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A arquitetura contemporânea ganha espaço e faz a
diferença em casas noturnas do mundo inteiro
TEXTO Alessandra Simões
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DIVERSÃObem planejada
Atmosferas envolventes que promovem experiências sensoriais têm sido a tônica
dos projetos de arquitetura e de design de interiores das principais casas noturnas
internacionais e também do Brasil. Formas ousadas, ambientes sofisticados, ilumina-
ção inusitada, tecnologia de ponta e até mesmo recursos ecológicos são algumas das
características que tornaram alguns desses projetos referência na estética contem-
porânea. Acima de tudo, esses ambientes revelam o que a arquitetura proporciona de
melhor: transformar acontecimentos cotidianos em experiências singulares.
Surpreendentemente mexicana
Um sobrado de periferia. Essa é a impressão que se tem
da fachada da M.N.ROY, na Cidade do México, instalada na
antiga casa do revolucionário indiano Manabendra Nath
Roy, que participou da formação dos primeiros partidos co-
munistas no México e na Índia. Porém, por dentro, revela-se
um mundo bem diferente. De autoria dos arquitetos Em-
manuel Picault e Ludwig Godefroy, a reforma respeitou a
linguagem estética da arquitetura genuinamente mexica-
na, com elementos do estilo pré-hispânico, como as formas
geométricas e a pirâmide, e materiais como minerais e me-
tais. Couro, cobre, madeira, pedra vulcânica estão em reves-
timentos e móveis, que ocupam grandes áreas e o altíssimo
pé-direito. Uma original homenagem à cultura mexicana. foto
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Experiência sensorialA inebriante forma do hexágono é a principal marca da
arquitetura do clube Josefine Roxy, em Belo Horizonte, que
se tornou referência mundial na mídia especializada. Proje-
tada em 2007 e reformada recentemente pelo mesmo ar-
quiteto, Fred Mafra, a casa de 850 metros quadrados apre-
senta em diversas áreas elementos que exploram as faces
da figura geométrica em tamanhos e posições diferentes. O
resultado é uma volumetria prismática, que encanta pelos
efeitos ópticos e rítmicos. Já na entrada, após passar pelo
check-in, o visitante entra em um túnel formado por anéis
desiguais em degradé cinza, que conferem uma sensação
cadenciada ao movimento de caminhar. Quando chega ao
coração da boate, a pista de dança, a impressão é de arreba-
tamento, em um cenário marcado pela estética inusitada
do teto, composto por mais de 100 hexágonos, cujo dese-
nho inspira-se na abóboda em arco pleno, forma adotada
nas construções renascentistas. Criou-se assim um teto
tridimensional, que convida o público a submergir em um
coquetel multimídia, que mistura música, imagens gráficas
e luzes. O VJ interpreta visualmente o som, também utili-
zando a iluminação para modificar o ambiente. A cabine do
DJ foi posicionada no fim do eixo principal da pista, emoldu-
rada por um bar de 30 metros de comprimento. A fachada,
toda em preto, é composta por um pano de vidro laminado
espelhado, com dois totens centrais de vidros pretos e 22
TVs de LCD em cada módulo dos vidros espelhados. É o car-
tão de visita perfeito para uma noite que pode se transfor-
mar em uma experiência sensorial.
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Cotidiano futuristaAcreditar que uma nova experiência pode trazer
perspectivas diferenciadas para a vida cotidiana foi a
premissa que orientou o projeto da casa noturna Bed
Supperclub, em Bangkok, Tailândia. Projetado pelo
Orbit Design Studio, o edifício tem uma forma tubu-
lar e elíptica que dá o aspecto futurista. O interior foi
projetado para funcionar como uma tela tridimen-
sional para receber projeção de imagens nos eventos
noturnos. A casa tem 800 metros quadrados, com o
restaurante ocupando 60% do espaço. Na outra parte,
totalmente separada, fica a área do bar, com um meza-
nino que tem vista para a pista de dança. O clube vem
se tornando um ícone por seus interiores altamente
brancos, o que destoa das casas noturnas convencio-
nais, geralmente escuras e herméticas. Tudo é brilhan-
temente claro: o bar, as paredes, as escadas, os balcões,
as camas (isso mesmo, camas, por isso chama-se Bed
Supperclub). Com esta estética futurista acabou sen-
do nomeado, em 2003, pela Condé Nast Traveler, uma
das próximas sete maravilhas do mundo. Daria um
bom cenário para o diretor Stanley Kubrick.
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Diversão consciente Unir liberdade estética à consciência ecológica foi
a premissa do arquiteto Antonio Di Oronzo, da Bluarch
architecture + interiors, ao projetar o Greenhouse Ni-
ghtclube, em Nova York. Construída com materiais ecoló-
gicos, reciclados ou recicláveis, a casa foi a primeira cons-
trução do gênero a receber uma certificação ecológica
nos Estados Unidos, conferida pelo United States Green
Buildings Council. Entre os recursos que mereceram a
certificação estão canalização para fornecer abundante
circulação de ar interno, mictórios sem água e descar-
gas econômicas e revestimentos de bambu nas paredes
para amortecimento do som. Além disso, a alvenaria é
recoberta por painéis de vinil reciclado e madeira reflo-
restada que dividem espaço com extensas coberturas de
LED (Light Emitting Diode). O teto tem uma formação or-
gânica, composta por 5 mil cristais que se projetam até
o chão, causando a impressão de um imenso volume de
água. Com ajuda do reflexo proporcionado pelos cristais,
a economia com consumo de energia elétrica chega a
60%. As mesas são feitas de caixas de vidro temperado
e contêm formas de animais compostos por tapetes de
grama artificial. Miniaturas de árvores e de casas proje-
tadas pelo arquiteto também se espalham pelo bar.
Formas envolventesNão é só o nome Frog Blue (Sapo Azul) que imprime
o estilo inusitado desta casa noturna, em Mumbai, na
Índia. Com o interior criado pelos arquitetos Chris Lee e
Kapil Gupta, da Chris Lee Architects and Contemporary
Urban, o local surpreende por seus ambientes highte-
chs, com formas completamente inusitadas. Estúdio
de gravação, lounge, palco, restaurante e clube noturno
funcionam por lá. Com linhas orgânicas, resultado da
estrutura composta por círculos distribuídos em níveis
de alturas variadas, as mesas servem quase como ca-
marotes exclusivos, mesmo estando interligadas. Cada
célula está situada em níveis e posições que permitem
a todos terem uma boa visão do palco ou da pista de
dança. Feitas com resina translúcida e iluminação in-
terna que muda de cor, as mesas criam o efeito visual
arrebatador da casa.
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Modernidade ibéricaA simplicidade desta boate na cidade do Porto
lembra a boa tradição da moderna arquitetura
portuguesa. A configuração espacial e geométri-
ca do espaço e a funcionalidade são as principais
características do projeto, criado pelo escritório
AVA - Atelier Veloso Arquitectos. Reformada re-
centemente, a casa ganhou mais praticidade na
utilização de seus espaços, distribuídos em três
ambientes: uma sala que serve de entrada; um
pequeno bar; e a pista de dança, livre de mobiliá-
rio e onde está instalado, ao fundo, um segundo
bar de apoio. Os três ambientes utilizam-se pra-
ticamente da mesma linguagem estética: linhas
retas e revestimento de madeira. A simplicidade,
neste caso, significou elegância e conforto.
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Viagem ao futuroInstalada no térreo de um edifício comercial, a brasileira
Disco, com projeto do arquiteto Isay Weinfeld, virou passa-
gem obrigatória para quem quer conhecer o melhor da night
paulistana. O túnel de entrada, completamente revestido de
pastilhas de aço inox, com pontos de fibra ótica espalhados
irregularmente pelas paredes, leva o visitante a uma viagem
quase cibernética. Um pouco à frente, um corredor concentra
quatro guichês/caixas com aberturas iluminadas por LEDs co-
loridos. No salão principal, onde tudo é preto – do mobiliário
ao piso e às paredes - um painel de fragmentos de espelhos
criado pelos Irmãos Campana e afixado no alto da parede do
bar, atrai todos os olhares. A pista de dança, no centro do salão
e rodeada por pequenos espaços de estar, toca música house
em total consonância com o ambiente futurista da boate.
Sangue latinoO bar lounge Nisha, localizado em Acapulco, e projetado pelo arquiteto mexicano Carlos Pascal, é um lugar de entreteni-
mento dedicado à exaltação dos sentidos por meio da arquitetura e das imagens. Essa foi a premissa do arquiteto ao criar
uma atmosfera virtual para evocar elementos da natureza. O acesso às instalações é feito por um hall de entrada que si-
mula o interior de um navio forrado com madeira, onde cinco telas de alta definição representam janelas ovais, que podem
mostrar o céu ou o fundo do mar. Um foyer escuro leva ao salão principal, todo forrado por madeira e composto por peque-
nos grupos de sofás que têm visão para o ambiente exterior. O ambiente é circundado por balcões de madeira com dese-
nhos geométricos, valorizados por pontos internos de luz LED, que mudam de cor frequentemente, porém de forma suave.
Simplicidade sofisticadaCriar um clima intimista em um grande espaço foi a
premissa para o projeto da boate Push, em Gotemburgo,
Suécia, realizado pela Lervik Design. A estratégia foi dividir
os 600 metros quadrados em áreas menores para propor-
cionar intimidade em um cenário de grande escala. Já no
hall de entrada, o visitante é recebido por um clima original.
A iluminação em roxo e vermelho escuro contrasta com a
luminária suspensa de LED, que se parece com uma enor-
me e delicada teia de aranha. Entretanto, o design arrojado
do hall não tem nada a ver com o restante da boate, pra-
ticamente marcada pelas cores preta, branca e prata. Para
quebrar um pouco a sobriedade, guirlandas conferem um
caráter escultórico ao ambiente. Na pista de dança, o mosai-
co no chão é resultado da projeção das luzes na cavidade do
teto. Praticamente todos os móveis foram projetados pela
Lervik, referência na Escandinávia por sua extensa de obje-
tos de forte caráter conceitual. d
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