O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
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“A DESMISTIFICAÇAO DA LINGUA INGLESA NA EDUCAÇAO DE JOVENS E
ADULTOS”
Marli Rutkoski ¹
João Negrão ²
Resumo
Este artigo tem por objetivo relatar o uso do inglês no nosso dia-a-dia, aliado ao
estudo de assuntos de interesse dos próprios alunos do Ensino Fundamental no
CEEBJA Paulo Freire. Trata-se de uma pesquisa de ação que implementa três
Unidades Pedagógicas cujo tema é “O inglês no nosso dia-a-dia” e foi trabalhada
com uma turma no período de agosto a dezembro de 2010. O relato é o resultado
das observações feitas durante as aulas e posterior análise da experiência. Os
assuntos de interesse dos alunos auxiliam no aprendizado porque criam
possibilidades de pesquisas diversas nos meios de comunicação vigentes e uso de
tecnologias como o uso da internet. São expostas ainda, as dificuldades de
implementação de um projeto desse porte para os alunos do CEEBJA que estudam
nas APED’S (Ações Pedagógicas Descentralizadas) que funcionam na periferia de
Curitiba, em salas de aula cedidas pelas escolas municipais, onde não há TV, Pen
Drive nem outros recursos que poderiam melhorar a qualidade das aulas. Outra
dificuldade exposta é a real resistência que os educandos apresentam em se
comunicar em LE por mais incentivados que sejam, sendo esse objetivo atingido
apenas por poucos alunos, evidenciando o difícil caminho a ser percorrido por
aqueles que voltam a estudar depois de longo tempo afastados da escola. Para
finalizar, o artigo evidencia a importância de observar mais de perto nossa clientela
sentindo suas necessidades e o que os motiva mais a aprender LE e com isso obter
melhores resultados na sua aprendizagem.
___________________________
¹ Professora da rede pública do Estado do Paraná. Lotada no município de Curitiba-Paraná.
Graduada em Letras Português e Inglês pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná em Curitiba
Paraná.
² Professor Orientador.
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Palavras Chave: Ensino de Jovens e Adultos; Motivação; Tecnologias
Educacionais; Língua Inglesa; Aprendizagem e Mundo do Trabalho.
Abstract
This article has report the use of English in our day-to-day, combined with the study
of issues of interest to the students of elementary school in CEEBJA Paulo Freire.
This is an action research that implements three Pedagogical Units whose theme is
“The English in our day to day” and was crafted with a group from August to
December 2010. The report is the result of observations made during the lectures
and subsequent analysis of the experience. The subjects of student interest in
learning because it helps create opportunities for research in various media utilized
and use of techonologies such as internet usage. It stated further the difficulties of
implementing a projetct of this size for students of CEEBJA studying in APED’S (
Shares Pedagogical Descentralized) operating on the outskirts of Curitiba, in
classrooms made available by municipal schools, where there are not TV, Pen Drive
or other technological resources that might improve qualit of lessons. Another
difficulty is exposed to real resistence that the students have to communicate in LE
for more to be encouraged, and this goal achieved by only a few students,
highlighting the difficult road ahead for those returning to study after long time away
from school. Finally, the article shows the importance of a closer look at our
customers feel their needs realizing what motivates them to learn LE and therely
achieve better learning outcomes.
Key Words: Youth and Adult Education; Motivation: Educational Technoloy: English
Language Learning and The World of Work.
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho faz parte das atividades atribuídas ao professor inserido no
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), proposto pela Secretaria de
Estado de Educação como Programa de Formação continuada aos professores da
rede pública de ensino do Estado, através de um trabalho conjunto com os
professores das Instituições de Ensino Superior (IES) do Estado. Essa parceria se
dá por meio da realização de atividades teórico-práticas, orientadas, as quais têm
por objetivo a atualização do profissional da educação.
É uma prática política que estabelece o diálogo entre o professores da Educação
Superior e os da Educação Básica, através de atividades teórico-práticas orientadas,
tendo como resultado a produção de conhecimento e mudanças qualitativas na
prática escolar da escola pública paranaense (Documento Síntese PDE, 2007).
O Plano de Trabalho do professor PDE prevê o desenvolvimento de material didático
que será utilizado durante a implementação do Projeto de Intervenção proposto pelo
professor PDE, sob a orientação de um professor de uma das IES do Estado do
Paraná. Após essa implementação deverá ser elaborado um artigo científico, que
representa a conclusão do trabalho do professor PDE. Assim sendo, este artigo tem
como objetivo relatar os resultados do projeto “A desmistificação da Língua Inglesa
na Educação de Jovens e Adultos”. O artigo terá a seguinte sequência:
Apresentação do projeto, explicando sua relevância para os alunos jovens e adultos;
Relato do curso GTR com a professora PDE prestando tutoria a um grupo de
professores da Rede Pública Estadual;
A implementação do projeto, constando relatório das atividades desenvolvidas
referentes ao Caderno Pedagógico composto de três Unidades sendo: “O inglês no
nosso dia-a-dia”, “Alimentação e Saúde” e “Trabalho e Emprego” e Considerações
Finais.
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OBJETIVOS
O projeto tem como objetivo auxiliar no atendimento aos alunos do CEEBJA que
pertencem à classe trabalhadora excluída. Os mesmos terão oportunidades diversas
com o uso da língua inglesa tais como: acesso ao mercado de trabalho, melhorar
suas relações interpessoais, assim como perceber a importância da aprendizagem
da língua inglesa para sua vida pessoal e profissional.
O projeto foi implementado na APED Marumbi que faz parte do CEEBJA Paulo
Freire, localizada na periferia de Curitiba, Paraná no segundo semestre de 2010. O
colégio tem como clientela alunos jovens e adultos pertencentes à classe média
baixa.
JUSTIFICATIVA
De acordo com a experiência do autor do projeto, os alunos jovens e adultos quando
retomam seus estudos, seja qual for o motivo: trabalho, necessidade de fazer curso
universitário, ou pela simples vontade de aprimorar seus conhecimentos, sentem
grande insegurança e receio. Estes sentimentos acentuam-se mais diante da
necessidade de aprender uma língua estrangeira. Por isso, esta disciplina é muitas
vezes colocada em segundo plano e a maioria dos alunos somente a concluem
quando não tem mais alternativa.
Segundo Arroyo (1981) pesquisas mostram que estes alunos permaneceram fora da
escola, pelos mais diversos motivos, os quais podem ser: falta de incentivo dos pais
e ou cônjuges, entrada tardia na escola, carência de escolas, dificuldades de
aprendizagem entre outros. Os fatores que levam ao abandono da escola estão
ligados à carência sócio-econômicas dessa parcela da população que se constitui da
classe trabalhadora efetiva e potencial o que gera a exclusão dos mesmos da
sociedade.
Segundo Brandão, “A educação é essencial e insubstituível, ela é responsável por
estabelecer, interativa e culturalmente, as condições da criação e da circulação de
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saberes, de valores, de motivações e sensibilidades que gerem sem cessar pessoas
humanas conscientes e responsáveis pelos seus atos e gestos”.
Refletindo sobre a importância que a inclusão escolar significa para os nossos
alunos, verificamos o quanto é necessário que ele se interesse, se motive e aprenda
a língua inglesa na perspectiva de sua inclusão no mundo globalizado e na formação
de sua consciência crítica. Nessa trajetória é indispensável a mediação do professor,
disponibilizando recursos materiais e afetivos para que seus objetivos sejam
atingidos.
Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica – LEM (2008, pg.55) “No
ensino de Língua Estrangeira, o objetivo de estudo dessa disciplina, contempla as
relações com a cultura, o sujeito e a identidade. Torna-se fundamental que os
professores compreendam o que se pretende com o ensino da Língua Estrangeira
na Educação Básica, ou seja: ensinar e aprender línguas é também ensinar e
aprender percepções de mundo e maneiras de atribuir sentidos, é formar
subjetividades, é permitir que se reconheça no uso da língua os diferentes
propósitos comunicativos, independentemente do grau de proficiência atingido.”
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O projeto é fundamentado em diversos autores, destacando-se o estudo e análise
das obras de Miguel Arroyo, Michael Bakhtin, Paulo Freire, Vilson Leffa, Patrícia
Pallu, Richards, Vigotsky entre outros e nas Diretrizes Curriculares da Educação
Básica-SEED.
A abordagem adotada para este estudo é a comunicativa discursiva de ensino da
língua estrangeira. Essa abordagem apresenta aspectos positivos na medida em
que incorpora em seu modelo o uso da gramática exigida para interpretação,
expressa a negociação de sentidos, no contexto imediato da fala, colocando-se a
serviço dos objetivos da comunicação.
Arroyo (2003) discutindo sobre o acesso das camadas populares à escola afirma:
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[...] Há décadas que as camadas populares vêm
pressionando o Estado para entrar na escola.
E entraram. Não na escola que durante anos serviu
aos filhos das camadas dirigentes e dos proprietários,
mas em uma rede escolar de segunda ou terceira
categoria. Com dois ou três anos incompletos foram
expulsos, obrigados a sair para entrar precocemente
no mercado de trabalho, por falta de condições
materiais, psíquicas, motoras e outros condicionamentos
tão pesquisados. Saíram porque o lugar deles não era
esse, seu destino é o de trabalhadores desqualificados
[...] (Arroyo, p.16)
O filósofo e educador Paulo Freire, dedicou grande parte de sua vida aos estudos sobre jovens e adultos. Em “A pedagogia do oprimido sempre enfatizou a necessidade de através da educação melhorar a condição de vida dos menos favorecidos."
“A Educação de Jovens e adultos é melhor percebida quando situados hoje como Educação Popular... Não é possível ao educador e às educadoras pensar apenas sobre os procedimentos didáticos e nos conteúdos a serem ensinados aos grupos populares. A libertação não se dá dentro da consciência dos homens, isolada do mundo, senão na práxis dos homens dentro da história”. (Paulo Freire, p.91/92)
O que se observa na prática em sala de aula com alunos jovens e adultos é uma
série de aspectos preocupantes e muitas vezes difíceis de transformar. Os
estudantes trazem uma imensa carga de dificuldades que podem ser financeiras,
intelectuais e sociais. Mas essas dificuldades em primeiro lugar perceptíveis
representam apenas a ponta do “iceberg” do que existe na realidade.
Para Arroyo (2003), os alunos retornam para a escola muitas vezes após anos de
afastamento, inseguros, com baixa auto-estima, com medo de ocupar o espaço
escolar. O seu despreparo dificulta o processo de retorno, pois ao longo de sua vida
sofre constante exclusão e desvalorização. Para eles é tudo estranho e diante da
necessidade de aprender uma língua estrangeira, no caso a Língua Inglesa,
acentuam-se todos esses sentimentos negativos que o intimidam.
7
Outra questão preocupante quanto às turmas da EJA é referente à evasão.
[...] da mesma maneira que os alunos aparecem na escola, sem que saibamos de onde vem ou como chegam os alunos saem. Às vezes aparecem anos depois. Verificados os motivos dessa evasão percebe-se que na grande maioria as causas desse problema são externas à escola como: doença, má alimentação, problemas de transporte, baixo salário, desemprego, cansaço [...] (Arroyo, p.12)
Conclui-se daí que por mais que o professor e a escola se empenhem para que o
aluno permaneça nas salas nem sempre é de sua competência a resolução deste
problema social. Alguns pressupostos que constituem a base metodológica de
trabalho de Paulo Freire (1993) são: o diálogo entre os sujeitos no qual se trabalha,
a oralidade como fonte de expressão dos homens e mulheres sobre o seu existir, o
seu saber experienciado e a sua cultura, a práxis como processo permanente de
reflexão- ação sobre o fazer educativo, a criticidade que possibilita aos educandos
problematizarem a realidade social, partir de temas geradores extraídos da vivência
existencial dos participantes do processo educativo, criar situações variadas de
aprendizagem que favoreçam aos educandos serem sujeitos do conhecimento, da
história e da cultura; desenvolver técnicas diversificadas procurando trazer para a
sala de aula, o cotidiano, o estético, o ético e as contribuições sociais, por meio de
variadas formas de linguagem e instrumentais da escrita.
Entende – se que esses pressupostos ensinados por Paulo
Freire sejam de grande valia ao se colocar em prática um projeto voltado
para a Educação de Jovens e Adultos. Pois tal prática pedagógica esta
refletida em grande parte das salas de aula da EJA. Os professores
engajados com este trabalho de realmente resgatar o aluno que retornou
para a escola, é capaz de fazer trocas de experiências muito gratificantes
com ele. Estabelece-se um vínculo especial entre educador e educando,
facilitando o processo ensino – aprendizagem através da confiança e
cumplicidade que ocorre entre os sujeitos desta ação que é aprender e
ensinar.
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O educador que entende a importância da mudança de
paradigma se colocando no lugar de “aprender com e não apenas ensinar
a seus alunos” estará realmente entendendo as necessidades sociais e
culturais que afetam a classe dominada. Desse modo ele altera o modelo
de relacionamento entre assistentes e assistidos, professores sábios e
alunos ignorantes. Pois sabe – se que a educação pode servir de veículo
para a transformação econômica e social, formando cidadãos mais
críticos e conhecedores de seus direitos na sociedade.
7.2. Dificuldades do aluno adulto na aprendizagem de uma Língua
Estrangeira
Após pesquisar e considerar com seriedade a condição social e
psicológica do aluno da EJA ficam mais elucidados alguns aspectos de
como a aprendizagem ocorre com os mesmos. Sabe-se que existe uma
diferença entre o modo de aprender de uma criança, um adolescente e
um jovem e adulto.
Segundo Pallu (2008), o resultado de diversas pesquisas sobre
o tema, menciona algumas conclusões:
Segundo Vygotski (1998), o pensamento e a fala estão inter-relacionados,
não sendo possível pensar que um esteja se construindo separadamente
do outro. O que nos parece é que Vygotsky quer dizer que o pensamento
e a fala estão unidos, um dependendo do outro no ato da fala. A fala é o
pensamento verbalizado. Ao que tudo indica o aprendiz da língua inglesa,
quando inicia seu estudo, não leva nenhuma bagagem cultural na língua
que vai adquirir.
No caso da criança e do adolescente, estes podem se adaptar
facilmente porque ainda estão em franco desenvolvimento da estrutura
lingüística, mas no caso do adulto isso não favorece, porque ela já formou
sua identidade lingüística na língua materna;
Para Lenneberg (1967), depois da puberdade, a capacidade de auto-
organização e ajuste às demandas psicológicas de comportamento verbal
declinam rapidamente. O cérebro comporta-se como se tivesse se fixado
9
daquela maneira e as habilidades primárias e básicas adquiridas até
então, permanecem deficientes até o final da vida;
Ricardo Schütz (2002) se refere ao estudo de alguns fatores que afetam o
desenvolvimento cognitivo do ser humano e que podem ajudar a explicar
o fenômeno da idade crítica tais como: os fatores biológicos, que estão
ligados com a habilidade linguística do ser humano e que são:
O cérebro, o aparelho auditivo e o aparelho articulatório da fala. Destes,
sem dúvida o cérebro é o mais importante. A lateralização do cérebro
ocorre a partir da puberdade, o que significa que na criança os dois lados
do cérebro estão mais interligados do que no cérebro de um adulto. Essa
interligação dos hemisférios do cérebro corresponde ao período de
aprendizagem máxima. O autor coloca que o desempenho superior da
criança estaria relacionado à maior interação entre os dois hemisférios
cerebrais e, consequentemente, o menos desempenho dos adultos
estaria relacionado à separação dos dois hemisférios cerebrais;
Reviz (2002), diz que a aprendizagem de uma segunda língua, neste caso
a língua inglesa, mobiliza dimensões da pessoa que nem sempre
convivem em harmonia, que são: a afirmação do eu, trabalho do corpo, e
a dimensão cognitiva.
Diante da análise criteriosa dos autores acima mencionados
entende-se que o papel do professor para que o aluno adulto supere as
dificuldades de aprendizagem é crucial. Pois deve levar em conta que
esses problemas podem estar centrados na própria subjetividade da
pessoa adulta.
7.3. O Perfil do Professor de Línguas Estrangeiras
É muito polêmico o perfil do professor de línguas estrangeiras.
Alguns colocam-no em uma posição privilegiada, mencionando que os
mesmos trabalham com um objeto elitizado. Outros estabelecem para
estes educadores uma posição de segunda categoria porque para eles,
10
qualquer pessoa que domine uma língua estrangeira poderá exercer o
papel de professores.
O professor de línguas estrangeiras, quando ensina uma língua
a um aluno, toca o ser humano na sua essência – tanto pela ação
do verbo ensinar, que significa provocar uma mudança,
estabelecendo, portanto uma relação com a capacidade de
evoluir, como pelo objeto do verbo, que é a própria língua,
estabelecendo aí uma relação com a fala. (Leffa,p. 333)
Segundo Leffa (2008) a. demanda para a formação de um
professor de língua estrangeira é pesada. Sem um alto investimento não
se obtém um profissional dentro do perfil que se deseja que seria um
profissional reflexivo, crítico e comprometido com a educação.
Para se formar um bom professor de língua estrangeira é
preciso que o mesmo tenha domínio das diferentes áreas de
conhecimento, sendo fatores preponderantes para isso, o domínio da
língua que se ensina, e o domínio da ação pedagógica necessária para se
fazer a aprendizagem da língua acontecer na sala de aula.
Um aspecto de suma importância é observar a diferença entre
os professores treinados e os formados para exercer a profissão. Para
(Pennington, 1990; Wallace, 1991) treinamento é o ensino de técnicas e
estratégias de ensino que o professor deve dominar e reproduzir
mecanicamente, sem qualquer preocupação com sua fundamentação
teórica. Já o significado de formação é descrito como uma preparação
mais complexa do professor, envolvendo a fusão do conhecimento
recebido com o conhecimento experimental e uma reflexão sobre esses
dois tipos de conhecimento.
Então se conclui que o correto seria passar a formar o professor
e não apenas a treiná-lo. Além disso, a formação do professor é contínua,
pois esse profissional trabalha com o conhecimento e tem a obrigação de
estar sempre atualizado.
11
A reflexão a respeito das características indispensáveis que o
professor de línguas estrangeiras deve possuir segue trilhas delicadas e
difíceis de executar.
O professor de línguas estrangeiras seria um graduado com
habilidades para manusear o conhecimento de maneiras definidas,
através de uma prática reflexiva, construída ao longo de um
processo, com base em uma visão sócio-interacional crítica da
linguagem e da aprendizagem; um profissional envolvido em um
processo aberto de desenvolvimento contínuo, inserido na prática,
e não derivado de um método ou de um modelo teórico. (Celani,
p.21)
7.4. Pesquisa sobre os interesses dos alunos
A pesquisa constitui-se em um recurso valioso para professores e
para os profissionais da área de idiomas que desejam um melhor
entendimento de como a pesquisa baseada na própria sala de aula pode
ser implementada. Pesquisa de Ação em sala de aula é conduzida pelos
professores (Renandya e Richards – 2004).
A pesquisa de ação é a busca contínua e organizada do professor
reflexivo por soluções e “insights” profissionais para a sala de aula. (Adia,
2004). È um processo sistemático de indagação do professor.
Seguem alguns relatos de experiências de professores que
desenvolveram projetos com pesquisa de ação em suas salas de aula.
Dentre essas pesquisas publicadas no livro “Pesquisa de Ação em Sala
de Aula” (Haddey-2004), pode-se citar o da professora Sabrina de
Almeida que descobriu os pontos fracos dos alunos na habilidade de
comunicação oral e pode auxiliá-los na superação dessa dificuldade.
Já o projeto de pesquisa de David Mayo levou-no a reconsiderar
por inteiro o trabalho de grupo em suas aulas e a descobrir alternativas
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para a comunicação em sala de aula que melhor complementassem as
práticas de formação de seus alunos.
Matheu Warwick e David Jeffrey descobrem a percepção que seus
alunos têm do dever de casa e, a partir daí, traçam estratégias didáticas
para o futuro. Isabel Pefianco Martin aprende a respeitar as necessidades
de seus alunos e começa a ver sob nova luz o efeito de seu “feedback”
instrucional.
Através desses relatos, deve-se compreender que, na condição
de professores de idiomas, deveríamos abrir mais espaço em nossas
aulas para ouvir as expectativas, anseios, inseguranças dos nossos
alunos. Tendo esses aspectos compreendidos pelo professor, o mesmo
pode mudar suas estratégias de ação para efetivamente ajudar os alunos
a alcançar seus objetivos.
7.4. Por Que Estudar Inglês
Uma das linhas de pensamento dos PCN encontra respaldo no
fato de que o inglês quer as pessoas queiram ou não, é a língua da
globalização. O “status” ocupado pelo inglês, na atual conjuntura nacional
ou internacional, é inquestionável. Constata-se, na realidade do nosso
dia-a-dia, que a referida língua é presença constante na maioria dos
setores da sociedade em que vivemos. Percebe-se com isso que a vida
local é, cada vez mais, afetada pela vida global e vice-versa (...) (Moita
Lopes & Rojo, 200
Com o acima exposto é necessário pensar que capacidades
letradas em LE são importantes para a ação social e construção da
cidadania, em praticamente todos os setores da sociedade
contemporânea. Mas os PCN (1998, p.24) explicam-nos uma síntese da
situação vigente do ensino/aprendizagem do inglês na rede pública na
qual aponta para a fragilidade de um sistema educacional, caracterizado
por fatores tais como: “falta de material adequados, classes
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excessivamente numerosas, tempo insuficiente dedicado à matéria no
currículo e ausência de ações formativas contínuas junto ao corpo
docente”.
Ainda segundo os PCN (1998, p.19) em decorrência dessas
dificuldades, “deparamo-nos com a proliferação de cursos particulares,
mostrando que o ensino da LE está se deslocando da escola”. O fato é
que tais cursos particulares não podem ser freqüentados por todos os
cidadãos, donde se conclui que o acesso ao conhecimento de LE
permanece fora da esfera de alcance de grande parte da população que é
usuária do ensino público.
Ao levar-se em conta a penetração da LE no Brasil, observamos
que desde o momento em que a população brasileira acorda, é
bombardeada por palavras da língua inglesa. A grande maioria não
entende significado do que ouve.
Escovamos os dentes com Close up, Colgate ou Philips. Usamos
meias Hang-ten, tênis Nike, Reebok, Snoopy, calças feitas com
Blue Jeans. Depois de se vestir Máster Stormy, Golden Cup,
Triumph Internacional, Maxi Pull, ou tantas outras marcas de
roupas, as pessoas vão até a cozinha, sobretudo de classe média,
em busca do café da manhã. Come biscoitos cream cracker,
waffles ou cookies com o café a ser mantido quente na garrafa
Alladin Pump-A-Drink. Os estudantes ao sair do colégio pegam
sua mochila da Kipling com seus objetos: canetas rolle Ball da
Parker, Bic Soft Touch, Paper Mate, Uniball, Pentel ou uma Pilot
que estão dentro do estojo made in Tawian.
Ao entrar numa lanchonete pedimos uma coca ou light-coke e
comemos um hot-dog, um hamburger ou um cheeseburger. Nos
finais de semana certamente o pessoal da burguesia pode ir a
uma Steak House, ou no restaurante self-service. E à noite
tomamos um whisky em um scoth bar e depois saímos para
dançar num disco club. ( Pallu,2008 p.215/216)
14
A língua inglesa está presente nas residências através dos
aparelhos elétricos e eletrônicos, com as indicações ON e OFF para ligar
e desligar os mesmos. È infinito o número de estabelecimentos
comerciais em inglês nas páginas amarelas das listas telefônicas
brasileiras. Quem procura por um imóvel de alto padrão se depara com os
mais diversos termos em inglês como: penthouse, gardens, suites master
flat service, coffee shop, confundindo os brasileiros que não aprenderam
a língua. Tem que se considerar que 90% dos jovens gostam de rock e
não entendem as músicas que ouvem. Em Curitiba, foi feita uma pesquisa
em 2004 e havia 29 filmes em cartaz: 17 americanos, 02 ingleses, 06
brasileiros, 02 franceses, 06 brasileiros, 02 franceses, 01 italiano e 1
japonês.
Segundo Guareschi (1988:33 apud Paiva, 1996), uma média de
55% do total de filmes exibidos é americana, e o Brasil é o responsável
por um quarto do total das compras do continente latino americano.
Segundo Pallu (2008), diante do quadro brasileiro que com
rápidas pinceladas pudemos constatar, podemos afirmar que aprender a
língua inglesa neste início de milênio é tão importante quanto aprender
uma profissão. O idioma inglês é necessário para a vida atual porque em
muitas profissões é indispensável certo domínio de inglês.
IMPLEMENTAÇÃO
Sabendo que é uma constante a dificuldade a resistência dos alunos jovens e
adultos para primeiramente aceitar e posteriormente aprender a língua inglesa, o
projeto teve como tema de estudo de intervenção “A desmistificação da Língua
Inglesa na Educação de Jovens e Adultos” visando auxiliar os educandos a superar
seus medos e bloqueios quanto à aprendizagem da LI, e disponham de mais alguns
subsídios para leitura de mundo, da valorização da sua cultura do outro através do
conhecimento da língua estrangeira. Conforme as Diretrizes Curriculares da
Educação Básica 2008 pag.53, “Os professores de LEM precisam superar uma
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visão de ensino de Língua Estrangeira Moderna apenas como meio para se atingir
fins comunicativos que restringem as possibilidades de sua aprendizagem como
experiência de identificação social e cultural, ao postular os significados como
externos aos sujeitos.”
Entende-se com essas reflexões, que o objetivo do Ensino da LE na escola pública
não seja formar o aluno proficiente, fluente em LE, porque tal objetivo além de ser
utópico para nossa escola trata-se de um papel desempenhado pelas escolas
específicas de cursos de inglês as quais são procuradas pelos alunos como
instrumento de trabalho, viagens, etc. Ainda conforme as Diretrizes Curriculares, p.
53 “[...] propõe-se que a aula de LEM constitua um espaço para que o aluno
reconheça e compreenda a diversidade lingüística e cultural, de modo que se
envolva discursivamente e perceba possibilidades de construção de significados em
relação ao mundo em que vive. Espera-se que o aluno compreenda que os
significados são sociais e historicamente construídos e, portanto, possíveis de
transformação na prática social.”
Estas reflexões expostas nas diretrizes curriculares cabem muito bem quando se
pensa em ensinar LE para os jovens e adultos, pois os mesmos já possuem uma
visão de mundo formada, uma trajetória de vida com conceitos e opiniões que
muitas vezes auxiliam no entendimento de algo novo que se apresenta, assim como
as vezes os engessa para aceitação do “novo” que lhe é exposto.
Para a efetiva implementação do projeto foi necessário vencer algumas barreiras.
Primeiramente porque as APED’s do CEEBJA são “braços” da Sede e estão
localizados fisicamente distantes da mesma. Funcionam em salas de aula cedidas
pela Prefeitura Municipal de Curitiba no período noturno. Apesar do bom
relacionamento existente entre os profissionais da educação do CEEBJA e os da
PMC, os professores e alunos que trabalham e estudam nesses espaços não dispõe
dos recursos materiais existentes nas escolas da rede estadual como a TV Pendrive,
material multimídia e não é disponibilizado o espaço físico das áreas comuns da
escola para que os nossos alunos exponham seus trabalhos. Há também a
dificuldade de interação com outros professores da LI para a troca de experiências o
que com certeza se houvesse aprimoraria a atividade pedagógica. Isso ocorre
porque cada professor trabalha “isolado” a sua disciplina, que é ofertada
aproximadamente a cada seis meses em cada escola, concomitantemente com
outras disciplinas em cada APED. Na época da implementação do meu projeto,
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trabalhava na mesma escola apenas um professor de matemática com uma turma
de Ensino Médio.
Porém eu já tinha conhecimento dessas dificuldades quando me propus a trabalhar
nessa escola e consegui efetuar as devidas adaptações para desempenhar um
trabalho relevante.
Na primeira aula, aplicou-se uma “NEEDS ANALYSES” cujo objetivo era traçar um
perfil da turma e verificar se o tema desenvolvido "O inglês no nosso dia-a-dia”,
despertaria sua atenção.
No universo de 30 alunos pesquisados, de uma turma de coletivo do Ensino
Fundamental do turno noturno, na APED- Marumbi do CEEBJA Paulo Freire havia 6
alunos abaixo de 30 anos, 23 alunos entre 30 e 50 anos e apenas uma aluna acima
de 50 anos.
As ocupações variavam bastante, donas de casa, cozinheiras, balconistas em lojas
e panificadoras, vendedores autônomos, operários de fábricas, pintores, pedreiros e
até uma pequena empresária. Alguns estavam desempregados. Todos estavam
retomando os estudos para melhorar sua condição de vida. Ou seja, por exigência
das empresas onde trabalhavam ou para obter melhores empregos, ou para ter
maiores chances em conseguir o emprego propriamente dito.
Quanto às atividades de lazer, a maioria dos jovens mencionou preferir sair com os
amigos nos finais de semana, viajar para a praia, etc. Os alunos casados preferem
ficar em casa com a família e descansar nos finais de semana e feriados, assistir
televisão, filmes, etc. Vários deles fazem dos cultos nas igrejas evangélicas seu
único lazer. Apenas uma das alunas disse gostar muito de ler e demonstrou tal
hábito no decorrer do curso.
Quanto às respostas obtidas a sobre a importância de estudar a LI, a maioria
mencionou que entende como importante o estudo da mesma para melhorar seus
conhecimentos e cultura, gostam de músicas e filmes em LI. Alguns mencionaram
que estavam freqüentando as aulas de LI apenas porque era obrigatório para a
conclusão dos estudos e era de opinião que seria muito difícil aprender a LI.
O próximo passo foi expor o projeto para que tomassem ciência do que seria uma
Unidade Didática, que iríamos estudar três delas e o que seria tratado em cada uma
delas e o que se esperava que eles aprendessem com as mesmas. A turma se
mostrou motivada para estudar LI de maneira diferente que também lhes dessem
oportunidade de explorar temas de seu interesse e concordaram com a relevância
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dos três temas apresentados: “O Inglês no nosso dia a dia”,” Alimentação e Saúde”
e “Trabalho e Emprego”.
Para implementação do projeto contamos com a colaboração do Professores da
Rede Pública Estadual de Ensino, integrantes do GTR (Grupo de Trabalho em
Rede), o que possibilitou a inclusão virtual dos mesmos nas reflexões, discussões e
elaborações realizadas pelo professor PDE, como forma de democratização do
acesso aos conhecimentos teórico-práticos específicos das áreas/disciplinas do
Programa, uma oportunidade oferecida aos Professores da Rede, na plataforma
“MOODLE”, tendo como tutor o professor PDE, no caso eu, para análise de pontos
positivos e negativos do Projeto de Implementação.
Os professores participantes do GTR puderam analisar, postando suas
considerações sobre a aplicação e verificação dos resultados, avaliando a
viabilidade do projeto para que se conseguisse atingir o objetivo do projeto.
Pudemos perceber que muitos professores mostraram-se encorajados e animados
com o projeto, fazendo suas considerações. Mas a maioria mencionou problemas
para a efetiva implementação do projeto, citando as dificuldades encontradas pelos
professores da EJA em dispor material didático que realmente contemplem os
interesses e necessidades dos alunos jovens e adultos. O fator tempo também foi
bastante citado no discurso dos professores GTR, uma vez que o número de horas
atividades que dispomos por semana, são geralmente tomadas por afazeres mais
rotineiros e urgentes como elaboração e correções de avaliações, além das reuniões
de área que são realizadas neste horário. Com isso, os professores dispõem de
pouco tempo para pesquisa e elaboração de material que atenda o perfil dos nossos
alunos.
Apresentamos aqui a opinião e preocupação de alguns professores postados no
fórum da Unidade 3 “Como superar as dificuldades de Aprendizagem”. “Para que
haja o aprendizado eficiente com a língua estrangeira deve acontecer uma interação
do aluno com as quatro habilidades: ouvir, falar, ler e escrever. Para garantir essa
eficiência, desse esquema em sala de aula, é preciso prestar atenção às aulas,
resolução das tarefas propostas e prática do conteúdo ensinado [...]. Como
conseguir tal conquista com o grande número de alunos em sala de aula? Como
conseguir um bom material didático para o grupo sem ônus para o aluno? Como
conseguir textos autênticos sobre assuntos diversos do interesse do aluno?
(Participante 1 do GTR 2009)
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Outro professor registrou sua opinião sobre algumas questões que dificultam a
qualidade de ensino na Escola Pública. “[...] um dos grandes problemas é a
capacitação do corpo docente para lidar com o ensino da LEM. Infelizmente
precisamos todo tipo de conhecimento. Como cobrar as 4 habilidades se nós
professores, às vezes não a dominamos?”
(Participante 2 do GTR 2009)
Outro participante se manifestou “[...] também são poucos os professores que estão
dispostos a mudança em seus velhos conceitos sobre ensino de língua inglesa, e
professores também que estão estagnados sem participarem de cursos de
capacitação. E isso prejudica ainda mais o ensino de qualidade que estamos
buscando.”
(Participante 2 GTR 2009)
Comentários dos professores GTR sobre a Produção Didática Pedagógica (Fórum)
Participante 1. “As estratégias de ação que constam no trabalho da professora Marli
são interessantes, uma vez que levam os alunos da EJA a uma socialização, que
por sua vez os transformará em pessoas com facilidade de se inserir nos meios
sociais externos que também os ajudará na comunicação interpessoal [...] Tudo isso
é fundamental para a formação de cidadãos críticos que transformarão o mundo,
não se deixando transformar por ele. O trabalho com diversos gêneros textuais
exercerá papel determinante em nossa proposta curricular, não podemos relegá-los
ao plano secundário [...]”
Participante 2 [...] devemos valorizar as experiências trazidas por nossos alunos fora
do contexto escolar, principalmente os da EJA visto que retornam para a escola
depois de algum tempo afastados, com alguns discursos pré formados de que os
estudos não serão fáceis, e principalmente de uma LEM. É aí que devemos atuar,
auxiliando-o com uma educação de qualidade sem estereótipos, até porque eles já
tem o bastante para reiniciar sua trajetória.”
Participante 3. “[...] especificando o Ensino de Jovens e Adultos, traçar
práticas/estratégias é altamente relevante e essencial para que os educandos não
se evadam das escolas, mas sim encontrem nela um lugar de conhecimento e
crescimento intelectual e pessoal.”
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IMPLEMENTAÇÃO UNIDADE 1: O INGLÊS NO NOSSO DIA- A DIA
IO início dessa unidade foi através da leitura da crônica da autora Patrícia Pallu, na
qual são descritos vários produtos consumidos ou utilizados no Brasil com marcas
americanas e inglesas. Os alunos souberam identificar vários produtos citados,
como o creme dental close up, tênis reebook, garrafa térmica Aladim, calças Lee,
canetas Bic, etc.
A atividade 2 focou o gênero textual propaganda, autêntico, constando o anúncio de
uma pizza e refrigerante em LI para que os alunos fizessem as devidas
interpretações. A atividade foi muito bem aceita pela turma, sendo que a maioria dos
alunos conseguiu responder as questões propostas.
Como atividade avaliativa dessa unidade, foi elaborado um trabalho em equipe pelos
alunos onde os mesmos pesquisaram em jornais, revistas, encartes de farmácias e
supermercados, todas as palavras que pudessem identificar em LI e posteriormente
montar um cartaz com as gravuras, palavras e frases encontradas em LI e
apresentar para a turma explicando o que entenderam das mesmas.
Alguns alunos conseguiram executar a atividade com bastante independência.
Porém a maioria necessitou de auxílio para elaborar o trabalho. Pode-se então
perceber que mesmo sendo rodeado pela língua estrangeira em seu cotidiano, não é
tão fácil para eles perceber essa presença Cabe citar que as habilidades para se
apresentar em público, são bastante diferentes entre nossos alunos. Sendo assim,
algumas equipes apresentaram o trabalho com bastante desenvoltura, enquanto que
outras o fizeram muito timidamente. Percebe-se aí a necessidade de desenvolver
essa habilidade tão importante para o sucesso pessoal e profissional dos cidadãos
em nossa sociedade.
Avaliação das Atividades e observações sobre a unidade 1.
Após estudos, explicações, aulas sobre a estrutura da língua em diversos momentos
do desenvolvimento da unidade, foi possível detectar as grandes dificuldades que os
alunos apresentam quanto à interpretação do material exposto e o que lhes é
solicitado que resolvam, exponham suas idéias e opiniões. Em uma primeira fase o
que se observa é um grande receio em não entender, errar, não acreditar que possa
resolver, discutir ou criticar as questões propostas sobre o assunto. A impressão que
se tem, é que o mesmo faz um mergulho bem lento dentro do “novo”, até sentir
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segurança para expor sua opinião, mostrar que o que está sendo ensinado tem a ver
com o seu conhecimento de mundo. Mas se tivermos sensibilidade para perceber
essas situações, todos participam de maneira efetiva dos trabalhos, obtendo-se
bons resultados em termos de aproveitamento. “Ficou claro que a Língua Inglesa
está à nossa volta.”
UNIDADE 2 ALIMENTAÇÃO E SAÚDE
Nessa segunda etapa das aulas do curso Fundamental CEEBJA, infelizmente já
percebemos várias desistências. Alguns alunos explicam por que estão se afastando
dos estudos, cujos motivos são em sua grande maioria problemas pessoais e
horários de trabalho muito extenso. Quanto aos adolescentes percebe-se que a
evasão é causada por falta de entrosamento com os alunos adultos, pois os
interesses entre os mesmos divergem e eles vão embora.
Iniciou-se a unidade propriamente dita, com a exibição do documentário “BIG SIZE
ME- A Dieta do Palhaço.”. O documentário narra a experiência de um voluntário
americano que faz uma dieta baseada em lanches MC DONALD por 30 dias. É uma
pesquisa merecedora de grande credibilidade, onde todos os dados referentes à
saúde do voluntário foram tomados antes do início da dieta, como por exemplo:
peso, altura, realização de diversos tipos de exames de sangue, hábitos e qualidade
de vida do voluntário. Foi então comprovado que o mesmo estava em perfeitas
condições de saúde. Os dados referentes a saúde, reações físicas e psicológicas,
estado de humor, etc, foram todos monitorados durante os 30 dias por uma equipe
médica e também pela sua esposa. A idade do rapaz era de 32 anos.
Observa-se e comprava-se através de exames clínicos que após esse período da
dieta MC DONALD,o rapaz aumentou o peso em 8 quilos e teve sua saúde
comprometida em vários aspectos bem importantes, como aumento do colesterol,
início de diabetes e diversos problemas que comprometeram a sua saúde. Foi
mostrado também a questão das crianças e adolescentes obesos nos EUA, e o
sofrimento causado por essa doença.Por fim tiveram a oportunidade de assistir a
uma cirurgia bariátrica , com depoimentos do paciente, sua esposa e médicos
cirurgiões.
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Após a exibição do filme, foi realizado um debate com os alunos, onde todos tiveram
oportunidade de expressar suas opiniões sobre o assunto. O que gerou motivação e
interesse por parte de cada um, como uma forma de analisar sua própria dieta e a
de sua família. Houve uma conversa aberta entre a turma , um verdadeiro trabalho
de conscientização, porque na maioria das vezes todos já sabemos quais alimentos
não devemos ingerir porque não são saudáveis mas não conseguimos resistir a
eles.
Quanto às atividades propostas para esta unidade, além do debate, os alunos
responderam várias questões sobre hábitos alimentares, pesquisaram na internet
sobre algumas doenças causadas pelo excesso de peso e propuseram soluções
para esses problemas. O conteúdo estruturante estudado nessa fase foi o
Imperativo Afirmativo e Negativo e a exploração do vocabulário sobre alimentos,
pirâmide alimentar, etc.
Para explorar mais os hábitos alimentares dos brasileiros, também foi exibido para a
classe, o documentário “UMA QUESTÃO DE PESO” apresentado pelo Dr. Dráuzio
Varela abordando também o tema alimentação e saúde. O documentário apresenta
várias reportagens com pessoas nas ruas, lanchonetes, restaurantes, colégios e até
na residência de várias pessoas da população dos Estados de São Paulo e do Rio
de Janeiro e observa a maneira, infelizmente inadequada, que a maioria delas se
alimenta. Outro fator relevante nesse documentário é a questão do preconceito que
os obesos sofrem por parte da sociedade.
Nesta fase, os alunos também tiveram oportunidade de debater sobre o assunto,
expor suas opiniões, relatar casos de pessoas que sofrem preconceitos em suas
famílias e trabalho e refletir sobre o que pode ser feito para minimizar esse problema
tão presente em nossas vidas.
O conteúdo estruturante estudado foi o “Simple Present Tense”- uso dos auxiliares
DO/DOES, através de textos, interpretações, exercícios, estudo do vocabulário
sobre alimentos , bebidas entre outros.
UNIDADE 3 TRABALHO E EMPREGO Esta unidade foi iniciada com a exibição do filme “Tempos Modernos” de Charlie
Chaplin. Primeiramente foi explicado para os alunos do que tratava o mesmo ,
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sendo relatado que o filme trata de uma forma singela e cômica a vida dos
trabalhadores operários na época da industrialização. Por tratar-se de um clássico
do cinema internacional, pode ser explorado de diversas formas didaticamente
nessa unidade.
De um modo geral, a turma apreciou o filme, sendo que vários alunos se divertiram
com a atuação do protagonista. Mas também houve “reclamações” sobre o filme ser
longo e mudo. Observei também algumas dificuldades no entendimento e
interpretação do mesmo. Mais tarde, expliquei para a turma o contexto histórico do
filme e a correlação que podemos fazer com a situação vivida pelo operário daquela
época com a dos trabalhadores de hoje. Juntos, analisamos em debate as
condições de trabalho da época retratada por Charlie Chaplin, com a mecanização,
automatização do trabalho humano, falta de respeito para com os empregados,
reduzido horário de descanso, excessivas horas de trabalho, levando-os à exaustão
e estresse. Esse contexto leva a discussões como os problemas sociais causados
pelo capitalismo, podendo chegar até a economia globalizada, na qual sabemos que
até nos dias de hoje, convivemos com o trabalho escravo em lugares onde não há o
menor respeito pelas leis trabalhistas ou direitos humanos.
Vale ressaltar que foi importante a oportunidade que os alunos tiveram de poderem
expor suas próprias dificuldades enfrentadas em seus trabalhos e talvez até refletir e
entender melhor porque elas ocorrem.
A fase seguinte dessa unidade foi apresentar a estrutura gramatical dos verbos no
“Futuro Simples- WILL” e a exploração do vocabulário sobre as profissões. Depois
disso, foi realizado um diálogo oralmente com a turma, onde cada um dos alunos
respondia às perguntas; ”What’s your job?” e “What will you be?”
As respostas foram sinceras e surpreendentes. Observa-se que o aluno adulto
também acalenta sonhos, expectativas de vir e exercer uma profissão que foi muitas
vezes foi escolhida na infância, mas ainda está presente em sua vida. A resposta
mais surpreendente que eu obtive foi a de uma aluna já com 50 anos de idade,
dizendo que desejava estudar medicina. Outra muito tímida, me surpreendeu,
relatando que era vendedora de enxovais, percorrendo as residências para vender e
exercendo a profissão com sucesso. Outros disseram ser pintores, pedreiros,
operários de fábrica, manicures, cozinheiras, etc. Foi gratificante conhecer melhor os
alunos ao permitir que eles se manifestem com espontaneidade.
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Para avaliação e encerramento dessa unidade, os alunos elaboraram um trabalho
pesquisando em jornais a oferta de trabalho na cidade de Curitiba e Região
Metropolitana.
Os alunos trouxeram os classificados de empregos dos jornais que conseguiram
encontrar. No decorrer da atividade acrescentei algumas orientações àquelas dadas
no início da aula, que seria apenas para procurar anúncios que pediam
conhecimentos em Língua Inglesa para exercer o trabalho. Solicitei também que
observassem se havia algum anúncio ofertando emprego para a profissão que eles
exerciam no momento ou que já haviam exercido no passado, e alguma profissão
que desejassem exercer no futuro. Para minha surpresa, a turma encontrou vários
anúncios solicitando conhecimentos em LI em todos os níveis de proficiência. A área
mais evidente dessa demanda foi a de informática.
Percebe-se que o caminho a ser percorrido para se conseguir melhores empregos
diante da realidade dos nossos alunos, ainda é longo, pois o mercado de trabalho é
muito exigente quanto à qualificação dos empregados. Quase todas as ofertas de
emprego pesquisadas nos jornais, solicitava curso tecnológico ou superior e eram
principalmente na área de informática.
Para finalizar a unidade, os alunos confeccionaram um grande cartaz com os
anúncios coletados, apresentaram para a turma e mostraram-se motivados para o
trabalho, o que a realização do mesmo foi válida para todos, pois o resultado
superou as minhas expectativas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho com o aluno jovem e adulto é árduo, e às vezes frustrante porque se tem
a impressão de que após diversos encaminhamentos de aulas, utilizando várias
estratégias de ensino, a aprendizagem dos mesmos é ínfima. Mas se fizermos
dessa barreira uma fonte de pesquisa para tentarmos entender onde estão as
dificuldades e por que não atingimos os objetivos aos quais nos propusemos
poderemos encontrar algumas respostas e sinalizações sobre quais rumos tomar no
processo ensino aprendizagem. Muitas vezes é começando tudo do ponto zero,
“esquecendo” os caminhos anteriormente trilhados e recriando novas maneiras de
ensinar. Um aspecto importante a ser observado é que não se ensina ninguém que
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não se tenha conquistado afetivamente. Na nossa clientela isso é imprescindível. O
que muitas vezes nos parece “perda de tempo” que seria ouvir suas histórias de
vida, suas queixas, seus problemas pessoais que eles fazem questão de nos contar,
vai influenciar na segurança que ele terá em aprender ou ao menos tentar entender
o conteúdo que está sendo ensinado. Porém o cuidado deve ser grande para não
sermos confundidos com o professor “bonzinho” que entrega tudo pronto para eles.
Exatamente por já terem uma bagagem de vida, são astutos o suficiente para
perceber quando não precisam se esforçar para obter suas “notas” e serão
simplesmente promovidos sem se empenhar. Alguns alunos já tem por hábito não se
empenhar, se fazer de vítima, faltar frequentemente às aulas e depois ainda
reclamar quando o resultado de suas avaliações não é bom. Por outro lado também
pode ser um trabalho gratificante quando felizmente é o caso da maioria dos nossos
alunos, pode-se fazer uma trajetória de como chegaram a nossa sala de aula,
completamente despreparados, tendo em mente somente que LI é “muito difícil” e
logo após o primeiro mês de aula, vão se soltando, arriscando a escrever algumas
palavras, frases, interpretar pequenos textos, se expressar através de diálogos, ou
seja, se sentindo “mais a vontade” com a língua estrangeira.
Quanto à implementação do projeto, percebi como professora que faz uma grande
diferença ensinar os conteúdos dentro de um projeto, com metas definidas a serem
atingidas tendo um tema central dividido em unidades pedagógicas. O processo
ensino aprendizagem flui mais facilmente quando se tem uma margem de tempo
maior para explanar os temas propostos, trazendo assuntos do interesse dos alunos
e a partir daí, ensinar o conteúdo propriamente dito. O aluno sente-se como
construtor do próprio conhecimento, se motiva mais e aprecia muito expor sua
opinião sobre os mais diversos assuntos e a conseqüência desse interesse é uma
melhor aprendizagem. Porém não podemos deixar de citar que alguns alunos por
mais que se tente trazê-los para um maior interesse, não se consegue porque
tendem a ser negativos, desinteressados e nada lhes agrada. O resultado dessas
atitudes é o baixo aproveitamento de ensino.
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REFERÊNCIAS
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do Estado do Paraná - Língua Estrangeira Moderna
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Paulo-SP, Editora SBS, 2004
LEFFA, Vilson J. Aspectos Políticos da Formação do Professor de Línguas
Estrangeiras. Pelotas – RS, Editora Educat, 2008
NEGRÃO, João. A Quem Serve o Servidor? O Ensino da Língua Inglesa na Formação Para o Trabalho e a Tecnologia, Dissertação UTFPR-Curitiba-PR, 2000 PALLU, Patrícia. Língua Inglesa e a Dificuldade de Aprendizagem da Pessoa Adulta. Curitiba-PR, Editora Positivo, 2008 PASCHOAL, M.S.Z. E CELANI, M.A.A. Linguística Aplicada da Lingüística a
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