DESPERTANDO A SENSIBILIDADE PELA MÚSICA COMO
INSTRUMENTO DE LINGUAGEM
Geane Maria de Moura Jorge Secatto1 Marly Catarina Soares2
RESUMO:
O projeto Despertando a sensibilidade pela música como instrumento de linguagem surgiu diante das dificuldades percebidas em sala de aula, com relação à interpretação e produção de texto. Foi um trabalho foi realizado através de intervenção pedagógica e do Grupo de Trabalho em Rede, no qual busquei levar para a sala de aula atividades diversificadas que estimulassem e motivassem os alunos tornando o processo de ensino de ensino-aprendizagem mais prazeroso. O projeto foi desenvolvido em duas etapas, a primeira através da aplicação de Unidade Didática na qual trabalhamos alguns poetas brasileiros, algumas poesias, músicas, vídeos, filme, um colóquio musical e criação de um livro intitulado “Sensibilidade”. A segunda etapa foi a tutoria do Grupo de Trabalho em Rede – GTR 2015, com professores da Rede Estadual de Ensino, através do Portal Dia a dia educação. Todo o trabalho desenvolvido buscou promover a valorização do processo de ensino-aprendizagem e de fornecer subsídios teóricos-metodológicos para aperfeiçoamento e reflexão sobre a prática pedagógica objetivando o aperfeiçoamento do professor. Palavras-chave: Música. Poesia. Produção. Sensibilidade.
1 Introdução
Frequentemente se ouve que o subdesenvolvimento deve-se à ignorância
da população em geral, desta forma tem que se reconhecer que o domínio da
leitura e a formação de um leitor competente e crítico é um objetivo a ser
perseguido pela sociedade. Sendo fundamental a transformação de grande
parcela de "ledores" em leitores competentes, capazes de ler criticamente a
realidade, as diferentes linguagens.
1 Autora, Professora PDE – 2014. Professora de Língua na Escola Est. São Pedro – Ens.
Fundamental, Telêmaco Borba, Paraná. [email protected] 2 Professora Orientadora, Doutora, Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG. PDE 2014.
Ler, nesta perspectiva, exige capacidade de reflexão, argumentação, e
posicionamento diante do objeto de leitura. E é, somente essa, a leitura que
capacita a população para a produção de bens, sobretudo, bens culturais.
A utilização de atividades lúdicas na educação surge como alternativa para
tornar o processo ensino-aprendizagem no desenvolvimento da linguagem, sendo
a música uma possibilidade instigante, pelo fato de essa manifestação cultural já
estar inserida no universo e no cotidiano dos alunos, especialmente em função da
facilidade de acesso pelo uso das novas tecnologias.
Porém, de que forma a música pode ser utilizada para despertar a
sensibilidade pela poesia e consequentemente o gosto pela produção literária nos
alunos do 7º ano?
A proposta deste trabalho é trazer para o espaço escolar experiências de
musicalidade que contribuam para um novo olhar a respeito da leitura e da
escrita. Nesse sentido cabem a nós, educadores, organizar as aprendizagens
fundamentais da linguagem musical para que os alunos construam conhecimento
crítico e sensível, para além das atividades de aprendizagem em sala de aula, as
quais devem, evidentemente, integrar um bom planejamento do ensino até o final
do Ensino Fundamental.
Buscando conciliar o processo de ensino/aprendizagem da linguagem
com a sensibilidade despertada através da música e da poesia enquanto
processo dinâmico, social e cognitivo; desenvolveu-se um projeto junto aos
alunos do 7º ano da Escola São Pedro – Ensino Fundamental, município de
Telêmaco Borba, Paraná, que teve como objetivo desenvolver ações que
possibilitem o despertar no aluno o gosto pela poesia a partir da música usando
de recursos variados como cinema, dinâmicas e outras ações como forma de
facilitar a expressão de seus sentimentos e emoções através do imaginário,
favorecendo assim a aprendizagem da língua portuguesa.
O trabalho foi desenvolvido com os alunos através de Intervenção
Pedagógica, durante o ano de 2015 através da aplicação de uma unidade
didática, composta de oito seções, com atividades diversificadas apresentadas de
forma mais prazerosa, voltados para o desenvolvimento da sensibilidade através
da poesia.
Espera-se assim, tornar as aulas de Língua Portuguesa mais atraentes e
mais produtiva, melhorando a qualidade na formação dos alunos, além de
desenvolver o gosto pela poesia e pela produção de textos, respeitando a
diversidade social e cultural existente na escola.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 O ENSINO DA LINGUAGEM
Pode parecer um paradoxo afirmar que a aprendizagem da língua
materna é bastante complexa, pelo fato que o homem é um ser social e, por ser
humano, se relaciona com os demais pela linguagem articulada. Falar é tão
natural quanto respirar ou se alimentar, porém educadores de diferentes áreas do
conhecimento encontram certa dificuldade em desenvolver essa habilidade nos
alunos da educação básica.
Segundo Zamproneo (2013, p. 48)
A linguagem se apresente como fundamento para toda a produtividade humana, seja sob a forma verbalizada ou artística. Relacionadas aos diferentes gêneros de discurso (resumo, resenha, romance, conto, poema, dissertação científica, piada etc.) estão as funções da linguagem, por meio das quais, entre outras atividades, informamos, convencemos, persuadimos, encantamos, divertimos alguém.
A grande dificuldade da educação na Língua Portuguesa está no
desenvolvimento de uma aprendizagem da língua portuguesa de qualidade, onde
os alunos possam dominar os signos linguísticos cumprindo a função social da
língua que tendo a capacidade de:
Empregar a língua oral em diferentes situações de uso, saber adequá-la a cada contexto e interlocutor, reconhecer as intenções implícitas nos discursos do cotidiano e propiciar a possibilidade de um posicionamento diante deles; - desenvolver o uso da língua escrita em situações
discursivas por meio de práticas sociais que considerem os interlocutores, seus objetivos, o assunto tratado, além do contexto de produção; - analisar os textos produzidos, lidos e/ou ouvidos, possibilitando que o aluno amplie seus conhecimentos linguístico-discursivos; - aprofundar, por meio da leitura de textos literários, a capacidade de pensamento crítico e a sensibilidade estética, permitindo a expansão lúdica da oralidade, da leitura e da escrita; - aprimorar os conhecimentos linguísticos, de maneira a propiciar acesso às ferramentas de expressão e compreensão de processos discursivos, proporcionando ao aluno condições para adequar a linguagem aos diferentes contextos sociais, apropriando-se, também, da norma padrão. (PARANÁ, 2006. p. 54).
Para que isso ocorra é necessário que o processo de ensino-aprendizagem
da Língua Portuguesa supere as práticas convencionais repetição e memorização
de regras gramaticais, de forma que a linguagem contribua para o
desenvolvimento do aluno nos seus diferentes aspectos, pois:
A língua é um sistema de signos específico, histórico e social, que possibilita a homens e mulheres significar o mundo e a sociedade. Aprendê-la é aprender não somente palavras e saber combiná-las em expressões complexas, mas apreender pragmaticamente seus significados culturais e, com eles, os modos pelos quais as pessoas entendem e interpretam a realidade e a si mesmas. (BRASIL, 1998, p. 20).
Neste sentido, ensinar e aprender a ler significa ir além da oralização e,
até mesmo, da compreensão do texto como um sistema fechado em si mesmo,
considerando a leitura como uma atividade discursiva que envolve a interação do
leitor, do texto, do autor e do contexto na produção de novos significados por
meio de uma atitude compreensiva e responsiva.
Segundo Gaia (2013, p. 9)
O ensino da leitura, dentro desse novo contexto informacional, vai além dos limites da alfabetização e do ensinar a ler e escrever. Desde o início do processo de escolarização, é necessário incluir atividades de letramento, a fim de que o próprio processo de leitura e escrita se torne uma oportunidade de adquirir informações úteis à melhoria dos níveis de vida, ou seja, torne-se uma atividade que promova a inserção social e a compreensão de mundo, abrindo caminhos para novas aprendizagens. O ato de ler torna-se um ato "real" que abarca todas as funções e todos os tipos de textos (verbais e não verbais) que circulam em nossa sociedade.
O ensino da Língua Portuguesa na educação básica deve se apropriar
dos mais variados recursos para torná-la mais atraente, garantindo assim
qualidade na leitura, escrita e oralidade. Especialmente na sociedade moderna,
denominada de “era da informação”, que proporciona aos alunos os mais
diferentes tipos de textos e informações, em função das novas tecnologias
disponíveis:
(as artes visuais, a música, o cinema, a fotografia, a semiologia gráfica, o vídeo, a televisão, o rádio, a publicidade, os quadrinhos, as charges, a multimídia e todas as formas infográficas ou qualquer outro meio linguageiro criado pelo homem), percebendo seu chão comum (são todas práticas sociais, discursivas) e suas especificidades (seus diferentes suportes tecnológicos, seus diferentes modos de composição e de geração de significados) (FARACO, 2002, p.101 In. PARANÁ, 2006).
Percebe-se no texto acima as inúmeras possibilidades de se trabalhar o
texto, algumas mais e outras menos convencionais na sala de aula, algumas
delas voltadas para a utilização do lúdico na aprendizagem.
Para Santos (2012), o lúdico destaca-se como uma forma de aprimorar o
processo educativo, posto que se trate de um recurso pedagógico que tem como
base a interação entre os indivíduos participantes que exercitam valores éticos e
morais, além de contribuir para a função primordial da escola: formar cidadãos
críticos e conscientes dos seus direitos e deveres.
A utilização do lúdico na educação não é recente, tendo como objetivo de
tornar o processo ensino-aprendizado mais atrativo para o aluno, conciliando
aspectos culturais com o conhecimento. Trata-se de um processo de superação
das aulas tradicionais com ênfase na gramática.
De acordo com San‟tana e Nascimento (2012), na Grécia antiga era
através dos jogos que se passava ensinamento às crianças. No Brasil colonial, os
jesuítas ensinavam utilizando brincadeiras como instrumentos para a
aprendizagem. Desde os primórdios, a metodologia lúdica sempre foi valorizada
pelos povos, sejam quais forem.
Para Tomaz e Sartor (2010), a utilização do lúdico na prática pedagógica
é importante, pois desperta a atenção e o interesse dos alunos envolvendo-os no
processo de aprendizagem. Aprender brincando pode se constituir numa forma
significativa de aprendizagem dos alunos. As atividades práticas na sala de aula
despertam e estimulam a criatividade, espontaneidade e participação dos alunos
tornando-os sujeitos de sua aprendizagem e garantindo melhores resultados.
Além de ser um momento de diversão e interação é fundamentalmente momento
de aprendizagem e construção de conhecimentos.
O uso do lúdico pode ser uma maneira de despertar o interesse do aluno
e também pode funcionar como meio de transformação deste aluno em termos
sociais, direcionando-o a uma vida integrada com a sociedade, comprometidos
com os valores sociais e os princípios de solidariedade (BARBOSA & JÓFILI,
2004).
A ludicidade, como elemento articulador, apresenta-se como uma possibilidade de reflexão e vivência das práticas corporais em todos os Conteúdos Estruturantes, desde que não esteja limitada a uma perspectiva a uma perspectiva utilitarista, na qual as brincadeiras surgem de modo descontextualizado, em apenas alguns momentos da aula, relegando o lúdico a um papel secundário. (PARANÁ, 2006, p. 55)
A música pode se apresentar como uma importante ferramenta lúdica para
o ensino da língua, pelo simples fato de estar muito presente na vida das pessoas
e especialmente das crianças.
2.2 A música como instrumento de linguagem
É notório que a música faz parte da vida de todo ser humano e que as
canções podem trazer em seus textos as estruturas linguísticas de uma
sociedade. Elemento inerente à vida humana desde os mais remotos tempos, a
música nunca foi tão amplamente acessível, divulgada, por isso há a hipótese de
que alguns professores acreditam que canções podem auxiliar no ensino dessas
estruturas.
Tatit (1987) argumenta que é inevitável entender que “quem ouve uma
canção, ouve alguém dizendo alguma coisa de uma certa maneira” (TATIT, 1987,
p. 6).
De acordo com Subtil (2006)
Na relação dos sujeitos com a música, vislumbra-se uma via de mão dupla. Os signos musicais combinados podem evocar emoções e afetos da mais diversas ordens. Ao longo dos séculos, são inúmeros os exemplos do uso de hinos e canções patrióticas, para agregação cívica; as músicas fúnebres provocam comoção e alimentam a tristeza; as músicas rítmicas e marcadas produzem movimento e assim por diante. Por outro lado os estados afetivos tristeza, saudade, amor, alegria, desejo, revolta e anseios políticos buscam correspondentes musicais disponíveis, uma vez que a indústria cultural coloca produtos para todas as circunstancias e para todas as preferencias. (SUBTIL, 2009, p. 18-19)
O gênero música, por nos remeter a contextos culturais de determinadas
comunidades (sertaneja, moderna, rural, sertanejo romântico, universitário,
pancadão, gaúcha, ktachak, forró, pagode, axé, etc.), coloca-nos diante de
tendências musicais que os brasileiros vêm assimilando. Isso nos leva a concluir
que a forma canção, pertencente originalmente à esfera artístico-musical, pode
dialogar com outras esferas, servindo de modelo para outros gêneros como
canções de amor.
Segundo Zampronha (2007)
Privilegiamos na educação o sentir e o pensar como premissas do conhecimento, atentando simultaneamente para o fato que somos um ser integrado e que vivemos imerso em um universo cultural que compreende múltiplos valores e diferentes visões do ser humano. Privilegiamos também pedagogias que se incorporam a estratégias cognitivas, artísticas e musicais, tendo em conta que a prática da música não só fornece condições para a compreensão e expressão de um fluxo de ideias e emoções como permite que os educandos operem semióticas que resultem em sentido para suas vidas. (ZAMPRONHA, 2007, p. 127-128)
Pela importância do gênero música e sua influência no comportamento
humano, determinando modos de falar, de agir e de pensar, entendemos que um
estudo sistematicamente organizado desse gênero trará contribuições para os
trabalhos escolares, auxiliando a entender a língua portuguesa numa perspectiva
transformadora.
A democratização da música na sala de aula é algo que vem se
popularizando. De acordo com Zampronha (2007)
Tendo em conta que as limitações do trabalho pedagógico decorrem da complexidade da psique humana e dos obstáculos próprios ao processo de amadurecimento, e considerando que no processo de seu desenvolvimento o educando se apropria dos resultados de milhares de anos de evolução cultural, cabe viabilizar na educação as múltiplas possibilidades oferecidas pela música. (ZAMPRONHA, 2007, p. 88)
Partindo desse pressuposto, acredita-se que a escolha do gênero canção
possa ser um instrumento do qual o professor possa dispor nas aulas de leitura e
produção textual, pois não é difícil atrair o aluno para este gênero devido a sua
popularidade, diferindo dos textos criados exclusivamente para exemplificação de
estrutura da língua.
A música sempre esteve associada às tradições e às culturas de cada época. Atualmente, o desenvolvimento tecnológico aplicado às comunicações vem modificando consideravelmente as referências musicais das sociedades pela possibilidade de uma escuta simultânea de toda produção mundial por meio de discos, fitas, rádio, televisão, computador, jogos eletrônicos, cinema, publicidade, etc. (BRASIL, 1998. p. 48).
No entanto, o professor deve respeitar a individualidade dos alunos,
levando em conta que a formação musical destes é diferenciada em função da
diferença de faixa etária e cultural entre professor e aluno, cabendo a escola sim,
apresentar os diferentes ritmos e estilos musicais de forma a propiciar o
crescimento intelectual, cognitivo e cultural do aluno.
Agindo dessa forma o professor estará garantindo a liberdade de
expressão e criando espaços para a criatividade na produção de textos musicais
e poéticos, permitindo que o aluno se comunique através da música estimulando
assim uma aprendizagem significativa, preocupada com a oralidade, com a
escrita e com a leitura correta.
O despertar do aluno para a sensibilidade artística musical e literária deve
facilitar a aprendizagem da linguagem, pois:
a arte é indispensável à constituição do ser humano e é por meio dela que o aprendizado se solidifica. A arte pensa o sentimento e sente o pensamento. Procura conhecer a palavra como objeto sensível, transformando palavras em poesia, pois a poesia está na sintaxe e não no léxico, como a música está na sequência de notas musicais e não em cada uma. (...) Duas palavras, quando se associam, podem criar um terceiro Ser, soma infinita de significados. Como duas cores, dois sons, dois traços – quaisquer dois seres –, quando postos em relação, são mais do que a soma dois. (...) Não basta aprender a ler e escrever: é preciso sentir, ver e ouvir, produzir imagens, palavras e sons. A terra, a água e o ar; a palavra, o som e a imagem são bens da humanidade. Arte é direito e obrigação, forma de conhecimento e gozo. Arte é dever de cidadania! Arma de libertação. (BOAL, apud COSTA, 2013. p. 05-06).
Costa & Faria (2012) afirmam que acrescentar a música nas práticas
pedagógicas possibilita ao professor de língua materna desenvolver nos alunos a
leitura, reflexão e produção de textos, de maneira menos enfadonha, utilizando,
por exemplo, rádio (para ouvir a música), fotocópias (para fazer leitura), na TV e
DVD.
Essa opinião é compartilhada por Malanski & Costa-Hübes (2008), ao
afirmarem que:
Pela importância do gênero música e sua influência no comportamento humano, determinando modos de falar, de agir e de pensar, entendemos que um estudo sistematicamente organizado desse gênero trará contribuições para os trabalhos escolares, auxiliando a entender a língua portuguesa numa perspectiva transformadora. (MALANSKI & COSTA-HÜBES, 2008. p. 9).
Para Pereira (2012), a música desperta o interesse do ser humano porque
os impulsos sonoros harmônicos são recebidos e computados pela área do
cérebro que trabalha as emoções. Atividades relacionadas á música, tendem a
tornar-se um exercício prazeroso e eficiente ao dividir os próprios impulsos
harmônicos com outrem. No que diz respeito à produção textual, propostas
voltadas à composição de letras musicais oferecem a possibilidade de amplitude
de vocabulário, estruturação do pensamento lógico, objetivo e claro. Trata-se
então de uma forma prazerosa de propiciar o contato com o universo escrito.
Cabe, nos próximos assuntos tratados, descrever a prática didático-
pedagógica que garantiu a práxis, permitiu a articulação entre as disciplinas e
efetivou a aprendizagem do educando.
3 METODOLOGIA, DISCUSSÃO E ANÁLISE DE DADOS
3.1 Prática Pedagógica
3.1.1 Desenvolvimento do projeto
Este projeto foi criado a partir da percepção, em sala de aula, das
dificuldades apresentadas pelos alunos quanto a leitura e a escrita, não só na
disciplina de Língua Portuguesa, mas, de acordo com outros professores, em
todas as áreas do currículo escolar, o que influência também no cotidiano do
aluno.
Desta forma optou-se pelo uso da poesia e da música como meios de
despertar o interesse, o gosto dos alunos e como alternativa de tornar o processo
de ensino-aprendizagem mais prazeroso.
O projeto foi desenvolvido em duas etapas: a primeira consistiu na
aplicação da proposta em sala de aula e a segunda na tutoria on-line do Grupo de
Trabalho em Rede – GTR 2015.
3.1.2 Aplicação da proposta na escola
Esta proposta de trabalho foi aplicada no primeiro semestre do ano de
2015, para dois segmentos diferentes, da área de educação:
Primeiro segmento: aos alunos do 7º ano do Ensino Fundamental – Anos
finais da Escola São Pedro, situada no município de Telêmaco Borba, através da
Unidade Didática: Despertando a sensibilidade pela música como instrumento de
linguagem.
Segundo segmento: aos professores da área de Língua Portuguesa da
Rede Pública Estadual de Ensino, através do Grupo de Trabalho em Rede – GTR
2015.
Com os alunos o projeto foi implementado em nove encontros perfazendo
um total de 32 horas, em contra-turno. Durante os encontros foram desenvolvidas
atividades práticas de sala de aula que visaram melhorar dificuldades
encontradas com relação à leitura, escrita, interpretação e oralidade e despertar
nos alunos o gosto pela poesia. Para tanto, se fez uso de recursos variados como
música, cinema, dinâmicas e outras ações como forma de facilitar a expressão de
seus sentimentos e emoções através do imaginário, favorecendo assim a
aprendizagem da língua portuguesa. O trabalho foi desenvolvido através da
aplicação de uma unidade didática, composta de sete seções, com atividades
diversificadas apresentadas de forma mais prazerosa, voltados para o
desenvolvimento da sensibilidade que a poesia apresenta através das seguintes
ações.
1º Encontro: Apresentação do Projeto de Intervenção para a Comunidade
Escolar: Equipe pedagógica, Direção e Professores. Esta apresentação foi feita
durante o primeiro dia da semana pedagógica, quando todos estavam reunidos na
escola, alguns colegas já conheciam o projeto, pois, durante seu planejamento
tive alguns momentos de conversação com os mesmos para podermos trocar
ideias quanto às necessidades apresentadas pelos alunos. Além de uma pequena
apresentação oral onde pude expor os principais pontos do trabalho, deixei uma
cópia do projeto e da Unidade Didática na escola para que todos pudessem ter
acesso ao material e fazerem uso do mesmo, caso desejassem.
2º Encontro: Apresentação do Projeto aos alunos através de conversação.
Neste encontro expliquei a todos os alunos como seria o desenvolvimento do
trabalho, o porque que estavam ali. Desenvolvi uma atividade para verificar o
gosto dos mesmos sobre leitura, música e cinema com realização de
levantamento de dados através da aplicação de um questionário pré-elaborado
para se conhecer mais a fundo o perfil da turma, se ouvem e gostam de
música,que gêneros musicais mais gostam, se gostariam que durante as aulas
de Língua Portuguesa fosse utilizado a música como instrumento metodológico.
Através destes questionamentos percebi que todos passaram a demonstrar mais
interesse pelo que eu estava propondo e que a música realmente está presente
no cotidiano de todos, que é uma gênero que desperta o interesse e o gosto dos
alunos.
3º Encontro: trabalhou-se a poesia, um pouco de sua história,
características e atividades. Neste encontro falei sobre a poesia, sobre os
sentimentos, emoções, reflexões e impressões que ela provoca. Sobre suas
raízes históricas e características. Também realizamos algumas atividades, entre
elas a apresentação de duas versões, disponíveis no youtube, da música “Por
você” do Barão Vermelho, análise e interpretação da letra desta canção e
produção de texto. Todos gostaram muito, falaram à respeito de diversos
sentimentos, inclusive do amor, cantado na letra da música e da poesia que a
mesma apresenta.
4º Encontro: Neste encontro trabalhou-se Vinícius de Moraes e através do
poema Rosa de Hiroshima. Apresentei aos alunos o poeta Vinícius de Moraes,
muitos não o conheciam, falei sobre algumas de suas obras e seu trabnalho.
Entreguei, impresso, a todos o poema, fizemos a leitura e diversas considerações
sobre o mesmo. Após fomos ao laboratório de informática para realização de
pesquisa sobre o que quer dizer Rosa de Hiroshima, sobre o lançamento das
bombas atômicas sobre o Japão, durante a Segunda Guerra Mundial, e suas
consequências, alguns utilizaram o próprio celular para realizarem a pesquisa,
pois, temos poucos computadores funcionando. De volta à sala de aula
assistimos um vídeo, disponível no youtube, com a música Rosa de Hiroshima,
onde puderam analisar as cenas apresentadas e responder algumas questões,
por escrito, sobre a relação entre a poesia, a música e os sentimentos. Foi uma
aula muito produtiva.
5º Encontro: Neste encontro trabalhei Carlos Drummond de Andrade,
através do poema As sem-razões do amor e uma pesquisa realizada pelos alunos
sobre o poeta. Trabalhamos também a música Amor que não sai, de Ivete
Sangalo. Fizemos análise das letras tanto do poema quanto da música.
Apresentei um pequeno texto sobre a origem da palavra amor, suas quatro
definições para os gregos. Falamos das mais diversas formas: amor físico, amor
platônico, amor materno, amor à vida, o amor que tem relação com o caráter da
própria pessoa e a motiva a amar (no sentido de querer bem e agir em prol). Os
alunos realizaram algumas atividades para que pudessem perceber, ainda mais, a
“questão” do amor.
6º Encontro: Neste encontro fiz uma sessão cinema, com o filme
Sociedade dos Poetas Mortos. Preparei uma sala, fiz pipoca, suco, quando os
alunos chegaram estava tudo pronto. Isso já chamou muito a atenção deles,
despertando o interesse pelo filme e trazendo um lado mais prazeroso para o
desenvolvimento do trabalho.
Após a exibição do filme propus uma reflexão sobre o mesmo, através de
um roteiro apresentado. Todos gostaram muito, realizaram as atividades
propostas sem dificuldades, pude perceber que o ambiente chamou a atenção
dos mesmos e os motivou muito.
7º Encontro: foi realizado um Colóquio Poético com o músico e compositor
telêmaco borbense Marcos Bahena que, a pedido, veio até a escola e apresentou
alguns de seus trabalhos aos alunos, respondeu perguntas e trocou ideias com os
mesmos, falou da poesia presente em suas obras. Apesar de diversas produções,
muitos jovens não o conheciam. Foi um trabalho muito proveitoso, os alunos
puderam perceber que eles também podem produzir, escrever, que a produção
escrita não é feita apenas por grandes nomes, mais está ao acesso de todos,
basta querer.
8º Encontro: momento no qual os alunos colheram todo o material que
produziram durante o desenvolvimento do projeto, fizemos diversas análises, se
organizaram para apresentação de paródias e jogral, criados por eles, para
apresentarem no próximo encontro para toda a escola. Neste encontro também
trouxeram diversas poesias, as quais soicitei para que exrevessem para produção
de um pequeno livro que será apresentado à escola que receberá o título de
“Sensibilidade”. Após análise das produções, escolhi um trabalho de cada
aluno,que os mesmos digitaram e enviaram por e-mail para realização do trabalho
de formatação.
9º Encontro: Neste encontro os alunos apresentaram suas poesias,
paródias e jogral aos demais alunos, assim como foi distribuido alguns
exemplares do livro criado por eles. Pude perceber que ficaram muito felizes em
ver seus trabalhos apreciado e valorizado pelos demais.
Biografia Marcos Bahena
Alunos na sala de aula Trabalho produzido por aluno
Capa do livro produzido Contra-capa do livro Produção dos alunos pelos alunos
Produção dos alunos Produção dos alunos
3.1.3 Grupo de Trabalho em Rede – GTR 2015
Quanto ao Grupo de Trabalho em Rede, foi desenvolvido através do portal
Dia a dia da educação, área dos educadores, onde professores da rede pública
de todo o estado do Paraná puderam se inscrever, de acordo com os temas de
seu interesse.
Minha turma era composta de 14 (quatorze) professores, que durante o
período do grupo de trabalho puderam analisar o projeto e a unidade didática,
comentá-los, fazerem discussões sobre o assunto apresentado, trocarem
experiências nos fóruns, fazerem seus relatos nos diários e aplicarem o projeto
em suas turmas, de acordo com sua realidade, de acordo com o módulo aplicado.
Entre as postagens realizadas tem-se relatos como:
O trabalho está muito bem elaborado, apresenta assuntos muito interessantes que serão trabalhados através de uma metodologia agradável aos alunos e a nós, professores, também, que é a música. (PROFESSOR “A”, GTR, 2015)
Houve também relatos com relação à forma como o conteúdo foi
apresentado:
Trabalhando com o gênero música em vários estilos envolvendo amor, alegria , ordem e disciplina com certeza os alunos irão se apropriar melhor dos conteúdos de uma forma agradável e o resultado também será satisfatório. (PROFESSOR “B”, GTR 2015)
Os fóruns foram bastante interessantes, pois os professores puderam
expor situações de seu cotidiano e perceberem que a maior parte dos problemas
que enfrentam estão também presentes em outras escolas, dessa forma puderam
trocar ideias sobre como o uso da música e da poesia pode ajudar a enfrentá-los.
Desenvolveu-se também fóruns onde os professores apresentarem
sugestões de atividades, enviaram materiais, projetos de aula, para que os
demais pudessem utilizar sobre o tema estudado. Na minha opinião este foi um
dos melhores espaços, pois foi apresentado uma diversidade muito grande de
materiais muito úteis para serem utilizados no dia a dia em sala de aula.
Ao final do Grupo de Trabalho pude perceber que o mesmo proporcionou
uma oportunidade única de aprendizagem, tanto para os cursista quanto para
mim. Foi, com certeza um momento enriquecedor onde pudemos aperfeiçoar
nossa prática.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final deste trabalho pode-se concluir que diante de todas as dificuldades
encontradas em sala de aula, principalmente com relação à leitura e interpretação
de textos se faz necessário que o professor crie em sua sala de aula condições
que leve os alunos a gostarem daquilo que estão fazendo, ou seja, é fundamental
criar condições e meios motivadores para despertar seu interesse e assim,
desenvolver um processo de ensino/aprendizagem que traga resultados positivos.
Que tanto o Projeto junto aos Alunos e aos Professores do GTR, alcançou
seus objetivos, os resultados obtidos foram satisfatórios e que as estratégias
pedagógicas aplicadas, trouxeram resultados positivos, criando condições para
que o aluno viva novas formas comunicativas através de um universo textual
conhecido e significativo para ele de uma maneira mais prazerosa.
Sendo assim, cabe ao educador buscar constantemente alternativas
viáveis para organização do trabalho pedagógico no cotidiano escolar visando
melhor atender os alunos, suas expectativas, dificuldades, através de uma
educação de qualidade. Segundo Freire (1996) o trabalho de ensinar, exige -
entre outros aspectos - rigorosidade metódica, pesquisa, criticidade, respeito aos
saberes dos educandos e querer bem os alunos.
Que o trabalho desenvolvido através um gênero textual diferente, no caso,
a música e a poesia, contribuiu para facilitar o conhecimento a respeito da leitura
e da escrita de uma maneira mais atraente e sedutora, possibilitando analisar
integradamente questões de natureza discursiva, de produção, compreensão,
gramática e de outros aspectos também centrais para a aprendizagem.
E que o PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional, apesar de
apresentar diversas „dificuldades‟ oportuniza momentos de aprendizagem e
reflexão aos professor da Rede Estadual de Ensino, que no decorrer de sua
carreira acabam sendo deixados de lado, por motivos diversos, como
desestímulo, falta de tempo, entre outros, porém, é uma proposta que realmente
viabiliza a melhoria da qualidade da educação e nos possibilita contribuir para a
melhoria do trabalho docente na escola. Que foi uma oportunidade única na qual
vivenciei momentos onde pude refletir sobre a forma como estava desenvolvendo
meu trabalho até então e como realmente deve fazê-lo. Não que estava
trabalhando de forma errada, mas que devemos sempre estar procurando novas
alternativas e ampliando nossa visão de como ensinar e também aprender.
REFERÊNCIAS
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