, Direito e Legislação do
Engenheiro Agrimensor como
requisito parcial à obtenção de
nota,soborientação do Professor.
Moezio de Vasconcellos Costa
Santos.
Maceió, fevereiro de 2013.
INTRODUÇÃO
Para compreendermos melhor o estudo do impacto ambiental, antes temos que falar sobre o meio
ambiente. Existe uma variedade enorme de conceitos de meio ambiente nas legislações estaduais do
Brasil e na Política Nacional do Meio Ambiente. O conceito é abrangente, sendo difícil o entendimento
completo do que vem a ser meio ambiente, mas a que determina com maior clareza os componentes que a
compõem é apresentada pela ABNT.
A figura abaixo apresenta o conceito formulado pela ABNT.
(1) – O meio físico condiciona, primeiramente, as características do meio biológico e
socioeconômico, através de fluxos de energia e matéria.
(2) e (3) – Os meios biológicos e sócios econômicos, por realimentação, completam a interação
com o meio físico, regulando seus processos (Fornasari Filho et al., 1992 apud Fornasari & Bit ar,
1995).
Portanto, meio ambiente é a interação entre os meios físicos, biológicos e socioeconômicos.
Segundo o Artigo 1° da Resolução n° 001/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), Impacto Ambiental é “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas, biológicas do
meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que
afetem diretamente ou indiretamente: a saúde, a segurança, e o bem estar da população; as atividades
sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias ambientais; a qualidade dos recursos
ambientais”.
Portanto, a definição de Impacto Ambiental está associada à alteração ou efeito ambiental
considerado significativo por meio da avaliação do projeto de um determinado empreendimento, podendo
ser negativo ou positivo.
Meio Físico
(ar, água, solo/rocha) MEIO
AMBIENTE
NATURAL MEIO
AMBIENTE
Meio Biológico
(fauna, flora)
Meio Socioeconômico
(atividades antrópicas)
MEIO
AMBIENTE
CULTURAL
As classificações dos impactos ambientais propostas no manual de orientação para elaboração do
EIA/RIMA, da Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo, os impactos ambientais podem ser:
diretos e indiretos; temporários e permanentes; benéficos e adversos; imediatos e a médio e longo prazo;
reversíveis e irreversíveis; locais, regionais e estratégicos.
O papel das Geociências nos Estudos Ambientais está intimamente ligado à abordagem do meio
físico, principalmente relacionado com o entendimento das alterações causadas por processos
tecnológicos (obras civis e aproveitamento dos recursos naturais) na dinâmica natural dos processos do
meio físico que atuam em determinado ambiente, no qual será desenvolvido o empreendimento.
Na área das Geociências, o aspecto fundamental em Estudos Ambientais está associado com
relação entre Processos Tecnológicos X Processos do Meio Físico. Neste contexto, a relação de atividades
básicas que devem ser realizadas no estudo ambiental de uma determinada área ou empreendimento :
1. Identificar e caracterizar os processos do meio físico atuantes na área de interesse;
2. Prever as possíveis alterações a que os processos do meio físico estão sujeitos, em razão
da implantação e funcionamento dos empreendimentos (mineração, obras de engenharia
e outras formas de uso do solo);
3. Propor a implantação de medidas mitigadoras, visando reduzir a magnitude dos
impactos ambientais previstos;
4. Estabelecer programas de monitoramento com o objetivo de avaliar a eficiência das
medidas mitigadoras implantadas, bem como avaliar a necessidade de medidas
adicionais.
1. DESENVOLVIMENTO
1.1. Aspectos Legais
No Brasil, as três esferas do governo (União, Estados/Distrito Federal e Municípios) possuem
legislação específicas. Os níveis em que os temas são tratados nos diferentes diplomas legais vão do
âmbito nacional (União), regional (Estados e Distrito Federal) até o local (Municípios). A União fixa
diretrizes gerais e estabelece as responsabilidades próprias, bem como dos Estados e Municípios. Já as
outras duas esferas fixam normas complementares, podendo ser mais restritivas (nunca o contrário). Além
das constituições federais e estaduais e das leis orgânicas municipais, outros dip lomas legais tratam dos
aspectos ambientais, como as leis ordinárias e decretos (ou regulamentos).
Desta forma, os profissionais que trabalham na área ambiental têm de estar atentos e conhecer as
exigências, normas e procedimentos legais federais e as que cada esta e/ou município estabelecem para a
instalação e funcionamento de um determinado empreendimento (Barros & Monticelli, 1998).
A tabela abaixo apresenta a estrutura do Sistema Nacional do Meio Ambiente, mostrando as
diferentes esferas do poder e suas finalidades (IPT/CEMPRE. 1995).
Estrutura do Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA) Órgão Superior
Conselho do Governo A sua função é auxiliar o Presidente da Republica na formulação da Política Nacional do Meio Ambiente.
Órgão Consultivo e Deliberativo
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente A finalidade do CONAMA é estudar e propor diretrizes e políticas governamentais para o meio ambiente e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas, padrões e critérios de controle ambiental. O
CONAMA assim procede através de suas resoluções.
Órgão central
Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. Encarregado de planejar, coordenar e supervisionar as ações relativas à Política Nacional do Meio
Ambiente. Como órgão federal implementa os acordos internacionais na área ambiental.
Órgão executor
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Entidade autárquica, dotada de personalidade jurídica de direito público e autonomia administrativa, é a
encarregada da execução da Política Nacional para o Meio Ambiente e sua fiscalização.
Órgãos Seccionais
São entidades estaduais responsáveis pela execução de programas e projetos de controle de fiscalização das
atividades potencialmente poluidoras (Secretarias Estaduais de Meio Ambiente e entidades supervisionadas como a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – CETESB, no estado de São Paulo, e a
Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente – FEEMA, do Rio de Janeiro).
Órgãos Locais
Entidades ou Órgãos Municipais São os órgãos ou entidades municipais voltadas para o meio ambiente, responsáveis por avaliar e
estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e a manutenção da qualidade do meio ambiente
com vistas ao uso racional de seus recursos, supletivamente ao Estado e à União.
Em 1999, a partir da promulgação da Lei n° 9.605 de12 de fevereiro de 1998, os danos causados
ao ambiente passaram a ser qualificados como crimes ambientais. Esta legislação, conhecida como “Lei
de Crimes Ambientais” “dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências”.
Existem três tipos de dispositivos legais, à disposição da sociedade, para interferir nas atividades
de empreendimentos causadores de problemas ambientais (Barros & Monticelli, 1998):
Ação Civil Pública: é uma ação de responsabilidade por danos ao meio
ambiente, instituídas pela Lei n° 7.347/85, que criou um instrumento
processual permitindo que as pessoas (mesmo aquelas que não sofreram um
dano ambiental direto), possam propor uma Ação Civil Pública, ou seja,
possam ingressar em juízo contra terceiros (causadores do dano ambiental).
Podem mover uma Ação Civil Pública o Ministério Público, a União, Estados,
Municípios, autarquias, empresas públicas, fundações, sociedades de economia
mista ou associações legalmente constituídas e em funcionamento há 1 ano,
que apresentem em suas finalidades a proteção ao meio ambiente.
Ação Popular: regulamentada pela Lei n° 4.717/65, que estabelece que
qualquer cidadão (eleitor) pode ser parte legítima em uma ação judicial para
conseguir a invalidação de atos administrativos lesivos ao meio ambiente.
Mandado de Segurança: regulamento pela Lei n° 1.533/51, que permite que
pessoas físicas ou jurídicas, ou entidades com capacidade processual, entrem
com ações para proteger o direito individual ou coletivo.
1.2. História
Na década de 60, vários países industrializados começaram a contemplar, de maneira
sistemática, o equacionamento de problemas ambientais em políticas públicas. Já na década de 70, os
países em desenvolvimento, à semelhança dos desenvolvidos, passam a incorporar o tema em seus
programas e planos de ação, assim sendo, no Brasil, em 1973, foi criada a Secretaria Especial do Meio
Ambiente (SEMA), que instituiu o Conselho Consultivo do Meio Ambiente, sendo extinto
posteriormente.
O tema adquiriu expressão mundial, passando a ser contempladas em estruturas gerenciais e
privadas. Várias exigências ambientais são estabelecidas, isso já na década de 80. A Avaliação de
Impacto Ambiental (AIA) foi introduzida no Brasil como um dos instrumentos da Política Nacional do
Meio Ambiente, por meio da Lei Federal n° 6.938/81, regulamentada pelo Decreto n° 88.351/83. Estes
dispositivos legais fundamentaram-se no quadro jurídico de outros países, tais como EUA, Canadá,
França. A partir da promulgação da lei tornou-se obrigatória a realização de estudos prévios com a
finalidade de fornecer parâmetros a respeito do Licenciamento Ambiental de atividades modificadoras do
meio ambiente.
Em 1981 foi criado o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) com o objetivo de
“assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio
ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões
compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida”
(Machado, 1995). O Conama institui a obrigatoriedade do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do
Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), isso em 1986, para o licenciamento de atividades mod ificadoras
do meio ambiente (Resolução 01/86 do Conama). Em 1988, a obrigatoriedade de realização prévia do
EIA/RIMA é incluída na Constituição da República Federativa do Brasil (Artigo 225 da Constituição
Brasileira de 1988).
Foi criado o Fundo Nacional do Meio Ambiente, em 1989, com o “objetivo de desenvolver
projetos que visem o uso racional e sustentável de recursos naturais, incluindo a manutenção, melhoria ou
recuperação da qualidade ambiental no sentido de elevar a qualidade de vida da população” (M achado,
1995). Neste mesmo ano, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
foi criado, com a finalidade “de assessorar o Ministério do Meio Ambiente e de Amazônia Legal na
formulação e coordenação da política nacional do meio ambiente e da preservação, conservação e uso
racional dos recursos naturais” (Machado, 1995). A obrigatoriedade de realização prévia do EIA/RIMA é
incorporada em Constituição Estadual (1989) e Leis Orgânicas Municipais (1990).
Na década de 90, a utilização de instrumentos de gerenciamento ambiental (sistematização de
procedimentos técnicos e administrativos, voltados ao contínuo aprimoramento do desempenho
ambiental), visando à obtenção de reconhecimento de conformidade das ações adotadas. Assim sendo, em
1995, o Ministério do Meio Ambiental e da Amazônia Legal foi transformado no Ministério do Meio
Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, que tem as seguintes competências:
a) Planejamento, coordenação, supervisão e controle das ações relativas do meio ambiente e aos
recursos hídricos;
b) Formulação e execução da política nacional do meio ambiente e dos recursos hídricos;
c) Preservação, conservação e uso racional dos recursos naturais renováveis;
d) Implementação de acordos internacionais na área ambiental.
Em 1995, foi estabelecido a ISO 14.000 (Qualidade Ambiental), pela Internacional Organization for
Standardization, que é representada no Brasil pela ABNT. E em 1998, teve a regulamentação da Lei
Federal n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, também denominada de Lei de Crimes Ambientais. Dispõe
sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividade lesivas ao meio ambiente.
1.3. Estudos de Impacto Ambiental – EIA/RIMA
Como vimos anteriormente, a realização de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) prevista na
Legislação Federal Brasileira fundamenta-se em modelos praticados por outros países. As primeiras
orientações sobre os procedimentos para a realização do EIA foram fornecidas pela Resolução n° 001/86
do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) (Fornasari Filho & Bitar, 1995).
A Constituição Federal de 1988, no seu artigo 225, tornou obrigatória a realização prévia de EIA, que
foi seguida por varias constituições estadual e leis orgânicas de municípios. O artigo 225 incumbe o Poder
Público a “exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambien tal, a que se dará
publicidade” (Machado, 1995).
1.3.1. Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental
A expressão EIA/RIMA é bastante difundida atualmente, e estas siglas referem-se ao Estudo de
Impacto Ambiental (EIA) e ao Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Segundo Fornasari Filho &
Bitar (1995), o EIA na Legislação Federal segue os seguintes termos, apresentados aqui de forma
sintetizada:
É referente a um projeto especifico a ser implantado em determinada área ou meio;
Trata-se de um estudo prévio, ou seja, serve de instrumento de planejamento e subsidio à tomada de
decisões políticas na implantação da obra;
É interdisciplinar;
Deve levar em conta os segmentos básicos do meio ambiente (meios físicos, biológicos e
socioeconômicos);
Deve seguir um roteiro que contenha as seguintes etapas
1. Diagnóstico ambiental da área de influencia do projeto;
2. Avaliação de Impacto Ambiental (AIA);
3. Medidas mitigadoras, e;
4. Programas de monitoramento dos impactos.
O EIA deve apresentar suas conclusões traduzidas no Relatório de Impacto Ambiental (RIMA),
com linguagem simples e objetiva, tornando-o formal perante o Poder Público e a sociedade.
Para Machado (1995), existem diferenças entre esses dois instrumentos, sendo que a principal é
que o EIA apresenta uma abrangência maior, englobando o RIMA em seu conteúdo.
O estudo do EIA compreende o levantamento da literatura científica e legal pertinente, trabalhos
de campo, análises de laboratórios e a própria redação do relatório. Já o RIMA “refletirá as conclusões do
Estudo de Impacto Ambiental” (Artigo 9° da Resolução 001/86 do Conama). O EIA é realizado
previamente ao RIMA, sendo a base para elaboração do relatório.
O RIMA transmite – por escrito – as atividades totais do estudo de impacto ambiental,
importando acentuar que não se pode criar uma parte transparente das atividades (o RIMA) e uma parte
não transparente das atividades (o EIA). Dissociado do EIA, o RIMA perde validade.
Independente do ponto de vista de cada autor quanto a estes termos e seus conceitos deve ser
destacada a interdependência entre o EIA e o RIMA, ou seja, não é possível elaborar um RIMA sem a
realização de um EIA.
1.3.2. Conteúdo do Estudo de Impacto Ambiental e Equipe
Multidisciplinar
O Estudo de Impacto Ambiental deve abranger as seguintes informações (Machado, 1995):
1. Área de Influência do Projeto: “definir os limites da área geográfica a ser direta ou
indiretamente afetada pelos impactos, denominada de área de influencia do projeto,
considerando em todos os casos a bacia hidrográfica na qua l se localiza” (Artigo 5°, III
– Resolução 001/86 do Conama).
2. Planos e Programas Governamentais (Zoneamento Ambiental): “considerar os
planos e programas governamentais, propostos e em implantação na área de influencia
do projeto, e sua compatibilidade” (Artigo 5°, IV).
3. Alternativas: o EIA deve “contemplar todas as alternativas tecnológicas e de
localização do projeto, confrontando-as com a hipótese de não executar o projeto”
(Artigo 5°, I), ou seja, a equipe multidisciplinar deve comentar outras soluções p ara a
localização e a operação pretendidas.
4. Descrição Inicial do Local: diagnostico ambiental da área, abrangendo os meios físico,
biológico e socioeconômico (Artigo 6°).
5. Identificação e Avaliação dos Impactos Ambientais (AIA) do Projeto: o EIA deve
“identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de
implantação e operação da atividade” (Artigo 5°, II) e analisar os impactos ambientais
do projeto através da “identificação, previsão da magnitude e interpretação da
importância dos prováveis impactos positivos e negativos (benéficos e adversos),
diretos ou indiretos, imediatos ou a médio e longo prazo, temporários e permanentes;
seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinergéticas” (Artigo 6°,
II).
6. Medidas Mitigadoras: o EIA deve realizar a “definição das medidas mitigadoras dos
impactos negativos, entre elas os equipamentos de controle e os sistemas de tratamento
de despejos, avaliando a eficiência de cada uma delas” (Artigo 6°, III). Mitiga r o
impacto é tentar evitar o impacto negativo, sendo impossível evitá-lo, procurar corrigi-
lo, recuperando o ambiente. A recuperação não é uma medida que se possa afastar do
EIA.
7. Impactos Desfavoráveis e Previsão de Orçamento: no caso de obras e projetos
federais prevê-se que, se “identificados efeitos negativos de natureza ambiental, cultural
ou social, os órgãos ou entidades federais incluirão, no orçamento de cada projeto ou
obra, dotações correspondentes , no mínimo, a 1% do mesmo orçamento de cada projeto
ou obra, dotações correspondentes, no mínimo, a 1% do mesmo orçamento destinadas à
prevenção ou à correção desses efeitos” (Decreto Federal 95.733/88). Portanto, a
legislação define que a administração pública não poderá alegar que não dispõe de
dinheiro para a prevenção ambiental, mas em muitos casos a prevenção e correção de
danos ambientais ocasionados por obras públicas não ocorre.
8. Medidas Compensatórias: entre as medidas mitigadoras previstas, o EIA deve
compreender a compensação do dano provável, sendo esta uma forma de indenização.
A Resolução 10/87 prevê que para o licenciamento de empreendimentos que causem a
destruição de florestas ou outros ecossistemas, haja como pré-requisito a implantação de
uma estação ecológica pela entidade ou empresa responsável, de preferência junto à
área.
9. Distribuição dos Ônus e Benefícios Sociais do Projeto: o EIA deve identificar os
prejuízos e as vantagens que o empreendimento trará para os diversos segmentos
sociais, seja pelo numero e qualidade de empregos gerados ou pelos possíveis
problemas sociais em caso de necessidade de migração de mão-de-obra.
A Resolução 001/86 do Conama diz que “o estudo de impacto ambiental será realizado por
equipe multidisciplinar habilitada, não depende direta ou indiretamente do proponente do projeto e que
será responsável tecnicamente pelos resultados apresentados”.
A responsabilidade de cada membro da equipe multidisciplinar ou a equipe como um todo
(sendo ou não pessoa jurídica), depende da prova da culpa. A conduta dolosa dos membros da equipe
multidisciplinar poderá configurar o crime de falsidade ideológica, sendo a pena de reclusão de 1 a 5 anos
e multa se o documento for público, e reclusão de 1 a 3 anos e multa se o documento for particular.
O EIA é um documento público, mesmo sendo elaborado por particulares, portanto a pena por
falsificação na elaboração do EIA, omissiva ou ativa, é referente à de documento público.
1.4. Meio Físico
O meio físico é um dos componentes que devem ser obrigatoriamente tratados no EIA/RIMA,
podendo ser considerado como passivo e/ou ativo, recebendo ou deflagrando impactos e processos, em
resposta à interação com determinado empreendimento.
Neste contexto, devemos considerar o meio físico como “uma totalidade estruturada em
equilíbrio dinâmica, com seus aspectos guardando relações de interdependência em termos causais, de
gênese, evolução, constituição e organização” (Leite, Fornasari Filho & Bitar, 1990). Portanto, é
necessário realizar uma abordagem integrada do meio fís ico, enfocando a dinâmica de cada uma de suas
formas de interação, envolvendo desde fluxos energéticos atuantes no meio ate seus componentes
materiais. Para isso devem-se rever noções fundamentais relacionadas com a inserção do meio físico no
contexto dos grandes ciclos terrestres (ciclo da água, do ar e das rochas) e suas interações (Bitar,
Fornasari Filho & Vasconcelos, 1990).
Abaixo sintetiza as informações descritas (modificado de Proin/Capes & UNESP/IGCE, 1990).
SÃO RESULTADOS DA INTERAÇÃO ENTRE:
2.4.1 Tipos de Processos do Meio Físico
Para abordar o meio físico nos Estudos Ambientais devem-se conhecer as principais
características dos processos do meio físico, para que seja feita a melhor avaliação possível dos processos
atuantes no meio em questão.
Na tabela abaixo apresenta os tipos de processos do meio físico:
1) Erosão pela água, 2) Deposição de sedimentos ou partículas
3) Erosão eólica, 4) Escoamento de agua na superfície,
5) Escorregamento, 6) Dinâmica de agua no subsolo,
7) Queda de blocos 8) Interações físico-químicas na agua e no solo,
9) Queda de detritos, 10) Dinâmica da água no ar,
PROCESSOS DO MEIO FÍSICO
Série de fenômenos sucessivos
com relação de causa e efeito
Segmento abiótico do
meio ambiente
COMPONENTES MATERIAIS
(Solos, Rochas, Ar e Água).
TIPOS DE ENERGIA
(Gravitacional, Solar, Energia
interna da terra, etc.).
(
AGEM PASSIVAMENTE AGEM ATIVAMENTE
A dinâmica ambiental é representada pela interação dos
componentes bióticos, abióticos e antrópicos.
São deflagrados, catalisados, acelerados ou retardados por
agentes químicos, físicos, biológicos (fauna e flora) e antrópicos.
11) Rastejo de solo (“creep”), 12) Potencialização e desencadeamento de sismo,
13) Corrida de massa, 14) Radioatividade,
15) Subsidência, 16) Inundação,
17) Carstificação, 18) Processos pedogenéticos.
1.5. Meio Tecnológico
1.5.1. Processos Tecnológicos
Conjunto de técnicas utilizadas na implantação, no funcionamento, na ampliação e na
desativação de uma atividade modificadora do meio ambiente.
O entendimento dos processos tecnológicos como agentes de alteração ambiental e seu potencial
modificador dos processos do meio ambiente é de fundamental importância para a realização do EIA, isso
porque se deve conhecer em detalhes os processos tecnológicos de um empreendimento, para analisar a
interação destes com os meios físicos, biológicos, e socioeconômicos.
A intervenção do processo tecnológico sobre processo do meio físico acarreta, na maioria das
vezes, em um processo alterado. As figuras a seguir esquematizam e exemplificam como o processo
tecnológico pode modificar os processos físicos, levando muitas vezes a sérios problemas ambientais,
com prejuízos econômicos associados.
Vamos dizer que se tem uma área de uma antiga mineração em zona urbana, como exemplo. A
remoção da cobertura vegetal realizada pela mineração, a impermeabilização do solo e a concentração do
fluxo d’água no loteamento (Processo Tecnológico) causaram a intensificação dos processos físicos,
resultando no aparecimento de sulcos e ravinas, que podem evoluir para boçorocas (Processos Alterados).
Também como consequência, o material erodido se acumula nas porções mais baixas (processo alterado).
1.5.2. Conceito de Significância e Etapas de Elaboração do RIA/RIMA
Nos EIA os conceitos de significância e significativo ganharam ênfase devido à necessidade de
quantificar e qualificar os impactos. Uma alteração ambiental só deve ser considerada como impacto
ambiental, quando essa alteração for significativa. Quando a alteração não for significativa esta é
desprezada (portanto não há impacto).
Em 1977 surgiram os primeiros critérios para determinação da significância dos impactos
ambientais, os quais são: magnitude, extensão espacial, tempo de duração, probabilidade de o corrência,
PROCESSO
TECNOLÓGICO
PROCESSO DO
MEIO FÍSICO
PROCESSO
ALTERADO
segurança na previsão, existência de valores determinados (por exemplo, padrões de qualidade do ar e da
água) e controvérsias relacionadas ao projeto.
A abordagem do meio físico nos Estudos Ambientais deve ser realizada segundo as etapas
descritas na figura a seguir (modificado de Proin/Capes & UNESP/IGCE, 1999):
ABORDAGEM DO MEIO FÍSICO NAS ETAPAS DE ELABORAÇÃO DE EIA/RIMA
As etapas de elaboração do EIA/RIMA deve-se conter as seguintes informações:
EIA/RIMA
Informações Gerais Identifica, localiza, informa e sintetiza o empreendimento;
Caracterização do
Empreendimento
Refere-se ao planejamento, implantação, operação e
desativação da obra;
Área de Influência Limita sua área geográfica, representando-a em mapa;
Diagnóstico
Ambiental
Caracterização ambiental da área antes da implantação do
empreendimento;
Qualidade
Ambiental
Expõe as interações e descreve as inter-relações entre os
componentes bióticos, abióticos e antrópicos do sistema,
apresentando-os em um quadro sintético;
Fatores Ambientais
Meio Físico, Meio Biótico, Meio Antrópico, sua
pormenorização dependerá da relevância dos fatores em
função das características da área onde se desenvolvera o
projeto;
Analises dos
Impactos Ambientais
Identificação e interpretação dos prováveis impactos
ocorridos nas diferentes fases do projeto. Leva-se em conta
a repercussão do empreendimento sobre o meio;
Medidas Mitigadoras
Medidas que visam minimizar os impactos adversos,
especificando sua natureza, época em que deverão ser
adotado, prazo de duração, fator ambiental especifico a que
se destina e responsabilidade pela sua implantação.
1.5.3. Alguns dos Principais Métodos de Avaliação de Impacto Ambiental
Os métodos de avaliação de impacto ambiental servem de referencia nos estudos ambientais para
se determinar de forma mais precisa a significância de uma alteração ambiental. Também são usados para
padronizar e facilitar a abordagem do meio físico, que em geral leva em consideração vários aspectos.
A Instrução Normativa s.n°/s.d. do SEMA coloca que o EIA pode ser realizado utilizando
“quaisquer metodologias de abordagem, desde que em acordo com a literatura nacional e/ou internacional
sobre o assunto”. Portanto, devem ser utilizados critérios bem definidos para a escolha do método a ser
usado, ou seja, cada método tem uma aplicação definida, sendo utilizado conforme o caso (Leite,
Fornasari Filho & Bitar, 1990).
Nos quadros a seguir são apresentados alguns dos principais métodos de avaliação de impacto
ambiental, mostrando uma descrição sucinta, aplicações, vantagens e desvantagens e exemplos.
Método AD HOC
Descrição Reunião de especialistas
Aplicação Avaliações rápidas
Vantagens (+)
Desvantagens (-)
+ Rapidez e baixo custo
- Alto grau de subjetividade
Exemplos Delfos
Método CHECKLIST
Descrição Listagens de fatores e impactos ambientais
Aplicação Diagnóstico ambiental até a comparação de alternativas
Vantagens (+)
Desvantagens (-)
+ Memorização de todos os fatores
- Não identifica: impactos diretos e indiretos, características temporais e dinâmicas dos sistemas.
Exemplos Threshold of Concem;
Batelle
Método MATRIZES DE INTERAÇÃO
Descrição Listagens de controle bidimensional (fatores x ações)
Aplicação Identificação de impactos diretos
Vantagens (+)
Desvantagens (-)
+ Boa visualização, simplicidade e baixo custo;
- Não identifica: impactos diretos e indiretos,
características temporais e dinâmicas dos sistemas; subjetividade na magnitude.
Exemplos Leopold;
Fisher e Davies
Método REDES DE INTERAÇÃO
Descrição Gráfico ou diagrama da cadeia de impacto
Aplicação Determinação de impactos diretos e indiretos
Vantagens (+)
Desvantagens (-)
+ Abordagem integrada de impactos e interações;
- Não detectam: importância relativa dos impactos,
aspectos temporais e espaciais, dinâmica dos sistemas.
Exemplos IMPACT
Método SUPERPOSIÇÃO DE CARTAS
Descrição Cartas geradas por superposição de mapas de recursos e usos
Aplicação Projetos lineares e diagnósticos ambientais
Vantagens (+)
Desvantagens (-)
+ Boa visualização e exposição de dados;
- Resultados subjetivos; não quantifica magnitude,
difícil integração de dados socioeconômicos, não
considera dinâmica dos sistemas.
Exemplos Mc Harg
Método SIMULAÇÃO
Descrição Modelos matemáticos automatizados
Aplicação Diagnósticos e prognósticos da qualidade ambiental
Vantagens (+)
Desvantagens (-)
+ Considera: dinâmica dos sistemas, interações entre
fatores e impactos e variável temporal;
- Custo elevado; representação da qualidade imperfeita.
Exemplos KSIM
Método COMBINAÇÃO DE MÉTODOS
Descrição Utilização de dois ou mais métodos
Aplicação Avaliar impactos negativos de projetos (uso simples ou
múltiplo)
Vantagens (+)
Desvantagens (-)
+ Simplicidade, rapidez e baixo custo na avaliação de impactos negativos; boa visualização;
- Alto grau de controle governamental no planejamento
ambiental; avaliação globalizada pouco segura.
Exemplos LESA
1.5.4. Licenciamento Ambiental
A Resolução 001/86 do Conama institui obrigatoriedade do EIA/RIMA para o licenciamento
ambiental de atividades modificadora do meio ambiente. A partir de 1994, no Estado de São Paulo, a
Resolução SMA 42/94, da Secretaria do Meio Ambiente, normatizou os procedimentos para
Licenciamento Ambiental, instituindo 2 instrumentos preliminares ao EIA/RIMA: o RAP e o TR.
O Relatório Ambiental Preliminar (RAP) é o primeiro documento para o Licenciamento
Ambiental, com a objetividade de instrumentalizar a decisão do órgão ambiental quant o à exigência ou
dispensa do EIA/RIMA, para obtenção de Licença Prévia (LP).
Nos casos de exigência de EIA/RIMA, o Relatório Ambiental Preliminar (RAP), junto com
outros instrumentos, subsidia a elaboração do Termo de Referência (TR) para o EIA/RIMA a ser
realizado.
Assim, a elaboração do EIA/RIMA segue a seguinte sequência:
RAP TR EIA/RIMA
Nos casos em que há dispensa de elaboração do EIA/RIMA, a partir do Relatório Ambiental
Preliminar (RAP), parte-se diretamente para o Licenciamento Ambiental.
A partir do EIA/RIMA (exigido pelo órgão ambiental com base no RAP) ou do RAP (quando o
órgão ambiental dispensou a elaboração do EIA/RIMA), busca-se a obtenção das Licenças Ambientais.
Desta forma, no Estado de São Paulo, para a obtenção das licenças ambientais (LP, LI e LO), o
empreendedor deverá seguir a seguinte sequência de elaboração de documentos.
No Estado de São Paulo foram definidas 3 etapas para o Licenciamento Ambiental (Resolução
SMA 42/94). Outros estados também utilizam procedimento semelhante.
1ª Etapa: Licença Prévia (LP)
2ª Etapa: Licença Instalação (LI)
3ª Etapa: Licença de Operação (LF ou LO)
Vamos ver o significado de cada uma dessas Licenças Ambientais.
A Licença Prévia no Decreto 88.351/83 é conceituada como licença obtida “na fase preliminar
do planejamento da atividade, contendo requisitos básicos a serem atendidos nas fases de localização,
instalação e operação, observados os planos municipais, estaduais e federais do uso do solo” (Machado,
1995). Portanto, a obtenção de LP assume o significado de viabilidade do empreendimento na área
pretendida.
A Licença de Instalação (LI) autoriza a implantação do empreendimento e dis põe sobre as
especificações que devem ser seguidas, de acordo com o projeto apresentado, ou seja, nessa fase o
requerente pode construir as instalações do empreendimento e as obras de contenção de impactos
ambientais, adotando as medidas iniciais de recuperação.
A Licença de Funcionamento (LF) ou Operação (LO), como o próprio nome indica, autoriza a
operação do empreendimento, sendo somente fornecida após vistoria do órgão fiscalizador responsável,
dependendo se todas a exigências do referido órgão descritas na LI foram cumpridas pelo empreendedor.
Mesmo com a LO o empreendimento fica sujeito à fiscalização e a possíveis sanções, caso não
forem cumpridas as especificações técnicas do projeto e as exigências do órgão público responsável.
Certos casos de extração de materiais de construção dispensam o EIA/RIMA e preveem a
apresentação de:
RCA (Relatório de Controle Ambiental);
PCA (Plano de Controle Ambiental),
RAP
LP LI LF ou LO
RAP TR EIA/RIMA
LP LI LF ou LO
PRAD (Plano de Recuperação de Áreas Degradadas).
Tais documentos atendem às necessidades de empreendimentos mineiros de pequenos e médios
portes, dados que não necessitam de um trabalho tão denso e detalhado como o EIA/RIMA.
O RCA e o PCA são documentos que caracterizam o empreendimento desde o meio físico,
biológico e socioeconômico em termos regionais até em termos locais, além de detalhar as atividades que
serão desenvolvidas pelo empreendedor.
Já o PRAD é o plano que vai qualificar os impactos ambientais causados pelo empreendimento e
indicar quais atividades deve ser desenvolvido para a recuperação da área, mostrando as medidas
mitigadoras que devem ser realizadas para a diminuição desses impactos.
2. CONCLUSÃO
O Estudo de Impacto Ambiental e suas espécies são importantes para a efetividade da proteção
do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Nessa perspectiva, foram destacados no presente estudo os
conceitos de meio ambiente e impacto ambiental, pois é em razão da possibilidade ou da real ocorrência
de um impacto no meio ambiente, através da ação do homem, que surge a necessidade de prevenção e
precaução dos danos que possam advir através do EIA/RIMA. Embora sejam todos os instrumentos
jurídicos vinculados à proteção ambiental, possuem regras próprias, e não se sobrepõem uns aos outros e
nem se confundem ou substituem.
O EIA relaciona-se ao princípio da prevenção que é aplicado aos impactos ambientais já
conhecidos ou que sejam identificáveis e tenham mais probabilidade de ocorrer. O RIMA é o relatório
que reflete todas as conclusões apresentadas num EIA.
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OLIVEIRA, A.M.S. & BRITO, S.N.A. (Eds.). Geologia de Engenharia. São Paulo:
Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE), 1998. Capítulo 33 "Aspectos
Legais", páginas 509 a 515.
BITAR, O.Y. (Coord.). O meio físico em estudos de impacto ambiental. Publicação
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) , São Paulo, boletim 56, 1990.
BITAR, O.Y. (Coord.). Curso de geologia aplicada ao meio ambiente . São Paulo:
Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE) e Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT), 1995. Capítulo 4.4.1 "O Meio Físico em Estudos de Impacto
Ambiental-EIAs", páginas 151 a 163.
MACHADO, P.A.L. Direito ambiental brasileiro. 5ª ed. São Paulo: Malheiros Editores,
1995.
http://www.babylon.com/definition/Relat%C3%B3rio%20de%20Impacto%20Ambiental/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Estudo_de_Impacto_Ambiental
http://www.advogado.adv.br/artigos/2006/marcusviniciuscorreabittencourt/estudodoimpacto
ambiental.htm
http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5869