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01 INCOMUM Obras-primas da arquitetura, pontes com propostas e traços ousados são comparadas a esculturas em diversos países TRAVESSIA com arte TEXTO Juliana Duarte “A ponte não é de concreto, não é de ferro, não é de cimento. A ponte é até onde vai o meu pensamento”. A música do cantor e compositor Lenine traduz a sensação que se tem ao caminhar sobre pontes que mais parecem esculturas a céu aberto. O objetivo dos artistas que as criam não é apenas ligar estradas ou facilitar a vida das pessoas, mas sim fazê-las pensar, imaginar. Com cores, efeitos e desenhos marcantes, esse elemento arquitetônico chama atenção em diversos países. De funcional, passou a obra-prima e encantou. O ARTISTA TOBIAS REHBERGER BUSCOU INSPIRAçãO NO BRINQUEDO MOLA MALUCA PARA COMPOR A SLINKY SPRINGS TO FAME, NA ALEMANHA INCOMUM 16 3.indd 2-3 8/31/12 5:12 PM

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Obras-primas da arquitetura, pontes com propostas e traços

ousados são comparadas a esculturas em diversos países

Travessiacom arte

TeXTO Juliana Duarte

“A ponte não é de concreto, não é de ferro, não é de cimento. A ponte é até onde vai o meu pensamento”. A música

do cantor e compositor Lenine traduz a sensação que se tem ao caminhar sobre pontes que mais parecem esculturas

a céu aberto. O objetivo dos artistas que as criam não é apenas ligar estradas ou facilitar a vida das pessoas, mas sim

fazê-las pensar, imaginar. Com cores, efeitos e desenhos marcantes, esse elemento arquitetônico chama atenção em

diversos países. De funcional, passou a obra-prima e encantou.o artista tobias rehberger buscou inspiração no brinquedo mola maluca para compor a slinky springs to fame, na alemanha

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Bons exemplos não faltam, como os desenvolvidos pelo arquiteto

espanhol Santiago Calatrava, o mago das construções em concreto e

aço. A Calgary’s Peace Bridge, no Canadá, se destaca pela estrutura

em formato tubular e armações, que criam tramas surpreendentes.

O traçado também chama atenção na ponte Slinky Springs to

Fame, em Oberhausen, na Alemanha. Lembra da Mola Maluca, brin-

quedo que fez sucesso nas décadas de 1980 e 1990? Ela serviu de

inspiração para o artista alemão Tobias Rehberger, que deu vida a

uma estrutura de 406 metros de comprimento. A passarela cruza o

rio Reno, um dos mais importantes do país, e foi envolvida por uma

grande mola metálica. Outro projeto com status de cartão-postal está

em terras brasileiras: é a ponte JK, em Brasília, planejada pelo arquite-

to Alexandre Chan. Inaugurada em 2002, impressiona pelos grandes

arcos que sustentam a base (dividida em três tabuleiros) com vãos de

240 metros cada, um verdadeiro desafio para a engenharia.

Construídas para a passagem de carros, pedestres ou até barcos, as

pontes são imprescindíveis para o bom funcionamento das cidades,

sempre com traços e formas que encantam.

acima, os estais de aço amarelo da ponte octávio frias criam um jogo de cores no céu de são paulo. abaixo, a estrutura retorcida da ponte vlaardingse vaart. na página ao lado, acima, o formato inusitado da calgary’s peace

bridge, no canadá. e, abaixo, os arcos imponentes da ponte jk, em brasília

para todos os gostos

“Atualmente, há diversas possibilidades para a construção de pon-

tes. O tipo de obra, no entanto, depende da localização e das condi-

ções do espaço”, comenta Alfredo Mario Savelli, professor do curso

de Engenharia Civil, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em

São Paulo. Duas maneiras conhecidas em terras brasileiras são a pên-

sil, sustentada por cabos ou tirantes de suspensão, e a estaiada, na qual

estais ficam presos ao mastro principal e sustentam os tabuleiros que

compõem a base. A cidade de São Paulo conta com um belo exemplo

deste método construtivo: é a ponte Octávio Frias, planejada pelo

arquiteto João Valente Filho (1949-2011). Sua estrutura fica presa à

estais de aço pintados de amarelo e conectados ao mastro principal.

Há também as pontes de concreto e com estrutura metálica, como

a Vlaardingse Vaart, construída na cidade de Vlaardingen, Holanda,

para facilitar a rotina dos ciclistas. Os arquitetos do escritório holan-

dês West 8 planejaram uma estrutura composta por perfis de aço qua-

drados – algumas peças foram retorcidas para dar sensação de mo-

vimento. Seus 42 metros de extensão são suportados por fundações

realizadas nas duas extremidades. A estrutura foi montada e içada até

o local, método mais ágil e que não produz entulho.

Formas, luzes e cores fazem das pontes verdadeiros cartões-postais em diversos países

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nesta página, manifestações de arte tomam conta da ponte-pavilhão zaragoza, projeto da arquiteta zaha hadid. na página ao lado, acima, a steampipe birminghan bridge, que conta com elevadores para o transporte de pedestres e ciclistas, e, abaixo, as inusitadas tiger and turtle, na alemanha, e a ponte planejada pelo escritório holandês ro&ad architecten

obras-primas

O Rio Ebro, um dos maiores da Península Ibérica, recebeu uma

agradável companhia em 2008. A arquiteta iraquiana Zaha Hadid

planejou o Pavilhão-Ponte Zaragoza, que tem múltiplas funções: en-

trada da exposição, passarela de pedestres e área para mostras. Com

260 metros de comprimento, o viaduto (aberto apenas para pedes-

tres) tem desenho orgânico, estrutura metálica trançada e é o respon-

sável por conectar as duas margens. Pequenos rasgos na fachada, de

tamanhos e formatos diferentes, permitem a entrada de luz natural e

provocam um jogo de sombras em seu interior.

A ponte Steampipe Birmingham tem um propósito parecido: faci-

litar a circulação e contribuir para o entorno com arte, já que parece

um monumento aberto ao público. A construção faz parte de um pro-

jeto de extensão da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, e

carrega a assinatura dos arquitetos do escritório britânico MJP Archi-

tects. De acordo com os profissionais responsáveis, a estrutura de aço

inox foi escolhida por ser mais resistente e fácil de manter.

diferentes, sim!Para proteger as terras holandesas de invasões espanho-

las e francesas, tão comuns no século 17, líderes da época

construíram fossos no sudoeste do país. Anos depois, em

pleno século 21, essas barragens ganharam uma função

mais leve e festiva: proporcionar diversão a turistas e mo-

radores locais, pois são rotas de caminhada e ciclismo. É aí

que o escritório holandês RO&AD Architecten entra em

cena: os profissionais responsáveis planejaam uma ponte

inusitada para ligar as duas extremidades do fosso. Feita

com estrutura de madeira impermeabilizada, fica sob a lâ-

mina da água e é imperceptível a quem observa de longe.

Já a escultura Tiger and Turtle (tigre e tartaruga), loca-

lizada na cidade de Duisburg, Alemanha, chama atenção

mesmo a vários quilômetros de distância. Idealizada pelos

artistas alemães Heike Mutter e Ulrich Genth, a ponte não

liga dois pontos, nem ao menos funciona como travessia de

carros ou pedestres: foi criada para proporcionar a mesma

sensação de passear em uma montanha-russa, só que a pé,

sem os carrinhos.

A estrutura de cada ponte depende da localização e das condições do espaço

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dluzes de metal

O rio Yarra, na Austrália, nunca mais foi o mesmo depois da

construção da ponte Melbourne Webb, planejada pelos arquitetos

do escritório indonésio Denton Corker Marshall. Idealizada para

pedestres e ciclistas, a passarela foi desenvolvida com estrutura de

metal – arcos metálicos estão distribuídos por toda sua extensão e se

concentram em uma das extremidades. À noite, com um jogo de luzes

e cores idealizado pelos profissionais, a ponte ganha vida e se destaca

na paisagem.

Iluminação especial que também atrai olhares para a criação dos

profissionais do escritório norte-americano PKSB Architects em par-

ceria com o light designer Leni Schwendinger. As três pontes, conhe-

cidas mundialmente como Triple Bridge, ajudam a facilitar a circula-

ção no terminal de ônibus de Manhattan, em Nova York. A estrutura

transparente deixa suas cores vibrantes à mostra. Quando anoitece,

cada tom é acentuado com as luzes planejadas por Schwendinger. A

paisagem urbana agradece, bem como os apaixonados por arquitetura.

presente e futuro

Clássico, o viaduto de Millau, no sul da França, conta com apro-

ximadamente 2,5 quilômetros de extensão e 342 metros de altura.

Responsável por conectar a cidade de Clermont-Ferrand à

Espa¬nha, a ponte estaiada, planejada pelo arquiteto inglês

Norman Foster, foi construída sobre o Rio Tarn e é conside-

rada uma das mais altas do mundo. Sete pilares de concreto dão

sustentação ao viaduto, que conta com um tabuleiro formado

por oito trechos com estrutura de aço. A vista para a paisagem

ao redor, com campos cobertos por muito verde, é um dos des-

taques e chama a atenção dos turistas.

O oposto à construção de Foster é a inusitada Paik Nam June

Media Bridge, projeto criado pelos arquitetos do escritório co-

reano Planning Korea, comandado pelo diretor criativo Byung

Ju Lee. O local terá mais de um quilômetro de extensão e contará

com cinema, museu e até mesmo uma biblioteca pública. Situa-

da em Seul, capital da Coreia do Sul, a construção atravessará

o rio Han e, além de espaços de lazer, contará com pistas para

ciclistas, cais para embarcações e placas solares que dispensarão

o uso de energia elétrica.

construídas para carros e pedestres, as pontes são imprescindíveis para as cidades

acima, a iluminação especial atrai olhares para a webb bridge, na austrália. abaixo, as triple bridges, de ny: as construções facilitam a locomoção no terminal de ônibus de manhattan. na página ao lado, acima, os traços inusitados da futura paik nam june media bridgem na coreia do sol e, abaixo, a grandiosidade do viaduto millau, na frança

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