Deus fala através
dos sonhos
Muitos problemas seriam evitados se
soubéssemos entender as orientações
que Deus nos dá através dos sonhos.
José Carlos Marion
Revisão e Edição
Luiz Roberto Kamla Cascaldi
Primeira edição – Editora Atos
Junho de 2001
Segunda edição – em PDF
Junho de 2016
Publicado com a devida autorização e com todos os direitos
reservados por
JOSÉ CARLOS MARION
Índice
Agradecimentos ........................................................ 4
Introdução ............................................................... 5
Capítulo1 - Os sonhos e a Bíblia ................................. 10
Capítulo 2 - Os Sonhos, a Ciência e a Teologia ............. 24
Capítulo 3 - O Derramamento do Espírito Santo e os
Sonhos ................................................................... 45
Capítulo 4 - Aprendendo com os "sonhadores" da Bíblia 59
Capítulo 5 - A Interpretação de Sonhos ....................... 89
Capítulo 6 - Vivendo com os Sonhos ......................... 108
Conclusão ............................................................. 140
Notas sobre o Autor ............................................... 144
Agradecimentos
Muitas pessoas contribuíram para a elaboração deste
livro. Algumas preferiram ficar no anonimato; outras,
tomamos a liberdade de citá-las, principalmente por se
tratar de experiências em sonhos.
Gostaríamos de destacar a contribuição
extraordinária do casal Ester e Harold Walker na 1ª
Edição. Ela, pela digitação, esforçando-se para entender
meus rabiscos e garranchos, transformando-os em letras
gráficas e frases claras (inteligíveis) para a leitura. Ele,
pela revisão teológica do livro, provocando debates e, em
muito, contribuindo para o meu crescimento na
compreensão da Bíblia.
Todavia, ao Senhor dos sonhos, ao Criador do
Universo, ao Doador da vida, o nosso mais profundo
agradecimento. Ele é o centro deste modesto livro. A Ele
toda a honra, glória e louvor.
Amém!
O Autor
Introdução
Com o passar do tempo pude observar que alguns sonhos
durante minha vida vieram a se concretizar em algum
momento da minha história.
Numa noite, sonhei que estava entrando em uma
casa onde teria de viver por algum tempo. Vi que aquele
ambiente era ruim para mim pois havia barulho, muitos
carros passando na frente e uma grande agitação. Hoje
posso entender que era uma tribulação que me esperava.
Ao entrar na casa notei algumas coisas estranhas,
até que, debaixo do sofá onde estivera escondido, saiu
um “amigo”, uma pessoa muito especial para mim e que
eu acreditava e investira muito da minha vida nele.
Ele olhava para mim e dava gargalhadas – do tipo
diabólico que aparece nos filmes de terror. Parecia que no
sonho estava diante de um traidor.
Ainda no sonho, chorava muito e batia com as
mãos no chão, lamentando o mal que aquela pessoa
estava me fazendo e me faria por muito tempo na minha
permanência naquela casa.
Ao acordar, comentei com minha esposa como
tinha sido “absurdo” aquele sonho e principalmente pelo
fato de ser aquela pessoa. Como poderia duvidar desse
“amigo”, uma pessoa que era de minha confiança? Como
poderia ser ele um inimigo ou estar sendo usado pelos
espíritos das trevas? Achei graça de tudo aquilo e
procurei superar o aparente pesadelo.
A palavra absurdo usada acima vem do latim
surdus, que significa surdo. Na verdade, fui surdo à voz
de Deus.
Passados pouco mais de um mês, de uma forma
inacreditável, aquela pessoa estava concluindo uma suja
e terrível cilada que só as profundezas do inferno
poderiam arquitetar. Aliás, não poderia imaginar que
mesmo o inferno pudesse ser tão atroz e monstruoso
como ele foi.
Não poderia imaginar que tanta crueldade junta
fosse possível. Só resisti porque experimentei na sua
essência o que chamamos de Graça de Nosso Senhor
Jesus Cristo, uma força que vem de Deus e nos sustenta
de uma maneira milagrosa. Por um tempo atravessei um
dos piores desertos da minha vida.
Entendo que Deus me avisara antes que tudo
acontecesse. Comecei a juntar partes de outros sonhos e
vi que todo o quadro se delineava. Concluí que tudo fora
mostrado antes, até com muitos detalhes.
Então, comecei a me perguntar que “magia”
extraordinária era essa de sonhar:
a) Será que Deus me avisou antes para mostrar a
Sua soberania sobre os acontecimentos da vida, como
uma provisão de força para vencer aquele deserto?
b) Ou será que Ele me revelara uma tremenda
armadilha sendo preparada contra mim e minha família e
que eu poderia, com a Sua ajuda (que se tornava
evidente pelo fato de me mostrar em sonhos) romper
aquela rede de crueldade que estava sendo construída
minuciosamente?
c) Ou será, ainda, que o próprio Satanás tinha
acesso aos meus sonhos evidenciando o seu desejo de
destruir a minha vida?
Parece que a segunda pergunta (b) é a que melhor
se encaixou na história. Entendo, hoje, que Deus queria
que eu usasse todos os recursos que Ele próprio estava
me ensinando para vencer o diabo e poupar as nossas
vidas das emboscadas cruéis e sem piedade do inimigo.
Jesus perguntou aos seus discípulos: "Ó geração
incrédula! Até quando estarei convosco? Até quando vos
sofrerei ainda?" (Marcos 9:19)
Embora, anos depois, essa pessoa tivesse um
profundo arrependimento, uma mudança de vida
perceptível, sei que muito sofrimento seria poupado se eu
tivesse dado ouvidos àquele sonho. Neste caso ainda,
pela misericórdia de Deus, houve perdão incondicional
depois de muitos anos.
Tenho observado que, para muitos, só depois de
acontecer um fato marcante revelado antecipadamente
por um sonho, como foi o meu caso, são despertados
para a importância dos sonhos.
É o caso de um amigo meu que valoriza e
considera constantemente os seus sonhos. Isso
aconteceu quando ele sonhou, no final de fevereiro de
1986, que conversava com uma das mais importantes
autoridades na economia brasileira que dizia: “Não sei
por quê os brasileiros estão preocupados com a inflação
no país. Não deveriam se preocupar, pois vamos ter uma
grande deflação.”
No dia seguinte, até com um tom jocoso, contou o
sonho para alguns amigos. Para surpresa de todos, um
dia depois foi decretado o Plano Cruzado com o
congelamento de preços e, em seguida, uma queda geral
nos preços (deflação).
Para ele, uma pessoa apolítica e até indiferente às
decisões econômicas, foi um grande choque (não o
pacote, mas a antecipação dos detalhes um dia antes). A
partir daí passou, com muito mais critério e cuidado, a
analisar seus sonhos e descobrir que há tremendas
informações através deles.
Por meio deste modesto livro gostaria de, no
mínimo, despertar os leitores para as grandes riquezas
que estão contidas nos sonhos enquanto dormimos.
Todavia, quero deixar bem claro que não sou
expert no assunto, nem em Psiquiatria, Psicologia ou
Parapsicologia. Também não sou um teólogo na acepção
da palavra.
Sou alguém que crê em Jesus Cristo como Senhor
e Salvador da minha vida. Creio em Deus Pai que,
conforme o rogo de Jesus, enviou o Espírito Santo para
estar conosco. Creio que Deus se comunica conosco e
que uma dessas formas de comunicação é através dos
sonhos.
A minha experiência cristã me mostra que Deus
fala através de sonhos e é sobre isso que pretendo deixar
uma pequena contribuição.
Tenho perguntado nas minhas preleções em
algumas igrejas cristãs se as pessoas acreditam em
sonhos. Na verdade, uma minoria se utiliza deste
instrumento de revelação.
Todavia, no passado não foi assim. Kelseyi afirma
que todos os "pais" da igreja primitiva criam que sonhos
eram um meio de revelação e que, durante quinze
séculos, muitos criam nos mesmos. Por que então boa
parte dos cristãos de nossos dias não levam a sério seus
sonhos como instrumentos de revelação?
Uma das melhores repostas que encontrei foi a de
Fosterii:
“Durante quinze séculos os cristãos, em
esmagadora maioria, consideraram os sonhos
como o meio natural pelo qual o mundo do espírito
irrompia em nossas vidas... Com o racionalíssimo
da Renascença veio certo cepticismo a respeito dos
sonhos. Então, nos dias formativos do
desenvolvimento da Psicologia, Freud acentuou
principalmente o aspecto negativo dos sonhos,
visto que ele trabalhou quase inteiramente com
doenças mentais. Daí, homens e mulheres
modernos revelam tendência para ignorar
totalmente os sonhos, ou recear que o interesse
por eles redunde em neurose. Não há necessidade
de ser assim, e, de fato, se atentarmos bem, os
sonhos podem ajudar-nos a encontrar mais
maturidade e saúde.”
Como já disse, creio que Deus fala em nossos dias,
assim como sempre falou, através de sonhos. Que Deus
me ajude a mostrar a você, querido leitor, aquilo que é
realidade para a minha vida.
Capítulo1
Os sonhos e a Bíblia
“Creio em visões, sonhos e em percepções
reais da voz de Deus.”
Caio Fábio D’Araújo Filhoiii
Há diversas passagens na Bíblia mostrando que Deus fala
através de sonhos. Procuramos mostrar algumas delas
através dos tópicos seguintes, tratando primeiramente do
período desde o começo da humanidade até o
derramamento do Espírito Santo ocorrido logo após a
ascensão de Jesus aos céus.
Para quem Deus fala em sonhos
A ideia que se tem, principalmente nesse período
inicial em análise, é que Deus só falava com pessoas
muito especiais (profetas, sacerdotes e alguns reis).
Ainda que a comunicação de Deus com essas pessoas
seja notória, procuramos mostrar que Deus também
falava – e fala – aos homens comuns, sem acepção.
Deus fala aos Profetas
O livro de Números (o quarto da Bíblia) registra
uma rebelião de Miriã e Arão contra o irmão, Moisés. A
rebelião ocorreu principalmente porque os irmãos de
Moisés entendiam que o Senhor não só falava através de
Moisés, mas também através deles.
Possivelmente, dado à sua mansidão, Moisés não
respondeu aos seus irmãos. Porém, a Bíblia informa que
o Senhor desceu numa coluna de nuvem e falou aos três:
"Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós
houver profeta, eu, o Senhor, em visão a ele me
farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele. Não
é assim com o meu servo Moisés que é fiel em toda
a minha casa. Boca a boca falo com ele, e de vista,
e não por figuras: pois, ele vê a semelhança do
Senhor. Por que pois não tiveste temor de falar
contra o meu servo, Moisés?" (Números 12:6-8)
(grifos nossos)
O primeiro aspecto a ser enfatizado no texto é que
o Senhor falava de duas maneiras aos profetas: em
visões e em sonhos.
Ouvir o Senhor boca a boca, face a face, foi o
privilégio de apenas uma pessoa em toda a Bíblia. O
Senhor falava a Moisés cara a cara como qualquer um
fala com o seu amigo (Êxodo 33:11).
A razão do Senhor falar assim com Moisés é que
nunca se levantou em Israel (antes de Jesus) um profeta
como ele. Nem tampouco alguém operou sinais e
maravilhas como ele (Deuteronômio 34:10-12).
No texto em análise, o Senhor destacava
principalmente a fidelidade de Moisés e a sua virtude; por
isso ele podia ver a semelhança do Senhor e ouvi-lo
diretamente.
Parece que o contato face a face com o Senhor
seria muito difícil nos nossos dias. Paulo diz que quando
tivermos sido feitos completos e aperfeiçoados (quando
estivermos com Deus nos novos céus e nova terra), aí
deixaremos de ver Deus parcialmente como se
estivéssemos observando Seu reflexo num espelho para
vê-Lo face a face, integralmente, com clareza, como Ele
nos vê agora (1 Coríntios 13:10-12).
Mas, enquanto aguardamos o Dia do Senhor para
ouvi-Lo e vê-Lo cara a cara, é certo que Deus fala
conosco, entre outras maneiras, por visões e sonhos.
Entretanto, a pergunta normal que surge agora é: "Mas o
texto em análise não se refere apenas aos profetas? Nós
somos considerados profetas para Deus falar conosco? Ou
Deus fala com todos nós?"
Deus fala aos homens
O livro de Jó vem confirmar aquilo que é inferido
pela leitura da Bíblia: que Deus fala a todos os homens (e
não só aos profetas) através de sonhos e visões.
"Antes, Deus fala uma e duas vezes; porém
ninguém atenta para isso. Em sonho ou em visão
de noite, quando cai sono profundo sobre os
homens e adormecem na cama. Então abre os
ouvidos dos homens e lhes sela a Sua instrução."
(Jó 33:14-16) (grifos nossos)
Quando Deus falava aos profetas no Velho
Testamento, estava falando com pessoas que conheciam
o mover do Espírito Santo e que geralmente deveriam
comunicar (a alguém, ou a um grupo, ou a um povo) a
mensagem recebida. No Velho Testamento apenas os
profetas e alguns reis e sacerdotes conheciam a presença
do Espírito Santo.
O que há de extraordinário para as nossas vidas
nos dias atuais é que, através da Nova Aliança, todos os
que creem em Jesus Cristo recebem o Espírito Santo. Há
algumas promessas no Velho Testamento de que isso
aconteceria:
"E há de ser que, depois, derramarei o meu
Espírito sobre toda a carne e vossos filhos e vossas
filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos e
os vossos jovens terão visões." (Joel 2:28) (grifos
nossos)
"Porque derramei água sobre o sedento e rios
sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito
sobre a tua posteridade e a minha bênção sobre os
teus descendentes. (Isaías 44:3)
Assim, quem tem o Espírito Santo que foi
derramado logo após a ascensão de Jesus Cristo aos
céus, como trataremos no capítulo 3, é tratado à
semelhança dos profetas no passado: será conhecido do
Senhor e certamente receberá mensagens do Todo-
Poderoso.
Todavia, independentemente dessa unção do
Espírito Santo, o texto de Jó evidencia que Deus fala aos
homens através de sonhos (que é alvo do nosso estudo)
e de visões.
Há diversos exemplos na Bíblia que vêm confirmar
que Deus falava em sonhos também aos homens comuns
e não só aos profetas. Alguns deles citaremos no tópico
seguinte.
O que é importante ressaltar é que Deus não fala
em sonhos somente aos Seus fiéis seguidores, mas
também àqueles que não O identificam como Deus, caso
de Abimeleque (Gênesis 20:3), de dois presidiários
(Gênesis 40:5), de Faraó (Gênesis 41:1,5), do rei da
Babilônia (Daniel 2:1) e da mulher de Pilatos (Mateus
27:19).
O que Deus fala aos homens em sonhos
A Bíblia nos ensina que Deus abre os ouvidos dos
homens para dar Sua instrução (Jó 33:16). A principal
instrução que Deus quer dar aos homens, como está
descrito nos versos 17 e 18 do texto citado em Jó, é
“apartar as pessoas dos seus caminhos errados e livrá-las
da soberba da vida, salvando sua alma da corrupção e
desviando sua vida de cair sob a espada”. Em outras
palavras, Deus quer poupar o homem da condenação
eterna, dirigi-los por veredas justas e aperfeiçoá-los.
Quando o homem está distante de Deus, para levá-
lo ao arrependimento (verso 17), além dos sonhos, Deus
pode permitir enfermidades como um recurso para
desviar sua alma da corrupção (da morte eterna) e
invadir sua vida com luz (versos 19 a 30 do capítulo 33
de Jó). A verdade é que Deus, na Sua misericórdia,
utiliza-se de inúmeros recursos para Se revelar aos
homens.
Todavia, Aquele que deu o fôlego da vida para o
homem fazendo-o alma vivente (Gênesis 2:7), é
suficientemente amoroso e poderoso para socorrer e
orientá-los em todas as áreas. Por isso, Ele dá em sonhos
inúmeras instruções, revela segredos, faz promessas, dá
opções de escolha revelando o profundo e o escondido
(Daniel 2:22), como, por exemplo:
• Mostrar que está com o Seu servo, que vai guardá-
lo por onde ele andar, que nunca o abandonará,
que Seu servo voltará à terra paterna e que será o
dono de tudo, fazendo ainda uma gloriosa
promessa (Gênesis 28:12-15);
• Mostrar que Seu jovem servo irá governar e que
muitos irão se inclinar diante dele (Gênesis 37:5-
10);
• Mostrar a um presidiário que em três dias ele
alcançará a liberdade e terá de volta um lugar de
honra como no passado, antes do seu erro
(Gênesis 40:7-13);
• Mostrar a um rei que haveria sete anos de grande
fartura e que, em seguida, haveria sete anos de
fome total e que haveria necessidade de se
preparar para que todos não perecessem (Gênesis
41:17-24);
• Mostrar a um simples soldado que a batalha estava
perdida; que o general do povo de Deus os
atacaria e venceria, mesmo tendo um exército
desprezível (Juízes 7:13-15);
• Aparecer ao Seu servo e dizer: "Pede o que queres
que eu te dê." (1 Reis 3:5) Gostar do pedido
daquele jovem servo e fazer dele o homem mais
sábio de todos os tempos (versos 6 a 15);
• Revelar a um rei os segredos de como serão os
últimos dias e quais seriam os reinos até o final
dos tempos (Daniel 2:28- 45); advertir a este
mesmo rei que ele viveria como um animal
monstruoso por um tempo (Daniel 4:5);
• Revelar a um fiel seguidor os quatro grandes reis
que se levantariam até o final dos tempos (Daniel
7:1-14);
• Notificar a uma esposa para que avisasse o seu
marido de uma decisão errada que ele estava
tomando, que lhe traria muitos sofrimentos
(Mateus 2:12,13 e 23);
• Esclarecer a um marido que sua mulher não era
adúltera e que deveria recebê-la, sendo-lhe
revelado que algo muito extraordinário estava
acontecendo (Mateus 1:20,24).
Esses são diversos exemplos daquilo que Deus fala
através de sonhos. No capítulo 3 poderemos ver que é
possível a um homem cheio do Espírito Santo ter uma
vida orientada por Deus através dos sonhos.
Em alguns exemplos citados, especificamente nos
dois últimos, encontramos sonhos em que há uma visão
de anjos. Neste caso, entendemos que os dois
fenômenos, sonho e visão, acontecem simultaneamente
enquanto se está dormindo. Queremos ressaltar, porém,
que na maioria das vezes a visão acontece
individualmente (não em conjunto com o sonho) e em
ocasião de plena consciência, ou seja, a pessoa está
acordada.
Como Deus fala
Como já foi visto nos itens anteriores, Deus fala em
sonhos aos profetas e aos homens em geral, sejam esses
servos de Deus ou ímpios (aquele que não têm fé,
incrédulos, pagãos).
Deus fala por Figuras
Aqui é o ponto-chave; entendemos que Deus
normalmente fala nos sonhos por ‘figuras’, por ‘enigmas’
(alguma coisa que precisa ser decifrada), por ‘alegorias’
(exposição de um pensamento sob forma figurada ou
ficção que representa um objeto para dar ideia de outra).
Veja que em Números 12:6-8, Deus nos ensina
que Ele pode falar em sonhos, aparecer em visões ou
falar claramente, cara a cara. Ele diz que com Moisés fala
"face a face", claramente, e não por enigmas e figuras.
Disso, pode-se concluir que, com muita gente, Ele fala
em figuras, de maneira ‘simbólica’.
Vê-se que dificilmente nos nossos dias Deus falaria
cara a cara. Todavia, nada impede que Ele fale
claramente nos sonhos, embora sabe-se não ser comum,
sendo privilégio de alguns poucos homens consagrados a
Deus. Tanto na exposição bíblica (exceto nos exemplos
quando há o sonho e a visão simultaneamente), como na
experiência, parece que Deus realmente fala nos sonhos
através de símbolos, enigmas, alegorias etc.,
necessitando-se, portanto, de interpretações.
E tudo isso não causa surpresa, mesmo porque,
quando o filho de Deus, Jesus Cristo, se encarnou aqui na
Terra, usava muito de parábolas para falar aos homens,
necessitando, estas, de interpretações. Tanto as
parábolas como as figuras são recursos usados para
comparações.
Deus fala por Parábolas
O maior mestre de todos os tempos, Jesus,
utilizava parábolas para causar impacto e permitir melhor
memorização pelos seus ouvintes. A parábola é um
processo de comparação altamente ilustrativo e que
facilita muito a memorização. Lucas registra dezenove
parábolas contadas por Jesus; Mateus registra dezessete.
Se Jesus contasse de forma direta o incrível desejo
do Pai em perdoar os arrependidos, talvez não
entenderíamos de maneira tão profunda e impactante o
que ele ensinou através da parábola do filho pródigo.
Além do mais, essa parábola facilmente ficou retida na
memória dos discípulos para nunca mais ser esquecida.
Todavia, não era apenas por ser um recurso
didático que Jesus se utilizava das comparações
(parábolas) para transmitir seus ensinamentos. Ele
também declarou a principal razão das parábolas ao
explicar o porquê da parábola do semeador:
"Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. E,
acercando-se dele os discípulos, disseram-lhe: Por
que lhes falas por parábolas? Ele, respondendo,
disse-lhes: Porque a vós é dado conhecer os
mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é
dado. Porque àquele que tem, se dará, e terá em
abundância; mas aquele que não tem, até aquilo
que tem lhe será tirado. Por isso falo por
parábolas; porque eles, vendo, não veem; e
ouvindo, não ouvem nem compreendem. E neles se
cumpre a profecia de Isaías, que diz: 'Ouvindo,
ouvireis, mas não compreendereis, e vendo, vereis,
mas não percebereis. Porque o coração deste povo
está endurecido, e ouviram de mau grado com
seus ouvidos, e fecharam seus olhos; para que não
vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e
compreendam com o coração, e se consertam, e eu
os cure.' Mas bem-aventurados os vossos olhos,
porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem.
Porque em verdade vos digo que muitos profetas e
justos desejaram ver o que vós vedes, e não o
viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram."
(Mateus 13:9-17) (grifos nossos)
O texto mostra que, estando o homem com o
coração endurecido com Deus, não tendo interesse para
com as coisas de Deus, ainda que Ele fale ao seu coração
não perceberá, não compreenderá e, portanto, não se
beneficiará da salvação e da cura.
Na verdade, os homens da época de Jesus não
queriam entender que o próprio Deus estava entre eles.
Não davam valor ao Único que é digno de receber o
louvor, ao Senhor dos senhores. Por isso, Deus se dava
ao direito de falar de uma maneira que esses surdos
espirituais não ouvissem e que esses cegos voluntários ou
sem iniciativas não vissem a majestade do Deus vivo.
É Deus oferecendo perdão, amor, liberdade, cura...
e o homem permanecendo indiferente. Assim, é lançado
o ouro puro de Deus sobre todos os homens, mas poucos
identificam e se esforçam para possuir este ouro e
conhecer Aquele que o está semeando.
Deus fala por Enigmas
Todas as interpretações dos enigmas, figuras,
alegorias, comparações que estão contidas nos nossos
sonhos pertencem a Deus (Gênesis 40:8; 41:15 e Daniel
2:11,28).
Isso significa que o mesmo Deus que fala de
maneira especial também dá a interpretação para aqueles
que buscam, que abrem seus olhos e ouvidos espirituais.
A princípio, podemos entender que Deus fala para
os homens em figuras (Jó 33:14). Ainda que essa forma
de falar possa ter um objetivo didático (como nas
parábolas de Jesus ou do Velho Testamento), prevalece o
aspecto de que Deus semeia a instrução numa linguagem
não totalmente inteligível, para que cada um de nós
busque a sabedoria do alto, cuja fonte é Ele mesmo.
É um “curvar-se” diante de Deus, é reconhecer Sua
existência e soberania. Sem isso, toda informação divina
através de sonhos fica inócua, infrutífera, obscura e
ininteligível. Sem o reconhecimento da majestade e
soberania do Todo-Poderoso, aquele que sonha não
entenderá a instrução; "tem ouvidos e não ouve; tem
olhos e não vê."
Por isso a Bíblia nos ensina que Deus fala uma ou
duas vezes, porém, ninguém atenta para o fato. Ou seja,
devemos nos esforçar para ouvir, conhecer e entender as
mensagens que Deus tem para nossas vidas. Aqueles que
creem que Ele fala aos homens e desejam aprender O
interrogarão e temerão. Mas, àqueles a quem falta boa
vontade, que não reconhecem a soberania de Deus, esses
não se importarão, permanecerão na cegueira; ainda que
Deus fale aos seus corações não vão detectar.
Entretanto, podem existir casos extremos nos
quais o Senhor Se negue a comunicar com a pessoa
deliberadamente rebelde, ainda que ela esteja atenta e
buscando, como foi o caso de Saul: "E perguntou Saul ao
Senhor, porém o Senhor não lhe respondeu, nem por
sonhos, nem por sacerdote, nem por profetas." (1
Samuel 28:6)
Deus fala diretamente
Embora não seja tão comum, é possível o Senhor
falar em sonhos de uma forma direta e objetiva:
"Deus, porém, veio a Abimeleque em sonhos de
noite e disse-lhe: Eis que morto és por causa da
mulher que tomaste; porque ela está casada com
marido." (Gênesis 20:3) (grifos nossos)
Quando Labão começou a perseguição contra o seu
genro que tinha fugido com a família aconteceu que:
"Veio, porém, Deus a Labão, o arameu, em sonhos
de noite e disse-lhes: Guarda-te que não fales a
Jacó nem bem nem mal." (Gênesis 31:24) (grifos
nossos)
Os sonhos que José teve (Mateus 1:20; 2:13;
2:22) transmitiram uma direção expressa de Deus que
falou por meio de um anjo, em visão.
Parece que quando o Senhor quer comunicar algo
muito urgente e de muita importância em circunstâncias
especiais Ele não usa figuras: ou Ele fala direto por
sonhos ou usa um emissário no próprio sonho, podendo
esse ser um anjo ou um outro personagem qualquer.
A frequência com que Deus fala conosco
A intenção não é de tentar enquadrar Deus em
determinados padrões. Isso seria loucura. Há, porém,
experiências bíblicas através das quais se pode entender
melhor o “operar” de Deus.
Deus não fala frequentemente em sonhos, mas o
faz somente conforme a Sua soberana vontade, podendo
trazer revelações por um período específico ou
esporadicamente.
Por exemplo, quando lemos Gênesis, capítulos 12 a
22, observamos que Deus falou dez vezes com Abraão
(não em sonhos). Em menos de uma hora de leitura
temos a impressão de que Deus falou muito com Seu
servo em um curto espaço de tempo. Entretanto, os dez
capítulos abrangem um período aproximado de 55 anos.
Quando Deus chamou a Abraão em Ur dos caldeus ele
tinha 70 anos. Quando Abraão ofereceu Isaque como
sacrifício, sua idade era de aproximadamente 125 anos.
Considerando que no capítulo 12 o Senhor falou
duas vezes em seguida a Abraão e que no capítulo 22
ocorreu a mesma coisa, concluímos que Deus falou com
ele no intervalo de 55 anos apenas 8 vezes (capítulos 13
a 21), o que daria uma média muito baixa.
Em cada encontro, Deus falou essencialmente a
mesma coisa a Abraão, porém, ampliando e clarificando
cada vez mais. Cada vez o relacionamento era mais
íntimo e a conversa mais específica; a confirmação da
promessa tornava-se cada vez mais forte. E o que tornou
a promessa irrevogável foi quando Abraão chegou ao
ponto de colocar Deus antes de quem lhe era mais
precioso e importante na sua vida – seu filho. Esse é o
ponto mais alto do relacionamento com Deus e a aliança
ficou confirmada com um juramento.
É essa aliança conosco hoje, através de Jesus
Cristo, que Deus quer aperfeiçoar. Ele quer que
desenvolvamos um relacionamento íntimo com Ele.
Estou dizendo tudo isso para mostrar que Deus
tem o Seu tempo para falar conosco, tem Suas maneiras,
e por sonhos é uma delas. Não que Ele fale em todos os
sonhos (ainda que, se quisesse, o faria). Parece que Ele
fala periodicamente, como foi com Abraão e com muitos
profetas no passado. Um capítulo da Bíblia pode abranger
dezenas de anos.
Assim, segundo o nosso entendimento, Deus pode
falar através de sonhos, embora não signifique que fale
em todos os sonhos. Pode até passar muito tempo sem
que Ele se manifeste. Ele é Soberano e sabe todas as
coisas.
O que é importante é estar atento, não só por
sonhos, às manifestações de Deus. É necessário aprender
a discernir quando é Deus e quando é apenas a nossa
mente e imaginação falando. Para tal discernimento não
há fórmulas. Quando se está atento, aberto, o próprio
Espírito Santo mostra que a revelação é divina.
Assim, se passarmos algum tempo sem a revelação
divina, não significa que Deus nos ama menos, mas que
Ele tem o Seu tempo para falar aos homens.
Só como ilustração, citamos as passagens do livro
de Gênesis onde Deus fala com Abraão: 12:1-3; 12:6-7;
13:14; 14:18; 15:1-21; 17:1-21; 18:1-33;21:12-13;
22:1-14; 22:15-18.
Capítulo 2
Os Sonhos, a Ciência e a
Teologia
“Quando Deus quer falar comigo, Ele me põe a dormir, por que
em sonhos Ele me tem falado”
(Mike Sullivant, Igreja Metro Vineyard Fellowship, Kansas city,
Missouri, EUA/1992)
A nossa mente pode ser tratada em duas partes ou duas
funções: o consciente e o inconsciente. Não existem duas
mentes distintas, mas duas esferas de atividades numa
única mente.
Consciente versus Inconsciente
O consciente é visto como a qualidade ou
atividade do espírito humano de produzir ideias É o
sentimento ou percepção do que se passa em nós; a área
da mente que escolhe, que faz opções. É tratada como a
mente objetiva, desperta, voluntária ou o ego exterior.
O inconsciente não possui as características do
consciente. É a falta de consciência, constituído por tudo
aquilo que ignoramos, por aquilo que não tem qualquer
relação com o 'eu', o centro dos campos da consciência.
Nele são depositadas as nossas experiências passadas,
conhecimentos, valores e outras individualidades, além
das experiências coletivas através dos séculos desde o
início da caminhada da humanidade. O inconsciente
também é conhecido como subconsciente.
O subconsciente aceita tudo o que lhe é imposto.
Ele não toma decisão como o consciente. É tratado como
a mente subjetiva, adormecida, involuntária ou o ego
interior.
Podemos comparar estes conceitos com o iceberg
que flutua nas águas geladas, do qual apenas 10% se
acha descoberto, sendo que os 90% restantes estão
submersos. Assim, a parte maior, o inconsciente,
representa em torno de 90% sendo que os 10% restantes
representam o consciente. Todavia, o inconsciente está
sujeito ao consciente.iv
O subconsciente e os sonhos, conforme a Psicologia
Freud foi o primeiro psiquiatra a desvendar, há
mais de cem anos, os sonhos. Sua conclusão é que o
sonho retrata tudo o que está guardado dentro da nossa
mente, no inconsciente. É como se fosse um dicionário do
nosso inconsciente. Consegue, durante a noite, ver tudo
o que no fundo é reprimido pelos nossos desejos.
Há uma teoria mais moderna, de Jung, v que diz
que enquanto o consciente está adormecido o
inconsciente envia mensagens a ele através dos sonhos.
O inconsciente nos sonhos, segundo Jung, usa os seus
recursos para reconstituir o próprio equilíbrio psíquico
entre o instinto e a consciência (mundo racional).
Esta teoria vem contrapor-se à teoria de Freud que
achava que os sonhos exprimiam desejos reprimidos e
frustrados e continham um material que fazia parte da
herança arcaica, proveniente das experiências da pessoa.
Assim, cientificamente falando, há uma forte
corrente que vê no sonho o potencial maior do
inconsciente (dotado de mais recursos) tentando ajudar
ou influenciar o consciente através de mensagens
simbólicas.
Em termos de dicionário,vi sonho é a sequência de
fenômenos psíquicos (imagens, representações, atos,
ideias, etc.) que involuntariamente ocorrem durante o
sono.
O poder do subconsciente
Há diversos pesquisadores nesta área que afirmam
que todo homem tem uma casa de tesouro
incomensurável dentro de si: o subconsciente (ou
inconsciente). Afirmam que há no mesmo uma sabedoria
infinita, um toque limitado de tudo o que é necessário
para uma vida perfeita.
Conforme Murphy,vii a mente subjetiva
(subconsciente) realiza suas funções mais importantes
quando os sentidos objetivos estão momentaneamente
paralisados. O inconsciente é a inteligência e a acuidade,
que se tornam manifestas quando a mente objetiva está
parada ou em estado de sonolência.
A mente subjetiva enxerga sem a utilização dos
órgãos naturais da visão. Possui capacidade de
clarividência e clariaudiência. Pode deixar o corpo viajar
para terras distantes e trazer de volta informações
geralmente exatas. É capaz de coisas extraordinárias
como aprender pensamentos dos outros, ler o conteúdo
de um envelope fechado etc.
Para Murphy,viii grandes cientistas encontraram a
solução de problemas complexos enquanto dormiam. A
solução lhes veio em sonhos. Este autor defende a ideia
que se confessarmos as nossas necessidades um pouco
antes de dormir o nosso subconsciente irá propiciar a
solução, normalmente através dos sonhos.
Ainda no livro de Murphy,ix o Dr. Rhine, diretor do
departamento de Psicologia da Universidade de Duke
(EUA), reuniu uma vasta quantidade de provas
mostrando que um grande número de pessoas do mundo
inteiro vê acontecimentos antes de ocorrerem e, por isso,
são capazes, em muitos casos, de evitar acontecimentos
trágicos vistos com nitidez em um sonho.
Pesadelos
O pesadelo é o lado negativo dos sonhos. Há
aqueles que não querem cair no sono, pois parece-lhes
que estarão num túnel sem fim; ficam horrorizados,
transpiram, sentem falta de ar, etc.
Muitas pesquisas científicas têm sido realizadas
sobre pesadelos, mais sem nenhum resultado ainda. De
acordo com uma teoria, o pesadelo é reflexo da carga de
problemas diários, estresse, situação financeira apertada
etc. Entretanto, nem sempre isto é verdade, como pode
ser visto em declarações de pessoas que têm pesadelos
frequentes independentemente do seu fardo de
problemas. Ou, ainda, uma criança que visivelmente tem
pesadelos sem ainda absorver os problemas diários.
Em termos de algumas pesquisas realizadas,x
constata-se que a mulher tem mais pesadelos que o
homem; que em cada três pessoas, uma é acordada por
pesadelos a cada noite; que muitas pessoas têm
pesadelos repetitivos (até mesmo durante anos); que há
aqueles que sonham com a sua própria morte e
normalmente são acometidos de muito medo.
Na reportagem do Fantástico sobre pesadelos, a
estudante Giselda dos Santos, buscando solução para os
seus inúmeros pesadelos, declara: “Pesadelo é o oposto
de paz; a pior coisa que pode me acontecer é o pesadelo,
pois eu não consigo resolver. O meu sonho é não ter
pesadelo.”
Uma tentativa de conciliar a Psicologia com a Bíblia
Nosso objetivo neste tópico não é justificar a
Psicologia através da Bíblia. Deus não está interessado
nisso. O que queremos, sim, é afirmar que há pontos em
que a Psicologia, num outro enfoque e numa forma de
abordagem diferente, apresenta declarações que estão
contidas na Bíblia. Na área dos sonhos podemos
identificar alguns desses pontos.
O subconsciente e o espírito do homem
O famoso Dr. Paul Yonggi Cho (atualmente
chamado David Yonggi Cho), pastor da maior igreja do
mundo, na Coréia, afirma categoricamentexi que o
subconsciente é o espírito do homem; que a Bíblia chama
o subconsciente de homem interior (Romanos 7:22;
Efésios 3:16), o homem que está escondido no seu
coração, o homem oculto.
Com base nessa afirmação, conclui-se que a Bíblia
explica o subconsciente há dois mil anos, enquanto a
Psicologia está fazendo descobertas recentes nessa área.
Certamente muitas dessas descobertas são passíveis de
críticas e não podem ser aceitas por aqueles que já
conhecem a Bíblia.
A própria teoria de Freud sobre sonhos já é
contestada por novos pesquisadores num período em
torno de cem anos. Resta-nos, portanto, aquele sabor
especial em saber que o que a Bíblia afirmou há dois mil
anos continua incontestável, pois foi inspirada pelo
Espírito Santo de Deus.
Como vimos, a Psicologia contemporânea diz que
no subconsciente estão depositadas as nossas
experiências passadas junto com os valores e
experiências da humanidade desde o seu início. Também
afirma que no subconsciente há um potencial de
recursos, uma “sabedoria infinita” para ajudar o nosso
consciente.
Paulo nos ensina (Romanos 2:15) que a lei de Deus
está escrita nos corações dos homens, testificando
juntamente com a sua consciência e seus pensamentos,
quer acusando-os, quer defendendo-os. Essa informação
vem de encontro ao que Jeremias 31:33 havia dito no
passado: “...diz o Senhor: porei a minha lei no seu
interior e a escreverei no seu coração...”
Cabe aqui analisar se, quando a Bíblia fala em
coração, está falando do espírito do homem (é claro que
não se refere ao nosso coração de carne que bombeia o
sangue para todo o corpo, mas sim ao coração centro da
vida). Os hebreus empregavam a palavra coração no
sentido de ser sede de toda a vida mental - inteligência,
vontade e emoção (Ezequiel 13:2; Oséias 7:11; Lucas
8:15 e Atos 16:14).
Dr. Cho, como vimos anteriormente, diz que o
homem interior, o espírito, está escondido no coração.
Paulo diz ainda que o homem interior tem prazer na lei de
Deus (Romanos 7:22).
Se realmente pudermos identificar o subconsciente
com o coração e com o espírito do homem e entender
que lá está gravada a lei de Deus, podemos concordar
com a Psicologia quando ela descreve o subconsciente
como a “casa do tesouro”.
Cabe, então, a possibilidade que nos sonhos o
subconsciente, de posse da lei de Deus, instrui
positivamente o consciente, propiciando o equilíbrio
necessário e auxiliando, assim, aqueles que dão valor
para os sonhos.
O poder do subconsciente, conforme o Dr. Cho
Em seu livro,xii Dr. Cho aprofunda um assunto
pouco explorado no mundo espiritual. Ele afirma que as
explicações seguintes foram reveladas a ele pelo Espírito
Santo, após uma busca incessante sobre operações de
milagres pelos cristãos e pelos não cristãos.
Ele diz que há dois níveis distintos no mundo: o
reino da matéria e o reino espiritual. Por exemplo: "A
terra, porém, era sem forma e vazia; havia trevas sobre
a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava sobre as
águas." (Gênesis 1:2). Examinando a língua original do
V.T. (hebraico), percebe-se que esse versículo quer dizer
que o Espírito de Deus estava incubando sobre as águas,
"chocando-as". A terra, então, é o mundo material, o
mundo físico (que Dr. Cho chama de terceira dimensão) e
o Espírito Santo que está incubando sobre ela está em
um outro plano espiritual, que ele chama de quarta
dimensão.
Assim, o mundo espiritual (o Espírito Santo) que
incubava a terra, gerou nova ordem sobre a mesma: deu
vida (que foi tirada da morte), deu beleza (que foi
extraída da feiura) e deu abundância (que surgiu da
pobreza). Tudo foi criado belo e formoso pela incubação
do mundo espiritual.
Cada ser humano é tanto espiritual como físico.
Assim, possui corpo e alma (terceira dimensão) e espírito
ou subconsciente (quarta dimensão). O mundo espiritual
exerce influência sobre o mundo físico e está numa
dimensão maior e mais poderosa. Daí a explicação do
poder do subconsciente sobre o consciente. Com certas
limitações é claro, o subconsciente pode dar ordens e
criar coisas. Deus deu ao homem o poder sobre a
criação; ele pode controlar o mundo material.
O problema é que no mundo espiritual (na quarta
dimensão) o espírito do homem (o subconsciente) pode
juntar-se tanto ao Espírito Santo como ao espírito
maligno. Assim, no universo, há três categorias de
espíritos: O Espírito Santo de Deus, o espírito do Diabo e
o espírito humano. O primeiro não se junta ao segundo,
mas o terceiro pode juntar-se ao primeiro ou ao segundo
nesta dimensão superior.
Quando o espírito do homem se junta ao espírito
maligno também pode operar milagres, e daí a explicação
de alguns possíveis milagres nos meios não cristãos. Mas
esse espírito não produz salvação. Ainda que possa
operar milagres, leva a pessoa para o inferno, pois
pertence a uma dimensão maligna.
Assim, o subconsciente tem poder de influência,
mas é um poder limitado. Esse poder limitado pode ser
acrescido significativamente se juntado ao Espírito Santo
ou ao espírito maligno. Não é só o Espírito Santo que
incuba a terceira dimensão, mas também o espírito
maligno.
Sonhos inspirados?
Como vimos no item anterior, na dimensão
espiritual há três forças de atuação: o espírito do homem
(subconsciente), o Espírito de Deus e os espíritos
malignos.
Além da possibilidade da atuação do subconsciente
de maneira independente, isolada (um poder limitado),
há as combinações possíveis: subconsciente mais o
Espírito Santo ou subconsciente mais um espírito
maligno.
A princípio, portanto, podemos entender que nos
sonhos a ação do subconsciente (do nosso espírito) pode
manifestar-se em três formas:
a) Independentemente, sem influência de outros
espíritos;
b) Em conjunto com um espírito maligno; ou
c) Em conjunto com o Espírito Santo.
Há algum tempo conversei com uma pessoa cristã
muito consagrada. Achei que ela estava abatida,
desanimada, e então perguntei-lhe a causa. Ela me
contou que tivera um sonho algum tempo atrás e que
“Deus” lhe havia dito no sonho, em tom ameaçador, que
ela morreria dentro de 60 dias. Disse-me ainda que ficou
apavorada com o sonho; sentiu medo durante e após o
sonho; que deveria ter pecados ocultos. Aquela irmã
estava arrasada.
Perguntei se ela conhecia como o Espírito Santo
age. A Bíblia diz que Ele nos convence do pecado e diz
também que Satanás nos acusa do pecado. O método
que Deus usa com Seus filhos não é a acusação, não é a
ameaça, não é a intimidação. Jesus diz que ele é manso,
humilde, meigo. Assim é o Espírito Santo.
Então ela perguntou: “Você está dizendo que não
foi Deus que me falou neste sonho?” “Exatamente”,
respondi. Sua fisionomia começou a mudar
imediatamente. Seu desânimo se transformou em alegria
e em louvor a Deus. Vi essa irmã ser usada
tremendamente por Deus através da adoração.
Passaram-se os 60 dias e nada de ruim aconteceu.
Vamos admitir que você encontrou um amigo que
há muitos anos não via. À noite você sonha que voltou à
sua infância, aos locais onde costumava brincar com
aquele amigo, revendo cenários que já não existem e dos
quais não se lembrava mais.
Parece que, nesse caso, é exclusivamente o poder
do subconsciente avivando coisas já esquecidas no
consciente, sem outras interferências. Cremos que o
poder (limitado, como foi visto) do subconsciente pode
contribuir em diversas áreas através dos sonhos.
Caio Fábioxiii afirma:
"Cremos em milagres! Cremos em sonhos
inspirados! Cremos no sobrenatural! No entanto, só
cremos em milagres, sonhos e ações
extraordinárias que estejam acompanhando a sã
doutrina; ou seja, que estejam de acordo com a
Palavra de Deus” (grifos nossos).
A ideia, portanto, é que existem sonhos inspirados
por Deus e os que não são inspirados por Ele. Entendo
que, dos não inspirados por Deus, há aqueles que podem
ter a ação maligna e aqueles com apenas a manifestação
pura do subconsciente.
Fosterxiv diz que as pessoas deveriam começar a
registrar seus sonhos:
“As pessoas não se lembram dos seus sonhos
porque não lhes prestam atenção. Manter um
diário dos nossos sonhos é uma forma de levá-los a
sério. É, naturalmente, tolice considerar todo sonho
como profundamente significativo ou como alguma
revelação de Deus. Maior tolice ainda é considerar
os sonhos como apenas caóticos e irracionais. No
registro dos sonhos começam a surgir certos
padrões e discernimentos. Em pouco tempo é fácil
para nós distinguir entre sonhos significativos e os
que resultam de ter visto o último espetáculo da
noite anterior.”
Muitas lições nos são ensinadas aqui: primeiro, que
deveríamos levar a sério os nossos sonhos registrando-os
num diário; segundo, que há sonhos inspirados
(significativos) e não inspirados (sem significados, frutos
da nossa imaginação e de fatos ocorridos); e terceiro,
que a interpretação dos sonhos vai surgindo de
experiências contínuas em que vamos formando padrões
e discernimentos.
Falaremos sobre todos estes assuntos no decorrer
deste livro. Por hora, fica a ideia que há sonhos
inspirados e não inspirados.
O espírito do homem e o novo nascimento
Antes da sua queda diante da “serpente”, o homem
tinha uma capacidade intelectual extraordinária. Como
prova disso vemos o primeiro homem, Adão, colocando
nomes em todos os animais da terra e do ar (aves). Ele
era um verdadeiro computador para armazenar tudo isto
(Gênesis 2:20-21).
Após sua queda, essa capacidade mental do
homem foi reduzida em torno de 10% das condições
originais. Entendemos que o percentual restante (o
espírito ou subconsciente) estaria como que adormecido
ou morto.
Deus criou o homem com espírito, alma e corpo
(Gênesis 2:7; Hebreus 4:12 e 1 Tessalonicenses 5:23).
Ele fez o espírito com o propósito de dominar sobre a
alma e o corpo. Como sabemos, o pecado entrou e o
homem não apenas caiu, mas, em termos espirituais, ele
morreu.
Quando o homem vai a Cristo, o Senhor sopra
sobre ele o Seu Espírito. Nós chamamos isto de novo
nascimento. O espírito do homem torna a viver. Todavia,
ele não retorna ao seu estado mental original, ou seja,
com cem por cento da sua capacidade (isto só acontecerá
na ressurreição dos mortos – 1 Coríntios 15:35-58).
A partir do momento em que há o novo
nascimento, o Espírito Santo passa a testificar no nosso
espírito e passamos, então, para a condição de filhos de
Deus (Romanos 8:14-16). Isto significa que passamos da
morte para a vida e que o nosso nome está escrito no
Livro da Vida para morar para sempre com Jesus Cristo.
Assim, somos chamados de crentes em Jesus Cristo, pois
é a fé em Jesus que nos propicia essa mudança da morte
para a vida.
Após alcançarmos esta graça maravilhosa, é
possível Satanás ter poder sobre as nossas vidas? Poderia
ele até mesmo influenciar os nossos sonhos?
Como e onde Satanás age
Conforme a Bíblia, Jesus venceu na cruz e tirou o
seu “ferrão”. Mas ele continua aqui, já sentenciado,
porém a sentença sobre ele ainda não foi executada.
Em Apocalipse 12:9-10, aprendemos que Satanás
tem duas missões perante nós:
a) Sedutor ou enganador;
b) Acusador dos nossos irmãos.
Essas são as únicas maneiras pelas quais ele
consegue nos atingir: enganar e acusar. Swindollxv afirma
que a área onde Satanás ataca, o campo de batalha, é
exatamente a nossa mente. Veja na seguinte passagem
como o inimigo denominado “o deus deste século” opera
em seu território predileto: a mente.
"Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto,
para os que se perdem está encoberto, nos quais o
deus deste século ‘cegou os entendimentos dos
incrédulos’, para que lhes não resplandeça a luz do
evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de
Deus." (2 Coríntios 4:3-4)
Os que vivem na incredulidade, assim vivem
porque ele “cegou os entendimentos dos incrédulos” –
uma cegueira espiritual, bloqueando o pensamento e
impedindo-os de ver a luz.
Outra passagem bíblica que sugere a ação de
Satanás na nossa mente:
"E a quem perdoardes alguma coisa também eu.
Porque, o que eu também perdoei, se é que tenho
perdoado. Por amor de vós o fiz na presença de
Cristo, para que não sejamos vencidos por
Satanás. Porque não ignoramos os seus ardis." (2
Coríntios 2:10-11)
Swindoll diz que o termo grego ardis origina de
uma raiz verbal que significa mente. Ele sugere uma
paráfrase desse versículo:
“Nosso desejo é que inimigo não nos agarre,
mediante a confusão de nossos pensamentos,
porque estamos bem conscientes de sua estratégia
dirigida à mente”.
Satanás executa jogos mentais contra nós e, se
não estivermos em alerta, ele vence.
Há outras passagens que nos induzem a crer que
Satanás atua na mente das pessoas trazendo engano e
confusão. Essa é a missão dele.
Muros quebrados – uma forma de Satanás atacar a
vida do crente
Como ponto de partida podemos pegar um
versículo que diz: "Como a cidade derribada, que não tem
muros, assim é o homem que não pode conter o seu
espírito." (Provérbios 25:28). Gostamos muito da
explicação de Bod Mumfordxvi para esse versículo. Ele diz
que a cidade representa o homem. Os muros
representam as suas defesas morais. Essa figura explica
muita coisa a respeito do assunto de demônios.
Ele continua dizendo que existem pessoas que não
possuem muros de espécie alguma. Consequentemente,
os demônios entram e saem dessa vida livremente, como
se ela fosse uma “propriedade pública”.
Citaremos alguns trechos do livro de Mumford:
Por exemplo, podemos encontrar um homem que
seja bom pai e marido, que leia a sua Bíblia
regularmente, que testifique de Cristo, que pague
as suas contas e que não seja nem desonesto nem
mentiroso. Enfim, ele dá um bom testemunho em
todas estas áreas de sua vida. Contudo, ele tem
um problema. Existe uma área na vida dele onde
muros estão caindo. Aquela força moral, aquele
poder do amor de Cristo, da Palavra de Deus e do
Espírito Santo, que cerca a alma e o corpo em
todas as outras áreas, aqui apresenta uma falha.
Como exemplo suponhamos que o problema deste
homem seja a lascívia. O mundo inteiro está sendo
inundado atualmente por um ataque satânico de
toda espécie de influência sexual. Satanás está
procurando introduzir esta influência por toda
parte, se infiltrando até nos lares e nas mentes do
povo de Deus. É um ataque geral contra nossa
geração. E aqui nós temos um homem que dá bom
testemunho em todas as áreas de sua vida, mas
que se encontra constantemente em derrota com
este problema de lascívia.
A reação imediata é culpar o diabo e preocupar-se
em expulsar um demônio deste homem. Mas este
não é o problema. O motivo desta falha é que nos
anos de adolescência ou juventude, houve uma
queda dos muros da defesa moral deste homem.
Até hoje os muros continuam destruídos. Enquanto
estes muros não forem reconstruídos, espíritos de
toda sorte irão entrar e sair desta vida, com suas
atividades demoníacas.
Expulsar o demônio é o menor dos problemas. Se
levar uma pessoa a experimentar vitória real e
permanecer fosse meramente uma questão de
expulsar dela um demônio, nossos problemas
seriam bem mais simples! A igreja tem colocado
mais culpa sobre o diabo e sobre os demônios do
que estes jamais possam merecer!
A única falha aqui é que se você não tem domínio
sobre seu próprio espírito, você é como uma cidade
cujos muros estão destruídos. É perfeitamente
possível que estes muros estejam destruídos
somente numa área de sua vida.
Quando a vida de uma pessoa é restaurada ao
padrão bíblico, o demônio não suporta ficar! Se
você reconstituir os muros daquela área
problemática, qualquer demônio que ficar vai gritar
e procurar uma maneira de sair. Sabe por quê?
Porque ‘ele se alimenta daquilo que você lhe dá’!
A maioria das atividades demoníacas pode ser
simplesmente ignorada. Se você reconstituir os
muros e edificar a sua vida em Cristo, cooperando
com Deus naquilo que Ele está fazendo hoje, estes
problemas todos irão desaparecer naturalmente.
Os ardis do Diabo
É lógico que, quando há muros quebrados, os
demônios entram e saem da pessoa livremente, como se
ela fosse uma propriedade pública. Nossas faltas dão
lugar ao diabo nas nossas vidas (Efésios 4:26,27).
Todavia, ainda que estejamos firmes com Jesus, o
diabo está ao nosso derredor, como um leão que ruge
procurando nos devorar (1 Pedro 5:8); ele impediu o
apóstolo Paulo de cumprir o seu grande desejo de voltar
a Tessalônica para rever os irmãos (1 Tessalonicenses
2:18); um mensageiro dele esbofeteou Paulo a afim de
que ele (o apóstolo) não se exaltasse (2 Coríntios 12:7);
ele lançou alguns irmãos da igreja de Éfeso na prisão
para serem tentados e sofrerem tribulações (1 Pedro
1:6).
Ele é o pai da mentira (João 8:44) e, ao mesmo
tempo, se exibe como anjo de luz para enganar os irmãos
(2 Coríntios 11:14); inspira maravilhas mentirosas com
todo poder e prodígios (2 Tessalonicenses 2:9); se coloca
à mão direita do anjo do Senhor para se opor aos justos
(Zacarias 3:1).
Será que o maior inimigo do homem tem alguma
influência sobre a mente deste homem enquanto ele
dorme? Pode existir esta influência sobre aquele que
nasceu de novo e está tendo uma vida santa diante do
Senhor?
Ainda que seja apenas com a permissão de Deus,
podemos observar pelos textos citados que Satanás tem
prejudicado os verdadeiros servos do Deus Altíssimo.
Minha experiência nessa área é que o inimigo pode
atingir minha mente enquanto durmo. Mas é bem
verdade que quando dedico algum tempo à oração
autêntica antes de dormir isso dificilmente acontece.
Já houve casos na minha vida em que o inimigo
aparentemente quis me influenciar no início do sono,
quando meu subconsciente começava a agir, como que
querendo me pegar de surpresa. Mas uma força maior
veio e deu como se fosse um “solavanco” naquele intruso
que queria penetrar e me influenciar. A luta, às vezes,
era tão forte que eu era despertado imediatamente e
acordava assustado. Não era um pesadelo, mas uma luta
entre dois fortes. Vencia o mais forte, através do Anjo do
Senhor, impedindo que Satanás usasse desse canal para
me falar. Se Ele não vencesse, tudo leva a crer que eu
continuaria dormindo e o inimigo poderia atingir seu
intento.
Por outro lado, defrontei-me com situações em
que, por cansaço ou por descuido, não tendo investido o
suficiente na oração pré-sono, fui surpreendido por uma
presença estranha que, principalmente nos primeiros
minutos da concatenação do sono, aparentemente
tentava influenciar a minha mente, o meu consciente,
com informações mentirosas e destrutivas.
Houve um período, curto felizmente, em que por
algumas vezes, seguidamente, isso aconteceu. Eram
fatos repetitivos, a mesma estória, a mesma mentira que
ficava martelando a minha mente adormecida (ou no
processo de adormecimento) tentando me desestabilizar.
Quando percebia, parecia que sentia medo de dormir,
como aquela estudante citada neste capítulo que temia os
pesadelos.
Foi nesse momento que reagi contra esse quadro
com muita determinação e expulsei os demônios, esses
seres espirituais do inferno, em nome de Jesus Cristo.
Para minha paz, tudo ficava calmo no sono gostoso que
vinha em seguida. Comecei, a partir disso, a clamar ao
Senhor para que um anjo seu acampasse ao meu redor
(e da minha casa) ministrando ao meu favor (Hebreus
1:14; 1 Pedro 5:9).
Oferecer resistência significa não ceder, opor-se,
fazer face, fazer frente, normalmente a um poder
superior. Esta resistência é mais exequível quando
estamos sujeitos a Deus, quando há perdão para aqueles
que nos ofendem, quando não permitimos amarguras na
nossa vida, quando temos uma vida equilibrada
(sobriedade). Todavia, em momentos de fraqueza física,
de cansaços, de sonolência, essa resistência torna-se
difícil. Quantas vezes, no próprio sonho, enfrentamos o
diabo?
É certo que todas as vezes que oro com
determinação, clamo a presença dos anjos do Senhor e
tenho uma autêntica comunhão com Ele, não há
pesadelos e não sinto a presença de algo estranho ao
meu redor. A oração tem poder!
É claro que, conforme a Bíblia, o inimigo sempre
estará ao nosso redor, estudando e investigando a nossa
vida para armar as suas astutas ciladas. Mas sabemos
que Jesus derrotou Satanás e todos os demônios,
grandes e pequenos, escorpiões, serpentes e demais
manifestações infernais definitivamente no Calvário
(Colossenses 2:15). E, em nome desse Jesus, temos
autoridade não só para resisti-los como também para
expulsá-los.
A conclusão é que, embora não tenha uma base
bíblica específica, pelas minhas experiências entendo que
Satanás e seu exército podem influenciar nossa mente
enquanto dormimos. Portanto, precisamos estar firmes
com o Senhor e evidenciar constantemente a nossa
rejeição contra sua presença, pedindo a Deus que nos
livre das ciladas, das setas inflamadas e de todo o mal:
"Livrai-nos do mal" (Mateus 6:13).
Fosterxvii confirma isto, dizendo o seguinte:
“Devemos dizer a Deus de nossa disposição de
permitir que Ele nos fale em sonhos. Ao mesmo
tempo, é prudente orar pedindo proteção, uma vez
que o abrir-nos à influência espiritual pode ser
perigoso assim como proveitoso. Simplesmente
pedimos a Deus que nos cerque com a luz de Sua
proteção à medida que Ele assiste nosso espírito.”
Veja que a colocação acima é que devemos orar a
Deus para nos proteger durante o sono pois estamos
sujeitos à influência espiritual. Essa influência espiritual
tanto pode ser do inimigo como do Espírito Santo.
Precisamos deixar bem claro que o que queremos é o
Espírito Santo e que rejeitamos em nome de Jesus
qualquer outra influência.
Lembro-me de um caso real que um pastor amigo
me contou a respeito de uma mulher. Ela sonhava que
um personagem se dirigia a ela com galanteios e ela
começou a se agradar desse visitante que vinha quase
todas as noites em seus sonhos. Sentia medo de falar
sobre ele ao seu marido, mas desejava contatar com esse
personagem, pois era visitada como se fosse uma onda
de prazer. Ela achava mesmo que tudo isso era de Deus,
pois era muito bonito.
O relacionamento avançou até que o visitante
solicitou ter relação com ela. Ela estava pronta para dizer
sim no sonho daquela noite. Entretanto, antes disso,
resolveu consultar o seu pastor. Ao ouvir o relato da
mulher, o pastor arregalou os olhos e disse: “Senhora,
isso é o diabo. Expulse em nome de Jesus, rejeite,
renuncie. Deus nunca faria isto.”
Podemos dizer que esses sonhos têm influências
espirituais para destruir uma pessoa. Cabe a nós rejeitá-
los e expulsá-los em nome de Jesus. Muito mais que isso,
cabe a nós orarmos para impedir que essas influências
nos ameacem enquanto dormimos.
Capítulo 3
O Derramamento do Espírito
Santo e os Sonhos
“Qualquer pessoa capaz de abrir o poder da imaginação pode
aprender a meditar. Se formos capazes de dar ouvidos a
nossos sonhos, já estaremos dando os primeiros passos.”
Richard J. Fosterxviii
Nas últimas instruções que Jesus deu aos seus discípulos
antes da sua ascensão aos céus, ele declarou:
"E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai:
Ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do
alto sejais revestidos de poder." (Lucas 24:49)
Poder do Alto
Era necessário que aqueles homens fossem
revestidos de um poder extraordinário para serem
testemunhas de Jesus até aos confins da terra. Assim,
quase cento e vinte discípulos aplicaram-se à oração e
súplicas aguardando, reunidos em Jerusalém, a promessa
do seu mestre.
Essa promessa de Jesus cumpriu-se exatamente no
dia em que os judeus comemoravam a festa de
Pentecostes, sete semanas após ele ter subido aos céus:
"E, de repente, veio do céu um som, como de um
vento veemente e impetuoso e encheu toda a casa
em que estavam assentados. E foram vistas por
eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais
pousaram sobre cada um deles. E todos foram
cheios do Espírito Santo e começaram a falar
noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes
concedia que falassem." (Atos 2:2-4)
Muitos visitantes estrangeiros que estavam em
Jerusalém ficaram maravilhados em ouvir daqueles
homens simples os seus próprios idiomas. Porém, outros
da multidão caçoavam: “Eles estão bêbados, isto sim!”
Nisso, Pedro deu um passo à frente com os onze
apóstolos e gritou à multidão explicando que era
impossível os discípulos estarem bêbados às nove horas
da manhã. Então explicou que naquela manhã estava se
cumprindo o que tinha sido profetizado há séculos pelo
profeta Joel:
"E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do
meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os
vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os
vossos jovens terão visões, e os vossos velhos
sonharão sonhos". (Atos 2:17) (grifos nossos)
Os três exemplos
Pedro informou aos seus ouvintes que os últimos
dias estavam começando e que, por isso, a promessa que
Deus havia feito através do profeta Joel há séculos estava
se cumprindo e o poder do Espírito Santo estava sendo
derramado sobre aqueles cristãos.
Assim, a Palavra de Deus nos dá três exemplos de
“frutos” do derramamento do Espírito Santo, do poder do
alto: profecia, visões e sonhos. Portanto, os sonhos
passam a ter uma conotação espiritual para aqueles que
recebem o Espírito Santo do Deus vivo. Eles (os sonhos)
passam a ter um valor tão grande quanto os
instrumentos de profecia e visões usados por Deus para
orientar os cristãos.
Diante desses três exemplos sobrenaturais que
Deus usa para falar com o homem, parece-nos que o
mais acessível é o sonho, já que praticamente quase
todos sonham (mas nem todos têm visões ou
profetizam). Para iniciarmos esse assunto, vamos fazer
uma rápida análise do versículo citado acima.
O que é “sobre toda a carne”?
Poderíamos dizer que a palavra dita por Joel a
respeito do Espírito Santo ser derramado sobre toda a
carne refere-se a todo habitante do planeta Terra?
Em verdade, o Espírito Santo está disponível para
todos quantos receberem a Jesus como Senhor e
Salvador. O próprio Jesus explica que o Espírito Santo é
para aqueles que o amam e guardam os seus
mandamentos. Ele complementa isso dizendo que o
mundo não pode receber o Espírito Santo porque não O
vê nem O conhece; mas aqueles que são dele (Jesus),
que o amam e guardam seus mandamentos, esses
conhecem o Espírito Santo porque esse mesmo Espírito
habita neles (João 14:15-17). Portanto, “toda carne”, em
última análise, acaba se restringindo aos discípulos, aos
seguidores de Cristo Jesus.
Só os velhos sonharão?
O versículo em análise diz que "os vossos filhos e
as vossas filhas profetizarão, os vossos jovens terão
visões e os vossos velhos sonharão." Será que a profecia
é privilégio somente dos filhos (no sentido de crianças),
que as visões são apenas para os jovens e que só os
velhos terão sonhos? Claro que não!
Veja que no verso seguinte (Atos 2:18), o texto diz
que “até sobre os meus servos e sobre as minhas servas
derramarei do meu Espírito naqueles dias, e
profetizarão”. Ou seja, profetizarão todos os que, na
condição de servos de Deus, forem visitados pelo
derramamento do Espírito Santo e não somente os
“filhos” e as “filhas” descritos no verso anterior.
A linguagem poética de Joel abrange as crianças
(adolescentes/moços), os jovens e os idosos dizendo que
todas as idades, com o derramamento do Espírito Santo,
teriam manifestações espirituais de profecias, visões e
sonhos.
É lógico que Deus não está dividindo Seu povo por
idade para diferenciar determinada manifestações. Quem
conhece a Bíblia, ainda que muito pouco, sabe que isso
não tem sentido nas Escrituras. Quando, por exemplo, os
dons espirituais são tratados, a Palavra de Deus diz que
eles são repartidos particularmente a cada um como Ele
(o Espírito) deseja (1 Coríntios 12:11). Jamais
poderíamos imaginar Deus operando por faixa de idade.
Assim, não há dúvida que a profecia é para
qualquer idade (aliás, temos visto muitas pessoas idosas
profetizarem). As visões que Deus dá para o Seu povo
não se restringem aos jovens (como é o caso de Paulo na
sua segunda viagem missionária, em Atos 16:9) e,
certamente, os sonhos com a unção do Espírito Santo não
são peculiares a pessoas idosas, mas a “toda a carne”
que confia sua vida a Jesus como único e suficiente
Salvador.
Espírito da revelação
A Bíblia ensina que Deus revela coisas ocultas pelo
Seu Espírito, mesmo porque o Espírito perscruta
(penetra) todas as coisas, até as profundezas de Deus (1
Coríntios 2:10).
Jesus falou sobre isto dizendo: "Mas aquele
Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu
nome, esse ‘vos ensinará todas as coisas’ e vos fará
lembrar de tudo o que vos tenho dito" (João 14:26).
Disse ainda que esse Espírito da verdade nos guiaria a
toda a verdade, nos anunciaria o que há de vir (João
16:13) e que ouviria de Jesus e anunciaria a nós (João
16:13-15).
Pentecostes é o marco, o início da caminhada,
quando Deus começou a transmitir revelação aos Seus
filhos, trazendo informações preciosíssimas através do
Seu Espírito. O Espírito Santo continuaria revelando o que
Jesus já iniciara. É como se Jesus estivesse assoprando
nos ouvidos do Espírito Santo e Ele, por sua vez, nos
revelando o que ouviu, detalhe por detalhe.
Mas, de que forma o Espírito Santo nos revela as
coisas? Joel cita três exemplos no texto que acabamos de
analisar (Atos 2):
1) Profecia
Há diversos dons do Espírito citados na Bíblia
(1Coríntos 12:1-11; Romanos 12:3-8; Efésios 4:7-16). O
dom da profecia é uma habilidade especial que Deus dá
para certos membros do corpo de Cristo para receber e
comunicar uma mensagem de Deus para Seu povo
através da fala, da expressão verbal. É considerado o
principal dom, conforme 1 Coríntios 14.
O dom é repartido parcialmente pelo Espírito Santo
a cada um como Ele quer (1 Coríntios 12:11). Todavia,
“toda a carne” pode receber esses dons. O apóstolo Pedro
explica isso em Atos 2:38 e mostra as condições
necessárias para recebe-los: "Arrependei-vos e cada um
de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para
perdão dos pecados; e recebereis o dom Espírito Santo."
É importante ressaltar que na Bíblia há o dom de
profecia e o ministério do profeta, que são distintos entre
si. O fato de uma pessoa profetizar não faz dela um
profeta. O dom de profecia é falar aos homens edificando,
exortando e consolando (1 Coríntios 14:3); é o falar
sobrenatural numa língua conhecida. Além disso,
qualquer pessoa pode receber esse dom, até mesmo um
novo convertido, porque independe do caráter ou da
capacidade humana, sendo concedido unicamente pela
graça de Deus (1 Coríntios 14:31; 1 Coríntios12:8-11).
Por outro lado, nem todos podem ser profetas.
Profetas são pessoas separadas por Deus desde o ventre
de suas mães para conhecer a Deus e andar com Ele de
tal forma que, muitas vezes, não precisam de uma
revelação para saber o que Deus está querendo.
A primeira vez que a palavra “profeta” aparece na
Bíblia refere-se a Abraão que, segundo consta, nunca
proferiu uma palavra sequer de profecia (Gênesis 20:7).
Abraão era profeta porque a sua vida manifestava sua
obediência e fé em Deus de tal forma que ele não
precisava falar nada. Portanto, o profeta é uma pessoa
que pode falar como porta-voz de Deus, não devido a um
dom de profecia, mas por causa de um relacionamento
íntimo e constante com Deus que lhe proporciona um
conhecimento da natureza divina.
Embora tanto o ofício de profeta quanto o dom de
profecia sejam denominados dons, um é dom de Cristo
para a igreja (Efésios 4:8-12), enquanto o outro é dom
do Espírito Santo para um membro individual do corpo (1
Coríntios 12:10). Em Efésios 4 diz que Cristo concedeu
uns para profetas, mas, em 1 Coríntios 14:31, todos
podem profetizar.
2) Visão
A revelação pode ocorrer também através da visão.
A visão, ao contrário da profecia, não é relacionada como
um dom do Espírito Santo. Há vários exemplos de visão
na Bíblia. No Novo Testamento, por exemplo, podemos
encontrar:
"E havia em Damasco um certo discípulo chamado
Ananias; e disse-lhe o Senhor em visão: Ananias! E
ele respondeu: Eis-me aqui Senhor." (Atos 9:10)
"Este, quase à hora nona do dia, viu claramente
numa visão um anjo de Deus, que se dirigia para
ele e dizia: Cornélio!" (Atos 10:3)
"E Pedro viu o céu aberto, e que descia um vaso,
como se fosse um grande lençol atado pelas quatro
pontas, e vindo para a terra." (Atos 10:11)
Em Atos estão descritas várias visões de Paulo
(16:9; 18:9; 22:18; 23:11). Ele fala ainda de suas visões
em 2 Coríntios12:1. O apóstolo João relata sua visão em
Apocalipse 1:12. No Velho Testamento há muitas visões,
principalmente nos livros de Ezequiel, Isaías e Daniel.
Entendemos que as visões, após o derramamento
do Espírito Santo, seriam intensificadas como uma forma
de revelação através do Espírito Santo para os últimos
tempos. Tudo isso é possível constatar até hoje,
principalmente nas igrejas cristãs.
3) Sonhos
A diferença básica entre sonho e visão,
normalmente, é que o primeiro ocorre durante o sono e a
segunda enquanto se está acordado. Parece que a forma
mais comum de revelação seria o sonho, que também
não é um dom espiritual como a profecia, mas um dom
natural que Deus deu aos homens.
Nesse terceiro exemplo, parece claro que o Espírito
Santo fala através de sonhos. Ainda que Ele possa falar
em sonhos com qualquer pessoa, é lógico que o sonho
que revela as coisas de Deus está mais disponível para os
que têm o Espírito Santo.
Entretanto, para ter o Espírito Santo é necessário
ter um encontro pessoal com Jesus: "Aquele que tem o
Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não
tem a vida" (1 João 5:12). Nós nos tornamos cristãos
confessando a Jesus, pedindo a ele que entre em nossas
vidas como Senhor e Salvador e crendo que Ele pode
entrar em nós pelo Seu Espírito Santo. Assim, processa-
se um milagre, embora tudo isso possa ocorrer sem
nenhuma demonstração ou emoção exterior. Isso é o que
a Bíblia chama de novo nascimento (João 3:3), um
nascimento espiritual, para Deus, com o toque do Espírito
Santo e a entrada Dele para sempre nas nossas vidas.
Todavia, o novo nascimento só é real com o batismo nas
águas, como descrito em João 3:5 (“nasceu da água”) e
em Atos 2:38 (“batizado em nome de Jesus para o
perdão dos pecados”).
Dessa forma, entendemos que o Espírito Santo
poderá nos dar revelações dos eventos futuros (“vos
anunciará as coisas que hão de vir”), nos dirigir e orientar
as nossas vidas (“ele vos guiará a toda a verdade”) e,
ainda, relatar informações preciosíssimas do Pai (“dirá
tudo o que tiver ouvido”)... usando os sonhos.
É importante entender que o Espírito Santo não
está em um lugar lá fora, no vazio, mas está no nosso
íntimo, de onde fala conosco. Daí, Ele nos ensinará todas
as coisas e nos fará lembrar de tudo o que Jesus disse
(João 16:26).
Visão e sonhos como imaginação
Há pessoas que interpretam o versículo em análise
(Atos 2:17) como um instrumento para o cristão exercitar
a sua fé. Dessa forma, a pessoa imagina uma meta, um
alvo, uma conquista a alcançar (uma visão). Em seguida,
começa a “sonhar”, antever a conquista, até que
efetivamente isso ocorra.
A rigor, essa teoria é conhecida como incubação da
fé. Para tanto, é preciso que a pessoa tenha visão de um
objetivo claro. Após essa meta bem definida, ele precisa
ter um desejo ardente no coração, desejo que chega ao
ponto de ebulição (sonhar, ver a meta concluída) e pôr-se
de joelhos e orar até conseguir a substância ou
segurança.
Concordamos com a importância da fé para
alcançarmos os favores de Deus (e entendemos que esta
fé vem do próprio Deus, não sendo gerada meramente
pelos esforços humanos). Porém, entendemos também
que esse exercício da fé (ainda que seja válido) não está
necessariamente ligado ao versículo em análise.
Primeiro, para estabelecer uma meta, um objetivo
bem claro, é necessário saber se aquela é a vontade de
Deus para nossas vidas. Vamos imaginar um pastor com
uma igreja de quinhentos membros que estabelece uma
meta para duplicação dos crentes em um ano. Então, ele
sonha no seu coração e vê sua igreja com mil membros.
Poderíamos dizer que essa é a vontade de Deus.
Porém, Deus pode querer tratar com esse pastor,
aperfeiçoar sua vida, trabalhar em áreas em que ele
deixa a desejar. Se for um homem que ainda tem falhas
grotescas a serem corrigidas, creio que Deus não
desejará, por agora, duplicar o rebanho aos seus
cuidados.
Entendemos que, em primeiro lugar, precisamos
receber a visão de Deus para as nossas vidas.
Conhecendo o Seu plano, o Seu desejo, devemos
“sonhar” e orar para obtermos coisas grandes dos céus.
Não podemos esquecer do poder do subconsciente
e do valor do pensamento positivo, que também
propiciam conquistas aos homens sem a ação de Deus e,
muitas vezes, fora dos planos de Deus. Existem inúmeros
livros e religiões provando isso.
Portanto, preferimos crer que Deus vai dirigindo,
revendo informações extraordinárias através de profecias,
visões e sonhos. Cabe a nós, com cuidado, interpretar se
é realmente o Espírito Santo falando conosco. Aí, sim,
poderemos sonhar acordados, orar, desenvolver a nossa
fé e alcançar alvos extraordinários.
Não queremos dizer que para tudo teremos a
revelação de Deus explícita em profecia, visões e sonhos.
É lógico que a Bíblia é a maior fonte de revelação divina e
nos dá segurança de muitas coisas que podemos “sonhar”
e realmente alcançar. Queremos apenas alertar que o
inimigo é sutil para nos enganar. Sua ação é disfarçada
de boas intenções para nos levar a alvos errados.
Como na Bíblia há inúmeras situações em que
pessoas têm visões e sonhos reais, prefiro dar a
interpretação objetiva que Deus fala através desses
recursos. Além disso, a minha vida (e de muitos outros
irmãos) tem sido testemunha da comunicação de Deus
através desses três recursos analisados: profecias, visões
e sonhos.
Conclusão
De certa forma, quem tem o Espírito Santo se
assemelha aos profetas no passado, quando certamente
Deus falava em sonhos e visões. O requisito básico
daqueles profetas (ter comunhão com o Espírito Santo) é
privilégio de todos os cristãos autênticos após o
Pentecostes.
Assim, se no capítulo 1, referindo-nos ao Velho
Testamento, dissemos que Deus falava em sonhos a
homens e principalmente a profetas, podemos assegurar
que, após o derramamento do Espírito Santo, Deus fala
muito mais agora para Seus servos na aliança em Jesus
Cristo através desse recurso (sonho), considerando que,
de certa forma, nos assemelhamos àqueles profetas (por
termos comunhão com o Espírito do Deus vivo).
Entendemos que Deus continua falando aos homens em
sonhos, principalmente no sentido de revelar a eles Seus
propósitos.
Compreendemos que, para os cristãos fiéis, os
sonhos passam a ser um canal de comunicação para o
Espírito Santo dirigir, revelar fatos futuros, passar
instruções de Jesus, ensinar, fazer lembrar.
Todavia, não podemos “enquadrar” Deus na Sua
forma de comunicação. Deus pode falar quando Ele quiser
para pessoas que não têm o Espírito Santo, como
aconteceu no passado, até mesmo com ímpios. Por outro
lado, mesmo aqueles que têm o Espírito devem discernir
com muito cuidado se é realmente Deus quem está
falando com eles.
Há cristãos que precisam fechar muros caídos nas
suas vidas para impedir o livre trânsito de Satanás, pois,
mesmo com uma vida íntegra diante de Deus, Satanás
não desiste de querer nos enganar; essa é a função dele.
É preciso constantemente estar declarando em oração
que não aceitamos a interferência dele nas nossas vidas,
nas nossas mentes; que ele é indesejado em todos os
momentos, inclusive e principalmente quando estamos
dormindo.
É importante, ainda, entender que há sonhos que
podem ser desprovidos de qualquer mensagem, sendo
apenas frutos da nossa mente, do nosso dia a dia, da
nossa imaginação.
Nos capítulos seguintes procuramos mostrar
situações reais em que Deus Se comunica com seres
humanos através dos sonhos. É verdade que é muito
difícil fazer uma doutrina sobre esse assunto. Não se
pode enquadrar Aquele que é infinito. Assim, nos
propomos a colocar considerações para que cada um, à
luz do Espírito Santo, possa tirar suas próprias
conclusões.
Por fim, podemos dizer que há alguns indícios que
mostram quando é Deus que fala conosco. Por exemplo,
em Gênesis 41:8 e Daniel 2:1, aqueles que tiveram os
sonhos ficaram perturbados. O termo “perturbado” tem
conotação de “um tanto atemorizado”.
Gênesis 40:7 diz que os sonhadores ficaram
turbados, no sentido de estarem tristes e até mesmo
perplexos. Em Daniel 4:5 o sonho causou espanto. Enfim,
é um fato que “mexe” com a nossa tranquilidade e nos
leva à meditação.
As repetições de sonhos podem ser um sinal de
que é Deus quem está falando. Um sonho como resposta
a uma oração, um sonho que nos convence de estarmos
tomando decisões ou atitudes erradas, um sonho que nos
leva a muito sofrimento (dentro do sonho) como em
Mateus 27:19 - esses são alguns exemplos de sinais de
que Deus pode estar falando.
Às vezes, temos uma resposta para uma questão
crucial. Por exemplo, em Mateus 27:19, Pilatos não
queria decretar a pena de morte para Jesus pois sabia
que ele estava sendo julgado por causa da inveja dos
sacerdotes. No verso seguinte, a sua esposa revela que
havia tido um sonho com Jesus e pediu para Pilatos não
entrar em nessa questão, chamando-o de Justo. Para sua
própria infelicidade, Pilatos não deu crédito a esse sonho
inspirado.
Já vi algumas pessoas afirmarem que Deus fala em
sonhos com elas, normalmente no último sono, um pouco
antes de despertar. Há quem, ao acordar de manhã,
dorme novamente um leve sono e afirma que aí Deus fala
com ela. Não temos bases bíblicas para isso, mas são
experiências pessoais.
Creio que cada um de nós, que anda com o Espírito
Santo, tem alguns indícios para detectar se Deus
realmente está falando conosco em nossos sonhos.
Capítulo 4
Aprendendo com os
"sonhadores" da Bíblia
“Todos os grandes Pais da igreja primitiva, de Justino Mártir a
Irineu, de Clemente e Tertúlio a Orígenes e Cipriano, criam que
os sonhos eram um meio de revelação.”
Morton T. Kelseyxix
Pode-se dizer que a ideia de Deus Se revelar ou Se
comunicar através de sonhos começa por Jacó, neto de
Abraão, com quem Deus fez uma das alianças mais
importantes no Velho Testamento.
Todavia, foi o filho de Jacó, chamado José, que
utilizou consideravelmente as instruções vindas através
de sonhos. José certamente recebeu instruções do pai
sobre a importância dos sonhos e aperfeiçoou as
informações que nós tanto precisamos, principalmente no
que tange à interpretação dos mesmos.
Cremos ainda que todo esse processo de
descoberta da importância do sonho já estava no coração
de Jacó, considerando uma história que seu avô Abraão
contava. A história, relatada em Gênesis 12:10-20 e
capítulo 20 era a seguinte:
"Logo depois da destruição de Sodoma e Gomorra
eu, sua avó Sara e todos os que trabalhavam
comigo começamos a peregrinar em busca de um
bom lugar para nos estabelecermos. Quando
andávamos por uma região chamada Gerar, veio
até mim, com um poderoso exército, o rei daquelas
terras, chamado Abimeleque. Como já tinha
acontecido comigo uma vez quando fui ao Egito,
por ser sua avó uma mulher muito bonita, eu
ficava com medo de ser morto pelo rei pois o
objetivo dele era ficar com Sara. Então menti
dizendo: ‘Essa mulher é minha irmã’. Com isso o
rei Abimeleque tomou Sara para ele, pois ela
mesma, também com medo, confirmava que era
minha irmã. Entretanto, antes mesmo que
Abimileque colocasse as mãos sobre Sara, Deus
apareceu para ele em sonhos à noite e disse: ‘Eis
que morrerás por causa da mulher que roubaste,
porque ela tem marido’. Assim, Abimeleque veio
desesperado conversar comigo, indagando porque
eu tinha feito aquilo. Respondi que não fora uma
mentira total, pois Sara era realmente minha irmã,
filha do meu pai, embora não fosse filha da minha
mãe. Em seguida, eu orei ao Senhor por
Abimeleque e por toda a sua nação, e a maldição
que estava sobre aquele povo foi tirada."
Assim, Jacó já sabia que Deus podia falar em
sonhos, como relatara seu avô Abraão. Possivelmente
não seria surpresa para ele se a qualquer momento lhe
acontecesse isso. E um dia aconteceu.
As primeiras experiências
Jacó, ameaçado de morte pelo seu irmão Esaú por
ter roubado a sua bênção da primogenitura, fugiu,
conforme conselho de sua mãe, para a Mesopotâmia,
para a casa do seu tio Labão, onde pretendia se casar
com uma das suas primas.
No caminho, ao anoitecer, sentindo-se cansado e
interrompeu sua viagem. Tomando uma das pedras que
ali estava como travesseiro, dormiu naquele mesmo lugar
e sonhou:
"E eis uma escada estava posta na terra, cujo topo
tocava nos céus: e eis que os anjos de Deus
subiam e desciam por ela. E eis que o Senhor
estava em cima dela, e disse: Eu sou o Senhor, o
Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque: esta
terra, em que estás deitado, te darei a ti e a tua
semente: e a tua semente será como o pó da terra,
e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao
norte e ao sul, e em ti e na tua semente serão
benditas todas as famílias da terra. E eis que estou
contigo e te guardarei por onde quer que fores, e
farei tornar a esta terra: porque te não deixarei,
até que te haja feito o que te tenho dito.
Acordando, pois, Jacó do seu sono disse: Na
verdade o Senhor está neste lugar e eu não sabia.
E temeu, e disse: Quão terrível é este lugar! Este
não é outro lugar senão a casa de Deus e esta é a
porta dos céus." (Gênesis 28:12-17)
Jacó continuou sendo abençoado por Deus através
dos sonhos. Trabalhando com o seu sogro Labão, que o
ludibriava sempre que podia, ele foi instruído por Deus e
passou a ser um homem bem-sucedido nos negócios. Ele
conta a razão do seu sucesso para as suas duas esposas,
filhas de Labão:
"Assim Deus tirou o gado de vosso pai e deu-o a
mim. E sucedeu que, ao tempo em que os
rebanhos ‘concebia’, eu levantei os meus olhos, e
vi em ‘sonhos’, e eis que os machos que cobriam
as fêmeas, era listrado, salpicados e malhados. E
disse-me o anjo de Deus em ‘sonhos’: Jacó,
levanta agora os teus olhos e vê que todos os
machos que cobrem as fêmeas são listrados,
salpicados e malhados. Porque tenho visto tudo o
que Lobão te fez. Eu sou o Deus de Betel, onde tu
ungiste a pedra e me fizeste um voto." (Gênesis
31:9-13)
Conhecendo através de sonhos o rebanho que iria
multiplicar mais, Jacó tinha condições de manipular as
coisas, fazendo seu rebanho crescer extraordinariamente,
mais que o de Labão, tornando-se rico em rebanhos,
escravos e escravas, camelos e jumentos.
Jacó teve outra experiência após ter deixado a
terra de seu sogro com sua família e riqueza, sendo
perseguido por Labão e seus irmãos. Ao alcançá-los,
Labão disse:
"Estava na minha mão fazer-te mal; porém o Deus
de seu pai falou-me ontem à noite ‘em sonhos’
dizendo: Guarda-te de falar com aspereza contra
Jacó..." (Gênesis 31:29)
Certamente Jacó transmitiu todas essas
experiências ao seu filho José, mostrando como Deus fala
em sonhos para prometer, transmitir sabedoria, proteger
e dar direção.
O sonhador-mor
José sonhando
José era o filho preferido de Jacó, porque era filho
da sua velhice. Por outro lado, os irmãos de José não
gostavam dele. Primeiro, pela preferência que Jacó tinha
por esse filho, dando-lhe presentes especiais, como uma
túnica de manga comprida de várias cores; segundo,
porque ele contava ao seu pai as más notícias dos
irmãos.
Não bastasse tudo isto, ainda com 17 anos de
idade, José convocou seus irmãos para relatar um
importante acontecimento: um sonho. Todos os irmãos
olhavam atentamente para ele, que dizia: "Eis que nós
estaremos atando feixes no campo e o meu feixe se
levantou e ficou em pé. Os feixes de vocês rodeavam o
meu feixe e se inclinavam perante ele." (Gênesis 37:7)
José, assim como Jacó, teve sonhos em formas de
figuras ou alegorias que requeriam interpretação. Só que
esse sonho não foi nada difícil para seus irmãos
interpretarem, pois eles disseram: "Você está querendo
dizer que vai reinar sobre nós? Você está querendo dizer
que dominará as nossas vidas?" (Gênesis 37:8)
Mas José, na sua inocência, não parou por aí e
contou um novo sonho, também em parábolas, agora
incluindo seu pai como ouvinte: "Sonhei também que o
sol, a lua e onze estrelas se inclinavam perante mim."
(Gênesis 37:9)
Seu pai, Jacó, entendido nesse assunto, fez a
interpretação do sonho imediatamente e advertiu o filho
dizendo: "Que sonho é esse que tiveste? Acaso viremos,
eu e tua mãe e teus irmãos, a inclinarmos perante ti em
terra?" (Gênesis 37:10)
Tudo isto custou muito caro para o “sonhador-
mor”, pois ele foi vendido pelos seus irmãos como
escravo para o Egito. Para o pai de José foi dito que ele
foi morto por um animal selvagem.
José interpretando os sonhos proféticos
Por se recusar a adulterar com a esposa do seu
patrão no Egito, José foi acusado falsamente por essa
mulher e lançado em um cárcere, onde permaneceu por
longos anos. Passado um tempo, foram presos no mesmo
cárcere de José o copeiro e o padeiro-chefe de Faraó.
Ambos tiveram um sonho, na mesma noite, ficando
abatidos por não saber interpretá-los. José explicou-lhes
que a interpretação dos sonhos pertence a Deus e disse:
“Contai-me o sonho.” O copeiro disse que sonhou com
uma videira com três ramos; ao brotar a vide, havia
flores, e seus cachos produziam uvas maduras. O copo de
Faraó estava na sua mão. Então ele tomou as uvas, as
espremeu no copo de Faraó e lhe deu na própria mão
(Gênesis 40:8-11).
Imediatamente José interpretou o sonho dizendo
que os três ramos eram três dias; que dentro de três dias
Faraó iria reabilitar o copeiro e reintegrá-lo ao seu cargo
e que ele voltaria a servir Faraó na própria mão (Gênesis
40:12-15).
Em seguida veio o padeiro que, animado com
aquela interpretação, narrou o seu sonho. Sonhou que
havia três cestos com pães sobre sua cabeça. No cesto
mais alto havia todos os manjares de Faraó, feitos
segundo a arte dos padeiros. Porém, as aves os comiam
do cesto que estava sobre sua cabeça (Gênesis 40:16-
17).
Todavia, a interpretação de José não foi nada
otimista. Disse que os três cestos eram três dias e que
em três dias Faraó iria tirar a cabeça do padeiro e
pendurá-la num madeiro para as aves comerem sua
carne. E assim aconteceu ao terceiro dia: o copeiro foi
reintegrado e o padeiro foi enforcado, tudo como José
havia interpretado.
O sonho de Faraó
Passados dois anos, Faraó teve um sonho em duas
etapas. Ninguém conseguia interpretar seu sonho em
figuras, até que o copeiro que estivera preso se lembrou
de José e Faraó mandou chamá-lo. Faraó narrou o sonho
para José:
"Eis que em meu sonho estava eu em pé na praia
do rio, e eis que subiram do rio sete vacas gordas e
formosas, e pastavam no prado; e eis que outras
sete vacas subiam após estas, muito feias e
magras, tão feias como nunca se viu no Egito. E as
vacas magras e feias comiam as sete vacas
gordas... então acordei. Depois voltei a sonhar e
eis que dum mesmo pé subiam sete espigas cheias
e boas. Sete espigas secas, miúdas e queimadas
do vento oriental, brotavam após elas. E as sete
espigas miúdas devoravam as sete espigas boas."
(Gênesis 41:17-21)
José enfatizou que não era um intérprete
profissional e que Deus daria a resposta a Faraó:
"O sonho de Faraó é um só; o que Deus há de
fazer notificou a Faraó. As sete vacas formosas são
sete anos; as sete espigas formosas também são
sete anos; o sonho é um só. E as sete vacas
magras e feias que subiam depois delas são sete
anos, como as sete espigas miúdas e queimadas do
vento oriental, serão sete anos de fome... E eis que
vêm sete anos e haverá grande fartura em toda
terra do Egito. E depois deles levantar-se-ão sete
anos de fome, e de toda aquela fartura será
esquecida na terra do Egito. E a fome consumirá a
terra... E que o sonho foi duplicado duas vezes a
Faraó, é porque essa coisa é determinada de Deus
e Deus se apressa a fazê-la." (Gênesis 41:25-32)
(grifos nossos)
José orientando-nos
Uma lição importante que José nos ensina está em
Gênesis 41:32: que o sonho foi duplicado a Faraó porque
“isso é determinado por Deus, e Ele se apressava a fazê-
lo”. José tinha a experiência de sonhos duplicados, ou
seja, sonhos diferentes, mas com a mesma mensagem.
Seus sonhos narrados em Gênesis 37 evidenciam isto: ele
disse que sonhara que seu feixe se levantara em pé e que
os feixes dos irmãos o rodeavam e se inclinavam para o
dele (verso 7); disse também que o sol, a lua e onze
estrelas se inclinavam para ele (verso 9).
Esse sonho duplo mostrava que tanto os irmãos
como seus pais seriam dominados por ele. José sabia que
um dia reinaria sobre sua família. Era um sonho
duplicado e, quando isso acontecia, realmente era de
Deus (veja o cumprimento desses sonhos em Gênesis
47). Veja que a afirmação é categórica no versículo 32:
se foi duplicado é porque “essa coisa era determinada por
Deus”. A repetição do sonho visa estabelecer a certeza
quanto ao cumprimento do mesmo.
Cremos ser esse um indicador fundamental para
identificar, em certas circunstâncias, que Deus realmente
tem algo a nos comunicar. Observe que não é uma mera
repetição de sonhos ou sonhos idênticos, mas sonhos
diferentes com a mesma mensagem. Portanto, é válido
pedir e aguardar a confirmação do Senhor em casos de
duplicidade de sonhos.
É interessante analisarmos o profeta Balaão, em
Números 22. Ainda que ele fosse um profeta mercenário,
procurando apenas fazer comércio com seu dom, Balaão
tinha sabedoria suficiente para conhecer a vontade de
Deus e ouvi-Lo. Assim, diante de uma situação difícil, ele
buscou Deus à noite (possivelmente através dos sonhos)
e o Senhor falou com ele (versos 8 e 9). Na dúvida ainda,
Balaão novamente espera a próxima noite para “saber
mais do Senhor” (verso 19). E, em Números 23:19, ele
diz: “Deus não é homem, para que minta; nem filho do
homem para que se arrependa. Porventura diria ele e não
o faria? Ou falaria e não confirmaria?” (grifos nossos). A
busca repetitiva do Senhor e a confirmação através de
um outro contexto é recomendável para se obter a
segurança de que é o Senhor que está falando.
As interpretações dos sonhos e os sucessos
de José
A segurança da interpretação do sonho por José
era tão real que ele imediatamente aconselhou Faraó:
"Agora, pois, Faraó, escolhe um homem ajuizado e
sábio e o ponha sobre a terra do Egito. Faça isso
Faraó, e ponha administradores sobre a terra e
tome a quinta parte dos frutos da terra do Egito
nos sete anos de fartura... Assim o mantimento
será para abastecer a terra nos sete anos da fome,
que haverá no Egito, para que a terra não pereça
de fome." (Gênesis 41:33-36)
"Visto que Deus te fez saber tudo isto, ninguém há
tão ajuizado (entendido) e sábio como tu. Tu
estarás sobre a minha casa e por tua boca se
governará todo o meu povo; somente no trono eu
serei maior que tu." (Gênesis 41:39-40)
E assim José foi constituído o primeiro ministro do
Egito. Recebeu um anel de selar que equivalia à
assinatura de Faraó (isso conferia a José o direito de
promulgar leis confirmadas pelo selo real). Recebeu um
colar de ouro que era usado como símbolo de honra
conferido aos mais distintos heróis do reino. Todos se
inclinavam quando ele passava.
Com isso José pôde recolher sua família quando ela
foi atingida pela fome dos sete anos de “vacas magras”.
De Gênesis 42 em diante, temos a descrição de como
José recebeu seus irmãos e pais e dominou sobre eles
como primeiro-ministro do Egito, confirmando o sonho
duplo do capítulo 37.
Deus foi fiel a José, ainda que ele tenha passado
por duras provações. Todavia, Deus tinha mostrado em
sonhos que um dia ele seria honrado. E isso aconteceu.
Daniel - o jovem intérprete e sonhador
Descendente de nobre família do reino de Judá,
Daniel, muito jovem ainda, foi deportado para a Babilônia
e lá agregado aos pajens da corte do rei Nabucodonosor.
Desde os primeiros anos, Daniel revelou uma
sabedoria incrível (excedia dez vezes aos demais) e
demonstrava uma fidelidade total a Deus e uma vida de
consagração ao seu Senhor.
Todavia, o que marcou a vida de Daniel foi a sua
capacidade extraordinária de penetrar nos mistérios
contidos nas visões e sonhos proféticos que Deus enviava
a ele e a alguns personagens na sua época.
A sabedoria e intervenção do Deus de Daniel
No capítulo 2 do livro de Daniel está narrado um
fato anormal em toda a história: o rei Nabucodonosor
teve um sonho, ficando extremamente atemorizado.
Todos os magos e adivinhos foram convocados para
interpretar o mesmo. Porém, o fato anormal é que o rei
esqueceu qual tinha sido o sonho. Então, aqueles homens
“sábios” teriam que declarar o sonho e ainda dar a
interpretação, caso contrário, seriam executados e suas
famílias despedaçadas.
Como todos aqueles sábios fossem condenados a
morte, Daniel entrou na presença do rei e suplicou que
lhe concedesse algum tempo para dar a solução que o rei
desejava. Assim, Daniel juntou-se a seus três
companheiros fiéis e buscaram em Deus a Sua
misericórdia em relação a esse segredo.
"Então foi revelado este segredo a Daniel numa
visão durante a noite e Daniel louvou ao Deus do
céu dizendo: Seja bendito o nome do Senhor de
século em século, porque dele são a sabedoria e a
força. É ele que muda os tempos e as idades, que
transfere e estabelece os reinos, que dá sabedoria
aos sábios e a ciência aos entendidos. É ele que
revela as coisas profundas e escondidas, que
conhece o que está nas trevas; e a luz está com
ele. A ti, ó Deus de nossos pais, eu dou graças e te
louvo, porque me deste a sabedoria e a força e
agora me mostraste o que tínhamos pedido,
porque me descobriste o que o rei desejava saber."
(Daniel 2:20-23)
Daniel deixou bem claro que a sabedoria para
revelar segredos vem de Deus. Ele confirmou isso quando
disse ao rei, no versículo 28: "Mas no céu há um Deus
que revela os mistérios, o qual mostrou, ó Rei
Nabucodonosor, as coisas que hão de acontecer nos
últimos tempos."
O primeiro aspecto importante nessa história é que
Deus faz com que nos lembremos de nossos sonhos
quando eles fogem da memória. Assim, quem acorda
sabendo que sonhou algo importante, mas não consegue
se lembrar, busque a revelação do Senhor, que tem a
sabedoria necessária para revelar. Nesse capítulo fica
bem claro que também a interpretação dos sonhos vem
do Senhor (Daniel 2:11,28,45), como descrito em
Gênesis 40:8 e 41:16.
Aprendendo com Daniel
O sonho do rei, conforme revelação e interpretação
de Daniel, refere-se aos grandes reinos que se sucederão
na Terra antes da vinda de Cristo. Em seu significado
substancial, demonstra que os quatro reinos personificam
o reino de Satanás que será contraposto ao reino de
Deus, na pessoa de Jesus Cristo, por ocasião da sua
segunda vinda.
O primeiro fato importante nesse episódio é que,
como já vimos, Deus nos faz lembrar dos sonhos que
fugiram da nossa memória, desde que oremos e peçamos
isso a Ele.
O segundo aspecto, também já visto, é que a
interpretação vem de Deus ao homem e não pela
sabedoria humana.
O terceiro ensinamento, no qual queremos nos
deter mais, é que os sonhos podem ser provocados por
pensamentos sobre um determinado assunto na fase pré-
sono.
Veja o que Daniel explica ao rei: "Tu, ó rei,
começaste a pensar, estando na tua cama, no que havia
de acontecer depois destes tempos; e Aquele que revela
os mistérios te descobriu as coisas que hão de vir"
(Daniel 2:29). É como se Deus Se agradasse dos
pensamentos do rei e resolvesse revelar os segredos
referentes ao final dos tempos. Assim, o Todo-Poderoso
usa dos sonhos para instruir o rei.
Isso aconteceu com a minha família em um curto
prazo de tempo. Tive um sonho sobre Jesus arrebatando
a Sua igreja. Em seguida, o meu filho Arnaldo, que na
época deveria ter 8 anos, também sonhou sobre a volta
de Jesus. Os detalhes que ele narrou do sonho foram tão
incríveis que mexeram com todos nós. Passado algum
tempo, as minhas duas filhas, com 11 e 10 anos na
época, tiveram sonhos exatamente iguais, na mesma
noite, sobre o arrebatamento da igreja. Logo em seguida,
a minha esposa também sonhou sobre esse dia
importante. Entendo que isso ocorreu porque esse tipo de
pensamento subiu ao nosso espírito e Deus revelou
acontecimentos que hão de vir, nos seus mínimos
detalhes.
O quarto ensinamento é que Deus fala em figuras,
em comparações, forçando-nos a buscar a interpretação.
Veja como Daniel descreve o sonho do rei:
"Tu, ó rei, estavas vendo e eis aqui uma grande
estátua; esta, que era imensa e de extraordinário
esplendor, está em pé diante de ti; e sua aparência
era terrível. A cabeça era de fino ouro, o peito e
braços de prata, o ventre e os quadris de bronze;
as pernas de ferro, os pés de ferro e de barro e os
esmiuçou. Então foi juntamente esmiuçado o ferro,
o barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais se
fizeram como a palha das eiras no estio, e o vento
os levou e deles não se viram mais vestígios. Mas a
pedra, que feriu a estátua, se tornou em grande
montanha que encheu toda a terra." (Daniel 2:31-
35)
A quinta informação importante é a interpretação
igual de parábolas, como podemos ver nos versículos 36
a 45 e que, nos dias de hoje, com grande parte da visão
já ocorrida na história da humanidade, poderemos
enriquecer ainda mais.
A visão descreve profeticamente a sequência dos
impérios mundiais e a sua destruição por Cristo, que
chamou esse período de “os tempos dos gentios” (Lucas
21:24). Os quatro metais que compunham a imagem são
explicados como símbolos de quatro impérios (Daniel
2:38-40) e já cumpridos: a) Babilônia, b) Medo-Persa, c)
Grécia (sob Alexandre) e d) Roma. O último poder é visto
dividido, primeiro em dois (as pernas), os impérios
Romano Oriental e Ocidental e, depois, em dez (os dedos
dos pés).
O sexto ensinamento é que quando Deus fala em
sonhos (ou de qualquer maneira) isso gera louvor e
temor em nosso coração:
"Então o rei Nabucodonosor prostrou-se com o
rosto em terra, adorou a Daniel e mandou que
fizessem oferta de manjares e perfumes suaves,
falando a Daniel: Verdadeiramente o vosso Deus é
o Deus dos deuses, o Senhor dos reis, o que revela
mistérios, pois que pudestes descobrir este
segredo." (Daniel 2:46-47)
Ainda outro ensinamento, o sétimo, são os
benefícios pessoais para quem leva a sério os sonhos.
Vimos o benefício que Abimeleque teve, sendo livrado de
morte e recebendo uma bênção de Abraão. Jacó também
teve benefícios e progressos por causa dos seus sonhos.
José, que foi um pouco precipitado no início, acabou
sendo beneficiado e praticamente salvou o Egito e a sua
família da morte ao levar os sonhos a sério no cárcere e
com Faraó. Gideão venceu a guerra no momento certo
após ouvir um sonho de um soldado inimigo (Juízes 7:13-
25). Salomão recebeu sabedoria para governar (1 Reis
3:5-15), e a confirmação que Deus estava no templo por
ele construído (1 Reis 9:23). Agora, Daniel é posto como
governador de toda a Babilônia, rei dos sábios e ministro
da economia (Daniel 2:48-49).
Outro sonho do rei
"Eu, Nabucodonosor, estava tranquilo em minha
casa e feliz no meu palácio. Tive um sonho, que me
espantou; e, quando estava no meu leito, os
pensamentos e as visões da minha cabeça me
turbaram... Eu estava olhando e vi uma árvore no
meio da terra, cuja altura era grande, crescia a
árvore e se tornava forte, de maneira que sua
altura chegava até o céu; e era vista até os confins
da terra. A sua folhagem era formosa e o seu fruto
abundante e havia nela sustento para todos;
debaixo dela os animais do campo achavam
sombra e as aves do céu faziam morada nos seus
ramos, e todos os seres viventes se mantinham
dela. No meu sonho, quando eu estava no meu
leito, vi um vigilante, um santo que descia do céu,
clamando fortemente e dizendo: Derrubai a árvore,
cortai-lhe os ramos, sacudi as suas folhas, espalhai
o seu fruto; afugentem-se os animais de debaixo
dela e as aves dos seus ramos. Mas o tronco com
as suas raízes deixais na terra, e com cadeias de
ferro e de bronze, na erva do campo; e seja
molhado do orvalho do céu e a sua porção seja
com os animais na erva da terra. Seja mudado o
seu coração, para que não seja mais coração de
homem, e seja-lhe dado coração de animal; e
passem sobre ele sete tempos... a fim de que
conheçam os viventes que o Altíssimo tem domínio
sobre os reinos dos homens, e os dá a quem quer,
e até ao mais baixo dos homens constitui sobre
eles." (Daniel 4:4-17)
Como nenhum sábio pudesse interpretar esse
sonho, o rei convoca Daniel, dizendo que nele havia o
“espírito dos deuses santos”.
Daniel, todavia, esteve atônito por quase uma hora
e seus pensamentos o turbavam. Após isso, ele interpreta
o sonho dizendo que a árvore frondosa era o próprio rei
que havia crescido e fortalecido, que sua grandeza havia
chegado até o céu e seu domínio até as extremidades da
Terra. Disse ainda que o rei seria tirado de entre os
homens (conforme o que dissera o anjo no sonho) e sua
morada seria com os animais do campo e comeria erva...
e passariam sete tempos (anos) até que o rei
reconhecesse que o Altíssimo tem domínio sobre o reino
dos homens e o dá a quem quer.
Daniel continua dizendo que o tronco que foi
deixado com as raízes da árvore significa que o reino
voltaria ao rei, após ele reconhecer a soberania do Deus
que reina no universo. E tudo isso aconteceu conforme a
interpretação do sonho, como pode ser visto do versículo
28 em diante, no quarto capítulo do livro de Daniel.
O que aconteceu foi que o rei se exaltava
constantemente, vangloriava-se do seu reinado sobre
todos os povos, nações e línguas. Era comum ele dizer:
“Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a
casa real, com a força do meu poder e para a glória da
minha magnificência?”
Todavia, quando o rei foi transformado por Deus
em um monstro, com cabelo como de águia, com unhas
como de aves, comendo erva como boi, passando um
certo tempo assim, ele levantou os olhos aos céus e com
entendimento começou a bendizer o Altíssimo, louvá-Lo e
glorificá-Lo: “Ao que vive para sempre, cujo domínio é
um domínio sempiterno e cujo reino é de geração em
geração.”
E, assim, o rei foi restabelecido ao seu reino.
Entretanto, agora, louvando, exaltando e glorificando ao
Rei dos céus, “porque todas as suas obras são verdade e
os seus caminhos juízo e pode humilhar aos que andam
na soberba.”
O sonho profético de Daniel
O sonho narrado por Daniel no capítulo 7 é seguido
por diversas visões e suas interpretações nos capítulos
que se seguem até o final de seu livro.
As revelações que Daniel tem do sonho e das
visões referem-se ao final dos tempos (escatologia),
principalmente sobre a abominação da desolação
(destacada por Jesus em Mateus 24:15) que dominaria
nos últimos dias: o reinado do anticristo, como é visto do
capítulo 9 em diante.
O sonho de Daniel começa com a visão de quatro
animais semelhantes a um leão, um urso, um leopardo e
uma besta ou dragão (monstro). Daniel ficava muito
abatido e espantado com suas visões. Nas visões da
noite, contemplou a vinda, entre as nuvens do céu, de
alguém cuja aparência lembrava o Filho do Homem
(Jesus).
Daniel chegou perto, em visão, de um dos que
estavam perto daquele rei e pediu a interpretação daquilo
que estava vendo. Foi-lhe esclarecido que os quatro
grandes animais eram quatro reis que se levantariam até
os finais dos tempos.
Parte dessas visões de Daniel está ligada ao
momento em que estamos vivendo e vale a pena estudá-
las, à luz do Apocalipse e dos fatos que estão ocorrendo.
Nosso objetivo, evidentemente, não é estudá-las aqui. Há
vários livros sobre o assunto. Apenas queremos ressaltar
que Deus revela informações importantíssimas em sonhos
e, também, ajuda-nos na interpretação.
Deus corrigindo e disciplinando
O Salmo 19 nos ensina, no versículo 13, que a
soberba é uma grande transgressão contra Deus. Davi
suplica a Deus para expurgar os “pecados ocultos” e
guardá-lo contra a soberba, para que jamais esse
sentimento tão perverso tomasse conta dele.
Isso nos ensina que Deus pode nos advertir em
sonhos contra algum pecado específico que está fazendo
parte das nossas vidas. O Pai, que muito ama os Seus
filhos, quer nos disciplinar para levar-nos a uma
comunhão mais íntima com Ele.
Um pastor muito amigo contou-me uma situação
interessante que Deus lhe revelou em sonho. Esse pastor
tomou contato com um novo estilo de igreja cristã que
começou a ganhar espaço no Brasil na década de 70. Ele
ficou maravilhado com seus ensinos, com a vasta e
profunda literatura. Participava de retiros e reuniões,
descobrindo novas revelações da Bíblia, a ponto de,
passados alguns meses, ter tomado a decisão de deixar a
liderança de sua igreja constituída de pessoas simples,
muito humildes, para fazer parte daquela igreja
“revolucionária” em relação a tudo o que ele conhecia.
Ao se deitar, disposto a revelar no dia seguinte a
decisão para sua esposa, sonhou o seguinte:
“Estava mudando de casa, indo para uma nova
casa; estávamos todos no caminhão de mudança já
deixando a casa antiga, quando percebi que a
minha filha de 10 anos tinha ficado para trás. Dos
três filhos, ela ficara para trás, chorando
desesperadamente, justamente aquela filha tão
especial para minha vida. Meu coração estava
profundamente triste e eu questionava o porquê
daquilo tudo. Quem iria cuidar dela? Como um pai
amoroso poderia fazer algo tão cruel e abandonar
alguém tão especial e querida?”
Esse pastor acordou entristecido, temendo
interpretar seu sonho. Ao amanhecer, sem que dissesse
nada a alguém, sua esposa o procurou ansiosa contando
o sonho que ela tivera exatamente naquela noite:
"Sonhei que você (falando ao seu marido) tinha
conhecido uma jovem muito bonita e atraente.
Você estava apaixonado por ela e de maneira
impensada e sorrateira estava indo embora com
ela, envolvido pelos seus ‘galanteios’. Eu, por outro
lado, me olhava, achando-me feia e velha,
desprezada por você que é a minha razão de viver.
Com muitas lágrimas e tristeza eu lhe via partir,
nos deixando a todos.”
Ele não teve nenhuma dúvida que Deus estava-lhe
mostrando o erro em abandonar sua igreja, pessoas
queridas e amadas, em troca de algo que poderia ser
uma “miragem”, um “amor passageiro”, ou ainda algo
com vida nova e atraente que, todavia, não era da
vontade de Deus para ele. Assim, esse pastor renunciou
ao envolvimento com aquele grupo e Deus começou a
abençoar seu ministério e sua vida extraordinariamente.
Veja que em Daniel 4:36, após o rei obedecer ao
Senhor e ter sido reestabelecido no reino, “a sua glória foi
aumentada” em relação à anterior. Assim, os sonhos são
também para aperfeiçoarmos o nosso relacionamento
com o Senhor, corrigindo coisas erradas e crescendo nas
Suas bênçãos.
Prontos para ouvir a Deus
O capítulo sete de Daniel começa a nos ensinar
uma lição importante:
"Teve Daniel, na sua cama, um sonho e visões da
sua cabeça; escreveu logo o sonho e relatou a
suma das coisas." (Daniel 7:1)
Os sonhos são facilmente esquecidos. Aqueles que
acreditam que Deus fala em sonhos têm sempre papel e
caneta ao lado de sua cama para anotá-los a qualquer
momento e refletir sobre os mesmos no dia seguinte.
Há um pastor que tem um gravador na sua
cabeceira. Ao acordar, a qualquer hora da noite, caso
tenha-se lembrado do seu sonho, liga o gravador e faz
um breve resumo para interpretar durante o dia e não
perder suas preciosas horas de sono. Deus gosta
daqueles que têm tais iniciativas. Na verdade, estão
exercitando a fé e sendo vigilantes para quando Deus
falar.
Observem que assim fazia Daniel, que “escreveu
logo o sonho”. Isto é, não deixou para reconstituí-lo no
dia seguinte, mas fez um resumo imediatamente.
É bom termos em mente o que o Espírito Santo
disse através de Amós:
"Certamente o Senhor Jeová não fará coisa
alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus
servos, os profetas." (Amós 3:7)
Você poderia dizer que isso é apenas para profetas,
mas não se esqueça do que vimos no capítulo anterior
que, de certa forma, o mesmo Espírito que movia os
profetas é aquele que habita em nós após o Pentecostes.
Além disso, lembremo-nos do que Deus disse acerca
daquele que foi justificado pela fé, assim como nós:
"Ocultarei eu a Abraão o que faço?" (Gênesis 8:17).
Vejam o que Jesus diz sobre isto em João 15:15:
“Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o
que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos,
porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito
conhecer.”
Portanto, é desejo de Deus revelar-nos
informações preciosas e precisamos estar prontos para
ouvir a Sua voz. É importante estarmos preparados para
absorver o máximo possível quando Ele falar.
O "sonhador" do Novo Testamento
Os dois primeiros capítulos do livro de Mateus
falam cinco vezes em revelações de Deus através de
sonhos. Só no capítulo 2 temos quatro sonhos que
indicam revelações (versículos 12, 13, 19 e 22), sendo
que por duas vezes lemos e expressão “divina revelação
através dos sonhos" (versículos 12 e 22). Os outros três
sonhos, incluindo Mateus 1:20, mostram anjos do Senhor
aparecendo nos sonhos como mensageiros de Deus.
O grande protagonista dos sonhos, assim como seu
homônimo no passado, é José. No primeiro sonho, o anjo
vem-lhe esclarecer que Maria conceberia um filho gerado
pelo Espírito Santo. Portanto, a idoneidade daquela
mulher era indiscutível. Em outras palavras, ela
continuava sendo virgem (Mateus 1:25).
No segundo sonho, Deus avisa aos magos que
vieram do Oriente para visitar Jesus, que eles não
deveriam voltar às suas casas por Jerusalém, mas, sim,
por outro caminho. A razão disso é que o rei Herodes não
poderia ser informado sobre onde estava a criança que
havia nascido.
No terceiro sonho, novamente o anjo do Senhor
aparece a José orientando para que eles (Maria, José e
Jesus) fossem ao Egito para escapar da perseguição do
rei Herodes, que iria matar todos os meninos com até
dois anos da região de Belém.
No quarto sonho, outra vez o anjo do Senhor
aparece a José, agora no Egito, orientando o retorno
deles para Israel, pois os perseguidores do menino já
estavam mortos.
No quinto sonho, Deus revelava a José o lugar
exato onde eles deveriam morar (Galileia). Aqui não se
fala em anjo, mas em “divina revelação”.
José, Maria e Jesus sob sonhos
O que basicamente caracterizam esses sonhos são
a direção e a orientação que Deus dá para as pessoas.
No primeiro sonho, Deus vem tirar uma dúvida
terrível do coração de José. Ele deveria estar pensando:
“Como pode Maria estar grávida se eu nunca me deitei
com ela?” Então, para não humilhar aquela mulher que
ele tanto amava, resolveu deixá-la secretamente.
Certamente o pensamento de traição consumia a vida
dele. Todavia, Mateus nos informa que José era um
homem justo e certamente Deus queria esclarecer-lhe
que tudo aquilo que ele estava pensando era um terrível
engano.
Nos quatro sonhos seguintes, Deus guia Seus
servos por um caminho que os livra de um grande perigo
e ainda mostra o lugar exato onde a família deveria
morar.
Na introdução desse livro eu comecei contando um
sonho em que Deus queria me livrar de um enorme
perigo. Confesso humildemente que não tive
discernimento e paguei um preço alto por isso.
Apesar de também me chamar ‘José’, de ser um
servo do Deus Altíssimo, de ser justo (justificado pelo
sangue de Jesus), não tive a sensibilidade que José teve
para evitar uma situação difícil. No entanto, aprendi.
Também, assim como José foi dirigido para morar num
lugar específico, o mesmo aconteceu conosco em 1992,
quando em sonhos o Senhor me mostrou a cidade e a
casa onde íamos morar.
Posso afirmar que a coisa mais importante em
questão de ministério é se moramos no lugar certo que
Deus quer para nossas vidas. Vejam que Jesus foi morar
no lugar certo que Deus havia determinado para ele.
Em Mateus 4:13, vemos que ele se mudou de
Nazaré para Cafarnaum, pois havia uma profecia a
respeito da cidade onde ele deveria morar. Assim, ele
identificou a vontade de Deus para sua vida e obedeceu.
Sabe o que aconteceu a partir dessa decisão? Veja em
Mateus 4:16-24: Jesus mostrou a luz do mundo;
começou a pregar o reino de Deus; chamou os seus
discípulos; ensinava nas sinagogas; curava todas as
enfermidades e moléstias entre o povo; sua fama correu;
traziam-lhe todos os que padeciam, acometidos de várias
enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os
lunáticos, os paralíticos e ele os curava. O sucesso do
ministério de Jesus começou exatamente quando ele foi
morar no lugar certo, quando ele ouviu e obedeceu a voz
de Deus.
Assim é nas nossas vidas. Deus tem falado para
você qual é o lugar certo onde morar? É importante
identificar isso para que o nosso serviço ao Senhor seja
revestido de sucesso. Se você tem dúvida a esse
respeito, peça ao Senhor para lhe falar em sonhos sobre
o local certo onde Ele quer que você more. Seja sensível
à informação de Deus, preste atenção aos sonhos ou às
outras formas que Ele tem usado para falar com você.
Insisto, ainda, em observar o quanto Deus quer nos livrar
de desastres e nos encaminhar por veredas seguras.
Sonhos mentirosos
Pela Bíblia podemos observar que era comum o
Senhor falar aos profetas pelos sonhos. Na época de
Jeremias, principalmente, surgiram os falsos profetas
que, para enganar o povo, diziam que tinham sonhado.
"Tenho ouvido o que dizem aqueles profetas,
profetizando mentiras em meu nome, dizendo:
Sonhei, sonhei. Até quando sucederá isso no
coração dos profetas que profetizam mentiras e
que são só profetas do engano do seu próprio
coração? Os quais cuidam que farão que o meu
povo se esqueça do meu nome pelos seus sonhos
que cada um conta ao seu companheiro, assim
como seus pais se esqueceram do meu nome por
causa de Baal." (Jeremias 23:25-27)
É evidente que Deus é contra a pessoa que inventa
sonhos para mostrar que é um homem ou mulher de
Deus. É possível encontrar hoje essa atitude nas igrejas
onde há visões, profecias etc. Há aqueles que acabam
inventando ou imaginando visões para contar aos outros
e se sentirem importantes na igreja. Isso é muito sério.
No próprio livro de Jeremias o Senhor diz:
"Eis que eu sou contra os que profetizam sonhos
mentirosos, diz o Senhor, e os contam, e fazem
errar o meu povo com as suas mentiras e com as
suas leviandades; pois eu não os enviei, nem lhes
dei ordens; e não trouxeram proveito nenhum a
este povo, diz o Senhor." (Jeremias 29:32)
E ainda, Deus alerta sobre o cuidado que devemos
ter com esse tipo de pessoa:
"Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus
de Israel: Não vos enganem os vossos profetas que
estão no meio de vós, nem os vossos adivinhos,
nem deis ouvidos aos vossos sonhos, que sonhais,
porque eles vos profetizam falsamente em meu
nome, não os enviei, diz o Senhor." (Jeremias
29:8-9) (grifos nossos)
Uma maneira de fazer prova dos sonhos e visões é
avaliar se aquilo que está sendo dito está de acordo com
a Palavra de Deus, como o Senhor no ensina em
Deuteronômio 13:1-3:
"Quando o profeta ou sonhador de sonhos se
levantar no meio de ti e te der um sinal ou
prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de que
te houver falado, dizendo: vamos após outros
deuses, que não conhecestes, e sirvamo-los, não
ouvirás as palavras daquele profeta ou sonhador de
sonhos; porquanto o Senhor vosso Deus vos prova,
para saber se amais o Senhor vosso Deus com todo
o vosso coração e com toda a vossa alma." (grifos
nossos)
O exemplo que a Bíblia nos dá é que um profeta ou
um sonhador, em cima de um prodígio (semelhante a um
milagre), tentará nos enganar para que acreditemos
numa instrução que é contrária à Palavra de Deus. Talvez
fiquemos impressionados com o sinal e sigamos tal
ensinamento. Aí, então, será uma prova de Deus para as
nossas vidas: se realmente estamos firmes na Palavra de
Deus ou se nos deixamos levar pelo primeiro vento com
aparência de poder. Quando você tem dúvida, consulte o
seu líder espiritual, que é mais experiente nas Escrituras.
Ainda que haja uma revelação que coincida com
detalhes na sua vida, não se deixe levar por tal revelação
se ela não estiver no centro da Bíblia. Confronte tudo
com a Palavra de Deus e lembre-se da astúcia do inimigo
em operar sinais e prodígios para nos enganar (2
Tessalonicenses 2:8-10). Todavia, o Senhor garante que
o profeta ou sonhador que se rebela contra Ele morrerá
(Deuteronômio 13:5). O importante é que não morramos
juntos, não caiamos nessa armadilha.
Conte o sonho
Entretanto, esse lado negativo dos sonhos não
deve nos levar a ocultar os mesmos. Em Jeremias, o
Senhor nos ensina:
"O profeta que tem um sonho, conte o sonho; e
aquele em quem está a minha palavra, fale a
minha palavra com verdade. Que tem a palha com
o trigo? Não é a minha palavra como o fogo, diz o
Senhor, e como um martelo que esmiúça a penha?
(Jeremias 23:28-29)
A Palavra de Deus, às vezes, é fogo que queima,
ou martelo que esmiúça a rocha, ou espada que perfura.
São, muitas vezes, palavras que machucam e que não
são boas de serem ouvidas, mas necessárias para o
nosso aperfeiçoamento e crescimento.
Erramos algumas vezes por ocultar sonhos que
possam machucar pessoas e aparentemente deixar-nos
em situações embaraçosas. É bom contarmos as vitórias,
as promessas, mas o nosso Pai também disciplina e não
podemos nos esquivar dessa parte do cristianismo.
Uma das características do sonhador falso é querer
consolar pessoas aflitas (Zacarias 10:2). O homem que é
usado por Deus tem consolo também, mas há momentos
em que suas palavras podem ser duras, ter
características de fogo que queima ou martelo que
esmiúça.
Este versículo (Jeremias 23:28) pode nos ajudar
muito a entender melhor o que Deus quer dizer. A Bíblia
Vida Nova dá a seguinte versão para este verso: "O
profeta que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas
aquele em quem está a minha palavra, fale a minha
palavra com verdade...". Nada impede que contemos os
nossos sonhos para as pessoas. Porém, para dizermos
que é do Senhor precisamos ter certeza disto.
Talvez esse seja um dos pontos fundamentais
nesse estudo. Você pode contar seus sonhos de uma
maneira descomprometida e deixar isso bem claro para o
ouvinte. Porém, você pode sentir que o sonho é de Deus
e então contar o sonho. Se é de Deus, tem de estar de
acordo com a Sua Palavra. É algo que nos incomoda se
for de forma diferente. Normalmente, ele impacta as
nossas vidas. Quando o sonho é de Deus, ainda que não
lembremos dele, algo nos deixará inquietos por dentro.
De maneira geral, nós sempre somos os
personagens principais dos nossos sonhos. Se sentirmos
que há uma mensagem para outra pessoa em nossos
sonhos, devemos contar para ela simplesmente como um
sonho. Se esse for de Deus, irá incomodar nosso ouvinte
pela coincidência dos fatos estarem realmente ocorrendo
em sua vida.
“Que tem a palha com o trigo?” Palha significa os
sonhos falsos, algo sem consistência, facilmente
destrutível, que se queima. Trigo é a Palavra de Deus, o
conteúdo sólido de Deus que é alimento, fortalece, dá
vida.
O importante é não forçar nada para querer ajudar
as pessoas aflitas ou estimular as mesmas. O nosso Deus
é Soberano, tem o controle de todas as coisas e é o
verdadeiro socorro no tempo de angústia. Ele se revela
para as pessoas no tempo Dele. Cabe a nós, muitas
vezes, simplesmente orar e aguardar.
Capítulo 5
A Interpretação de Sonhos
"E eles lhes disseram: Temos sonhado um sonho, e ninguém há
que o interprete. E José disse-lhes: Não são de Deus as
interpretações? Contai-mo, peço-vos." (Gênesis 40:8)
Neste capítulo desejamos contar algumas experiências
em relação à interpretação de sonhos. O primeiro ponto
fundamental é que não existem regras fixas para a
interpretação, para a representação de símbolos. Seria
querer enquadrar a Deus, limitar o infinito; conter em
nossa mente finita a sabedoria e a mente de Deus. Isso
seria absurdo.
Percebemos que pessoas que dão crédito a sonhos
acabam criando seu próprio código de interpretação, isto
é, identificam a maneira especial, individual e peculiar
que Deus tem para falar com elas. Acreditamos que isso
é válido. O que não é correto é assumir aquele código de
interpretação como regra geral. Cada um tem sua
maneira íntima de ver Deus lhe comunicando. Para Deus,
somos especiais com nossas individualidades; não somos
apenas números inexpressivos e genéricos.
Assim, como um pai sábio tem métodos diferentes
para tratar cada filho considerando o seu temperamento,
caráter e peculiaridade, Deus tem, muito mais que os
pais humanos, métodos personalizados para cada um de
nós.
O segundo ponto, já visto em capítulos anteriores,
é que a interpretação pertence a Deus (Gênesis 40:8,
41:16; Daniel 2:11, 28). Significa que não é pela
sabedoria humana, mas pela sabedoria do alto, divina. É
o poder do Espírito Santo que se manifesta na forma de
sabedoria.
"E se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a
a Deus, que a todos dá liberalmente e o não lança
em rosto, e ser-lhe-á dada." (Tiago 1:5).
Tiago também nos ensina que há vários tipos de
sabedoria (3:13-18), mas que só uma vem de Deus.
É importante notar que Daniel tirava um tempo
com Deus na busca de interpretações. Por outro lado,
José tinha as interpretações de imediato, na “lata”, como
dizem as pessoas. Mas ambos tinham notável sabedoria
de Deus nessa área. Assim pode ser conosco. Há aqueles
que passam uma hora diante do Senhor para entender
seus sonhos. Há outros que têm as respostas de
imediato, sem nenhum esforço. Mas ambos usam da
sabedoria do Alto.
É fundamental que se abandone a sabedoria
popular para as interpretações dos sonhos. Por exemplo,
quando se sonha que Fulana morreu, afirma-se que ela
terá vida longa. Isso é uma forma de escape para
abrandar o impacto da nossa mente. Assim como essa
interpretação, é necessário que se apaguem todas as
regras trazidas pela sabedoria humana (animal, terrena e
diabólica) e se entre na dimensão divina.
Entendo que nem todos os sonhos têm
interpretação. Há aqueles que parecem não ter uma
origem certa, frutos da imaginação descomprometida.
Todavia, há sonhos nos quais Deus está querendo nos
instruir e há sonhos em que o nosso subconsciente está
querendo nos ensinar alguma coisa. Esses são alvos de
interpretação. Sentimos que eles “mexem” de maneira
diferente conosco e nos deixam inquietos. Alguns são
frutos de uma ansiedade e preocupação muito intensas e
requerem interpretação para nos ajudar no dia a dia.
Como exemplo, contaremos a respeito de um
irmão que perdeu sua jovem esposa, deixando crianças e
uma casa bem estruturada. Frequentemente, esse
homem sonhava, em forma de pesadelo, que sua cama
estava afundando, formando um abismo onde ele caía.
Era desesperador. Consultando uma psicóloga cristã, ele
ficou sabendo que a origem desses sonhos era sua
ansiedade em estar junto à esposa. A ideia de “fenda”, de
abismo, de buraco, era a própria ideia de sepultura para
onde ela tinha ido.
Essa interpretação ajudou a mudar o
comportamento de sua mente: “Na verdade, ela não está
na sepultura, mas está com Deus na glória; a separação
não é eterna, mas temporária; há vidinhas (crianças)
importantes para serem amadas, cuidadas...” Com isso,
aqueles pesadelos desapareceram e tudo se normalizou.
Assim, a interpretação dos sonhos passa a ser um
poderoso instrumento de ajuda e orientação para nossas
vidas.
Antes de continuarmos nesse assunto é importante
dar uma rápida revisão no capítulo 1, onde tratamos da
maneira que Deus usa para falar nos sonhos usando
figuras, parábolas ou símbolos.
O primeiro sonho a ser interpretado
O sonho de Jacó, onde ele teve a visão da escada,
não foi o primeiro da Bíblia, mas, sim, o primeiro que
requereu interpretação. Por isso falaremos dele,
principalmente porque os sonhos e interpretações de
José, Daniel e outros estão explicados na Bíblia, enquanto
que esse sonho de Jacó não foi interpretado de uma
forma explícita.
Jacó é o personagem que tem o registro mais longo
no livro de Gênesis, ocupando quase a metade desse
livro. Sem dúvida, há algo muito especial nesse homem.
“Partiu, pois, Jacó de Berseba, e foi-se a Harã.
Chegando a um lugar onde passou a noite, porque
já o sol era posto, tomou uma das pedras daquele
lugar e a pôs por sua cabeceira, deitando-se
naquele lugar. E sonhou: E eis uma escada era
posta na terra, cujo topo tocava nos céus e anjos
de Deus subiam e desciam por ela. O Senhor
estava em cima dela e disse: Eu sou o Senhor, o
Deus de Abraão teu pai e o Deus de Isaque. Esta
terra em que estás deitado, darei a ti e à tua
semente. E a tua semente será como o pó da terra
e estender-se-á ao ocidente e ao oriente, ao norte
e ao sul e em ti na tua semente serão benditas
todas as famílias da terra. E eis que estou contigo e
te guardarei por onde quer que fores e te farei
tornar a esta terra, porque não te deixarei até que
te haja feito o que te tenho dito. Acordado pois
Jacó do seu sono disse: Na verdade o Senhor está
neste lugar; e eu não o sabia. E temeu e disse:
Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar
senão a casa de Deus e esta é a porta dos céus."
(Gênesis 28:10-17) (grifos nossos)
Entender o contexto
O primeiro passo para interpretar um sonho é
compreender o contexto, o histórico em que ele está
inserido. Isso é, situar o sonho diante dos fatos que
circunscrevem o personagem ou os personagens do
sonho. Na verdade, cada sonho tem um “pano de fundo”
na vida real que precisa ser identificado. Ele está ligado a
fatos, a estilo de vida, a atitudes, a decisões, a épocas...
e tudo isso tem muita importância para a interpretação.
Witness Leexx diz:
“Embora estejamos familiarizados com a história
do sonho de Jacó, duvido que conheçamos o seu
verdadeiro sentido. Se quisermos conhecer o
significado deste sonho, precisamos compreender
por que Jacó o teve, onde e quando. Por que não o
teve enquanto estava em casa de seus pais? Uma
vez encontrada resposta para essa pergunta,
veremos o que ele significa para todos nós.”
Vamos pegar algumas ideias desse autor para
melhor interpretar o sonho de Jacó. Ele vivia bem com
sua família (Isaque, seu pai, Rebeca, sua mãe e Esaú,
seu irmão gêmeo). Todavia, ele sabia que mais cedo ou
mais tarde teria de enfrentar um difícil problema que,
certamente, causaria uma ruptura em sua família.
Jacó havia sido escolhido para ser um príncipe de
Deus, mas ele nasceu como um suplantador
(aproveitador, trapaceador) e tinha de ser transformado.
A Bíblia diz que ele já lutava com Esaú no ventre da sua
mãe, pois queria nascer primeiro, ter os direitos da
primogenitura (filho mais velho). Mas foi Esaú quem
nasceu primeiro. Jacó, ao nascer, agarrou o calcanhar de
Esaú indicando que se recusava a admitir a derrota.
Todavia, Deus havia prometido a “bênção da
primogenitura” a Jacó. Ele estava predestinado a ter essa
bênção que inclui três coisas: expressar Deus,
representá-Lo e participar do Seu reino. Essa bênção
surgiu da aliança que Deus fez com Abraão. Em seguida
passou para Isaque e, agora, para Jacó.
A soberania de Deus permitiu que Jacó comprasse
essa bênção de seu irmão por um prato de assado e
lentilha, num momento impensado de Esaú, quando ele
estava com muita fome. Permitiu ainda que Jacó, com a
ajuda da sua mãe, enganasse seu pai cego na velhice e
abençoasse a ele pensando que fosse Esaú. Dessa forma,
não havia mais ambiente para Jacó ficar com seus pais,
pois Esaú queria matá-lo. Assim, Jacó fugiu para a casa
do seu tio Labão, em terra distante. E foi no início dessa
viagem que ocorreu o sonho da escada.
Hoje, todos nós temos essa bênção pelo segundo
(ou novo) nascimento, de modo que podemos expressar
Deus à Sua imagem, representá-Lo com domínio e
participar do Seu reino, tanto na igreja, hoje, quanto no
reino futuro. Toda essa regeneração é fruto da obra de
Jesus na cruz do Calvário.
O início do sonho celeste
Jacó estava no deserto e não tinha lugar para
alojar-se, deitando no chão para dormir e tomando uma
pedra como travesseiro. Foi um momento em que ele
estava totalmente dependente de Deus. Não existia mais
a dependência de sua família e das coisas feitas pelos
homens, como era na sua casa. Restou para ele o céu
para olhar, a terra para deitar, seu corpo e a pedra de
travesseiro; todas as coisas criadas por Deus, sem
nenhuma interferência da mão humana.
Tudo do homem foi removido e, certamente, Jacó
estava sendo preparado para ter um encontro com Deus,
para a sua conversão, para ser inteiramente dependente
de Deus e não mais dos homens.
Isso é muito parecido com o nosso encontro com
Jesus, onde nos desligamos da dependência dos homens
e entregamos nossas vidas aos cuidados de Jesus como
nosso piloto, nosso Guia e nosso Senhor.
Assim começa a nossa visão ou sonho celestial,
nosso encontro com Deus. Nos sentimos sozinhos como
Jacó, mas, de repente, sentimos que Alguém entrou em
nossas vidas e que não estamos mais sós.
Entendendo o sonho
A primeira coisa vista por Jacó foi a escada posta
na terra cujo topo atingia o céu. Quem liga os céus com a
terra? Quem é a “ponte”, a escada, o caminho que nos
leva a Deus? É Jesus Cristo. Portanto, a escada tipifica
Cristo.
É claro que, se Jacó precisava se converter, ter um
encontro com Deus para ser transformado, ele precisava
de Jesus. Mesmo que o Filho de Deus ainda não tivesse
encarnado, Jacó, assim como Abraão, a quem primeiro foi
anunciado o evangelho, é o único recurso de salvação e
transformação (Gálatas 3:6-9).
Veja que a escada, o centro do sonho, já estava
posta na terra; ela não descia do céu, mas já estava
colocada. No coração de Deus, Jesus já era o Cordeiro
Salvador antes da fundação do mundo (Apocalipse 13:8).
Ainda que Jacó não tivesse visto antes a escada ela já
existia, já estava lá. Jesus está disponível para salvar
muitas vidas que ainda não sabem, que ainda não viram
esse recurso maravilhoso.
O sonho mostra anjos que subiam e desciam. O
texto não diz que eles desciam e subiam, mas que
primeiro subiam e depois desciam. Ora, se eles subiam,
significa que, assim como a escada, eles já estavam na
terra.
Witness Leexxi diz que se Jacó tivesse dito: “Ó
Deus, eu estou só e quero ter uma visão celestial” e uma
escada baixasse do céu com os anjos descendo por ela,
isso seria uma resposta à sua oração. Mas não foi
exatamente assim. Mesmo sem orar ele viu, de repente,
uma escada posta na terra cujo topo atingia o céu. O fato
dos anjos subirem e descerem por ela indica que o sonho
não era uma resposta à oração de Jacó, mas que tudo
fora planejado previamente por Deus.
O que Witness Lee quer acentuar nos seus
comentários sobre essa passagem é que a nossa salvação
não é resposta das nossas orações, mas ela estava
preparada antes, tudo prontinho, esperando por nós. O
que precisamos, sim, é deixar nossa dependência do
homem e confiar em Deus, nos lançar nos braços de
Jesus.
Você poderia perguntar: "Mas como se pode
afirmar que Cristo é a escada?" O próprio Jesus
respondeu para Natanael: "Em verdade, em verdade vos
digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo
e descendo sobre o Filho do Homem." (João 1:51)
Certamente, quando alguém se converte, os anjos
sobem para dar a notícia aos céus e festejarem mais uma
vida para Deus (Lucas 15:7,10). Mas esses mesmos
anjos descem para ministrar boas coisas ao crente
(Hebreus 1:13-14).
O sonho de Jacó mostra que ele estava tendo um
encontro com Deus. Mostra que os recursos da salvação
foram criados por Deus. Mostra que ele estava
predestinado a ser de Deus e que, num exato momento
de agonia e sofrimento (deixando sua família, a proteção
humana), Deus estava presente na vida dele. E, assim,
Deus lhe diz:
"Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão teu pai e o
Deus de Isaque; esta terra em que estás deitado te
darei a ti e à tua semente. E a tua semente será
como o pó da terra e estender-se-á ao ocidente e
ao oriente, ao norte e ao sul, e em ti e na tua
semente serão benditas todas as famílias da terra.
E eis que estou contigo e te guardarei por onde
quer que fores e te farei tornar a esta terra, porque
não te deixarei, até que te haja feito o que te
tenho dito." (Gênesis 28:13-15)
A revelação do sonho
Em Mateus 16:15, Jesus pergunta aos seus
discípulos:
"E vós, quem dizeis que eu sou? Simão Pedro,
respondeu: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
Jesus respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado é
tu, Simão Barjonas, porque não foi a carne e o
sangue quem te revelou, mas meu Pai, que está
nos céus."
Jesus ainda não havia declarado em profundidade
sua identidade, mas Deus a revelou ao coração de Pedro.
No sonho de Jacó, houve algumas revelações
sobrenaturais de Deus que nunca haviam sido abordadas
até o capítulo 28 de Gênesis:
a) Casa de Deus (em hebraico, Betel) – Deus
queria uma casa para Si (vs.17-19). Em 1 Timóteo 3:15,
a Bíblia nos ensina que a igreja é a casa do Deus vivo.
Não uma igreja "templo", mas a igreja “povo de Deus
reunido”.
b) Porta do céu – Jacó também chamou aquele
lugar onde tivera o encontro com Deus de Porta do céu,
pois era um lugar que ligava a terra ao céu (vs.17).
c) Fez do travesseiro de pedra uma coluna –
Conforme Jesus orienta Pedro (Mateus 16:18), pedra
significa um homem transformado pelos planos de Deus.
Significa deixar de ser meramente um vaso de barro para
ser uma pedra. O óleo tipifica o Espírito Santo, o poder de
Deus (versículo 28).
Assim, Jacó, que mais tarde seria chamado de
Israel (o povo de Deus – a igreja), era uma coluna ungida
pelo Espírito Santo.
Como vimos, tudo isso são coisas novas, nunca
citadas até então na Bíblia, mas que em sonho haviam
sido reveladas a Jacó. Isso significa que Deus pode nos
revelar coisas novas e sobrenaturais que vão além da
própria Bíblia. É lógico que as revelações de Deus sempre
estão em harmonia com a Bíblia e não pode haver
contradição.
Queremos enfatizar com isso que, quando Deus
revela algo em sonho, estamos entrando numa dimensão
até então nunca experimentada.
Sonhos com aviões
Periodicamente eu sonhava com aviões.
Normalmente, estava dentro de um avião que começava
a fazer peripécias. Algumas vezes ele baixava numa
região com muitas árvores e seguia seu curso entre elas.
Outras vezes, sobrevoava quase atingindo o solo, por
uma estrada apertada, com postes e árvores nas laterais.
Sempre ficava amedrontado ou até aterrorizado, achando
que a qualquer momento aquele avião teria um terrível
acidente. Mas, para minha surpresa, nada acontecia e o
avião sempre saía ileso daqueles embaraços.
Como esse tipo de sonho se repetia
esporadicamente, comecei a buscar ao Senhor para obter
interpretação. Assim, Ele abriu a minha mente para
entender a razão disso. Toda aquela agonia dos voos no
meio dos obstáculos significava uma tribulação que eu
iria passar nos dias que se sucederiam ao sonho. Era
Deus me avisando que viriam dias difíceis e que
pareceriam quase impossíveis de serem transpostos. Mas
Ele era o piloto da minha vida que, com muita habilidade
e poder, faria com que eu saísse ileso.
É como se Deus me dissesse: "Filho, você vai
passar por alguns dias difíceis, com problemas que
parecem sem solução. Mas não tema, Eu estou no
controle da sua vida e farei proezas. Enfrente os
problemas sabendo que Eu te levarei e não permitirei que
você seja ferido."
Comecei a analisar e averiguei que esses sonhos
com ‘avião em perigo’ realmente se antecediam a
períodos de tribulações na minha vida. A partir daí,
comecei a constatar essa realidade. Houve uma
oportunidade em que, ao acordar, disse à minha esposa:
“Sonhei com avião em dificuldades”. Ela, passando a mão
na cabeça e manifestando uma preocupação visível no
rosto, disse: “Não! Outra vez!”
Aprendemos, após esse tipo de sonho, a orar
especificamente para os momentos difíceis que nos
esperam. Através da oração, a tribulação certamente será
amenizada. Na minha atividade pastoral, posso entender
quando vêm momentos difíceis para toda a igreja quando
sonho com um avião em perigo levando membros da
igreja.
O avião é um dos símbolos que Deus usou diversas
vezes para falar comigo em sonhos. Já sonhei com aviões
pequenos, médios e gigantes. Em um dos sonhos, eu
estava em um imenso avião viajando para uma terra
desconhecida. De repente, ele começou a voar baixo,
quase se chocando com as árvores mais altas.
Como que apresentando um defeito, não teve jeito
– foi necessário aterrissar em uma estrada de terra em
uma campina. Milagrosamente ele era como que
conduzido por aquela estrada. Eu não entendia como um
avião com uma amplitude tão larga de asas podia se
locomover naquela estrada tão estreita e perigosa.
Após uma certa distância, ele entrou com sua
fuselagem numa oficina, onde uma pessoa com
ferramentas próprias consertou sua parte dianteira. E
tudo já estava pronto para a decolagem.
Ao iniciar a manobra, já restaurado, veio, não se
sabe de onde, um trem numa velocidade incrível e, mais
uma vez, por milagre, aquele avião não foi destruído. Na
verdade, naquele lugar da estrada havia uma passagem
férrea. Foi um barulho assustador, mas o avião
novamente saiu ileso.
Na busca de uma estrada maior (ou pista para
decolagem) o avião entrou numa pequena cidade. Vendo
que não havia lugar para decolagem, fez a volta numa
praça e entrou numa rua sem saída. Ele ficou entalado,
sem praticamente nenhuma chance de sair daí.
Pareceu-me que as pessoas já não estavam dentro
daquele avião. É como se eu estivesse só. Desci, para
telefonar para alguém que pudesse dar-nos socorro.
Sabia que precisaria ligar para um socorro extraordinário,
muito especial, que pudesse resolver aquele problema
humanamente insolúvel.
Teria de entrar em muitos detalhes para explicar
esse sonho. Mas, em rápidas palavras, ele teve a ver com
o meu ministério, com a igreja, pois havia muitas outras
pessoas nele, embora, no final, essas pessoas já não
estavam comigo.
Minha vida ministerial começou numa reunião no
Carnaval de 1987, num pequeno galpão do bairro dos
Medeiros, em Jundiaí, com alguns parentes que havíamos
convidado para um estudo bíblico. No final dessa reunião
houve quatro conversões e, sem que planejássemos, foi
iniciada a “Igreja X” (por discrição, preferimos não
revelar o nome real).
Em três anos essa igreja cresceu muito. Começou
como um “Teco-Teco”, com quatro passageiros, e em
1990 estava na condição de um “Jumbo”, com centenas
de pessoas envolvidas. Tínhamos um terreno de 10 mil
metros quadrados e acabávamos de inaugurar uma tenda
para 500 pessoas e uma “equipe de bordo” muito boa.
Meu ministério cresceu na proporção da igreja;
estava como um “Jumbo”, voando em altitude
internacional de cruzeiro. Foi aí que o Senhor começou a
tratar comigo, deixando muito claro que aquele Jumbo do
sonho era meu ministério.
Novamente, o Jumbo estava voando baixo, quase
batendo nos topos das árvores, “tirando fina”. Eram
tribulações que eu estava enfrentando e o Senhor,
milagrosamente, não permitia uma queda, pois Ele
amava muito os ocupantes desse avião.
Em abril/maio de 1990, o Senhor revelou que iria
me enviar para os Estados Unidos. Relutei no início, nas
acabei aceitando a vontade do meu Deus. E lá se vai o
Jumbo para uma terra estranha. Estava um tanto
tranquilo, porque parecia que eu teria uma atividade
ministerial naquele país.
Mas, repentinamente, o Jumbo precisou aterrissar
prematuramente, pois havia necessidade de um concerto.
Havia uma ferida na minha vida. Não fui eu quem causou
essa ferida, mas ela precisava de cura. Por um tempo,
minha vida foi movida exclusivamente pela graça de
Jesus. O Jumbo andava no chão, por uma estrada
estreita, cheia de curvas e buracos (estrada de terra), na
iminência de um desastre muito grande. Milagrosamente,
o desastre não aconteceu e foi localizado o único que
poderia curar a ferida: Jesus.
Numa noite, senti um toque sobrenatural na minha
vida, na minha mente (a fuselagem do avião). Era Jesus
me curando. Estava procurando o “mecânico” da minha
vida. Sabia quem era, mas havia um tempo de espera.
Agora, aquele Jumbo estava pronto, restaurado. O trem
que apareceu subitamente, sem apito ou qualquer aviso
foi um ataque inesperado do diabo para, de uma vez por
todas, acabar com o avião. Mas, também, de forma
milagrosa, o Senhor não permitiu. Uma manobra
instintiva do avião me livrou daquela destruição total.
Bem, agora faltava decolar – mas estranhamente o
avião foi conduzido para um “beco sem saída” numa
cidade pequena. Uma coisa é sermos curados pelo
Senhor; outra coisa é decolar para o ministério, ser
impulsionado. Lugar de avião é no ar, voando. Lugar de
pastor é junto ao rebanho, pastoreando. Mas essa
afirmação, ainda que lógica, não era o plano do Criador
do universo para minha vida naquele momento.
Haveria um tempo de espera. Não poderia decolar
no momento que eu quisesse, como seria óbvio para
todos, mas apenas quando Ele quisesse. Só Deus pode
levantar verdadeiros ministros da Sua palavra, ainda que
esses sejam vocacionados e desejosos.
Coube a mim “telefonar” para Aquele que é a fonte
de socorro. Coube a mim a oração para a decolagem. Se
não havia pessoas naquele avião, poderia significar que a
igreja já não estava dependendo daquele ministério; que
ela poderia caminhar, voar em outro aparelho, sem ser
prejudicada. E foi isso o que aconteceu com a “Igreja X”
– continuo crescendo e sendo abençoada sob a liderança
de um irmão preparado para essa missão e pela “equipe
de bordo”.
Estar "entalado" poderia representar um descanso
para alguém que estava em um ritmo descomunal.
Todavia, para mim, mais pareceu um deserto do que um
descanso. Foi difícil permanecer dois anos sentado em
bancos de igrejas sem entender quase nada, sem poder
fazer nada, deixando de lado todo o dinamismo tão
comum na minha vida. Para mim pareceu muito mais
com Marcos 1:12 ("E logo o Espírito o impeliu par o
deserto...") do que com Marcos 6:31 ("Vinde repousar
um pouco, à parte, num lugar deserto...").
Mas essa era a vontade de Deus, que mostrou
antes ao “filho amado” através de sonhos. Mostrou-me
antes para dizer que Ele é Soberano e está no controle de
todas as coisas. Mostrou que quando eu entreguei a
minha vida para Jesus, Ele levou a sério e em nenhum
momento me desamparou. Louvado seja Deus! (veja a
conclusão desse sonho no item "Prevendo a Tragédia").
Ao voltar para o Brasil pude entender que o
ministério pastoral nos Estados Unidos ainda não havia se
cumprido e que essa revelação ainda poderá se cumprir.
Um pouco antes de voltarmos ao Brasil, o Senhor nos
mostrou em sonhos (a mim e à minha esposa) a cidade
onde iríamos morar, Jundiaí (sempre moramos em São
Paulo), que iríamos morar em uma casa (sempre
moramos em apartamento) e quem nos iria vender uma
casa.
Outros símbolos
É difícil, como já dissemos, estabelecer regras para
interpretar símbolos. O melhor meio de descobrir o
significado dos sonhos é orar pedindo. "Nada tendes,
porque não pedis" (Tiago 4:2). Todavia, à medida que
exercemos a prática da interpretação, vão surgindo
certos padrões individuais que facilitam a interpretação
dos sonhos futuros.
Essas regras pessoais não podem ser generalizadas
para outras pessoas. Porém, pode acontecer que algumas
interpretações coincidam de pessoa para pessoa. Um
desses casos são as serpentes (cobras) que quase
sempre simbolizam o mal, o diabo.
Certa vez, uma irmã contou um sonho em que vira
uma serpente na porta da igreja, de aparência muito
bonita, atraente, mas pronta para dar o bote. Minha
interpretação é que havia alguém que traria problemas
para a igreja. Aparentemente uma pessoa bonita,
charmosa (como a serpente é vista), mas astuta e pronta
para agir.
Naquela semana a esposa de um irmão do
ministério contou-me que ela estava desconfiada do seu
marido em relação a uma irmã viúva, de meia-idade, mas
muito bonita e atraente. Ainda que eu não desse muita
importância para aquela informação, acabei também
desconfiando, pois essas duas pessoas estavam sempre
juntas após o término do culto. Numa oportunidade
seguinte questionei o irmão, que acabou confessando que
estava tudo pronto para eles fugirem para outro estado.
Estavam “perdidamente” apaixonados.
À luz da Palavra de Deus, mostrei a esse irmão que
ele estava jogando fora a sua salvação e que, se fizesse
isto, praticamente não haveria retorno. Houve
arrependimento, houve disciplina e ambos foram
restaurados espiritualmente, embora aquela irmã viúva
tivesse que se retirar da igreja.
Creio que era um espírito maligno (a serpente)
agindo na vida dela com uma roupagem quase irresistível
de atração e sensualidade (não estou tirando a
responsabilidade também do irmão que caiu na
armadilha). Aliás, esta é uma das maneiras que Satanás
tem usado para operar nas igrejas. As pessoas ficam tão
apaixonadas que até pensam que é bênção de Deus, e
alegam isto. Esse argumento é terrivelmente diabólico.
Numa ocasião, sonhei que estava andando entre
uma serpente enorme que se ramificava em muitas
divisões e muitas cabeças. Era terrível estender as pernas
para pular seu corpo e outro corpo e outro corpo. Só que
essa serpente não me podia fazer mal, não tinha poder
para me atacar. Alguém me disse que ela tinha trezentos
metros de cumprimento. Fiquei assustado. Percebi, após
esse sonho, que estava passando por dias difíceis e
algumas coisas não estavam dando certo para mim.
Estava como aquele gatinho que se enrolou em um
novelo de lã e tinha dificuldade de se libertar. Aquele
novelo de lã não podia fazer mal algum ao animalzinho,
mas o impedia de se movimentar livremente.
Creio que Deus me mostrou uma hoste de inimigos
que estava me atrapalhando, embora eles não pudessem
fazer mal algum à minha vida. Porém, a Bíblia ensina que
Jesus me deu autoridade para expulsar demônios no seu
nome (Marcos 16:17). Embora aqueles demônios
estivessem proibidos de me atacar, era difícil mandá-los
embora (300 metros). Teria que usar de ousadia e estar
em comunhão com Jesus para destruir aquela hoste. Mas,
"maior é Aquele que está em nós (o Espírito Santo) do
que aquele que está no mundo (Satanás e suas hostes)"
(1 João 4:4).
Houve um período em que as coisas não se
deslanchavam, não progrediam, como se eu estivesse
amarrado. Mas, em pouco tempo, a graça de Jesus
novamente me fortaleceu e eu fui liberto daquele ‘ninho
de cobras’.
Capítulo 6
Vivendo com os Sonhos
“Deus fala através de Sua Palavra... por meio de uma voz
audível... por meio de sonhos e visões...”
(Loren Cunningham)xxii
Prevendo tragédia
Quando iniciamos a “Igreja Evangélica X”, algumas
famílias inteiras se converteram. Uma dessas famílias
cedeu, após os primeiros cinco meses de igreja, um
galpão, onde, por três anos, iríamos nos reunir.
Logo após passarmos para o sítio da família Fritz,
percebemos algumas lutas que eles estavam passando.
Entendemos que o inimigo estava deveras insatisfeito
com essa família que se entregara para Jesus e cedera
um bom local para as reuniões. Uma dessas lutas foi com
uma filha dessa família, Aparecida Fritz, seu esposo, que
nós chamamos carinhosamente de Jijo, e seus três filhos.
Uma semana antes do acidente, Jijo sonhou que a
igreja estava fazendo um grande clamor por um irmão,
levantando as mãos e buscando insistentemente ao
Senhor por aquele homem. Ele se perguntava para quem
era o clamor, mas não tinha resposta.
Na sexta-feira daquela semana, esteve na vigília
até a meia-noite e, então, se retirou para dormir na sua
casa, muito próxima do templo. Às duas horas da manhã
foi a vez de Aparecida deixar a vigília e se retirar para
sua casa. Ao chegar, Jijo acordou dizendo que novamente
sonhara com um grande clamor que a igreja estava
levantando. Todos da família participavam do clamor.
Começaram a perceber que Deus estava querendo falar
alguma coisa.
De domingo para segunda, ambos sonharam. Jijo
chamou logo cedo sua esposa para contar e estava muito
impressionado ao narrar seu sonho:
“Eu vi dois grupos de pessoas: Um grupo era de
pessoas parecidas com clérigos e outro, de leigos.
Ambos os grupos estavam separados e eu estava
no grupo de leigos, até que um daqueles parecidos
com clérigos se dirigiu a mim e disse: "Você não é
cristão!”
Eu disse que era cristão, que havia entregado a
minha vida para Jesus. Então ele me disse: "Está
bem, só que agora você vai negar que é cristão."
Eu disse que não, que não poderia fazer aquilo.
Todavia, por várias vezes, ele insistia: "Você vai
negar." E eu dizia: "Não, não e não."
Nisto, aquele que parecia com um clérigo se dirigiu
para outras pessoas reivindicando que cada uma
delas negasse que eram cristãos. Um a um foi
negando Jesus. Então ele voltou-se para mim
novamente e mostrou que todos haviam negado.
Mas eu disse que não negaria.
"Você tem certeza disso?", replicou ele. Eu disse
que sim, que eu não negaria Jesus. Então ele me
encarou e me disse com voz forte: "Por causa disso
você vai morrer, vai morrer, vai morrer!" E assim
eu acordei assustado.”
Aquela frase não saía da cabeça do Jijo. Ao ouvir o
sonho de seu marido, Aparecida foi-se lembrando de um
sonho que tivera naquela noite.
Estavam ela, Jijo e os três filhos num
compartimento com água até aos pés. Aquela água fazia
ondas e subia cada vez mais, ao ponto de pegarem as
crianças no colo. Como a água não parava de subir, sua
filha Andrea disse: “Mãe, vamos morrer”. Sua mãe disse
para ninguém ter medo, pois “todos somos do Senhor”.
Nisto eles começaram a louvar o Senhor com os cânticos
da igreja.
No meio do louvor, as águas agitadas continuavam
a subir até que, no desespero, eles se separaram.
Aparecida resgatou seus filhos e viu Jijo, desesperado,
lutando contra a água. Novamente Andrea gritou: “Mãe, o
pai não está aqui conosco”. Sua mãe respondeu: “Essa
separação é por pouco tempo”. Nisso ela acordou.
Ao narrar esses sonhos, ambos ficaram perplexos,
assustados. Abriram a Bíblia e caiu exatamente em 1
João 4:3,4 que diz:
"E todo espírito que não confessa que Jesus Cristo
veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito
do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e
eis que está já no mundo. Filhos, sois de Deus, e já
os tendes vencido; porque maior é o que está em
vós do que o que está no mundo."
Eles entenderam que aquele homem do sonho
parecido com um clérigo simbolizava o anticristo que
queria destruí-los. Jijo era recém-convertido e conhecia
muito pouco sobre Jesus e, às vezes, hesitava um pouco.
Era o momento certo do inimigo ceifá-lo, por conta
dessas hesitações. Sabiam que algo estava para
acontecer, mas não sabiam como lutar contra. Estavam
atônitos.
Naquela segunda-feira, Jijo foi de moto à casa de
seu irmão. Ao voltar para casa, na rodovia, um carro que
vinha no sentido oposto saiu de sua mão e veio em
direção à moto de Jijo, lançando-o para longe da estrada.
Um outro carro o socorreu e o levaram em coma
profundo para o hospital.
Como ele começara a se atrasar, sua esposa
estava certa de que algo acontecera. Uma voz vinha à
sua mente: “Ligue para o hospital.” Após intensas buscas
resolveram ligar para a polícia rodoviária, que disse que
ele sofrera um acidente e estava em coma.
O médico disse que não havia esperança. Nossa
recém-iniciada igreja entrava na sua primeira grande
batalha espiritual. Reuníamo-nos constantemente para
jejum e oração a favor de Jijo.
Mal ele poderia entender que o clamor da igreja
visto em sonhos era por ele mesmo. Foram 17 dias de
lutas. As orações eram intermináveis. No décimo oitavo
dia, milagrosamente, para surpresa geral do hospital e de
todos, ele abriu os olhos e saiu do coma.
Esse irmão, que o inimigo queria ceifar, tornou-se
um dos grandes obreiros da igreja. Ele serviu a igreja por
muito tempo como motorista de ônibus para buscar
pessoas de muito longe e levá-las aos cultos.
Deus avisou essa família antecipadamente,
mostrando a razão do acidente. Ele revelou que haveria
lutas (águas agitadas), mas que uma igreja estaria
clamando. Mostrou que ele ficaria separado por um pouco
de tempo da família, mas voltaria.
A soberania, o domínio, o controle de Deus sobre
todas as coisas ficou evidente para essa família, que
jamais vacilou novamente diante das lutas.
Pedindo direção a Deus
Tempos atrás minha esposa estava diante de um
problema que envolvia uma das nossas filhas. A situação
era muito confusa. Como nosso Deus não é um Deus de
confusão, na sua oração pré-sono ela pediu que o Senhor
a esclarecesse sobre o que estava acontecendo. Naquela
mesma noite, em sonhos, o Senhor revelou nos mínimos
detalhes todas as chaves do mistério. Mostrou a pessoa,
o pivô da história, um dos líderes da igreja. Mas o mesmo
Deus deu sabedoria para agir e resolver os problemas. A
verdade é que Deus pode responder questões nos sonhos
quando pedimos.
Contaremos mais duas experiências nessa área
através de Aparecida Fritz. A primeira, foi quando ela
estava se desfazendo de uma pequena avícola que não
estava indo muito bem. Naquela semana apareceu um
senhor que perguntou sobre o negócio. Como a resposta
fosse pessimista, ele propôs alugar aquele prédio por dois
anos, por um valor até alto, desde que em uma semana o
prédio estivesse desocupado. Parecia uma “bênção de
Deus”.
Na véspera de fechar o negócio o coração dela
estava carregado. Ficou um tempo em oração pedindo
direção do Senhor. Naquela noite ela sonhou que estava
na avícola querendo jogar um lixo para fora. Porém, uma
serpente entrelaçada a impedia. A serpente queria dar o
bote e a perseguia para todos os lados.
Assim, ela tomou a iniciativa de não mais alugar
para aquele homem. Três meses depois, soube que ele
era um advogado e que faria daquele prédio um centro
espírita. Se ela não tivesse tido a resposta do Senhor,
teria que conviver com uma atividade condenada pelas
Escrituras (comunicação com os mortos, de acordo com
Deuteronômio 18.11 e outros textos) ao lado de sua
casa. Louvado seja Deus que responde as nossas
orações.
A segunda experiência foi quando as coisas não
iam bem para a família. Havia problemas principalmente
com o seu irmão, que tinha alguns caminhões de
transporte e estava perdendo tudo. Antes de dormir, fez
uma oração fervorosa ao Senhor. Dormindo, sonhou com
um milagre de uma "imagem" na parte exterior da casa.
Aquela "imagem" era a porta aberta para o inimigo que
estava atormentando aquela casa e o milagre era
maligno. Ao acordar, teve uma visão exata do lugar onde
estava a "imagem". Falou com seu pai e seu irmão, mas
ninguém deu crédito.
Após muito insistir, seu irmão foi ao lugar descrito.
Não havia nada lá. Mas, ao quebrar umas tábuas
divisórias, atrás delas estava a “imagem” exatamente
como ela vira no sonho. Era como uma “capelinha” entre
o forro e o telhado de uma casa velha. Não havia nada lá,
mas, ao quebrar umas tábuas divisórias, atrás delas,
estava a “imagem” exatamente como ela vira no sonho.
Então, a destruíram.xxiii
Deus orientando nossas vidas
Deus fala por meio de uma voz audível, por meio
de sonhos e visões. No capítulo 3 de 1 Samuel, o Senhor
falou em sonhos com um jovem que seria um dos
maiores profetas do Velho Testamento, Samuel. Instruiu
esse jovem e lhe disse que iria destruir a casa do atual
sacerdote, que não disciplinava seus filhos.
Em 1 Reis, capítulo 3, também em sonhos, o
Senhor falou a outro jovem dando-lhe orientação e graça.
Nesse mesmo livro, Deus voltou a falar em sonhos a esse
homem mostrando Sua satisfação pela obediência e
dando novas orientações.
Muitos outros exemplos poderíamos usar através
da Bíblia. Mas isso não é apenas para o passado e
somente para algumas pessoas. É para hoje e para todos
nós que temos uma vida cristã autêntica e temos o
Espírito Santo de Deus.
Quando retornei dos Estados Unidos, em julho de
1992, o Senhor mostrou-me um trabalho ministerial que
seria implantado e que eu teria uma equipe comigo.
Mostrou-me que Ele não queria "estrelismos", mas que o
grupo de trabalho fosse destacado.
Como Ele realmente abriu as portas para que
fôssemos morar em Jundiaí, procurei um pastor com uma
visão muito parecida com a minha, amigo de infância,
que morava numa cidade próxima e estava iniciando um
bonito trabalho em Jundiaí. Queria agilizar, ganhar
tempo.
Parecia um casamento perfeito. Tudo se encaixava.
Tudo estava estruturando com muita perfeição. Numa
daquelas noites tive um sonho que, ao tentar chegar a
um local, encontrei um atalho que realmente encurtava
caminho. Era uma montanha em que eu descia
rapidamente, com facilidade e destreza. Porém, ao
chegar na base da montanha, o atalho terminou e havia
um abismo onde se tornava impossível continuar; mas
não tinha outro recurso.
Não levei muito a sério esse sonho. Entretanto,
algumas semanas mais tarde, sem entender bem o que
tinha acontecido, percebemos que nosso projeto
estacionou e não havia maneira de levá-lo à frente. Com
muita tristeza de ambas as partes, não pudemos iniciar
aquele trabalho em Jundiaí da maneira que eu pensava
ser o certo.
Uma outra iniciativa foi querer trabalhar junto à
ADHONEP (Associação de Homens de Negócios do
Evangelho Pleno) de Jundiaí, um excelente trabalho onde
Deus abençoava muito. Como pastor sem vínculo com
nenhuma igreja, parecia ser ideal estar com aqueles
irmãos.
Então, tive outro sonho em que precisava atingir
uma rodovia muito movimentada, com trânsito livre e
bom. Via a rodovia de longe, mas não conseguia chegar
nela. Peguei uma estrada de terra que parecia-me dar
acesso à rodovia. Todavia, estava de frente a um lago,
sem possibilidade de continuar o percurso. Quase afundei
no lago, mas foi possível, com muita decepção, retornar,
sem, porém, encontrar o acesso à rodovia. Assim,
também, o meu "namoro" com a ADHONEP não deu
certo, embora tudo levava a crer que fosse o melhor
caminho. Quase que imperceptivelmente as portas foram
se fechando e eu retornei, buscando o caminho certo
para minha vida.
Numa outra tentativa de me reunir na casa de uma
irmã aos domingos de manhã para oração, tive outro
sonho. Sonhei que era motorista de um ônibus com
passageiros dentro e estava diante de alguns atalhos;
peguei um caminho que não tinha saída. Tive que voltar
para encontrar o caminho certo. Incrível, mas essa
tentativa também não deu certo, embora tivéssemos
recursos, pessoas interessadas e tudo a favor.
Só que esse sonho adicionou uma informação
muito importante: havia passageiros no ônibus que eu
dirigia, ou seja, havia um pequeno grupo de pessoas que
estavam em função da minha liderança e, juntos,
deveríamos atingir algum lugar. Já não éramos só nós,
mas um grupo.
Então eu questionei ao Senhor: “Não é mais fácil o
Senhor colocar placas nas estradas dos meus sonhos e
me dirigir para o local certo, em vez de mostrar que eu
estou tomando caminhos errados?”
Uma coisa que precisamos entender sobre Deus é
que Ele tem um tempo para as coisas. Primeiro, Ele
queria que conhecêssemos um grupo de pessoas com
muitos dons e potencial espiritual, mas que estava
afastado de igrejas ou até vacinados contra elas (os
passageiros dos ônibus). Como eu não estava vinculado a
nenhuma igreja, ficou mais fácil e simples aproximarmos
desses irmãos.
Numa reunião que fizemos em janeiro de 1993,
todos foram unânimes em que eu deveria voltar para a
“Igreja Evangélica X” e eles nos acompanhariam. Fiquei
surpreso com essa proposta, mas pensei que a “mão” do
Senhor nos havia conduzido e mostrado o caminho certo
a tomar no tempo certo.
Certamente, se começássemos outra igreja em
Jundiaí, exatamente onde havíamos fundado a “Igreja
Evangélica X”, confundiríamos a comunidade cristã na
cidade e correríamos o risco até mesmo de causar divisão
na igreja que havíamos começado.
Assim, Deus foi mostrando em sonhos os atalhos
que eu não deveria tomar, até o momento, ao Seu
tempo, em que Ele indicaria o caminho certo que havia
traçado para mim e para as outras vidas.
Ao final da reunião em que o grupo decidiu ir para
a “Igreja Evangélica X”, ao orarmos, um irmão teve uma
visão de um avião que estava se movimentando numa
pista, pronto para levantar voo.
Sonhos não interpretados, sofrimento à vista
Meu retorno para a “Igreja Evangélica X”, dirigido
por sugestão de irmãos, trouxe-nos muitos sofrimentos.
Creio, em primeiro lugar, que o Senhor queria me ensinar
mais coisas sobre os sonhos, principalmente sobre
aqueles que eu não soube interpretar e não persisti na
busca da interpretação.
Logo após a nossa ida para os Estados Unidos eu
tive um sonho impactante. Sonhei que estava dando o
meu filho Nathan, de menos de um ano de idade, para
alguns homens. Parecia que era algo sem retorno. Sofri
muito, pois Nathan era um filho "temporão" (foi o nosso
quarto filho, quando o caçula já tinha dez anos). Nathan
significa "Presente de Deus" (realmente para nós foi um
grande presente).
Não entendi porque no sonho eu estava dando meu
filho. Sofria muito. Minha esposa e os outros filhos
perguntavam, no sonho, onde o Nathan estava. Disse-
lhes que o havia dado. Eles riam, pois não acreditavam;
mas era verdade.
Por alguns dias fiquei tentado interpretar aquele
sonho. Não consegui. Algumas semanas mais tarde recebi
uma carta da “Igreja Evangélica X” em que meu
substituto perguntava sobre a possibilidade de eu
renunciar à presidência da Igreja para que eles pudessem
constituir uma nova diretoria e ter maior flexibilidade na
administração daquela igreja. Tudo aquilo parecia-me
lógico, pois não é nada fácil administrar baseado numa
procuração. Assim, eu e a minha esposa renunciamos por
carta à presidência daquela igreja. Esta era a
interpretação do sonho. Para mim aquela igreja era como
um "filho" e eu a estava transferindo definitivamente para
outros.
Já no Brasil, após o meu retorno à igreja, como
narrei no item anterior, comecei a perceber que a visão
atual era diferente daquela que Deus havia nos dado para
implantar.
Mais tarde tive outro sonho com o Nathan. Ele
tinha mais ou menos sete anos de idade (no sonho, pois
na vida real ele tinha três) e estava diferente, tomando
um rumo de vida diferente do que eu desejaria. Ele era
como um filho indo para outros caminhos. Senti medo
que ele pudesse ser atropelado, morto, mas parecia que
eu não podia mais interferir em seu caminho.
Ao acordar, entendi que o Nathan representava
novamente a “Igreja Evangélica X”, pois naquele
momento aquela igreja estava entrando no sétimo ano de
vida; entendi o primeiro sonho em que eu havia dado o
Nathan, ou seja, renunciei à presidência da igreja e que o
Nathan, sem mim, com outra direção, poderia significar a
igreja sem a visão inicial, ou seja, a minha própria
visão.xxiv
Uma vez, um irmão que não nos conhecia, ao orar
por nós, mandou-nos um recado dizendo que não
havíamos obedecido a Deus quando voltamos para lá.
Realmente, Deus nos avisara em sonho. Faltou-nos
sabedoria.
No mês de setembro de l993, no meio de muita
angústia, tive um sonho que estaria começando a
construção de um edifício novo e que ainda havia um
edifício antigo que Deus cuidava.
Naqueles dias fiquei sabendo que havia uma casa
para alugar exatamente no lugar onde Deus me havia
mostrado em sonhos há algum tempo (conforme narrado
no item "Deus orientando nossas vidas"). De uma forma
milagrosa, conseguimos alugar aquela casa e iniciamos
uma nova igreja com o nome de "Centro Comunitário
Cristão", que começou com uma equipe, conforme
narrado anteriormente.
O Centro Comunitário Cristão (CCC) começou em
31/10/1993 como uma igreja independente, porém,
dentro daquilo que chamamos de "ministério de consertar
redes". Em Mateus 4:18-22, Jesus chama Pedro e André,
que lançavam redes ao mar ("Vinde após mim, e eu vos
farei pescadores de homens"); também chama João e
Tiago, que estavam consertando redes (João enfatiza o
amor, a comunhão na igreja).
Quando iniciávamos o CCC, tive diversos sonhos
que na entrada da cidade de Jundiaí havia
congestionamentos. Era como que muita gente, de
diversos lugares, desejando ver algo que estava
acontecendo na cidade. Nestes sonhos eu subia num
monte alto para explicar o que estava acontecendo, só
que nunca me lembrava do conteúdo destas explicações.
Em 1996, tivemos a primeira visita do pastor
canadense Paul White, de Toronto, Canadá, onde
acontecia um grande avivamento espiritual. Este irmão
(juntamente com outros pastores) teve uma visão de um
projeto de Deus para a unidade da Igreja em Jundiaí.
Logo em seguida, começamos a fazer reuniões periódicas
com quatro denominações cristãs. Este projeto chamava-
se ENCHEI-VOS (do Espírito Santo).
Todavia, o ENCHEI-VOS não durou muito tempo. O
Senhor nos deu uma direção que deveríamos nos reunir
no templo usado pela Comunidade Cristã Pró-Família
(CCPP). Assim, fizemos uma parceria que, na primeira
década deste século, deu origem a UMA unidade com
mais outras duas denominações: Comunidade Cristã Ide
(CCI) e Comunidade Cristã Missionária (CCM). Em
26/02/2011, tornamo-nos uma só comunidade.
Essa unidade nos deu autoridade para buscar
diálogo e comunhão com diversas outras denominações
cristãs. Em agosto de 2013, o bispo católico da cidade de
Jundiaí, com outros cinco padres, iniciou reuniões
periódicas nesta cidade com pastores do CONPAS
(Conselho de Pastores). Nessas reuniões estudamos a
Palavra de Deus, oramos, pedimos perdão e
confraternizamos.
Dessa forma, creio que as explicações daqueles
sonhos se relacionam a avanços na reconciliação do
Corpo de Cristo em consonância com a oração de Jesus
em João 17:21, a Unidade do Corpo.
"...a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó
Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em
nós; para que o mundo creia que tu me enviaste."
Deus revelando a você
Se temos o Espírito Santo, Deus fala conosco.
Precisamos tomar cuidado com terceiros que vêm nos
contar sonhos. Deus confirmará ou não; portanto, esteja
atento. Uma experiência interessante aconteceu com a
mãe de Loren Cunningham:xxv
Certa vez, numa manhã de fevereiro, três meses
depois da experiência em que eu havia perdido o
dinheiro das compras, aprendemos outro princípio
espiritual que teria um papel muito importante
para nós pelo resto da vida. Estávamos sentados,
tomando o café da manhã, quando papai nos
avisou que iria ausentar-se de casa por alguns
dias. Como eu estava com dez anos, deu-me
instruções para tomar conta da família, enquanto
estivesse fora.
“Vou para Springfield, Missouri,” disse ele. “Fica
muito longe daqui, mas com o telefone e tudo o
mais, nós manteremos contato.”
E foi pelo telefone que recebemos a desagradável
notícia. Papai estava com apendicite. Não poderiam
operá-lo, pois tinha peritonite também. Com a
escassez geral devido à guerra, não se achava
penicilina. A morte dele seria apenas questão de
tempo.
Mamãe recolocou o telefone no gancho e disse que
precisávamos orar – e muito. Enfiei-me atrás do
sofá e fiquei ali orando durante várias horas.
Passaram-se dois dias e o estado de papai
continuava do mesmo jeito. Tínhamos que receber
uma palavra diretamente de Deus – uma
mensagem que nos fortalecesse para que
permanecêssemos firmes. Foi então que aconteceu
uma coisa da qual nunca me esquecerei.
Três dias depois que soubemos da doença de
papai, alguém bateu à porta. Fiquei olhando para
mamãe, enquanto ela abria a porta ao ar frio
daquela manhã de fevereiro. Ali estava um dos
homens da igreja. Era um crente que me lembrava
um diretor de funerária que eu vira certa vez, com
sua fisionomia carregada e olhar agônico. Ficou ali
parado, com uma expressão mais sombria ainda,
revirando nas mãos seu chapéu de feltro, como se
estivesse com medo de dizer o que lhe ia na
mente.
“O que foi?” indagou mamãe, sem timidez. "Irmã",
disse afinal o sujeito esquelético, “Deus me revelou
num sonho que seu marido irá voltar para casa
num caixão.”
Senti minha língua pesada na boca. Continuei a
olhar para o rosto de minha mãe. Ela pensou por
uns instantes e depois lhe disse: “Olha, irmão"
(falou num tom de voz bondoso, mas com grande
firmeza), "agradeço muito o senhor por ter vindo
aqui para me dizer isso. Embora seja uma
mensagem muito dura, prometo-lhe que pedirei a
Deus que nos revele se esse sonho veio mesmo
dele. Já que se trata de um assunto tão
importante, creio que Ele me revelará também,
não é?”
Era mais uma afirmação do que uma pergunta e,
assim dizendo, ela agradeceu ao homem mais uma
vez. Em seguida ela foi orar: “És tu mesmo,
Senhor? Prometo-te que aceitarei as palavras
desse irmão, se elas forem provenientes de Ti. Só
peço isso: Que eu possa sabê-lo com certeza."
Minha mãe tinha um relacionamento de fé tão
profundo com o Pai celestial, que ela realmente cria
que Ele iria responder-lhe, já que se tratava de um
problema tão importante e que Ele responderia
como um Pai, sem nenhuma sombra de dúvida.
Então ela entregou o problema nas mãos Dele e foi
dormir.
No dia seguinte, quando nos sentamos à mesa
para tomar a refeição da manhã, mamãe colocou
Janice em sua cadeirinha e em seguida disse que
tinha uma boa notícia para nós.
“Tive um sonho esta noite”, falou comigo e Phyllis.
Ficamos em silêncio. “E então?”, perguntamos. “Em
meu sonho, papai estava voltando para cá de trem,
e estava de pijama.”
E foi exatamente isso que aconteceu. Pouco depois
recebemos a notícia de que papai se recuperara o
suficiente para voltar à Califórnia. Ele demorara
para conseguir os arranjos necessários à viagem
devido à guerra, que dava prioridade aos militares.
Mas, com a ajuda de amigos, arranjou lugar num
carro dormitório. E assim ele chegou exatamente
como mamãe havia dito: de trem e de pijama. Ao
chegar à estação, ele enfiou a calça mesmo com o
pijama. Foi uma cena muito engraçada, nós
andando ali, amparando nosso pai ainda fraco e
trêmulo, que arrastava as chinelas. Mas ele não se
importava nem um pouco. Nós também não. O
importante era que ele estava de volta.
Mais tarde, mamãe comentou como é séria a
questão de se receber direção de Deus por meio de
outra pessoa.
“Receber orientação de Deus através de outrem é
uma coisa muito delicada”, disse ela. “Por meio de
outras pessoas podemos receber uma confirmação
de algo que já sabemos. Mas quando Deus tem
uma revelação importante para nós, Ele fala
diretamente a nós.”
Reconstruindo um casamento
As coisas não estavam boas para um determinado
pastor: seu casamento estava falido. O motivo da quase
separação era muito forte e a reconciliação parecia
praticamente impossível. Deus o afastara do seu
ministério. Era um tempo do Senhor trabalhar naqueles
corações. Havia um esforço mútuo de perdão, mas não
estava sendo suficiente.
Numa noite ele sonhou que estava sendo
preparada uma festa de casamento. Os convidados
começaram a chegar. Notou que eram pessoas muito
especiais para ele, para sua esposa e para seus filhos.
Eram pessoas tão queridas como sua mãe, uma de suas
irmãs que os amava muito, um tio muito amado de sua
esposa e outras pessoas não menos especiais. Algumas
dessas pessoas se preocupavam com os comes e bebes.
De repente, ele entendeu que era ele mesmo e a
sua esposa que iriam se casar, mas não estranhou que
eles eram o centro daquela festa. O que trouxe profundo
impacto é que não havia pastor para celebrar aquele
casamento. Quem poderia fazê-lo?
Depois de refletir sobre o assunto, percebeu que se
não houvesse casamento aquelas pessoas queridas
ficariam profundamente frustradas. Alguns vieram de
longe especialmente para o evento. Assim, ele começou a
contemplar aquelas pessoas uma a uma e, para que elas
não sofressem aquela frustração, ele mesmo resolveu
fazer seu casamento.
“Mas como pode ser isso?”, ele se perguntava.
“Como posso eu mesmo simultaneamente ser o noivo e o
pastor que está celebrando o casamento?” Todavia, a
decisão estava tomada: aquela festa de casamento iria
acontecer e o pastor celebrante seria o próprio noivo.
Ao acordar não teve dificuldade em interpretar o
sonho. Não era só o esforço de perdão que Deus queria,
mas a realização de um novo casamento entre aquelas
vidas. Vidas novas debaixo de novos padrões.
O que iria impulsionar aquele novo casamento que
estava no coração de Deus? Além do esforço do perdão
que já estava existindo (pois houve a iniciativa dos
noivos, no sonho, de marcar a celebração do casamento),
o marido pôde entender que iria magoar profundamente
pessoas tão amadas da família, amigos e irmãos na fé se
aquela união não se consolidasse.
Ele, que havia sido instrumento de Deus para
ministrar a Palavra para muitos que através dele se
converteram; ele, que havia sido um vaso precioso na
reconstrução de muitos casamentos, famílias e vidas; ele,
que era visto como um modelo de servo de Jesus...
Quantos iriam se queimar espiritualmente se aquele
casamento fosse destruído? Quantos da família
(principalmente sua mãe, já com idade; sua irmã, seus
tios) teriam suas estruturas abaladas e certamente uma
raiz de profunda tristeza? Valeria a pena lutar para que
essas tragédias não se tornassem realidade!
A nova base desse casamento seria que ele se
tornasse o marido e o pastor daquela união. Deus estava
dizendo, e ele podia entender bem isto, que ele pastoreou
muitas ovelhas, mas relegou a um segundo plano a
principal e a mais preciosa ovelha: a sua esposa.
Ao mesmo tempo em que ele era chamado para
pastorear sua esposa, Deus ensinava que a reconstrução
daquele casamento estava na sua mão. Ele conhecia a
Palavra e o poder de Deus e agora era necessário aplicar
tudo aquilo em conjunto com o perdão. Ser marido e
administrar aquele casamento como embaixador de Jesus
era o que Deus lhe mostrava por meio daquele sonho.
Além disso, Deus lhe dava a certeza de que a
separação não seria uma tragédia apenas para ambos e
os filhos, mas para um grupo de pessoas muito especiais
que iriam se desestruturar completamente e que jamais
poderiam entender o que acontecera.
O mesmo Jesus, que numa festa de casamento
(bodas de Caná) transformara água (que simboliza morte
– água batismal) em vinho (que simboliza sabor
agradável, festa, alegria), estava lá, na celebração
daquele casamento, para transformar as raízes de morte
e amargura em profunda alegria e festa. Por tudo isso,
aquele pastor tomou a decisão de refazer seu casamento,
dando a cobertura necessária para sua esposa.
Quando a Palavra de Deus fala em "véu", isso
significa "cobertura". Em 1 Coríntios 11:3-16 a Bíblia
mostra que, assim como Deus é a cabeça de Cristo
(cobertura de Cristo), Cristo é a cabeça (cobertura) do
homem e o marido é a cabeça (cobertura) da esposa.
Primeiro o marido se coloca debaixo da cobertura de
Cristo, para, em seguida, dar a cobertura e pastorear seu
maior bem na terra: sua esposa.
Esse casamento foi refeito em novas bases e o
Senhor do céu e da terra tem abençoado esse pastor, sua
esposa e sua família.
O consolo de Deus
Uma igreja (templo) do interior tinha na sua parte
de trás (uma espécie de quintal) duas mangueiras
(árvores) enormes e fortes. Pensavam derrubar as
mangueiras para a construção de uma cantina.
Um dos membros mais conhecidos daquela igreja
era o irmão Nilton, presbítero, dentista muito amado na
cidade, pois todos que precisavam tinham seus dentes
restaurados mesmo que não tivessem dinheiro. Ele
acolhia em sua casa aqueles irmãos de longe que vinham
tratar os dentes e precisavam ficar hospedados, às vezes,
até quinze dias para o tratamento. Além de, algumas
vezes, nada receber, ainda hospedava aquelas pessoas.
Uma amizade muito profunda nasceu entre esse
irmão, que por dezenas de anos estava naquela igreja, e
um dos pastores que ministrou por um tempo nessa
mesma igreja. Estavam sempre juntos nas reuniões, nas
convenções, nos encontros, nas visitas.
Quando o pastor partiu para outra cidade não
muito longe de lá, em nada aquela amizade cristã foi
prejudicada. Bastava o presbítero ficar doente ou ter um
problema, lá estava o pastor expressando seu amor. Não
importava o horário, a distância, as condições, mas, sim,
estar junto no momento que um precisava do outro.
Mas, algum tempo antes dele se mudar para
aquela cidade e conhecer o irmão Nilton, ele teve um
sonho: Ele pastoreava uma igreja e, no pátio dessa, havia
duas mangueiras frondosas, mas precisaram cortar uma
delas para uma construção necessária. Ao cortarem uma
das mangueiras a outra secou e logo morreu.
Esse sonho foi contado pelo pastor ao se mudar
para aquela cidade e ver as duas mangueiras no terreno
da igreja. Ele mesmo procurara a interpretação várias
vezes sem resposta. Contara o sonho a várias pessoas
sem, contudo, encontrar uma interpretação satisfatória.
O pastor sabia que o sonho tinha um significado
figurativo e não real. O importante é que o sonho foi
contado, simplesmente contado: o profeta que tem um
sonho, conte o sonho. (Jeremias 23:28)
Com o passar do tempo, o irmão Nilton, que se
preocupava muito com a saúde dos outros, mas não com
a sua, foi acometido por uma doença que lhe provocava
hemorragia. Poderia viver muito tempo se tomasse
alguns cuidados recomendados pelo médico. Como
realmente não dava atenção para o seu estado de saúde,
sua esposa teve que policiá-lo de dia e de noite para que
ele cumprisse as determinações médicas.
Todavia, ele conseguia burlar a vigilância da
esposa, levantando, às vezes, além da meia-noite,
quando ela estava dormindo, para quebrar o regime.
Outras vezes pegava pesos, o que era terminantemente
proibido pelo médico. Quando ele percebia, o travesseiro
estava cheio de sangue. Isso aconteceu por várias vezes
e sempre o pastor amigo aparecia para orar e levar
consolo.
Na terceira vez, estando ele muito mal, para que
sua esposa não soubesse, pediu que ela fosse à cidade
resolver um problema para ele. Ele sempre tinha
esperança que a hemorragia acabasse sem intervenção
médica.
Horas depois ele foi encontrado no banheiro,
inconsciente, após ter perdido muito sangue. Foi
imediatamente levado para o hospital e transferido para
uma cidade maior. Como insistisse em ficar sentado (o
que era muito perigoso para o estado dele), ao chegar ao
hospital sentou-se e imediatamente entrou em estado de
coma. À noite recobrou os sentidos e contou toda a
história para um sobrinho médico, dizendo que carregara
muito peso (saco de milho) e que havia escondido de sua
esposa mais uma vez.
Ele não resistiu, morreu ao amanhecer do dia. Uma
dor profunda começou a tomar conta da sua esposa:
Teria sido ela relapsa na sua vigilância? Poderia ter
evitado aquela morte tão precoce? Por que Deus
recolhera Seu filho tão cedo? Era vontade de Deus ou
tinha sido falha principalmente dela? Parece que não
existia palavra que consolasse aquela mulher.
Seu amigo pastor estava lá junto, dando apoio,
trazendo consolo. Uma hora e meia após a morte do
irmão Nilton, o pastor, completamente tranquilo, saiu
com o seu carro. Logo sentiu-se mal e saiu para o
acostamento; nunca mais iria dirigir aquele carro: estava
morto, sem praticamente ter qualquer tipo de problema
de saúde que o levasse àquele fim.
Foi naquele velório que, de repente, alguém se
lembrou do sonho: “Cortada a mangueira, a outra
morreria em seguida”. Realmente, o irmão Nilton era uma
daquelas mangueiras fortes e frutíferas. Quando ele
expirou, em questão de horas, a outra mangueira (o
pastor) murchou e morreu.
Aquela palavra foi como bálsamo para aquela
esposa. Deus estava no controle de tudo. O Criador do
universo era soberano sobre todas as coisas e interfere
nas pessoas como Ele quer. Não, não havia sido descuido
a morte do irmão Nilton; nem descuido da esposa, nem
descuido de Deus. O Soberano já havia anunciado Seu
domínio sobre o passado, presente e futuro para que a
dor daquele momento fosse amenizada e houvesse
consolo. A vontade de Deus foi cumprida conforme Ele
havia anunciado.
Ao escrever esse sonho, fiquei emocionado. Chorei,
porque já não se encontra esse tipo de amor entre
irmãos. Muitas igrejas estão longe da essência do
Cristianismo (que é o amor) e se tornaram verdadeiras
religiões, com usos e costumes, apresentações (shows) e
tudo aquilo que podemos chamar de religião.
Identificando o ministério
Entendemos que Deus fala em sonhos para mostrar
planos que Ele tem para nossas vidas, principalmente em
relação ao ministério. Um exemplo disso foi o que
aconteceu com uma irmã nossa chamada Maria Inês que
teve muitas experiências com sonhos, principalmente
após sua conversão a Jesus Cristo.
Seus sonhos ocorrem com mais frequência quando
ela está despreocupada e descansada. Tem interpretado
os símbolos somente com a ajuda de Deus. Ela pede e o
Senhor esclarece. Normalmente, quando há dúvida se o
sonho é de Deus e se a interpretação é certa, ela ora e,
em seguida, abre a Bíblia para observar se o texto bíblico
confirma o sonho. Ela entende que quando os sonhos
vêm de Deus, esses são mais reais e perceptíveis. As
cenas se repetem em sua mente e tudo vai ficando claro,
sem confusão.
Numa campanha para prefeito em Jundiaí, ela
participou ajudando um candidato, principalmente para
divulgar a Palavra de Deus. Alguns dias antes, sonhou
que estava subindo uma ladeira em uma caminhonete
onde todos se acumulavam em apenas um lado da
carroceria e o veículo estava tombando para aquele lado.
Nisso, Maria Inês estendeu sua mão para tentar pegar a
outra guarda da carroceria, o que parecia impossível
através do seu próprio esforço. Então, ela exclamou que
seria possível em nome de Jesus Cristo e conseguiu
alcançar a guarda do outro lado, dando equilíbrio à
caminhonete. E ela dizia: “Somos vencedores em nome
de Jesus Cristo”.
Na verdade, seu candidato, que estava subindo nas
pesquisas desde o início, começou a ter problemas na
última semana, trazendo um certo medo à equipe da
campanha (que eram as pessoas que estavam na
carroceria do veículo). Assim, no último dia da campanha,
de posse do conhecimento do sonho, todos os integrantes
da campanha diziam: "Somos vencedores em nome de
Jesus Cristo”. Na apuração dos votos todos estavam
tranquilos e as urnas confirmaram a vitória daquele
candidato.
Dos inúmeros sonhos que ela teve, o que mais
impressionou foi em relação ao seu ministério. Sonhou
com o seu pai. Sempre que sonha com o pai ela sente
que tem relação com a palavra “obediência”, pois sempre
foi obediente ao pai e isso lhe trouxe muitas vitórias. No
sonho, seu pai (simbolizando Deus) mostrava um jardim
com muitas mudas. Ele pedia para ela tirar as mudas
enraizadas e plantá-las numa terra fértil. Eram mais ou
menos quarenta mudas que seriam transportadas para
uma terra fértil. Para tanto, foi a uma floricultura buscar
terra. Encontrou lá um pastor que perguntou o que ela
estava fazendo. Ela não lhe contou os detalhes, pois ele
não poderia entender.
De posse da terra, perguntou a Deus: “Senhor,
onde é esse jardim?” (nos seus sonhos, Maria Inês faz
perguntas a Deus e Ele sempre responde). Deus
(simbolizado pelo seu pai) mostrou no alto uma igreja
com uma cruz na torre e disse: “Atrás daquela igreja é o
jardim”. Ela ficou assustada, pois é evangélica e aquela
era uma igreja católica. Reagiu, mas resolveu obedecer,
pois era seu pai mandando.
Passou-se algum tempo após o sonho quando,
então, ela foi convidada a participar de uma reunião
católica carismática. Achou absurdo o convite, mas
recebeu direção do Senhor que fosse. Ao chegar na igreja
e ser dirigida para a sala de reunião, atrás da mesma,
identificou que era exatamente o lugar mostrado no
sonho.
Eram em torno de quarenta mulheres carismáticas
católicas, que queriam deixar aquele lugar.xxvi Neste
momento, então, Maria Inês se lembrou de outra parte
do sonho em que ela perguntara ao Senhor: “Para onde
levarei essas plantas?” e o Senhor lhe respondera: “Isso
é comigo, não se preocupe.”
Alguns dias se passaram e as mulheres
oficialmente deixaram aquela igreja e o Senhor usou
Maria Inês para ajudar aquelas vidas a encontrar um
novo jardim, com uma nova terra, muito fértil, para
produzirem muitos frutos.
Através de novos sonhos ela ia sendo útil àquele
grupo. Sonhou com o triângulo simbolizando a Trindade
e, assim, ajudou as irmãs a entenderem que esta era a
ênfase que deveriam dar. Sonhou com pessoas que
estavam confusas e ajudou aquele grupo a ser um lindo
jardim para Jesus.
É interessante observar o encontro que ela teve no
sonho com o pastor e no qual ela não lhe deu
explicações. Deus mostrava que se ela explicasse ao seu
pastor que iria atender a um convite de uma reunião na
Igreja Católica, certamente ele não entenderia. Por isso o
Senhor a orientou nos mínimos detalhes.
Deus tem usado tremendamente essa sua serva
em sonhos, inclusive para dar recados a pastores,
recados às vezes bons e, outras vezes, ruins. Para
exemplificar um “bom”, ela sonhou que estava orando
com um pastor desconhecido, de bigode, dizendo: “É por
vontade do Senhor que você está aqui e o Senhor é
contigo.”
Passados dois meses, veio um novo pastor para
sua igreja. Ao vê-lo pela primeira vez, reconheceu-o
como sendo o pastor do sonho. Só que havia uma
diferença: Esse não tinha bigode. Um pouco hesitante,
ela foi orar com ele e disse as mesmas palavras do
sonho.
O pastor, muito emocionado, disse: “Irmã, há dois
meses pedi ao Senhor uma confirmação para ter certeza
se era para vir trabalhar nessa igreja. E, exatamente
agora, através de você, Deus está confirmando.”
Então, um pouco tímida, ela lhe contou do sonho e
do “bigode”. Aí ele riu e disse: “Irmã, eu sempre tive
bigode; só o cortei para vir para essa igreja com um novo
visual”. Ela sorriu e agradeceu a Deus pela Sua
fidelidade.
Deus revelando para intercessão
Na inauguração do novo templo do Ministério Cristo
Vive (Abril/1993) em Santa Rita do Passa Quatro, SP,
revelei, na minha mensagem, como Deus se manifestava
em minha vida através de sonhos. Ao final da mensagem,
uma jovem senhora me contou que Deus a usava muito
revelando informações importantes através de seus
sonhos. Pedi que ela escrevesse algumas dessas
revelações para fazer parte deste livro. Maria Emília de
Lara Belon narrou-me alguns dos seus sonhos, dos quais
transcrevo apenas dois com sua permissão. Os títulos dos
sonhos são da minha criação.
O julgamento
Sonhei estar em nossa igreja onde havia uma sala
com uma janela bem grande com desenhos
rústicos. A janela estava aberta, mas não havia
nenhum móvel na sala. Ao meu lado, como sempre
acontece nos meus sonhos, estava alguém (um
personagem) que me mostrava e falava tudo o que
ia se passando.
Em meio àquela quietude, de repente aquela
personagem me disse: “Olhe!” Olhei e vi o nosso
pastor com uma irmã que exercia algumas
atividades importantes para o corpo de Cristo na
área de louvor e ensino da Palavra para crianças.
Essa irmã estava noiva de um irmão da igreja que
também era abençoado em seu ministério. Aí o
anjo me disse: “Olhe para os filhos de misericórdia
que ele tem e fixe o olhar nele” (referindo-se ao
meu pastor). Dos seus olhos corriam lágrimas que
não cessavam; com sua mão direita sobre o peito
estava a sua Bíblia e ao seu lado a amada irmã!
Perguntei: “Por que ele chora? E por que ela está
ali? “Disse-me então: “Olhe!” Quando olhei havia
uma fila de irmãos; eu os conhecia, eram os meus
irmãos do dia a dia. Faltavam alguns, mas havia
muitos. Para a minha surpresa, eles passavam um
a um por eles (pelo pastor e pela irmã) e olhavam
como se estivessem julgando-a. Eu não conseguia
entender nada. Porém, de uma coisa eu tinha
certeza: eu podia sentir a dor que ia dentro do
coração do meu pastor (era enorme).
De repente, apareceu um ser muito estranho e feio
que senti não fazer parte do nosso meio. No
templo onde nos reuníamos havia uma escadaria
muito grande e bonita que dava acesso aos demais
aposentos. Logo pensei: “Será esse o maligno? Ele
é muito veloz e estranho”. Então a voz me disse:
“Veja do que ele é capaz”. Era incrível: ele subia as
escadas velozmente e voltava na forma de uma
criança; ria para mim e para o anjo de Deus (que
creio ter sido o personagem que me
acompanhava), que dizia: “Olhe agora.” O ser
estranho voava pelas escadas novamente e descia
agora em forma de um adolescente; depois em
forma de um idoso; eu não conseguia acreditar no
que os meus olhos viam.
O ser estranho se dirigiu à fila e começou então a
apontar para cada um que ali estava, dizendo:
“Você não me assusta, sei do seu pecado”. E,
então, um por um foi revelado; por fim ele parou e
olhou para o meu pastor que ainda se encontrava
em pé, com lágrimas nos olhos e disse: “Desse eu
tenho medo. Ele tem no seu olhar o olhar de quem
me criou; somente dele tenho medo aqui.”
Acordei na madrugada em choro e novamente
clamei a Deus. Pedi para Deus que guardasse essa
irmã; compartilhei com meu esposo (muitas vezes
era difícil para ele entender e crer) pois eu queria
que ele entendesse que Deus realmente me visita
muitas vezes nos sonhos.
Passaram-se um pouco menos de dois meses
quando eu e o meu esposo chegamos em casa
cansados após um final de semana de trabalhos na
igreja. Eu com o ministério de crianças (há 14
anos) e ele com adolescentes. No domingo à noite,
quando chegamos, ele me chamou no quarto para
que nossas filhas não participassem da conversa e
me disse: “Enquanto você ministrava para suas
crianças ocorreu uma reunião na igreja. Foi
declarado para os irmãos que a irmã... (que estava
no sonho) está grávida de aproximadamente três
meses. O pior é que seu noivo (nosso amado
irmão) não vai se casar, mesmo após cinco anos de
namoro e com quase tudo pronto para o
casamento. Ele não vai assumir nem ela, nem a
criança.”
Meu esposo confirmou que meu sonho se realizou.
Disse que nunca mais duvidaria deles. Em seguida
orei e disse: “Senhor, tu és digno do meu louvor;
quem sou eu para que estejas ao meu lado tão de
perto e me reveles tantas coisas?”
Foi feito uma assembleia e pedido para os irmãos
que os amassem, que os perdoassem. Em fila,
como no sonho, vi cada irmão indo até eles e mais
uma vez foi cumprido o que Deus me mostrara.
Após dois meses, essa irmã veio a perder seu filho
e vi, tal como havia visto no sonho, os olhos de
misericórdia e o pranto do meu pastor.
Creio que esse sonho me levou a orar
antecipadamente por aquela irmã e principalmente
pela igreja, para que não houvesse julgamento,
mas perdão e amor. Também pude orar pelo meu
pastor e conhecer quanto amor Deus havia
colocado naquele coração.
O missionário em apuros
Em 1990 este sonho foi dado em favor de um
missionário que se encontrava na Amazônia,
deixando bens materiais e tudo o mais que seus
pais podiam-lhe proporcionar, trabalhando com
uma tribo onde o índice de mortandade era muito
alto. O curioso dessa tribo é que esses índios se
suicidavam por tristeza e depressão. Era
monstruoso o número de mortes diárias e a tribo já
estava em perigo de extinção.
Há mais ou menos oito anos não tínhamos notícias
desse amigo missionário. Em sonho, vi o Senhor
que me mostrava uma cena e falava aos meus
ouvidos: “Veja o meu servo”. Vi o Reinaldo (o
missionário) sendo arrastado pelo Rio Amazonas e
seu corpo enroscado entre algumas pedras. O
tempo passava, já era noite e lá estava o corpo
como morto.
Ouvia uma voz que me dizia claramente:
“Interceda, clame por ele”. Eu disse: “Mas, Senhor,
por quê?” E novamente a voz me disse: “Chore,
clame, pois ele é meu servo”. Pedi ao Senhor para
que ao abrir os meus olhos fosse confirmado na
Sua Palavra tudo o que eu presenciara. No mesmo
instante acordei e, ao abrir a Palavra, deparei-me
com Jeremias 37:20 (“Agora, pois, ouve, ó rei,
meu senhor: que a minha humilde súplica seja bem
acolhida por ti...”).
Em prantos, pedi ao Senhor para que fizesse algo
pelo Reinaldo. Pedi para que seus anjos fossem até
lá e desembainhassem suas espadas e o
ajudassem. Durante todo aquele dia estive enferma
de alma e espírito. Chorava muito; havia uma dor
muito grande dentro em meu coração.
Novamente o texto de Jeremias veio ao meu
coração e me deparei com os versículos 17, 18, 19
e 20.xxvii Então concluí que o Senhor realmente
esteve tão perto de mim naquela madrugada e eu
não O percebi, da mesma forma que os dois
discípulos no caminho de Emaús!
Então, peguei o telefone e liguei para a avó dele.
Disse-lhe que gostaria de compartilhar com ela o
meu sonho. Pedi que orasse junto com sua igreja
por isso. Perguntei-lhe sobre Reinaldo e ela me
afirmou com toda precisão: “Ele está muito bem”.
Passados alguns dias, ela me telefonou e disse:
“Maria Emília, quero lhe agradecer muito, pois
alguns dias depois do nosso contato, meu neto me
telefonou. Realmente seu sonho aconteceu, na
mesma noite, da forma como você me explicou!”
Seu barco havia virado e a correnteza o havia
lançado em meio às pedras. Pelo grande tempo
que permaneceu ali foi picado por vários mosquitos
transmissores da malária; quando ele já não
suportava mais, não se sabe de onde, apareceu um
barquinho, com um pescador, que o recolheu!
Aleluia! Aleluia, Senhor!"
Mais tarde ele nos contou que naquela noite
pensou em abandonar o campo missionário. Mas,
quando soube do sonho e tudo mais, entendeu o
zelo e o amor de Deus sobre a sua vida, sentindo-
se amado e animado para seguir em frente!
Conclusão
Maria Inês saiu em férias com seu marido ainda não
convertido e toda sua família. Já na primeira noite, teve
um sonho horrível. Apareceu para ela uma mulher com
aparência de santa. No sonho, Maria Inês perguntou à
mulher quem ela era. A mulher, com uma imagem de
pureza, disse: "Eu sou a santa .......". Em seguida, após
alguns questionamentos feitos por Maria Inês, a santa
começou a dar gargalhadas diabólicas, revelando seu
verdadeiro objetivo: "Eu fui chamada para destruir seu
casamento e vou fazê-lo". Maria Inês ficou apavorada,
dizendo que, em nome de Jesus, ela não iria destruir sua
família. Nesse desespero ela acordou apavorada e passou
um dia terrível, entendendo que Satanás se disfarçou em
uma santa.
Seu marido, já naquela manhã, saiu para pescar.
Voltou logo em seguida com um anzol enroscado no seu
dedo. Não era um ferimento grave, mas como estivesse
muito nervoso, resolveu ir até um hospital da região. Fez
os curativos e voltou para sua família ainda mais nervoso.
Agrediu verbalmente sua esposa, dizendo aos demais
familiares que não via outra saída senão a separação.
Maria Inês estava surpresa com tudo aquilo. Não
havia razão objetiva para a atitude de seu marido. Estava
impossível dialogar. Ninguém se entendia. O marido
decidiu renunciar às férias e voltar sozinho para casa.
Recomendou que sua esposa e a família permanecessem
de férias. No entanto, Maria Inês sentiu direção do
Espírito Santo para voltar com o marido. As férias
estavam canceladas.
A volta da viagem foi horrível. Ninguém
conversava. Às vezes se ouvia soluços do marido. Todos
estavam arrasados. Quando chegaram, após a “poeira
assentar”, ela tomou a iniciativa de puxar o assunto e
perguntou a razão de tudo aquilo. O marido estava
confuso, não sabia explicar o acontecido.
Foi então que ela resolveu contar o sonho da noite
anterior. Seu marido arregalou os olhos e disse duas
coisas: A primeira é que o hospital em que ele fora tinha
o mesmo nome da santa que ela havia sonhado. A
segunda é que ele estava lendo um livro sobre a referida
santa e, entusiasmado pela leitura, rezou à mesa
pedindo: “Ou minha mulher deixa de ser crente ou então
quero me separar dela; por favor, ajude-me a resolver
esse problema!”
Em seguida, o marido reconheceu que o Deus que
a esposa servia era mais forte que aquela suposta
“santa”. Foi um passo para ele crer mais naquilo que ela
dizia, no evangelho. A esposa, com o coração grato a
Deus, expulsou em nome de Jesus aquele demônio por
trás daquela "santa".
Deus falou com ela, avisou-a que Satanás queria
destruir seu casamento. Mostrou o método que ele
usaria, atendendo os pedidos que os desavisados fazem a
determinados "santos". Os pedidos feitos às imagens
podem não ser tão inócuos como pensam muitos cristãos.
Assim como esse sonho impediu o fim dessa
família, certamente podemos estender esse princípio para
muitos outros filhos de Deus em situações semelhantes.
Deus avisa-nos, instrui-nos e orienta-nos através de
sonhos.
O ex-governador de Goiás, Iris Resende, cristão
desde criança, fez um depoimento bastante
interessante:xxviii
Na minha infância, aos cinco, seis anos, tive um
sonho. Eu e meus colegas de vez em quando
passávamos os sábados e os domingos na cidade,
onde moravam minha avó e meus tios. No sonho,
eles lutavam para subir numa palmeira e pegar um
cacho de coco maduro (muito apreciado pelos
garotos). Ninguém conseguia. Subi, peguei o cacho
e distribuí entre eles.
Em Cristianópolis havia um carpinteiro que
interpretava sonhos. Como menino disposto e
ousado, fui lá levar-lhe o meu. Ele me disse: "É
que você vai conquistar posição elevada na vida e
ser muito importante para seu povo e seus colegas
daqui."
Lembro que também minha mãe teve um sonho e
depois procurou o Antônio Machado: "A senhora
não tem que se preocupar! Vocês irão construir um
grande patrimônio razoável para os filhos: talvez
uns dois milhões de dólares para cada um!"
Esses sonhos mostram Deus dando esperança,
abrindo o futuro para seus filhos. Sabemos que isso não é
privilégio de ninguém; que Deus quer fazer o mesmo
para com todos Seus filhos. Todavia, não há mais
necessidade de você procurar um “carpinteiro” que
interpreta sonhos. Você mesmo pode fazê-lo, buscando a
sabedoria de Deus.
Eu e minha esposa conhecemos a Jesus dentro do
Catolicismo. Quando a Palavra de Deus se abriu para nós,
vimos que algumas coisas não estavam tão certas onde
frequentávamos. Entretanto, sentimos de Deus que não
era para sairmos de lá. Ficamos ainda quatro anos ali
falando das verdades bíblicas para aquelas pessoas muito
especiais para nós.
Na mesma semana, eu e minha esposa tivemos
revelação que era o momento de deixar aquela igreja. A
revelação para mim foi através de um sonho. Eu estava
entrando na Avenida Paulista em São Paulo com um bom
carro. Na minha frente estavam algumas senhoras com
roupas de freiras manobrando algumas Kombis e eu não
podia andar. Com muita dificuldade entrei na “larga”
Avenida Paulista, porém não conseguia deslanchar, pois
lá estavam as senhoras impedindo.
Com esse sonho entendi que eu não estava
conseguindo crescer espiritual e ministerialmente ali. Era
o momento de partir para um campo ministerial novo,
onde Deus Pai poderia nos usar com mais liberdade. Essa
decisão deu-nos muita paz. Com o passar do tempo
pudemos ver que a orientação era realmente de Deus e,
portanto, não houve erros, embora, a partir de 2009,
este mesmo Deus nos levava a ter comunhão com
católicos cheios do Espírito Santo, tendo como centro a
pessoa de Jesus Cristo.
Esses são alguns exemplos de como Deus fala em
sonhos. Cabe a cada um de nós crer nisso e, baseado em
alguns princípios aqui traçados, ter uma vida muito mais
dirigida pela sabedoria divina.
Notas sobre o Autor
José Carlos Marion, professor titular da FEA/USP onde
fez o seu mestrado e doutorado. Como docente e
pesquisador da Universidade de São Paulo, escreveu mais
de 30 livros na área contábil (alguns em coautoria).
Atualmente é professor na PUC/SP.
Na vida espiritual fez opção por Jesus Cristo como
seu Senhor e Salvador no final da década de 70. Sentiu-
se fortemente atraído pelo ministério pastoral e em 1987
seu chamado foi confirmado. Teve uma direção de Deus
para, junto com a sua esposa, começar uma igreja em
Jundiaí.
Em 1990, já com aquela igreja consolidada, foi
para Kansas, nos Estados Unidos, fazer pós-doutorado
em Contabilidade, através do projeto BID/USP –
especificamente para professores da USP. Durante dois
anos Deus propiciou, naquele país, novas experiências
nas áreas espiritual e ministerial. Foi aí que começou a
ser escrito esse livro.
Em 1993, junto com Harold Walker, um novo
desafio lhe foi confiado: começar uma obra que foi
denominada de "Centro Comunitário Cristão". Neste
período, diante das dificuldades deste desafio,
principalmente no que trata da diversidade de origens
denominacionais, surgiu outro livro (no início de 1995),
“A Marca dos Filhos”, que, em 2013, teve a 2ª Edição
Ampliada (em coautoria com o Pr. Luiz Roberto Cascaldi).
Na primeira década deste século lançou os livros
"Grandes Tesouros Tirados do Maior Livro do Mundo";
"Para Onde Iremos Daqui" (livro sobre o final dos tempos,
relançado em 2013 com o título "Para Onde Iremos
Depois da Morte"); "Ontem, Hoje e Amanhã com Jesus"
(em coautoria com Márcia Marion, ao comemorar 20 anos
de pastorado); e "Reconciliação - O Segundo Toque. A
Unidade do Corpo de Cristo e a Nova Evangelização" (em
2012, também em coautoria com Márcia Marion). Em
2016 lançou um novo livro, também tratando da unidade
entre os cristãos, com o título “Um só Corpo, Um só
Espírito, Um só Senhor”.
Atualmente tem o chamado para trabalhar
(contribuir), junto com sua esposa, na reconciliação do
Corpo de Cristo, na busca da unidade da Igreja Cristã.
NOTAS
i KELSEY, Morton T. Dreams: the dark epeck of the spirit. The other side of silence: Guide to Christian Meditation (Nova Iorque: Paulist Press, 1976). ii FOSTER, Richard J. Celebração da disciplina 2. Ed. São Paulo: Vida. Cap. 2. iii D’ARAÚJO FILHO, Caio Fábio. Síndrome de Lúcifer. 1 ed. – Minas Gerais Betânia. iv SOMETTI, J, Você é aquilo que pensa. São Paulo: Cidade Nova v JUNG, C. G. Memórias, sonhos, reflexos vi FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, Novo Dicionário Aurélio. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, l986 vii MURPHY, Joseph. O poder do subconsciente., 30 ed. Rio de Janeiro: Record viii Op cit., p.54 ix Idem, p. 166. x Fantástico. Pesadelos, Rio de Janeiro: Rede Globo, ed. 08/11/92 xi CHO, P. Yonggi. A Quarta dimensão. 13 ed. São Paulo: Vida xii CHO, Paul Yonggi, Op. Cit. xiii D’ARAÚJO FILHO, Caio Fábio. Op. Cit. p. 31. xiv Foster, Richard J. Op. Cit. xv SWINDOLL, Charles R. Como viver acima da mediocridade. São Paulo: Vida, 1992. xvi MUMFORD, Bob. A Patrola de Deus. Jundiaí, John Walker. xvii FOSTER, Rchard J. Op. cit. xviii FOSTER, Richard, Op. cit. xix KELSEY, Morton T. Op.cti. xx LEE, Witness. Estudo – Vida do livro de gênesis. Árvore da Vida. São Paulo, v.3. xxi LEE, Witness. Op.cit. xxii CUNNINGHAM, Loren. Pode falar, Senhor... estou ouvindo. São Paulo: Betânia. xxiii Embora a idolatria condenada nas Escrituras muitas vezes não tenha muita relação com certos usos modernos de imagens, pinturas e representações religiosas, pode haver uma ligação entre a atribuição que as pessoas dão a símbolos ou objetos e poderes sobrenaturais do mal, conforme Paulo explica em 1 Coríntios 10.19,20.
xxiv Hoje a "Igreja Evangélica X" está em Itupeva-SP, muito abençoada e próspera, com milhares de membros. Para isto Deus deu uma nova visão (diferente da minha), que a levaria a ser uma mega igreja. xxv CUNNINHGHAM, Loren. Op.cit. xxvi No início da Renovação Carismática Católica, muitos padres e bispos eram contrários. Assim, houve grupos católicos batizados no Espírito Santo que deixavam aquela Igreja. Todavia, com o tempo, a Renovação Carismática Católica foi aceita pela liderança e estas saídas deixaram de existir. xxvii “Mandou o rei Zedequias trazê-lo para sua casa e, em secreto, lhe perguntou: Há alguma palavra do SENHOR? Respondeu Jeremias: Há. Disse ainda: Nas mãos do rei da Babilônia serás entregue. Disse mais Jeremias ao rei Zedequias: Em que pequei contra ti, ou contra os teus servos, ou contra este povo, para que me pusesses na prisão? Onde estão agora os vossos profetas, que vos profetizavam, dizendo: O rei da Babilônia não virá contra vós outros, nem contra esta terra? Agora, pois, ouve, ó rei, meu senhor: Que a minha humilde súplica seja bem acolhida por ti, e não me deixes tornar à casa de Jônatas, o escrivão, para que eu não venha a morrer ali.” xxviii Revista Avos. nº 53, 1993.