O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
NRE Jacarezinho
Município Jacarezinho
Professor Ângela de Fátima Coelho Mendes Fabro
E-mail [email protected]
Escola Colégio Estadual Dr. Ubaldino do Amaral
Disciplina Arte ( X )
Conteúdos estruturantes Elementos formais.
Composição.
Movimentos e períodos.
Conteúdo específico Artes Visuais
Título Rastros, Relatos e Retratos: a confecção de Baús de
Guardados
Interdisciplinaridade Sociologia, Ciências.
Orientador Dra. Maria Irene Pellegrino de Oliveira Souza.
E-mail [email protected]
IES UEL- Campus de Londrina.
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RASTROS, RELATOS E RETRATOS:
A CONFECÇÃO DE BAÚS DE GUARDADOS “Por meio da arte o homem pode conseguir aprender a realidade, não só para suportá-la, mas, principalmente, para transformá-la, ou seja, para humanizá-la e, dialeticamente, humanizar-se”.
Maria Inês Hamann Peixoto
A apresentação do contexto contemporâneo leva-nos a pensar que a sociedade foi capaz
de criar um desenvolvimento técnico científico sem precedentes na história da humanidade.
Continuamos evoluindo, mas infelizmente todo esse avanço não foi capaz de garantir tempo e
espaço para as necessidades humanas.
A atual crise ambiental com seus respectivos problemas marcado pela degradação sócio-
ambiental e fruto da fragilidade dos valores que orientam a relação ser humano/natureza, se
intensifica ao longo do tempo e de forma cada vez mais acentuada, resultando na miséria, no
consumismo e na exclusão social e econômica.
Sabemos que o meio ambiente na atualidade apresenta uma gama enorme de imagens
que muitas vezes nos revelam mais informações do que um texto verbal, logo, espera-se com
esse trabalho conhecer o pensamento, a argumentação, a leitura do não verbal dos estudantes e,
a partir daí propor intervenções e reflexões, ampliando suas leituras de modo a contribuir na
formação de leitores sensíveis, críticos, criativos, questionadores, capazes de discutir,
argumentar, e agir.
Não só por suas relações e por suas respostas o homem é criador de cultura, ele é também ‘fazedor’ da história. Na medida em que o ser Humano cria e decide, as épocas vão se formando e reformando. (FREIRE, 2001, p.38).
É diante desse formar e reformar da sociedade inserida em contextos históricos e culturais
de sua época, criam sentidos que refletem sua maneira de conceber o mundo. A relação do ser
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humano com o ambiente sempre teve sua essência na transformação da natureza mediante a
dominação. Entretanto, como se pode constatar, esse domínio do ambiente, hoje não tem mais
sentido.
O homem se destaca nas diferentes áreas, através dos objetos que constrói e nos faz
refletir sobre a natureza, sobre os indivíduos e sobre nossa própria existência.
Reelabora seu modo de viver e sentir, torna-se um leitor de mundo interferindo no
cotidiano, construindo sua poética pessoal, seu modo singular de tornar visível seu olhar sobre o
mundo.
Na linguagem da Arte há criação, construção e invenção. O ser humano, através dela,
forma, transforma a matéria oferecida pelo mundo da natureza e da cultura em algo significativo.
Desse modo, garantir o acesso os estudantes às atividades artísticas, ao conhecimento em Arte
constitui-se num dos elementos essenciais para o fruir, conhecer e poetizar, pois assim
poderíamos contribuir para o redirecionamento do aluno a um olhar crítico que se faz pela
criatividade, despertando para utilização e o reaproveitamento de materiais alternativos que tantas
vezes destroem a natureza.
Vale lembrar que a Arte é importante na escola, principalmente porque “[...] é importante
fora dela. Por ser um conhecimento construído pelo homem através dos tempos, a Arte é um
patrimônio cultural da humanidade e todo ser humano tem direito ao acesso a esse saber.”
(MARTINS,1998,p.13).
Pensar no ensino da Arte é então pensar na sua leitura e produção, na sua linguagem, o
que, por assim dizer, é um modo único de despertar a consciência e novos modos de
sensibilidade. Isso pode nos tornar mais sábios, seja sobre nós mesmos, o mundo ou as coisas do
mundo; seja sobre a própria linguagem da Arte, que além de ter grande importância nas
transformações culturais, artísticas e sociais, possibilita que o aluno possa intervir de forma ampla
e consciente no seu ambiente sócio-político-cultural, lutando para que as mudanças que acredita
necessária aconteçam.
Os jovens de hoje, de amanhã devem ser capazes de criar e produzir mudanças sócio-
culturais, hoje apontadas como urgentes e fundamentais para a qualidade de vida e sobrevivência
do planeta. Barbosa (2005) para tratar da importância da Arte na vida do ser humano apóia-se
nas idéias de Fanon, o qual acredita que a Arte pode ser um meio para o indivíduo se firmar no
mundo e ter consciência do seu estar no mundo.
A aproximação deste processo pode talvez facilitar a compreensão de que o ensino da
Arte também requer um processo organizado para que possibilite a efetiva alfabetização não-
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verbal; neste caso a linguagem artístico-visual calcada na idéia de interação do sujeito como um
meio social e natural.
Para Barbosa (2005, p.99),
“A Arte como linguagem aguçadora dos sentidos transmite significados que não podem ser transmitidos por meio de nenhum, outro tipo de linguagem, tal matéria-prima tornando possível a visualização de quem somos, de onde estamos e como sentimos.”
Através da Arte, é possível desenvolver a percepção e a imaginação para aprender a
realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo analisar a realidade
percebida, bem como desenvolver a capacidade criadora de maneira a mudar uma determinada
realidade analisada. E para que saia da função de adorno, de mera ostentação de riqueza, de
livre expressão individual do artista, e se constitua num recurso de desenvolvimento, é necessária
a harmonização dos sentidos.
Os órgãos biológicos (ouvidos, olhos, etc.) precisam ser superados pela formação dos
órgãos sociais, a fim de que se desenvolva a capacidade sensorial humana, que por sua vez
culminará na sensibilidade. Assim, entendemos que pela Arte o sujeito torna-se consciente de sua
existência como ser social, o que possibilita conhecer e entender a si próprio e a representação da
realidade.
Por sua vez, a dimensão artística é fruto de uma relação específica do ser humano com o
mundo e o conhecimento. Essa relação é materializada pela e na obra de Arte, que é “parte
integrante da realidade social, é elemento da estrutura de tal sociedade e expressão da
produtividade social e espiritual do homem” (KOSK, 2002, p.139).
Concebemos o homem como um ser capaz de assumir-se como sujeito de sua história,
agente de transformação de si e do mundo, fonte de iniciativa, liberdade e compromisso no plano
pessoal e social. Assim, do nosso ponto de vista o homem não é um simples produto do meio,
fruto de ações e condicionamentos, mas ele também é produtor de relações que podem opor-se a
condições mais adversas e instaurar processos de mudanças e transformações na vida e no
ambiente onde está inserido.
O trabalho possibilitará não só ao aprendizado de novos conhecimentos, mas também,
envolverá o adolescente com sua realidade, suas experiências e saberes pré-existentes.
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Cada um de nós, combinando percepção, imaginação, repertório cultural e histórico, lê o
mundo e o representa à sua maneira, sob o seu ponto de vista, utilizando formas, cores, sons,
movimentos, ritmos e espaços.
METODOLOGIA
Ressaltando que esta unidade fará parte de uma pesquisa-ação, as propostas
apresentadas aqui, são na verdade parâmetros para o desenvolvimento da mesma, uma vez que
neste tipo de trabalho as propostas vão se construindo de acordo com as respostas dos
estudantes.
O professor acompanhará seus estudantes, sujeitos da pesquisa, no seu próprio ambiente
em nível local – método dedutivo –, de modo a levá-los a observar, tirar conclusões, fazer
registros, comentários que podem subsidiar os trabalhos que serão realizados em sala de aula.
Nesta pesquisa o levantamento de descartes encontrados no ambiente são elementos essenciais
para a continuidade do trabalho. Este momento é muito importante, pois depende desse olhar
para posteriormente sensibilizá-los quando diante da apreciação de obras e a relação com
diferentes materiais, ajudando a ampliar as referências como apreciadores de Arte e nas próprias
produções, para aprenderem a analisar a produção de um artista e desenvolver o olhar sensível e
crítico diante dos trabalhos apresentados.
Vale lembrar que as observações dos estudantes poderão dar-se por fotografia, desenho,
texto-diário, relatórios, enfim, com recursos que os auxiliem na hora das discussões e das próprias
produções.
Nesta unidade são propostas algumas etapas com o objetivo de traçar um percurso por
meio do qual será possível observar como os estudantes se desenvolvem a partir da mediação
realizada pela docente, no sentido de estimular suas leituras e provocar seus olhares, propor
intervenções e reflexões ampliando seus repertórios a fim de contribuir na formação de um leitor
questionador, capaz de discutir e argumentar suas idéias, além de virem a intervir na sua
realidade observada. Assim, refletir sobre o que causou encantamento e o que causou
estranhamento pode levar os estudantes a imaginarem algo além da realidade.
Agora cabe ao professor criar caminhos para introduzir os estudantes nas produções
artísticas de modo que estes percebam o quanto a Arte pode estar a serviço de cada um.
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Conforme as DCE/Arte, a metodologia desta pesquisa contempla as três instâncias do
ensino de Arte.
O Teorizar: fundamenta e possibilita ao aluno que perceba e aproprie a obra artística, bem
como desenvolva um trabalho artístico para formar conceitos artísticos.
O Sentir e Perceber: são formas de apreciação, fruição, leitura e acesso à obra de Arte.
O Trabalho Artístico: é a prática criativa o exercício com os elementos que compõe uma
obra de Arte.
Este trabalho possibilitará não só o aprendizado de novos conhecimentos, mas também,
envolverá o adolescente com sua realidade, suas experiências e saberes pré-existentes, pois as
práticas coletivas de discussão, realizadas ao longo do trabalho, também contribuirão, para o
crescimento coletivo da turma.
Além disso, a construção da relação de autonomia, de criação e recriação de seus
trabalhos, possibilitará redefinir a relação dos adolescentes com a instituição, com os colegas,
com suas famílias e com a comunidade.
RASTROS, RELATOS, RETRATOS
Um baú de guardados, onde o novo pode conviver
com o velho, o rural com o urbano, os sonhos com a
realidade, as alegrias com as frustrações, esta é a
proposta que se descreverá a seguir.
Desta forma, os estudantes serão levados a
lembrar de fatos marcantes de suas vidas e após imaginar que lembranças e objetos gostariam de
guardar para sempre vão pensar em um lugar especial para depositá-los. Como seria este lugar?
Espera-se que através dos registros escritos, cada aluno consiga criar seu “depósito” de
lembranças.
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Para conhecer o que pensam os estudantes acerca do mundo no qual estão inseridos
faremos diversos questionamentos, que além de contribuírem para um mapeamento mais pontual
sobre o grupo, levarão os mesmos a pensarem de forma crítica sobre o assunto.
Você gosta de futebol? Para que time você torce?
Você gosta de ouvir música? Qual você mais gosta?
Você se lembra de alguma canção de ninar? Alguém
cantava para você dormir?
Que filme você mais gostou?
Cite três cantores, dupla, ou grupo musical que mais
gosta de ouvir.
Gosta de RAP ou HIP HOP?
Já visitou Exposições de Arte?
Que artista ou obra ficou em sua lembrança.
E o Teatro? Já participou de algum trabalho, gostou de interpretar algum personagem?
A fim de preparar um processo de reflexão e construção do conhecimento em Arte será
adotada a produção do artista Frans Krajcberg, pois esta pode contribuir para a conscientização
ambiental uma vez que o artista cria a partir dos descartes da natureza.
Para que se uma idéia sobre o pensamento de Frans Krajcberg apontaremos uma breve
biografia deste que nasceu na Polônia (Kozienice) em 1921 e emigrou para o Brasil em 1948.
Morou em São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, e atualmente reside na Bahia. Sua arte se mantém
fiel à concepção de Arte ligada à pesquisa e à utilização de elementos da natureza: a Arte
ecológica. A paisagem brasileira, em todo o seu esplendor e a defesa incansável do meio
ambiente marca toda a sua obra.
Seu amor pela natureza o fez recriar, em seus relevos, esculturas, pinturas e fotografias,
as texturas, os relevos, as formas e as cores presentes nas matas e nas florestas. Além disso, a
matéria prima utilizada pelo artista em suas criações também vem da natureza, principalmente do
resultado das queimadas criminosas que acontecem em todo o Brasil.
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Cria belíssimas esculturas a partir de árvores retorcidas e calcinadas que sobra das
queimadas. Essa atitude, além de ser considerada estética, ou seja, uma atitude que busca o
belo, e também uma atitude ética, pois busca denunciar a destruição do meio ambiente por meio
de expressão artística.
Suas obras, portanto, abrangem a relação do ser humano/natureza, contribuindo para o
desenvolvimento de uma consciência social e planetária, permitindo um rico e valioso trabalho
com a disciplina de Ciências.
Os vídeos apresentados para os estudantes também têm a finalidade de ampliar o
repertório destes, no sentido de perceberem como cada pessoa se expressa de maneira diferente
sobre um mesmo assunto e também, contribuir para o desenvolvimento de um olhar crítico,
inquiridor.
Saiba mais. Mostre aos estudantes como a formação acadêmica, a experiência de vida e as
idéias de Frans Krajcberg são essenciais para que o trabalho seja reconhecido e valorizado.
www.pitoresco.com.br; Frans Krajcberg imagens Google.
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Sensibilizando pela vida de um herói
Após o vídeo ver o filme escolhido é “Amazonas em
Chamas”, dirigido por John Frankenheimer.
Realizado em 1994, conta a história da vida de Chico
Mendes. Desde a infância, Chico foi testemunha das brutalidades
cometidas contra os seringueiros, explorados por seus patrões.
Ainda jovem, decidiu lutar em favor do povo de sua região. De
pequenas discussões com criadores de gado, passando pela liderança de seu sindicato e pela
campanha internacional contra a devastação da floresta amazônica, Chico Mendes acreditava no
diálogo e em soluções sem violência. Acabou transformando-se em uma figura de importância
nacional, um herói local, e um peso ainda maior para seus inimigos.
Como todo filme, este também é uma obra de Arte. Entretanto, este, em especial, é um
tipo de obra de Arte que denuncia e critica os problemas do mundo em que vivemos. No percurso
da história, em diversas ocasiões e de diversas maneiras, os artistas apontam os erros dos
poderosos que, invariavelmente, acabam causando algum tipo de sofrimento e de injustiça social.
Dessa forma, o filme propicia o debate sobre: o problema das queimadas e da exploração
de nossas riquezas naturais por empresas multinacionais; a relação que existe entre Arte e crítica
social.
ATIVIDADES
Após essa imersão no tema, serão formados grupos
os quais farão uma pesquisa em jornais, revistas e internet
sobre as causas dos nossos problemas ecológicos atuais,
tendo como causa o desenvolvimento acelerado, o
consumismo, a falta de conscientização para com o
Planeta. O trabalho deve incluir a busca de imagens e informações sobre artistas das mais
diversas formas de expressão (Artes Visuais, Música, Dança, Teatro, Literatura) que protestam e
denunciam a violência contra a natureza.
Em todos os momentos os estudantes serão levados a refletir acerca da vida no mundo
atual, das nossas necessidades, das vaidades, dos acertos e dos erros cometidos.
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Dentre as atividades propostas sempre se farão presentes os questionamentos necessários ao
despertamento de consciências.
O que todas essas obras possuem em comum?
Qual é a técnica utilizada pelo artista?
Como a natureza é representada em cada uma delas?
As formas são realistas ou abstratas?
As árvores estão sozinhas ou em grupo? O que isso pode simbolizar?
As cores das esculturas são fracas, suaves, ou são fortes e contrastantes?
Na sua opinião, o uso de troncos e raízes destruídos em queimadas criminosas em obras
de Arte é um ato artístico ou político?
Porque ele prefere usar materiais presentes na natureza para se expressar?
PARA SABER MAIS!
Apresentação das obras do 1º artista plástico de nosso município, José Alexandre Pinto (Zé
Negrão)
O artista se destaca por produzir suas obras utilizando materiais alternativos coletados na
natureza, obras que sensibilizam e nos fazem refletir.
Agora professor, você pode elencar um artista do seu município, para que pesquisem e
apreciem suas obras. Lembre-se que devem ser abordados conceitos históricos, e o arquivo
público municipal fornecerá aos estudantes uma oportunidade para que possam ver nos
documentos da cidade, a biografia, os trabalhos e informações sobre artistas pioneiros da cidade,
e observarem que suas obras eram feitas com materiais alternativos, por exemplo. Esta proposta
implica também em não deixar passar a oportunidade de incluir exemplos de culturas locais e de
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Arte, relacionados com temas concretos, próximos da vida dos estudantes Isto provavelmente os
levará a querer preservar os trabalhos que se apresentarem, pois, no decorrer da pesquisa
perceberão quanto é importante conhecer e preservar a própria história.
Outra etapa da pesquisa deve ser voltada para artistas atuais do município a fim de que os
estudantes percebam que a cultura é algo dinâmico e que eles fazem parte dela.
Temas e atividades serão propostas conforme as discussões com os estudantes, à medida
em que surgirem novas idéias para os trabalhos, pois este é um momento muito importante para
sensibilizá-los, a fim de aprenderem a analisar a produção de um artista, para desenvolver um
olhar sensível e crítico diante dessas obras.
Estudante, agora é com você: Reflita sobre estas questões.
O que você sentiu mediante a proposta de trabalho? A que você
atribui esse sentir?
Qual sua opinião sobre esta proposta e sobre sua produção?
Se fosse para representar o bloco de ações como você faria?
Então agora é hora de começar a criar sua caixa de guardados. Lembre-se: criar é antes de tudo assumir riscos!
Esta é a última etapa da pesquisa: a construção de um Baú de Rastros, Relatos e Retratos
contendo a história de vida do estudante, através de modelagens, miniaturas, mini-esculturas,
desenhos, papietagens, contos, poesias, cartas,
registros de momentos alegres e tristes; frustrações,
sonhos, poéticas. Cada estudantes lançará mão da
técnica que lhe for conveniente.
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SOB AS LENTES DOS QUE PENSAM O FAZER
ARTÍSTICO E O HOMEM
“Falar de história de vida é pelo menos pressupor e
isso não é pouco – que a vida é uma história”.
BOURDIEU
Essa questão apontada por Bourdieu é de grande relevância para a compreensão da
importância que as histórias de vida podem ter uma formação dos adolescentes especialmente
porque a resposta a ela está diretamente relacionada à necessidade do sujeito em fazer escolhas,
tomar decisões e antecipar resultados.
A inclinação e a capacidade do homem de não apenas se adaptar a novas situações, mas
também, de transformar o meio onde está inserido, de adaptar o seu entorno a seu favor, fazem
menção a essa capacidade construtiva e principalmente criativa do homem. Mas o homem não se
adapta simplesmente a um meio, e sim procura transformá-lo, construí-lo. Faz com que o meio se
adapte a ele. O homem constrói o mundo. Imprime sentido à suas ações.
Assim, de acordo com a necessidade do contexto, é possível modificar, desconstruir,
reconstruir, selecionar, reelaborar, tudo o que se apresenta como problema, pois os processos
criadores se desenvolvem no conhecer, no fruir e no poetizar a Arte – codificadores fundamentais
para a sobrevivência no mundo cotidiano.
O encantamento neste processo oferece muito ao ato de criar: pessoas esquecidas, cenas
guardadas, filmes assistidos, fatos ocorridos, sensações são trazidas à mente sem aparente
esforço. Um grande trabalho é vivenciado e avaliado por aquele que cria, inova, se refaz sempre.
Cada ser humano é único em seus feitos, realizações, conquistas, fracassos, frustrações,
sonhos, desejos, idéias e sentimentos – são combinatórios de experiências recheados de
imaginação, de percepções e de reflexões. É assim o “inventário” de momentos vividos. Cada vida
é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde
tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis. Sua
singularidade reflete as interações com o meio sócio-cultural e carrega os traços de muitas
pessoas com as quais conviveu, cujos efeitos podem ainda ser sentidos em sua vida.
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A história de vida como meio de pesquisa teve uma evolução crescente e vem assumindo
formas variadas, desde as tradicionais como memórias ou crônicas, até formas novas que
valorizam a oralidade e consideram as vidas ocultas como testemunho vivo de época e períodos
históricos.
Além do valor investigativo, a biografia também tem outro valor, o de ser um importante
instrumento formativo, em função do autoconhecimento que pode propiciar ao sujeito que narra
sua história.
Por considerar cada adolescente como portador de uma história pessoal, portanto de um
projeto de vida que está vinculado à história social, o método biográfico assume especial valor
quando se trata de construir ou (re) construir uma identidade, porque amplia novas atitudes
formativas.
Compreendendo a lógica de sua formação, o sujeito amplia sua capacidade de questionar
seus próprios valores e idéias; distanciando-se criticamente de si mesmo, ao mesmo tempo em
que se reaproxima de suas intenções e propósitos. Pode enfim, fazer antecipações mantendo vivo
o seu projeto de vida.
Talvez o aspecto mais importante que aproxime a história de vida e a autobiografia como
instrumento de formação seja a firme convicção de que este processo de rememoração,
ordenação, narrativa, intrinsecamente reflexivo, é por si só transformador e gerador de
conhecimento.
O ato de escrever e “expressar” a própria trajetória através do fazer artístico pode manter a
pessoa integrada à sua sensibilidade, afetividade, imaginação e criação - dimensões responsáveis
pela sua ligação com o mundo e com aqueles que ficaram alijados de suas vidas.
A última etapa, a construção de um Baú de Rastros, Relatos e Retratos, com certeza terá
muitas histórias para refletirmos e nos lembrarmos que nossos alunos são retalhos das culturas
nas quais estão inseridos, e que não é mais possível ao professor, em especial o professor de
Arte, desconsiderar essa realidade.
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AVALIAÇÃO
Tendo como proposta inicial a criação de um baú de memórias, onde os estudantes
possam demonstrar seus potenciais perceptivos e capacidade de organizar ideias, analisando,
questionando, criticando e discutindo, bem como o registro através do portfólio, de rascunhos,
estudos, esboços, roteiros, maquetes, projetos, ensaios, diários anotações, dentre outros. Dessa
forma, a avaliação poderá ser rica e consistente, pois possibilitará uma visão mais detalhada do
objeto de estudo conferindo unidade ao que está fragmentado.
Para saber mais:
Sugestões de Filmes
O Príncipe das Águas
Jardim das Flores
Wall-e – Desenho Animado
Alguns artistas plásticos que trabalham com materiais alternativos
Efigênia Ramos Rolim
Hélio Leites
SUGESTÃO DE ATIVIDADES
De posse de história de vida escrita pelo estudante, pode-se dividir a turma em
grupos para a leitura da produção de forma que cada um deles possa ler e conhecer
uma ou mais histórias de vida narradas no texto.
Após a leitura, cada grupo vai trabalhar essas histórias no contexto das áreas da
Arte: Dança, Música, Teatro e Artes Visuais.
Finalizando, com a apresentação dos trabalhos.
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REFERÊNCIAS
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BARBOSA, A. M. (org.) Arte/Educação contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 2005.
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www.pitoresco.com.br <acesso em julho 2010>