XII SIMPÓSIO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA
DAS ARGAMASSAS São Paulo, 22 a 24 de agosto de 2017
ESTUDO DA ADERÊNCIA DE REVESTIMENTOS ARGAMASSADOS EM SUBSTRATOS DE CONCRETO COM DIFERENTES RESISTÊNCIAS
PRISCILA MIOTTO (1); CRISTINA VITORINO DA SILVA (2)
(1) Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Campus Erechim –
[email protected]; (2) Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Campus Erechim –
RESUMO
Os revestimentos do tipo argamassados são amplamente empregados em fachadas,
com a finalidade de garantir à edificação estanqueidade, regularidade das superfícies,
além de questões estéticas. Entretanto, este sistema de revestimento é
frequentemente acometido por manifestações patológicas, as quais estão relacionadas
à falhas de aderência entre os substratos e as camadas do revestimento, trazendo
riscos à edificação e aos usuários. Neste contexto, o estudo objetivou avaliar a
resistência de aderência de revestimentos argamassados em substratos de concreto.
Desenvolveu-se um estudo experimental, considerando o sistema de revestimento
executado sobre substratos de concreto de diferentes resistências (25MPa e 40MPa) e
com diversos tratamentos superficiais. Analisou-se a influência de lavar ou não as
bases para remoção do desmoldante, executar aumento da extensão de aderência por
meio de apicoamento ou escovação, e ainda, camada de preparo utilizando chapisco
tradicional ou desempenado. Verificou-se que as bases de 40,0 MPa alcançaram as
maiores resistências de aderência quando utilizado o chapisco desempenado, sem a
necessidade de executar tratamentos superficiais. Para os substratos de fck 25,0 MPa,
conclui-se que lavar para remover o desmoldante e executar o procedimento de
escovar a base, geram aumento na resistência de aderência.
Palavras-chave: revestimento de argamassa, resistência de aderência à tração,
substrato de concreto, tratamentos superficiais.
ISSN 2446-6824
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STUDY OF THE TENSILE BOND STRENGTH OF MORTAR RENDERINGS IN CONCRETE SUBSTRATES OF DIFFERENT STRENGTHS
ABSTRACT
The mortar rendering are widely used in front of buildings, with the purpose of
guaranteeing the construction of water tightness, regularity of surfaces and esthetic
issues. However, this rendering system is often affected by pathological
manifestations, which are related to bond failure between the substrates and the
rendering layers, causing risks to the building and users. In this context, the present
study had as objective to evaluate the tensile bond strength of mortar renderings to
the concrete substrates. An experimental study developed evaluating the tensile bond
strength of mortar renderings, considering the system executed on concrete
substrates of different strengths (25MPa and 40MPa) and with various substrate
treatments. The influence of whether or not to wash the lubricant, to increase the
extent of adherence by grinding or brushing the bases, and the preparation layer using
conventional slurry mortar or adhesive slurry mortar was analyzed. Verified that the
40.0 MPa bases reached the highest tensile bond strength when using adhesive slurry
mortar without need substrate treatment. For the 25.0 MPa substrates concluded that
the washing procedure to remove the lubricant and the brushing on the base
generates an increase of the tensile bond strength.
Key-words: rendering mortar, tensile bond strength, concrete substrate, substrate
treatment.
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1. INTRODUÇÃO
O desempenho do sistema de revestimento argamassado é influenciado por diversos
fatores como a trabalhabilidade e reologia das argamassas, a energia de impacto na
execução do revestimento, propriedades do substrato e condições do meio(1). Todos
estes podem promover falhas nas interfaces do sistema, acarretando em prejuízos à
resistência de aderência. Portanto, o objetivo do estudo é avaliar a resistência de
aderência de revestimentos argamassados analisando a influência de diferentes
tratamentos superficiais e chapiscos, simulando o sistema tendo como base estruturas
de concreto de diferentes resistências.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Programa experimental
Planejou-se o estudo experimental a partir da variável de resposta a ser estudada, a
resistência de aderência à tração dos revestimentos argamassados. Esta será avaliada
após tratamento estatístico, a partir das influências dos seguintes fatores controláveis:
a) Resistência característica do concreto à compressão: 25 MPa; 40 MPa;
b) Tratamentos superficiais: limpeza (lavar ou não para remoção do desmoldante),
aumento da extensão de aderência (escovação ou apicoamento) e chapisco
(tradicional ou desempenado).
Para a execução do programa experimental, combinou-se todos os fatores controláveis
apresentados.
2.2. Materiais
Utilizou-se cimento Portland CPII-Z, classe 32,0 MPa, para confecção das bases de fck
25,0 MPa e para o chapisco tradicional. Para as bases de fck 40,0 MPa, empregou-se o
cimento Portland CPV-ARI. Ainda para as bases de concreto, como agregado miúdo, a
areia média natural de origem quartzosa e, agregado graúdo de origem basáltica,
contido na zona granulométrica 9,5/25. Para o chapisco tradicional, a areia grossa
natural de origem quartzosa. Para o chapisco desempenado, utilizou-se chapisco
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colante industrializado. No revestimento argamassado, adotou-se argamassa
industrializada com fibra, específica para revestimentos externos de fachada.
2.3. Métodos
Inicialmente, moldou-se os corpos de prova prismáticos de concreto de dimensões
50x25x5cm, e após a desforma, executou-se o procedimento de lavagem utilizando
detergente, escova de cerdas macias e água morna, na face que estava em contato
com a forma. Em sequência, realizou-se o processo de cura por 14 dias, em câmara
úmida com temperatura de 23±2°C e umidade relativa do ar acima de 95%. Após a
cura, as bases de concreto receberam o tratamento superficial e camada de chapisco.
Executou-se o apicoamento e a escovação dos substratos de forma manual utilizando-
se martelo apicador e escova de cerdas de aço, respectivamente, não realizando-se
procedimentos de limpeza após estes. Aplicou-se o chapisco tradicional manualmente
com colher de pedreiro, sendo as bases de concreto posicionadas verticalmente a uma
distância controlada do aplicador. O traço adotado em volume foi 1:3 (cimento:areia
grossa seca) com espessura de 5 mm e consistência de ± 380 mm. Para a execução do
chapisco industrializado desempenado para as bases de concreto fck 40,0 Mpa,
utilizou-se desempenadeira metálica denteada, sendo a dosagem e aplicação
conforme o fabricante. Após processo de cura por 03 dias, executou-se a argamassa de
revestimento em camada única de 25 mm com consistência de ± 28 cm e dosada
segundo o fabricante, sendo lançada de forma manual com altura de 1,00m.
Em sequência, ocorreu a cura dos revestimentos em câmara climatizada com
temperatura de 23±2°C e umidade relativa do ar de 75±5%, por 21 dias. Por fim,
executou-se o ensaio para determinar a resistência de aderência à tração dos
revestimentos, seguindo as recomendações da NBR 13528(2).
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir dos dados coletados nos ensaios, realizou-se uma análise de variância
(ANOVA) considerando nível de significância de 5%, através do software Statística 7.0.
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Foram, então, verificados os efeitos isolados e combinados que causaram influência
significativa sobre a resistência de aderência à tração do sistema de revestimento.
3.1. Substratos de concreto fck 25,0 MPa
Analisando os corpos de prova de sistema de revestimento com substrato de concreto
com fck 25,0 MPa, apenas o efeito combinado das variáveis tratamento superficial e
limpeza apresentou influência significativa sobre a resistência de aderência à tração,
conforme a Figura 1.
Figura 1 - Influência da interação entre a limpeza e o tratamento superficial.
Sem tratamento
Escov arNão lav ar Lav ar
Limpeza Desmoldante
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
0,50
0,55
0,60
Resis
tência
de a
derê
ncia
à tra
ção (
MP
a)
Tratamento Superf icial
Fonte: autoria própria
Observa-se que os substratos em que não foi removido o desmoldante e sem nenhum
tratamento superficial, obtiveram resistências maiores do que aqueles em que
também não se removeu o desmoldante, mas executou-se o procedimento de escovar
a superfície. Nesse caso, a presença do desmoldante e o procedimento de escovação,
com os resíduos gerados na execução deste, podem ter ocasionado obstrução dos
poros do substrato tendo em vista que não foi realizada lavagem após a escovação,
prejudicando a microancoragem do revestimento.
Se uma superfície estiver impregnada com material hidrófugo, o ângulo do contato do
fluido será maior que 90°, aumentando a tensão superficial e diminuindo a extensão
de contato entre materiais. Logo, o excesso de desmoldante que penetra nos poros do
concreto pode deixá-lo hidrófugo, prejudicando a aderência da argamassa(3). Logo, a
remoção deste material associado à escovação da superfície do concreto, promove a
abertura dos poros e aumento da aderência do revestimento.
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3.2. Substratos de concreto fck 40,0 MPa
Na análise de variância da resistência de aderência à tração dos revestimentos
aplicados em substratos de concreto fck 40,0 MPa verificou-se que as variáveis
isoladas de tratamento superficial e chapisco mostraram-se significantes na resistência
de aderência à tração, assim como o efeito combinado do tratamento superficial com
a limpeza do desmoldante e com o chapisco.
O efeito isolado dos tratamentos superficiais de escovar e apicoar, a fim de aumentar a
rugosidade e remover a nata superficial da base, mostrou significativa influência nos
resultados, conforme a Figura 2.
Figura 2 - Influência do tratamento superficial.
Sem tratamento Escov ar Apicoar
Tratamento Superficial
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
0,50
0,55
0,60
Re
sis
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cia
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raçã
o (
MP
a)
Fonte: autoria própria
Verifica-se que a resistência de aderência à tração dos revestimentos ficou acima de
0,30 MPa, o mínimo exigido pela NBR 13749(4). Os tratamentos superficiais de
escovação e apicoamento atingiram resistências menores do que nas amostras em que
não foram aplicados nenhum dos tratamentos. Semelhantemente, outros estudos
averiguaram que o tratamento de escovar o substrato de concreto também não
proporcionou aumento da resistência de aderência, entretanto, o apicoamento
proporcionou resistências de aderência significativamente maiores que todos os
demais tratamentos estudados(3). Neste caso, porém, o baixo desempenho do
revestimento quando executado o apicoamento está relacionado ao efeito combinado
com o chapisco desempenado.
Outra variável isolada com efeito significativo sobre os revestimentos em substratos de
concreto fck 40,0 MPa, trata-se do tipo de chapisco, apresentado na Figura 3.
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Figura 3 - Influência do chapisco.
Tradicional Desempenado
Chapisco
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
0,50
0,55
0,60
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o (
MP
a)
Fonte: autoria própria
É possível analisar que ambos os chapiscos alcançaram resistências de aderência acima
de 0,30 MPa, sendo que o desempenado obteve melhor desempenho. O chapisco
industrializado possui em sua composição aditivos com propriedades adesivas e forma
de aplicação controlada, gerando aumento na extensão de aderência do material ao
substrato, logo, melhores resistências de aderência(5).
O efeito combinado da limpeza do desmoldante com o tratamento superficial,
também gerou significativa influência nos revestimentos em substratos de concreto
fck 40,0 MPa, conforme mostra a Figura 4.
Figura 4 - Influência da interação entre a limpeza e o tratamento superficial.
Sem tratamento
Escovar
ApicoarNão lavar Lavar
Limpeza Desmoldante
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
0,50
0,55
0,60
Re
sis
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cia
de
ad
erê
ncia
à tra
çã
o (
MP
a)
Tratamento Superficial
Fonte: autoria própria
Observa-se que apenas o efeito combinado de não lavar com o tratamento de escovar
gerou resistências de aderência abaixo de 0,30 Mpa. A obstrução dos poros pela
presença do desmoldante e as partículas de poeira geradas no processo de escovação,
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podem ter motivado esse resultado. Em ambos os casos de limpeza do desmoldante, o
procedimento de não tratar superficialmente os substratos obteve o melhor
desempenho de resistência de aderência, assim como no efeito individual.
Ao comparar por meio do Teste de Fisher os efeitos combinados de não lavar + apicoar
e lavar + escovar, verificou-se que ambos os procedimentos geram a mesma influência
no resultado da aderência, portanto, poderia-se optar por um ou outro procedimento.
E ainda, o efeito combinado entre tratamentos superficiais e tipo de chapisco gerou
influência significativa na resistência de aderência à tração dos revestimentos em
substratos de concreto fck 40,0 Mpa, conforme a Figura 5.
Figura 5 - Influência da interação entre o tratamento superficial e o chapisco.
Sem tratamento
Escovar
ApicoarTradicional Desempenado
Chapisco
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
0,50
0,55
0,60
Resis
tência
de a
derê
ncia
à tra
ção (
MP
a)
Tratamento Superficial
Fonte: autoria própria
Comparando-se os tipos de chapisco, observa-se que na aplicação do chapisco
tradicional, o tratamento de apicoar demonstrou um aumento significativo na
resistência do revestimento, tendo em vista que este tratamento aumenta a extensão
de aderência da argamassa. Quanto ao procedimento de escovação superficial, ao
aplicar o Teste de Fisher, verificou-se que o tipo de chapisco não influenciou
significativamente os resultados.
Ao analisar o desempenho do chapisco desempenado, observa-se que ao não aplicar
nenhum tipo de tratamento superficial as resistências de aderência foram superiores à
todas as amostras comparadas. Quando executados os procedimentos de escovar e
apicoar, as resistências diminuíram. Pode-se justificar os resultados encontrados tendo
em vista que a aderência do chapisco desempenado é consequência de uma aderência
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química, portanto, ao aumentar a rugosidade superficial do substrato, em função da
viscosidade da argamassa, as superfícies podem ocasionar um afastamento
dificultando as ligações moleculares(6).
4. CONCLUSÕES
Por meio do desenvolvimento do estudo experimental, verificou-se que nos substratos
de concreto fck 25,0 MPa, ao combinar o procedimento de lavar para remover o
desmoldante e executar a escovação da base, há um aumento na resistência de
aderência do revestimento. Já nos substratos de concreto fck 40,0 MPa, o sistema de
revestimento atinge o melhor desempenho quando utilizado o chapisco do tipo
desempenado, sem a necessidade de executar tratamentos superficiais, pois este
material possui propriedades adesivas que geram uma melhor aderência química,
além da aplicação manual controlada.
Por fim, ressalta-se a importância da realização de tratamentos superficiais em
substratos de concreto com o intuído de aumentar a resistência de aderência dos
revestimentos argamassados, prevenindo a ocorrência de manifestações patológicas
causadas pelas falhas de aderência dos revestimentos aos substratos.
5. REFERÊNCIAS
1. CARASEK, H. Argamassas. In: Isaia, G.C. (ed.). Materiais de Construção Civil e Princípios de Ciência e Engenharia de Materiais. São Paulo: IBRACON, 2010. V. 2, cap. 28, p. 893-944.
2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13528: Revestimentos de paredes de argamassas inorgânicas – Determinação da resistência de aderência à tração. Rio de Janeiro, 2010.
3. PRETTO, M. E. J. Influência da rugosidade gerada pelo tratamento superficial do substrato de concreto na aderência do revestimento de argamassa. 2007. Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.
4. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13749: Revestimento de paredes e tetos de argamassas inorgânicas – Especificação. Rio de Janeiro, 2013.
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5. RUDUIT, F. R. Contribuição ao Estudo da Aderência de Revestimentos de Argamassa e Chapiscos em Substrato de Concreto. 2009. Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.
6. MULLER, A. A. Avaliação da Aderência dos Diferentes Tipos de Chapisco Sobre Substrato de Concreto. 2010. Trabalho de Conclusão de Curso (Escola de Engenharia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.
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