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DAS CAUSAS QUE LEVARAM À FUNDAMENTAÇÃO DO ESTADO CIVIL EM THOMAS HOBBES
Natália Milan
Prof. Marcos Antônio Lopes (Orientador)
RESUMO
Este artigo explora o estado de natureza hobbesiano, embasado em uma das paixões que, segundo Hobbes, inclinam os homens a buscarem a paz:
o medo. A partir da análise do contexto em que Hobbes viveu, em meio à guerra civil de 1642, é possível inferir que tal paixão é a chave para a
compreensão da teoria acerca da formação do Estado representativo. Qual a razão para que os indivíduos abandonem o estado de natureza, pactuem
entre si e firmem o estado civil? O cenário político em que a reflexão de Hobbes inseriu-se – as disputas entre rei e parlamento, que culminaram
na guerra civil inglesa – foi determinante para a fundamentação das críticas às demais formas de governo. Hobbes refere-se à democracia, por
exemplo, como uma forma de governo „instável‟, devido à possibilidade de
haver divergências entre os interesses particulares e os interesses públicos dos membros da assembléia. Caso a assembléia encontre-se
dividida, o resultado será a guerra civil e, portanto, o retorno ao Estado de Natureza. Portanto, a análise do contexto histórico, a influência da guerra
civil e o constante temor devido ao Estado de Natureza são fundamentais para a compreensão das razões que levaram Hobbes a defender o Estado
Civil.
Palavras-chave: Thomas Hobbes; Estado Civil; Estado de Natureza
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Thomas Hobbes nasceu na aldeia de Westport, próximo a
Malmesbury, Inglaterra, em 1588. Nesse mesmo ano, a Inglaterra
encontrava-se sob ameaça da Espanha, comandada pelo rei ultra católico
Felipe II. Segundo o próprio filósofo inglês, sua mãe pariu gêmeos: ele e o
medo.
Por que os indivíduos deixam o estado da natureza e dão vida ao estado civil com suas
vontades concordes? A razão apresentada por Hobbes, como se sabe, é que sendo o estado
de natureza uma situação de guerra de todos contra todos, nele ninguém tem garantia da
própria vida: para salvar a vida, os indivíduos julgam necessário assim submeter-se a um
poder comum suficiente para impedir o emprego da força particular (BOBBIO, 1985,
p. 101).
Desde então, nota-se a influência do medo na vida e,
conseqüentemente, na reflexão de Hobbes acerca da constituição do
Estado Civil e de suas características. De família pobre, aos sete anos,
Hobbes recebeu a tutela de Robert Latimer, mentor em cultura clássica,
que lhe proporcionou conhecimentos em língua grega e latina. Pode-se
dizer que esta formação inicial tenha contribuído, posteriormente, para a
proximidade de Hobbes com os clássicos. Em 1603, Hobbes ingressou no
Magdalen Hall, Oxford. Seu currículo escolar – não muito brilhante, diga-
se de passagem – foi marcado pela Escolástica, Retórica e estudos de
Lógica, Física, Astronomia e Geografia.
Em 1608, após concluir o bacharelado, Hobbes foi indicado para
preceptor do filho de Willian Cavendish, primeiro Conde de Devonshire. A
permanência de Hobbes na casa dos Devonshire foi de fundamental
importância para o seu desenvolvimento intelectual. Apesar da
instabilidade financeira dos Cavendish, este emprego permitiu-lhe poupar-
se da humilhante pobreza em que geralmente viviam os preceptores do
século XVII.
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Em 1629, Hobbes publicou seu primeiro trabalho: a tradução da
Guerra do Peloponeso, de Tucídides, que, embora de caráter literário, já
apresentava antecipações do Leviatã, sua principal obra, publicada em
Londres, 1651.
Entre os anos de 1621 e 1626, Hobbes foi secretário de Francis
Bacon (1561-1626), período em que as questões filosóficas de Hobbes
começaram a se solidificar. Contudo, Hobbes não se ateve ao empirismo
baconiano. Em 1629, durante uma viagem pela Europa, em Genebra,
Suíça, teve a oportunidade de ler os Elementos da Geometria, de Euclides
(século III a.C), obra fundamental para o pensamento racionalista da
época. Entre 1632 e 1637, em nova viagem, Hobbes esteve em Paris e
entrou em contato com o padre Mersenne, correspondente e amigo de
René Descartes (1596-1650), com quem Hobbes logo entrou em
discussão. Igualmente importante para Hobbes foi seu encontro com
Galileu Galilei (1564-1642), na Itália.
Todavia, os novos contatos intelectuais não fizeram com que
Hobbes desviasse sua atenção da situação em que se encontrava a
Inglaterra. Seu interesse pelos problemas sociais era bastante profundo.
Em 1640, de volta à Inglaterra, Hobbes apresentou-se e manteve-se
como defensor do rei, Carlos I (1600-1649), então ameaçado por uma
revolução liberal. Compôs, em apoio ao soberano, seu primeiro tratado,
Elementos da Lei Natural e Política, destinado a fundamentar uma ciência
da política e da justiça. O tratado circulou em cópias manuscritas até
finalmente ser publicado na forma de dois tratados distintos: Natureza
Humana e Do Corpo Político.
Devido ao fortalecimento do parlamento, foi obrigado a refugiar-
se em Paris. Em 1642, ainda em defesa do soberano, publicou Do
Cidadão. Em 1652, Hobbes retornou definitivamente à Inglaterra já
dominada por Olliver Cromwell (1599-1658), o Lord Protector que
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comandara a revolução liberal de 1642, garantindo, assim, o sentido
econômico-burguês da mesma. Em 1654, Hobbes publicou Do Corpo e,
em 1654, Do Homem.
Em 1660, ocorreu a Restauração dos Stuart, marcando a
reconciliação de Hobbes com o rei (e antigo pupilo) Carlos II. Hobbes
retomou o estudo dos clássicos, fazendo traduções de fragmentos da
Ilíada e da Odisséia. Após uma velhice tranqüila, Hobbes faleceu em
Hardwick, em 1679, dez anos antes do triunfo das idéias liberais das quais
havia sido ferrenho adversário.
Além do Estado, Hobbes também escreveu sobre temas como a
razão. Segundo o filósofo, somente a razão é capaz de restaurar o que foi
destruído pela paixão e pela ignorância – neste caso, Hobbes refere-se à
constante luta em que os homens vivem no estado de natureza, pois onde
há igualdade de forças é por meio da luta que se resolvem os conflitos.
Todavia, dessa luta não há vencedores, e o mundo estará inevitavelmente
mergulhado numa guerra civil que condena os homens à morte. Portanto,
somente o Estado é capaz de impor leis e fazer com que os homens
cumpram-nas a fim de assegurarem o bem mais precioso: sua própria
vida. Ademais, Hobbes não julga que o Estado é apenas uma forma de
reprimir as paixões egoístas dos homens e sua inevitável imoralidade: o
Estado é também a condição sem a qual não seria possível aos homens
estabelecerem entre si relações racionais.
A idéia de Hobbes é que a razão se constituiu
no momento em que os homens inventaram a linguagem, impondo nomes aos conteúdos de
sua imaginação, para melhor lembrá-los. Antes da invenção dos nomes, todo o
conhecimento humano se reduzia ao que Hobbes denomina prudência ou o cálculo
mental – um tipo de conhecimento que os
homens partilham com os animais e que se reduz basicamente à expectativa de que um
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evento de produza a partir da relação que ele mostrou ter na experiência passada com
outros eventos. (...) Oferecer a razão de um evento equivale para Hobbes, como de um
modo geral para os racionalistas do século XVII, a fornecer a sua gênese – o que
passamos a poder fazer no momento em que, tendo instituída a linguagem, deixamos de
calcular com imagens para calcular com
nomes, quando definimos um termo e retiramos dessa definição as conseqüências
que estão embutidas nela (LIMONGI, 2002, p. 17).
De acordo com o espírito do racionalismo do seu tempo, Hobbes
concebeu a filosofia como um sistema onde, partindo-se de princípios
fundamentais, é possível decorrer deles as demais noções que irão edificar
o conhecimento. Estas noções referem-se às concepções de corpo e de
movimento. A partir delas, Hobbes fundamentou a teoria da natureza
humana: uma teoria da percepção; uma teoria das paixões e, finalmente,
uma teoria dos costumes. Através da análise da natureza humana,
Hobbes embasou sua teoria política e compôs o plano completo de sua
filosofia: Corpus, Homo, Civis, publicado em 1637.
Quando Hobbes argumenta ser a razão parte da natureza
humana, ele refere-se à capacidade que os homens possuem de conhecer
não só as causas, mas também os fins. Ou seja, seguir regras que lhes
indiquem os meios mais adequados para atingirem determinados fins. A
filosofia seria, portanto, um conhecimento adquirido através de um
raciocínio correto dos efeitos que provocaram as causas anteriormente
concebidas e, inversamente, das causas possíveis conforme os efeitos
conhecidos.
Finalmente, Hobbes aliou todos os seus estudos matemáticos e
reflexões acerca da razão e paixão à fundamentação de sua sabedoria
política acerca do Estado Civil e do poder soberano. Para Hobbes, o poder
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soberano é absoluto. Se não fosse soberano, não seria absoluto. Acima do
soberano não haveria qualquer outro indivíduo. Então, o soberano não
possui limites e pode agir de acordo com seus interesses? Não. No que
concerne às leis naturais e divinas, Hobbes não nega sua existência, mas
argumenta que não se tratam de leis como as positivas, pois não são
aplicadas com a força de poder comum. Por isso, não são obrigatórias
externamente, mas internamente, ou seja, no nível da consciência de
cada indivíduo. Isso quer dizer que o vínculo que os súditos possuem com
as leis positivas não é da mesma natureza daquela que o soberano
mantém com as leis naturais. Ou seja, se os súditos infringirem as leis
positivas, estarão sujeitos ao julgamento do poder soberano.
Entretanto, o soberano está acima das leis positivas, pois ele
representa o próprio Estado, ou seja, o responsável pela elaboração das
mesmas. Portanto, não pode submeter-se a algo que ele mesmo elaborou.
Então, as únicas leis que concernem ao soberano são as naturais. Porém,
se ele não as observar, ninguém poderá puni-lo – pelo menos neste
mundo. Enquanto que aos súditos as leis positivas devem ser obedecidas
absolutamente, as leis naturais são para o soberano apenas regras de
prudência, que lhe sugerem determinadas condutas.
Quanto à esfera pública e privada, Hobbes nega que haja
distinção entre as mesmas. Uma vez instituído o Estado, os direitos
privados – que, em Hobbes, correspondem ao estado de natureza – se
dissolvem completamente na esfera pública, isto é, nas relações de
domínio entre os súditos e o soberano. Com efeito, a razão que inclina os
homens a deixarem o estado de natureza e ingressarem na esfera pública
do Estado é: o primeiro não é limitado por leis impostas por um poder
comum e se resolve num constante conflito permanente (a máxima
“guerra de todos contra todos”).
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De acordo com Hobbes, a propriedade só existe mediante tutela
estatal. No estado de natureza, os indivíduos possuem direitos iguais
sobre todas as coisas, o que quer dizer que não possuem direito a nada,
já que se todos possuem direito a tudo, o mesmo objeto pode pertencer
ao mesmo tempo a vários homens. Somente o Estado pode garantir, com
sua força, superior a todas as forças conjuntas dos súditos, a propriedade
individual.
Devido ao caráter absoluto do Estado, Hobbes rejeita que haja
distinção entre formas boas e más de governo. Mas então, como é
possível distinguir o soberano que respeita as leis daquele que não as
respeita? Tem sentido falar em abuso de poder onde o poder é ilimitado?
Hobbes acredita que não há nenhum critério objetivo para se distinguir o
bom do mau tirano, pois os julgamentos de valor – isto é, a base das
quais dizemos que algo é bom ou ruim – são subjetivos, dependem da
„opinião‟ de cada um. O que parece bom para uns pode ser mau para
outros. Ou seja, não há critérios racionais para tal distinção, pois os
julgamentos derivam das paixões, não da razão.
A análise do contexto histórico na Inglaterra do século XVII
permite compreender as razões que levaram Hobbes a fundamentar sua
teoria do Estado Civil. A reflexão hobbesiana nasce das disputas entre rei
e parlamento na Inglaterra, que culminaram na guerra civil, isto é, na
dissolução do Estado. Hobbes considera responsáveis pela dissolução
aqueles que sustentaram a divisão do poder soberano entre o monarca e
o corpo legislativo, ou seja, o parlamento.
Na Revolução Inglesa, os problemas econômicos e políticos
acrescentavam-se aos religiosos. Com o aumento da importância da
agricultura, os burgueses passaram a investir na compra e exploração das
terras. Os nobres empobrecidos pela concorrência com a burguesia e
ameaçados pela inflação agarravam-se às rendas do Estado. Ao pretender
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aumentar os impostos pagos pela burguesia para manter os gastos com a
nobreza, o rei Carlos I entrou em choque com o Parlamento (na verdade,
com a Câmara dos Comuns, representantes da burguesia, já que os
Lordes eram favoráveis ao rei). Além disso, rei e burgueses enfrentaram-
se também por questões religiosas. O puritanismo possuía inúmeros
adeptos, pois pregava o trabalho e a poupança, favoráveis ao
fortalecimento do capitalismo.
O rei, para quem o controle sobre a Igreja era um instrumento
indispensável do poder, protegia a Igreja Anglicana e perseguia os que
divergiam da religião.
A luta agravou-se em 1628, quando o Parlamento impôs a Carlos
I a Petição dos Direitos, pelo qual questões relativas a impostos, prisões e
convocações do exército não poderiam ser executadas sem autorização
parlamentar. Carlos I aceitou tal imposição, porém não a cumpriu.
Quando a reunião parlamentar do ano seguinte condenou sua política
religiosa e o aumento dos impostos, o rei dissolveu o Parlamento e
governou sem ele por onze anos. Em 1640, foi reunido um novo
Parlamento. Em 1641, a eclosão de um movimento separatista na Irlanda
forçou a organização do exército, cujo comando foi negado ao rei. Tornou-
se, então, obrigatória a reunião do Parlamento pelo menos a cada três
anos, e o rei perdeu o direito de dissolvê-lo. Ainda em 1641, o Parlamento
dividiu-se entre alguns líderes radicais (que queriam desapropriar as
terras dos senhores eclesiásticos) e a aristocracia unida aos burgueses
capitalistas conservadores (que se sentiram ameaçados pelo movimento
popular e voltaram-se para o rei, símbolo de segurança e ordem. Carlos I
tentou recuperar seu poder, indo contra medidas parlamentares. Em
1642, eclodiu a Guerra Civil.
O comando do exército parlamentar foi dado a Cromwell. O
exército tornou-se uma força política poderosa e apoiou a Câmara dos
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Comuns. A Guerra Civil culminou com a decapitação do rei Carlos I e a
implantação da República (Commonwealth), em 1649.
Outra discussão pertinente acerca da teoria hobbesiana refere-se
à crítica ao governo misto.
(...) o rei cujo poder é limitado não é superior àquele ou àqueles que têm o direito de limitá-
lo. E aquele que não é superior não é supremo, isto é, não é soberano. Portanto, a
soberania ficou sempre naquela assembléia que tem o direito de limitá-lo, e em
conseqüência o governo não é uma monarquia, mas democracia ou aristocracia.
Conforme acontecia antigamente em Esparta, onde os reis tinham o privilégio de comandar
seus exércitos, mas a soberania residia nos éforos. (HOBBES, 1999, p. 158).
A crítica hobbesiana acerca do governo misto (considerado
„instável‟) implica outro problema: trata-se da confusão entre a teoria do
governo misto e a teoria da separação dos poderes. De acordo com a
passagem acima, a crítica ao governo misto também consiste em uma
crítica à separação dos poderes. Mas seriam ambos a mesma coisa? Antes
de discutir o assunto, convém citar mais uma passagem.
Acontece por vezes também no governo
meramente civil há mais do que uma alma, como quando o poder de arrecadar impostos
(que é a faculdade nutritiva) depende de uma assembléia geral, o poder de conduzir e
comandar (que é a faculdade motora) depende
de um só homem, e o poder de fazer leis (que é a faculdade racional) depende do consenso
acidental não apenas daqueles dois, mas também de um terceiro. Isto causa perigos no
Estado, umas vezes por causa de consenso para boas leis, mas muitas vezes por falta
daquele alimento que é necessário para a vida e para o movimento. Pois, muito embora
alguns percebam que tal governo não é
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governo, mas divisão do Estado em três facções, e o chamem monarquia mista,
contudo a verdade é que não é um Estado independente, mas três facções
independentes, não uma pessoa representativa, mas três. No reino de Deus
pode haver três pessoas independentes sem quebra da unidade no Deus que reina, mas
quando são os homens que reinam e estão
sujeitos à diversidade de opiniões isso não pode acontecer. Portanto, se o rei representa
a pessoa do povo e a assembléia geral também representa a pessoa do povo, e outra
assembléia representa a pessoa de uma parte do povo, não há apenas uma pessoa, nem um
soberano, mas três pessoas e três soberanos. Não sei a que doença do corpo natural do
homem posso comparar exatamente esta irregularidade do Estado. Mas uma vez vi um
homem que tinha outro homem ligado a um de seus lados, com cabeça, braço, tronco e
estômago próprios: se tivesse outro homem do outro lado, a comparação podia então ser
exata (HOBBES, 1999, p. 248).
De acordo com a passagem acima, podemos concluir que o
governo misto representa para Hobbes algo monstruoso. Contudo, a
verdadeira crítica de Hobbes dirige-se à separação das funções principais
do Estado e à sua atribuição a órgãos distintos. A idéia do governo misto
não surgiu para dividir o poder único do Estado, mas sim em tentar
compor numa unidade as diversas camadas que constituem a sociedade.
Admitindo-se que as funções do Estado sejam três – a legislativa, a executiva e a judiciária –
a identificação da prática da divisão de
poderes com a realidade do sistema político “misto” só pode ser feita se a cada função
corresponder uma das três partes da sociedade (reis, nobres, povo); isto é: se for
possível conceber um Estado em que ao rei caiba a função executiva, ao senado a
judiciária, ao povo a legislativa. Ora, esta é uma idéia que os primeiros teóricos do
governo misto não tinham jamais sustentado.
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Na verdade, o perfeito governo misto é o oposto: nele a mesma função – a função
principal, que é a legislativa – é exercida em conjunto pelas três partes que o compõem; ou
seja, para pensar nos termos da constituição considerada por Hobbes, pelo rei juntamente
com os Lords e os Commomns‟ (BOBBIO, 1985, p. 104).
A dissolução do Estado, segundo Hobbes, equivale retornar ao
estado de natureza e viver constantemente ameaçado pela desconfiança e
direito de agir por antecipação, caso os homens sintam-se ameaçados.
Quanto às causas atribuídas à desintegração do Estado e a crítica ao
governo misto, como o da Inglaterra em questão, Hobbes pauta-se na
instabilidade provocada pela possível divergência entre os interesses dos
membros que compõem o Estado. As repercussões da guerra civil e os
problemas sociais sempre despertaram seu temor e interesse.
O Estado se constitui como um poder soberano, acima do qual
não há nenhum outro e ao qual os demais poderes (eclesiástico,
econômico) se subordinam. Quanto a isso, Hobbes foi imensamente
criticado pela Igreja. A aversão ao estado de natureza, o medo da morte e
as incertezas provocadas pela divisão dos poderes, fundamentam a defesa
do Estado monárquico, de cunho absoluto e indivisível.
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