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DEMOCRACIADELIBERATIVA.REFLEXÕESSOBREOPERCURSORECENTEDE
UMAIDEIA
FilipeCarreiradaSilva
1.Introdução
Sãoduasasmotivaçõespordetrásdopresenteartigo.Emprimeirolugar,háa
considerarofactodequenosúltimosanosademocraciadeliberativaganhouum
pesoconsiderávelnoâmbitodateoriapolítica,emespecialnocampodasteoriasda
democracia,assimcomonoutrosdomíniosdasciênciassociais,podendomesmo
falar-sedeuma“viragemdeliberativa”.É,pois,umtemaactualepertinentequeurge
compreendereaprofundar,tantoanívelteóricocomoempírico.Senofinalda
décadade90haviaquemafirmassequeademocraciadeliberativajáerauma
propostaamadurecida,hoje,dezanostranscorridos,queremosaveriguarqualéo
statuquo.1Emsegundolugar,onossointeressenestetemaprende-secomofactode
asteoriasdademocraciadeliberativaatribuíremumpapelfundamentalà
comunicaçãoatravésdesignoslinguísticosedeligaremlinguagemhumanae
cognição,reflectindodesenvolvimentosimportantesocorridosnasúltimasdécadas
nocampodafilosofia.2Estaligaçãoentredemocraciaelinguagem,entrea“viragem
1Era,pelomenos,oqueJamesBohmanafirmavanoseusurveyarticlede1998sobredemocraciadeliberativa,queconstituiumóptimopontodepartidaparaapresenteanálise(Bohman,1998).2Aesterespeito,elencamosdeseguidaalgunstrabalhospós-metafísicosdereferênciaqueprocuramestabelecerarelaçãoentrelinguagemecognição:Mead
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paraadeliberação”ea“viragemparaalinguagem”,émaisumarazãoparaolharmos
paraasteoriasdademocraciadeliberativacomredobradaatenção.
Propomo-nosentãofazerumbalançodoestadodareflexãoteóricaemtornoda
democraciadeliberativa,havendoaindaespaçoparaumabrevealusãoàpesquisa
empíricaporelainspiradaeàsconclusõesquedelaseretiram.Opresenteartigo
começarápordiscutiroressurgimentodaspropostasdeliberativasnasúltimas
décadas.Aestasecçãoseguir-se-áumadescriçãodasváriascorrentesexistentes
nestedomínio,nomeadamentealiberalearadicaldemocrática.Deseguida,
aduziremosargumentosquesugeremqueograudeinovaçãoconceptualdo
paradigmadademocraciadeliberativaestaráaperdervigor.Poroutrolado,anível
empírico,emaugradoosmuitosestudosempíricosdeformasdeliberativasde
democracia,mostraremoscomoosresultadosalcançadossão,noseuconjunto,
inconclusivos:paraalémdademonstraçãodequeaspreferênciasindividuais
podemrealmentesertransformadasnodecursodatrocaracionaldeargumentos,
poucomaistemsidodemonstradonosentidodeapresentarademocracia
deliberativacomoumaalternativacoerenteàdemocraciarepresentativa.Em
consequênciadisto,tentaremosdemonstrarqueademocraciadeliberativaterá
ficadoaquémdosobjectivosquealgunsdosseusdefensoreschegaramasugerir,
nomeadamenteodequepoderiaconstituirumaalternativaaoparadigmaliberal
racionalistapordetrásdademocraciarepresentativa.Namelhordashipóteses,o
modelodeliberativodedemocraciateráapenasconseguidoconstituir-secomoum(1997),Vygotski(1978e1986),Habermas(1985a,1985be1995)eHonnetheJoas(1991).
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complementoàqueleparadigma,certamentemaisdensoecomplexo,mastambém
muitomenoseficientenatarefadeagregaçãodepreferênciasindividuais.Porfim,
procuraremosaindamostrarque,aocontráriodoquesepassavanosanos60,o
principalproblemapolíticohojenãoéodaabstençãomasantesodaexclusão.
Comoseverá,acreditamosqueasoluçãoparaesteproblemadeexclusãobasear-se-
áemmaisemelhorrepresentação(enãoemmaisparticipação,queveioresponder
aoproblemadaabstenção),namedidaemquerepresentaçãoédemocraciaeque
democracianãoseesgotanaparticipação.
2.Brevehistóriadaconcepçãodeliberativadademocracia
Épossívelafirmar-se,semgranderiscodeerrarmos,queà“viragemparaa
linguagem”operadanocampodafilosofianosanos70seseguiu,cercadevinteanos
maistarde,uma“viragemparaadeliberação”nocampodateoriapolítica.Numcaso
comonoutro,aexpressão“viragem”pretendedescreverumasúbitamudançade
enfoqueanalíticoporpartedeumnúmeroconsideráveldeautores,incluindoduas
dasprincipaisfigurasdopensamentopolíticocontemporâneo:seJürgenHabermas
seencontraemambasas“viragens”teóricas,JohnRawls,atravésnomeadamentedo
seuconceitode“razãopública”(i.e.,oidealsegundooqualalegitimidadedas
decisõespolíticasdependedofactodepoderemseraceitesportodososindivíduos
ou,pelomenos,deninguémaspoderrazoavelmenterejeitar),3écertamenteo
filósofopolíticoanglo-saxónicodemaiorrelevoquesubscreveuumaconcepção
deliberativadedemocracia.3VideRawls(1996,p.218).SobreoslimitesdaadesãodeRawlsàdemocraciadeliberativa,veja-se,porexemplo,Chambers(2003,p.307).
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OparadigmadominanteemciênciapolíticadesdeofinaldaSegundaGuerra
Mundialtemsido,semmargemparadúvidas,oparadigmaliberal,individualistae
racionalistaassociadoqueraosmodelosdeescolharacional,queraobehaviorismo
dosestudosdeopinião(PiersoneSkocpol,2002).Deacordocomesteparadigma,o
idealdemocráticodefine-seenquantoaagregaçãodeinteressesoupreferênciasem
decisõescolectivasporintermédiodeinstrumentoscomoeleiçõesedeprincípios
comoarepresentaçãopolítica.Naessênciadoparadigmaliberalencontramosa
premissadequeosindivíduosactuammotivadospelointeressepróprio,nãopor
umaqualquerconcepçãopartilhadadobemcomum,equeasuaracionalidadeéo
melhorjuiznadefiniçãodoqueéesseinteressepróprio.Quandoaeconomiade
mercadoserevelaineficaznacoordenaçãodosinteressesparticularesdos
indivíduos,surgeanecessidadedeserecorreraumasoluçãopolítica,ocasiõesem
queserecorreàreconciliaçãoeagregaçãodeinteressespré-definidossobos
auspíciosdeumconjuntoimparcialderegras,i.e.umaconstituição.Comaviragem
paraadeliberaçãonoúltimoquarteldoséculoXX,esteparadigmacomeçouaser
questionado.
Aalternativadeliberativaaoparadigmaracionalistaeindividualistaestá,porseu
lado,longedeserumanovidade.Emrigor,precede-ohistoricamente:seéGaio
quem,naRomaImperial,inauguraoparadigmajurídicoqueiriadarorigemao
modernoliberalismoindividualista(Pocock,1995,p.35),adefesadaideiade
deliberaçãoenquantométododetomadadedecisõescolectivas,ancoradanacrença
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nasuamaiorlegitimidaderelativamenteaoutrasformasdedeterminaçãoda
vontadegeral,remontaàépocadademocraciadirectaateniense,particularmenteàs
ideiasdePériclesedeAristóteles.Comefeito,adeliberaçãoenquantoinstrumento
políticoétãovelhacomoaprópriaconcepçãodedemocracia,quernoOcidente,
queremcivilizaçõesmilenarescomoaindiana(Elster,1998,p.1;Sen,2005).
Muitassãoasfigurasclássicasdahistóriadasideiaspolíticasqueservemde
inspiraçãoàsactuaisteoriasdeliberativas.Aristóteles,porexemplo,defendiaque
umadecisãotomadapeloscidadãosnasequênciadeumdebatedeideiasseria
melhordoqueaquelatomadameramenteporespecialistasnasáreasemcausa.No
entanto,apesardereconhecerovalorintrínsecodadeliberação,namedidaemque
umdospressupostosdestemétodoeraoseucarácterinclusivo(todososcidadãos
poderiamparticiparnofórumdeliberativo),Aristótelespreferiaqueasdecisões
políticasfossemtomadasporviadadeliberaçãoprotagonizadaporaristocratas,
dadooseumaiorconhecimentosobreasmatériasemcausaeasuamaior
competência,oque,aseuver,garantiriamelhoresresultados(Aristóteles,1992;
GutmanneThompson,2004,p.8-9).4Houvenessaépocaquemalertasseparaos
perigosdademagogiaedamanipulaçãopolíticaporviadadiscussão,peloqueeste
métodoacabouporconquistar,desdeasuaorigem,adeptoseadversários(Elster,
1998,p.2).
4PaulNieuwenburglembraaindacomoAristótelesafirmavaqueacapacidadeparadeliberarpublicamenteeraadquiridaecontribuíaparaodesenvolvimentomoraldoorador(2004,p.464).
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OconceitodedeliberaçãofoiretomadoséculosmaistardeporEdmundBurke,já
nãonocontextodademocraciadirectamassimdademocraciarepresentativa
(Burke,1996).NoséculoXIX,foitambémutilizadoporJohnStuartMill,omais
proeminentedefensordegovernopordiscussão,ereconhecidamenteumdospais
daconcepçãoactualdedemocraciadeliberativa,emboraestecontinuasseapreferir
atomadadedecisõesprotagonizadapelosdetentoresdeumamelhoreducação
(Mill,1991).Éaindasugeridoqueaparticipaçãodemocráticaatravésdadeliberação
étributáriatambémdasideiasdeJean-JacquesRousseau.Comoésabido,paraeste
último,oobjectivodasdecisõesemdemocraciaédeterminaravontadegeralde
formaaalcançarobemcomum,identificávelporumprocessoracional(Rousseau,
1962;Shapiro,2003,p.10-11;Dryzek,1990,p.126).Adeliberaçãopropõe-se
justamenteaalcançarobemcomum(umadecisãoaceitávelparatodososporela
afectados)atravésdeumprocessopúblicodecomunicaçãoracional.
Manifestamente,tantoBurkecomoMille,antesdeles,Aristóteles,embora
defensoresdométododeliberativo,emmaioroumenorgrau,estavamlongedeser
proponentesdeumaformadedemocraciacomascaracterísticasquehojelhesão
atribuídas.Comefeito,aprimeiravezqueanoçãodedeliberaçãoéarticuladano
âmbitodeumaconcepçãomodernadedemocraciaaconteceapenasnaprimeira
metadedoséculoXX(Dewey,1927).5Sóapartirdeentãopodemos
5ParaDewey(1927),umdospaisfundadoresdateoriaradicaldademocraciadesenvolvidapelopragmatismofilosóficonorte-americano,adeliberaçãopúblicaéentendidacomoum“mododevida”(veja-seigualmenteTalisse,2005,p.186;Dryzek,1990,p.120).ParaumaapropriaçãocontemporâneadasideiaspolíticasdeDewey,veja-seHonneth,2001.
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verdadeiramentefalardedemocraciadeliberativa,nosentidomodernoou
contemporâneodotermo.6
Noentanto,entreosanos40eadécadade70doséculoXX,aconcepçãode
democraciarepresentativaassumiuoestatutodeparadigmadominantenaáreada
ciênciapolítica,oquecoincidiucomopredomínioderegimesdemoliberais
representativosnoOcidente.Todavia,talcomoAlmondeVerbademonstraramno
seuestudoclássicosobreaculturapolíticadestesregimes(1963),aquelaconcepção
assentavasobreumacontradiçãoentreelementosdeparticipaçãodemocrática
formaleelementosdesubordinaçãoepassividadecívica:“Exige-se,pois,aocidadão
democráticoqueprocurealcançarobjectivoscontraditórios;deveseractivo,
emborapassivo;engajado,emboranãodemasiado;influente,emboradeferente”
(Idem,pp.478-479).Aredescobertadasvirtudesdemocráticasdadeliberação
explica-seàluzdacrisedestemodelodedemocraciarepresentativa.Osprimeiros
sinaisdestacrisesurgemnosanos60,comalutapelosdireitoscivisnosEUAecom
oMaiode68emFrança,intensificando-seaolongodasdécadasseguintes,primeiro
comaproliferaçãodoschamadosnovosmovimentossociaisdecarizpós-
materialista(feministas,ecologistas,etc.),maistardecomoprogressivoaumento
dastaxasdeabstençãoeleitoralnageneralidadedasdemocraciasocidentais.A
influênciadeconcepçõesradicaisdedemocraciaassociadaàcrescenteinsatisfação
6Importaigualmentelembrarqueaexpressão“democraciadeliberativa”foicunhadaporJosephBessetteem1980nocontextodeumainterpretaçãodaconstituiçãoamericanacomogarantedadeliberaçãopública,emparticularnoCongresso,eopondo-seaumainterpretação“aristocrática”damesma(Bessette,1980e1994).
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geradapelomodelodemocráticoliberaleoconsequenteafastamentodoeleitorado
daarenapolíticalevouaqueospressupostosdoparadigmaliberaldemocrático
tivessemsidocrescentementepostosemcausa.Orenascimentodademocracia
deliberativa,nodecorrerdosanos80e90,veioassimdarexpressãoteóricaaeste
sentimentogeneralizadodeinsatisfação,propondo-se,comoveremos,oracomo
umaalternativaaoparadigmadominante,oracomoumaextensãooucomplemento
daquele(BohmaneRehg,1997,p.xii).A“viragemdeliberativa”verificou-se
simultaneamenteemváriosdomínios,dateoriaconstitucional(RawlseSunstein)à
teoriacrítica(Habermas),dafilosofia(Bohman,GutmanneThompson)àteoria
política(Dryzek).
Podemseridentificadasváriastradiçõesintelectuaisqueinfluenciarama
democraciadeliberativa.Umagrandefontedeinspiraçãoparaosdemocratas
deliberativosécertamenteateoriacrítica,sobretudoparaaquelesqueconsideram
queoliberalismosepreocupasobretudocomosaspectosjurídicosdopolítico,
negligenciandoosfenómenosdiscursivoseideológicos,bemcomoainfluênciados
factoresdeordemeconómica.7Umaoutrafontedeinspiraçãoimportanteéo
republicanismocívico,comasuaênfasenaparticipaçãopolíticacomocondiçãode
liberdade.Aoindivíduoracionaldotadodeumconjuntodedireitosnaturais
inalienáveispressupostopeloparadigmaliberal,oparadigmacívico-republicano
contrapõeocidadãovirtuoso,conscientedosseusdeveresparacomaRepúblicae7Umateoriacríticadademocraciavisaanalisarofuncionamentodosregimesdemocráticostendoemcontaasdistorçõescausadasporessesfactores,epromoverareflexãosobresoluçõesdetipoparticipativo(AdornoeHorkheimer,1999;Marcuse,1994;Habermas,1996).
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dosvaloresquepartilhacomosrestantesmembrosdasuacomunidadepolítica–
deveresevaloresestesqueostornam,aumtempo,livresesoberanos.8
3.Componentesecorrentesdademocraciadeliberativa
Comosucedecomqualquermodeloemciênciassociais,tambémademocracia
deliberativaresultadainfluênciadediferentestradiçõesintelectuaisetemsido
aplicadaporreferênciaadiversasagendasepropósitos.Existem,pois,váriasteorias
dademocraciadeliberativa,talcomoexistem,porexemplo,váriasteoriasneo-
institucionalistasemciênciapolíticaempírica.Arespostaàquestão–“Oqueéa
democraciadeliberativa?”–depende,porconseguinte,querdafiliaçãointelectual
doautorqueaformula,querdosobjectivosquesepropõeatingir.Demodoa
clarificaranaturezaealcancedasváriaspropostasexistentesnoâmbitodeste
modelo,iremosidentificaremseguidaasprincipaiscomponentesquecaracterizam
aconcepçãodedemocraciadeliberativa.
Componentes
Umprimeiropassonessesentidopodeserodeclarificaroqueéqueademocracia
deliberativanãoé:omesmoédizer,aqueéqueestemodeloseopõe.Esta
concepçãotemsidodesenvolvidaemoposiçãoou,pelomenos,comoalternativaou
suplemento,àsconcepçõesdominantesdedemocraciabaseadasnummodelo
epistemológicoindividualistaeracionalista,emqueaspreferênciasindividuaisse
agregamatravésdomecanismodovoto,expressãomáximadavontadepopular.Por8Veja-se,porexemplo,Arendt(1958e1977);Skinner(1998);Pettit(1997)eSilva(2004).
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seulado,anoçãodedemocraciadeliberativaassentanumaconcepçãocomunicativa
daracionalidadeeacçãohumanasemquelinguagem,cogniçãoecooperaçãosocial
constituemcondiçõesnecessáriasparaodesenvolvimentohumano,individuale
colectivo.
Trêsoutrosfactoresdedistinçãorelacionadoscomesteprimeiropodemser
aduzidos.Antesdemais,asteoriasdademocraciadeliberativaentendema
deliberaçãopúblicacomofundamentodalegitimidadedemocrática.Depois,ao
contráriodemétodosagregativos,adeliberaçãopermitealteraraspreferências
individuaisporreferênciaaobemcomum(aosermosconfrontadoscomrazões
diversasecomesclarecimentosdeespecialistasnamatéria,podemosmudarde
opinião).Porfim,adeliberaçãopressupõeumpapeldirectodosindivíduos
afectadospelasdecisõesnoprocessodetomadadasmesmas,processoessequeéde
naturezalinguísticaecognitiva.Porsisó,estefactordistingueademocracia
deliberativaquerdasversõesdominantesacimadescritas(ondeosindivíduos
apenasvotam),querdeoutrasformasdedemocraciadirectaouparticipativa,tais
comoaacçãocolectivaouosmovimentossociais.
Emsuma,umadefiniçãomínimadedeliberaçãodemocráticaencerraduas
componentes:acomponentedemocráticadademocraciadeliberativapressupõe,na
suaacepçãomaisbásica,quehajaumprocessocolectivodetomadadedecisõesno
qualtodososafectadosporela,ouosseusrepresentantes,participem.A
componentedeliberativa,porseulado,implicaqueatomadadedecisõessejafeita
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atravésdatrocadeargumentosentreosparticipantes,osquaissubscrevemos
valoresdaracionalidadeeimparcialidade(Elster,1998,p.8).
Correntes
Agoraqueestãoidentificadasasprincipaiscomponentesdaconcepçãodeliberativa
dedemocracia,émaisfácilperceberanatureza,filiaçãoeposiçãorelativadasvárias
propostasproduzidasnoquadrodestemodelo.Emparticular,épossíveldistinguir
duascorrentesprincipais,cadaqualcaracterizadaporumasignificativapluralidade
internadepropostas.Podemosdesignarestesdoiscamposprincipaispor“liberal”e
“radicaldemocrático”.
Aprimeiracorrenteéformadaporumconjuntodeautoresunidospela
circunstânciadequeoperamnoâmbitodopróprioparadigmaliberalque
pretendemcriticar.ParaautorescomoRawls,BruceAckerman,AmyGutmanne
DennisThompsonépossívelmobilizarcertoselementosteóricosdademocracia
deliberativaparacorrigiralgunsdefeitosdoliberalismo.Asegundareúneautores
queserevêemnatradiçãodateoriacrítica.Habermas,AxelHonneth,James
Bohman,SeylaBenhabibeJohnDryzek,porexemplo,procuramemMarx,no
pragmatismofilosóficoamericanoenaEscoladeFrankfurtalternativas
democráticasaoparadigmaliberal.Aquiademocraciadeliberativaévistacomo
umaconcepçãoalternativaecríticadomodelodominanteliberal:aênfaseé
colocadanãotantonosdireitosindividuaiscomonanoçãodesoberaniapopular,ou
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pelomenos,comoemHabermas,natentativadesealcançarumcompromissoentre
ambos.
Numcasocomonoutro,avariedadeinternadepropostasénotável.Noâmbitoda
correnteliberal,encontramososchamadosconstitucionalistas,paraquemo
argumentoclássicoliberalsegundooqualasconstituiçõespolíticassedestinam
fundamentalmenteaprotegeraesferadavidaparticulardosindivíduosdainvasão
porpartedospoderespúblicosdevesofrerumareinterpretaçãodeliberativa.Por
exemploparaBessette9ouSunstein10,aconstituiçãodevepassaraserinterpretada
comootextofundadoreogaranteúltimodefórunspúblicosdedeliberação,em
particular,dostribunaisedascâmaraslegislativas,devendoadeliberaçãoterlugar
dentrodaestruturaconstitucionaldoEstadodedireitodemocrático.Paraoutros,
ainda,oâmbitodeaplicaçãodoprocedimentodeliberativodeveserrestringidoa
situaçõesdeexcepcionalimportânciacomoumaassembleiaconstituinte.11
Umpouconamesmalinha,encontramosRawls(1993),quepretendelimitara
deliberaçãoguiadapela“razãopública”aquestõesconstitucionais,alegislação
relacionadacomestas,eaproblemasde“justiçabásica”(igualdadede
9Veja-seoexcelenteestudodesteautorsobreoCongressonorte-americano(Bessette,1994).10Esteconhecidoconstitucionalistanorte-americanochegamesmoadefinirdemocraciadeliberativaemtermosdeconstitucionalismo:aconstituiçãoseria,assim,uminstrumentoparaaprotecçãoepromoçãodadeliberaçãopolítica,nãoapenasnostribunaismasemtodoosistemapolítico(Sunstein,1997).11Assim,BruceAckermaninterpretaosdebatesquelevaramàcriaçãodaconstituiçãonorte-americanacomoexemplosdamelhorpráticademocráticadeliberativadequeháregisto(Ackerman,1991).
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oportunidadesedistribuiçãodebensmateriais).Aoaceitaro“factodopluralismo”
comoumacaracterísticadistintivadassociedadescontemporâneasocidentais,a
concepçãorawlsianadedemocraciadeliberativaprivilegiariaumsistemaeleitoral
detipoproporcionalparaqueomaiornúmerodegrupospolíticospossívelpossa
participarnagovernaçãodacoisapública.Oessencialéimpedirquefactoresde
naturezaparticular(comoointeressedeumpartidopolíticoemalterarosistema
eleitoralemseubenefício)interfiramnaexpressãodavontadepopularegarantir,
concomitantemente,queestapossaserinfluenciadapelaacçãoracional
comunicativadosgruposeagentespolíticosemdisputa.ParaRawls,osdebates
sobrequestõesmoraisdevemserdeixadosparaoúnicoórgãosupra-partidáriodo
sistemapolíticonorte-americano:oSupremoTribunaldeJustiça.Ora,ainício,
apesardeadvogarovalordaparticipaçãodoscidadãosnapolítica,nãodefendiaa
deliberaçãoenquantoprocessocolectivomasapenasnamedidaemquese
manifestavacomoumprocessodereflexãosolitário,duranteoqualosindivíduos
punhamdeparteosseusinteressespessoaisepensavamdeformaimpessoalnoque
seriamelhorparatodos.Nasuaobratardia,(Rawls,1996),Rawlsvaimaislongeno
caminhodademocraciadeliberativaaosalientaraimportânciadareciprocidade
(GutmanneThompson,1996,p.37-39).
Entreossubscritoresdateoriacrítica,umavezmais,nãoexisteconsenso.Sealguns
sãomaisveementesnasuacríticaàtradiçãoliberalcomoé,porexemplo,ocasode
Dryzek(Dryzek,1990e2002),outrospretendemconciliarelementosliberaise
republicanosnumateoriadeliberativadademocracia(Habermas).Nocasodeste
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último,talcomojátivemosoportunidadedeexplicarnoutraocasião(Silva,2002,pp.
148-156),édefendidaumaconcepçãodepolíticademocráticadeliberativa12,
tambémdesignadade“teoriadiscursivadedemocracia”(Habermas,1996,p.301),
quesebaseianaideiadeumacomunidadeauto-organizadadecidadãoslivrese
iguaisqueoperamatravésdarazãocomumeondealegitimidadedemocrática
assentanumanoçãocomunicativamentereconstruídadesoberaniapopular.As
basesdestaconcepçãodedemocraciasãoateoriadarazãohumana(ateoriada
acçãocomunicativa),quesereflectenumprocessodeargumentação,bemcomoum
conjuntodecondiçõesfavoráveisaqueavontadesoberanaeoexercíciodopoder
estejamsubordinadosàforçadomelhorargumento(Cohen,1999,p.386).Para
Habermas,apolíticademocráticadeliberativadecompõe-seemdoisníveis:uma
primeiraesferainformaldecomunicaçãopúblicalivre,quesemanifestaatravésdo
trabalhodeassociaçõesdasociedadecivil,eumaoutra,formal,ondesetomam
decisõespelométododeliberativoequeésensívelàopiniãodacorrenteinformal.
Combina-seassimumaesferaondeháparticipaçãoemmassacomumaondesão
tomadasdecisõespolíticas(Cohen,1999,p.389).Apesardestasdiferenças,a
verdadeéquetantoRawlscomoHabermas13acabamporaderiraummodelo
deliberativodedemocraciaporacreditaremqueesteofereceumaalternativaviável
aosmodelosdominantes,racionalistaseindividualistas,dedemocracia.
12Veja-seHabermas(1996,p.275).13RawlseHabermasforamprotagonistasdeumdebatesobreaquestãodarazãopública(HabermaseRawls,1997;McCarthy,1994,p.44-63).Paraumaanáliseadebate,veja-seporexemploEisenberg,2003,p.101-115.
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4.Democraciadeliberativahoje
Oestadodateoria
Estamos,agora,emcondiçõesdefazerumbalançodaconcepçãodeliberativade
democracia.Umametáforatalveznospossaajudaraexplicaraquiloquetemosem
mente.Emnossaopinião,aproduçãoacadémicadesenvolvidanoquadrodeste
modelonasúltimasdécadaspodeservistacomosedeumaondasetratasse.Oinício
destaondatemumadataespecífica,1980,alturaemqueJosephBessettecunhouo
termo.Nosanosqueseseguiram,àmedidaqueestaondaseiaenchendo,
acompanhandooureflectindoapreocupaçãogeneralizadacomastendênciasde
declíniodaparticipaçãopolíticaformal,umageraçãodecientistaspolíticosdedicou-
seaoestudoderespostasaestastendências,procurandoexplicarassuascausasou
exploraralternativasàsformasdeparticipaçãopolíticaemcrise.Éistoqueunea
investigaçãosobreosnovosmovimentossociaisdosanos70e80àqueladedicada
àssessõesdeliberativasdosanos90edoiníciodesteséculo:umaeoutravêemna
participaçãopolíticainformalarespostaàcrisedademocraciarepresentativa
tradicional.Poroutraspalavras,nadécadade90,alturaemqueváriasfiguras
centraisdateoriapolíticadesenvolveramassuasprópriaspropostasnestedomínio,
aondadeliberativaatingiuasuamaiorexpressão.Acontece,porém,quese
acumulamosindíciosdequetalondaestaráagoraaesvaziar-se.Emrigor,desdeo
finaldosanos90quenãopareceterhavidoumaevoluçãosignificativadestas
teorias,cujaoriginalidadepareceter-seesgotado.Maisdoqueisso,aconcepçãode
democraciadeliberativaaparentahojeemdiaestaraperderoseufulgorinicial,
sendoempartevítimadoseuprópriosucesso:apartirdomomentoemquea
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concepçãoliberaldominantepassouaincorporarcertoselementosdademocracia
deliberativa,estacomeçouaverserquestionadooseuestatutodealternativacrítica
epassouaservistasobretudocomoumsuplementodaquela.
Seem1998Bohmantinhaboasrazõesparaafirmarqueademocraciadeliberativa
teriaalcançadoamaturidadeemconsequênciadoabandonodoseuidealismoinicial
emfavordeumaposturamaisrealistaefocadana“facticidade”dospressupostosda
deliberação(Bohman,1998,p.423),hojeemdiaasituaçãoébemdiferente.Esta
ideiadeixoudeestarnocentrodaagendaeograudeinovaçãoconceptualdiminuiu
consideravelmente:paraalguns,ésinaldequeademocraciadeliberativanãoterá
vingado,comoseoliberalismotivessevoltadoa“engolir”aspropostasquelhe
faziamfrente(Dryzek,HonigePhillips,2006,p.21).
UmmesmotipodeinflexãofoiidentificadoporDanielRodgersnoseufamososurvey
articlesobreoneo-republicanismo(Rodgers,1992).Defacto,apóscercadequatro
décadasdereflexãoteóricaepesquisaempíricaemváriasdisciplinas,este
paradigmadáhojeemdiamostrasdeestaraesgotar-seenquantofontedeinovação
conceptual.Seriainjustonãoreconhecerosenormesbenefíciosproporcionados
pelaredescobertadouniversodiscursivocívico-republicanoparaquempretende
compreenderarealidadeparaalémdasgrelhasanalíticaspropostaspeloparadigma
liberal.Mas,ditoisto,nãoémenosverdadequehojeemdia,paraalémdasideiasde
participaçãocívicaedeliberdadeenquantonão-dominação,averdadeéqueoneo-
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republicanismopoucomaistemparanosoferecer.14Acríticarepublicanasubsiste
nãoenquantoumaalternativaglobalecompletaaoliberalismo,mascomoum
discursocríticodeste.Asemelhançaentreospercursosrecentesdoneo-
republicanismoedademocraciadeliberativaestálongedeserumacoincidência.
Ambososparadigmassurgiramedevemgrandepartedoseusucessoaofactodese
tereminstituídocomoalternativasaoparadigmadominante,oliberalismo
individualistaeracionalista,emquesefundamasteoriasdominantesdaciência
políticadesdeopós-guerra.
Particularmentenoquadrodateoriacrítica,háquemsequestionesobreseno
futuroadisciplinadeverádedicartantosesforçosàteoriapolíticanormativa,e,
nomeadamente,à“obsessão”comademocraciadeliberativa,jáqueatéàteoriada
acçãocomunicativadeHabermasessenãoeraoseuenfoque(Scheuerman,2006,p.
86).Pararesponderaestapergunta,WilliamScheuermanquestiona-seseasideias
deHabermasedosseusseguidoressãorealmente,talcomoapregoadas,amelhor
soluçãoparaosdesafiosnormativoseinstitucionaiscolocadospelaglobalizaçãoà
democracia,acabandoporconcluirquearespostaatalquestãoéambivalente.
Emboranãocreiaqueateoriacríticadeixedesedebruçarsobreademocracia
deliberativa,afirmaquesedevemevitarconcepçõesutópicas(Scheuerman,2006,p.
102-103).15Emnossoentender,questionar,comoScheuermanfaz,ocarizutópico
daspropostasdateoriacrítica,falhaoalvo:afinal,oqueéa“globalização”senão14Abrilhanteteoriapolíticaneo-republicanapropostaporPhilipPettit(1997)deveservistacomoaexcepçãoqueconfirmaestaregra.15Sobreopapeldademocraciadeliberativaparafazerfaceàglobalizaçãoveja-setambémBohman,1998eDryzek,1996e2002.
18
umagrandenarrativautópicaqueprometeumfuturomelhorparatodaa
humanidade–comdireitoshumanos,democraciaecrescimentoeconómico–seas
barreirasaocomérciointernacionaldesapareceremeseomodeloliberalimperar?
Pelocontrário,faríamosmelhorsecomparássemossistematicamenteopoder
explicativodeumaseoutras.Sóassimpoderiamaspropostasproduzidasnoâmbito
dateoriacrítica,casorealmenteconseguissemdemonstrarasuasuperioridade
analítica,viraconstituir-secomoalternativascredíveisàsteoriasracionalistase
individualistasdominantes.
Oestadodotrabalhoempírico
Seécertoquenopresenteartigonosdebruçámosessencialmentesobrea
componenteteóricadademocraciadeliberativa,talnãosignificaquesubestimemos
aimportânciadotrabalhoempíricofeitonestaárea.Parapodermosavaliarostatu
quodademocraciadeliberativadeformaintegraléefectivamentenecessárioavaliar
osestudosempíricoslevadosacabonoâmbitodestemodelo.Em1998,Bohman
queixava-sedafaltadeinvestigaçãoempíricanestecampo,salientandonoentantoa
importânciadotrabalhodesenvolvidoporalgunsautores.16Aúltimadécada
encarregou-sedeodesmentir,períodoemquesemultiplicaramosestudos
empíricosnestaárea,comdezenasde“sondagensdeliberativas”aserlevadasacabo
todososanos,17ecomocrescenteinteressedemonstradoporautoridadespolíticas
locais,nacionaiseinternacionaisempromovereconduzirexperiênciasdestetipo.
16Mansbridge(1983);Bessette(1994);Page(1995);Elster(1998).17Veja-se,nestesentido,otrabalhodesenvolvidoporJamesFishkin(1991)eas“deliberativepolls”nositedocentroparaademocraciadeliberativada
19
DelliCarpini,CookeJacobs(2004),porexemplo,procuraramdeterminaraquiloque
sesabeacercadosefeitosdaparticipaçãodiscursivaedadeliberaçãopúblicasobre
“participaçãocívica”(“civicengagement”)nosEstadosUnidos.Emprimeirolugar,
constataramquenasociedadeamericanaexiste“discussãopública”(“publictalk”)
emquantidadesuficiente–porvezesatémesmonaformadedeliberaçãopública–
parajustificarumapuramentodasuaimportância.Depois,afirmamquesehá
estudosquedemonstramoreduzidointeressedoscidadãosemdiscutir
preocupaçõesdeordempública,outrosháquevãonosentidocontrário.Emterceiro
eúltimolugar,citamestudosnaáreadapsicologiasocialacercadasatitudes
individuaisecolectivasempequenosgruposquelhespermitiramchegara
conclusõesbastanteesclarecedorasquantoaoalcanceelimitesdadeliberação,
nomeadamenteaideiadequeestapoderealmenteproduziralgunsdosbenefícios
quelhesãoatribuídos,masapenasemdeterminadoscontextos(Idem,2004,p.
336).18Osresultadosvariamemfunçãodefactorescomooobjectivodofórum
deliberativo,dotemaemdiscussão,dosparticipantesedainformaçãopartilhada.
Donde,se,emcertascondições,adeliberaçãopúblicapodeserbenéficaparaos
participanteseparaacolectividade,emoutroscontextospodeser,namelhordas
hipóteses,ineficaze,napior,contraproducente(Idem,2004,p.336).
universidadedeStanfordhttp://cdd.stanford.edu/polls/docs/summary/.Veja-setambémositedoDeliberativeDemocracyConsortium(DDC)http://www.deliberative-democracy.net/.18Paraalgunsestaconclusãoexigeumaabordagemcuidadosaapráticasdeliberativas.Nestesentido,Mendelbergafirmaque“deliberationshouldbeattemptedonlyaftercarefulanalysis,designandtesting.”(Mendelberg,2002,p.180).
20
Poroutrolado,oestudocoordenadoporJürgSteiner(Steiner,Bächtiger,Spörndlie
Steenbergen,2004),debruça-sesobreaqualidadededebatesdeliberativos,
procurandoatravésdeumíndicemedidordaqualidadedodiscurso(ochamado
“DiscourseQualityIndex”ou“DQI”)avaliarasconsequênciasdadeliberaçãoem
instituiçõesparlamentaresdequatropaíses.InspiradonasideiasdeHabermas,19
esteestudovisaperceberseadeliberaçãoébenéfica,particularmenteemtermosde
justiçasocial,edeterminarquaissãoascondiçõesfavoráveisàdeliberação.Ao
aplicaremesteíndiceàpráticadeliberativadealgumasinstituições,estaequipa
concluique,emprimeirolugar,aqualidadedodiscursoestárelacionadacomo
desenhoinstitucional,havendopoisdeterminadosaspectosinstitucionais
favoráveisàdeliberaçãoeoutrosquelhesãoprejudiciais.Sobretudoemsituações
emqueosactoresestãopolarizados,comoapósumconflito,estedadoé
particularmenteútil,namedidaemquepoderáserprestadamaisatençãoàs
instituiçõesparlamentareseeventualmenteintroduzir-semecanismosdeliberativos
(Idem,2004,pp.135-137).Emsegundolugar,concluiqueadiscussãopolíticade
altonívelaumentaasprobabilidadesdesechegaraumadecisãoporunanimidade,
resultadoessequeé,semdúvida,desejável(Idem,2004,pp.162-164).
Oqueéquepodemosconcluirapartirdestesresultados?Apesardetodoomérito
quedeveserreconhecidoainiciativascomoasdeSteiner,Fishkinemuitosoutros,a
verdadeéosestudosempíricosdisponíveisnãonospermitemafirmar19Habermasfalaexplicitamentenaqualidadedodiscursocomoumavariávelempíricacrucialdapolíticademocráticadeliberativa(Habermas,1996:304).
21
categoricamentequeademocraciadeliberativaconstituiumaalternativacredívelà
democraciarepresentativa.Aexistênciadecondiçõesinstitucionaisàsuaaplicação,
porexemplo,suscitamaisquestõesdoqueaquelasaqueresponde:porexemplo,
qualaconfiguraçãoinstitucionalquemelhorpromoveumapolíticadeliberativa
democrática?Sucedequearespostaataisquestõessópoderáserencontradano
quadrodeumaperspectivainstitucionalistadopolítico,podendoumaabordagem
inspiradanomodelodeliberativodedemocracia,namelhordashipóteses,
complementaraquela.Poroutraspalavras,osresultadosempíricosexistentessão
inconclusivosquantoàsuperioridadedademocraciadeliberativafaceàsua
congénererepresentativaenquantomodelodeorganizaçãopolíticaedetomadade
decisãodemocrática.Quandomuito,estestrabalhossugeremlinhasfuturasde
investigaçãopromissoras;porém,aquestãodesesaberseexistembasesconcretas
paraseafirmarqueasoluçãodacrisedasdemocraciasrepresentativaspassapelo
modelodeliberativodedemocraciaficaporresponder.Acontece,porém,queuma
respostaaestaimportantequestãotemvindoaserdesenvolvidanumoutroplano
quenãooempírico,eforadoâmbitodasteoriasdeliberativasdademocracia.Éa
estatentativaderespostaquededicamosapartefinaldesteartigo.
5.Maisemelhorrepresentação?
Comoprocurámosdemonstrar,foiachamadacrisedademocraciarepresentativa
quemotivouamaisrecenterecuperaçãodoantigoidealdeliberativodatroca
públicaeracionaldeargumentossobrequestõesdeinteressegeral.Naverdade,
tratou-senãotantodeumacrisederepresentaçãocomodeumacrisede
participação.Senão,vejamos.Apartirdosanos70,aparticipaçãopolíticadiminuiu
22
deformaacentuadanasdemocraciasdospaísesmaisdesenvolvidos,sobretudoem
comparaçãocomosníveisdeparticipaçãodasdécadasanteriores.Éapartirdesta
alturaqueaabstençãoeleitoralseassumecomoodesafiopolíticomaisimportante.
Umaprimeirarespostaaestedesafioconsistiunavalorização–políticaeteórica–
deformasdirectasdedemocracia.Umasegundaresposta,emboratributáriada
primeira,foia“viragemparaadeliberação”queprocurámosanalisarporreferência
àimagemdeumaonda:ondaestaqueseteráiniciadoemmeadosdosanos80,terá
alcançadooseuaugenadécadaseguinte,equeterávindoaesvaziar-sedesdeentão.
Aconteceque,quarentaanosdepoisdoMaiode68,jávaisendotempode
questionarmososfundamentosempíricosdestaalegada“crisedademocracia
representativa”.Narealidade,ecertamentemuitodevidoàcapacidadedeadaptação
emudançareveladapelosregimesdemocráticosrepresentativosnesteperíodode
tempo,osreceiosdedesafectaçãogeneralizadadalegitimidadedemocrática
(Habermas,1988)nãoseconfirmaram.Narealidade,nãoparecemexistirquaisquer
indíciosdequealegitimidadedemocráticadoEstadoconstitucionaldedireitotenha
diminuídoou,pelomenos,quetenhasidoseriamentequestionadanestasúltimas
décadas.Falar-sedecrisedelegitimidadedasdemocraciasrepresentativas,
sobretudoàluzdoquesepassanamaioriadosregimespolíticosforadoOcidente,
parece-nosser,hojeemdia,umexercíciointelectualmenteespúrioesemqualquer
fundamentoempírico.Se,paraageraçãoquenosprecedeu,oproblemapolítico
centraleraachamadacrisedasdemocraciasrepresentativas–umproblemade
participação–oproblemamaissériocomqueomundoglobalizadoemquevivemos
23
nosconfrontaéodaexclusãodesegmentoscadavezmaissignificativosdasnossas
sociedades–umproblemaderepresentação.Estaasserçãovaleespecialmentepara
ocontextodassociedadesdaEuropaOcidentaleAméricadoNorte,emboraassuas
implicaçõespossamsergeneralizadasaoutrospontosdoglobo.
Oqueestáemcausanãoéalegitimidadedasdemocraciasrepresentativasmas
antesaquantidadeequalidadedarepresentaçãopolíticademocrática.Nummundo
emqueonúmerodeimigrantesilegaisaumentouexponencialmenteeemqueas
bolsasdeexclusãosocialeeconómicaaumentamdediaparadia,ograndeobstáculo
aenfrentarpelateoriademocráticajánãoéodaabstenção,masodaexclusão.Este
último,agravadopelascrescentesdesigualdadesprovocadaspelastendênciasde
globalizaçãodosfluxoseconómicosefinanceirosdasúltimasdécadas,éhojeo
principalproblemadamaioriadosregimesdemocráticos.Seécertoqueofenómeno
deabstençãoeleitoraljustificaquecontinueaserdadaatençãoàcategoria
“participação”,oproblemadaexclusãoexigequesedevolvaalgumprotagonismoà
categoriade“representação”.Ora,foramrecentementedadosalgunspassos
promissoresnestesentido.Naverdade,algumadareflexãoteóricamaisinovadora
sobredemocraciaéproduzidahojeemdiaporautoresquepreconizamuma
reavaliaçãodoprincípiodarepresentação.Esteprincípio,tãonegligenciadoquefoi
nasúltimasdécadas,20estáaseralvodeumanotávelreapreciaçãoqueprocura
recolocá-lonocentrodaagendadasteoriasdademocracia.
20ComapossívelexcepçãodePrincipesdugouvernementreprésentatifdeBernardManin(1995),oconceitoderepresentaçãopolíticatem-semantidoforadocentro
24
Umdosprotagonistasdesteexercíciodereavaliaçãodosméritosrelativosdo
princípiodarepresentaçãopolíticaéDavidPlotke,aquemdevemosoprimeiro
questionamentosistemáticodopressuposto,partilhadoportodasasconcepçõesde
democraciadirecta,dequeparticipaçãoerepresentaçãoseopõem(Plotke,1997).
MasPlotkenãoselimitouaclarificarasrelaçõesconceptuaisentreparticipação
(queseopõe,nãoarepresentaçãocomomuitosjulgam,masaabstenção)e
representação(cujoopostoéexclusão).Oseugrandecontributofoiodedefender
umasoluçãodemocráticareequilibradanosseuselementosparticipativose
representativos:“emvezdeopormosparticipaçãoarepresentação,devíamosantes
tentarmelhorareexpandiraspráticasrepresentativas.Combasenisso,algunsdos
aspectosmaisimportantesdaparticipaçãodeveriamserincluídosnumesquema
renovadoderepresentação”(Plotke,1997,p.24).
Umaposiçãosemelhantenadefesadoprincípiodarepresentaçãofoiarticuladapor
IrisMarionYoung.Paraestainfluenteautorafeminista,nasúltimasdécadas
verificou-seumatendênciaparaseidentificardemocraciacomdemocraciadirecta.
Oseuquestionamentodestepressupostoapartirdarevalorizaçãodoprincípiode
representaçãoassemelha-seaodePlotke.Emprimeirolugar,diz-nosYoung,nãohá
qualquerrazãoparasesuporqueademocraciadirectasejaaúnica“verdadeira”
formadedemocracia.Maisdoquecomoumarelaçãodeidentidade,ademocracia
deveantesserconcebidacomoumarelaçãodediferença–adiferença,oudistância,daagendaemteoriapolítica.UmatentativaderemediarestasituaçãoéVieiraeRunciman(2008).
25
quenosseparadosnossosrepresentantes,semaqualnãopoderíamosavaliar,
comentarecriticarlivrementeassuasopções.Senãoexistirumadiferençaentre
nós,representados,eeles,representantes,comopoderemosnóscriticarassuas
opçõesedecisões?Umademocraciagenuinamentelivreexigequeadeliberaçãonão
sereduzaaumvãoefalaciosoexercíciode“auto-crítica”,aúnicahipótesedeixada
emabertoporregimescomsistemasrepresentativosnãodemocráticos.
Alémdomais,eesteéoseusegundoargumento,umavezquesódeterminados
aspectosdeumindivíduopodemserrepresentados(nomeadamenteinteresses,
opiniõeseperspectivas),éumafaláciapensar-sequeexista,ousequerquedeva
existir,umarelaçãodeperfeitaidentidadeentreosdois(Young,1997,p.353).Em
terceirolugar,sãonecessáriasregrasconcretassobrerepresentaçãopararegular
situaçõesderepresentaçãodefactoarbitráriasqueocorremnodia-a-dia,
nomeadamenteemexercíciosdeliberativos(Idem,pp.352-353).Parahavermelhor
deliberaçãoé,pois,necessáriohaverformasinstituídasderepresentação.Por
último,daquidecorreque,paraqueademocraciasaiareforçada,devehavermaise
melhorrepresentaçãotantonaestruturaformal(noEstado)comoinformal
(sociedadecivil).21
OqueargumentoscomoosdePlotkeeYoung,sugerindoquesereequacioneopapel
doprincípioderepresentaçãonoâmbitodareflexãocontemporâneasobre
democracia,parecemvirreforçaréaideiadequearespostaaoprincipalproblema21“Democracycanalsobestrengthenedbypluralizingthemodesandsitesofrepresentation”(Young,1997,p.362.Veja-se,também,idem,pp.372-373.
26
dosnossosdiasnãopassapelademocraciadeliberativa.Defacto,ademocracia
deliberativapoucoounadapodefazerparasolucionaroproblemadaexclusão,
antesdemaispolítica,mastambémsocialeeconómica,deumnúmerocrescentede
habitantes,nassociedadesmaisdesenvolvidasetambémumpoucoportodoo
mundo.Comopoderia,afinal,umaconcepçãodedemocraciaquepressupõeque
todososparticipantesestejamemigualdadedecircunstânciasajudararesolverum
problemaemqueaspartesafectadasestãonumasituaçãoderadicaldesigualdade–
aexclusãodacidadania,ébomnãoesquecermos,aoimpediroacessoaosdireitos,
liberdadesegarantiasconstitucionalmenteconsagrados,abrecaminhoàsmais
variadasformasdeexploraçãoedescriminação.Ademocraciadeliberativaé,em
últimaanálise,umprivilégiodosincluídos.
Carecerão,então,desentidoiniciativaspolíticasqueprocuramestimulara
participaçãodaspopulações?Pensamosquenão.Iniciativasquevisampromovere
estimularaparticipaçãopolíticadoscidadãos,sobretudoquandoserevestedeum
carácterdeliberativo,sãoimprescindíveisparaqueaabstençãosemantenhadentro
devaloresrazoáveiseassimseassegurealegitimidadedemocráticaformal.
Acontecequeseriaumerrojulgarquecomistoresolveríamostodososdilemasdas
nossasdemocracias.Umexemplopodeajudar-nosaexplicaroquetemosemmente.
Atribui-seaJacquesDelorsaideiadequeoprocessodeintegraçãoeuropeiaécomo
umabicicleta:enquantoaEuropaestiveremmovimento,nãoentraráemcrise.Algo
desemelhantepoderiaserditoacercadademocracia,quernaEuropa,quernoutras
partesdomundo.Talcomonocasodeumabicicleta,seosseusdoispneusnão
27
estiveremcheios,corremosoriscodecair:porumlado,sedevemosirmantendoo
pneu“participação”cheioatravésdeiniciativasquepromovamoenvolvimento
directodoscidadãosnoprocessodeconsultaetomadadedecisãopolítica,aúnica
maneiradeseevitarqueopneu“representação”serompa(comosucedeu,por
exemplo,emPariscomarevoltadasbanlieuesemfinaisde2006)éporintermédio
demaisemelhorrepresentação.
Estamosconscientesdequesetratadeumequilíbrioqueédifícildealcançare,
sobretudo,difícildemanterpormuitotempo.Aconteceque,emparteporrazõesjá
aquiaventadas,existeactualmenteumenormeeinjustificadodesequilíbrioem
favordaparticipação,parcialmenteexplicávelpelaconfusãoconceptualemtornoda
noçãoderepresentação:longedeseoporademocraciaeaparticipação,a
representaçãopolíticademocráticaé,narealidade,aúnicaformade
verdadeiramentecombateroflagelodaexclusão.Umaexclusãoqueserevestede
múltiplosperfisconsoanteasociedadeeotempohistóricoqueanalisemos–etnia,
género,classesocialouconfissãoreligiosasãoalgumasdasprincipaisdimensões
quepodemseraccionadascomofactoresdeexclusão,paraalémdofactorde
exclusãopolíticoporexcelência,acidadania.22Aexclusãodequalquergrupoou
indivíduopormotivosdestaordemsópodesereficazmentecombatidapormaise
melhorrepresentaçãodemocrática–sóassimtodospoderãoverosseusinteresses
easuaidentidadeprotegidospelaforçadalei.Umavezincluídosnacomunidade
22Paraumadiscussãodoconceitodecidadaniaedosváriostiposdedireitosquelheestãoassociados,veja-seDomingues,2001.
28
políticaenoregimedemocrático,asuaparticipação–livre,constante,informada–é
essencialparaalimentaromododevidademocrático.
Emsuma,oprincipalproblemapolíticohojejánãoéodaabstenção,masoda
exclusão.Odesafioqueaactualgeraçãotempelafrenteéjustamenteode
responderaeste(velho)novoproblema.Umprimeiropassonessadirecçãopoderá
serodechamaraatençãoparaofrágilequilíbrioqueemdemocraciaexisteentre
representaçãoeparticipação,ouparaossériosriscosquecorremosse
confundirmoscrisesdeparticipaçãocomcrisesderepresentação.Sevirmoseste
desafioàluzdopercursorecentedaideiadedemocraciadeliberativa,pareceestar
justificadoorenovadointeressenanoçãoderepresentação.Étãoimportantenão
esquecerquerepresentaçãoédemocraciacomoreconhecerquedemocracianãose
esgotanaparticipação.
29
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