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Casa do Todos, escuta e afeto.
Mirella D’Angelo Viviani
1.Introdução
A Casa do Todos é um espaço de ação social que se revela
como uma rede de Serviços dirigida à Todos, às pessoas, à
comunidade. O propósito do trabalho é Servir e multiplicar, no espaço
da humanidade, a atitude do encontro que possibilita a expressão e
impressão da relação da pessoa com ela mesma e com o outro.
Por quê Casa do Todos?
O Todos são pessoas. O Todos é cada um, cada pessoa, cada
personalidade que constitui a humanidade.
Cuidar desse lugar de pertencimento de cada um e da
expressão deste lugar é o principal foco de atenção da Casa do
Todos.
O Todos, com suas delicadezas e peculiaridades pessoais, vive
em nós. É uma imagem consciente ou inconsciente que nos acorda
para perceber a humanidade toda em nossa alma. É por isso que é
comum pessoas que chegam na Casa, exteriorizarem sua sensação
por meio de uma imagem muito simples e terna: “...- Me sinto em
casa!...”.
Sim, um retorno à casa original.
A Casa como uma referência de afeto, um lugar suficientemente
bom para voltar, para estar e para encontrar pessoas, fazer e comer
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bolinho de chuva... conversar... falar sobre a vida... e no meio e
entre isto, consertar a cadeira quebrados, colher manjericão para
perfumar travesseiros, recortar figurinhas para colar no papel, ouvir
música, caminhar, tomar um café, descansar.
O Todos traz a força de individualidades para um grupo. Isto
quer dizer que Casa do Todos é constituída por um grupo de pessoas
que assumem a responsabilidade de receber a si mesmas e a cada
um que chega com sua forma de ser, de existir.
Assim conta um grande amigo que, por causa da distância que
percorria para estar na Casa, não conseguia mais vir:
“... Vocês já perceberam que eu não consigo mais ir... Porém
ninguém sai do Todos. O Todos é eterno, é todo. Mesmo estando
aqui, no Uruguai ou na China! Todos estamos no Todos.” Vinicius
2. Casa do Todos: A História
A Casa do Todos é a expressão de um movimento de vontade
que crê no ser humano e no seu potencial de afeto, de criação. Nasce
da confiança de que as relações de afeto se desenvolvem e se
fortalecem por meio do encontro de pessoas e de suas histórias.
Ela se abre e começa a acontecer quando em minha casa eu
recebia muitas e diferentes pessoas para compartilhar um tempo
juntos. As ideias apareciam e fazíamos coisas que nos aproximavam:
conversávamos, líamos, inventávamos palavras divertidas,
chorávamos com a poesia de Cecília Meireles, olhávamos álbuns de
fotos, brincávamos de conversar em mímica e soltar pum, ouvíamos
uns aos outros sobre gostos e desgostos, aprendíamos a engraxar
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sapatos, a cozinhar, pintar, costurar... tomávamos Tubaína... até...
algum outro dia, quando teria mais encontro...
O tempo passou e fui me dando conta que as pessoas que
apareciam em Casa traziam sempre uma necessidade especial de
convivência, de expressão de quem são e foi assim que o ambiente
da Casa foi e é por si só fundamentado na livre expressão de cada
pessoa acolhendo com afeto a vida que pulsa na vontade que a visita.
É assim que a Casa se traduz como um espaço terapêutico de
convivência.
3. A Casa de Portas Abertas: Quem chega na Casa do Todos.
Figura 1 - O Portal de Luz
Cláudio Ferraz - Tinta Acrílica sobre tela
Este trabalho pintado com o dedo traduz uma fase do artista quando encontrou em sonho com um
portal.
São várias situações de vida que a Casa do Todos se abre para
acolher. Essencialmente, o despertar da expressão livre do talento de
cada pessoa, valorização da pessoa com o melhor que possa ser e a
entrega deste tesouro a um grupo, a uma Família humana, não
sanguínea, fraterna. O sentimento é de que devemos e podemos
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resgatar o lugar de pertencimento de cada um por meio da
convivência e da livre expressão da vontade da pessoa.
A sensação do não pertencimento é a principal origem dos
desajustes sociais pois traz em si a separação entre a pessoa e o
outro, a pessoa e seu contexto, imergindo cada um na solidão. A
solidão é um dos venenos mais potentes para a alma humana. Uma
alma isolada sente medo, revolta e raiva.
Quando pessoas de diferentes estilos, valores, credos, crenças
culturais começam a vir em Casa para passar um tempo e resgatar
seu sonho de pertencimento por meio da expressão, nasce um novo e
maravilhoso campo de interação com o humano: a convivência.
A convivência sem exigência diagnóstica, sem pré-conceito de
estados humanos, sem metas materiais de realização. A convivência
que cuida do estar juntos, cultiva a escuta, possibilita a livre
expressão, a palavra, o silêncio, o fazer sem necessariamente
resultar num produto, o sensível que recolhe a saúde da mente, da
alma, do espírito.
Assim, a Casa pulsa! Recebe todas as pessoas:
• Pessoas com deficiência e super eficiência.
• Pessoas muito jovens e pessoas idosas.
• Pessoas no destino e outras procurando onde ele está.
• Pessoas carentes de um lugar para fazer algo útil e
pessoas carentes de um lugar para fazer nada.
• Pessoas querendo serem ouvidas e pessoas querendo
ouvir.
• Pessoas precisando falar e pessoas precisando calar.
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• Pessoas doentes, pessoas precisando de remédio, de
roupas, de café com leite.
• Pessoas com excesso de afeto e pessoas carentes de
afeto.
• Pessoas precisando mover e pessoas precisando ficar
quietinhas.
• Pessoas com falta de fome e pessoas com muita fome.
• Pessoas que moram na casa da rua e pessoas que moram
na rua como casa.
• Pessoas precisando criar e expressar.
• Pessoas querendo acolher e pessoas querendo ser
acolhidas.
• Pessoas sonhadas por tantos e pessoas que sonham.
4. Princípios da Casa do Todos, um espaço para o Sensível
O convite é ver a Casa do Todos por dentro no encontro de todo
dia.
Ver a Casa por dentro é entrar em contato com o que é próprio
do homem em sua existência de comportamentos mentais,
emocionais e espirituais. Este contato é regado pelo olhar humano
de terapeutas: artistas, jardineiros, professores, marceneiros,
cozinheiras, médicos e tantas outras pessoas, que cuidam do
atendimento terapêutico da pessoa que chega. A Casa é de lida
simples, escuta a vida que cada pessoa traz, a casa que cada um
representa na vida consciente e inconsciente de sua alma. É por isso
que o perfil dos atendimentos é baseado na escuta atenta do corpo,
da linguagem, do gesto, na imagem que cada pessoa traz no espaço
de convivência.
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A Casa do Todos pulsa na poesia da existência e adota a
imagem que propõe Mia Couto quando ensina ao pequeno garotinho
Muidinga: “O homem é como a casa: deve ser visto por dentro”. Sim
o homem é uma bela casa! Uma casa de mundo infinito e vasto de
imagens e referências. Esta bela casa humana é o interesse único da
existência da Casa do Todos. É por isso que a sustentação do campo
da Casa do Todos em seu dia a dia, espontâneo, cotidiano e simples é
vibrar nos encontros das pessoas com elas mesmas e com os outros
e motivá-las a expressar sua vontade, criar vida!
5. Acontece vida na Casa do Todos
Figura 2 – Árvore de Flores - Bernadete Bianco
Pintura com lápis de cor em papel sulfite
...O dia nasce e a Casa do Todos acorda. Acorda quando os
Sabiás cantam, as Maritacas anunciam os raios de sol na amoreira,
os relâmpagos assombram no céu. A campainha toca...
Logo cedo a Casa acorda. A vida que dormia entre o lapso e o
susto do sonho vem com a luz do dia se espreguiçar no espaço para
acordar. A Casa se constitui espaço para Acordar! Acordar o corpo e,
no sensível inspirar da sensação do presente, sentir o aqui e agora: o
que está acontecendo, quem sou eu.
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Assim a Casa acorda junto a Todos a memória de que somos
pessoas e nossa Casa é corpo físico, é alma e também espírito. A
Casa nos recorda de que somos humanos.
Todos os dias pessoas vêm até a Casa para viver a
oportunidade de mergulhar neste espaço íntimo, próprio, particular
que é a existência em cada um.
A Casa se sustenta viva neste espaço do sensível contato da
pessoa com ela mesma, com o outro e com a realidade. Assim
contam os depoimentos de pessoas que experimentam a convivência
na Casa:
“...Pela manhã cuidar do quintal, musicar o espaço, ler as
orientações do dia, preparar comida. Começo da tarde lavar a louça,
descansar na roda da fogueira, dançar, sentar em roda. Ao
entardecer molhar o jardim, recolher a rede, tomar um bom banho,
dormir, descansar.
Tudo é simples e comum e se revela na lida que cuida das
relações nutrindo-as do afeto, assim:
O almoço está servido. Péricles sente-se tonto, senta na cadeira
e pede a farofa predileta. João senta junto e começa a falar... fala do
suor que toma seu corpo, da ansiedade que transborda, respira com
som alto e fala, fala... Sabrina permanece estática, com os olhos a
espera do convite para sentar-se. Marcão aguarda o aviso para retirar
do forno o macarrão. Jairo conta de suas férias, do encontro com seu
descanso da rotina. O telefone toca... alguém pede um conselho
sobre estado de dor. Todos sentados para almoçar e a campainha
avisa que a mandioca está esperando no portão no carrinho de
Marcelo: É o Marcelo da mandioca... vamos comprar pra fazer
amanhã!
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A chuva fina cai, o gato sentado no muro, olha todos na mesa
do almoço. Está posta a comida. O macarrão, que é sempre o prato
do dia para os visitantes surpresa é regado pelo tempero principal:
manjericão e azeite.
Tudo é movimento sem combinados! Uma surpreendente
relação com a vida que está no dia a dia pedindo escuta.
A Casa se move e é movida por um ritmo de encontros em
fazeres de grupo: dança, conversa, arte marcial, bordado, invenções,
pintura, dobraduras, música, histórias. Encontros de pessoas e seus
mundos. A ordem do espaço e a vida das atividades oferecidas é
permeada por intervalos que marcam pitadas de desorganizações
alegres não formais que possibilitam que a vida aconteça!
A base do campo da Casa do Todos é a relação entre as
pessoas, entre os fatos da vida. Este é o presente comum. Um
espaço aberto para ser... um Lar que pulsa e procura conhecer as
vontades internas e externas que pulsam em cada pessoa.
Este pulso de movimento acolhe, sem restrições, no Todos,
cada pessoa que chega para estar um pouco em lugar de descanso,
aprofundamento pessoal, descoberta de talento, fazendo parte de um
espaço comum.
Assim as pessoas chegam e ficam um tempo e alimentam-se de
afeto, presença, disponibilidade vazia de expectativas, criam contato
consigo mesmas e com os outros... “
6. A convivência é um espaço terapêutico
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A Casa acontece no fluxo de existência dos relacionamentos, no
transitar dos imprevistos da convivência, a emergência de mundos
objetivos e subjetivos que sustentam a pessoa e suas relações. No
relacionar-se de pessoa com pessoas, a vida acontece inteira: os
mundos subjetivos de cada um se bastam, se cuidam e se
expressam, se curam. O lugar de saúde aparece quando a vontade
pode ser expressa.
A Casa oferece um campo de possibilidades de relacionamentos
para as pessoas degustarem o encontro com o outro e com elas
mesmas. Nesse campo de relacionamentos entre as pessoas e seus
fazeres, existem terapeutas que transitam entre os espaços,
interagindo com o grupo de encontro, e cuidando das necessidades
de escuta individuais ou grupais.
O lugar do terapeuta é acompanhar, observar o movimento da
natureza dos mundos subjetivos e objetivos que emergem nas
relações e no espaço de criação. Esta é a forma que nutre a
terapêutica da Casa: crer que a pessoa é quem faz o trabalho, as
transformações, as criações necessárias para sustentar sua vida
psíquica.
7. Ação da Casa do Todos é com a pessoa no grupo
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Figura 3 – Castiçal - Bernadete Bianco
Lápis de cor em papel sulfite
“... existe para cada um de nós uma casa onírica, uma casa de
lembrança-sonho, perdida na sombra de um além do passado
verdadeiro [...] Habitar onírica mente a casa natal é mais que habitá-
la pela lembrança; é viver na casa desaparecida tal como ali
sonhamos um dia...“ Barchelard na Poética do Espaço
A experiência Casa do Todos é um convite para visitar e
revisitar e hospedar nossa Casa: o corpo, a alma, o espírito.
Retornar à Casa e visitá-la significa tomar posse da vontade
que nos sopra vivos. A vontade que nos move e nos acorda para
nossos sonhos mais humanos, puros e suaves, maledicentes e duros.
Assim sentimo-nos em casa com uma bela vista na varanda voltada
para quem somos.
A Casa do Todos é um espaço que cuida do lugar de
pertencimento de toda a pessoa que a visite como hospede.
Sim, a Casa do Todos recebe pessoas como hospedes
interessados em visitarem-se, ocuparem-se, criarem-se,
testemunharem-se!
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A imagem que podemos emprestar é a de uma tenda alva,
ampla, onde pessoas podem se proteger do calor e da chuva
intensos, lugar sob o qual existem muitas pessoas compartilhando da
mesma necessidade. Todos hóspedes do mesmo espaço aberto, do
mesmo sonho. Neste sonho flui a Casa do Todos no tempo da alma,
viva, real, recebendo o movimento do que existe na vida de cada
pessoa que a visita ancorando talentos.
8. O Convite é para cada pessoa visitar seu próprio idioma
Casa do Todos é visível para cada pessoa, é um campo aberto,
que ancora sonhos, talentos de pessoas esquecidas de sua verdadeira
natureza. Este é o convite permanente de cuidados na Casa do Todos
para que a pessoa perceba sua vontade, se perceba na vontade de
“seu idioma interno próprio“, como diz Alicia Fernández, e possa
expressá-lo.
Para os terapeutas que sustentam o campo, o convite é a
convivência com pessoas, de, tal forma que rótulos, diagnósticos,
definições de padrões sejam de importância para mostrar o idioma da
situação ou da pessoa, mas não para fixar condutas ou classificações.
O desafio é pensar na pessoa como passo e caminho na realidade e
não como paciente de uma doença. A Casa representa um intervalo,
intermediário e aberto, entre a saúde e a doença, de tal forma
expandida que aceita a criação e recriação dos inevitáveis e múltiplos
problemas da pessoa humana.
“... A experiência -Casa das Palmeiras- demonstra que a volta à
realidade depende, em primeiro lugar, de relacionamento confiante
com alguém, relacionamento que se estenderá, aos poucos, a
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contatos com outras pessoas e ambientes. O ambiente que reina na
Casa é por si próprio, assim pensamos, um agente terapêutico...” Nise
da Silveira
O convite é desafiador para quem recebe e para quem oferece
o espaço de escuta e atenção ao cotidiano da vida de pessoas. O
espaço da Casa do Todos é um intervalo vazio que passa por entre as
pessoas que cuidam de pessoas e possibilita a escuta do drama de
suas vidas. É nesse intervalo que é possível sustentar o encontro da
pessoa consigo mesma e habitar a presença de quem
ela é.
Não temos a pretensão de que as pessoas
resolvam seus estados de conflito mas oferecemos
espaço para que este encontro pessoal, este mergulho
para dentro, aconteça de forma particular em estado de solidão,
porém sustentado em grupo, por muitos outros que mergulham e
testemunham o mergulho do outro.
O convite que a Casa do Todos traz é para que a pessoa se
reconheça como unidade em um território livre, terapêutico, fraterno,
criativo e que possa expressar sua própria natureza. É a pessoa
envolvida consigo mesma, no grupo, que traz a oportunidade para a
Casa do Todos existir.
9. Visão ética da Casa do Todos
Testemunhar-se e testemunhar ao outro é Amor.
Existe um dito Africano de autor desconhecido que sugere uma
reflexão profunda no que significa ser testemunha da humanidade
nas relações cotidianas:
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...Eu Sou o que vejo de mim em tua face... Figura 5 – Sem título - Bernadete Bianco
Lápis de cor sobre papel sulfite
Este é o lugar verdadeiro onde a ética se mostra no dia dia da
Casa. Este lugar onde a pessoa se testemunha no outro é o espaço
que provoca nas pessoas o conhecimento pessoal 7e as motiva a
frequentar a Casa do Todos. A vivência da ética nas relações
acontece quando sou capaz de me colocar no lugar do outro e cuidar
com afeto e dedicação dos sentimentos e sensações que são
evocados em mim.
Esta inspiração ...Eu Sou o que vejo de mim em tua face...
mostra um modo de ver a pessoa que está junto a nós no dia a dia.
A ética está em se dar conta de que o Outro que está a minha frente
toca a minha pessoa... é alguém íntimo de minha história em sua
história e em seu modo de ser.
O exercício sugerido nesta ética vivenciada na Casa é que a
dissemelhança que o outro me oferece no seu modo de ser, o
desencontro que ele ativa nas sensações pessoais, é o material de
interesse para o auto desenvolvimento de cada um.
Nise da Silveira ao escrever sobre a Vida e Obra de Jung conta
sobre este aspecto do relacionar-se no humano: “...Quando Sartre diz
que a existência do outro o atinge em pleno coração, que sua
presença lhe traz uma sensação de mal estar, que por causa do
outros sente-se perpetuamente em perigo, define uma atitude de
introversão. Já na pintura de Matisse acontece o contrário. O objeto é
glorificado. Ele o retira da atmosfera que o envolve para dar-lhe
marcas, contornos e coloridos intensos...”
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Assim, a pessoa é convidada por meio do ambiente da Casa a
olhar-se em espelho e ver-se. O afeto cuida deste ato de coragem
sustentando o passo da pessoa em direção a ela mesma. Este
movimento ético que acontece é Amor. Como diz Nise: “... uma feliz
e confiante relação estabelece-se entre o homem e seu mundo
quando ele está junto ao Outro...”
10. Metodologia
Figura 6 – Letras e texto - Percival Dente
Caneta hidrográfica preta sobre papel sulfite
A Casa do Todos proporciona um espaço livre de combinados
formais. É um lugar que facilita o mergulho na história pessoal ao
mesmo tempo que anima a relação entre as pessoas. Neste ambiente
as forças curativas se manifestam. As pessoas transitam no espaço e
assumem lugares com diferentes responsabilidades, conforme a
situação se coloca: se escutam, se olham, se inventam, se cuidam.
Terapeutas acompanham o movimento das pessoas
sustentando a Escuta atenta, o diálogo, a livre expressão, a autoria.
A. Escuta Atenta
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Casa do Todos ancora em suas raízes o princípio da escuta
atenta, sensível para com toda pessoa que venha com o pedido
de caminhar ao encontro de sua própria ignorância a respeito
de si mesma.
O modo de existir da Casa do Todos é fundamentada por uma
prática da escuta entre as pessoas. Ser terapeuta na Casa do Todos é
praticar a escuta aberta, livre de conceitos e formas. Entendemos que
o lugar do terapeuta é estar disponível para partir na estrada do
autoconhecimento do ponto onde o outro está e juntos experimentar
um caminho, um passo na direção da consciência do que está
acontecendo. Assim conta um amigo da Casa: “...O espaço que
constrói um modo de fazer na Casa do Todos, tem a abertura na boa
vontade, na compreensão, na disposição de ouvir. Ancora uma escuta
que personaliza, demonstra intimidade e dá uma face a tudo que é
comunicado e que é existência no mundo do outro. Atender o outro é
dar, prestar atenção, refletir, tomar em consideração a pessoa que
entrega a você as palavras, as imagens que a visitam...”
B. Diálogo
O diálogo oferece a oportunidade de, ao ouvir o outro, nos
ouvir. Assim podemos experimentar o afeto que visita a relação entre
duas ou mais pessoas e à partir dele propor alternativas de
aprofundamento ou de negociação de algum ponto ardiloso.
A inspiração vem descrita por Rogers em seu livro “Tornar-se
Pessoa”, quando registra diálogos e o sentido do relacionar-se com o
Outro e consigo mesmo:
“...Este livro trata dos dois, do cliente e de mim, quando
vemos, maravilhados, as forças poderosas e organizadas que se
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manifestam em toda esta experiência, forças que parecem ir buscar
as raízes em todo o universo...”
É no diálogo que as imagens surgem lindas e consistentes como
material de sustentação para essa relação pois mostram o interesse
que toma a mente e os sentimentos da pessoa. Também é com o
diálogo que surge a indagação, a pergunta e junto com ela tantos
argumentos. A pergunta é uma maravilha que organiza um sentido:
Pergunta gentil é como o dedo que aponta para um
determinado lugar e move o destino. Pergunta gentil é aquela que
autoriza a pessoa a se mover segundo sua própria necessidade ou
possibilidade, podendo olhar ou não para onde o dedo aponta.
O sentido do diálogo então é a comunicação, o gesto, é a busca
do sentir nas relações simples do dia-a-dia, do acordar o corpo para o
lugar de quem pode receber a escritura sagrada da vivência de uma
pessoa.
C. Expressão
A Arte expressa o que vemos dentro de nós...
...é um ” espaço para aprender por dentro”.
“...Não sou pintor sou o painel...” Afonso, 27 anos
O painel “... reúne a situação do mundo interno dos indivíduos
que se afastaram do mundo real e vivem num outro mundo. As obras
produzidas pelos clientes do hospital representam caminhos para o
entendimento da origem de seu sofrimento, uma maneira de
conhecer algo desse outro mundo. São como documentos vivos.
Através das imagens pode-se saber coisas que jamais seriam
percebidas em conversa...” Nise da Silveira
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A Casa do Todos vive esta experiência diária de estar ocupando
o lugar de buscar e identificar, junto a cada pessoa, o pincel que cada
uma usa. A verdade é que, quem pinta é a vontade, o querer interno,
inconsciente ou consciente da pessoa. A pessoa que pinta é a obra
nas palavras de Afonso: o painel.
Assim conta Moacir Amaral artista e medico na Casa do Todos:
“- A ação revela o homem. A arte revela o homem em seus aspectos
conscientes e inconscientes: é aquilo tudo que nós pensamos ao
fazer arte e mais o tanto que escapa à nossa consciência e que conta
de nós e de muito mais, revelando universos e um querer que nos
ultrapassa e ainda assim nos pertence.”
O Espaço das diferentes formas de expressão se constitui um
lugar de foco importante na metodologia da Casa do Todos. As
diversas formas de expressão artística podem oferecer a todos um
meio para expressar simbolicamente o mundo interno presente na
alma e na mente do artista, do autor.
A expressão do autor pode acontecer em diferentes núcleos:
teatro, movimento, dança, artes marciais, musica, pintura, escultura,
bordado, desenho, jardinagem e tantos outros.
A Casa do Todos está organizada de forma a ser um grande
atelier onde muitas e diferentes imagens estão oferecidas para
acordar aquele que olha para elas.
Todas estas formas estão disponíveis e a pessoa está livre para
se aproximar daquela(s) com a(s) qual(ais) pode expressar melhor o
que sente. Este movimento interno de aproximação ou afastamento e
a responsabilidade pela construção ou não construção artística, tem
um lugar terapêutico para o artista.
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O lugar terapêutico é a posição que a vontade, que o querer
mostra e a responsabilidade sobre esta posição.
A arte de aprender por dentro, como disse um amigo da Casa,
expressa esta pesquisa interna da pessoa com ela mesma e de como
este mundo maravilhoso pode ser visto: como ele pode se mostrar
como “painel “no mundo e para o mundo. Assim, na medida que a
obra comunica a estrutura, as emoções, a vida interna do artista ao
mesmo tempo ela toca o mundo interno daquele que a observa. Esta
dinâmica é comunicação plena, simbólica, metafórica que move
mundos invisíveis, liderados pelo inconsciente e assim cuida de
escutar às pessoas envolvidas.
Na Casa do Todos a saúde é considerada um campo
multidimensional que vê a pessoa de forma integral em seu potencial.
A forma, o painel, o mundo interno que a pessoa expressa é presente
no corpo e como diz Barchelard pode mostrar-se saudável: a saúde
de nosso espírito está em nossas mãos.
A pessoa considerada o painel, a obra de arte, expressa nesta
dinâmica o mundo dentro do qual está de forma inteira, saudável,
inviolável. Só assim, a pessoa, o autor, a obra, a arte pode se
apresenta ao outro que o testemunha de forma integral. Isto é saúde
como lembra Afonso “não sou pintor, sou painel”. Não sou a parte,
sou o todo.
D. Convivência: A Casa se nutre da presença das pessoas e
suas imagens
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Figura 4 – Sem título – Miriam Silva
Caneta hidrográfica sobre papel rascunho
“...Convivendo com o cliente durante várias horas por dia,
vendo-o exprimir-se verbalmente ou não em ocasiões diferentes, seja
no exercício de atividades individuais ou de grupo, a equipe logo
chegará a um conhecimento bastante profundo de seu cliente...” Nise
da Silveira
A convivência pulsa na pessoa no ato de perceber-se junto,
dialogar, sentir a vida acontecer em um espaço comum
simultaneamente, a conexão com a orientação de espaços íntimos
internos.
A vida pulsa nas relações dentro da Casa que se abre
oferecendo por, entre, através de seu meio muitas imagens, diálogos,
espaços facilitadores para esta vivência pessoal em grupo. Este
trabalho de integração da pessoa com ela mesma e com o outro,
acontece por meio da aceitação de que cada um mostra e comunica o
que é verdadeiro para aquele momento utilizando o recurso afetivo,
emocional, corporal que tem disponível.
É no espaço da convivência onde pulsa o mundo inconsciente
de cada um no meio de todos que as raízes da Casa do Todos se
nutrem de vida. O inconsciente e suas imagens!
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O alimento vem na expressão deste mundo que habita a toda
pessoa que chega e se mostra nos diálogos livres ancorados em
vagas ou detalhadas aparições de imagens. Assim as pessoas em
estado de convivência, apossadas da própria vontade, criam, recriam,
imaginam quem são e se encontram reais em seus aspectos mais
leves, belos, sombrios, raivosos, ternos e tantos mais.
O grupo cuida de testemunhar esta realidade na imagem
oferecida e este é o mais ético movimento de amor que a Casa
vivência.
E. O Afeto como vivência consciente
O encontro acontece e o afeto aparece marcando a existência.
Sim o afeto da forma mais genuína, afetar-se com a presença do
outro. Ebiliane, contadora de histórias na Casa do Todos, expressa
que afetada pelo encontro fez uma descoberta: “...Na Casa do Todos
descobri que eu sou o que o outro é e o outro é o que eu sou...”.
A Casa é um ambiente que vibra a vivência do afeto permeada
pela desordem alegre do acaso... é sensível ao estado de sofrimento
que as pessoas vivem com elas mesmas e lida com as perguntas que
cada pessoa traz sobre a vida como fonte de amadurecimento.
O afeto tem um lugar reconhecido e as pessoas são desafiadas
a conscientizarem-se dele no dia-a-dia. Ele acontece de muitas
formas mas no encontro pode mover conteúdos dentro e fora das
pessoas envolvidas.
O afeto no encontro promove um movimento das pessoas para
dentro e fora de si. As pessoas vivenciam esta experiência e são
chamadas a senti-la, ficando livres de exigências externas de
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condutas esperadas. Assim, elas são estimuladas a perceberem o
quanto se sentem afetadas pelo encontro por um movimento do
sensível, invisível, inominável, que as visita, desafiando o mundo da
mente a silenciar e escutar a alma.
Os encontros acontecem e a pessoa é convidada a visitar-se, a
olhar-se afetada por si mesma. Este caminho junto à pessoa é
acompanhado pelo terapeuta que, envolvido por esta vasta conversa
sobre a vida e o viver, se disponibiliza a estar junto.
Assim a jornada terapêutica sugerida na Casa do Todos é uma
investigação amorosa sobre si mesmo e seu lugar de pertencimento a
um grupo... à luz da sugestão de Jung:
“...Não existe nenhuma dificuldade em minha vida que não seja eu
mesmo...”
O afeto na Casa é um lugar terno que recolhe com humor os
traumas humanos e facilita o encontro da pessoa com a própria vida,
um encontro para o desvelar do seu segredo existencial. A oferta é a
experiência com sentido particular pessoal, porém vibrando em grupo
na convivência.
Na convivência o relacionamento, o afetar-se é um fato que
pode mover a vontade da pessoa para o passo de aceitar a
provocação de amadurecer. Sim, amadurecer o fruto, saborear a
noção de quem é e desenvolver a atenção em si mesmo como pessoa
comum que faz parte da comunidade.
F. A Vontade e o querer
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A dinâmica interna que sustenta a respiração da Casa do Todos
é a identificação da vontade que cada pessoa expressa consciente ou
inconscientemente. Este querer que pulsa é que realiza a ação no
espaço comunitário.
A experiência de cada pessoa com a identificação e o pulso da
própria vontade a mobiliza para estar disponível para olhar e
aprofundar e expressar as imagens que a visitam nas relações do dia-
a-dia.
Esta experiência com a vontade é descrita por William James:
“...Uma vontade desenvolvida permite que a consciência atenda
às ideias, percepções e sensações que não são imediatamente
agradáveis ou convidativas e que de fato podem ser difíceis ou até
desagradáveis. O resultado desta expressão da vontade é que os
atos das pessoas aparecem mais claramente no corpo e simpáticos
ou antipáticos estão visíveis e podem ser cuidados e ou
representados...”
“...O pássaro não canta porque está feliz, mas sim está feliz
porque canta...” William James
Assim a pessoa que é recebida na Casa descobre que sua
vontade é o seu canto.
Reconhece o seu querer o seu canto e canta, se contenta e
sente-se inteira, completa e talentosa. Sim, o canto aparece e o
talento aparece, a pessoa aparece! Esta é a expressão mais pura que
a Casa se propõe a sustentar: a expressão verbal ou não verbal das
emoções onde a pessoa assume o ato de identificar, criar e recriar
seu canto, seu querer.
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A forma desta expressão é a linguagem implicada com a
verdade consciente ou inconsciente daquele, do querer da pessoa e é
aceita por quem testemunha.
11. Programas da Casa do Todos
Andar pelo caminho criando passos novos.
Respirar e passear na descoberta de formas, redescobrindo possibilidades.
Cada dia um Encontro.
Embora a Casa do Todos proporcione um conjunto de
atividades previamente planejadas para o seu ritmo diário as pessoas
não precisam obrigatoriamente realizá-las.
As atividades fluem e as pessoas são convidadas a experienciar.
Esse convite, nem sempre verbal, entra em sintonia por ressonância,
com a vontade da pessoa e então ela desperta.
Este convite se dá através do Programa Aprendente de Si
Mesmo, composto por oficinas de arte, conhecimento, meditação e
exercícios de respiração e percepção.
A Casa possui um plano de atividades artísticas e terapêuticas
que são desenvolvidas com um ritmo diário ao longo da semana.
Estas atividades estão sempre disponíveis no mesmo horário e
espaço. Os espaços tem um terapeuta que está disponível para
receber a todos que sintam inspiração, vontade de estar no espaço.
A. Programas terapêuticos de ação direta
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Acolhimento, escuta amorosa – Rogers ensina que é o
encontro inicial marcado por incondicional uma atitude é
responsável por acolher “o indivíduo é estimado como pessoa e
independentemente dos critérios que se poderia aplicar aos diversos
elementos de seu comportamento”, (Rogers, 1977, p. 175)
Este é um trabalho aberto que recebe e acolhe pessoas que, às
vezes, precisam apenas de um coração e um ouvido para escutar a
história de sua vida e tomar um café ou um chá quente e logo
retornam para o seu abrigo, que pode ser sua casa ou mesmo a rua.
A escuta inicial de quem chega é um espaço importante na
Casa do Todos já que é nele que vai aparecer e afinar o pedido da
pessoa e também a forma de contrato.
Muitas vezes esta escuta aberta, associada ao encontro com
desenvolvimento não diretivo, já é suficiente para acolher e
direcionar o melhor caminho para o pedido feito. Assim, a pessoa
pode vir frequentar ou não a Casa, o importante é que ela recebeu o
que veio buscar: Um lugar onde sua história, seu sofrimento, é
importante e recebeu um abraço, pode ser reconhecido.
Com trato com afeto - A contribuição que a pessoa vai
oferecer representa parte da vivencia do processo terapêutico pois
aponta a responsabilidade dela junto ao grupo e a sustentação
material do espaço Casa do Todos.
O acordo que é definido no encontro, o com trato com afeto,
como costumo dizer, é expresso no cuidado, no trato, com o qual as
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partes envolvidas vão se responsabilizar pela existência do espaço
terapêutico que cuida da convivência.
Muitas vezes esta escuta aberta, associada ao encontro com
desenvolvimento não diretivo, já é suficiente para acolher e
direcionar o melhor caminho para o pedido feito. Assim, a pessoa
pode vir frequentar ou não a Casa, o importante é que ela recebeu o
que veio buscar: Um lugar onde sua história, seu sofrimento, é
importante e recebeu um abraço, pode ser reconhecido.
Acompanhamento Terapêutico - Consiste na presença de
profissional que se responsabiliza pela plena atenção à uma ou mais
pessoas interessadas, sempre respeitando as necessidades
específicas de cada um. Esse acompanhamento nem sempre envolve
um fazer específico, pode se dar como uma escuta individual, como
um diálogo, como um cuidado físico, ou ainda, pela atenção à pessoa
quando esta participa de alguma atividade estrutural.
Roda Terapêutica Tatatum - Consiste numa atividade de
grupo, abrindo um espaço de compartilhar sentimentos que são
expressos verbalmente ou por outras linguagens, inclusive o silêncio.
Nesta Roda são utilizados cartões com imagens e frases que apoiam
o despertar do que cada um sente naquele momento. Nesta Roda
todos tem presença e liberdade para expressar o que emerge da
forma que lhe for mais confortável.
Oficina de Mandalas - Esta atividade é desenvolvida para
pequenos grupos de pessoas que brincam e se descobrem centradas,
coloridas... Vivas! Por meio do movimento das formas do desenho as
pessoas podem entram em contato com seu ritmo interno e
trabalham o equilíbrio, o centramento, a respiração.
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Oficina de Arte e Movimento de Criação - É um espaço que
convida à experimentação, criação e expressão com diferentes
materiais no ateliê... e a entrar em contato com o criador interno.
Cada um pode contribuir, reconhecer e ser reconhecido pela sua
habilidade. Às vezes trabalhamos o desejo e outras vezes o não-
desejo. A princípio, a resposta pode ser “Não quero” ou “Não sei
fazer” mas o convite continua aberto e cada um participa a seu
modo. Uns mergulhados de corpo inteiro e alguns só com os ouvidos
à distância ou somente com os olhos. Um empresta para o outro o
desejo quando necessário.
Oficina de movimento - Trata-se de uma atividade grupal em
que as pessoas são convidadas a vivenciar o movimento corporal:
Dança, Arte Marcial, improvisações, brincadeiras inventadas,
ginástica como forma de expressão da essência de sua alma e a
descoberta da sua relação com o outro.
Oficina de Construção - Esta atividade busca estimular o ato
da vontade e a persistência para objetivar inquietudes, fantasias e
sonhos que cada um traz escondido. O contato com a madeira, lã,
sementes e outros materiais facilitadores oferece uma ponte entre o
imaginário e o fazer que se materializa num objeto como expressão
de uma parte do seu mundo interno.
Oficina de Línguas - Este espaço autoriza a pessoa a entrar
em contato com outra forma de expressar uma língua e uma
linguagem. Atualmente a língua italiana, espanhola e inglesa são o
foco de estudo e aprendizagem dos grupos.
Oficina de Estudos e Conhecimento - Esta oficina surgiu a
partir do desejo do grupo de estudar assuntos de maneira mais
formal e científica. Os encontros podem acontecer em grupo ou
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individualmente, de acordo com a demanda de cada um. Entrar em
contato formal com o conhecimento externo, que nos rodeia, propicia
uma experiência de organização e elaboração do conhecimento
interno, auxiliando na construção da autoria do sujeito envolvido. A
autoria, nos conta Alicia Fernandez, é o “... processo e ato de
produção de sentidos e de reconhecimento de si mesmo como
protagonista ou participante de tal produção...” Assim, nos reunimos
nesse tempo para pesquisar, ler, registrar e experimentar assuntos
decididos pelo grupo ou pelo indivíduo a cada ciclo de trabalho.
Oficina de Discussão - Clamo - O Clamo é um espaço em
que o grupo se reúne para reclamar, sugerir, perguntar e agradecer a
respeito de situações que acontecem na Casa do Todos e fora dela.
Para isso, cada participante pode escrever em um papel aquilo que
deseja compartilhar e colocar em nosso quadro que é dividido em
quatro diferentes espaços (Eu pergunto, Eu sugiro, Eu reclamo, Eu
agradeço). O exercício do diálogo, da postura em colocar-se da
escuta aos posicionamentos do outro, constrói um lindo espaço de
cumplicidade e confiança que nos ampara no amadurecimento de nós
mesmos e do grupo.
Todos Talentos - Trata-se de um evento anual onde o Todos
mostram de forma cuidadosa e dedicada seu talento... Para este
evento o Todos se prepara para demonstrar suas habilidades. É um
grande coroamento da dedicação de cada um em prol do auto-
reconhecimento e também do reconhecimento social. Este evento
ocorre nas instalações físicas cedidas pela própria comunidade.
O Todos Talentos reúne os colaboradores, amigos, vizinhos,
cuidadores e tantos Todos interessados em admirar a presença do Eu
em cada pessoa que se apresenta.
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B. Programas terapêuticos de ação indireta
Acolhimento, escuta amorosa – Este é um trabalho aberto
que recebe e acolhe pessoas que, às vezes, precisam apenas de um
coração e um ouvido para escutar a história de sua vida e tomar um
café ou um chá quente e logo retornam para o seu abrigo, que pode
ser sua casa ou mesmo a rua.
A escuta inicial de quem chega é um espaço fundamental na
Casa do Todos já que é nele que vai aparecer e afinar o pedido da
pessoa também a forma de contrato.
Muitas vezes esta escuta aberta, associada ao encontro com
desenvolvimento não diretivo, já é suficiente para acolher e
direcionar o melhor caminho para o pedido feito. Assim, a pessoa
pode vir frequentar ou não a Casa, o importante é que ela recebeu o
que veio buscar: Um lugar onde sua história, seu sofrimento, é
reconhecido pelo terapeuta que escutou e assumiu “a capacidade de se
colocar verdadeiramente no lugar do outro, de ver o mundo como ele o vê” .
Rogers descreve este lugar, como um lugar onde “o indivíduo é
estimado como pessoa e independentemente dos critérios que se poderia
aplicar aos diversos elementos de seu comportamento”, (Rogers, 1977, p.
175)
Com trato com afeto - A contribuição que a pessoa vai
oferecer representa parte da vivencia do processo terapêutico pois
aponta a responsabilidade dela junto ao grupo e a sustentação
material do espaço Casa do Todos.
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O acordo que é definido no encontro, o com trato com afeto,
como costumo dizer, é expresso no cuidado, no trato, com o qual as
partes envolvidas vão se responsabilizar pela existência do espaço
terapêutico que cuida da convivência.
Lanche Coletivo - O lanche é um momento de encontros de
conversas, risadas e de cuidados carinhosos com aqueles que
precisam de ajuda para se alimentar.
Festas anuais - São comemorações que marcam passagens de
épocas que o homem vivencia durante o ano.
Oficina de cuidados alimentares – Culinária, este espaço é
servir saúde no alimento: dietas balanceadas para perder ou ganhar
peso com saúde.
Acolhimento e cuidados higiênicos - Este é um trabalho de
cuidados básicos. Às vezes é apenas um banho, ou limpeza nos
dentes... às vezes é um alimento, às vezes é um calçado ou uma
roupa para se trocar... uma barba para fazer... . Assim cuidamos do
corpo físico, que espelha o corpo interno.
Distribuição de alimentos - São recolhidos, por doação, e
distribuídos alimentos semanalmente para pessoas em situação de
rua ou grupos anônimos que prestam cuidados sociais.
C. Programas de aprofundamento para
acompanhantes terapêuticos e Instituições
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Cuidado com o Cuidador - Programa Aprendente de Si
Mesmo, composto por oficinas de arte, conhecimento, meditação e
exercícios de respiração e percepção corporal.
Brincando com sua criança interior - Este é um trabalho
oferecido para Gente Grande! É fato que no coração de Gente Grande
mora uma criança com suas memórias. O resgate da infância e seus
movimentos: brincadeiras, canções, brinquedos, lembranças é o foco
principal deste trabalho. A vivência acontece facilitada pela alegria,
espontaneidade e invenções que brotam dentro do coração do
menino e da menina que habita no corpo do adulto.
Histórias que Curam - Trata-se de uma dinâmica baseada na
“contação” e teatralização de histórias. O processo caminha com a
utilização de vários recursos lúdicos que intencionam trazer à tona
para cada um que interage com a dinâmica, seu lado mais brincante.
Nesta atividade buscamos abrir espaços internos para a possibilidade
de entrar em contato com a dor e a sombra a partir da alegria
olhando o sofrimento com consideração e assim podendo transformá-
lo em aprendizado.
Encontro de Educadores Terapêuticos - Reunião de
educadores da Casa do Todos e de fora dela, que tem por objetivo
discutir as práticas e as teorias que sustentam o saber e suas
possíveis variações.
Grupo de Estudos - Aberto para profissionais de diferentes
áreas humanas para apresentação e discussão de temas de estudo
teóricos buscando a interface com a prática educativa.
D. Programas de sensibilização humana para
Instituições
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Cuidando das Instituições Clínicas - Espaços terapêuticos
de escuta (dança-terapia, arte-terapia, teatro, aprofundamento em
psicopedagogia) oferecidos à comunidade institucional como
hospitais, asilos, creches, associações, escolas.
Palestra - O Agir Ético e o Cuidado Humano - Este encontro
em forma de palestra tem como objetivo abrir um espaço de reflexão
sobre o lugar integral que o ser humano pode ocupar junto ao seu
próprio desenvolvimento. Na palestra lembramos e aprofundamos a
importância do cuidado com a existência de forma digna, além do
propósito maior da vida que é encontrar o Outro.
Assim a Casa do Todos organiza, pulsa, realiza sua ação no
mundo.
No mundo que pulsa nela e além.
Um mundo de córregos, de gente, nos suspiros, por alentos,
vibrando nos talentos.
Aí está a Casa do Todos!
Iluminando o silêncio das coisas anônimas como diz Manuel de
Barros
Além do conforto do conhecimento, na pergunta.
Além do visível, no inominável!
Além da reconhecível sombra, na luz.
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Curriculum
Mãe-Escritora-Educadora PUC-SP, Psicopedagogia clínica pela Escuela de
Buenos Aires, Alicia Fernandez- Dança e Arte terapeuta-Terapeuta
Transpessoal pela Escola Dinâmica Enérgetica do Psiquismo- Membro do
Colégio Internacional dos Terapeutas- Pedagoga Curativa Antroposófica-
Vivência internacional em comunidades terapêuticas de Convivência:
Camphill House- Scotland, Findhorn Foundation, Suiça – Camphill de
Pedagogia Curativa, França – Camphill, Ashrans na India - Fundadora da
Comunidade Terapêutica de Convivência Casa do Todos.
Referências:
AMARAL, Moacir. Arte e Terapia. Reflexões. Aurora (Associação Brasileira dos
Terapeutas Antroposóficos) bol, Abril de 1999.
BARROS, Manoel de. Livro Sobre Nada. Rio de Janeiro: Record, 1996.
COUTO, Mia. Terra Sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
FERNÁNDEZ, Alicia. O Idioma do Aprendente, Porto Alegre: Artmed
GASTON, Barchelard. A Poética do Espaço. Abril Cultural, 1978.
JAMES, William. A Vontade de Crer. São Paulo: Edições Loyola, 2001.
JAMES, William. http://kdfrases.com/frase/118804, visualizado em 15, janeiro de
2014.
ROGERS, Carl R. Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1981.
SILVEIRA, Nise da. Jung Vida e Obra. Rio de Janeiro, G.B.: José Álvaro, Editor S.A,
1968.
SILVEIRA, Nise da. Imagem do Inconsciente. Rio de Janeiro: Alhambra, 1981.
TERRA, Mariana e VEREZA, Carlos. Nise da Silveira, Senhora das Imagens, DVD,
2013.
WINNICOTT, D. W., A Criança e o seu Mundo. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982.