Educação do
da EscolaridadE Tardia
Trabalhador
à Educação NEcEssária
Universidade Estadual do Centro-Oeste Guarapuava - Irati - Paraná - Brasil
Fone (42) 3621 1019www.unicentro.br
Márcio Luiz BernardiM
Educação do
da EscolaridadE Tardia
Trabalhador
à Educação NEcEssária
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE UNICENTROreitor: Vitor Hugo Zanette Vice-reitor: Aldo Nelson Bona
Copyright © 2007 Editora UNICENTRO
Nota: O conteúdo desta obra é de exclusiva responsabilidade de seu autor.
Editora uNIcENTro
direção: Beatriz Anselmo Olinto
assessoria Técnica: Carlos de Bortoli,
Oséias de Oliveira e �aldemar �eller�aldemar �eller
divisão de Editoração: Renata Daletese
diagramadores: Anna Júlia Peccinelli
Minieri, Andréa do Rio Alvares, Bruna Silva
e Eduardo Alexandre Santos de Oliveira
diagramação: Eduardo Alexandre Santos
de Oliveira
capa: Lucas Gomes Thimóteo
correção: Rosana Gonçalves
Impressão: Gráfica UNICENTRO
Ficha CatalográficaCatalogação na Publicação
Janete Miti Chihaya – CRB 9/1324Biblioteca Central Campus Guarapuava
conselho Editorial
Presidente: Marco Aurélio Romano
Beatriz Anselmo Olinto
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Luciano �arinha �atzlawick
Luiz Antonio Penteado de Carvalho
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Paulo Costa de Oliveira �ilho
Poliana �abíula Cardozo
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Ruth Rieth Leonhardt
Bernardim, Márcio LuizB523 Educação do trabalhador: da escolaridade tardia à educação necessária. /
Márcio Luiz Bernardim. – – Guarapuava : Unicentro, 2008.204 p.
ISBN 978-85-89346-87-0
1.Educação de Adultos. 2. Educação de Jovens e Adultos – Paraná.
I. Título.CDD 374
Aos trabalhadores e trabalhadoras deste e de todos os tempos que, mesmo marginalizados, continuam a garantir a produção da vida da sociedade inteira.
Aos educadores e educadoras que, dentro ou fora da escola, promovem a construção de um horizonte melhor para todos, aí incluídos os trabalhadores e trabalhadoras.
À minha mãe, que sofreu a dor e as agruras de não ter freqüentado escola, mas que criou os nove filhos educando-os pelo trabalho.
agradecimentos
Quero agradecer a todos que, de forma direta ou indireta,
contribuíram para que as idéias e o conhecimento, inicialmente
organizados em forma de dissertação, fossem condensados e
disseminados neste livro.
Minha deferência especial aos Professores Nilson M. D. Garcia,
Naura S. C. �erreira e Acácia Z. Kuenzer, que criticaram e apresentaram
sugestões durante as bancas de qualificação e defesa de dissertação.
Minha gratidão ao Professor Gracialino da Silva Dias, cuja
admiração surgiu no convívio acadêmico e se fortaleceu na práxis das
atividades conjuntas realizadas com os trabalhadores do campo.
À Direção, alunos, professores e funcionários do Centro
Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos de Guarapuava –
CEEBJA, pela colaboração, acolhimento e pela atenção dispensada
durante a pesquisa realizada na Escola.
À Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO.
Nominando os professores Darlan �accin �eide e Adnilson José da
Silva, estendo o meu agradecimento a todos os colegas, funcionários,
estagiários, professores e gestores da Instituição.
O fruto do meu trabalho decorre da capacidade e do jeito de
ser que forjei na convivência diária com meus amigos e familiares.
A todos, o meu sincero agradecimento.
A Adriane, Malena e Pedro, todo o meu amor e a minha gratidão.
Na sociedade atual, que é uma feira, que é um carrossel, todos individualmente podem vir a ser ricos (livres), mas, necessariamente, só poucos o virão a ser; a procura da propriedade, da herança individual, tem um vencedor contra dez mil vencidos. Os dez mil não falirão, pelo contrário, na procura da herança social; associem-se, de elemento de desordem tornem-se elemento de ordem e farão com que o próprio fim se aproxime das dez mil probabilidades. Entretanto, faz o teu dever, contribui com a tua parte de atividade, de espiritualidade para o comum patrimônio social do momento: trabalha para que venha transmitido, melhorado e ampliado aos teus descendentes; trata da tua herança, trata da única herança que tens a certeza de poder transmitir.
Antônio Gramsci
apresentação
Este material decorre dos meus estudos e pesquisas vinculados ao
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade �ederal do
Paraná. Sua organização, agora em livro, contribui para a disseminação
do que originalmente constituiu a minha dissertação de mestrado.
Resultado de uma revisão teórica sobre o marco regulatório
educacional, mais especificamente sobre a educação de jovens e
adultos, traz como contribuição adicional o estudo de uma escola
dedicada a alunos-trabalhadores, a saber, o Centro Estadual de
Educação Básica para Jovens e Adultos de Guarapuava – CEEBJA.
O estudo na escola permitiu estabelecer relações entre a
legislação educacional e a forma de internalização das normativas
nos documentos da escola, mediante análise das Diretrizes
Curriculares para a EJA do Paraná, do Projeto Político Pedagógico
e do Regimento Escolar.
O que de mais original este livro contempla é o resultado de
ampla pesquisa realizada diretamente com os professores e alunos-
trabalhadores da escola pesquisada. Tal investigação permitiu
caracterizar esses grupos e, principalmente, no caso dos alunos,
conhecer a percepção que os mesmos têm a respeito da relação
entre os mundos da educação e do trabalho, proporcionando uma
interessante discussão sobre as condições em que se dá a sua inserção
e permanência no meio profissional.
Para analisar e propor uma discussão crítica a respeito da
realidade em que se efetiva o trabalho pedagógico destinado aos
alunos-trabalhadores, entendeu-se necessária uma retomada do
condicionamento sócio-histórico da Região de Guarapuava, o
que está contemplado no primeiro capítulo desde livro. Embora
os elementos ali consignados apresentem similaridade com
fenômenos ocorridos em outras regiões brasileiras, tendo em vista
o modo de produção e o sistema econômico predominante, cabe
ao leitor avaliar a pertinência ou não de dedicar-se ao estudo desse
capítulo. Entende-se que a passagem direta ao capítulo seguinte
não prejudica a compreensão da proposta principal do livro, que é
discutir a efetividade da educação destinada aos trabalhadores por
intermédio da modalidade Educação de Jovens e Adultos – EJA.
Este livro não tem outra pretensão senão a de proporcionar
uma discussão introdutória da educação do trabalhador, à luz dos
documentos oficiais e do posicionamento dos principais autores e
comentadores do tema. Enriquecida com o trabalho realizado na
realidade concreta de uma escola, terá cumprido o seu papel se
despertar o interesse de tantos quantos a ele tiverem acesso para a
inquietante realidade da educação de adultos no Brasil.
Prefácio
Este livro traduz parte dos esforços empreendidos pelo
Professor Márcio Luiz Bernardim na pesquisa em torno da
compreensão e análise das formas de organização da educação e do
ensino para os trabalhadores brasileiros, na modalidade Educação
de Jovens e Adultos – EJA, definida pela Lei 9394/96.
Os estudos foram realizados durante os anos 2005 e 2006, tendo
como campo de investigação empírica o Centro Estadual de Educação
Básica de Jovens e Adultos de Guarapuava, que contava, no período,
com mais de 3.000 alunos matriculados na modalidade EJA. A pesquisa
caracterizou-se pela coleta de dados sobre a percepção dos educandos
junto a um universo de 1.515 alunos matriculados no Ensino Médio.
Além da compreensão dos alunos sobre a relação entre a educação, o
mercado de trabalho e o mundo do trabalho, a pesquisa desenvolveu
análise documental sobre as diretrizes curriculares para a EJA, da
Secretaria de Estado de Educação do Paraná, e sobre o regimento
escolar da instituição onde a pesquisa foi realizada, percorrendo desde
o discurso oficial até a avaliação do ensino pelos alunos trabalhadores.
Desenvolveu, desse modo, um conjunto de categoriais teóricas sobre os
aspectos políticos, educacionais, econômicos e sociais que envolvem a
educação dos trabalhadores no Brasil.
Esses aspectos teóricos da educação são precedidos no
livro por uma importante síntese histórica sobre as formas de
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desenvolvimento das forças produtivas e das relações sociais de
produção em Guarapuava, oferecendo ao leitor uma compreensão
da realidade histórica e social da região, sem a qual a educação fica
sem sentido.
O livro privilegia, portanto, a análise sobre a percepção da
educação e da escola pública pelos alunos trabalhadores, bem como
as suas visões sobre o mundo do trabalho no qual estão inseridos e
desenvolvem a labuta diária para se manterem vivos.
A tese da EJA como uma “educação tardia” desenvolvida pelo
Professor Bernardim constitui um libelo cuja leitura elevará a um
campo de reflexão sobre a constituição da educação em nosso país,
historicamente dualista: uma educação para formar dirigentes e uma
educação para formar trabalhadores. Essa dualidade que atravessa os
sistemas de ensino está organicamente articulada com as necessidades
das classes dominantes de reprodução da realidade social.
Os estudos demonstraram que a EJA expressa uma “nova
conformação da escola supletiva”, que foi assim constituída a
partir “de um esforço dos governos, sob pressão dos organismos
internacionais, para enfrentar dois problemas da sociedade dita
globalizada: a baixa produtividade e o desemprego estrutural”.
Essa brilhante síntese só foi possível após a exatidão da análise
empreendida sobre o caráter da reestruturação produtiva capitalista
no cenário da mundialização do capital. Esse fenômeno caracteriza a
partilha do mundo entre as potências capitalistas, como foi acentuado
por Lênin, no Livro O imperialismo, fase superior do capitalismo,
publicado no início do Século XX, sobre o fenômeno do imperialismo
compreendido como a fase monopolista do capitalismo, lograda pela
passagem do regime da livre concorrência à fase dos monopólios.
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Educação do Trabalhador
O Brasil, no contexto da mundialização do capital, mantém-se
numa categoria de subordinação ao processo de partilha do mundo,
ou seja, de um país dominado pelo imperialismo. Isso traz implicações
para as políticas governamentais brasileiras, em geral, e para as políticas
educacionais, e, dentro dessas, para as políticas da Educação de Jovens
e Adultos, em particular. São políticas historicamente concebidas
e anunciadas de acordo com a lógica de manutenção da categoria
que conjuga dominação e subordinação do país pelo imperialismo.
Dominação de fora para dentro por meio dos instrumentos criados
pela ordem imperialista, tais como o Banco Mundial, o �undo
Monetário Internacional etc., e subordinação de dentro para fora a
partir das políticas traçadas e dos programas e projetos desenvolvidos
pelos governos que se sucedem no papel de gerenciamento do velho
Estado-burguês, latifundiário e a serviço dos imperialistas. A pressão
dos organismos internacionais da qual emerge a conformação da
educação básica para os trabalhadores adultos no Brasil se constitui
numa expressão material das formas de dominação da nação e do
povo brasileiro pelo imperialismo e da classe trabalhadora brasileira
pelo capital. A educação, como bem pode constatar a pesquisa, é
concebida segundo uma razão instrumental à lógica da produção de
mais-valia e, no cenário da crise do sistema em escala mundial, de
garantia de maior competitividade para os detentores do capital.
A partir de uma consistente sustentação teórica no materialismo
histórico e dialético e o seu aporte do princípio educativo do
trabalho, a análise de Bernardim recupera a Educação de Jovens e
Adultos para além da reprodução social, concebendo-a como um
fenômeno social, histórico, político e, portanto, atravessado pela
contradição como lei geral da compreensão científica da realidade.
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Em lugar, portanto, de apenas descrever, contemplar e criticar
as condições atuais de oferta da EJA – no Brasil, no Paraná e,
especificamente, na região de Guarapuava – o que o faz muito bem
com base nos dados da realidade, o livro coloca para essa modalidade
educacional a necessidade da sua melhoria, da sua garantia como
direito e da sua superação como dimensão adaptativa aos interesses
do capital, ou seja, a EJA na esfera da apropriação científica da
leitura de mundo e da compreensão da realidade objetiva. Nesse
sentido, no campo da resistência: ao encantamento do mundo e ao
fetichismo da realidade objetiva, como bem interessa a todos aqueles
que pretendem manter o sistema de exploração.
A concepção científica da educação a partir do trabalho como
princípio educativo, ou seja, o trabalho como atividade vital pela
qual o homem desenvolve o necessário intercâmbio com a natureza,
produzindo os bens necessários à sua existência e, ao mesmo tempo,
produzindo as suas experiências, a práxis, o seu conhecimento e
a sua cultura, é perspectiva sob a qual o livro analisa a Educação
de Jovens e Adultos. Aponta, portanto, para a necessidade da EJA
possibilitar aos alunos trabalhadores o desvendamento da forma
histórica do trabalho alienado no modo de produção capitalista.
Prof. Dr. Gracialino da Silva Dias
Introdução ............................................................................................19
capítulo I
constituição histórico-cultural de Guarapuava -
da domesticação dos “bugres” à escola supletiva ........................39
Co ivi oguerecô iára – esta terra tem dono! .......................................41
Impressões sobre o desenvolvimento socioeconômico ...................47
A demanda de EJA a partir dos dados da educação escolar ...........58
capítulo II
a educação de jovens e adultos no contexto das reformas
educacionais dos anos 1990 ..............................................................67
Da educação escolar à educação de jovens e adultos .......................68
Educação de adultos: marcos históricos e aparato jurídico ............81
As discussões no plano da produção teórica ....................................96
O ensino médio e a educação de jovens e adultos .........................105
Capítulo III
Educação de jovens e adultos: do discurso oficial à realidade
concreta no Paraná ..............................................................................125
Das diretrizes curriculares ao regimento escolar ...........................126
A caracterização da escola pesquisada ...........................................139
Da gestão e organização escolar ...............................................141
Do corpo docente .......................................................................142
Alunos da EJA: do senso comum à escola necessária ....................144
Origem e caracterização socioeconômica ..............................146
Da escola negada ao trabalho necessário ...............................154
Da certificação à emancipação ................................................157
Positividades e limitações da EJA .....................................................164
Sumário
considerações finais .........................................................................171
referências .........................................................................................181
lista de gráficos .................................................................................195
lista de quadros ................................................................................197
lista de tabelas ...................................................................................199
lista de siglas e abreviaturas ...........................................................201