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Cleusa da Silva Botelho
Marizete Cândida Pereira
Goiânia, 2013
Cleusa da Silva Botelho
Marizete Cândida Pereira
Trabalho apresentado como
requisito parcial para obtenção
de nota referente AP-2, da
disciplina de Direito Processual
Civil IV, na Faculdade Lions de
Goiânia-GO.
Goiânia, 2013
DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS
INTRODUÇÃO
Preliminarmente este trabalho visa informar, genericamente, alguns
aspectos relevantes com relação a ações possessórias como por exemplo o
esbulho, turbação e ameaça, ao quais são objetos de suma importância dentro
das ações possessórias, que são motivos relevantes para que se
instrumentalize as mesmas.
Em um segundo momento, trataremos da ação de reintegração de
posse, também conhecida como ação de esbulho possessório, como as
demais ações concebidas pelo ordenamento jurídico para defesa da posse, é
uma ação sumária, porquanto, assim como as outras, terá ela sempre a
mesma limitação do campo das defesas permitidas ao demandado.
Buscaremos também fazer um paralelo entre a doutrina e a prática,
salientando o conflitante art. 923 do CPC, informando com base na súmula e
jurisprudências conflitantes.
Em um terceiro momento, analisaremos a Tutela Antecipada, que ainda
está sendo analisada de uma forma mais abrangente, pois, por parte de muitos
doutrinadores e até militantes na área do direito tem algumas resistências que
aos poucos estão sendo sanadas, pois, trata-se uma forma de flexibilização do
judiciário, além do mais, uma forma de proteger o proprietário antes de uma
catástrofe maior e que diminua os danos para a própria coisa.
GENERALIDADES
No entendimento de Maria Helena Diniz, posse é “a exteriorização do
domínio, ou seja, a relação exterior intencional, existente, normalmente,
entre o proprietário e sua coisa”. Pela tradição prática como doutrinária a
posse é tutelada pelo direito, garantindo-se dessa maneira a estabilidade
social.
O Código de Processo Civil limitou os artigos a respeito de ações
possessórias em apenas oito (arts 926 aos 933 do CPC), dos quais estes
tratam de reintegração e manutenção de posse e o interdito proibitório que são
as chamadas ações possessórias típicas, as demais ações, que não foram
elencadas, não tem seu objetivo na tutela possessória.
AÇÕES POSSESSÓRIAS E AÇÕES PETITÓRIAS
As ações possessórias tem como objetivo a proteção da posse. Vale
salientar que o possuidor pode intentar a ação contra o proprietário, mas, o
objetivo das ações possessórias não é o de discutir propriedade.
As ações petitórias tem por objeto o reconhecimento e reintegração da
pessoa, que a intenta, no seu jus in re (domínio), mantendo-o integral e livre de
qualquer importunação. O direito de domínio é o seu fundamento. E se mostra,
assim, a ação própria para a defesa e garantia da propriedade.
Serão petitórias, pois, todas as ações formuladas nesse sentido, desde
que pretendam defender o direito de propriedade ou de qualquer outro direito
real, que se tenha violado ou se pretenda violar, para que seja reconhecido,
protegido, e possa ser livremente exercido. Temos como ações petitórias as de
reivindicação, negatória, confessória.
PROCEDIMENTO
Como dispõe o art. 931 do CPC: “Concedido ou não o mandado liminar
de manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, nos cinco dias
subseqüentes, a citação do réu para contestar a ação.
Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação prévia (art. 928), o
prazo para contestar contar-se-á da intimação do despacho que deferir ou não
a medida liminar.”
Com base neste artigo chega-se a conclusão de que o procedimento é
ordinário, tendo quinze como prazo para resposta do réu, cabendo neste caso
também a exceção.
ESBULHO, TURBAÇÃO E AMEAÇA
Esbulho é a perda total da posse. O possuidor perde o acesso pleno
da coisa.
Turbação é a perda parcial da posse. O possuidor ainda tem acesso
(mesmo que parcial) da coisa.
Ameaça se caracteriza quando há receio sério de que a posse venha a
sofrer alguma ameaça, tanto de esbulho como de turbação.
A FUNGIBILIDADE DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS
Na fungibilidade das ações possessórias há necessidade de dois
elementos primordiais que é a tutela adequada e a adaptação no curso do
processo, sem as quais não há como fungibilidade.
CUMULAÇÃO DE PEDIDOS
Nas ações possessórias admiti-se a cumulação de pedidos, ou seja, o
pedido principal cumulado com os pedidos acessórios, como temos em um
primeiro momento (principal) a proteção de posse e , além de proteger o que foi
esbulhado ou turbado, também a necessidade de ressarcimento pelas perdas e
danos e, se caso for, desfazimento de construção (por exemplo os sem terra).
CARÁTER DÚPLICE DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS
Neste caso temos dois tipos de tutela, uma do autor contra o réu e
outra do réu contra o autor, vence quem “convence e consegue provar”.
Este caráter afasta a necessidade de reconvenção, porque o réu pode,
através de uma contestação, desenvolver e formular pedidos e argumentos a
seu favor, não dependendo do uso do expediente formal consistente na
reconvenção.
CARÁTER EXECUTIVO LATO SENSU DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS
Tendo como ponto de partida que o escopo é a proteção à posse, esta
se dá independentemente de outro processo (execução). Neste caso, a
restituição da posse ocorre mediante simples expedição de mandado de
manutenção ou reintegração, independentemente de procedimento de
execução.
Mas, o caráter executivo só se refere à proteção da posse e não nas
possíveis condenações. Portanto, conclui-se que neste caso tem-se a eficácia
condenatória e a eficácia executiva.
AÇÕES DE “FORÇA NOVA” E DE “FORÇA VELHA”
Força nova são aquelas intentadas dentro de ano e dia contados da
turbação ou esbulho.
Força velha são aquelas intentadas fora do ano e dia, não perdendo o
caráter possessório, mas o procedimento será ordinário.
CAUÇÃO
A caução pode ser real ou fideicussória, não sendo necessário o
depósito em dinheiro.
Deve-se ater para o réu, cuja a prova fica a seu encargo, deve ser bem
elaborada, eficiente e suficiente para demonstrar que pode ocorrer sério
prejuízo ao réu, se o autor não caucionar.
AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE - DOUTRINA
Ações possessórias como demandas sumárias sob o ponto de vista
material
A ação de reintegração de posse é uma ação sumária, que terá sempre
a mesma limitação do campo das defesas permitidas ao demandado. Mesmo
sendo materialmente sumárias, podem ter como veículo um procedimento
ordinário.
Toda a demanda possessória, na medida em que impede as defesas
fundadas em direito limitando a controvérsia exclusivamente ao terreno do
conflito possessório, ainda quando a ação seja ordinária, por dirigir-se contra
turbação ou esbulho praticados há mais de ano e dia, por isso mesmo, é uma
demanda sumária.
REINTEGRAÇÃO DE POSSE COMO AÇÃO REAL EXECUTIVA
A ação de reintegração de posse, em sendo sumária, por ser ela
possessória, é uma ação executiva. Sua condição de ação executiva radica,
como em todas as demais desta classe, na pretensão que a ordem jurídica
reconhece ao possuidor de recuperar a posse que haja perdido em virtude do
esbulho contra ele cometido. Trata-se, portanto, de uma ação real, como o são
as ações executivas, através da qual o possuidor desapossado pede a coisa
(res) e não o cumprimento de uma obrigação.
Com esses argumentos analisa-se que a natureza de demanda
executiva não se perde quando a ação de reintegração de posse – por haver o
possuidor esbulhado perdido o prazo de ano e dia a contar do esbulho – tenha
quanto a ação ordinária, tratando-se de ação de esbulho, serão executivos, de
modo que a respectiva sentença se auto-executa, sem necessidade da
propositura de uma nova ação de execução. Como nas demais ações
executivas, o juiz deverá inserir, na sentença de procedência, a determinação
de que se expeça mandado para a reintegração do autor na posse, tanto que a
sentença passe em julgado.
EXIGÊNCIAS:
a) O autor precisa demonstrar que fora possuidor e que, em virtude do
esbulho possessório cometido pelo demandado, teve como resultado o de
perder a posse. A ação de reintegração de posse pressupõe que o autor haja
sido desapossado da coisa em virtude do esbulho. Se o autor, tendo
perturbações com a posse, mas está conservando a mesma, em sua total
condição de coisa, sem alterações a ação competente não será a de
reintegração e sim a de manutenção de posse; e se o possuidor apenas teme a
prática de uma agressão iminente à posse, então a ação cabível passa a ser o
interdito proibitório de que dispõem os arts. 932 e 933 do CPC.
Para que se possa estabelecer a distinção correta entre as duas
espécies de interditos – o recuperatório da posse e o de simples manutenção –
é necessário determinar os casos em que, segundo nosso direito, o possuidor
deve ser tido como despojado da posse; e os casos em que, não obstante
esteja ele afastado momentaneamente do poder fático efetivo sobre a coisa,
ainda o considere a lei possuidor.
A prova da posse obedece em geral às regras comuns de direito
probatório. Sendo a posse uma relação fática de poder, ou de pertinência, a
ligar a coisa ao sujeito dessa relação, prova-se a posse provando que a pessoa
que se diz possuidora exerce sobre o objeto algum ou alguns dos poderes
inerentes ao domínio, ou propriedade, segundo prescreve o art. 485 do Código
Civil.
b) Elaborada, juntada a prova da posse pelo autor esbulhado, há
necessidade agora de demonstrar o esbulho, também a data em que ocorreu.
A data é uma prova importante porque o direito diferencia a espécie de
proteção possessória segundo o esbulho tenha ocorrido antes de completar-se
um ano e um dia da data em que o possuidor pede a proteção judicial ou, ao
contrário, se tenha dado em tempo superior. Se a perda da posse datar de
menos de um ano e dia, o autor gozará do benefício do interdito de
reintegração de posse, cuja vantagem reside na possibilidade de obter o
mesmo a reintegração liminar na posse. Ultrapassado esse prazo, somente
restará ao possuidor esbulhado o recurso à ação possessória ordinária, que ,
justamente por sê-lo, não permite a reintegração liminar.
DO INTERDITO PROIBITÓRIO
Na visão sábia de Vicente Greco Filho temos que:
“O possuidor direto e indireto que tenha justo
receio de ser molestado na posse poderá
impetrar ao juiz que o segure na turbação ou
do esbulho iminente, mediante mandado
proibitório, em que se comine ao réu
determinada pena pecuniária, caso transgrida o
preceito.
Esta ação, que tem por fundamento a ameaça de turbação ou esbulho
da posse, é uma ação de preceito cominatório. Devem ser observados, pois, os
princípios contidos no art. 287 e na execução das obrigações de fazer e não
fazer que contenham a multa cominatória.
No que for cabível, aplica-se ao interdito proibitório o disposto para as
ações de manutenção e reintegração de posse, inclusive quanto à concessão
de medida de liminar.”
CUMULAÇÃO – AÇÃO POSSESSÓRIA ESPECIAL DE PEDIDOS QUE NÃO
SEJAM POSSESSÓRIOS.
Tendo como base o art. 921:
“É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de:
I – condenação em perdas e danos;
II- cominação de pena para caso de nova turbação ou esbulho;
III- desfazimento de construção ou plantação feita em detrimento de
sua posse.”
Na cumulação no qual os procedimentos são diferentes o correto é
processar-se pelo rito ordinário. Com relação aos interditos possessórios, essa
exigência não atua. A junção às ações possessórias especiais de uma
demanda ordinária não lhes retira o caráter de procedimentos especiais.
Além do pedido de indenização por perdas e danos o autor poderá
cumular à ação de esbulho ou turbação o pedido de uma cominação para o
caso de vir o réu a cometer novo esbulho, bem como o pedido de desfazimento
de construções ou plantações porventura feitas pelo esbulhador.
A EXCEPTIO DOMINII NOS JUÍZOS POSSESSÓRIOS
Cabe salientar que Exceptio domini ou exceptio proprietatis: é o
f e n ô m e n o s e g u n d o o qual o réu alega na defesa, ser titular do domínio
nas ações possessórias.
Art. 505 do Código Civil dispõe: “Não obsta à manutenção ou
reintegração na posse, a alegação de domínio, ou de outro direito sobre a
coisa. Não se deve, entretanto, julgar a posse em favor daquele a quem
evidentemente não pertencer o domínio.”
Segundo Adroaldo Fabrício:
“A doutrina formada em nosso direito, ao
interpretar o verdadeiro sentido do art. 505 do
Código Civil, concluía que a possibilidade de
aflorar, no juízo possessório, a controvérsia
fundada em direito, de modo que o juiz
devesse recusar a tutela da posse em favor de
quem a tivesse ofendido, mas pudesse
demonstrar seu direito à posse da coisa,
apenas se dava em duas hipóteses bem
determinadas: a) quando ambas as partes
disputassem a posse a título de proprietários,
alegando como fundamento para a demanda,
ou para a defesa, o domínio; b) no caso de
mostrar-se duvidosa a prova da posse, de
modo que o julgador não tivesse elementos de
prova no processo, capazes de ensejar-lhe
convencimento seguro de qual dos dois
litigantes seria o possuidor.”
Já o Código de Processo Civil, na redação originária dispunha da
seguinte maneira:
“Na pendência do processo possessório é
defeso assim ao autor como ao réu intentar a
ação de reconhecimento do domínio. Não
obsta, porém, a manutenção ou reintegração
na posse a alegação de domínio ou de outro
direito sobre a coisa; caso em que a posse será
julgada em favor daquele a quem
evidentemente pertencer o domínio.”
Dispondo, assim, sobre a mesma matéria, o legislador federal, no
entanto, introduzira uma modificação significativa na extensão da denominada
exceptio dominii, nos juízos possessórios. Segundo Ovídio A . B. da Silva
“Enquanto , pela letra do art. 505 do Código Civil, o julgador não deveria julgar
a posse em favor daquele a quem evidentemente não pertencesse o domínio;
agora, segundo a nova disposição do Código de Processo Civil, ao contrário, a
posse deveria ser julgada em favor daquele a quem evidentemente o domínio
pertencesse.
Entretanto, por força da Lei. 6820, de 16 de setembro de 1980, foi
inteiramente suprimida do art. 923 do CPC a proposição que dispunha sobre a
possibilidade de introduzir-se, nos juízos possessórios, as questões fundadas
em direito, ficando seu texto reduzido ao seguinte: ‘Na pendência do processo
possessório, é defeso, assim ao autor como ao réu, intentar a ação de
reconhecimento do domínio.’
A questão que persiste, portanto, relativamente à possibilidade de
introduzir-se, nos juízos possessórios, matéria referente a direito e não
simplesmente a posse, é a de saber se o art. 505 do Código Civil ainda vigora
em sua concepção primitiva ou se, tendo vindo o Código de Processo Civil a
disciplinar a mesma matéria, tê-lo-ia revogado, de modo que a subseqüente
revogação da lei revogadora, não teria a virtude de repristinar a disposição
revogada. O entendimento de que a Segunda parte do art. 505 do Código Civil
não mais existe em nosso direito tende a tornar-se dominante na doutrina,
assim como em inúmeros exemplares de jurisprudência.”
AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE – PRÁTICA – COMO VEM
DECIDINDO OS TRIBUNAIS
Para a prática vem-se analisando muito o art. 923, em que chega-se a
conclusão de que a conseqüência prática desta disposição será que o
possuidor não proprietário, desde que ajuíze ação possessória, poderá impedir
a recuperação da coisa pelo seu legítimo dono; ficará este impedido de recorrer
à reivindicação, enquanto a possessória não estiver definitivamente julgada.
Como esta conclusão é, para os olhos da prática, relativamente
absurda, mas com fundamento em lei, a doutrina e a jurisprudência têm
reagido contra ela.
Há muita polêmica ainda em torno do art. 923 do CPC , mas as
decisões jurisprudenciais tem sido favoráveis ao real proprietário da coisa na
sua maioria, mas o conflito continua gerando discussões com relação à
competência e também às partes da ação.
Súmula 487 do STF define a discussão com a seguinte redação: “Será
deferida a posse a quem, evidentemente, tiver o domínio, se com base neste
for ela disputada”.
Nesta ordem de idéias tem-se: “A Súmula 487 só se aplica nas
hipóteses em que ambos os litigantes pretendem a posse a título de domínio, e
não quando um deles a defende por ela mesma, até porque não é proprietário
do imóvel” (RTJ 123/770). Ainda: “Será deferida a posse a quem
evidentemente tiver domínio, apenas se com base neste for a posse disputada
por um ou por outro dos litigantes”(STJ-4ª Turma, Resp 6.012-PR, rel. Min.
Athos Carneiro. J. 13.8.91, não conheceram, v.u., DJU 9.9.91,p. 12.205).”
“Não cabe, em sede possessória, a discussão sobre domínio, salvo de
ambos os litigantes disputam a posse alegando propriedade ou quando
duvidosas ambas as posses alegadas”(STJ – 4ª Tur. Resp 5.462-MS, rel. Min.
Athos Carneiro. J. 20.8.91, não conheceram, v.u. , DJU 7.10.91, p. 13.971).”
“Na pendência de processo possessório fundido em alegação de
domínio, é defeso assim ao autor como ao réu intentar a ação de
reconhecimento de domínio – art. 923 do CPC”RE 199.179-0-PA, rel Min.
Cordeiro Guerra, j. 3.8.71, deram provimento, v.u. DJU 31.8.79, p. 6.470).”
“A proibição do art. 923 é restrita à pendência de ação possessória.
Não impede que, ajuizada reivindicatória, o réu proponha ação de usucapião
(RJTJESP 84/203).
TUTELA ANTECIPADA
GENERALIDADES
O instituto da tutela antecipada ganhou universalidade, em nosso
processo civil, com a Lei n. 8.952, de 13 de dezembro de 1994, que deu nova
redação ao art. 273 do Código de Processo Civil.
Em relação ao processo de conhecimento, o que se operou foi uma
notável valorização do princípio da efetividade da função jurisdicional, ao
atribuir ao juiz o poder de, já no curso do processo de conhecimento, deferir
medidas típicas de execução, a serem cumpridas inclusive mediante
mandados, independentemente da propositura de nova ação, rompendo, com
isso, a clássica segmentação das atividades cognitiva e da executória, a que
nos referimos anteriormente, consagrada em nosso procedimento comum.
O Código de Processo Civil, com relação ao artigo 273, redirecionou
suas atenções para o tema da Tutela Antecipada, dispondo que pode o juiz, a
pedido da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela
jurisdicional perseguida no pedido exordial, desde que, respaldado em prova
inequívoca, convença-se da verossimilhança da alegação, afora os requisitos
dos incisos I e II, que se resumem à exigência de dano irreparável ou de difícil
reparação; ou que reste caracterizado o abuso do direito de defesa ou o
manifesto propósito protelatório do réu. O fato é que o processo se encontra
atolado em uma grave crise, tanto que redundou em reformas estruturais
recentes, no intuito de minimizar os efeitos desta crise.
Cabe, antes de mais nada, à própria ordem jurídica a tarefa de
harmonizar as relações sociais entre os indivíduos, com vistas a que se
propicie a máxima realização dos valores humanos com o mínimo de sacrifício
e desgaste. A orientar esta busca, deve estar o critério do justo e do eqüitativo,
segundo a convicção prevalente em um certo momento e lugar. Por isso, é com
a insatisfação de uma pessoa, que o Estado atua jurisdicionalmente no caso
concreto, pacificando as partes conflitantes, fazendo cumprir o preceito jurídico
pertinente a cada situação, tutelando a prestação jurisdicional correta.
Quanto ao momento da antecipação, o juiz precisa ter em mente que o
momento não pode ser antecipado mais do que o necessário. O perigo de
dano, com efeito, pode preceder ou ser contemporâneo ao ajuizamento da lide,
e nesse caso a antecipação assecuratória será concedida liminarmente.
Porém, se o perigo, mesmo previsível, não tem aptidão para se concretizar
antes da citação, ou antes da audiência, a antecipação da tutela não será
legítima senão após a realização desses atos. Quanto à antecipação punitiva,
esta certamente supõe a ocorrência de fatos que emperrem o curso do
processo, e dificilmente se poderia imaginá-los praticados antes da citação ou
da resposta.
A tutela antecipada consiste em oferecer rapidamente a quem veio ao
processo pedir determinada solução para a situação que expõe, precisamente
aquela solução que veio ele a postular no feito. Não se cuida de obter medida
que impeça o perecimento do direito, ou que assegure ao titular a possibilidade
de exercê-lo futuramente. A medida antecipatória é, portanto, importantíssima
modificação trazida à moderna processualística, já que visa a emprestar
eficácia executiva provisória à decisão de mérito que dela seria normalmente
desprovida.
COM RELAÇÃO A COISA JULGADA
Dispõe, genericamente do art. 273:
“O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar , total ou
parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no peido inicial, desde que,
existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e:
I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou
II – fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto
propósito protelatório do réu.
§1º Na decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo claro e
preciso, as razões do seu convencimento.
§2º Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo
de irreversibilidade do provimento antecipado.”
Com base neste artigo temos que a tutela antecipada se dá na coisa
julgada em dois casos célebres que são: esbulho ou turbação.
O proprietário da coisa se sente lesado, ou com receio de perda da
posse, então, pede-se para o juiz a antecipação da tutela para garantir ao
proprietário a tutela do bem, não causando danos maiores para o proprietário,
evitando o risco de perda da posse, e perda da coisa para o esbulhador ou
turbador.
A eficácia da tutela antecipada se dá pela rapidez na solução do
conflito gerado, tutelando a coisa antes que se perca o controle da situação,
tornando, dessa maneira, além de favorecer o réu em alguns quesitos, morosa
a decisão e ao mesmo tempo conflitante e polêmica.
JURISPRUDÊNCIAS – REINTEGRAÇÃO DE POSSE
Intervenção Federal - Decisão fundada em lei federal
(infraconstitucional)- competência do STJ e não do STF – Tratando-se de
pedido de intervenção federal, destinado a prover à execução de decisão
judicial, sobre medida liminar, em ação de reintegração de posse de imóvel
fundada em dispositivo legal federal (infraconstitucional), a competência para o
processo e julgamento é do STJ e não do STF. Interpretação dos arts. 105, III,
102, III, 34, VI, 36, II, da CF e art. 19, I, da Lei nº 8.038, de 28.05.1990. Pedido
não conhecido, por incompetência do STF, remetidos os autos ao STJ. ( STF –
Int. Fed. 107 – SC – TP – Rel. Min. Sidney Sanches – DJU 04.09.1992)
Intervenção Federal- Decisão fundada em lei federal
(infraconstitucional). Competência do STJ e não do STF – Tratando-se de
pedido de intervenção federal, destinado a prover à execução de decisão
judicial, sobre medida liminar, em ação de reintegração de posse de imóvel
fundada em dispositivo legal federal (infraconstitucional), a competência para o
processo e julgamento é do STJ e não do STF. Interpretação dos arts. 105, III,
102, III, 34, VI, 36, II, da CF e art. 19, I, da Lei nº 8038, de 28.05.90. Pedido
não conhecido, por incompetência do STF, remetidos os autos ao STJ . (STF –
Int. Fed. 107 – SC – TP – Rel. Min. Sidney Sanches – DJU 04.09.1992).
Ação Possessória – Reintegração de posse – Liminar deferida –
Decisão posterior que, diante da possibilidade de os réus terem de boa-fé
construído a modesta casa, cassa a medida – Admissibilidade – Inteligência do
art. 471 do CPC.
Ementa da Redação: Conforme se depreende do art. 471 do CPC, se o
Magistrado, entendendo provados a posse dos autores, bem como o esbulho
de menos de ano e dia, concede liminar de reintegração de posse, não há se
falar em ausência de amparo legal na decisão, subseqüente, que cassa a
liminar após analisar a certidão dos oficiais de justiça atestando a possibilidade
de os réus terem, de boa-fé, construído a modesta casa, pois a medida liminar
concedida em ação possessória pode ser cassada no curso da lide ou na
sentença, desde que haja fato novo. (Agln 830.282-7-4º Câm. – j. 04.11.1998-
rel . Juiz Térsio José Negrato) RT 766/278
Ação Possessória – Conexão a outra posteriormente processada com
tutela provisória deferida – Revogação da liminar pela reunião dos processos
como fato novo – Admissibilidade.
Ementa da Redação: A descoberta de ação possessória conexa a
outra posterior processada com liminar, autoriza pela reunião de processos
como fato novo, revogar a tutela provisória deferida.( Agln 064.809-4/5 – 3ª
Câm. – j. 14.10.1997 – rel . Des. Ênio Santarelli Zuliani.) RT 749/283
Ação Possessória – Reintegração de posse – Arrendamento mercantil
– Leasing – Caracterização de esbulho em virtude de mora- Liminar negada
pelo pedido da arrendatária de concordata preventiva – Inadmissibilidade, pois
a arrendante é a proprietária do bem e portanto seu crédito não é quirografário.
Ementa da Redação: A empresa de arrendamento mercantil, ao
celebrar contrato de leasing, é a proprietária do bem até o momento em que o
arrendatário o adquira. Assim, verificado o esbulho pela mora não se pode
negar a liminar de reintegração de posse em virtude de pedido de concordata
preventiva pelo devedor, pois o crédito da arrendante não é quirografário. (Agln
572.520-00/1 – 1ª Câm. – j. 04.05.1999 – rel . Juiz Amorim Cantuária). RT
767/289.
Ação Possessória – Reintegração de posse – Arrendamento mercantil
– Impugnação genérica, por parte da ré, alegando o pagamento de quantia
mais do que devida – Impossibilidade de se conceder dilação probatória.
Ementa da Redação: A ação de reintegração de posse de bem objeto
de arrendamento mercantil, a impugnação genérica apresentada pela ré, com a
afirmativa de que já pagou mais que o devido, é inconsistente, não se
justificando dilação probatória. (ap c/ ver. – 520278-00/8 – 5ª Câm. J.-
02.09.1998 – rel . Juiz Dyrceu Cintra.) RT 769/289
Ação Possessória – Reintegração de posse – Ação de natureza
pessoal – Prescrição da pretensão que ocorre no prazo previsto no art. 177 do
CC – Voto vencido.
Ementa da Redação: A ação de reintegração de posse é de natureza
pessoal e a prescrição da pretensão ocorre no prazo do art. 177 do CC.
Ementa Oficial do voto vencido: Sendo a ação de reintegração de
posse de natureza real, a prescrição para o seu aforamento, entre presentes,
opera-se em dez anos contados da data em que poderia ter sido proposta.
(REsp 93.308 – RS – 4ª T – j. 11.02.1999 – rel . p/ o acórdão Min. Ruy Rosado
de Aguiar – DJU 1º. 07.1999. RT 769/169.
CONCLUSÃO
Como lembrava Ronaldo Cunha Campos – “No Estado de Direito, a
ordem pública, a paz social, o respeito à soberania do Estado, são interesses
públicos básicos, de cuja tutela cuida precipuamente o poder judiciário. A
posse é a situação de fato e uma componente de estabilidade social. Se a
posse muda de titular, tal mudança não pode resultar em desequilíbrio social,
em perturbação de ordem. Impõe-se que a passagem da posse de um para
outro titular se dê sem quebra de harmonia social, e. g. , pelo contrato, pela
sucessão. Quando a disputa pela posse se acende urge que cesse através do
processo e não pelo exercício da justiça privada. Esta última produz a ruptura
da paz social e viola a soberania do Estado ; representa a usurpação de um de
seus poderes.”
Com relação a ação possessória e reintegração de posse, podemos
chegar a conclusão de que apesar de alguns conflitos de idéias, algumas
divergências entre a prática e a teoria, este é um meio eficaz de resolver
problemas pendentes relacionados a esbulho e turbação, tendo em vista que o
pólo ativo e passivo da ação possuem o mesmo interesse comum, pleiteando a
mesma coisa, caso que gerou grandes polêmicas no mundo jurídico.
Com relação a tutela antecipada que vem para mostrar mais uma vez
que o judiciário, apesar a precariedade em alguns pontos, vem tentado buscar
a flexibilidade, inovando neste dado momento com a antecipação da tutela na
posse, tutelando desta maneira a coisa para que o proprietário não venha
sofrer prejuízos maiores no decorrer do processo.
O trabalho visou esboçar três pontos básicos: um primeiro que é a ação
possessória propriamente dita, a ação de reintegração de posse (esbulho,
turbação e ameaça de turbação e esbulho), além de inovar com a tutela
antecipada.
BIBLIOGRAFIA
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