Download - Estatuto Do Desarmamento
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ACADEMIA DE POLCIA CIVIL DO DISTRITO FEDERAL
ESTATUTO DO DESARMAMENTO
SRGIO BAUTZER
ANDR PORTELA
Braslia
2013
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ESTATUTO DO DESARMAMENTO
Crimes do Estatuto do Desarmamento
O art.12doEstatutodoDesarmamento(Lein10.826/2003) trata da posse ilegal
de arma de fogo, acessrios e munies de uso permitido. Se for arma de uso restrito,
estar congurado o crime do art. 16.
Posse irregular de arma de fogo de uso permitido
Dispe o art. 12 da lei em estudo:
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessrio ou
munio, de uso permitido, em desacordo com determinao legal ou
regulamentar, no interior de sua residncia ou dependncia desta, ou,
ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsvel
legal do estabelecimento ou empresa:
Pena deteno, de 1 (um) a 3 (trs) anos, e multa.
Diante da pena imposta no preceito secundrio, possvel a concesso de
ana , pela Autoridade Policial, aps a lavratura do Auto de Priso em Flagrante,
na hiptese de crime de Posse Irregular de Arma de Fogo de Uso Permitido.
O objeto jurdico, que o bem protegido pela norma, a incolumidade
pblica (segurana da coletividade). Inclume signica livre de perigo.
Objeto material, que a coisa sobre a qual recai a conduta do criminoso, no
caso, arma de fogo, acessrio ou munio de uso permitido.
Sujeito ativo: quando se tratar de posse de arma de fogo, acessrio ou
munio no interior de residncia ou dependncia desta, o crime poder ser praticado
por qualquer pessoa. De outra parte, o crime ser prprio quando se tratar de pessoa na
posse de arma de fogo, acessrio ou munio em seu local de trabalho, pois apenas
titular ou o responsvel legal pelo estabelecimento podem pratic-lo.
Sujeito passivo (vtima) do crime a coletividade.
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Elementos do tipo: possuir e manter sob sua guarda; a doutrina
diferencia as condutas dizendo que possuir estar na posse e manter sob a guarda
manter sob sua vigilncia.
Arma de fogo de uso permitido aquela cuja utilizao autorizada a
pessoas fsicas, bem como a pessoas jurdicas, de acordo com as normas do Comando
do Exrcito e nas condies previstas na Lei n 10.826, de 2003. Cuida-se de norma
penal em branco. O Decreto n 3.665/2000 dene quais so as armas de fogo
permitidas.
A arma de fogo, acessrio e munio devem estar em perfeitas condies de
uso. H necessidade de percia para a comprovao da prtica do crime. Ex.: exame de
ecincia realizado na arma de fogo.
Elemento normativo do tipo: em desacordo com determinao legal ou
regulamentar, ou seja, em desacordo com o Estatuto do Desarmamento e com seus
regulamentos.
Basicamente, para ter arma em casa (posse de arma), precisa-se de
autorizao da Polcia Federal, com o aval do Sinarm.
Para adquirir arma de fogo de uso permitido, o interessado dever, alm de
declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos:
a) comprovao de idoneidade, com a apresentao de certides negativas
de antecedentes criminais fornecidas pela Justia Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e
de no estar respondendo a inqurito policial ou a processo criminal, que podero ser
fornecidas por meios eletrnicos;
b) apresentao de documento comprobatrio de ocupao lcita e de
residncia certa;
c) comprovao de capacidade tcnica e de aptido psicolgica para o
manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento da Lei n
10.826/2003.
O Sinarm expedir autorizao de compra de arma de fogo aps atendidos
os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente e para a arma
indicada, sendo intransfervel esta autorizao.
A aquisio de munio somente poder ser feita no calibre correspondente
arma registrada e na quantidade estabelecida em regulamento.
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A empresa que comercializar arma de fogo em territrio nacional
obrigada a comunicar a venda autoridade competente, como tambm a manter
banco de dados com todas as caracterscas da arma e cpia dos documentos dispostos na
lei.
A empresa que comercializa armas de fogo, acessrios e munies responde
legalmente por essas mercadorias, cando registradas como de sua propriedade
enquanto no forem vendidas.
Ser aplicada multa empresa de produo ou comrcio de
armamentos que realizar publicidade para venda, estimulando o uso
indiscriminado de armas de fogo, exceto nas publicaes especializadas.
A comercializao de armas de fogo, acessrios e munies entre pessoas
fsicas somente ser efetivada mediante autorizao do Sinarm.
Elemento espacial (modal) do tipo: a pessoa pode apenas ter a arma em
casa. No local de trabalho, o nico que tem a posse o proprietrio ou responsvel legal
pelo estabelecimento da pessoa jurdica.
Acerca do tema, vale a pena conferir julgado da 6 Turma do STJ:
Apreenso de arma em caminho. Tipicao. O veculo prossionalmente
no pode ser considerado local de trabalho para tipicar a conduta como
posse de arma de fogo de uso permitido (art. 12 da Lei n 10.826/2003). No
caso, um motorista de caminho prossional foi parado durante scalizao
da Polcia Rodoviria Federal, quando foram encontrados dentro do veculo
um revlver e munies intactas. Denunciado por porte ilegal de arma de
fogo de uso permitido (art. 14 do Estatuto do Desarmamento), a conduta foi
desclassicada para posse irregular de arma de fogo de uso permitido (art.
12 do mesmo diploma), reconhecendo-se, ainda, a abolitio criminis
temporria. O entendimento foi reiterado pelo tribunal de origem no
julgamento da apelao. O Min. Relator registrou que a expresso local de
trabalho contida no art. 12 indica um lugar determinado, no mvel,
conhecido, sem alterao de endereo. Dessa forma, a referida expresso no
pode abranger todo e qualquer espao por onde o caminho transitar, pois tal
circunstncia est sim no mbito da conduta prevista como porte de arma de
fogo. Precedente citado: HC n 16.052-MG, DJe
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9/12/2008. REsp 1.219.901-MG, Rel. Min. Sebastio Reis Jnior,
julgado em 24/4/2012.
A autorizao para o proprietrio possuir arma no interior do
estabelecimento, e no para ele portar. Se seu funcionrio possuir arma no local,
responder pelo crime previsto no art. 14 ou no art. 16 do Estatuto, dependendo se a
arma permitida ou proibida.
Elemento subjetivo do tipo: crime doloso.
Consumao e Tentativa: a consumao se d quando o agente entra
ilegalmente na posse da arma.
Para a maioria da doutrina, crime de mera conduta (no tem resultado
naturalstico) e permanente.
No cabe tentativa.
Entrega das Armas
Houve um perodo, que se estendeu de 23/12/2003 a 25/10/2005, para
entrega das armas de fogo. Vrias medidas provisrias prorrogaram o prazo de entrega
da armas de fogo para a Polcia Federal.
Durante o prazo de que a populao dispunha para entreg-las Polcia
Federal, o delito de posse de arma de fogo no foi claramente abolido pela referida
norma.
Diante das prorrogaes, surgiram questionamentos se havia ocorrido a
abolitio criminis ou a anistia. A jurisprudncia, tanto do STJ como do STF, diz que
houve a chamada abolitio criminis temporria, tambm chamada de descriminalizao
temporria ou vacatio legis indireta.
Houve retroatividade para descriminalizar a posse ilegal de arma de fogo na
vigncia da lei anterior (Lei n 9.437/1997)?
No STJ prevalece o entendimento de que a abolitio criminis temporria
retroativa. Seno vejamos o que foi decidido no HC n 100.561/MT Rel. Ministra Maria
Thereza de Assis Moura, 6 Turma:
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Penal. Processual penal. Habeas corpus. 1. Crime de posse de armas.
Crime come do na vigncia da Lei n 9.437/1997. Vaca o Legis.
Aplicao retroativa. Possibilidade. Extino da punibilidade. 2. Crime de
receptao. Trancamento da ao penal. Falta de prova da origem ilcita dos
bens. Alegaes que dependem de aprofundada incurso no conjunto
probatrio. Matria de mrito. Habeas corpus. Meio incompatvel. 3. Ordem
concedida em parte.
1. Esta Corte j rmou entendimento no sentido de que a vaca o legis
estabelecida pelos arts. 30 e 32 da Lei n 10.826/2003, para a regularizao
das armas dos seus proprietrios e possuidores, reconhecida hiptese de
aboli o criminis temporalis e aplica-se retroativamente aos delitos de posse
de arma praticados sob a vigncia da Lei n 9.437/1997.
2. O habeas corpus no se presta a uma aprofundada incurso no conjunto
probatrio, de molde a constatar a inocorrncia do crime antecedente ao de
receptao. Matria probatria e a ser analisada em sede de apelao, j
interposta.
3. Ordem concedida, em parte, apenas para declarar extinta a punibilidade
do paciente relativamente ao crime previsto no art. 10, 2 da Lei n
9.437/1997, mantendo, todavia, a imputao pelo crime de receptao.
Porm no STF, segundo o Informativo n 494, foi decidido:
A Turma indeferiu habeas corpus em que se pretendia o reconhecimento da
extino da punibilidade com fundamento na supervenincia de norma penal
descriminalizante. No caso, o paciente fora condenado pela prtica do crime
de posse ilegal de arma de fogo de uso restrito (Lei n 9.437/1997, art. 10,
2), em decorrncia do fato de a polcia, em cumprimento a mandado de
busca e apreenso, haver encontrado uma pistola em sua residncia. A
impetrao sustentava que durante a vaca o legis do Estatuto do
Desarmamento, que revogou a citada Lei n 9.437/1997, fora criada situao
peculiar relativamente aplicao da norma penal, haja vista que concedido
prazo (Lei n 10.826/2003, arts. 30 e 32) aos proprietrios e possuidores de
armas de fogo, de uso permitido ou restrito, para que regularizassem a
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situao dessas ou efetivassem a sua entrega autoridade competente,
de modo a caracterizar o instituto da aboli o criminis. Entendeu-se que a
vacatio legis especial prevista nos arts. 30 e 32 da Lei n 10.826/2003 (Art.
30. Os possuidores e proprietrios de armas de fogo no registradas devero,
sob pena de responsabilidade penal, no prazo de 180 dias (cento e oitenta)
dias aps a publicao desta lei, solicitar o seu registro apresentando nota
scal de compra ou a comprovao da origem lcita da posse, pelos meios de
prova em direito admitidos. Art. 32. Os possuidores e proprietrios de armas
de fogo no registradas podero, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias aps
a publicao desta lei, entreg-las Polcia Federal, mediante recibo e,
presumindo-se a boa-f, podero ser indenizados, nos termos do
regulamento desta lei.), no obstante tenha tornado a pica a posse ilegal de
arma de fogo havida no curso do prazo que assinalou, no subtraiu a
ilicitude penal da conduta que j era prevista no art. 10, 2, da Lei n
9.437/1997 e continuou incriminada, com mais rigor, no art. 16 da Lei n
10.826/2003. Ausente, assim, estaria o pressuposto fundamental para que
se vesse como caracterizada a abolitio criminis. Ademais, ressaltou-se que o
prazo estabelecido nos mencionados dispositivos expressaria o carter
transitrio da atitipicidade por ele indiretamente criada. No ponto,
enfatizou-se que se trataria de norma temporria que no teria fora
retroativa no podendo congurar, pois, abolitio criminis em relao aos
ilcitos cometidos em data anterior. HC n 90.995/SP, Rel. Min. Menezes
Direito, 1 Turma, 12/2/2008. (HC n 90.995)
Com a edio da Lei n 11.706 foi dado um novo prazo para regularizao
de armas. A lei presume a boa-f e admite o pagamento de indenizao, porm o agente
deve agir de maneira espontnea. Se no houver entrega de maneira espontnea, por
vontade livre do agente, a conduta tpica estar congurada. Dispe o art. 30 da lei em
estudo:
Art. 30. Os possuidores e proprietrios de arma de fogo de uso permitido
ainda no registrada devero solicitar seu registro at o dia 31 de dezembro
de 2008, mediante apresentao de documento de identicao pessoal e
comprovante de residncia xa, acompanhados de nota scal de compra ou
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comprovao da origem lcita da posse, pelos meios de prova admi dos
em direito, ou declarao rmada na qual constem as caractersticas da
arma e a sua condio de proprietrio, cando este dispensado do pagamento
de taxas e do cumprimento das demais exigncias constantes dos incisos I a
III do caput do art. 4 desta Lei. Para ns do cumprimento do disposto no
caput deste artigo, o proprietrio de arma de fogo poder obter, no
Departamento de Polcia Federal, ceticado de registro provisrio, expedido
na forma do 4o do art. 5o desta Lei. (NR)
Tal norma se estende s munies e acessrios, apesar de no haver meno.
Os arts. 31 e 32 da lei em comento regem:
Art. 31. Os possuidores e proprietrios de armas de fogo adquiridas
regularmente podero, a qualquer tempo, entreg-las Polcia Federal,
mediante recibo e indenizao, nos termos do regulamento desta Lei.
Art. 32. Os possuidores e proprietrios de arma de fogo podero entreg-la,
espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-f, sero
indenizados, na forma do regulamento, cando extinta a punibilidade de
eventual posse irregular da referida arma.
Por m, a Lei n 11.922/2009 prorrogou o prazo de entrega das armas de
fogo de uso permitido at 31 de dezembro de 2009. Dispe o art. 20 da lei mencionada:
Ficam prorrogados para 31 de dezembro de 2009 os prazos de que tratam o 3 do art.
5 e o art. 30, ambos da Lei n 10.826, de 22 de dezembro de 2003.
Em texto extrado da internet, POSSE DE ARMA DE FOGO: , ou no,
crime? de Noeval de Quadros, o autor nos fornece as seguintes concluses:
I O STJ rmou entendimento de que a tpica a conduta de possuir arma
de fogo irregularmente tanto de uso permitido [...] quanto de uso restrito ou
proibido [...] at 23 de outubro de 2005 [...]
II A Lei n 11.706/2008 alterou a redao do art. 30 do Estatuto do
Desarmamento descriminalizando novamente posse de arma de fogo de uso
permitido at 31 de dezembro de 2008 [...]
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III A Lei n 11.706 no descriminalizou a conduta de possuir arma de
fogo de uso proibido ou restrito desde que no passvel de registro e
de numerao raspada ou suprimida.
IV A nova lei alterou tambm o art. 32 do Estatuto do Desarmamento,
criando uma nova causa de extino de punibilidade, que a entrega de
qualquer tipo de arma de fogo autoridade policial. Para essa entrega a lei
no previu prazo.
V A pessoa agrada na posse de arma de fogo de uso permitido, no
registrada aps 31 de dezembro de 2008, ou na posse de arma de fogo de uso
proibido ou restrito de numerao raspada ou suprimida, desde 24 de
outubro de 2005, incidir em crime.
Vale frisar que o autor Noeval de Quadros elaborou o texto mencionado
antes da edio da Lei n 11.922/2009.
Omisso de cautela
Rege o art. 13 da lei em estudo:
Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessrias para impedir que menor
de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de decincia mental se
apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua
propriedade:
Pena deteno, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
Pargrafo nico. Nas mesmas penas incorrem o proprietrio ou diretor
responsvel de empresa de segurana e transporte de valores que deixarem
de registrar ocorrncia policial e de comunicar Polcia Federal perda, furto,
roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessrio ou munio
que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro ) horas depois
de ocorrido o fato.
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Diante da pena aplicada no preceito secundrio, possvel a no
lavratura do Auto de Priso em Flagrante, na hiptese de crime de Omisso de
Cautela, previsto no art. 13 da Lei n 10.826/2003, mas sim de termo circunstanciado.
Anlise do Caput
No caput, trata-se de crime de dupla objetividade jurdica porque protege
dois bens jurdicos:
A Incolumidade pblica (segurana coletiva).
o objeto jurdico imediato protegido por todos os tipos penais do Estatuto
do Desarmamento.
B Menor de 18 anos ou doente mental.
O objeto mediato a vida ou a integridade fsica do menor de 18 anos ou do
doente mental. sujeito passivo o deciente MENTAL, e no o fsico. No
necessria nenhuma relao, por exemplo, de parentesco, entre sujeito ativo e
sujeito passivo.
Sujeito ativo: o possuidor ou proprietrio da arma de fogo.
Objeto material do crime: a arma de fogo permitida ou restrita.
O crime previsto no caput do art. 13 no tem como objetos materiais os
acessrios e munies, apenas armas de fogo.
Elemento subjetivo: crime culposo (deixar de observar as cautelas
necessrias).
E se o responsvel dolosamente deixar menor ou doente mental se apoderar
da arma?
Depender.
Se for menor de 18 anos, responder pelo crime previsto no art. 16,
pargrafo nico, inciso V, do Estatuto do Desarmamento.
Consumao e tentativa: a consumao se d com o mero apoderamento da
arma pelo menor ou doente mental.
A tentativa possvel? NO, pois se trata de crime culposo.
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Anlise do Pargrafo nico
O pargrafo nico do art. 13 do Estatuto do Desarmamento prev tipo penal
autnomo, totalmente distinto do caput e assim disposto:
Pargrafo nico. Nas mesmas penas incorrem o proprietrio ou diretor
responsvel de empresa de segurana e transporte de valores que
deixarem de registrar ocorrncia policial e de comunicar Polcia Federal
perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessrio
ou munio que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro)
horas depois de ocorrido o fato.
Cuida-se de crime prprio, pois apenas poder ser praticado pelo diretor ou
proprietrio de empresa de segurana ou de transporte de valores.
O crime prprio aquele que exige uma especial qualidade do agente, no
caso, ser diretor ou proprietrio de empresa de segurana ou de transporte de valores.
O crime consiste em deixar de registrar o boletim de ocorrncia e em deixar
de comunicar Polcia Federal. O tipo penal exige do sujeito ativo duas comunicaes.
Aps lavrado o B.O., deve ser levado Polcia Federal.
E se zer s uma comunicao?
A maioria da doutrina diz que responder pelo delito, j que o Estatuto (Lei
n 10.826/2003) exige as duas comunicaes.
Para a minoria, uma s comunicao no congura crime. Entende ser o
Estado responsvel pela comunicao entre seus rgos. a corrente da qual nos
liamos.
Os objetos materiais do crime so as armas de fogo deuso permitido ou
de uso restrito, bem como munies ou acessrios.
O elemento subjetivo do crime em estudo o dolo.
A consumao se d aps as primeiras 24 horas depois do fato. Cuida-se de
crime a prazo. Na verdade, depois de conhecido o fato, e no simplesmente ocorrido
o fato. S possvel fazer a comunicao aps tomar cincia do extravio, perda, roubo
ou furto. Salutar dizer que o prazo de 24 horas, a partir do momento em que possvel
fazer a comunicao.
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No possvel tentativa, j que se trata de um crime omissivo puro e de
mera conduta.
Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido
Arma de fogo o instrumento mecnico capaz de lanar projteis a distncia
a partir da exploso de plvora. A partir da palavra munio podemos chegar aos
projteis, plvoras e demais artefatos explosivos com que se carregam as armas de fogo.
Acessrio o artefato que acoplado ou serve de apoio para a arma de fogo.
At 1997, o porte de arma era contraveno penal (art. 19 da LCP). Em
1997, entrou em vigor a Lei das Armas de Fogo (Lei n 9.437/1997), que transformou o
porte de arma de fogo em crime, cominando a mesma sano posse.
Em 2003, entrou em vigor o Estatuto do Desarmamento (Lei n
10.826/2003), mantendo a posse e o porte como crimes.
A autorizao para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo o
territrio nacional, de competncia da Polcia Federal e somente ser concedida aps
autorizaodo Sinarm.
obrigatrio o registro de arma de fogo no rgo competente, sendo
que as armas de fogo de uso restrito sero registradas no Comando do Exrcito.
O certicado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o
territrio nacional, no autoriza o seu proprietrio ao porte e transporte da arma
registrada.
A autorizao de porte de arma de fogo perder automaticamente sua
eccia caso o portador dela seja de do ou abordado em estado de embriaguez ou sob
efeito de substncias qumicas ou alucingenas.
O porte de arma, segundo o Estatuto do Desarmamento, pode ser
concedido queles a quem a ou a corporao autorize a utilizao em razo do
exerccio de sua atividade. Assim, um delegado de polcia que esteja aposentado
no tem direito ao porte de armas; o pretendido direito deve ser pleiteado nos
moldes previstos pela legislao para os particulares em geral.
proibido o porte de arma de fogo em todo o territrio nacional, salvo para
os casos previstos em legislao prpria e para: 1) os integrantes das Foras Armadas,
2) os integrantes de rgos referidos nos incisos do caput do art. 144 da Constituio
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Federal, 3) os integrantes das guardas municipais das capitais dos Estados e dos
Municpios com mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, nas condies
estabelecidas no regulamento da lei em estudo, 4) os integrantes das guardas municipais
dos Municpios com mais de 50.000 (cinquenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos
mil) habitantes, quando em servio8, 5) os agentes operacionais da Agncia Brasileira
de Inteligncia e os agentes do Departamento de Segurana do Gabinete de Segurana
Ins tucional da Presidncia da Repblica, 6) os integrantes dos rgos policiais referidos
no art. 51, IV, e no art. 52, XIII, da Constituio Federal) os integrantes do quadro
efetivo dos agentes e guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e as
guardas porturias, 8) empresas de segurana privada e de transporte de valores
constitudas, nos termos da lei em comento) para os integrantes das entidades de
desporto legalmente constitudas, cujas atividades esportivas demandem o uso de armas
de fogo, na forma do regulamento desta Lei, observando-se, no que couber, a legislao
ambiental. 10) integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do Brasil e de
Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributrio.
Assim, permitido o porte de arma de fogo para os integrantes do
quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais e para as guardas porturias,
desde que comprovada a capacidade tcnica e aptido psicolgica.
Mesmo que o policiamento ostensivo seja de competncia das polcias
militares estaduais, permitido aos integrantes das guardas municipais o porte de arma.
Aos residentes em reas rurais, maiores de 25 (vinte e cinco) anos que
comprovem depender do emprego de arma de fogo para prover sua subsistncia
alimentar familiar ser concedido pela Polcia Federal o porte de arma de fogo, na
categoria caador para subsistncia, de uma arma de uso permitido, de ro simples, com
1 (um) ou 2 (dois) canos, de alma lisa e de calibre igual ou inferior a 16 (dezesseis),
desde que o interessado comprove a efetiva necessidade em requerimento ao qual
devero ser anexados o documento de identicao pessoal, comprovante de residncia
em rea rural, atestado de bons antecedentes.
O caador para subsistncia que der outro uso sua arma de fogo,
independentemente de outras tipicaes penais, responder, conforme o caso, por porte
ilegal ou por disparo de arma de fogo de uso permitido.
As armas de fogo u lizadas pelos empregados das empresas de segurana
privada e de transporte de valores, constitudas na forma da lei, sero de propriedade,
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responsabilidade e guarda das respectivas empresas, somente podendo ser utilizadas
quando em servio, devendo essas observar as condies de uso e de armazenagem
estabelecidas pelo rgo competente, sendo o certicado de registro e a autorizao de
porte expedidos pela Polcia Federal em nome da empresa.
Anlise do art. 14
Dispe o art. 14 do Estatuto do Desarmamento:
Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depsito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar,
manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessrio oumunio, de uso
permitido, sem autorizao e em
desacordo com determinao legal ou regulamentar:
Pena recluso, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Sujeito ativo: crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer
pessoa.
A pena ser aumentada da metade se o crime for praticado por integrante
dos rgos e empresas referidas nos arts. 6, 7 e 8 do Estatuto do Desarmamento.
Houve importante alterao no Estatuto do Desarmamento em relao
Lei n 9.437/1997. Atualmente, possuir o agente condenao anterior por crime
contra a pessoa ou por trco ilcito de entorpecentes no qualica o crime de
porte ilegal de arma de fogo de uso permitido.
Sujeito passivo: a coletividade.
Cuida-se de tipo misto alternativo (prev vrias condutas). tambm
conhecido como tipo de conduta mltipla ,de conduta variada ou plurinuclear. Se
forem cometidas no mesmo contexto ftico, ser crime nico. Por exemplo, o indivduo
que est portando em via pblica duas armas de fogo de uso permitido responder
apenas por um crime.
Elemento normativo: sem autorizao ou em desacordo com determinao
legal. O sujeito ativo no porta a arma de fogo de acordo com o Estatuto do
Desarmamento.
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Diferena do crime de porte para o crime de posse
Ambos tm como objetos materiais armas de fogo, munio e acessrios de
uso permitido.
No se pode confundir posse irregular de arma de fogo com o porte ilegal de
arma de fogo, pois tais condutas restaram bem delineadas.
A posse consiste em manter a arma de fogo no interior de residncia (ou
dependncia desta) ou no local de trabalho .O porte, por sua vez, pressupe que a arma
de fogo esteja fora da residncia ou local de trabalho.
Portar arma de fogo desmuniciada congura crime?
Atualmente, a circunstncia de estar a arma municiada ou no,
relevante para a congurao do delito de porte ilegal de arma de fogo .
H duas correntes:
Primeira corrente: arma desmuniciada congura crime, pouco importando
se possvel o rpido municiamento. a posio do STJ na maioria dos julgados.
Habeas corpus. Penal. Estatuto do Desarmamento. Porte ilegal (art. 14 da
Lei n 10.826/2003). Abolitio criminis temporria. Inocorrncia. Extino da
punibilidade. Impossibilidade. Desnecessidade de a arma estar municiada
para caracterizar crime de porte ilegal. Precedentes do STJ. 1. Consoante o
entendimento desta corte, diante da literalidade dos artigos relativos ao prazo
legal para regularizao do registro da arma (arts. 30, 31 e 32 da Lei n
10.826/2003), a descriminalizao temporria ocorre exclusivamente em
relao s condutas delituosas relativas posse de arma de fogo. 2. No se
pode confundir a posse de arma de fogo com o porte de arma de fogo.
Segundo o estatuto do desarmamento, a posse consiste em manter no interior
de residncia (ou dependncia desta) ou no local de trabalho a arma de fogo,
enquanto que o porte, por sua vez, pressupe que a arma de fogo esteja fora
da residncia ou do local de trabalho. 3. Na espcie, o paciente restou
denunciado pelo porte ilegal de arma (art. 14, da Lei n 10.826/2003). Nesse
contexto, a hiptese de aboli o criminis temporria no alcana a conduta pra
cada, tornando-se, pois, invivel o acolhimento da pretenso ora deduzida. 4.
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No prospera a alegao de que a arma, estando desmuniciada , no
atingiria nenhum bem juridicamente tutelado, inexistindo, assim, o
delito de porte ilegal de arma. que, a teor da jurisprudncia
consolidada desta corte, congura-se o referido crime ainda que a arma
esteja desmuniciada. 5. Ordem denegada. (STJ HC n 200501561630
(48117-GO) 5 Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJU de 16/10/2006, p. 390)
Recurso ordinrio em habeas corpus.
Penal. Porte ilegal de arma de fogo de uso restrito.
Art. 14 da Lei n 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento).
Trancamento da ao penal. A titipicidade. Inexistncia. Desnecessidade de
a arma estar municiada para caracterizar crime de porte ilegal. Precedentes
desta Corte Superior. 1. Para a congurao do delito previsto no art. 14 da
Lei n 10.826/2003, basta que o agente porte a arma de fogo sem autorizao
ou em desacordo com a determinao legal, o que torna irrelevante o fato de
a arma encontrar-se desmuniciada.
Precedentes do Superior Tribunal de Justia. . 2. Recurso desprovido. (STJ
RHC n 200601953462 (20136-SC) 5 Turma, Rel. Min. Laurita Vaz,
DJU de 13/11/2006, p. 275)
Em 2012, a 6 Turma do STJ decidiu:
Arma de fogo desmuniciada. Titipicidade.
A Turma, acompanhando recente assentada, quando do julgamento, por
maioria, do REsp 1.193.805-SP, manteve o entendimento de que o porte
ilegal de arma de fogo crime de perigo abstrato, cuja consumao se
caracteriza pelo simples ato de algum levar consigo arma de fogo sem
autorizao ou em desacordo com determinao legal sendo irrelevante a
demonstrao de efetivo carter ofensivo. Isso porque, nos termos do
disposto no art. 16, pargrafo nico, IV, da Lei n 10.826/2003, o legislador
teve como objetivo proteger a incolumidade pblica, transcendendo a mera
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proteo incolumidade pessoal, bastando, assim, para a congurao
do delito em discusso a probabilidade de dano, e no sua ocorrncia.
Segundo se observou, a lei antecipa a punio para o ato de portar arma de
fogo; , portanto, um tipo penal preventivo, que busca minimizar o risco de
comportamentos que vm produzindo efeitos danosos sociedade, na
tentativa de garantir aos cidados o exerccio do direito segurana e
prpria vida. Conclui-se, assim, ser irrelevante aferir a eccia da arma para
a congurao do tipo penal, que misto-alternativo, em que se
consubstanciam, justamente, as condutas que o legislador entendeu por bem
prevenir, seja ela o simples porte de munio ou mesmo o porte de arma
desmuniciada. Relativamente ao regime inicial de cumprimento da pena,
reputou-se mais adequada ao caso a xao do semiaberto; pois, apesar da
reincidncia do paciente, a pena-base foi xada no mnimo legal trs anos
aplicao direta da Sm. n 269/STJ. HC n 211.823-SP, Rel. Min. Sebas o
Reis Jnior, julgado em 22/3/2012.
E ainda:
Porte. Arma de Fogo desmuniciada. Munio incompatvel.
In casu, o paciente foi agrado em via pblica com uma pistola calibre 380
com numerao raspada e um cartucho com nove munies, calibre 9 mm,
de uso restrito. Em primeiro grau, foi absolvido do porte de arma, tendo em
vista a falta de potencialidade lesiva do instrumento, constatada por meio de
percia. Entendeu, ainda, o magistrado que no se justicaria a condenao
pelo porte de munio, j que os projteis no poderiam ser u lizados. O
tribunal a quo deu provimento ao apelo ministerial ao entender que se
consubstanciavam delitos de perigo abstrato e condenou o paciente, por
ambos os delitos, a quatro anos e seis meses de recluso no regime fechado e
vinte dias-multa. A Turma, ao prosseguir o julgamento, aps o voto-vista do
Min. Sebastio Reis Jnior, denegando a ordem de habeas corpus, no que foi
acompanhado pelo Min. Vasco Della Gius na, e o voto da Min. Maria
Thereza de Assis Moura, acompanhando o voto do Min. Relator, vericou-
se o empate na votao. Prevalecendo a situao mais favorvel ao acusado,
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concedeu-se a ordem de habeas corpus nos termos do voto Min. Relator,
condutor da tese vencedora, cujo entendimento rmado no mbito da
Sexta Turma, a partir do julgamento do AgRg no REsp 998.993-RS, que,
tratando-se de crime de porte de arma de fogo, faz-se necessria a
comprovao da potencialidade do instrumento, j que o princpio da
ofensividade em direito penal exige um mnimo de perigo concreto ao bem
jurdico tutelado pela norma, no bastando a simples indicao de perigo
abstrato. Quanto ao porte de munio de uso restrito, apesar de tais
munies terem sido aprovadas no teste de ecincia, no ofereceram perigo
concreto de leso, j que a arma de fogo apreendida, alm de ineciente, era
de calibre distinto. O Min. Relator ressaltou que, se a Sexta Turma tem
proclamado que a pica a conduta de quem porta arma de fogo
desmuniciada, quanto mais a de quem leva consigo munio sem arma
adequada ao alcance. Alis, no se mostraria sequer razovel absolver o
paciente do crime de porte ilegal de arma de fogo ao fundamento de que o
instrumento ineciente para disparos e conden-lo, de outro lado, pelo
porte da munio. Precedente citado: AgRg no REsp 998.993-RS,
DJe8/6/2009. HC n 118.773-RS, Rel. Min. Og Fernandes,julgado em
16/2/2012.
Segunda corrente: no configura crime previsto no Estatuto se arma de
fogo es ver desmuniciada e sem possibilidade de pronto municiamento. No RHC n
81.057, 1 Turma, DJ de 29/4/2005, o STF decidiu que
No porte de arma de fogo desmuniciada, preciso distinguir duas situaes,
luz do princpio de disponibilidade: (1) se o agente traz consigo a arma
desmuniciada, mas tem a munio adequada mo, de modo a viabilizar
sem demora signicativa o municiamento e, em consequncia, o eventual
disparo, tem-se arma disponvel e o fato realiza o tipo; (2) ao contrrio, se a
munio no existe ou est em lugar inacessvel de imediato, no h a
imprescindvel disponibilidade da arma de fogo, como tal isto , como
artefato idneo a produzir disparo e, por isso, no se realiza a gura tpica.
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Adotando o posicionamento do STF, o STJ no HC n 113.050-SP, 6
Turma, contrariando posio anteriormente adotada, decidiu pela a titipicidade
material da conduta de porte de arma de fogo sem munio, e em consequncia
determinou o arquivamento da ao penal.
Recentemente, a 6 Turma do STJ raticou seu posicionamento:
Conforme o juzo de primeiro grau, a paciente foi presa em agrante quando
trazia consigo uma arma de fogo calibre 22 desmuniciada que, periciada,
demonstrou estar apta a realizar disparos. Assim, a Turma, ao prosseguir o
julgamento, por maioria, concedeu a ordem com base no art. 386, III, do
CPP e absolveu a paciente em relao acusao que lhe dirigida por porte
ilegal de arma de fogo de uso permitido, por entender que o fato de a arma
de fogo estar desmuniciada afasta a titipicidade da conduta, conforme
reiterada jurisprudncia da Sexta Turma. Precedentes citados do STF: RHC
81.057-SP, DJ 29/4/2005; HC 99.449-MG, DJe 11/2/2010; do STJ: HC
76.998-MS, DJe 22/2/2010, e HC 70.544-RJ, DJe 3/8/2009. HC 124.907-
MG, Rel.
Min. Og Fernandes, julgado em 6/9/2011.
Em 9 de Junho de 2009, conforme no cia veiculada no site , a 2 Turma do STF arquivou denncia contra acusado de porte ilegal de
arma:
Por 3 votos a 2, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF)
determinou o arquivamento de ao penal aberta com base em acusao de
porte ilegal de arma porque o denunciado no dispunha de munio para
efetuar disparos.
A deciso foi tomada nesta tera-feira (9), no julgamento de Habeas Corpus
(HC n 97.811) impetrado em defesa de C.N.A., denunciado aps ter sido
preso na cidade de Suzano (SP) com uma espingarda. Ele foi detido porque
carregava a espingarda no banco de trs do seu carro e no tinha porte de
arma.
Segundo a defesa, apesar de a arma estar sem munio e envolvida em um
plstico, os policiais militares prenderam C.N.A. em agrante pelo crime de
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porte ilegal de arma de fogo. A priso foi conrmada pelo delegado,
mas, posteriormente, o juiz concedeu a liberdade provisria. No entanto,
C.N.A. passou a responder a uma ao penal pelo crime.
Para os ministros Eros Grau, Cezar Peluso e Celso de Mello, a conduta de
C.N.A. no est prevista no Estatuto do Desarmamento (10.826/2003).
Arma desmuniciada e sem munio prxima no congura o tipo [penal],
ressaltou Peluso.
O ministro acrescentou que no relatrio do caso consta que a denncia
descreve que a espingarda estava sem munio. que espingarda, [para se
estar] com munio prxima, s se ele [o acusado] se comportasse que nem
artista de cinema, com cinturo etc, disse Peluso.
Para a ministra Ellen Gracie, relatora do habeas corpus, e o ministro
Joaquim Barbosa, o arquivamento da ao penal nesses casos prematuro
quando existe laudo pericial que ateste a eccia da arma para a realizao
de disparos.
No caso, a arma foi periciada e encontrava-se [em plenas condies de
uso], disse a ministra. Segundo ela, o laudo pericial registra que a arma se
mostrou ecaz para produzir disparos, bem como apresentou vestgios de
resduos de tiros.
Conforme veiculado no Informativo n 550, o STF, a 1 Turma, decidiu:
Porte ilegal de arma e ausncia de munio.
Para a congurao do delito de porte ilegal de arma de fogo irrelevante o
fato de a arma encontrar-se desmuniciada e de o agente no ter a pronta
disponibilidade de munio. Com base nesse entendimento, a Turma
desproveu recurso ordinrio em habeas corpus interposto por condenado
pela prtica do crime de porte ilegal de arma de fogo (Lei n 9.437/1997, art.
10), no qual se alegava a titipicidade do porte de revlver desmuniciado
ante a ausncia de leso ao bem jurdico penalmente protegido. Assentou-se
que
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a objetividade jurdica da norma penal transcende a mera proteo da
incolumidade pessoal para alcanar a tutela da liberdade individual e do
corpo social como um todo, asseguradas ambas pelo incremento dos nveis
de segurana coletiva que a lei propicia. Enfatizou-se, destarte, que se
mostraria irrelevante, no caso, cogitar-se da eccia da arma para
congurao do tipo penal em comento isto , se ela estaria, ou no,
municiada ou se a munio estaria, ou no, ao alcance das mos , porque a
hiptese seria de crime de perigo abstrato para cuja caracterizao
desimporta o resultado concreto da ao. (RHC n 90.197/DF, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski,9/6/2009)
Mais recentemente, a 2 Turma do STF decidiu:
Porte Ilegal de Arma e Ausncia de Munio
O fato de a arma de fogo encontrar-se desmuniciada torna a tpica a conduta
prevista no art. 14 da Lei n 10.826/2003 [Portar, deter, adquirir, fornecer,
receber, ter em depsito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente,
emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo,
acessrio ou munio, de uso permitido, sem autorizao e em desacordo
com determinao legal ou regulamentar:
Pena recluso, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.]. Com base nesse
entendimento, a Turma, por maioria, deferiu habeas corpus impetrado em
favor de condenado pela prtica do crime de porte ilegal de arma de fogo de
uso permitido (Lei n 10.826/2003, art. 14), haja vista que a arma
encontrava-se desmuniciada. Vencida a Min. Ellen Gracie, relatora, que, por
reputar pica a conduta em tela, indeferia o writ. HC n 99.449/MG, rel. orig.
Min. Ellen Gracie, red. p/ o acrdo Min. Cezar Peluso, 25/8/2009.
Em 2009, a Sexta Turma do STJ decidiu:
A Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, deu provimento ao
agravo regimental a m de conceder a ordem de habeas corpus para
restabelecer a sentena. Para o Min. Nilson Naves, o condutor da tese
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vencedora, conforme precedente, a arma de fogo sem munio no
possui eccia, por isso no pode ser considerada arma.
Consequentemente, no comete o crime de porte ilegal de arma de fogo
previsto na Lei n 10.826/2003 aquele que tem consigo arma de fogo
desmuniciada. Precedente citado: HC n 70.544-RJ, 6 Turma, DJe 3/8/2009.
AgRg no
HC n 76.998-MS, Rel. originrio Min. Haroldo Rodrigues (Desembargador
convocado do TJ-CE), Rel. para acrdo Min. Nilson Naves, 6 Turma,
julgado em 15/9/2009.
Assim, de acordo com o posicionamento do STJ, a ttulo de exemplo,
imaginemos que Alfredo, imputvel, transportava em seu veculo um revlver de
calibre 38, quando foi abordado em uma operao policial de trnsito. A diligncia
policial resultou na localizao da arma, desmuniciada, embaixo do banco do
motorista. Em um dos bolsos da mochila de Alfredo foram localizados 5 projteis
do mesmo calibre. Indagado a respeito, Alfredo declarou no possuir autorizao
legal para o porte da arma nem o respectivo certicado de registro. O fato foi
apresentado autoridade policial competente. Nessa situao, caber autoridade
somente a apreenso da arma e das munies e a imediata liberao de Alfredo,
visto que, estando o armamento desmuniciado, no se caracteriza o crime de porte
ilegal de arma de fogo.
H quem defenda que, pelo simples fato de portar acessrio ou munio, j
h congurao de crime, com mais razo se punir quem estiver com uma arma de
fogo sem munio. Para ns, crime portar munies de arma de fogo.
Sobre o porte ilegal de munio, decidiu o STJ:
Trata-se da necessidade ou no de comprovao da potencialidade lesiva
para congurao do delito de porte ilegal de munio. Nas instncias
ordinrias, o juiz condenou o ora recorrido, como incurso no art. 14 (caput)
da Lei n 10.826/2003, a dois anos de recluso em regime aberto e 10 dias-
multa, substituda a sano por duas medidas de direitos, mas o Tribunal a
quo proveu sua apelao, absolvendo-o. Da que o MP estadual interps o
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REsp, armando que o porte de munio sem autorizao e em
desacordo com a determinao legal ou regulamentar no depende da
comprovao da potencialidade lesiva da munio, tal como , tambm, no
caso da presena de arma de fogo. O Min. Relator, invocando precedente do
STF. Consta HC n 93.876-RJ, 1 Turma, julgado em 28/4/2009, ainda no
publicado, entendeu que se est diante de crime de perigo abstrato, de forma
que to s o comportamento do agente de portar munio sem autorizao
ou em desacordo com determinao legal ou regulamentar suciente para a
congurao do delito em debate. Observou, ainda, que no via previso
pica em que o legislador tenha desejado a anlise caso a caso da
comprovao de que a conduta do agente produziu concretamente situao
de perigo. Porm, essa posio cou vencida aps a divergncia inaugurada
pelo Min. Nilson Naves, que concluiu pela a tipicidade da conduta,
conforme posio similar ao porte de arma sem munio, que, por no
possuir eccia, no pode ser considerada arma. Precedente citado: HC n
70.544-RJ, 6 Turma, DJe 3/8/2009. REsp n 1.113.247-RS, Rel. originrio
Min. Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ-CE), Rel. para
acrdo Min. Nilson Naves, 6 Turma, julgado em 15/9/2009.
Em 2012, a 5 Turma do STJ decidiu que:
Porte ilegal de munio. Ausncia de arma de fogo.
A Turma, por maioria, absolveu o paciente do crime de porte ilegal de
munio; ele fora preso com um nico projtil, sem ter havido apreenso da
arma de fogo. O Min. Relator entendeu que se trata de crime de perigo
abstrato, em que no importa se a munio foi apreendida com a arma ou
isoladamente para caracterizar o delito. Contudo, no caso, vericou que no
houve leso ao bem jurdico tutelado na norma penal, que visa resguardar a
segurana pblica, pois a munio foi u lizada para suposta ameaa, e no
esse po de perigo, restrito a uma nica pessoa, que o po penal visa evitar. E,
por se tratar de apenas um projtil, entendeu pela ofensividade mnima da
conduta, portanto por sua a tipicidade. A Min. Maria Thereza de Assis
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Moura e o Min. Og Fernandes tambm reconheceram a a tipicidade da
conduta, mas absolveram o paciente sob outro fundamento: o crime de
porte de munio de perigo concreto, ou seja, a munio sem arma no
apresenta potencialidade lesiva. Precedente citado do STF: HC n 96.532-
RS, DJe 26/11/2009. HC n 194.468- MS, Rel. Min. Sebastio Reis Jnior,
julgado em 17/4/2012.
Porte de arma desmontada congura crime previsto no art. 14? Depende
do caso concreto; se possvel mont-la rapidamente e munici-la, pode congurar o
delito. J o porte de arma inapta para efetuar disparos congura crime impossvel.
Sobre a necessidade de realizao de exame pericial na arma de fogo, com a
nalidade de se determinar sua capacidade de efetuar disparos, a 1 Turma do STF
decidiu que:
Porte Ilegal de Arma de Fogo e Exame Pericial
A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus impetrado pela Defensoria
Pblica da Unio em favor de condenado pela prtica do crime de porte
ilegal de arma de fogo (Lei n 9.437/1997, art. 10) no qual se sustentava a
necessidade de exame pericial para a congurao do delito. Alegava que,
embora a percia vesse sido feita na arma de fogo apreendida, esta fora
realizada por policiais que atuaram no inqurito e sem qualicao
necessria. Reputou-se que eventual nulidade do exame pericial na arma
no descaracterizaria o delito atualmente disposto no art. 14, caput, da Lei n
10.826/2003, quando existir um conjunto probatrio que permita ao julgador
formar convico no sentido da existncia do crime imputado ao ru, bem
como da autoria do fato. Salientou-se, ainda, que os policiais militares,
conquanto no haja nos autos a comprovao de possurem curso superior,
teriam condies de avaliar a potencialidade lesiva da arma. Registrou-se,
contudo, que a sentena condenatria sequer se baseara na percia feita por
esses policiais, mas sim na declarao do prprio paciente que, quando
interrogado, dissera que usava aquela arma para a sua defesa pessoal,
demonstrando saber de sua potencialidade. Vencido o Min. Marco Aurlio,
que deferia o writ por considerar que o laudo pericial, ante o teor do art. 25
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da Lei n 10.826/2003 [As armas de fogo apreendidas, aps a elaborao
do laudo pericial e sua juntada aos autos, quando no mais interessarem
persecuo penal sero encaminhadas pelo juiz competente ao Comando
do Exrcito, no prazo mximo de 48 (quarenta e oito) horas, para destruio
ou doao aos rgos de segurana pblica ou s Foras Armadas, na forma
do regulamento desta Lei.], seria formalidade essencial, que deveria ser
realizada por tcnicos habilitados e no por policiais militares. Precedente
citado: HC n 98.306/RS (DJE de 19/11/2009, 2 Turma). HC n
100.008/RS, rel. Min. Dias Tooli, 1Turma, 18/5/2010. (HC-10.008).
Porte de munio congura crime?
Sim, pois crime de perigo abstrato (aquele cuja existn cia dispensa a
demonstrao efetiva de que a vtima cou exposta a uma situao concreta de risco
STJ Recurso Especial n 803.824, 6 Turma).
Acerca do tema, a 1 Turma do STF decidiu
Porte Ilegal de Munio e Ausncia de Laudo Pericial
A Turma deferiu habeas corpus em que se discutia se o crime de porte ilegal
de munio (Lei n 10.826/2003, art. 14) imporia, ou no, a realizao de
percia atestando-se a potencialidade lesiva das munies para a
congurao do delito. Asseverou-se que, no caso, a questo envolveria a
problemtica da aplicao da lei no tempo, perquirindo-se qual norma estaria
em vigor na data da prtica criminosa. Salientou-se que, na poca do crime,
o art. 25 da Lei n 10.826/2003 determinava a realizao de percia em
armas de fogo, acessrios ou munies apreendidos (Armas de fogo,
acessrios ou munies apreendidos sero, aps elaborao do laudo pericial
e sua juntada aos autos, encaminhados pelo juiz competente, quando no
mais interessarem persecuo penal, ao Comando do Exrcito, para
destruio, no prazo mximo de 48 horas.), sendo tal dispositivo alterado
pela Lei n 11.706/2008, a qual estabeleceu que a percia caria restrita s
armas de fogo. Aduziu-se no ter cabimento tomar preceitos legais como
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incuos, mormente quando disserem respeito a certo tipo. No ponto,
consignou-se haver, no artigo aludido, a exigncia de elaborao do
laudo pericial e a juntada do processo, sendo nica a sua razo de ser:
comprovar a potencialidade quer do revlver, quer do acessrio ou da
munio apreendidos. Frisou-se, assim, que, ante o fato de a formalidade
estar ligada ao prprio tipo penal, no caberia a inverso do nus da prova
para se atribuir ao acusado a comprovao da falta de potencialidade quer da
arma, do acessrio ou da munio. Ordem concedida para restabelecer o
entendimento sufragado pelo Tribunal de Justia. do Estado de Santa
Catarina que implicara a absolvio do paciente. HC n 97.209/SC, rel. Min.
Marco Aurlio, 16/3/2010. (HC n 97.209)
A 2 Turma do STF decidiu recentemente acerca do tema em comento:
Porte Ilegal de Munio - 3
A Turma retomou julgamento de habeas corpus em que se pretende, por
ausncia de potencialidade lesiva ao bem juridicamente protegido, o
trancamento de ao penal instaurada contra denunciado pela suposta prtica
do crime de porte de munio sem autorizao legal (Lei n 10.826/2003,
art. 14), sob o argumento de que o princpio da interveno mnima no
Direito Penal limita a atuao estatal nesta matria v. Informativos nos 457
e 470. O Min. CezarPeluso, em voto-vista, por reputar a tpica a conduta
imputada ao paciente, deferiu o writ para determinar o trancamento da ao
penal. Observou, de incio, que a matriz denidora e legitimadora do Direito
Penal residiria, sobretudo, na noo de bem jurdico, sendo ela que
permitiria compreender os valores aos quais o ordenamento concederia a
relevncia penal, de acordo com a ordem axiolgica da Constituio, e, por
isso, legitimaria a atuao do instrumento penal. Ressaltou que, na chamada
sociedade do risco, com a pretenso de se atenuar a insegurana decorrente
da complexidade, globalidade e dinamismo social, demandar-se-ia a
regulao penal das atividades capazes de produzir perigo, na expectativa de
que o Direito Penal fosse capaz de evitar condutas geradoras de risco e de
garantir um estado de segurana. Considerou que, para jus car a
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antecipao da tutela penal para momento anterior efetiva leso ao
interesse protegido, falar-se-ia em preveno e controle das fontes de
perigo a que esto expostos os bens jurdicos, para tratar situaes antes no
conhecidas pelo Direito Penal tradicional. Frisou reprovvel, construir-se-ia
uma relao meramente hipottica entre a ao incriminada e a produo de
perigo ou dano ao bem jurdico. Destacou que o ilcito penal consistiria na
infrao do dever de observar determinada norma, concentrando o injusto
muito mais no desvalor da ao do que no desvalor do resultado, que se faria
cada vez mais difcil identicar ou mensurar.
[...]
Assim, enfatizou que, em vez do tradicional elemento de leso ao bem
jurdico, apareceria como pressuposto legitimador da imputao a
desaprovao do comportamento que vulnera dever denido na esfera
extra-penal. Asseverou, no ponto, que essa tendncia poderia entrar em
choque com os pressupostos do Direito Penal clssico, fundado na estrita
legalidade, na proporcionalidade, na causalidade, na subsidiariedade, na
interveno mnima, na fragmentariedade e lesividade, para citar alguns dos
seus princpios norteadores. Evidenciou, destarte, que grave dilema se poria
no fato de que, de um lado se professaria que o Direito Penal deveria
dedicar-se apenas proteo subsidiria repressiva dos bens jurdicos
essenciais, por meio de instrumentos tradicionais de imputao de
responsabilidade, segundo princpios e regras clssicos de garan a, e, de
outro, postular-se-ia a exibilizao e ajuste dos instrumentos dogmticos e
das regras de atribuio de responsabilidade, para que o Direito Penal
reunisse condies de atuar na proteo dos bens jurdicos supra individuais,
e no controle dos novos fenmenos do risco. Esclareceu que as normas de
perigo abstrato punem a realizao de conduta imaginada ou hipoteticamente
perigosa sem a necessidade de congurao de efetivo perigo ao bem
jurdico, na medida em que a periculosidade da conduta tpica seria
determinada antes, por meio de uma generalizao, de um juzo hipottico
do legislador, fundado na ideia de mera probabilidade. Avaliou que, nos
tipos de perigo concreto, se exigiria o desvalor do resultado, impondo o risco
do bem protegido, enquanto, nos tipos de perigo abstrato, ocorreria claro
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adiantamento da proteo do bem a fases anteriores efetiva leso.
Asseverou, todavia, que deveria restar caracterizado um mnimo de
ofensividade como fator de delimitao e conformao de condutas que
merecessem reprovao penal. Nesse sentido, registrou que a aplicao dos
instrumentos penais de atribuio de responsabilidade s novas realidades
haveria de se restringir aos casos em que fosse possvel compatibilizar a
nova tipicao com os princpios clssicos do Direito Penal.
[...]
Salientou ser certo que a lesividade nem sempre signicaria dano efetivo ao
bem jurdico protegido, mas, para se entender e justicar como tal, exigiria,
pelo menos, que de algum modo se pusesse em causa uma situao de
perigo. Reportou que, ainda nos delitos de perigo abstrato, seria preciso
acreditar na perigosidade da ao, no desvalor real da ao e na
possibilidade de resultado perigoso, no sendo punvel, por isso, a conduta
que no pusesse em perigo, nem sequer em tese ou por hiptese, o bem
jurdico protegido. Entendeu que a conduta considerada perigosa de um
ponto de vista geral e abstrato poderia no o ser em verdade e, no casodos
autos, no haveria possibilidade de leso in-
columidade pblica em virtude do transporte de 10 projteis, de forma
isolada, sem a presena de arma de fogo. Sustentou que da no se poderia
admitir a comparao com eventual trco ou transporte de grande
quantidade de material de munio. Nesse diapaso, compreendeu que a
conduta de portar munio, uma das vrias previstas pelo art. 14 da Lei n
10.826/2003, no seria aprioris camente detentora de dignidade penal,
porquanto se haveria de se vericar, em cada caso, se a conduta seria capaz
de, por si, representar ameaa real ou potencial a algum bem jurdico.
Consignou que, se no se vislumbrar ofensividade da conduta, a
criminalizao do porte de munio fulmina a referncia material, que,
segundo os padres clssicos, deveria no s justicar a interveno do
Direito Penal, mas presidir a interpretao dos tipos com vistas a determinar
a sua realizao.
[...]
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Assinalou que, se a conduta em questo no detm dignidade penal, a
aplicao do art. 14 da Lei n 10.826/2003, na espcie, representaria
unicamente o uso do Direito Penal para a manuteno do sistema de controle
do comrcio de armas e munies. Ou seja, tal modelo imporia a aceitao
de um discurso eminentemente funcional, mediante preveno em geral
negativa, procurando intimidar toda a sociedade quanto prtica criminosa.
Assentou que isso justicaria, do ponto de vista da poltica criminal, certa
antecipao da tutela, derrogando-se o princpio da lesividade, em funo de
necessidades da administrao, o que, denitivamente, no seria e nem
poderia ser o seu papel, nem sequer no contexto de uma sociedade de risco.
Acrescentou, ademais, que o conceito material do delito e a ideia de
subsidiariedade do Direito Penal, como diretriz poltico-criminal,
pressuporiam que, antes de lanar mo do Direito Penal, o Estado adotasse
outras medidas de poltica social que visassem proteger o bem jurdico,
podendo faz-lo de maneira igual e at mais eciente. Armou que a
condenao do paciente pelo porte de 10 projteis apenas como incurso em
tipo penal tendente a proteger a incolumidade pblica contra efeitos
deletrios da circulao de arma de fogo no pas seria um exemplo do
exerccio irracional do jus puniendi ou do crescente distanciamento entre
bem jurdico e situao incriminada, o que, fatalmente, conduzir
progressiva indenio ou diluio do bem jurdico protegido que a razo
de ser do Direito Penal. Aps, pediu vista dos autos a Min. Ellen Gracie. HC
n 90.075/SC, rel. Min. Eros Grau, 2 Turma, 20/4/2010. (HC n 90.075)
Entendendo como crime o simples porte ilegal de munio, vale a pena
trazer a colao o seguinte julgado da 2 Turma do STF:
Porte ilegal de arma de fogo e ausncia de munio 3
Em concluso ,a2Turma,pormaioria,denegou habeas corpus no qual
denunciado pela suposta prtica do crime de porte ilegal de arma de fogo de
uso permitido pleiteava o trancamento de ao penal v. Informavos 601 e
612. Entendeu-se que, aps a entrada em vigor da Lei n 10.826/2003, a
hiptese seria de crime de perigo abstrato, para cuja caracterizao no
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importaria o resultado concreto da ao. Aduziu-se que a referida lei,
alm de tipicar o simples porte de munio no exigiria para
configurao do crime sob anlise que a arma es vesse municiada, de acordo
com que se extrairia da redao do art. 14 daquele diploma legal. Avaliou-
se, ainda, que o trancamento de ao penal seria medida reservada a
situaes excepcionais, como a manifesta a tipicidade da conduta, a presena
de causa de extino da punibilidade do paciente ou a ausncia de indcios
mnimos de autoria e materialidade delitivas, inocorrentes na espcie. Para
evitar supresso de instncia, no se conheceu da alegao, no apreciada
pelo STJ nem pelo tribunal estadual, de que o paciente fora autorizado, por
presidente da Corte estadual, a portar arma, a qual s no estaria registrada
em seu nome porque, poca dos fatos, ainda vigoraria o prazo legal para o
devido registro. No obstante, explicitou-se que esse prazo, espcie de
vacatio legis indireta, teria sido des nado aos proprietrios e possuidores de
arma de fogo (Lei n 10.826/2003, art. 12), e no queles acusados de porte
ilegal (art. 14) . Vencido o Min. Celso de Mello, que concedia a ordem por
entender destituda de tipicidade penal a conduta imputada ao paciente. HC
n 96.759/CE, rel. Min. Joaquim Barbosa, 28/2/2012.(HC n 96.759)
Aps a exposio acerca do tema do porte de arma desmuniciada, vlido
trazer ao conhecimento dos operadores do direito, o texto da lavra do Professor
Fernando Capez, cujo ttulo Para crime, o estado do artefato no importa, disponvel
em , acesso no domingo, 31/10/2010, s 22:28:
Recentemente a 1 Turma do Supremo Tribunal Federal, reformulando
antigo posicionamento, passou a se pronunciar no sentido de que, para o
perfazimento do crime de porte de arma de fogo arts. 14 e 16 do Estatuto
do Desarmamento , no importa se o artefato est ou no municiado ou,
ainda, se apresenta regular funcionamento.
Com base nessa nova linha diretriz albergada pela aludida Turma, nos
diversos arestos referidos, sero reputadas criminosas as condutas de: (a)
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portar arma sem munio; (b) portar arma inecaz para o disparo; (c)
portar arma de brinquedo; e (d) portar munio isoladamente.
O venervel entendimento, no entanto, passvel de questionamento, pois
considera que o perigo pode ser presumido de modo absoluto, de maneira a
considerar delituosos comportamentos totalmente inecazes de ofender o
interesse penalmente tutelado, menoscabando o chamado crime impossvel,
em que a ao jamais poder levar leso ou ameaa de leso do bem
jurdico, em face da impropriedade absoluta do objeto material, ou
ineccia absoluta do meio empregado.
Por essa razo, analisaremos aqui cada uma das referidas situaes,
primeiramente, luz da antiga jurisprudncia da Egrgia Corte e de outros
tribunais, e, posteriormente, sob a perspectiva da doutrina.
O porte de arma sem munio
Segundo anterior interpretao sedimentada pela 1 Turma do STF, haveria a
a tipicidade do porte de arma desmuniciada e sem que o agente vesse nas
circunstncias a pronta disponibilidade de munio, luz dos princpios da
lesividade e da ofensividade, porquanto incapaz a conduta de gerar leso
efetiva ou potencial incolumidade pblica. Assim, decidiu-se que: (a) se o
agente traz consigo a arma desmuniciada, mas tem a munio adequada
mo, de modo a viabilizar sem demora signicativa o municiamento e, em
consequncia, o eventual disparo, tem-se arma disponvel e o fato realiza o
tipo; (b) ao contrrio, se a munio no existe ou est em lugar inacessvel
de imediato, no h a imprescindvel disponibilidade da arma de fogo, como
tal isto , como artefato idneo a produzir disparo e, por isso, no se
realiza a gura tpica.
O porte de arma inecaz
Da mesma forma que a arma desmuniciada, sobredita Turma, no RHC n
81.057/SP, vinha se manifestando no sentido da no congurao do tipo
penal do porte de arma de fogo inapta para disparo ou de arma de brinquedo,
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pois Para a teoria moderna que d realce primacial aos princpios da
necessidade da incriminao e da lesividade do fato criminoso o
cuidar-se de crime de mera conduta no sentido de no se exigir sua
congurao um resultado material exterior ao no implica admitir sua
existncia independentemente de leso efetiva ou potencial ao bem jurdico
tutelado pela incriminao da hiptese de fato.
Com efeito, na gura criminal cogitada, os princpios bastam, de logo, para
elidir a incriminao do porte da arma de fogo inidnea para a produo de
disparos: aqui, falta incriminao da conduta o objeto material do po. No
importa que a arma verdadeira, mas incapaz de disparar, ou a arma de
brinquedo possam servir de instrumento de intimidao para a prtica de
outros crimes, particularmente, os comissveis mediante ameaa pois
certo que, como tal, tambm se podem u lizar outros objetos da faca
pedra e ao caco de vidro , cujo porte no constitui crime autnomo e cuja
utilizao no se erigiu em causa especial de aumento de pena.
Porte de munio isoladamente
Havia julgados no sentido de que, embora a conduta estivesse formalmente
prevista na Lei n 10.826/2003, a ausncia de potencialidade lesiva
conduziria a tipicidade, porque, do contrrio, haveria violao ao princpio
da ofensividade. Nesse sentido: Artefato que no oferece ofensividade
incolumidade pblica, uma vez que a munio, por si s, no gera perigo
algum, pelo fato de que no pode ser utilizada sozinha (TJ-RS, Apelao
Crime n 70.013.631.122, Sexta Cmara Criminal, Rel. Min. Paulo Moacir
Aguiar Vieira, Julgado em 23/3/2006). Na mesma linha: TJ-RS, Apelao
Crime n 70.012.863.270, Stima Cmara Criminal, Rel. Min. Nereu Jos
Giacomolli, Julgado em 13/10/2005; TJ-RS, Apelao Crimen
70.012.651.477, Sexta Cmara Criminal, Rel. Des.
Joo Batista Marques Tovo, Julgado em 6/10/2005.Do mesmo modo, j
havia se pronunciado a 1 Turma do STF, I Paciente que guardava no
interior de sua residncia 7 (sete) cartuchos munio de uso restrito, como
recordao do perodo em que foi sargento do Exrcito. II Conduta
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formalmente tpica, nos termos do art. 16 da Lei n 10.826/2003. III
Inexistncia de Potencialidade lesiva da munio apreendida,
desacompanhada de arma de fogo. A tipicidade material dos fatos. IV
Ordem concedida (STF, 1 Turma, HC n 96.532/RS, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, j. 6/10/2009, DJE 27/11/2009)
A nova jurisprudncia do STF
Consoante o novo esclio sedimentado pela 1 Turma do STF, nos acrdos
j mencionados, haver a congurao de crime em todas as situaes acima
aludidas, na medida em que o Estatuto do Desarmamento, em seu art. 14,
tipicou criminalmente a simples conduta de portar munio, a qual,
isoladamente, ou seja, sem a arma, no possui qualquer potencial ofensivo.
Alm do que, segundo a Egrgia Corte, a objetividade jurdica dos delitos
previstos na Lei transcende a mera proteo da incolumidade pessoal, para
alcanar tambm a tutela da liberdade individual e de todo o corpo social,
asseguradas ambas pelo incremento dos nveis de segurana coletiva que ele
propicia.
Por derradeiro, em conformidade com essa inovadora diretriz, passou a ser
dispensvel a confeco de laudo pericial para aferio da materialidade do
delito.
Crticas ao posicionamento do STF
Tal entendimento passvel de questionamento, pois o perigo no pode ser
presumido de modo absoluto, de maneira a considerar criminosas condutas
totalmente inecazes de ofender o interesse penalmente tutelado.
O bem jurdico precipuamente tutelado pela Lei n 10.826/2003 a
incolumidade pblica. Em ltima anlise, o que o Diploma Legal pretende
proteger o direito vida, integridade corporal, e, com isso, garantir a
segurana do cidado em todos os aspectos. Para atingir esse objetivo, o
legislador procurou coibir o ataque a to relevantes interesses de modo
bastante amplo, punindo a conduta perigosa ainda em seu estgio
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embrionrio. Com efeito, tipica-se a posse ilegal de arma de fogo, o
porte e o transporte dessa arma em via pblica, o disparo, o comrcio e o
trco de tais artefatos, com vistas a impedir que tais comportamentos,
restando impunes, evoluam at se transformar em efe vos ataques. Em outras
palavras, pune-se o perigo, antes que se convole em dano. Perigo abstrato ou
presumido aquele cuja existncia dispensa a demonstrao efetiva de que a
vtima cou exposta a uma situao concreta de risco. Contrape-se ao
perigo concreto, que exige a comprovao de que pessoa determinada ou
pessoas determinadas caram sujeitas a um risco real de leso. Trata-se de
situao de real modicao no mundo exterior, perceptvel
naturalisticamente e consistente na alterao das condies de
intangibilidade do bem existente antes da prtica da conduta. O perigo
concreto deui de dada situao objetiva em que o comportamento humano
gerou uma possibilidade concreta de destruio do bem jurdico tutelado, at
ento no existente (antes da conduta no havia risco de leso, e depois se
constatou o surgimento dessa possibilidade).
No o que ocorre com os delitos previstos nos arts. 12 a 18 da Lei n
10.826/2003, cujos tipos penais no mencionam, em momento algum, como
elemento necessrio congurao tpica, a prova da efetiva exposio de
outrem a risco. Basta a realizao da conduta, sendo desnecessria a
avaliao subsequente sobre a ocorrncia, in casu, de efetivo perigo
coletividade. Assim, por exemplo, um sujeito que sai noite perambulando
pelas ruas com uma arma de fogo na cinta, sem autorizao para port-la,
cometer a infrao prevista nos arts. 14 (arma de uso permitido) ou 16
(arma de uso proibido), independentemente de se comprovar que uma pessoa
determinada cou exposta a situao de perigo. No fosse assim e o autor de
to grave infrao restaria impune, bastando alegar que no havia ningum
por perto, para ver-se livre da imputao.
Por outro lado, isso no signica que a lei possa presumir o perigo em
qualquer conduta. Seno, vejamos. Na hiptese de arma absolutamente
inapta a efetuar disparos, o fato ser a pico, no porque no se logrou
comprovar a efetiva exposio de algum a uma situao concreta de risco,
mas porque a conduta jamais poder levar a integridade corporal de algum
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a um risco de leso. A lei no pode presumir a existncia de perigo para
a vida, na ao de golpear o peito de um adulto com um palito de
fsforo; no pode presumir que a ingesto de substncia abortiva capaz
de colocar em risco a vida intrauterina de mulher que no esteja grvida; no
pode presumir que a vida j inexistente de um cadver foi ameaada por um
atirador mal informado; no pode, enm, presumir que o porte de arma
totalmente inecaz para produzir disparos seja capaz de ameaar a
coletividade, de reduzir o seu nvel de segurana. Evidentemente, nesta
ltima hiptese, estaremos diante de um crime impossvel pela ineccia
absoluta do objeto material (CP, art. 17). A lei s pode presumir o perigo
onde houver, em tese, possibilidade de ele ocorrer. Quando, de antemo, j
se verica que a conduta jamais poder colocar o interesse tutelado em risco,
no h como presumir o perigo. Em suma, no existe crime de perigo
quando tal perigo for impossvel. Coisa bem diferente sustentar que uma
conduta em tese apta a colocar em risco outras pessoas no seja considerada
pica apenas porque no se comprovou a exposio de pessoas determinadas
a situao de perigo concreto.
certo que o princpio da ofensividade no deve ser empregado para tornar
obrigatria a comprovao do perigo, mas para tornar a picos os
comportamentos absolutamente incapazes de lesar o bem jurdico. a
aplicao pura e simples do art. 17 do CP, que trata do chamado crime
impossvel (tambm conhecido por tentativa inidnea, que aquela que
jamais pode dar certo). Assim, se, por exemplo, um casal de namorados
pratica atos libidinosos em local ermo e em horrio de nenhuma circulao
de pessoas, no se pode falar em ato obsceno, uma vez que o bem jurdico
pudor da coletividade no foi sequer exposto a uma situao real de
perigo. Quando o art. 233 do CP tipica o delito em questo, pressupe que
a conduta tenha idoneidade para, ao menos, submeter o interesse social
tutelado a algum risco palpvel. Se impossvel o risco de leso ao bem
jurdico, no existe crime. Do mesmo modo, se o sujeito mantm arma de
fogo dentro de casa, sem ter o registro legal do artefato, est realizando uma
conduta descrita como delito pelo art. 12 do Estatuto do Desarmamento. No
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de casas estiver descarregada, em um ba trancado no sto da edcula,
no fundo do quintal, no se poder falar na ocorrncia de ilcito penal,
uma vez que, nessa hiptese, a conduta jamais redundar em reduo do
nvel de segurana da coletividade. Presumir perigo no signica inventar
perigo onde este jamais pode ocorrer. Perigo presumido no sinnimo de
perigo impossvel.
Em suma, entendemos que a ofensividade ou lesividade um princpio que
deve ser aceito, por se tratar de princpio constitucional do direito penal,
diretamente derivado do princpio da dignidade humana (CF, art. 1, III).
Sua aplicao, no entanto, no pode ter o condo de abolir totalmente os
chamados crimes de perigo abstrato, mas to somente temperar o rigor de
uma presuno absoluta e inexvel. A ofensividade deve ser empregada
para afastar as hipteses de crime impossvel, em que o comportamento
humano jamais poder levar o bem jurdico a leso ou a exposio a risco de
leso. No mais, deve-se respeitar a legtima opo poltica do legislador de
resguardar, de modo mais abrangente e ecaz, a vida, a integridade corporal
e a dignidade das pessoas, ameaadas com a mera conduta, por exemplo, de
algum possuir irregularmente arma de fogo no interior de sua residncia ou
domiclio. Finalmente, no tocante equiparao legal da posse ou do porte
de acessrios ou munio arma de fogo, vale mencionar que o sujeito que
for de do transportando somente a munio de um armamento de uso restrito
incidir nas mesmas penas que aquele que transportar a prpria arma
municiada. No parece ser a medida mais justa, pois o projtil, sozinho, isto
, desacompanhado da arma de fogo, pode no ter idoneidade vulnerante.
Alm do que, a pena para quem mantm consigo, porta ou transporta, dentre
outras condutas, apenas a munio ou o acessrio elevadssima, ou seja,
recluso, de 3 a 6 anos, mais multa, nos termos do artigo 16 da nova Lei, e,
portanto, mais grave at mesmo que as sanes cominadas a alguns crimes
contra a vida, tais como o induzimento, instigao ou auxlio ao suicdio
(CP, art. 122: Pena, recluso, de 2 a 6 anos, se o suicdio se consuma); o
infanticdio (CP, art. 123: Pena, deteno, de 2 a 6 anos); o aborto provocado
pela gestante ou com seu consentimento (CP, art. 124: Pena, deteno, de 1 a
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proibida a reproduo total ou parcial do contedo deste material todos os direitos reservados. 37
3 anos); o aborto provocado por terceiro com o consentimento da
gestante (CP, art. 126: Pena, recluso, de 1 a 4 anos); e a leso corporal
de natureza grave (CP, art. 129, 1: Pena, recluso, de 1 a 5 anos).
Verique-se que a interrupo criminosa da vida intrauterina, a contribuio
para que algum ponha m prpria vida, a ofensa integridade corporal de
outrem com sequelas denitivas, por exemplo, so comportamentos que
agridem diretamente o bem jurdico, provocando-lhe efetiva leso. Desse
modo, no tem sentido punir o perigo potencial representado pela mera
posse de munio ou acessrio com maior rigor do que se pune o dano
concreto, muitas vezes provocado pelo uso efetivo da arma e sua munio.
Por todas as razes acima expendidas, cremos que as situaes tratadas pela
1 Turma do STF merecem ser analisadas luz do princpio da ofensividade,
como forma de temperar o rigor de uma presuno absoluta e inexvel dos
crimes de perigo abstrato, sob pena do come mento de graves injustias.
Assim, a ofensividade dever ser utilizada para rechaar as hipteses de
crime impossvel, em que o comportamento humano jamais poder levar o
bem jurdico a leso ou a exposio a risco de leso. Quando, de antemo, j
se verica que a conduta jamais poder colocar o interesse tutelado em
risco, no h como presumir o perigo.
A consumao do art. 14 se d com a prtica de uma das duas condutas.
A conduta ter em depsito torna o crime permanente.
possvel tentativa no art. 14? Em determinadas condutas possvel a
tentativa, como, por exemplo, tentar adquirir.
Objeto material: arma de fogo e o exame pericial dispensvel. (AgRg no
Resp. n 917.040- SC, 6 Turma, Rel. Min. Paulo Gallo , julg. em 29/4/2008).
No mesmo sentido, a Primeira Turma do STF decidiu que:
Porte Ilegal de Arma de Fogo e Exame Pericial
Em concluso de julgamento, a Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus
impetrado em favor de condenado pela prtica do delito de porte ilegal de
arma de fogo de uso permitido (Lei n 10.826/2003, art.14) no qual se
sustentava a indispensabilidade de
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exame pericial vlido na arma apreendida. Salientou--se a peculiaridade
do caso, pois o prprio paciente conrmara, em juzo, que havia
comprado a pistola. Asseverou-se, inclusive, que o paciente fora preso por
ter feito uso da arma em suposto crime contra a vida , e que ela se
mostrara ecaz. Vencido o Min. Marco Aurlio, relator, que concedia a
ordem por entender indispensvel a feitura de percia quando da apreenso
de armas de fogo. Acrescentava que o CPP revelaria impedimentos
relativamente atuao dos peritos e que, assim, a um s tempo, o policial
no poderia exercer atividade que lhe fosse inerente e atuar como perito.
HC n 96.921/RS, rel. orig. Min. Marco Aurlio, red. p/ acrdo Min. Dias
Tooli, 14/9/2010. (HC n 96.921)
Dispunha o pargrafo nico do art. 14: [...] Pargrafo nico. O crime
previsto neste artigo inaanvel, salvo quando a arma de fogo es ver registrada em
nome do agente.
Esse artigo foi declarado inconstitucional pelo STF na ADI n 3.112
(2/5/2007, Tribunal Pleno). O fundamento dado a essa inconstucionalidade do art. 14 do
Estatuto do Desarmamento que, por ser crime de mera conduta, desproporcional e
desarrazoado compar-lo com os crimes hediondos.
Vejamos a ementa da deciso proferida pelo pleno do STF:
EMENTA: AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N
10.826/2003. ESTATUTO DO DESARMAMENTO.
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL AFASTADA. INVASO DA
COMPETNCIA RESIDUAL DOS ESTADOS. INOCORRNCIA.
DIREITO DE PROPRIEDADE. INTROMISSO DO ESTADO NA
ESFERA PRIVADA DESCARACTERIZADA. PREDOMINNCIA DO
INTERESSE PBLICO RECONHECIDA. OBRIGAO DE RENOVA-
O PERIDICA DO REGISTRO DAS ARMAS DE FOGO. DIREITO
DE PROPRIEDADE, ATO JURDICO PERFEITO E DIREITO
ADQUIRIDO ALEGADAMENTE VIOLADOS. ASSERTIVA
IMPROCEDENTE. LESO AOS PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS DA
PRESUNO DE INOCNCIA E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL.
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AFRONTA TAMBM AO PRINCPIO DA RAZOABILIDADE.
ARGUMENTOS NO ACOLHIDOS. FIXAO DE IDADE
MNIMA PARA A AQUISIO DE ARMA DE FOGO.
POSSIBILIDADE. REALIZAO DE REFERENDO. INCOMPETNCIA
DO CONGRESSO NACIONAL. PREJUDICIALIDADE. AO
JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE QUANTO PROIBIO
DO ESTABELECIMENTO DE FIANA E LIBERDADE PROVISRIA. I
Dispositivos impugnados que constituem mera reproduo de normas
constantes da Lei n 9.437/1997, de iniciativa do Executivo, revogada pela
Lei n10.826/2003, ou so consentneos com o que nela se dispunha, ou,
ainda, consubstanciam preceitos que guardam anidade lgica, em uma
relao de pertinncia, com a Lei n 9.437/1997 ou com o PL n 1.073/1999,
ambos encaminhados ao Congresso Nacional pela Presidncia da Repblica,
razo pela qual no se caracteriza a alegada inconstitucionalidade formal. II
Invaso de competncia residual dos Estados para legislar sobre segurana
pblica inocorrente, pois cabe Unio legislar sobre matrias de
predominante interesse geral. III O direito do proprietrio percepo de
justa e adequada indenizao, reconhecida no diploma legal impugnado,
afasta a alegada violao ao art. 5, XXII, da Constituio Federal, bem
como ao ato jurdico perfeito e ao direito adquirido. IV A proibio de
estabelecimento de ana para os delitos de porte ilegal de arma de fogo de
uso permitido e de disparo de arma de fogo, mostra--se desarrazoada,
porquanto so crimes de mera conduta, que no se equiparam aos crimes que
acarretam leso ou ameaa de leso vida ou propriedade. V
Insusceptibilidade de liberdade provisria quanto aos delitos elencados nos
arts. 16, 17 e 18. Inconstitucionalidade reconhecida, visto que o texto magno
no autoriza a priso ex lege, em face dos princpios da presuno de
inocncia e da obrigatoriedade de fundamentao dos mandados de priso
pela autoridade judiciria competente. VI Identicao das armas e
munies, de modo a permitir o rastreamento dos respectivos fabricantes e
adquirentes, medida que no se mostra irrazovel. VII A idade mnima
para aquisio de arma de fogo pode ser estabelecida por meio de lei
ordinria, como se tem admitido em outras hipteses. VIII Prejudicado o
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exame da Inconstitucionalidade formal e material do art. 35, tendo em
conta a realizao de referendo. IX Ao julgada procedente, em parte,
para declarar a Inconstitucionalidade dos pargrafos nicos dos arts. 14 e 15
e do art. 21 da Lei n 10.826, de 22 de dezembro de 2003.
O homicdio absorve o crime do art. 14 do Estatuto do Desarmamento?
Primeira corrente: responde sempre pelos dois crimes, porque os tipos
penais protegem bens jurdicos distintos. O crime de homicdio protege o bem jurdico
vida, enquanto o crime de disparo protege a coletividade.
Segunda corrente: se o crime de porte de arma foi praticado apenas para a
execuo do homicdio, ou seja, se foi fase normal e necessria para a execuo do
delito, car absorvido, tendo em vista o princpio da consuno. No caso, o porte de
arma seria crime-meio para a prtica do delito de homicdio.
o posicionamento da Sexta Turma do STJ, seno vejamos: Sexta Turma
Consuno. Porte ilegal. Arma de fogo.
Em habeas corpus, o impetrante defende a absoro do crime de porte ilegal
de arma de fogo pelo crime de homicdio visto que, segundo o princpio da
consuno, a primeira infrao penal serviu como meio para a prtica do
ltimo crime. Explica o Min. Relator que o princpio da consuno ocorre
quando uma infrao penal serve inicialmente como meio ou fase necessria
para a execuo de outro crime. Logo, a aplicao do princpio da consuno
pressupe, necessariamente, a anlise de existncia de um nexo de
dependncia das condutas ilcitas para vericar a possibilidade de absoro
daquela infrao penal menos grave pela mais danosa. Assim, para o Min.
Relator, impe-se que cada caso deva ser analisado com cautela, deve-se
atentar viabilidade da aplicao do princpio da consuno, principalmente
em habeas corpus, em que nem sempre possvel um profundo exame dos
fatos e provas. No entanto, na hiptese, pela descrio dos fatos na instruo
criminal, na pronncia e na condenao, no h dvida de que o porte ilegal
de arma de fogo serviu de meio para a prtica do homicdio. Diante do
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exposto, a Turma concedeu a ordem para, com fundamento no princpio
da consuno, excluir o crime de porte de arma de fogo da condenao
do paciente. Precedentes citados: REsp. n 570.887-RS, DJ 14/2/2005; HC
n 34.747-RJ, DJ 21/11/2005, e REsp. n 232.507- DF, DJ 29/10/2001. HC
n 104.455-ES, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 21/10/2010.
Disparo de arma de fogo
Rege o art. 15 da lei em estudo:
Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munio em lugar habitado ou em
suas adjacncias, em via pblica ou em direo a ela, desde que essa conduta
no tenha como nalidade a prtica de outro crime:
Pena recluso, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Sujeito ativo: crime comum (pode ser praticado por qualquer pessoa). A
pena ser aumentada da metade se o crime for praticado por integrante dos rgos e
empresas referidas nos arts. 6, 7 e