CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS
RITA DIEMA PEDROSO DA SILVEIRA
ESTUDO DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA CIAABERTA PARMALAT DO BRASIL S.A
CANOAS, 2008
RITA DIEMA PEDROSO DA SILVEIRA
ESTUDO DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA CIAABERTA PARMALAT DO BRASIL S.A
Trabalho de conclusão apresentado para a banca examinadorado curso de Ciências Contábeis do Centro Universitário LaSalle – Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção dograu de bacharel em Ciências Contábeis sob orientação doProf. Ms. Airton Roberto Rehbein.
CANOAS, 2008
TERMO DE APROVAÇÃO
RITA DIEMA PEDROSO DA SILVEIRA
ESTUDO DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL DA CIAABERTA PARMALAT DO BRASIL S.A
Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharelem Ciências Contábeis do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, pela seguinte banca
examinadora:
Prof.Unilasalle
Prof.Unilasalle
Prof.Unilasalle
Canoas, 14 de Novembro de 2008
AGRADECIMENTOS
Em vários momentos nesta jornada obtive o apoio de vários colegas de trabalho, da
empresa REFAP S/A, que dividiram comigo diariamente essa busca pelo conhecimento,
agradeço de forma especial a essa importante contribuição para minha formação.
Congratulo a todos aqueles companheiros e amigos de sala de aula que juntos comigo
finalizaram esse projeto e agora são colegas de profissão, contadores, e a todos os demais
colegas que compartilhei da companhia do decorrer do curso e que ainda estão percorrendo
o caminho.
Agradeço ao meu professor Ms Airton Roberto Rehbein, por sua orientação nesse
trabalho, pela ajuda na definição do tema de pesquisa, pelo seu incentivo e dedicação e por
seu conhecimento que me foi transmitido e que estão permeados neste texto.
A todos os demais professores, tanto da área contábil, como das demais áreas, que
colaboram para minha formação com os quais tive o prazer de uma convivência acadêmica
proveitosa.
A minha mãe que sempre acreditou em mim em vários momentos em que me sentia
despreparada frente a uma avaliação.
A Deus por tudo que me foi possibilitado, apesar de minhas falhas e insuficiências.
“Quando morremos, nada pode ser levado
conosco, com exceção das sementes
lançadas por nosso trabalho e do nosso
conhecimento.” (Dalai Lama)
RESUMO
A elaboração deste estudo pautou-se na análise dos mecanismos disponibilizados pela Lei deRecuperação de Empresas e Falência, Lei nº. 11.101/2005, que foram utilizados narecuperação judicial da empresa Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos emdificuldade financeira, verificando-se sua aplicação e os efeitos decorrentes na busca dapreservação da empresa economicamente viável. Apontou-se a importância da contabilidadeno contexto da nova lei e a responsabilidade dos profissionais da área no fornecimento deinformações claras e precisas da situação financeira da empresa aos interessados. Procurou-seidentificar através da análise dos indicadores econômicos da empresa, os principais motivosque a levaram à recuperação judicial. Constatou-se que o instituto de recuperação de judicialfoi eficaz no caso estudado, colaborando para a retomada de crescimento da empresa.Palavras-chave: Lei de Recuperação Judicial; Avaliação de Desempenho; Análise deBalanços.
ABSTRACT
The preparation of this study was ruled in the analysis of the available mechanisms by theLaw of Recuperation of Enterprises and Bankruptcy, law nº. 11.101/2005, what Industry ofFoods were used in the judicial recuperation of the enterprise Parmalat of Brazil S/A infinancial trouble, when his application and the resulting effects are happening in the search ofthe preservation of the economically viable enterprise. The importance of the accountancywas pointed in the context of the new law and the responsibility of the professionals of thearea in the supply of clear and precise informations of the financial situation of the enterpriseto the interested ones. It was tried to identify through the analysis of the economic indicatorsof the enterprise, the principal motives that took it to the judicial recuperation. It was noticedthat the institute of recuperation of judicial one was efficient in the studied case, collaboratingfor the recovering of growth of the enterprise.Keywords: Law of Judicial Recovery; Evaluation of Performance; Analysis of balance sheets.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Construindo um Referencial.......................................................................... 17
Figura 02 – Diagrama do Processo do Pedido de Recuperação........................................ 28
Figura 03 – Fluxograma do Processo de Recuperação Judicial........................................ 29
Figura 04 – Análise Contábil............................................................................................ 33
Figura 05 – Fluxograma do Processo de Recuperação Judicial da PA............................. 44
Figura 06 – Linha do Tempo Completa do Processo de Recuperação Judicial da PA..... 60
Figura 07 - Gráfico dos Índices de Liquidez – 2000 a 2007.............................................78
Figura 08 – Gráfico dos Percentuais de Endividamento................................................... 79
Figura 09 – Gráfico dos Percentuais de Composição do Endividamento......................... 80
Figura 10 – Gráfico dos Percentuais de Lucratividade nas Vendas.................................. 84
Figura 11 – Gráfico dos Índices de Liquidez 2005 a 2017...............................................90
Figura 12 – Gráfico dos Percentuais de Endividamento................................................... 92
Figura 13 – Gráfico dos Percentuais de composição do Endividamento.......................... 92
Figura 14 – Gráfico dos Percentuais de Lucratividade nas Vendas.................................. 97
Figura 15 – Fluxo de Caixa Projetado – 2006 a 2017....................................................... 98
Figura 16 – Gráfico dos índices de Liquidez Corrente – 2005 a 2007............................. 103
Figura 17 – Gráfico dos Índices de Liquidez Geral – 2005 a 2007.................................. 103
Figura 18 – Gráfico dos Índices de Liquidez Seca – 2005 a 2007.................................... 104
Figura 19 – Gráfico dos Percentuais de Endividamento – 2005 a 2007........................... 105
Figura 20 – Gráfico dos Percentuais de Composição do Endividamento – 2005 a 2007. 106
Figura 21 – Gráfico dos Percentuais de Margem Bruta – 2005 a 2007............................ 109
Figura 22 – Gráfico dos Percentuais de Margem Operacional – 2005 a 2007................. 110
Figura 23 – Gráfico dos Percentuais de Margem Líquida – 2005 a 2007......................... 110
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 – Recuperação/Concordata............................................................................. 15
Quadro 02 – Histórico da Empresa................................................................................... 41
Quadro 03 – Balanços Patrimoniais Históricos – 2000 a 2004......................................... 66
Quadro 04 – Balanços Patrimoniais Originais – 2000 a 2004.......................................... 67
Quadro 05 – Refazimento das Demonstrações Financeiras em 2004............................... 68
Quadro 06 – Demonstrativos de Resultado Históricos – 2000 a 2004............................. 70
Quadro 07 – Demonstrativos de Resultado Originais – 2000 a 2004............................... 70
Quadro 08 – Balanços Patrimoniais em R$ mil – 2000 a 2007........................................ 76
Quadro 09 – Índices de Liquidez – 2000 a 2007.............................................................. 78
Quadro 10 – Índices de Estrutura de Capital – 2000 a 2007.............................................79
Quadro 11 – Demonstrativos de Resultado em R$ mil – 2000 a 2007............................. 82
Quadro 12 – Índices de Lucratividade nas Vendas - 2000 a 2007................................... 83
Quadro 13 – Balanços Patrimoniais Projetados – 2005 a 2017........................................ 87
Quadro 14 – Índices de Liquidez – 2005 a 2017.............................................................. 89
Quadro 15 – Índices de Estrutura de Capital – 2005 a 2017.............................................91
Quadro 16 – Demonstrativos de Resultado Projetados – 2005 a 2017............................. 94
Quadro 17 – Índices de Lucratividade nas Vendas Projetado – 2005 a 2017................... 96
Quadro 18 – Balanços Patrimoniais Reclassificados por grupo – 2005 a 2017................ 101
Quadro 19 – Índices de Liquidez – 2005 a 2007.............................................................. 102
Quadro 20 – Índices de Estrutura de Capital – 2005 a 2007.............................................105
Quadro 21 – Demonstrativos de Resultado Reclassificado por grupos – 2005 a 2007.... 107
Quadro 22 – Índices de Lucratividade nas Vendas – 2005 a 2007................................... 109
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 11
1.1 Definição do Problema................................................................................ 11
1.2 Justificativa e Relevância ........................................................................... 12
1.3 Objetivo Geral ............................................................................................. 12
1.4 Objetivos Específicos .................................................................................. 12
1.5 Estrutura do Trabalho................................................................................ 13
2 REFERENCIAL TEÓRICO........................................................................ 14
2.1 Recuperação Judicial .................................................................................. 14
2.2 Conceito de Recuperação Judicial............................................................. 16
2.3 Requisitos para Impetração do Pedido de Recuperação Judicial .......... 19
2.4 Meios de Recuperação Judicial.................................................................. 20
2.5 Pedido de Recuperação Judicial ................................................................ 232.5.1 Processamento da Recuperação Judicial .........................................................................252.5.2 Apresentação do Plano de Recuperação Judicial............................................................262.5.3 A Fase do Procedimento do Plano de Recuperação Judicial...........................................27
2.6 Pedido de Recuperação Judicial por Devedor em Processo deConcordata......................................................................................................... 30
2.7 A Importância da Informação Contábil ................................................... 30
2.8 A Análise das Demonstrações Contábeis e seus Indicadores.................. 322.8.1 Principais Processos de Análise ......................................................................................332.8.2 Tipos de Análises por Quocientes ...................................................................................34
3 METODOLOGIA .......................................................................................... 36
3.1 Delineamento do Estudo............................................................................. 36
3.2 Definição da Área de Estudo...................................................................... 38
3.3 Instrumento de Coleta de Dados................................................................ 38
10
3.4 Plano de Análise dos Estudos..................................................................... 38
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS.......................................... 40
4.1 Caracterização da Empresa ....................................................................... 40
4.2 O Processo de Recuperação Judicial......................................................... 444.2.1 Petição Inicial do Requerimento da Recuperação Judicial..............................................454.2.2 Sentença de Deferimento do Processo de Recuperação Judicial.....................................474.2.3 Apresentação do Plano de Recuperação Judicial............................................................484.2.4 Apresentação da Ata da Assembléia Geral dos Credores – AGC ...................................554.2.5 Homologação do Plano de Recuperação Judicial............................................................564.2.6 Alterações ao Plano de Recuperação Judicial .................................................................57
4.3 Análise dos Dados Contábeis ..................................................................... 604.3.1 Apresentação do Laudo Econômico-Financeiro no Processo de Recuperação Judicial .624.3.2 Comparativo entre as Fontes de Informações Utilizadas no Laudo e os DemonstrativosOriginais ...................................................................................................................................654.3.3 Análise do Desempenho Econômico e Financeiro de 2000 a 2007 ................................714.3.3.1 Análise Vertical dos Balanços Patrimoniais de 2000 a 2007 .......................................734.3.3.2 Análise de Indicadores Econômico-Financeiros de 2000 a 2007.................................774.3.3.3 Análise Vertical dos Demonstrativos de Resultado de 2000 a 2007............................804.3.3.4 Análise Gráfica dos Índices de Lucratividade de 2000 a 2007 ....................................834.3.4 Análise dos Balanços Patrimoniais e Demonstrativos do Resultado Projetados de 2005 a2017 ..........................................................................................................................................844.3.4.1 Análise Vertical e Horizontal dos Balanços Patrimoniais Projetados de 2005 a 2017 844.3.4.2 Análise de Indicadores Econômico-Financeiros de 2005 a 2017.................................884.3.4.3 Análise Vertical e Horizontal dos Demonstrativos de Resultado de 2005 a 2017.......934.3.4.4 Análise Gráfica dos Índices de Lucratividade de 2005 a 2017 ....................................954.3.4.5 Análise do Fluxo de Caixa Projetado de 2006 a 2017..................................................974.3.5 Análise Comparativa entre os Balanços Patrimoniais e Demonstrativos do ResultadoProjetados e Realizados de 2005 a 2007 ..................................................................................984.3.5.1 Análise Vertical e Horizontal dos Balanços Patrimoniais Projetados e RealizadosComparados de 2005 a 2017 ....................................................................................................994.3.5.2 Análise de Indicadores Econômico-Financeiros Projetados e Realizados Comparadosde 2005 a 2007........................................................................................................................1014.3.5.3 Análise Vertical e Horizontal dos Demonstrativos de Resultado Projetados eRealizados Comparados de 2005 a 2007................................................................................1064.3.5.4 Análise Gráfica dos Índices de Lucratividade Projetados e Realizados Comparados de2005 a 2007 ............................................................................................................................108
5 CONCLUSÃO .............................................................................................. 112
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 115
11
1 INTRODUÇÃO
A realização das obrigações do empresário para com o Estado é uma preocupação
constante e uma necessidade permanente, já que desse ato depende a continuação da atividade
empresarial.
A empresa é a mola que impulsiona toda a sociedade, Oliveira (2006, prefácio) afirma
que “Garantir a geração de riquezas e promover a criação de empregos constituem os pilares
de um empreendimento produtivo”.
A Lei de Recuperação de Empresas e Falência (LREF) – Lei 11.101/2005 introduz
mecanismos para garantir a continuidade do negócio, os empregos e os ativos mais
importantes, ainda que por dificuldades financeiras a empresa tenha entrado em uma crise
muito ameaçadora ao seu desenvolvimento.
Dentro do processo de recuperação judicial, serão analisados os recursos oferecidos pela
lei à empresa em dificuldade sendo nesse caso específico a Parmalat Brasil S/A Indústria de
Alimentos, verificando se de fato tais mecanismos são eficientes para sua reabilitação e
continuidade operacionais.
A confirmação dos efeitos que o processo de recuperação judicial propõe, serão
comparados com o plano de recuperação judicial proposto pela empresa Parmalat S/A e seu
prolongamento na linha do tempo.
1.1 Definição do Problema
A Lei nº. 11.101 de 9 de fevereiro de 2005, que regula a recuperação judicial, a
extrajudicial, a falência do empresário e da sociedade empresária, criando o processo de
recuperação judicial traz em seu contexto os procedimentos usados para a recuperação
empresarial.
12
Diante dessa legislação, como decorreu o processo de Recuperação Judicial da empresa
Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos?
1.2 Justificativa e Relevância
A nova lei de falências (Lei nº. 11.101/2005) que substitui a instância da concordata
trouxe em seu conteúdo significativas novidades, sobretudo no que se refere à recuperação
judicial e extrajudicial do empresário e da sociedade empresária. Quanto aos aspectos
contábeis, em diversos artigos da lei constam exigências de livros e demonstrativos contábeis,
além de tratar de crimes que podem ter implicações junto aos contadores, exigindo grande
responsabilidade por parte da categoria profissional. A empresa que não apresentar balanços
não poderá solicitar recuperação judicial. O profissional que não estiver atento ao que registra,
pode responder por crime de fraude e enfrentar penas mais duras.
O assunto merece atenção devido à viabilidade da recuperação judicial estar diretamente
condicionada à existência da contabilidade, e a atuação dos profissionais contábeis passar a
ser mais requisitada.
Este assunto será explorado na forma de estudo de caso a ser desenvolvido na empresa
Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos, que por influência de dificuldades pelas quais a
antiga controladora Parmalat S/A atravessou a partir do último trimestre de 2003, sobretudo o
endividamento financeiro, gerou na Companhia uma dependência, até o ano de 2004, de
recursos de terceiros para a operação, sendo levada à recuperação judicial.
1.3 Objetivo Geral
Analisar a Recuperação Judicial da Cia Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos
focando os motivos que levaram a empresa a esse processo e seu atual estágio de
desenvolvimento.
1.4 Objetivos Específicos
a) entender a nova lei de recuperação de empresas e como ocorre sua relação com a
contabilidade empresarial;
b) relatar sobre a importância da informação contábil para fins de avaliação da situação
econômico-financeira das empresas;
13
c) estudar o desempenho econômico-financeiro da Cia. Parmalat S/A, buscando
identificar os motivos que levaram ao processo de recuperação judicial;
d) pesquisar sobre o processo histórico de recuperação judicial da empresa Parmalat S/A
e o reflexo desse processo em seu desempenho econômico-financeiro.
1.5 Estrutura do Trabalho
A pesquisa está divida em 05 (cinco) capítulos, a saber:
Capítulo 1
Compõe-se da Introdução, que é uma síntese sobre o desenvolvimento do estudo,
elementos do projeto de pesquisa, onde está identificado o problema a ser analisado, a
justificativa e relevância do estudo para aprofundamento dos conhecimentos sobre o assunto
pesquisado, os objetivos almejados de forma global e detalhados.
Capítulo 2
A finalidade desta seção é trazer de forma sintética os procedimentos da recuperação
judicial dentro da LREF, os passos necessários para elaboração de um processo de
recuperação judicial em uma empresa, explanar a aplicabilidade e intento junto à
contabilidade e a forma de demonstrar seus resultados aos interessados.
Capítulo 3
Compõe-se da metodologia de pesquisa que versará sobre os meios utilizados e a
forma que a investigação será desenvolvida, a delineação do campo de pesquisa, os
instrumentos que serão usados para a coleta de dados, bem como o plano de análise dos
dados.
Capítulo 4
Trata da apresentação e análise dos dados aplicados no estudo de caso, caracterizando
a empresa, bem como todas as etapas percorridas no processo de Recuperação Judicial, a
análise dos dados contábeis, identificação das possíveis dificuldades financeiras enfrentadas
pela companhia Parmalat S/A.
Capítulo 5
A finalidade dessa seção e trazer os resultados conseguidos através da pesquisa,
buscando evidenciar as conquistas alcançadas com o estudo, apontando a relação entre os
fatos verificados e a teoria e trazendo uma resposta ao problema inicial e aos objetivos do
estudo.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A nova Lei de Falências trouxe importantes inovações aos processos falimentares e de
recuperação de empresas. O texto se baseou em alguns princípios como preservação da
empresa, separação dos conceitos de empresa e de empresário, recuperação das sociedades e
empresários recuperáveis, retirada do mercado de sociedades e empresários não recuperáveis,
proteção aos trabalhadores, participação ativa dos credores, maximização dos valores dos
ativos do falido.
Através da Lei 11.101/2005 as empresas autorizadas pela Justiça a iniciar um processo
de recuperação judicial precisam apresentar a seus credores, em assembléia, um plano
detalhado para superar seus problemas financeiros.
2.1 Recuperação Judicial
A recuperação judicial nasceu da necessidade de uma reformulação na legislação
existente no Brasil até sua criação, visto que o instituto da concordata que até então vigorava
no país deixou de ser eficaz já que na maioria dos casos as empresas que dela se socorriam já
se encontravam em processo pré-falimentar.
Conforme Almeida:
A concordata, malgrado constituir-se no instrumento jurídico indispensável àrecuperação econômico-financeira dos empresários, com o correr do tempo foi-semostrando inadequada, entre outras coisas, por não assegurar ao devedor os recursosfinanceiros fundamentais para a manutenção de estoques e continuação da atividadeempresarial (2007, p. 301).
Para Araújo (2006, p. 5), “Diferentemente da legislação anterior (Decreto-lei nº
7661/45), que destacava o instituto da falência, esta prevê meios para evitá-la, privilegiando a
recuperação das empresas em dificuldades”.
Conforme Oliveira (2006, p. 115), na maioria das vezes é muito difícil uma empresa em
concordata vir a se recuperar e isso se deve ao fato de que esta se compromete a pagar a
15
concordata em dois anos, sendo um período muito curto para que seu fluxo de caixa venha a
se restabelecer e conseqüentemente a empresa entrará em falência.
O quadro abaixo mostra as principais diferenças de escopo e abrangência em relação à
concordata e a recuperação judicial fazendo uma comparação entre a nova lei e o antigo
Decreto-Lei 7.661/45:
Quadro 1 – Recuperação/Concordata
ConcordataDecreto-Lei nº 7661/45
Recuperação JudicialLei nº 11101/05
- Abrange somente os credoresquirografários1
- Suspende somente as ações de credoresquirografários- Prazo de dois anos de duração podendoser estendido pelo juiz- Administradores continuam na gestãoda empresa- Dependia quase da exclusividade dojuiz
- Abrange outras classes de credores
- Suspende ações de todas as classes decredores (com exceção para açõesfiscais)- Prazo de duração indefinido, adepender do que prevê o plano- Possibilidade de substituição dosadministradores da empresa- Depende da aprovação dos credores
Fonte: Araújo, 2006, p. 27
Segundo Almeida (2007, p. 302), “Concordata, como se sabe, significa acordo,
convenção, presumindo como ocorria no passado, vontades convergentes do devedor e dos
credores”. Porém, ultimamente a concordata já não seguia esses princípios, pois ao contrário
de um acordo entre as partes, se tornou um favor legal, não importando a vontade dos
interessados.
Para Oliveira:
Ainda no que diz respeito ao Decreto-lei nº. 7.661/45, mister se faz salientar que oespaço para negociação entre devedor e credor é muito pequeno; é o que dificultatoda a dinâmica do processo de reestruturação. No entanto, a Nova Lei deRecuperação e Falências, ao que tudo indica, virá resolver essa questão, posto que,além de aproximar mais a empresa devedora dos seus credores, afasta um pouco aparticipação do Judiciário e do Ministério Público, possibilitando maior dinâmica nanegociação (2006, p. 115).
1 Credores quirografários são aqueles que não possuem qualquer preferência ou garantia em relação ao seucrédito; isto é, aqueles cujos créditos não têm garantia real ou preferência legal.
16
O desafio da Lei 11.101/2005 é a mudança desse paradigma priorizando a negociação
entre devedores e credores e também a grande preocupação em manter a atividade da
empresa, eliminando a idéia de maiores ganhos com a paralisação de seus negócios.
2.2 Conceito de Recuperação Judicial
A recuperação judicial é um acordo feito entre uma empresa devedora e seus credores
com relação a sua situação de insolvência, objetivando evitar sua falência, ou cessá-la uma
vez já declarada. A nova lei abre às empresas em dificuldades a chance de reestruturação
demonstrando dessa forma o seu maior interesse que é manter a atividade empresarial,
preservando os empregos e a quitação dos credores, mantendo seus recursos produtivos e sua
função social.
A Lei 11.101/05 em seu art. 47 ressalta esse conceito:
Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situaçãode crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonteprodutora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo,assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividadeeconômica (BRASIL, 2005).
Oliveira ensina que (2006, p. 15), “Um princípio universal do direito, da economia e das
ciências sociais é o de que o único núcleo de desenvolvimento econômico e social que existe
é a empresa”.
Ainda conforme Oliveira:
Preserva-se a empresa para poder manter sua função social e o exercício da atividadeeconômica fomentando a atividade econômica, mantendo o emprego dostrabalhadores, a fonte produtora e o interesse dos credores, ou então se faz de formainversa, começando a leitura pelo primeiro triângulo, ou seja, procura-se manter afonte produtora, o emprego dos trabalhadores e o interesse dos credores com vistas apreservar a empresa, sua função social e fomentar a atividade econômica (2006, p.27).
Diante do exposto no artigo 47 da LREF, a figura abaixo demonstra suas possíveis
interpretações no que diz respeito à proteção da fonte produtora e demais objetivos.
17
FUNÇÃO SOCIAL
Figura 01 - Construindo um referencial.Fonte: Oliveira, 2006, p. 26
Oliveira descreve a figura 01 da seguinte forma:
a) apresenta-se dois triângulos justapostos sendo o primeiro denominado de
manutenção, que levanta a questão do que se pretende manter com essa lei. Em primeiro
momento o principal item a ser preservado é a fonte produtora que representa toda a
atividade empresarial, portanto colocada como primeiro ponto do lado esquerdo do
triângulo;
b) no ponto superior cria-se como segundo ponto o emprego dos trabalhadores como
preservação das atividades profissionais, já no terceiro ponto mantemos o interesse dos
credores que se dividem em imediatos que serão recebidos individualmente por credor e
sua respectiva classe e os mediatos sendo que os credores são grandes interessados na
preservação do fornecimento de produtos ou serviços e automaticamente na recuperação
da empresa. Diante disso se dá origem ao primeiro triângulo que chamamos de
manutenção;
c) o segundo triângulo será denominado preservação, que questiona o que será
preservado com a nova legislação. Como primeiro ponto à esquerda, se fixa a
preservação da empresa em seu papel de instituição empresarial, cabendo inúmeras
Preservação
Manutenção
Empresa AtividadeEconômica(fomento)
FonteProdutora
Emprego dostrabalhadores
Interesse doscredores
18
justificativas para que seja mantida, seja pela geração de impostos e empregos, seja
pelos benefícios que traz à região onde mantém suas atividades como melhoria da
qualidade de vida e desenvolvimento sustentável;
d) já na parte superior do triângulo vem a função social da empresa como ponto
importante defendido na lei e por fim, encerrando o segundo triângulo se mantém a
atividade econômica da empresa representando o ideal de crescimento do país.
Dessa forma, a nova lei foi elaborada com a função de trazer subsídios adequados para
que um acordo se forme em torno da reestruturação da empresa, garantindo uma solução
eficiente em que todos ganham: a empresa se mantém em funcionamento, os credores têm sua
dívida sanada e os trabalhadores garantem sua fonte de renda.
A Lei 11.101/05 em seus artigos 1º e 48 traz a aplicabilidade da recuperação judicial, e
limita os empresários individuais e as sociedades empresárias que exerçam regularmente suas
atividades a mais de 2 (dois) anos ao uso de seus benefícios.
“Art.1º. Esta lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a
falência do empresário e da sociedade empresa, doravante referidos simplesmente como
devedor” (BRASIL, 2005).
O empresário a que se refere o dispositivo legal transcrito tem a seguinte denominação
no artigo 966 do Código Civil de 2002 “Considera-se empresário quem exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou
de serviços” (BRASIL, 2002 apud Almeida, 2006, p. 304).
Já com relação à sociedade empresária o Código Civil no seu artigo 982 descreve como
“Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o
exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro...” (BRASIL, 2002 apud
Almeida, 2006, p. 305).
Para Oliveira:
O DEVEDORÉ representado pela administração da empresa, que nem sempre se confunde com ossócios. Está na posição inglória de quem é responsável pelo problema e a solução. Etende a ser parte bem informada da negociação (2006, p. 47).
Conforme Ochoa e Weinmann (2006, p. 19) “A nova lei aplica-se ao empresário e à
sociedade empresária. Foi superada assim a insuficiência conceitual da legislação anterior,
que atribuía a aplicabilidade do instituto ao comerciante”.
A recuperação judicial se aplica ainda ao cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor e
inventariante ou sócio remanescente. Esta é mais uma ferramenta disponibilizada pela Lei
11.101/2005 no seu art. 48, parágrafo único “Parágrafo único. A recuperação judicial também
19
poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio
remanescente” (BRASIL, 2005).
Para Ochoa e Weimann (2006, p. 65) “Nas pequenas empresas, a aplicação da norma
será possível se do contrato social constar usual cláusula de que a pessoa jurídica não se
extinguirá com o falecimento de um dos sócios”.
No entendimento de Almeida (2006, p. 304), tanto o empresário como a empresa que se
utilizarão da recuperação judicial devem estar devidamente registrados no Registro Público de
Empresas Mercantis de seu respectivo estado de domicílio.
Cabe lembrar ainda, que a recuperação judicial não é um meio universal para que as
empresas se beneficiem e venham a se reerguer, visto que, o empresário que estava impedido
de entrar com pedido de concordata pelo decreto 7.661/45, continua sem autorização para se
valer da Lei 11.101./2005.
No momento em que foi promulgada a nova lei de recuperação judicial, foi possível
verificar a sua inaplicabilidade a determinadas sociedades empresárias. A Lei 11.101/2005 em
seu artigo 2º define:
Art. 2º Esta lei não se aplica a:I – empresa pública e sociedade de economia mista;II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio,entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistênciaà saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidadeslegalmente equiparadas às anteriores (BRASIL, 2005).
Ainda, conforme Ochoa e Weinmann (2006, p. 21), a recuperação judicial não se aplica
às sociedades simples e sociedades não-personificadas.
No que se refira à legitimidade ativa para requerer a recuperação judicial da empresa, o
credor não a detém, pois se considera que quem tem legitimidade ativa para o processo de
recuperação judicial é quem está exposto ao risco de ter a falência decretada. Além disso,
seria praticamente inviável para o credor cumprir com todas as exigências da Lei 11.101/2005
para requerer o benefício legal.
2.3 Requisitos para Impetração do Pedido de Recuperação Judicial
Para que se possa requerer a recuperação judicial se faz necessário em primeiro lugar,
conforme já abordado, ser empresário ou sociedade empresária. No seu artigo 48 a Lei
11.101/2005 estabelece alguns critérios para que o empresário ou sociedade empresária
possam comprovar sua idoneidade e sua permanência na atividade há mais de 2 (dois), como
disposto a seguir:
20
Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido,exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aosseguintes requisitos, cumulativamente:I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada emjulgado, as responsabilidades daí decorrentes;II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;III – Não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de recuperação judicialcom base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador,pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei (BRASIL, 2005).
Para Almeida (2006, p. 308), os requisitos necessários para entrar com o processo
recuperação judicial são divididos em duas categorias: os de ordem objetiva que são
proclamados no artigo 48, e os de ordem subjetiva que são representados pelo plano de
recuperação apresentado pelo requerente.
Embora todos os requisitos apresentados para encaminhamento do processo, segundo
Ochoa e Weinmann (2006, p. 64), em comparação com o antigo regime de concordata as
exigências para a comprovação da idoneidade diminuíram, em contrapartida aumentaram a
quantidade de documentos a serem apresentados no momento do pedido. Essa seria uma
medida estratégica do legislador, visto que a partir do momento em que são apresentados
documentos que mostrem a real situação do insolvente, dificulta a omissão de dados.
Segundo Ochoa e Weinmann:
Explica-se. Se o plano não for aprovado pelos credores, a falência do devedor serádecretada, a menos que desista do pedido com a concordância dos mesmos credores.Portanto, a exigência de dados que implicam a renúncia ao sigilo patrimonial dossócios (artigo 52, inciso VI) e ao sigilo bancário e financeiro da empresa (art. 52,VII) é um alerta ao devedor que pretenda utilizar-se do instrumento de formameramente procrastinaria, pois esses mesmos credores poderão passar a conhecerinformações de que até então não dispunham (2006, p. 65).
O exercício regular da atividade empresarial é requisito essencial para o pedido do
processo e a comprovação do prazo de carência de 2 (dois) representa uma precaução para
evitar que empresários de má fé se utilizem da recuperação judicial de forma fraudulenta.
2.4 Meios de Recuperação Judicial
A Lei 11.101/2005 é extremamente ampla ao se tratar das formas concedidas para a
empresa entrar com processo de recuperação judicial visando sua reestruturação econômico-
financeira e os meios oferecidos para a recuperação podem ser classificados em seis
categorias distintas:
a) dilatório (aumento de prazo) ou misto entre dilatório ou remissório (diminui a
intensidade), como pode ser constatado no inciso I do artigo 50;
21
b) meramente remissório (diminui a intensidade), como pode ser constatado no inciso
XII do artigo 50;
c) a reformulação recai sobre o perfil subjetivo da empresa (atinge a parte societária da
empresa), como pode ser constatado nos incisos II, III e X do artigo 50;
d) a reformulação recai sobre o perfil objetivo da empresa (atinge o patrimônio da
empresa), como pode ser constatado nos incisos II final, VI, VII, IX, XI, XIII, XV, XVI
do artigo 50;
e) a reformulação recai sobre o perfil funcional da empresa (atinge a atividade própria
da empresa), como pode ser constatado nos incisos IV, V , XIII e XIV do artigo 50;
f) a reformulação recai sobre o perfil corporativo da empresa (empresário, dirigentes,
funcionários e operários), como pode ser constatado no inciso VIII do artigo 50.
Conforme Oliveira:
A nova Lei de Falência e Recuperação de Empresas traz um rol exemplificativo,com 16 (dezeseis) meios de recuperação que o devedor pode utilizar pararecuperação da sua atividade. O plano pode contemplar abatimento das dívidas,concessão de prazos, cisão, conversão de dívida em capital, dação em pagamento,entre outros meios para a recuperação do devedor. Na elaboração do plano, odevedor deve examinar a composição de seu ativo, analisar se é possível alienaralgum bem e eventualmente transferi-lo para seus credores. Deve também analisar operfil e as preferências de seus credores, uma vez que alguns podem preferir, porexemplo, a concessão de descontos e outros, o alongamento da dívida (2006, p. 92).
Os meios oferecidos para serem utilizados no plano de recuperação judicial estão
elencados no art. 50, da Lei 11.101/2005, sendo muitos deles recomendados por diversos
consultores como forma de recuperação financeira para a empresa em estado de insolvência:
Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinentea cada caso, dentre outros:I – concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigaçõesvencidas ou vincendas;II – cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição desubsidiária integral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios,nos termos da legislação vigente;III – alteração do controle societário;IV – substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação deseus órgãos administrativos;V – concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores ede poder de veto em relação às matérias que o plano especificar;VI – aumento de capital social;VII – trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedadeconstituída pelos próprios empregados;VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, medianteacordo ou convenção coletiva;IX – dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou semconstituição de garantia própria ou de terceiro;X – constituição de sociedade de credores;XI – venda parcial dos bens;XII – equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza,tendo como termo inicial à data da distribuição do pedido de recuperação judicial,
22
aplicando-se inclusive aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto emlegislação específica;XIII – usufruto da empresa;XIV – administração compartilhada;XV - emissão de valores mobiliários;XVI – constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, empagamento dos créditos, os ativos do devedor (BRASIL, 2005).
Os meios apresentados acima não excluem outros, desde que pertinentes à legislação.
Uma vez que o plano seja rejeitado por não haver opção compatível e inexistindo proposta
alternativa será decretada a falência do devedor.
Os efeitos da Lei 11.101/2005 são abordados de duas formas: efeitos da recuperação
judicial quanto às obrigações do devedor – créditos sujeitos à recuperação e os efeitos da
recuperação judicial quanto à administração da empresa.
Quanto às obrigações do devedor Ochoa e Weinmann (2006, p. 65) entende que “Reza
o artigo 49 estarem sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do
pedido, ainda que não vencidos”.
Conforme Oliveira:
Em princípio, todos os credores estão sujeitos ao processo de recuperação judicial(regra potencial), com exceção do Fisco3. O devedor deve indicar no plano derecuperação os credores cujas obrigações não podem ser honrados dado o fluxo degeração de caixa e, portanto, como quais credores pretende negociar (2006, p. 91).
Ao falar em exceção do fisco, Oliveira se refere aos créditos tributários que deverão ser
objeto de parcelamento administrativo em separado, por enquanto, dentro daqueles prazos de
seis ou sete anos do Projeto de Lei nº 245/04.
Para Almeida (2006, p. 319), existem, porém, algumas classes de credores excluídos
dos efeitos da recuperação judicial. São elas:
a) credor fiduciário, arrendador mercantil proprietário ou promitente vendedor de
imóvel com cláusula de irrevogabilidade, credor com reserva de domínio;
b) os contratos de câmbio (adiantamento de dinheiro destinado à exportação);
c) os créditos constituídos após a distribuição do pedido de recuperação.
Quanto à administração da empresa:
Para Almeida (2006, p. 318) “A recuperação judicial, tal aliás como ocorria com a
concordata, em princípio não priva o titular da empresa da administração dos seus bens”.
Conforme Araújo (2006, p. 41) “A recuperação judicial será conduzida por um
administrador judicial, sem levar à paralisação da empresa ou destituição de seu
administrador”.
23
O contrário das afirmações acima, se dá nos seguintes casos conforme define o artigo 64
da Lei 11.101/2005:
Art. 64. Durante o procedimento de recuperação judicial, o devedor ou seusadministradores serão mantidos na condução da atividade empresarial, sobfiscalização do Comitê, se houver, e do administrador judicial, salvo se qualquerdeles:I – houver sido condenado em sentença penal transitada em julgado por crimecometido em recuperação judicial ou falência anteriores ou por crime contra opatrimônio, a economia popular ou a ordens econômica previstos na legislaçãovigente;II – houver indícios veementes de ter cometido crime previsto nesta Lei;III – houver agido com dolo, simulação ou fraude contra os interesses de seuscredores;IV – houver praticado qualquer das seguintes condutas;a) efetuar gastos pessoais manifestamente excessivos em relação a sua situaçãopatrimonial;b) efetuar despesas injustificáveis por sua natureza ou vulto, em relação ao capitalou gênero do negócio, ao movimento das operações e a outras circunstânciasanálogas;c) descapitalizar, injustificadamente a empresa ou realizar operações prejudiciais aoseu funcionamento regular;d) simular ou omitir créditos ao apresentar a relação de que trata o inciso III docaput do art. 51 desta Lei, sem relevante razão de direito ou amparo de decisãojudicial;V – negar-se a prestar informações solicitadas pelo administrador judicial ou pelosdemais membros do Comitê;VI – tiver seu afastamento previsto no plano de recuperação judicial.Parágrafo único. Verificada qualquer das hipóteses do caput deste artigo, o juizdestituirá o administrador, que será substituído na forma prevista nos atosconstitutivos do devedor ou do plano de recuperação judicial (BRASIL, 2005).
Caso ocorra qualquer uma das hipóteses citadas acima, segundo Ochoa e Weinmann
(2006, p. 94), o juiz decretará uma Assembléia Geral dos Credores (AGC) que irá nomear um
novo administrador para a empresa que passará a assumir todas as atribuições que o cargo lhe
incumbir, e muitas vezes como já existe o Administrador Judicial, resulta em uma duplicidade
de remuneração, agravando a crise financeira da empresa. Nesse caso existe a hipótese do
próprio Administrador Judicial vir a acumular o cargo de administrador da empresa
assumindo também as atividades do devedor.
2.5 Pedido de Recuperação Judicial
O pedido inicial de recuperação judicial é assinado por advogado e tem em seu
conteúdo, além dos requisitos de validade comum a todos os processos, a exposição das
causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico
financeira que são afirmadas através das demonstrações cabíveis.
Conforme Ochoa e Weinmann:
24
Cumpre destacar a diferença em relação à concordata, na qual o simples despachodeferindo o processamento já assegurava ao devedor o direito de efetuar opagamento conforme a proposta apresentada na peça inicial. Na recuperação, não émais assim. O devedor a requer e, estando sua petição em termos, o juiz defere oprocessamento da medida, mas a pretensão do devedor somente será executávelquando apresentar o seu plano de recuperação e este for aprovado pela assembléiageral (2006, p. 80).
Os procedimentos iniciais da recuperação da empresa insolvente estão dispostos no
artigo 51 da Lei 11.101/2005:
Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com:I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razõesda crise econômico-financeira;II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais eas levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estritaobservância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de:a) balanço patrimonial;b) demonstração de resultados acumulados;c) demonstração do resultado desde o último exercício social;d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação defazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificaçãoe o valor atualizado do crédito, discriminando rua origem, o regime dos respectivosvencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente;IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções,salários, indenizações e outras parcelas a que tem direito, com o correspondente mêsde competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento;V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o atoconstitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores;VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradoresdo devedor;VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuaisaplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimentoou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras;VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sededo devedor e naquelas onde possui filial;IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figurecomo parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivosvalores demandados.§ 1º. Os documentos de escrituração contábil e demais relatórios auxiliares, naforma e no suporte previstos em lei, permanecerão à disposição do juízo, doadministrador judicial e, mediante autorização judicial, de qualquer interessado.§ 2º. Com relação à exigência prevista no inciso II do caput deste artigo, asmicroempresas e empresas de pequeno porte poderão apresentar livros e escrituraçãocontábil simplificados nos termos da legislação especifica.§ 3º. O juiz poderá determinar o depósito em cartório dos documentos a que sereferem os §§ 1º e 2º deste artigo ou de cópia destes (BRASIL, 2005, grifo nosso).
Com relação aos livros contábeis, estes embora permaneçam em poder do devedor para
que se prossiga a escrituração normal, perde o devedor o direito de sigilo podendo o juiz, o
administrador ou qualquer outro interessado, sendo judicialmente autorizado, examiná-los em
qualquer tempo.
Destaca-se a importância da contabilidade no processo de recuperação judicial já que as
dificuldades financeiras de uma empresa, como também o histórico de seu passado, sua
25
performance atual e perspectivas futuras só podem ser demonstradas através de seus números,
valores e demonstrações contábeis. Desta forma o inciso II do artigo 51 da LREF comenta a
necessidade de apresentação das demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos
exercícios, do balanço patrimonial, da demonstração de resultados acumulados, da
demonstração do resultado desde o último exercício social e do relatório gerencial de fluxo de
caixa e de sua projeção.
2.5.1 Processamento da Recuperação Judicial
Nesta fase o juiz examina toda a documentação apresentada no pedido inicial e,
constatando a ordem e a inexistência de pendências deferirá o processamento da recuperação
judicial. Da decisão constará a nomeação do administrador judicial e as demais ações
seguindo o artigo 52 da Lei 11.101/2005.
Conforme Oliveira (2006, p. 91) “Preenchidos os requisitos legais exigidos para o
ajuizamento do pedido de recuperação, o juiz deverá deferir seu processamento”.
Estando o pedido de recuperação judicial de acordo com os ditames da Lei 11.101/2005,
o juiz deferirá o pedido e decretará as ações conforme consta no artigo 52:
Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juizdeferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato:I – nomeará o administrador judicial, observado o disposto no art. 21 desta Lei;II – determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para que odevedor exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público oupara recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, observando odisposto no art. 69 desta Lei;III – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, naforma do art. 6º desta Lei, permanecendo os respectivos autos no juízo onde seprocessam ressalvadas as ações previstas nos §§1º, 2º e 7º do art. 6º desta Lei e asrelativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3º e 4º do art. 49 desta Lei;IV – determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas mensaisenquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seusadministradores;V – ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta àsFazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedortiver estabelecimento.§1º O juiz ordenará a expedição de edital, para publicação no órgão oficial, queconterá:I – o resumo do pedido do devedor e da decisão que defere o processamento darecuperação judicial;II – a relação nominal de credores, em que se discrimine o valor atualizado e aclassificação de cada crédito;III – a advertência acerca dos prazos para habilitação dos créditos, na forma do art.7º, § 1º, desta Lei, e para que os credores apresentem objeção ao plano derecuperação judicial apresentado pelo devedor nos termos do art. 55 desta Lei.§ 2º Deferido o processamento da recuperação judicial, os credores poderão, aqualquer tempo, requerer a convocação de assembléia-geral para a constituição doComitê de Credores ou substituição de seus membros, observado o disposto no § 2ºdo art. 36 desta Lei.
26
§ 3º No caso do inciso III do caput deste artigo, caberá ao devedor comunicar asuspensão aos juízos competentes.§ 4º O devedor não poderá desistir do pedido de recuperação judicial após odeferimento de seu processamento, salvo se obtiver aprovação da desistência naassembléia-geral de credores (BRASIL, 2005).
Durante essa fase do pedido de recuperação judicial o magistrado faz um exame
meramente formal para verificar a ordem da documentação apresentada, e preenchidos todos
os requisitos legais exigidos para o ajuizamento do pedido, será deferido seu processamento.
2.5.2 Apresentação do Plano de Recuperação Judicial
O plano de recuperação judicial é um dos aspectos fundamentais do processo de
recuperação de uma empresa, dada a grande importância de sua redação que deverá trazer a
proposta do devedor para recuperar seu equilíbrio financeiro, preservando suas atividades e
honrando seus compromissos para com seus credores.
Com relação ao conteúdo apresentado no plano, Negrão (2008.p 190) descreve que o
plano deve conter a discriminação dos meios, a demonstração de sua viabilidade econômica e
o laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens do ativo do devedor.
Em seus artigos 53 e 54 a Lei 11.101/2005 traz a forma como deve ser apresentado o
Plano de Recuperação Judicial:
Art. 53. O plano de recuperação será apresentação pelo devedor em juízo no prazoimprorrogável de 60 (sessenta) dias da publicação da decisão que deferir oprocessamento da recuperação judicial, sob pena de convolação em falência, edeverá conter:I – discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a ser empregados,conforme o art. 50 desta lei, e seu resumo;II – demonstração de sua viabilidade econômica; eIII – laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor,subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada.Parágrafo único. O juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso aos credoressobre o recebimento do plano de recuperação e fixando o prazo para a manifestaçãode eventuais objeções, observado o art. 55 desta Lei.Art. 54 . O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a 1 (um)ano para pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentesde acidentes de trabalho vencidos até a data do pedido de recuperação judicial.Parágrafo único. O plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) diaspara o pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, doscréditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anterior aopedido de recuperação judicial (BRASIL, 2005).
Com relação ao laudo econômico-financeiro, este deverá ser elaborado por empresa
especializada ou profissional legalmente habilitado e será conveniente que contenha um
parecer sobre a viabilidade econômica do devedor, documento técnico que deverá
acompanhar o pedido.
27
Para Oliveira:
A nova Lei de Falência e Recuperação de Empresas não exige que o devedorconceda tratamento paritário a todos os credores sujeitos à recuperação judicial, talcomo ocorria na concordata preventiva, de forma que é possível elaborar um planoque preveja tratamento distinto para diferentes grupos de credores (2006, p. 92).
Após o plano ser protocolado o juiz verificará sua ordem formal de apresentação, sendo
permitida a concessão de prazo para emendas ou esclarecimentos se necessários, em seguida o
juiz ordenará a publicação do edital contendo aviso aos credores sobre o recebimento do
plano e o prazo para que estes eventualmente se manifestem ou se oponham ao plano.
2.5.3 A Fase do Procedimento do Plano de Recuperação Judicial
Entre seus artigos 55 e 69 a Lei 11.101/2005 reza sobre o procedimento da Recuperação
Judicial a partir do momento em que é feita a apresentação do plano de recuperação judicial,
estabelecendo critérios como a aprovação ou rejeição dos credores ao plano, concessão da
Recuperação Judicial pelo magistrado, prazos a serem cumpridos por todas as partes
envolvidas do processo, alienação de bens ou direitos do devedor, dentre outras informações.
Os artigos 55 e 56 da LREF ressaltam que os credores terão 30 dias para contestarem o
plano apresentado pelo devedor e, em caso de rejeição do mesmo por um ou mais credores,
será convocada uma assembléia geral de credores para debate do assunto no prazo máximo de
150 dias após o deferimento do processamento da recuperação judicial.
Ochoa e Weinmann assim resume os 2 (dois) artigos:
Apresentado o plano recuperação, abrem-se duas hipóteses. Ou os credoressilenciam, concedendo-lhe tácita aprovação; ou, insurgem-se contra a pretensão dodevedor. Denomina-se objeção a forma pela qual o credor pode impugnar o planorecuperação que não lhe seja conveniente, o que, uma vez feito, determina acompulsória convocação de assembléia geral para deliberação (2006, p. 86).
No §3º do artigo 56 a Lei 11.101/2005 determina que o plano de recuperação judicial
apresentado poderá sofrer alterações desde que haja concordância do devedor e não implique
em diminuição de direitos dos credores ausentes.
Segundo o §4º do art. 56 da Lei de Recuperação de Empresas e Falência “Rejeitado o
plano de recuperação pela assembléia-geral de credores, o juiz decretará a falência do
devedor” (BRASIL, 2005).
A figura abaixo ilustra esse processo:
28
Figura 02 - Diagrama do processo do pedido de recuperação.Fonte: Oliveira, 2006, p. 37
Em seu art. 57, a Lei 11.101/2005 descreve que após o plano de recuperação judicial
aprovado pelos credores ser juntado ao processo ou decorrido o prazo estipulado no art. 55 da
mesma lei, deverá o devedor, apresentar certidões negativas de débitos tributários.
Havendo casos em que o devedor tenha dificuldades em adquirir as certidões, este
defenderá seus direitos legítimos de contribuinte, o que não pode vir em seu prejuízo, pois
afronta à garantia constitucional que lhe é assegurada no art. 5º §XXXV da Constituição
Federal, de que a lei não excluirá da apreciação do poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
Sendo assim, conforme transcrito em Ochoa e Weinmann (2006, p. 90) “Nessas
hipóteses, caberá ao juiz da recuperação analisar as alegações do devedor e fazer valer a
garantia constitucional”.
Segundo Ochoa e Weinmann (2006, p. 91) o artigo 58 da Lei 11.101/2005 diz que o juiz
concederá a recuperação judicial ao devedor, após serem cumpridas todas as exigências, o
plano não ter sido rejeitado pelos credores ou tenha sido aprovado pela Assembléia-Geral de
Credores.
Conforme Negrão (2008, p. 194) existe uma terceira alternativa prevista no art. 58, que
permite ao juiz conceder a recuperação judicial mesmo que o plano não tenha obtido o
número de votos necessários para sua aprovação, caso na assembléia geral o plano alcançar: o
voto favorável de credores que presentes mais da metade do valor de todos os créditos
presentes à assembléia, independente de classes; a aprovação de duas classes de credores, se
houver mais de duas classes votantes, e de uma classe, se forem apenas duas votantes; o voto
favorável de mais de 1/3 dos credores na classe que houver rejeitado o plano.
Com relação às classes de credores Oliveira define:
Na assembléia geral, os credores são divididos por classes: os trabalhistas (votampor cabeça na aprovação do plano), os credores com direito real de garantia e todosos demais credores (ou seja, espécies de credores com privilégio geral, especial,quirografários e subordinados). Os credores dessas duas últimas classes votam emseparado e com base no valor dos respectivos créditos (2006, p. 93).
Pedidos derecuperação
180dias
Plano de reabilitaçãoproposto pela firma eaceito pelos credores
Juiz decretafalência
29
Com a decisão que concede a recuperação judicial, conforme o art. 61 da Lei
11.101/2005, o devedor permanecerá nesse estado até que se cumpram todas as obrigações
previstas no plano que se venceram até 2 (dois) anos depois da concessão, sendo que o
descumprimento de qualquer um a dessas obrigações consequentemente transformará a
recuperação em falência.
Com referência à alienação de bens ou direitos que compõem o ativo permanente do
devedor o art. 66 da Lei de Recuperação Judicial veta esse procedimento por parte do
solicitante da recuperação judicial, salvo a utilidade seja reconhecida pelo juiz, após ter sido
ouvido o comitê de credores, à exceção daqueles bens previamente relacionados no plano de
recuperação judicial.
O fluxograma a seguir ilustra os principais passos e procedimentos a serem percorridos,
desde a apresentação do plano de recuperação até a finalização do processo:
Figura 03 - Fluxograma do processo de recuperação judicialFonte: Araujo, 2006, p. 32
A obediência aos requisitos propostos pela Lei 11.101/2005 é condição essencial para
sanear uma sociedade empresarial em dificuldades financeiras. Um trabalho a ser executado
pelos mais preparados profissionais, tanto na área jurídica, como financeira e contábil, além
da boa vontade, do conhecimento, da experiência e da capacidade de seus administradores.
Fim da recuperação
Havendodescumprimento é
possível
Apresentação do PlanoExecutar o título não
pago
AprovaçãoAnálise e debate pelaAGC e pelas classes
de credores
Plano alternativo doscredores
Liquidação
Não aprovaçãoAnálise e debate pelaAGC e pelas classes
de credores
Pedir falência dodevedor
30
2.6 Pedido de Recuperação Judicial por Devedor em Processo de Concordata
O pedido de recuperação judicial poderá ser requerido pelo devedor que tenha requerido
a concordata em prazo anterior ao da vigência da Lei 11.101/2005. Estando o requerente
perfeitamente enquadrado nas hipóteses do §2º e do §3º do artigo 192 da nova Lei de
Recuperação de Empresas poderá solicitar o benefício, conforme descrito a seguir:
§2º A existência de pedido de concordata anterior à vigência dês Lei não obsta opedido de recuperação judicial pelo devedor que não houver descumprido obrigaçãono âmbito da concordata, vedado, contudo, o pedido baseado no plano especial derecuperação judicial para microempresas e empresas de pequeno porte a que serefere a Seção V do Capítulo III desta Lei.§3º No caso do §2º deste artigo, se deferido o processamento da recuperaçãojudicial, o processo de concordata será extinto e os créditos submetidos à concordataserão inscritos por seu valor original na recuperação judicial, deduzidas as parcelaspagas pelo concordatário (BRASIL, 2005).
A nova Lei 11.101/2005 transforma o processo de concordata em recuperação judicial,
visando assegurar a continuidade dos negócios das empresas viáveis, a preservação dos
empregos e o pagamento dos credores.
2.7 A Importância da Informação Contábil
A contabilidade tem a finalidade de munir todos os usuários de sua informação com as
diretrizes e demais respostas necessárias à condução da entidade, no sentido de alcançar o fim
a que a mesma se propõe, através da adequada mensuração dos eventos cabíveis que venham
impactar seu patrimônio.
A Lei de Recuperação de Empresas e Falência tem forte implicação com a atividade
contábil tanto no que se refere à exigência da escrituração contábil e seus demonstrativos,
quanto à responsabilidade dos contabilistas. Em seu artigo 7º a Lei 11.101/2005 destaca a
importância da informação contábil:
Art. 7º. A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, combase nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nosdocumentos que lhe foram apresentados pelos credores, podendo contar com oauxílio de profissionais ou empresas especializadas (BRASIL, 2005).
Conforme do Canto (informação verbal)2 “Certamente essa nova lei trará mais trabalho
aos profissionais contábeis, eles terão que estar bem mais especializados”. Ainda segundo do
Canto com a entrada da LREF o grau de exigências tornam-se maiores, sendo que a
2 Informação fornecida por Jorge Luiz do Canto extraída do texto Documentação é importante para arecuperação judicial.
31
viabilidade econômica da empresa deverá passar por auditorias, já que o texto legal tem como
princípio a preservação da empresa, mas não a qualquer custo.
Para Kerkhoff (informação verbal)3 o contabilista é quem tem condições, através de
seus conhecimentos, de demonstrar e possibilitar a recuperação judicial através da
apresentação de relatórios contábeis que mostrem ao juiz que é viável a recuperação,
prevendo todos os passos futuros da empresa.
Na parte criminal houve uma majoração no prazo de cumprimento das penas e uma
penalidade maior quanto a desvios, manipulação e falsidade contábil conforme descrito no
artigo 168 da Lei 11.101/2005:
Art. 168. Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder arecuperação judicial ou homologar a recuperação extrajudicial, ato fraudulento deque resulte ou possa resultar prejuízo aos credores, com o fim de obter ou assegurarvantagem indevida para si ou para outrem.Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.Aumento da pena§ 1º A pena aumenta-se de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se o agente:I – elabora escrituração contábil ou balanço com dados inexatos;II – omite, na escrituração contábil ou no balanço, lançamento que deles deveriaconstar, ou altera escrituração ou balanço verdadeiros;III – destrói, apaga ou corrompe dados contábeis ou negociais armazenados emcomputador ou sistema informatizado;IV – simula a composição do capital social;V – destrói, oculta ou inutiliza, total ou parcialmente, os documentos de escrituraçãocontábil obrigatórios.Contabilidade paralela§ 2º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até metade se o devedor manteve oumovimentou recursos ou valores paralelamente à contabilidade exigida pelalegislação.Concurso de pessoas§ 3º Nas mesmas penas incidem os contadores, técnicos contábeis, auditores e outrosprofissionais que, de qualquer modo, concorrem para as condutas criminosasdescritas neste artigo, na medida de sua culpabilidade (BRASIL, 2005).
Segundo Ochoa e Weinmann:
O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema decontabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros,em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente obalanço patrimonial e o de resultado econômico (2006, p. 178).
As demonstrações contábeis solicitadas pela legislação falimentar visam informar,
respectivamente, os valores patrimoniais finais e a formação do resultado de determinado
período de uma empresa, ou seja, qual a contribuição econômica da empresa para a sociedade.
A visão é de que as empresas são agentes sociais no processo de desenvolvimento da
economia. Dessa forma, precisam informar qual o valor que estão gerando para a sociedade,
3 Informação fornecida por Renato Kerkhoff extraída do texto Documentação é importante para a recuperaçãojudicial.
32
tanto o econômico quanto o social. Assim a contabilidade, através de suas informações e
análises, se torna de grande importância para as decisões referentes à recuperação da empresa.
2.8 A Análise das Demonstrações Contábeis e seus Indicadores
A análise das demonstrações contábeis com base em indicadores tem se
desenvolvimento muito, surgindo um escopo abrangente e a possibilidade de se criarem novas
fórmulas de acordo com necessidades específicas tendo como limite a experiência e a
criatividade de cada pessoa.
A fim de evitar que o analista não se sinta confuso diante de vários índices, quocientes,
indicadores, muitas vezes repetitivos ou até contraditórios, essas análises são dispostas em
grupos ou modelos específicos que procuram verificar a situação de uma empresa sob os mais
variados enfoques.
Para Matarazzo:
O analista de balanços preocupa-se com as demonstrações financeiras que por suavez, precisam ser transformadas em informações que permitam concluir se aempresa merece ou não crédito, se vem sendo bem ou mal administrada, se tem ounão condições de pagar suas dívidas, se é ou não lucrativa, se vem evoluindo ouregredindo, se é ineficiente, se irá falir ou se continuará operando (1998, p. 19).
Ainda segundo Matarazzo (1998, p. 19) “O produto da análise de Balanços são
relatórios escritos em linguagem corrente. Na medida do possível, recomenda-se o uso de
gráficos como auxiliares para simplificar as conclusões mais complexas”.
Com relação aos objetivos, a Análise das Demonstrações Contábeis, também chamada
de Análise das Demonstrações Financeiras, Ferrari diz que:
Tem por objetivo a obtenção, comparação e interpretação de indicadores, podendoser estes coeficientes, índices ou quocientes calculados a partir de elementosextraídos das demonstrações contábeis, com o fim de fornecer aos seus usuários oconhecimento do perfil econômico, financeiro, patrimonial e de desempenhooperacional da entidade geradora das demonstrações (2007, p. 45).
A figura abaixo procura demonstrar as etapas percorridas na elaboração de uma análise
contábil.
33
Figura 04 - Análise ContábilFonte: Ferrari, 2007, p. 45
Para o analista, a interpretação através de índices é a forma mais adequada de se chegar
a ter dados concretos da real situação de uma empresa em um momento determinado. Diante
destas circunstâncias, as informações extraídas da análise servem para atender aos
interessados que tenham algum tipo de vínculo com a empresa analisada.
As análises tradicionais são dispostas em grupos de indicadores que procuram avaliar as
situações de liquidez, endividamento, estrutura de capital, lucratividade nas vendas, estrutura
dos ativos, qualidade dos passivos, etc.
2.8.1 Principais Processos de Análise
A análise pode ser melhor entendida como a arte de saber extrai informações úteis, para
o objetivo a que se deseja chegar.
São três os processos de análise mais utilizados:
a) analise vertical: visa o estudo da estrutura das demonstrações contábeis, através do
cálculo de coeficientes de participação, os quais são obtidos pela comparação entre itens
homogêneos (ativo com ativo, passivo com passivo, receita com receita, etc.) extraídos
das demonstrações contábeis com totais referentes às mesmas;
ANÁLISE CONTÁBIL(Técnica)
Objeto Objetivo Finalidade
Demonstraçõescontábeis
Dar o perfileconômico,financeiro,
patrimonial e dedesempenho da
entidade
Decomposição,comparação e
interpretação dasdemonstraçõescontábeis, por
meio deindicadores
34
b) análise horizontal: visa o estudo da evolução dos elementos componentes das
demonstrações contábeis ao longo dos exercícios sociais, através do cálculo de números
índices, sendo estes obtidos a partir de um exercício social tomado como base, onde
todos os itens componentes das demonstrações nesse exercício são fixados em 1 ou
100%, após, são determinados os demais índices referentes às demonstrações dos outros
exercícios sociais, normalmente subseqüentes ao exercício tomado como base;
c) análise por quocientes: visa o conhecimento da situação patrimonial, econômica,
financeira e de desempenho da entidade, através do cálculo de quocientes, também
chamados de índices, os quais podem ser obtidos pela comparação simples ou complexa
entre itens, normalmente heterogêneos, de uma mesma demonstração contábil, ou entre
itens de demonstrações contábeis distintas, porém, na maioria dos casos, referentes a um
mesmo exercício social.
Através de uma interpretação conjunta de vários índices ou quocientes referentes às
demonstrações de uma mesma empresa, há maior probabilidade de interpretações
diversificadas e transparentes.
2.8.2 Tipos de Análises por Quocientes
Na análise por quocientes podemos comparar elementos heterogêneos de demonstrações
distintas, por exemplo, comparando o valor da receita líquida como valor do ativo, ou ainda
itens heterogêneos de uma mesma demonstração contábil, por exemplo, dividindo o valor do
ativo circulante com o valor do passivo circulante de um mesmo balanço.
Para Ferrari:
A comparação entre itens heterogêneos do balanço dá origem aos quocientespatrimoniais (ou estáticos), tal como seria o valor do quociente do ativo permanentepelo patrimônio líquido, a fim de medir o grau de imobilização do capital próprio. Acomparação entre itens da DRE dá origem aos quocientes operacionais (oudinâmicos), como, por exemplo, seria o cálculo do quociente entre o lucrooperacional e a receita líquida, quando se deseja saber a margem operacional delucro. A comparação entre itens da DRE e do balanço dá origem aos quocientes develocidade (ou de giro), tal como seria a comparação entre o valor das vendas aprazo e o saldo médio (ou final) das duplicatas a receber, quando queremosdeterminar a velocidade de recebimento das vendas a prazo (2007, p. 51).
Vejamos os quocientes simples mais utilizados na análise contábil:
a) liquidez corrente ou comum: através da divisão do Ativo Circulante pelo Passivo
Circulante, este índice informa o nível da base financeira da empresa, ou seja, ao
dividirmos o Ativo Circulante pelo Passivo Circulante, encontramos um valor expresso
35
em moeda que indica o quanto a empresa tem a receber (até 360 dias), para pagar R$
1,00 de dívida de até 360 dias;
b) liquidez geral: através da divisão ao Ativo Circulante mais o Realizável a Longo
Prazo pelo passivo Circulante mais o Exigível a Longo prazo, este índice é que mede a
base financeira a longo prazo, sendo ideal que em tese, se situe também acima de R$
1,00 e quanto maior for a longo prazo, melhor será para a empresa;
c) liquidez seca: através da divisão ao Ativo Circulante menos Estoques pelo Passivo
Circulante, este índice avalia a base financeira da empresa, desconsiderando os estoques.
Isso é importante porque os estoques, necessariamente não se transformam em dinheiro
conforme desejado. Assim, quanto menor for o nível de estoques e outros créditos,
maior será a Liquidez Seca e, em tese, melhor será para a empresa;
d) grau de endividamento: através da divisão do Exigível Total pelo Ativo Total, este
índice avalia a parcela do ativo financiada por capitais de terceiros;
e) composição do endividamento: através da divisão do Passivo Circulante pelo passivo
Exigível, este índice avalia a participação das dívidas de curto prazo sobre o
endividamento total;
f) quocientes de rentabilidade ou lucratividade: os índices deste grupo mostram qual a
rentabilidade dos capitais investidos, isto é, quanto renderam os investimentos e,
portanto, qual o grau de êxito econômico da empresa.
Todos os quocientes analisados isoladamente fazem pouco ou nenhum sentido, sendo
necessário que sua análise seja feita de forma comparativa. Apesar da grande precisão e
detalhamento que uma análise pode trazer é preciso muito cuidado com a leitura dos dados
obtidos para cálculo dos quocientes, balanços preparados podem levar a conclusões
extremamente diferentes da realidade.
36
3 METODOLOGIA
A metodologia pode ser definida como todas as etapas a seguir em um determinado
processo, com a finalidade de captar e analisar as características dos vários métodos
disponíveis, fazendo as devidas avaliações e críticas de sua utilização.
Para Oliveira (2003, p. 135) “Método nada mais é que o caminho a ser percorrido para
atingir o objetivo proposto”.
Além de ser uma disciplina que estuda os métodos, a metodologia é também
considerada uma forma de conduzir a pesquisa.
3.1 Delineamento do Estudo
Monografia Científica, segundo Oliveira (2003, p. 105), é o resultado de pesquisa
original e pessoal, de um tema bem delimitado, desenvolvido segundo a metodologia própria
de cada ciência. Assim, essa monografia será desenvolvida na forma de estudo de caso na
Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos e seguirá as etapas definidas abaixo:
a) quanto aos objetivos: seguindo o conceito que se apresentará a seguir, considera-se a
pesquisa descritiva como sendo adequada a esse trabalho, pois se utilizara de fatores e
índices que demonstrarão as causas que levaram ao processo de Recuperação Judicial na
empresa.
Conforme Beuren:
Vários estudos utilizam a pesquisa descritiva para análise e descrição de problemasde pesquisa na área contábil. Pode ser questões, por exemplo, relacionadas àscaracterísticas próprias da profissão contábil em instrumentos contábeis utilizadosna gestão das organizações (2004, p. 81).
Segundo Oliveira (1999, p. 114), os estudos descritivos dão margem à explicação das
relações de causa e efeito dos fenômenos, ou seja, analisar o papel das variáveis que, de certa
maneira, influenciam ou causam o aparecimento dos fenômenos.
37
b) quanto aos procedimentos: neste trabalho serão utilizados conhecimentos
bibliográficos extraídos de livros, artigos, materiais eletrônicos, dissertações e
legislações que contemplem o tema proposto, de forma organizada e que leve a uma
leitura de fácil entendimento.
Para Beuren:
Explica um problema a partir de referenciais teóricos publicados em documentos.Pode ser realizada independentemente ou como parte da pesquisa descritiva ouexperimental. Ambos os casos buscam conhecer e analisar as contribuições culturaisou científicas do passado existentes sobre um determinado assunto, tema ouproblema (2004, p. 86).
Também se utilizará do estudo de caso, que segundo Beuren (2004, p. 84), a pesquisa
caracteriza-se principalmente pela concentração em um único caso.
Conforme Beuren apud Gil:
O estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou depoucos objetivos, de maneira a permitir conhecimentos amplos e detalhados domesmo, tarefa praticamente impossível mediante os outros tipos de delineamentosconsiderados (2004, p. 84).
Considerando a afirmação do autor, entende-se ser o estudo de caso a forma mais
adequada à elaboração deste trabalho, através do estudo do processo de Recuperação Judicial
da Cia Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos.
c) quanto à abordagem do problema: será utilizada uma pesquisa quantitativa visto que
nesse trabalho calcular-se-á a análise vertical, horizontal e demais indicadores da
empresa Parmalat S/A, onde apresentados os motivos que levaram a empresa ao
processo de Recuperação Judicial e os efeitos ocorridos dentro da organização. O
relatório da pesquisa quantitativa, além das interpretações e conclusões, deve mostrar
tabelas de percentuais e gráficos.
Segundo Freitas e Moscarola:
A abordagem mais científica, dita quantitativa, pressupõe grande quantidade deinformações num procedimento de confirmação de hipóteses. O desafio é a busca dacomplementaridade entre o quantitativo e o qualitativo, é a necessidade que se temde tratar do quantitativo, mas enriquecendo-o com informações qualitativas emgrande número, de forma a ganhar força de argumento e qualidade nas conclusões erelatórios (2000, p. 126).
Durante a elaboração desse trabalho também serão utilizados os recursos da pesquisa
qualitativa.
Para Beuren apud Richardson:
Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever acomplexidade de determinado problema, analisar a interação de certas cariáveis,compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais (1999, p.80).
38
Segundo Oliveira (1999, p. 116), justifica-se o fato de o tratamento qualitativo de um
problema, que pode até ser uma opção do pesquisador, apresentar-se de uma forma adequada
para poder entender a relação de causa e efeito do fenômeno e consequentemente chegar à sua
verdade e razão.
Dentro desse conceito, no contexto da nova Lei de Recuperação de Empresas nº.
11.101/2005, o trabalho se restringirá ao Capítulo III, Seções I, II, III e IV – Recuperação
Judicial, seus mecanismos e viabilidade.
3.2 Definição da Área de Estudo
A área alvo do estudo de caso será o processo de recuperação judicial da empresa
Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos juntamente com suas Demonstrações Contábeis
publicadas.
3.3 Instrumento de Coleta de Dados
Os dados coletados para o estudo de caso foram os Balanços Patrimoniais, as
Demonstrações do Resultado do Exercício, o Relatório de Administração e as notas
explicativas dos últimos 07 (sete) anos juntamente com o Laudo Econômico-Financeiro
projetado até 2017, somando-se a estes dados está o processo de recuperação judicial
requerido pela empresa Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos em conformidade com a
Lei 11.101/2005, divulgado nos sites da empresa e da Bovespa.
3.4 Plano de Análise dos Estudos
Considerando os conteúdos do referencial teórico, a análise dos dados no estudo de caso
baseou-se nas Demonstrações Contábeis da empresa Parmalat Brasil S/A Indústria de
Alimentos, bem como os procedimentos usados pela companhia durante seu processo de
Recuperação Judicial. A descrição do estudo será realizada da seguinte forma:
Apresentação e análise dos dados
a) caracterização da empresa;
b) o processo de recuperação judicial: petição inicial do requerimento da recuperação
judicial, sentença de deferimento do processo de recuperação judicial, apresentação do
plano de recuperação judicial, apresentação da ata da assembléia geral dos credores –
39
AGC, homologação do plano de recuperação judicial e alterações ao plano de
recuperação judicial;
c) análise dos dados contábeis: apresentação do laudo econômico-financeiro do
processo de recuperação judicial, comparativo entre as fontes de informações utilizadas
no laudo e os demonstrativos originais, análise do desempenho econômico e financeiro
de 2000 a 2007; análise dos balanços patrimoniais e demonstrativos do resultado
projetados de 2005 a 2017 e análise comparativa entre os balanços patrimoniais e
demonstrativos do resultado projetados e realizados de 2005 a 2007.
40
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Os relatos sobre o processo de recuperação judicial da empresa Parmalat Brasil S/A
Indústria de Alimentos – PA - foram obtidos através de pesquisas exploratórias no site da
empresa juntamente com os dados disponibilizados no site da Bolsa de Valores Bovespa de
São Paulo sendo descritos nos seguintes documentos: petição inicial do requerimento da
Recuperação Judicial; sentença de deferimento do processo de Recuperação Judicial;
apresentação do Plano de Recuperação Judicial; ata da Assembléia Geral de Credores – AGC;
homologação do Plano de Recuperação Judicial e alterações ao plano de recuperação judicial.
Apresenta-se, a seguir, a caracterização da empresa e todos os aspectos relevantes do
processo de recuperação judicial, considerando que esse procedimento judicial é denso de
informações importantes, os relatos apresentados buscam manter a essência dos fatos
ocorridos.
4.1 Caracterização da Empresa
A Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos tem por objeto social a indústria e o
comércio de produtos alimentícios em geral, inclusive laticínios, cereais, frutas e outros de
origem animal ou vegetal, incluindo sucos concentrados, sucos naturais e artificiais, massas,
biscoitos, doces, produtos dietéticos e ração para animais, bem como a produção,
industrialização e comercialização de equipamentos e insumos para os referidos produtos,
assim como seus derivados e conexos, inclusive sementes, fertilizantes, produtos químicos e
produtos agropecuários, podendo para tanto, importar e exportar os citados produtos.
Possui ainda como objeto social a exploração de supermercados e postos de
combustíveis, aluguel de imóveis, compra, venda, permuta e administração de imóveis,
aluguel de máquinas e equipamentos, locação de mão de obra, a exploração da indústria e
comércio de sorvetes e seus derivados, bem como a prestação de serviços, inclusive o de
41
assessoramento e assistência técnica pertinente ao ramo, franquias do sistema e o
licenciamento e ou sub-licenciamento de marcas no território nacional e/ou no exterior e
participação em outras sociedades.
A empresa possui uma ampla linha de produtos, que engloba marcas conceituadas e
tradicionais do mercado brasileiro, como Santal, Glória, Etti e Duchen, além da própria marca
Parmalat, formando uma das maiores empresas do setor alimentício do País.
O histórico da Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos apresentado no quadro
abaixo, consta no relatório da administração que compõe todas as demonstrações financeiras
da empresa a partir do ano de 2003.
Quadro 2 – Histórico da empresa
Ano do evento Descrição do evento
1972 A Parmalat chega ao Brasil.
1977 A empresa instala a primeira unidade industrial. Os contínuos investimentos
em modernização, no aprimoramento e no lançamento de novos produtos
consolidaram nacionalmente sua marca e permitiram a empresa se destacar
dentre os maiores grupos brasileiros de alimentos processados.
1998 A Parmalat incorpora o acervo e a marca Etti, uma das mais tradicionais
empresas do segmento de atomatados.
1998 Buscando consolidar ainda mais sua participação no mercado nacional de
alimentos, a Parmalat adquire o controle acionário da Batávia S.A, empresa
que atua no segmento de produtos lácteos e de carnes, com a marca Batavo.
1999 Parmalat detém o controle acionário da Neugebauer Produtos Alimentícios
Ltda, empresa pioneira na fabricação de chocolates.
1999 A Parmalat Brasil S.A Indústria de Alimentos, transfere para a Parmalat
Administração S.A seu controle acionário.
2001 A Parmalat Brasil S.A Indústria de Alimentos incorpora a Parmalat
Administração S.A.
2001 A Parmalat Brasil S.A Indústria de Alimentos passa a ser controlada pela
Parmalat Empreendimentos e Administração Ltda.
2001 A empresa adquire a marca Glória e os seus ativos operacionais, da
Produtos Alimentícios Fleischman e Royal Ltda, compostos por fábricas,
terrenos, edifícios, máquinas e equipamentos.
42
2002 Atendendo às intenções de reestruturação operacional, industrial, funcional
e de redução de custos a empresa aliena sua participação de 99,99% do
capital social de sua controlada Companhia de Laticínios – CBL e, vende a
terceiros diversos ativos e unidades relacionadas à área de produção, entre
eles, a divisão Neugebauer, unidade de industrialização de produtos
achocolatados.
2003 A matriz italiana sofre uma intervenção Judicial ao final de novembro; a
Parmalat vê-se incapacitada de cumprir seus compromissos financeiros,
uma vez que as remessas de recursos oriundas da Itália, bem como, os
empréstimos bancários, que nivelaram o fluxo de caixa da empresa foram
suspensos.
2004 28 de janeiro – pedido de concordata preventiva na 29ª Vara Cível da
Capital.
2004 4 de fevereiro – a Unidade Industrial localizada em Itaperuna sofre
intervenção judicial do Estado do Rio de Janeiro.
2004 6 de fevereiro – concedida a liminar pela 1ª Vara Cível da cidade de Castro,
Paraná, aos acionistas minoritários da Batávia S.A na Ação de Exclusão de
Acionista com Apuração de Haveres.
2004 11 de fevereiro – o Juiz da 42ª Vara Cível da Capital acata medida cautelar
de um credor financeiro e nomeou Administradores Judiciais Provisórios,
afastando os administradores nomeados pelo acionista majoritário italiano.
2004 Com base nos despachos oriundos da 42ª vara Cível da Capital, os
funcionários e integrantes da cadeia produtiva foram considerados credores
extraconcursais. Foi ainda declarada, a cessação de pagamentos por 6 (seis)
meses, de qualquer classe ou categoria de credores.
2004 Com base nos despachos oriundos da 42ª Vara Cível da Capital, realiza-se
Assembléia Geral de Acionistas da Parmalat em que é eleito, pelo voto do
acionista controlador, novo Conselho de Administração, escolhido de
comum acordo com o Juízo, que define nova diretoria executiva, com
completo afastamento dos gestores anteriores à crise.
2004 18 de maio – dá-se o prosseguimento ao pedido preventivo de concordata,
após a decisão de centralização dos processos na 29ª Vara Cível.
2004 02 de julho – fornecida a documentação necessária ao aparelhamento do
43
pedido de concordata preventiva.
2004 03 de agosto – há a devolução da Unidade de Itaperuna, com a assinatura do
Termo de Ajustamento de Conduta firmado com o Governo do Estado do
Rio de Janeiro, evidenciando a progressiva normalização das atividades da
Parmalat Brasil.
2004 10 de agosto – o pedido de concordata preventiva é deferido pela 29ª Vara
Cível da Capital, afastando as iniciativas impostas pela 42ª Vara Cível da
mesma Comarca.
2004 O restante do ano de 2004 foi marcado pela reestruturação e normalização
das operações da Parmalat, reativação de unidades fechadas durante a crise
e gradual recuperação da bacia leiteira, carteira de clientes e market-share4.
2005 24 de junho – a Companhia ingressou com pedido de Recuperação Judicial
na forma da Lei nº 11.101/2005.
2005 29 de junho – foi proferida decisão que deferiu o processamento da
Recuperação Judicial, extinguindo o regime de concordata preventiva em
que a empresa se encontrava desde 10 de agosto de 2004.
2005 01 de setembro – o plano de Recuperação Judicial, elaborado na forma do
artigo 53 e 54 da Lei nº 11.101/2005 foi apresentado e protocolado em juízo
para análise dos credores.
2005 22 de dezembro – a Assembléia Geral dos Credores – AGC aprovou o
Plano de Recuperação Judicial.
2006 26 de janeiro – de acordo com o autorizado no Plano de Recuperação
Judicial, foi efetuada a venda da divisão de tomates e vegetais para a
Assolan Industrial Ltda., destinando-se 50% do produzido pela operação à
amortização parcial do montante devido aos Credores Quirografários
Financeiros.
2006 02 de fevereiro – o Plano de Recuperação Judicial foi formalmente deferido
pela justiça.
2006 26 de maio – foram apresentadas e aprovadas as alterações ao Plano de
Recuperação Judicial em Assembléia Geral dos Credores. Em cumprimento
ao disposto no Plano de Recuperação foi aprovada pela Assembléia Geral
de Credores o aumento e subscrição do Capital Social da Companhia no
4 Expressão de designa a “fatia do mercado” atingida pela organização.
44
valor de R$ 20.010.000,00, por parte de um novo acionista. Este Valor
também foi destinado à amortização do montante devido aos Credores
Quirografários Financeiros.
2006 08 de junho – foram homologadas pelo Juízo da Recuperação Judicial as
alterações ao Plano de Recuperação Judicial.
2006 09 de junho – em cumprimento com o estabelecido nas alterações ao Plano
de Recuperação Judicial, ocorreu a venda da participação na Batávia,
destinando-se o produzido desta operação à amortização das dívidas com os
Credores Quirografários Financeiros. Em função desta amortização e das
cessões dos saldos das dívidas previstas nas alterações mencionadas,
durante o mês de junho de 2006 foram extintas as obrigações junto aos
Credores Quirografários Financeiros.
Fonte: Demonstrações Financeiras – PA - 2003, 2004, 2005
4.2 O Processo de Recuperação Judicial
O fluxograma a seguir ilustra os principais passos e procedimentos que foram
percorridos, desde a petição inicial da recuperação judicial até a homologação das alterações
do plano de recuperação judicial da Parmalat Brasil S.A Indústria de Alimentos:
Figura 05 - Fluxograma do processo de recuperação judicial da PAFonte: Sites da Parmalat do Brasil e Bovespa
Após ter sido cumprido o cronograma acima a empresa permanecerá em Recuperação
Judicial pelo prazo de 2 (dois) anos a partir da concessão da recuperação.
Petição Inicial do Requerimento daRecuperação Judicial em
24/06/2005
Apresentação do Plano deRecuperação Judicial em
01/09/2005
Sentença de deferimento doprocesso de Recuperação Judicial
em 29/06/2005
Apresentação da Ata da AssembléiaGeral dos Credores – AGC para
aprovação do plano em 22/12/2005
Homologação do Plano deRecuperação Judicial em
02/02/2006
Homologação das alterações aoPlano de Recuperação Judicial em
08/06/2006
45
4.2.1 Petição Inicial do Requerimento da Recuperação Judicial
A petição abaixo apresentada foi encaminhada ao Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da Vara
de Recuperação Judicial da comarca da Capital – Fórum Central, onde a Parmalat Brasil S.A
Indústria de Alimentos, devidamente qualificada, foi representa por seus advogados, com
fundamento na Lei 11.101/2005, a fim de formular o pedido de Recuperação Judicial que terá
seus principais pontos descritos a seguir.
Da Possibilidade do pedido
A situação da requerente era de conhecimento público, sendo também concordatária.
A primeira parcela do pagamento dos créditos sujeitos à Concordata somente se
venceria em 2 de julho de 2005, demonstrando que a requerente encontrava-se absolutamente
em dia com as obrigações previstas na Antiga Lei de Falências (Decreto-lei nº 7.661/45).
Desta forma, restava claro que a requerente enquadrava-se perfeitamente nas exigências
da Lei nº 11.101/2005.
Dos requisitos (Art. 48 da Lei nº 11.101/2005)
A requerente esclareceu que preenchia todos os requisitos elencados no art. 48 da Lei
11.101/2005, já que exercia regularmente suas atividades a muito mais de 2 (dois) anos;
jamais foi falida; jamais requereu recuperação judicial anteriormente e seus administradores
e/ou sócios jamais foram condenados por crime algum.
Sendo assim, todos os requisitos presente no artigo anteriormente citado se fizeram
presentes no caso da Parmalat.
Da Instrução do Pedido (Art. 51, Lei nº 11.101/05) - da situação patrimonial e da crise
econômico financeira.
Aqui foi apresentado todo o histórico econômico da empresa, porém, se dará atenção
especial no que tange às demonstrações contábeis apresentadas.
Das Demonstrações Contábeis
A requerente juntou ao pedido, em atendimento ao disposto no inciso II do art. 51 da
Lei nº 11.101/2005, suas demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios
sociais 2002, 2003, 2004, bem como demonstração elaborada especialmente para instruir este
pedido, atualizada até o mês de março de 2005.
Todas estas demonstrações contábeis estavam compostas do balanço patrimonial da
empresa, da demonstração dos resultados acumulados, da demonstração do resultado desde o
último exercício social e, do relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção.
Da relação de credores
46
Em consonância com o que preconiza o inciso III do art. 51 da Lei nº 11.101/2005, a
requerente apresentou a lista nominal dos credores, contendo o endereço de cada um dos
credores, bem como a natureza, classificação de valor de cada crédito, e, ainda, suas
respectivas origens e regime de vencimentos.
Juntou também relação dos créditos originados na vigência da concordata, tendo feito
uma observação importante de que, durante o período de concordata a empresa prosseguiu
seus negócios, preservando a manutenção de suas atividades. Para tanto, foi necessário
assumir novos compromissos que vieram sendo pagos regularmente, sob pena de não
conseguir manter sua produção.
Ressaltou-se que tal procedimento não implicou em desnaturar o espírito da
Recuperação Judicial, ao contrário, encontrou expresso amparo no §2º do art. 49 da Lei de
Recuperação de empresas, que assegura às empresas em recuperação o normal
prosseguimento de sua atividade produtiva.
Da relação de empregados
Esclareceu que se encontrava rigorosamente em dia com sua folha de pagamentos – que
contava na época com 3.200 (três mil e duzentos) funcionários, e que estava apta a continuar a
honrá-la regular e pontualmente, a requerente, atenta aos termos IV do art. 51 da Lei de
Recuperação de Empresas, apresentou relação de seus empregados, discriminando suas
respectivas funções e salários.
Das certidões de regularidade no registro público de empresas
Para atender a exigência contida no inciso V do art. 51 da Lei nº 11.101/2005, a
requerente apresentou todos os atos que comprovaram sua regularidade societária junto aos
órgãos competentes.
Das relações dos bens dos sócios e dos administradores
Por ser a requerente uma empresa de capital aberto, sendo sua acionista majoritária uma
outra empresa (a Parmalat Empreendimentos e Administração Ltda.), eis que se apresentaram
as relações dos bens das pessoas físicas dos administradores e de todos os membros do
Conselho de Administração da requerente, aos quais pediu que fosse deferido segredo de
justiça.
Das contas-correntes da requerente
Foram apresentados extratos bancários de todas as contas-correntes e aplicações
financeiras de todas as espécies da requerente, relativas aos últimos 3 (três) meses.
Das certidões dos cartórios de protestos
47
Também foram anexadas ao processo as certidões expedidas por 96 (noventa e seis)
cartórios onde a requerente possuía filias de um total de 113, sendo que as 17 (dezessete)
restantes já foram solicitadas e tão logo foram expedidas seriam juntadas ao pedido, para que
se cumprisse a exigência do inciso VIII, do art. 51 da Lei 11.101/2005.
Das ações judiciais envolvendo a requerente
Todas as demandas judiciais de natureza civil, fiscal e trabalhista envolvendo a
requerente, encontraram-se anexadas, estando declinado o valor demandado em cada uma
delas.
Do plano de Recuperação Judicial
Nos exatos termos do art. 53 da nova Lei de Recuperação de Empresas, o plano de
recuperação judicial foi apresentado no prazo de 60 (sessenta) dias contados da intimação da
decisão que deferiu o processamento do pedido de recuperação judicial.
Em conseqüência de que a apresentação do plano demandou, no mínimo 2 (dois) meses,
a requerente precisou continuar suas atividades sociais, produzindo e comercializando seus
produtos, sendo importantíssimo que mantivesse sua credibilidade junto aos seus
fornecedores, e também para a perfeita implementação do plano de recuperação no tempo
exato para a qual foi confeccionado.
Sendo assim, necessitou da continuidade da realização de pagamentos aos credores, em
valores iguais para todos, salientando-se que esta prática não implicou em prejuízo algum
para os credores, já que os pagamentos foram efetuados até a aprovação do plano e
obedeceram ao critério da igualdade “por cabeça”, ou seja, todos os credores receberam
exatamente o mesmo valor, independente do valor de seus respectivos créditos.
Do pedido
Ante o exposto, e considerando que o pedido de recuperação judicial obedeceu aos
ditames legais e os documentos que foram apresentados estavam de acordo com o art. 51 da
Lei de Recuperação de Empresas, serviu a petição para requerer que se dignasse o juiz de
deferir o processamento da recuperação judicial da Parmalat, nos termos do art. 52
aguardando-se, pelo prazo legal, a apresentação do plano de recuperação judicial.
4.2.2 Sentença de Deferimento do Processo de Recuperação Judicial
Em 29 de junho de 2005, foi proferida decisão que deferiu o processamento da
Recuperação Judicial, extinguindo o regime de concordata preventiva em que a empresa se
48
encontrava desde 10 de agosto de 2004. A seguir serão apresentados os principais pontos da
sentença.
A sentença foi expedida pelo Poder Judiciário – Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, pelo Exmo. Sr. Juiz Dr. Alexandre Alves Lazzaroni, relatado a seguir:
Conforme foi verificado nos autos e evidente a “crise econômico-financeira” da
devedora, Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos, fato descrito na petição inicial e
demonstrado pelos documentos tendo em vista o pedido de concordata.
A quantidade de protestos existentes também demonstrou tal fato, sendo apresentadas
113 certidões de protestos, de modo a demonstrar a crise da empresa.
Assim, o magistrado entendeu que presentes os requisitos legais (arts. 47, 48, 51 e 192,
§ 2º, da Lei 11.101/2005), deveria o pedido ser deferido.
Pelo Exposto, nos termos do art. 52 da Lei 11.101/2005, o tribunal deferiu a
recuperação judicial da Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos.
Como administrador judicial (art. 52, I da Lei 11.101/2005) foi nomeado o Prof. Dr.
Aclibes Burgarelli, que já atuava na concordata como comissário, e foi intimado pessoalmente
para em 48 horas assinar o termo de compromisso.
Nos termos do art. 52, II da Lei 11.101/2005 foi determinada a “dispensa da
apresentação de certidões negativas para que o devedor exerça suas atividades”.
Foi determinada, nos termos do art. 52, III, da Lei 11.101/2005, “a suspensão de todas
as ações ou execuções contra o devedor”.
Foi determinada, nos termos do art. 52 IV, da Lei 11.101/2005, ao devedor (Parmalat
Brasil S/A – Indústria de Alimentos) a “apresentação de contas demonstrativas mensais
enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seus administradores”.
4.2.3 Apresentação do Plano de Recuperação Judicial
O Plano de Recuperação Judicial, elaborado na forma do artigo 53 e 54 da Lei nº
11.101/2005 foi apresentado e protocolado em juízo em 01 de setembro de 2005 apara análise
dos credores.
Em linhas gerais, o Plano de Recuperação Judicial da Parmalat Brasil S/A – Indústria de
Alimentos (PA) previu que a dívida da empresa com os credores operacionais (fornecedores),
fosse paga no prazo de 4 (quatro) anos. Já para as instituições financeiras credoras, foram
oferecidas duas categorias de debêntures com vencimento em 12 anos. De acordo com o
49
projeto desenhado pela íntegra, houve a busca de aporte de recursos de, no mínimo R$ 20
milhões, junto a investidores que apresentaram as qualificações detalhadas no plano.
A empresa também foi autorizada a buscar compradores para as unidades de negócio
Batávia ou Etti, e outros ativos não operacionais, para capitalização da empresa e pagamento
aos credores. Seguem os principais pontos do Plano de Recuperação Judicial.
Plano de Recuperação Judicial de Parmalat Brasil S/A – Indústria de Alimentos – 1ª
Vara de Falências e Recuperação Judiciais da Comarca da Capital de São Paulo.
O Plano de Recuperação Judicial foi apresentado por Parmalat Brasil S/A Indústria de
Alimentos, sociedade já qualificada nos autos da recuperação judicial, em cumprimento ao
disposto no artigo 53 da Lei nº 11.101/2005 (Lei de Falências e Recuperação de Empresas ou
LFRE).
Do objetivo do plano
O plano teve por objetivo viabilizar, nos termos da LFRE, a superação da crise
econômico-financeira de Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos, preservando sua
função social na comunidade brasileira, inclusive, a atividade econômica das bacias leiteiras
em mais de 360 municípios espalhados pelas cinco regiões do país em que atuava. O plano
proposto procurou atender, precisamente, os interesses de seus credores, estabelecendo-se a
fonte de recursos e o cronograma dos pagamentos que lhe foram oferecidos.
Dos credores da Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos
Para fins de consecução do plano apresentado, os credores de Parmalat do Brasil S/A
Indústria de Alimentos foram divididos em:
a) credores financeiros garantidos;
b) credores financeiros quirografários;
c) credores operacionais.
Todos os credores tiveram como data base de seus créditos a data de 28 de janeiro de
2004 (data do ajuizamento do pedido de concordata da Parmalat do Brasil S/A Indústria de
Alimentos) em razão da transferência do regime de concordata para recuperação judicial,
conforme lista apresentada pelo Administrador Judicial.
Da controladora de Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos
Para fins de consecução do plano e exceção feita ao pagamento pelo licenciamento de
marcas, a Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos deixou de efetuar o pagamento de
quaisquer dividendos, juros sobre capital próprio e/ou ainda de toda e qualquer vantagem e/ou
benefícios monetários a seus acionistas, inclusive à sua Controladora e demais entidades
controladas, coligadas ou sob controle comum, durante o Período de Transição, no intuito de
50
colocar os recursos provenientes do fluxo de caixa da Parmalat do Brasil S/A Indústria de
Alimentos a serviço do cumprimento das obrigações da Parmalat do Brasil S/A Indústria de
Alimentos para com seus credores da forma do plano.
Plano de pagamento dos credores operacionais
Diante do valor individual proporcionalmente menos significativo dos créditos dos
Credores Operacionais, da sua fundamental relevância social e da importância que possuíam
para a operação de Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos, o plano e forma de
pagamento desses credores foi específico e diferente do plano e forma de pagamento
estabelecido para os Credores Financeiros Garantidos e Credores Financeiros Quirografários.
Os pagamentos feitos pela Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos sob o plano
de pagamento dos Credores Operacionais atenderam aos seguintes princípios:
a) não excederam o valor dos respectivos créditos de cada um dos Credores
Operacionais, acrescidos de um percentual fixo de 2%, pagos em duas parcelas
semestrais após o pagamento do principal devido a todos os Credores Operacionais;
b) os valores pagos sob o plano de Pagamento dos Credores Operacionais foram pagos
mensalmente e em valores fixos;
c) os pagamentos mensais foram efetuados a cada Credor Operacional iguais entre si e
não proporcionais aos respectivos créditos;
d) ficou assegurado a todo Credor Operacional a opção de receber tratamento idêntico
ao conferido aos Credores Financeiros Quirografários.
Da emissão de debêntures e do plano de pagamento dos credores financeiros
O pagamento dos valores devidos pela Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos à
seus Credores Financeiros Quirografários ou aos seus Credores Operacionais, que optaram
por receber esse tratamento, foram efetuados através da emissão pública de debêntures de
Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos.
A 1ª e a 2ª séries de debêntures foram disponibilizadas aos Credores Financeiros
Quirografários e, aos Credores Operacionais (que não optaram por esse meio de recebimento
de seus créditos) – em troca de 100% (cem por cento) de seus créditos, devendo ambas as
séries de debêntures serem subscritas no mesmo momento.
Da obtenção de recursos para reforço de capital de giro de Parmalat do Brasil S/A
Indústria de Alimentos
Além da renegociação da dívida com seus Credores, a Parmalat do Brasil S/A Indústria
de Alimentos promoveu a sua recuperação judicial utilizando-se do meio indicado no artigo
50, inciso VI (aumento do capital social), da LFRE. Tais recursos tiveram por fim precípuo o
51
reforço do capital de giro de Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos, e se deram
mediante a emissão de novas ações por parte da companhia.
A Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos propôs o aumento de seu capital social
em, no mínimo, R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais), “Capital Novo”, que correspondia
a aproximadamente 98,5% do capital integralizado de Parmalat do Brasil S/A Indústria de
Alimentos após o referido aumento, através da emissão de ações ordinárias não resgatáveis. O
valor correspondente ao aumento de capital aqui explicitado deve ter sido totalmente
integralizado, em espécie, no ato de subscrição, por um Investigador Qualificado.
Da alienação de ativos
No período entre a data da aprovação do plano pela AGC e a data de subscrição
denominado por “Período de Transição”, a Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos não
pôde alienar nenhum de seus ativos não operacionais sem a prévia aprovação da maioria dos
Credores Financeiros, com exceção dos imóveis listados em anexo ao plano, até o valor
agregado total de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais) desde que:
a) o pagamento fosse feito à vista e em moeda corrente;
b) o preço mínimo de venda fosse correspondente ao valor atribuído em laudo de
avaliação, elaborado por empresa de auditoria internacional, escolhida entre as quatro
maiores, ou por renomada empresa de avaliação dentre as listadas em anexo ao plano, e
emitido em prazo não superior a 6 (seis) meses da data da alienação;
c) os recursos provenientes da venda recebidos antes da data de subscrição fossem
utilizados para o capital de giro de Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos ou
para pagamento de parcelas em atraso aos credores operacionais que forneceram
produtos à Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos durante a o período em que
esteve sob concordata ou recuperação judicial.
A companhia não pode alienar, durante o Período de transição, nenhum de seus ativos
operacionais sem a prévia aprovação da maioria dos Credores Financeiros, com exceção dos
direitos relativos à participação acionária detida por Parmalat do Brasil S/A Indústria de
Alimentos na Batávia e/ou determinados ativos de Parmalat do Brasil S/A Indústria de
Alimentos utilizados exclusivamente pela Batávia (ou Equipamentos) de um lado, ou Etti
(Unidade Etti) de outro, sendo somente uma das unidades e não ambas. Dentre as condições
que foram impostas para ocorresse esse procedimento estava explicitado que 50% dos
recursos provenientes da respectiva venda fossem utilizados para reforço do capital de giro de
Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos e o saldo pago aos Credores Financeiros
Quirografários, e abatendo seus respectivos créditos. Assim, tão logo homologado o plano
52
pelo Juízo de Recuperação, coube a companhia com base na Lei 11.101/2005, requerer a
imediata alienação de uma dessas unidades, amparada em parecer do Administrador Judicial e
autorização da Assembléia de Credores.
Administração da Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos
Durante o Período de Transição a Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos
manteve um Conselho de Administração constituído por 5 (cinco) membros, dos quais pelo
menos 2 (dois) foram membros independentes. Todas as nomeações durante o Período de
Transição requereram a aprovação da maioria dos Credores Financeiros.
Após o Período de Transição o Conselho de Administração deve ter seguido a mesma
composição sendo eleito em Assembléia Geral de Acionistas, devendo ter adotado as
melhores práticas e princípios de governança corporativa e nenhum deles pôde ter tido
envolvimento com as empresas do grupo Parmalat anteriormente a março de 2004.
Os membros do Conselho de Administração da Parmalat do Brasil S/A Indústria de
Alimentos devem ter sido indivíduos de reputação ilibada com vasta experiência no setor de
alimentos, já ter administrado empresas com faturamento superior a R$ 250.000.000,00
(Duzentos e cinqüenta milhões de reais). Com relação aos 2 (dois) membros do Conselho de
Administração independentes, estes dêem ter tido significativa experiência, sendo que um
deles deve ter tido conhecimentos contábeis e financeiros.
Obrigações durante período o período de transição
Durante o Período de Transição, a Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos deve
ter observado quanto segue:
a) não distribuição de dividendos: nenhum dividendo pode ter sido declarado ou pago
pela Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos, já em caso de declaração ou
pagamento desses, os acionistas devem ter reinvestido imediatamente o valor total
correspondente aos dividendos recebidos;
b) elaboração de Plano de Negócios e Plano de Contingências: através de contratação e
pagamento a Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos deve mantido uma grande
empresa de auditoria internacional para preparar e enviar o Plano de Negócios aos
Credores Financeiros até 28 de Fevereiro de 2006, e para os Credores Financeiros um
Plano de Contingências até a mesma data;
c) nenhum novo endividamento financeiro: antes da data de subscrição, a Parmalat do
Brasil S/A Indústria de Alimentos não incorreu em ou permitiu qualquer novo
endividamento financeiro, que já não existia na data em que o plano for aprovado pela
AGC, não devendo se limitar a valor resultantes de empréstimo, como qualquer valor
53
captado através de linha de crédito ou emissão de títulos, notas e debêntures, loan stock5
ou instrumento similar; venda e leasebacks6, venda de recebíveis ou desconto de títulos;
ações resgatáveis; qualquer estrutura de arrendamento que possa ser tratada como
arrendamento financeiro ou de capital para fins contábeis.
Rescisão do plano
O plano rescindir-se-ia em 30 de abril de 2006, ou em data posterior acordada pela
maioria dos Credores Financeiros se:
a) a maioria dos credores financeiros não houvesse aprovado a oferta de subscrição do
Capital Novo por um investidor qualificado ou o investidor qualificado, cuja oferta
tivesse sido aprovada, não tivesse subscrito e integralizado o Capital Novo;
b) caso as debêntures não fossem emitidas na forma estipulada no plano, após o
recebimento das aprovações necessárias e obedecidas as condições dos termos e
condições das debêntures.
Neste caso, os credores teriam direito a receber os seus créditos nos montantes devidos
antes da aprovação do plano, deduzidos quaisquer montantes recebidos nos termos do plano.
Disposições Finais
As diversas medidas de recuperação explicitadas acima tiveram o condão de viabilizar
economicamente a Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos, levando em conta inclusive
o fato de terem as contingências fiscais sido devidamente provisionadas. Em virtude das
melhores práticas contábeis, determinadas contingências fiscais não foram provisionadas. A
Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos manteve os debenturistas devidamente
informados da situação de tais contingências fiscais.
O plano, depois de aprovado e homologado, obrigou a Parmalat do Brasil S/A Indústria
de Alimentos e os credores, bem como os respectivos sucessores a qualquer título, não
podendo ser cedidos ou delegados quaisquer direitos ou obrigações oriundas do plano sem
prévio consentimento, por escrito, da maioria dos Credores Financeiros.
Com eficácia a partir da data de homologação do plano pelo juízo da Recuperação,
Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos e Parmalat Empreendimentos isentaram,
integral e definitivamente, cada um dos Credores Financeiros de:
5 Espécie de empréstimo bancário feito para aquisição de grupo ações que representa o estoque de capital de umasociedade anônima e dá direito aos ganhos e aos ativos da sociedade.6 A empresa vende ativos a outra com a intenção explícita de tomá-los de volta. Esse acordo permite que aempresa vendedora, embora transfira a propriedade do bem, ainda conserve o direito de propriedade de usar esseativo no negócio.
54
a) todos os direitos, pleitos, demandas ou causas de ação que a Parmalat do Brasil S/A
Indústria de Alimentos ou a Parmalat Empreendimentos possam ter contra qualquer
Credor Financeiro;
b) todas as dívidas, responsabilidades e obrigações, de qualquer natureza, que qualquer
Credor Financeiro possa ter para com a Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos
ou à Parmalat Empreendimentos, conforme o caso, estivessem ou não relacionadas a ou
fossem ou não decorrentes de qualquer relação financeira, documento ou negociação
entre as partes, na medida em que foram verificadas ocorrido, ou sido, originadas ou
causados antes da data de aprovação do plano na AGC, e quiseram tais demandas,
direitos ou causas de ação e tais dívidas, responsabilidades e obrigações fossem
conhecidos nesta data ou não.
Os Credores Financeiros, por sua vez, com eficácia a partir da data da homologação do
plano pelo Juízo da Recuperação, isentaram, integral e definitivamente, a Parmalat do Brasil
S/A Indústria de Alimentos de:
a) todas as demandas, direitos ou causas de ação que os Credores Financeiros, pudessem
ter contra a Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos;
b) todas as dívidas, responsabilidades e obrigações, de qualquer natureza, que a
Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos ou Parmalat Empreendimentos pudessem
ter para com os Credores Financeiros, conforme o caso, estivessem ou não relacionados
a, ou fossem ou não decorrentes de qualquer relação financeira, documento ou
negociação entre as partes, na medida em que tivessem ocorrido ou se verificado ou sido
originados ou causados: antes da data de aprovação do plano na AGC, e quisessem tais
demandas, direitos ou causas de ação e tais dívidas, responsabilidades e obrigações
fossem conhecidos ou não.
A mesma isenção foi estendida, pelos Credores Financeiros, a todos os conselheiros e
diretores da Parmalat do Brasil S/A Indústria de Alimentos e da Parmalat Empreendimentos
que tiveram exercido seus cargos de 1º de março de 2004 até a data de aprovação do plano
pela AGC.
Exceto se diferentemente e especificamente previsto nesse plano, o quorum para
modificação de qualquer cláusula desse plano foi aprovado pela maioria dos créditos (50% +
1) detidos por cada uma das seguintes categorias, Credores Financeiros Garantidos e Credores
Operacionais e pela maioria dos Credores Financeiros. As estipulações do plano foram
extraídas do documento intitulado termos e condições do plano.
55
4.2.4 Apresentação da Ata da Assembléia Geral dos Credores – AGC
Em 22 de Dezembro de 2005, em consonância com o art. 56 da Lei 11.101/2005, depois
de apresentado o plano de recuperação judicial pela Parmalat Brasil S/A Indústria de
Alimentos e terem ocorrido impugnações ao mesmo por parte de alguns credores foi realizada
a Assembléia Geral de Credores para realização da análise do plano por parte dos
interessados. A seguir serão apresentados os pontos mais relevantes da Assembléia Geral e
Credores.
Parmalat Brasil S.A – Indústria de Alimentos – Em Recuperação Judicial
Ata de Assembléia Geral dos Credores
No dia 22 de dezembro de 2005, foi reaberta a Assembléia Geral de Credores da
Parmalat Brasil S.A – Indústria de Alimentos – em Recuperação Judicial pelo Dr. Alfredo
Luiz Kugelmas, Administrador Judicial.
O Dr. Thomas Benes Felsber, representante de PA, entregou aos presentes versão
adaptada do Plano e sugeriu que esta AGC fosse suspensa por duas horas para que os credores
tivessem tempo para analisar as alterações.
Durante a discussão sobre eventual inclusão de uma cláusula ao Plano, conforme a qual
os valores aos credores seriam limitados pelo fluxo de caixa primeiramente indicado, o
assessor financeiro da PA explicou a origem da necessidade de limitar o valor a ser pago aos
Credores Financeiros Quirografários em função do fluxo de caixa projetado nas projeções
realizadas para embasar o Plano. Foi questionado por um credor que, no início das
negociações entre credores e PA, esta garantiu que toda a dívida seria paga. No entanto
indicou ainda que durante as negociações, como novos credores foram identificados, houve
redução da taxa de juros então em discussão para acomodar estes credores, dado que o fluxo
de caixa disponível seria limitado.
Além do questionamento exposto acima, outros em sentidos diversos foram realizados
no decorrer da assembléia. Sendo também discutida a remuneração do Sr. Administrador
Judicial, onde foi aprovado sua remuneração e forma de pagamento.
O Sr. Presidente da Mesa esclareceu, antes de se iniciar a votação, que esta teria por
objetivo deliberar a aprovação do Plano apresentado pela Parmalat Brasil S/A, com as
alterações pelos credores e aceitas pela Parmalat. Após este esclarecimento foi entregue uma
via do referido Plano e iniciada a votação.
Realizada a apuração dos votos, o plano foi aprovado por maioria, com R$
426.364.599,79 (94,2%) do valor dos créditos e 1718 (99,8%) credores na classe dos credores
56
quirografários e por todos os credores da classe com garantia real, no valor de R$
60.437.875,55, conforme indicam a planilha e cédulas de apuração.
Logo após a lavratura da ata e a assinatura pelos representantes, consta uma relação de
credores.
4.2.5 Homologação do Plano de Recuperação Judicial
Após o Plano de Recuperação Judicial da Parmalat Brasil S/A – Indústria de Alimentos
ter obtido parecer favorável do Ministério Público, da assembléia dos credores e do
administrador judicial, somando-se a isso, o fato da empresa ter migrado da concordata para a
recuperação e em todo o processo terem sido atendidos todos os aspectos legais, em 02 de
Fevereiro de 2006 foi homologado o seu Plano de Recuperação Judicial.
Na seqüência será apresentado um resumo da decisão de homologação do Plano de
Recuperação Judicial.
Parmalat Brasil S/A – Indústria de alimentos requereu, em 24/06/2005, a sua
recuperação judicial nos termos da Lei 11.101/05, obtendo o deferimento de seu
processamento em 04/07/20057.
Publicados os editais necessários com a relação de credores e apresentado o plano de
recuperação judicial, foi convocada Assembléia de Credores, em face de existência de
impugnações ao plano que na sua primeira data elegeu Comitê de Credores, encerrando-se a
mesma posteriormente e em continuidade em 22/12/2005, com a aprovação do plano pelos
credores sujeitos a ele.
Assim, requereu a empresa a concessão da recuperação judicial, com dispensa das
certidões negativas tributárias, apresentando suas razões para contrariar o determinado no art.
57 da Lei 11.101/2005, com o administrador judicial manifestando-se favorável à pretensão
da Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos.
A Companhia Siderúrgica Nacional S/A pediu o indeferimento da concessão da
recuperação, pela falta das certidões negativas.
O Ministério Público do Estado de São Paulo manifestou-se pela concessão da
recuperação judicial, sendo que após essa manifestação foram juntadas petições nos autos do
processo que precisaram ser analisadas, diante da objeção do credor em referência ao
descumprimento ao art. 57 da LREF.
7 No histórico da empresa e no documento principal consta a data de 29/06/2005.
57
A análise da objeção da Companhia Siderúrgica Nacional foi feita pelo magistrado,
julgando não prosperar, já que limita à questão tributária, sendo que este art. 57 da Lei
11.101/2005 fere o princípio da proporcionalidade e traz obrigações de impossível
cumprimento para as sociedades empresárias em crise.
O administrador judicial lembrou que, não tendo sido editada a lei especial para resolver
os créditos tributários, há que ser acolhida a pretensão da PA.
Pelo ponto de vista econômico o juiz entendeu que o fisco deve atender o princípio
constitucional da proporcionalidade e, também, os princípios estabelecidos no art. 47 da Lei
de Recuperação de Empresas.
Assim, com a recuperação judicial o fisco tem a chance de receber os tributos devidos,
porém com a falência, a prática demonstra que nada, ou muito pouco, receberá dos seus
créditos.
Isto posto, com o fundamento no art. 58 da Lei 11.101/2005, o juiz concedeu a
recuperação judicial à Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos em 02 de Fevereiro de
2006.
4.2.6 Alterações ao Plano de Recuperação Judicial
Em 26 de Maio de 2006, foi realizada Assembléia Geral de Credores a fim de
aprovarem alterações ao Plano de Recuperação Judicial apresentado pela Parmalat Brasil S/A
Indústria de Alimentos, que havia sido anteriormente homologado em 02 de Fevereiro de
2006, conforme serão transcritos abaixo seus pontos mais importantes.
Juntamente com as alterações ao plano, os credores também analisaram a proposta de
indicação da LAEP Capital LLC, com sede nos Estados Unidos, empresa regida sob as leis
brasileiras, que tem sua controlada com sede na cidade de São Paulo, como Investidor
Qualificado, aprovando a LAEP para subscrever e integralizar o Capital Novo, conforme já
havia sido abordado no item 10.1 do Plano de Recuperação Judicial.
Foi inserido o item 10.1A ao plano que estabeleceu que a PA pagaria R$ 19.000.000,00
(dezenove milhões de reais) dos recursos provenientes da subscrição pagos pelo Investidor
Qualificado aos Credores Financeiros Quirografários imediatamente após o recebimento do
preço de subscrição do Capital Novo.
Foi inserido o item 5A ao plano que estabeleceu o pagamento de R$ 120.000.000,00
(cento e vinte milhões de reais) aos credores financeiros quirografários como
58
“Refinanciamento Antecipado aos CFQ8”, sendo esse refinanciamento pago da seguinte
forma:
a) conforme o item 10.1A acima, R$ 19.000.000,00 (dezenove milhões de reais),
primeira quantia do refinanciamento, a serem pagos por PA aos Credores Financeiros
quirografários após o recebimento e com os recursos provenientes da subscrição do
Capital Novo;
b) R$ 101.000.000,00 (cento e um milhões de reais), segunda quantia do
refinanciamento, a serem pagos com recursos provenientes da venda da unidade
Batávia, conforme descrito mais adiante, para a PDA Distribuidora de Alimentos Ltda,
com garantia da Perdigão Agroindustrial S.A.
Cada credor financeiro quirografário concordou que após o recebimento da primeira e
segunda quantia de refinanciamento, confirmadas pela PA, esteve automaticamente cedendo o
saldo de seu crédito perante a Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos, conforme o
Apêndice 2, anexado a este plano, para o Investidor Qualificado. Até que as condições acima
sejam cumpridas, cada CFQ concorda em não exercer qualquer direito de cobrança contra PA
em relação aos créditos cedidos à LAEP.
Os créditos cedidos serão utilizados para a compensação de prejuízos acumulados de
PA, não se admitindo, doravante, qualquer outra utilização para tais créditos, além dessas
duas possibilidades, destacando-se, ainda, que tais créditos cedidos não são computáveis, a
qualquer tempo, para qualquer votação, em reunião de credores, ou assembléia geral de
credores.
Foram inseridos os itens 16A a G ao plano, merecendo destaque os itens 16C e 16E. O
item 16C estabeleceu que:
a) após o pagamento da primeira quantia do refinanciamento aos credores, a PA
venderia imediatamente seus direitos relativos à participação acionária na Batávia e/ou
equipamentos de PA utilizados pela Batávia, pela quantia de R$ 101.000.000,00 (cento
e um milhões de reais, à vista,em recursos imediatamente disponíveis);
b) a Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos deveria vender os ativos utilizados no
negócio de biscoitos, incluindo a fábrica, centro de distribuição e outros ativos auxiliares
– Unidade de Fornos – pelo valor mínimo de R$ 30.000.000,00 (trinta milhões de reais),
para Perdigão, ou empresa controlada pelo grupo Perdigão e aceita por PA, ou para
terceiro, pelo valor de R$ 15.000.000,00 (quinze milhões de reais);
8 Credores Financeiros Quirografários
59
c) a Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos deveria vender os ativos utilizados no
negócio de laticínios e produtos refrigerados, incluindo a fábrica, centro de distribuição
e outros ativos auxiliares – Unidade Garanhuns – pelo valor mínimo de R$
32.000.000,00 (trinta e dois milhões de reais), para a Perdigão, ou empresa controlada
pelo grupo Perdigão e aceita por PA.
A unidade Batávia, Unidade de Fornos e Unidade Garanhuns foram conjuntamente
denominadas no plano como “Unidades de Negócio”.
O item 16E estabeleceu que os valores pagos à PA pela venda da Unidade de Fornos e
Unidade Garanhuns deveriam ser pagos à vista, em recursos imediatamente disponíveis, na
conclusão da venda e os recursos da venda deveriam ser exclusivamente utilizados para
capital de giro e capital de investimento da Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos. A
quantia paga pela Perdigão pela compra da Unidade Batávia deve ter sido exclusivamente
utilizada para pagamento dos Credores Financeiros Quirografários.
A figura a seguir representa uma projeção feita pela empresa de consultoria Felsberg &
Associados que demonstra a linha do tempo do processo de Recuperação Judicial PA.
60
Figura 06 – Linha do Tempo Completa do Processo de Recuperação Judicial da PAFonte: Felsberg & Associados
4.3 Análise dos Dados Contábeis
As dificuldades financeiras da empresa Parmalat Brasil S/A Indústria de alimentos,
como também o histórico de seu passado, sua performance atual e perspectivas futuras só
podem ser demonstradas através de seus números, valores e demonstrações contábeis. Desta
forma, conforme opinião de Isidoro Fabbrini em texto publicado na Gazeta Mercantil em
14/04/2005, a contabilidade passa a ser o espelho fiel e incontestável da real situação
econômica, financeira e patrimonial da sociedade, por ter sob sua guarda e controle o arquivo
61
e registro de todos os atos e movimentações desses números, disponibilizando-os a qualquer
momento, quando necessário, através de sua escrituração e demonstrações contábeis.
Isidoro diz ainda que foi através desses princípios, que a contabilidade foi valorizada,
com relativas doses de participações no processo de Recuperação Judicial da empresa, com
base na Lei 11.101/2005 que introduziu as já tradicionais e as novas exigências contábeis
onde nota-se claramente estar alicerçada na ciência contábil.
A prova disso já se encontra na petição inicial da recuperação, conforme pode-se
confirmar junto ao processo da Parmalat, onde o inciso II, alíneas a, b e c, do artigo 51
estabelece a obrigatoriedade de apresentação das demonstrações dos resultados e balanços
patrimoniais dos últimos três exercícios e os levantados especialmente para instruir o pedido.
Mas a grande inovação se encontra na alínea ‘d’ do mesmo inciso e artigo: Relatório
gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção, que estaria aqui melhor definido como um
demonstrativo gerencial, do qual está composto o Laudo Econômico-Financeiro da empresa
com a elaboração de parecer técnico sobre os demonstrativos financeiros projetados como
será demonstrado a seguir.
Portanto, fica bem caracterizado que o objetivo da LREF foi introduzir um instrumento
que poderá significar o termômetro financeiro da empresa, às vistas do juiz, do administrador
judicial e dos credores durante todo o curso do processo.
O relatório reflete a situação de equilíbrio do balanço especial, representado por seu
ativo circulante e pelo passivo exigível a curto prazo, que obrigatoriamente estará
demonstrando a situação de inadimplência que originou seu pedido de recuperação financeira.
Neste relatório, deverá estar consignado como projeção a expectativa de receitas, custos e
despesas e ao mesmo tempo, coerentemente ressaltar os números resultantes da implantação
dos meios (artigo 50) adotados, e finalmente demonstrar a expectativa dos resultados a serem
alcançados, refletindo a eficácia destes meios utilizados e o êxito de sua recuperação
financeira.
Em consonância com o inciso IV do artigo 52, também periodicamente, a empresa
deverá elaborar um balanço contábil, que demonstre com clareza a analiticamente o seu
passivo exigível a curto e longo prazo. Este demonstrativo terá como finalidade, estabelecer
um parâmetro comparativo entre os demonstrativos projetados com os realizados para poder
avaliar as possíveis oscilações de seu endividamento no período.
62
4.3.1 Apresentação do Laudo Econômico-Financeiro no Processo de Recuperação Judicial
Os pontos principais do Laudo Econômico Financeiro da Parmalat do Brasil S/A
Indústria de Alimentos a seguir apresentado, foram elaborado pela empresa MS Cardim &
Associados S/C Ltda, conforme estabelece o inciso III, do artigo 53 da LREF.
O parecer técnico sobre Demonstrativos Financeiros Projetados visou fundamentar e
analisar o conjunto de demonstrativos financeiros históricos e projetados elaborados pela
direção da Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos “Parmalat”, tendo em vista, a
demonstração da viabilidade do processo de recuperação econômica da empresa.
Este parecer acompanhou o Plano de Recuperação Judicial dessa empresa tendo em
vista a Lei 11.101/2005 (Lei de Recuperação de Empresas e Falência).
No item I, foram apresentados aspectos introdutórios desse Parecer bem como os
objetivos desse trabalho, conforme descrito abaixo:
I – Introdução e Objetivos do Trabalho
A MS Cardim & Associados S/C Ltda “MS Cardim”, empresa que atua em consultoria
financeira, foi contratada pela direção da Parmalat para elaborar um Parecer Técnico, com
análise crítica sobre as demonstrações financeiras projetadas para o período de 2005 a 2017
(12 anos), a partir da data-base de 30/05/2005. Essas projeções foram elaboradas pela direção
da Parmalat e assessores por ela contratados apara atender as disposições contidas na Lei
11.101/2005 (Lei de Recuperação de Empresas e Falência).
Essas projeções tiveram o objetivo de determinar os lucros e fluxos de caixa para o
pagamento aos credores, incluindo análises e comentários sobre as premissas utilizadas para
preparar projeções bem como, o fluxo de pagamento aos credores.
No item II, foi proposta a metodologia utilizada pela direção da empresa na elaboração
dos demonstrativos financeiros projetados, que permitirá a análise e verificação de sua
viabilidade econômica, que apresenta-se a seguir:
II – Metodologia Utilizada
A metodologia que foi utilizada pela direção da Parmalat na elaboração do Plano
Orçamentário e das projeções das demonstrações financeiras é bastante conhecida e de uso
comum, simulando-se o comportamento futuro da empresa expresso nos seus demonstrativos
financeiros projetados, todos integrados e dentro do modelo contábil e com a utilização de um
programa especial.
A direção da Parmalat e seus assessores contratados tomaram por base, os
demonstrativos financeiros históricos e a partir da fixação de premissas, pressupostos e dos
63
números contidos no seu Plano Orçamentário, realizou as projeções das demonstrações
financeiras para um período de 2005 a 2017 (12 anos).
O Plano Orçamentário, elaborado pela Parmalat, abrange o período entre junho de 2005
e dezembro de 2006. As projeções das demonstrações financeiras, entre o período de janeiro
de 2007 a dezembro de 2017 foram embasadas em premissas conservadoras de evolução de
suas vendas e custos incorporando os efeitos financeiros da reestruturação de seu passivo
previsto em seu Plano de Recuperação Judicial.
O fluxo de pagamento será realizado em 12 (doze) anos, de 2006 a 2017, sendo que no
último ano será paga uma parcela bullet payment9.
No item III, foi mencionado a fonte de todas as informações utilizadas, conforme
descrito abaixo:
III – Fontes de Informações Utilizadas
Para efeito da projeção dos demonstrativos financeiros, a direção da Parmalat,
considerou as seguintes fontes de informações.
Balanços patrimoniais, demonstrativos de resultados e informações financeiras datadas
de 31/12/2000, 31/12/2001, 31/12/2002, 31/12/2003 e 31/12/2004.
As premissas, que foram utilizadas para realizar as projeções dos demonstrativos
financeiros, que se encontram no Anexo I, fazem parte integrante deste trabalho, não devendo
ser analisadas ou avaliadas separadamente. Os demonstrativos financeiros projetados
elaborados pela direção da Parmalat e seus assessores encontram-se no Anexo III.
No item IV, foi emitido o Parecer Técnico sobre os demonstrativos financeiros
históricos e as premissas utilizadas nas simulações e projeções dos resultados futuros,
conforme segue:
IV – Elaboração do Parecer Técnico sobre os Demonstrativos Financeiros Projetados e
Indicadores
Para efeito de elaboração e emissão deste Parecer Técnico, foram analisadas
detidamente as informações e dados fornecidos pela Parmalat, bem como, as projeções dos
demonstrativos financeiros, tendo a comentar os seguintes pontos principais:
a) demonstrativos Financeiros Históricos – foram analisados os demonstrativos
financeiros históricos, bem como o balanço-base, utilizados nas projeções, não havendo
nada a comentar. Esses demonstrativos financeiros foram elaborados de acordo com as
normas de auditoria aplicáveis no Brasil. As demonstrações contábeis foram preparadas
9 Pagamento do principal em uma única parcela, ao final do empréstimo.
64
com base nas práticas contábeis previstas na legislação societária, assumindo a
continuidade normal e seus negócios. As contas do ativo e passivo foram apropriadas
em obediência ao princípio da competência;
b) as premissas utilizadas nas projeções – a direção da Parmalat e seus assessores e
consultores elaboraram as premissas e pressupostos futuros, utilizando-se da análise do
comportamento histórico, dados de mercado e do Plano Orçamentário que a empresa
dispõe, divididas em dois grandes grupos, ou seja, demonstrativos de resultados e
balanço patrimonial.
No entender da empresa responsável pelo laudo, a fixação das premissas para a projeção
dos demonstrativos de resultados apresentou coerência com o comportamento histórico, não
havendo grandes desvios a comentar.
Conclusão do Laudo
Após a análise e identificação dos números e indicadores apresentados pela Parmalat, a
empresa MS Cardim & Associados S/C Ltda foi de parecer que:
a) os fluxos de caixas gerados pela operação são suficientes e se destinam integralmente
à quitação de fornecedores e credores;
b) os demonstrativos financeiros projetados a partir do Plano Orçamentário, apresentam
consistência técnica, tendo sido elaborados dentro de padrões usuais de projeções e
simulações de comportamento futuros das operações da empresa;
c) a elaboração das premissas e pressupostos foi realizada dentro de uma posição
conservadora e com consistência com relação à performance histórica da empresa;
d) os indicadores utilizados apresentam qualidade técnica e coerência, respeitando as
metodologias mais adequadas para realizar projeções desta natureza, sendo que o fluxo
de pagamentos aos credores obtidos com essa metodologia está dentro de uma faixa de
valor que pode se inferir adequada;
e) o capital de giro está sendo preservado, bem como, os investimentos em capital fixo,
mantendo assim a empresa em funcionamento de forma a honrar seus compromissos;
f) o plano de reestruturação proposto é viável, visto que as premissas e pressupostos se
mostraram bastante conservadoras, dentro de um cenário factível. O plano prevê a
amortização da dívida com os fornecedores em 5 (cinco) anos (2010) e com os bancos
em 12 (doze) anos (2017).
Memórias de cálculo e históricos das projeções
65
As premissas básicas, os dados e informações necessárias para a elaboração das
projeções, bem como dados históricos foram elaborados pela diretoria financeira e seus
assessores contratados.
Na modelagem financeira construída, as simulações de estratégias financeiras,
operacionais e administrativas podem ser realizadas com base em alguns parâmetros básicos:
1) Crescimento das vendas brutas,
2) Estrutura de custos em relação ao faturamento líquido,
3) Crescimento das despesas operacionais,
4) Depreciação e amortização dos ativos,
5) Plano de Pagamento aos fornecedores e credores.
4.3.2 Comparativo entre as Fontes de Informações Utilizadas no Laudo e os Demonstrativos
Originais
Para a elaboração da projeção dos demonstrativos financeiros, a Parmalat considerou
como demonstrativos financeiros históricos os balanços patrimoniais e demonstrativos de
resultados dos anos de 2000, 2001, 2002, 2003, 2004.
O quadro abaixo demonstra os balanços patrimoniais históricos dos respectivos
períodos, apresentados no laudo econômico-financeiro que serão comparados com os
balanços originais apresentados nas demonstrações financeiras publicadas:
66
Quadro 3 - Balanços Patrimoniais históricos – 2000 a 2004
Fonte: Laudo Econômico-Financeiro – Valores expressos em R$ mil
O quadro apresentado abaixo corresponde aos balanços patrimoniais originais
publicados nos respectivos períodos:
67
Quadro 4 – Balanços Patrimoniais originais – 2000 a 2004
Fonte: Demonstrações Financeiras da PA – Valores expressos em R$ mil
68
Ao se analisar os quadros 03 e 04 acima apresentados, verificou-se diferenças nos
grupos do ativo permanente e patrimônio líquido e reclassificações nos grupos do ativo
circulante, ativo realizável a longo prazo e passivo exigível a longo prazo no exercício de
2004, porém, após ter sido realizada uma pesquisa junto às notas explicativas das
demonstrações financeiras dos exercícios de 2004 e 2005 se teve acesso aos motivos que
levaram à desigualdade de valores, conforme relato a seguir:
A comissão de Valores Mobiliários – CVM, através de Ofício emitido em 24 de março
de 2006, determinou que as demonstrações financeiras encerradas em 31 de dezembro de
2004 fossem refeitas e apresentadas conjuntamente com as demonstrações contábeis do
exercício findo em 31 de dezembro de 2005. As determinações foram consideradas na
publicação das demonstrações financeiras de 2005, na coluna referente aos saldos de
31.12.2004.
A companhia entendeu que as determinações da CVM visaram ampliar o nível de
informação e, consequentemente, melhorar a apresentação das demonstrações contábeis.
Para melhor entendimento, apresentamos o quadro a seguir com as contas que foram
objeto de alterações:
Quadro 5 – Refazimento das Demonstrações Financeiras em 2004
Descrição 31/12/04
Refazimento
31/12/04
Publicação original
Efeitos no Ativo Circulante
Outros Créditos a Receber 1.437 24.692
Adiantamentos a Terceiros 4.524 -
Adiantamentos à Bacia Leiteira 18.731 -
Total (Apenas reclassificações) 24.692 24.692
Efeitos no Realizável a Longo Prazo
Outras Contas a Receber 16.605 32.154
Depósitos Judiciais 14.708 -
Bens Destinados a Venda 841 -
Subtotal (Apenas reclassificações) 32.154 32.154
Reclassificação do Imobilizado – Ágio por
Incorporação
158.909 -
Provisão para redução (104.880) -
69
Créditos Tributários 8.520 -
Subtotal (Ajustes e reclassificações) 62.549 -
Total – Efeitos de ajustes e reclassificações 94.703 32.154
Efeitos no Ativo Permanente
Imobilizado 477.580 636.489
Redução refere-se exclusivamente a reclassificação para Realizável a Longo prazo de Ágio por
Incorporação no montante de R$ 158.909.
Efeitos no Exigível a Longo prazo
Impostos diferidos sobre Reserva de Reavaliação 8.520 -
Efeitos no Patrimônio Líquido
Reservas de Capital (Ágio na Incorporação) 75.582 180.462
Redução refere-se exclusivamente a constituição de provisão para redução de Ágio por
Incorporação no montante de R$ 104.880.
Fonte: Demonstrações Financeiras – PA – 2005
Podemos verificar que a emissão do ofício da CVM ocorreu em 24 de Março de 2006,
data essa, posterior à elaboração do Laudo Econômico-financeiro da empresa que ocorreu em
agosto de 2005 e fez parte do Plano de Recuperação Judicial apresentado pela Parmalat.
Assim explica-se a diferença de valores entre os demonstrativos históricos apresentados no
laudo e os demonstrativos originais publicados.
Com relação aos demonstrativos de resultados dos exercícios de 2000, 2001,2002,2003
e 2004, serão apresentados abaixo os respectivos relatórios históricos que serão comparados
com os relatórios originais das demonstrações financeiras publicadas:
70
Quadro 06 - Demonstrativos de resultado históricos – 2000 a 2004
Fonte: Laudo Econômico-Financeiro – Valores expressos em R$ mil
Abaixo apresentamos os demonstrativos originais publicados nas demonstrações
financeiras da empresa nos respectivos períodos:
Quadro 7 – Demonstrativos de resultado originais – 2000 a 2004
Fonte: Demonstrações Financeiras da PA – Valores expressos em R$ mil
71
Os demonstrativos de resultados acima apresentados nos quadros 06 e 07, tanto no
laudo econômico-financeiro como nas demonstrações financeiras da empresa, estão em
igualdade de valores.
4.3.3 Análise do Desempenho Econômico e Financeiro de 2000 a 2007
A seguir, será apresentada uma análise do desempenho econômico-financeiro da
Parmalat Brasil S/A, a partir do exercício 2000 até o ano de 2007, que objetiva demonstrar
através da análise vertical do Balanço Patrimonial e Demonstrativo do Resultado e através de
indicadores, o desempenho da Companhia, cruzando com as informações trazidas em suas
notas explicativas, relatório da administração e pareceres da auditoria nesse período.
Segundo o exposto em notas explicativas no exercício de 2000, depois de completado o
processo de aquisições e incorporações de empresas e negócios, a administração da
companhia iniciou um processo para analisar o custo benefício de manter algumas fábricas e,
como resultado, algumas fábricas tiveram as atividades desativadas, paralisadas ou suspensas.
Algumas das fábricas onde as operações foram descontinuadas e os ativos operacionais foram
transferidos para outras unidades foram vendidas durante o segundo semestre de 2000,
resultando em perda líquida no valor de aproximadamente R$ 43 milhões, que foi
contabilizada como resultado não operacional.
Já nas notas explicativas do exercício findo em 31 de dezembro de 2001, foram
registradas perdas adicionais no valor de aproximadamente R$ 29 mil.
O resultado líquido do exercício de 2002 (prejuízo) de R$ 192,0 mil (prejuízo de R$
61,3 mil em 2001), foi conseqüência em especial dos efeitos da desvalorização cambial sobre
as dívidas em moedas estrangeiras, segundo as notas explicativas publicadas.
Em decorrência da continuação do processo de reestruturação da Companhia, foram
efetuadas durante o exercício findo em 31 de dezembro de 2003 baixas e provisão para
eventuais perdas de ativos que resultaram em uma perda liquida no valor de R$ 9.055 mil.
Conforme mencionado em nota explicativa de 31 de dezembro de 2003, a companhia
manteve saldos no passivo exigível a longo prazo referentes a diversos empréstimos e
financiamentos. Alguns contratos previam cláusulas restritivas, que não foram atendidas pela
Companhia, com relação aos índices de endividamento a longo prazo e cobertura da dívida.
Como decorrência desses assuntos que foram abordados e outros que são apontados nas
demonstrações financeiras nos exercícios de 2000, 2002, 2003 e 2004, as atividades
operacionais da Companhia foram bastante afetadas nos primeiros meses de 2004, com a
72
redução ou paralisação de produção em diversas de suas unidades operacionais, perda de
fornecedores de matéria-prima, além de outros impactos. Nesse cenário a continuidade normal
das atividades da Companhia esteve diretamente condicionada aos reflexos destas situações.
Em 28 de janeiro de 2004 a Parmalat protocolou pedido de concordata preventiva na 29ª
Vara Cível da Capital, buscando o amparo legal para a solução do grave problema financeiro
enfrentado.
As demonstrações financeiras de 2005 sofreram ajustes significativos em decorrência
dos efeitos da homologação do Plano de Recuperação Judicial, bem como da crise que atingiu
todas as empresas do Grupo Parmalat.
Conforme foi citado em seu Relatório da Administração do ano de 2005, os resultados
alcançados pela companhia naquele ano, demonstraram estar no caminho certo na direção da
recuperação da empresa. A receita bruta passou de R$ 753.315 mil em 2004 para R$
1.088.239 mil em 2005, atingindo um crescimento de 44,5% em relação ao ano anterior.
Prosseguindo a comparação entre 2004 e 2005, com relação ao lucro bruto, em 2005
atingiu o valor de R$ 148.912 mil, obtendo uma melhora de 72,5% se comparado ao lucro
bruto de 2004 que foi de R$ 86.367 mil.
No ano de 2006, conforme o Relatório da Administração da companhia, após a
alienação do controle da Parmalat Brasil S/A à Lácteos do Brasil S/A, deu-se início a um
processo de reestruturação da empresa turnaround10, e também no curso do processo de
Recuperação Judicial, a companhia conseguiu se beneficiar de uma negociação feita pelo
novo acionista controlador junto aos credores financeiros quirografários o que representou a
compensação de R$ 584.741 mil de um prejuízo contábil acumulado.
Ainda segundo o Relatório da Administração, o ano de 2007, foi marcado pela
conclusão do processo de reestruturação (turnaround) da companhia, que apresentou
resultados crescentes em relação ao ano anterior.
Conforme demonstração do resultado de 2007, a receita bruta de vendas foi de R$
1.232.195 mil, superando em 27% o valor de R$ 971.205 mil realizados em 2006. Com
relação ao resultado líquido do exercício, a Companhia apresentou um prejuízo de R$ 64.436
mil, inferior em 38% ao obtido em 2006, no valor de R$ 104.636 mil.
10 Plano de reestruturação e reorganização de uma empresa em crise. A reviravolta centra-se em dois momentos,o primeiro destinado a por fim às suas causas, quando possível, o que levou à crise, o segundo destinado aoprosseguimento de um plano de recuperação da rentabilidade.
73
4.3.3.1 Análise Vertical dos Balanços Patrimoniais de 2000 a 2007
A companhia teve como perspectiva, ao final de 2007, que todos os ajustes sofridos ao
longo de 2006 e 2007, deverão impactar positivamente em seus resultados nos próximos
exercícios, como já impactaram nos resultados de 2007.
O quadro 08 adiante, representa os balanços patrimoniais dos anos de 2000 a 2007.
Analisando esses demonstrativos pode-se fazer as seguintes considerações quanto à analise
vertical:
Ativo
a) no ativo circulante: pode-se observar que os percentuais em relação ao ativo total
mantiveram-se estáveis ao longo do período entre o ano 2000 até o ano de 2005 em
torno de 24%, porém, em 2006 apresentou uma queda em relação ao ano anterior
originada principalmente pela redução no valor de créditos que refere-se à contas a
receber de clientes, ficando em 19%, valor esse que voltou a crescer em 2007;
b) no ativo realizável a longo prazo: pode-se observar que entre os anos de 2000 e 2007
os percentuais em relação ao ativo total apresentaram uma elevação nos anos de 2002,
2003 e 2004 em relação aos outros períodos, ficando em 21%, 20% e 31%
respectivamente, referente ao valor de créditos com pessoas ligadas que originou-se pelo
processo de reestruturação da empresa iniciado no ano de 2000, tendo parte de seus
custos absorvidos por empresa do grupo no exterior e o saldo a receber dessa empresa
encontra-se registrado nessa conta com os respectivos valores: R$ 306.756 mil em 2002;
R$ 243.481 mil em 2003 e R$ 242.990 mil em 2004. Também observou-se variação
significativa nos anos de 2004 e 2005 referentes ao valor de ágio por incorporação,
ocasionado por incorporação realizada em 2001 a qual mantinha registrado um ágio
decorrente da integralização de capital que foi originalmente reconhecido no
imobilizado sob o título de “Mais Valia” e, assim figurou nas demonstrações contábeis
entre 2001 a 2004. No exercício de 2005 a companhia decidiu aplicar tratamento
apropriado a esta operação, sendo reclassificados os respectivos valores retroativos a
2004: R$ 54.029 mil e R$ 50.427 em 2005;
c) no ativo permanente: pode-se observar que entre os anos de 2000 e 2007 os
percentuais em relação ao ativo total apresentaram uma redução acentuada no ano 2004
em relação aos anos anteriores ficando em 46%, originadas pela redução do imobilizado
que refere-se além da aplicação das taxas anuais de depreciação, à reclassificação do
ágio por incorporação para o realizável a longo prazo. Já em 2006, os valores do
74
imobilizado apresentam um aumento referente a uma reavaliação de seus bens efetuada
pela companhia, resultando no registro de mais valia, conforme laudo de reavaliação.
Nesse ano também se observa uma baixa no valor de investimentos, restando o valor de
R$ 106 mil em participações em controladas, fato esse ocorrido pela venda da
participação da Companhia na Batávia S/A, permitida após a homologação das
alterações ao Plano de Recuperação Judicial;
Passivo
a) no passivo circulante: pode-se observar que entre os anos de 2000 e 2007 os
percentuais em relação ao passivo total apresentam uma elevação nos anos de 2002 e
2003, alcançando 36% e 40% respectivamente, em relação aos demais períodos,
referente ao aumento dos empréstimos e financiamentos contratados pela companhia
mediante avais e notas promissórias vencíveis em 2004 e 2005. No ano de 2004, como
conseqüência do deferimento do pedido de concordata solicitado pela companhia, as
demonstrações financeiras obedeceram a critérios de apresentação e avaliação
regulamentadas pela lei e pela ordem judicial tendo como conseqüência, os
empréstimos, financiamentos e fornecedores reclassificados para credores quirografários
passivo circulante e exigível a longo prazo, mantendo-se no passivo circulante os
valores de R$ 2.355 mil como a título de empréstimos e financiamentos, R$ 74.974 mil
em fornecedores e R$ 270.136 mil de credores quirografários. No ano de 2007 a
companhia emitiu debêntures simples, da espécie quirografária, através de um contrato
com um fundo de investimentos tendo como saldo o valor de R$ 60.718 mil,
representando 7% em relação ao passivo total da companhia;
b) no passivo exigível a longo prazo: pode-se observar que entre os anos de 2000 e 2007
os percentuais em relação ao passivo total apresentam-se em elevação a partir do ano
2001, atingindo seu ponto mais alto no ano de 2005. Esse crescimento ocorre,
principalmente, a partir do ano de 2004, através do surgimento de credores
quirografários e garantia real no valor de R$ 405.824 mil, representando 37% em
relação ao passivo total, e 2005 no valor de R$ 830.337 mil, representando 118% em
relação ao passivo total da companhia. Em 2006, conforme o Plano de Recuperação
Judicial da companhia foram pagos R$ 120.000 mil a titulo de refinanciamento
antecipado, do total da dívida dos credores financeiros quirografários. Após a
amortização da dívida de R$ 120.000 mil, o saldo remanescente de R$ 584.741, foi
transferido por cessão de direitos para a controladora Lácteos do Brasil S/A, e os demais
pagamentos seguem o fluxo normal, conforme o Plano de Recuperação Judicial da
75
companhia, permanecendo o saldo de R$ 74.318 mil em 2007, representando 8% em
relação ao passivo total da companhia. No ano de 2007 a companhia emitiu debêntures
simples, da espécie quirografária, através de um contrato com um fundo de
investimentos tendo como saldo o valor de R$ 84.830 mil;
c) no patrimônio líquido: pode-se observar que entre os anos de 2000 e 2007 os
percentuais em relação ao passivo total apresentam-se em redução a partir do ano 2001,
atingindo seu ponto mais baixo em 2005. Essa redução se deve, principalmente, ao
aumento de lucros e prejuízos acumulados que em 2005 atinge o valor de R$ 1.477.211
mil como prejuízo acumulado, representando -209% em relação ao passivo total, porém,
no ano de 2006, apresentou uma redução referente a utilização de créditos, cedidos por
acionistas, para absorção de prejuízos acumulados. Em relação à reserva de capital,
pode-se observar um aumento do valor no ano de 2001, referente ágio decorrente da
integralização de capital, já no ano de 2005, foi feita uma reclassificação desse valor,
retroativa a 2004, reduzindo o saldo no valor de R$ 104.880 mil. No ano de 2006,
observou-se uma nova redução no valor de R$ 71.325 mil utilizado para absorção de
prejuízos acumulados, permanecendo um saldo de R$ 4.257 mil, representando 1% em
relação ao passivo total da companhia. Em relação à reserva de reavaliação, observou-se
maior variação no ano de 2006, quando foi feita uma reavaliação do imobilizado,
aumento o valor da reserva em R$ 165.013 mil em relação ao ano anterior,
representando 23% em relação ao passivo total da companhia. Ainda no ano de 2007,
observou-se a criação da conta adiantamento para futuro aumento de capital,
representando 8% em relação ao passivo total da companhia, no valor de R$ 71.616 mil,
que refere-se a remessas provenientes da controladora Lácteos do Brasil S/A para
manutenção do capital de giro.
O quadro abaixo representa os balanços patrimoniais de 2000 a 2007, como também os
índices de liquidez e estrutura de capital;
76
Quadro 8 – Balanços Patrimoniais em R$ mil – 2000 a 2007
Fonte: Demonstrações Financeiras originais, adaptadas pelo autor, 2008
77
4.3.3.2 Análise de Indicadores Econômico-Financeiros de 2000 a 2007
Os quadros 9 e 10 a seguir representam a forma de cálculo dos índices de liquidez e
estrutura de capital para este período, seguidos pelas figuras gráficas dos índices.
Análise gráfica dos índices de liquidez de 2000 a 2007 – figura 07
A seguir apresenta-se a forma de cálculo e a interpretação do gráfico dos índices de
liquidez onde observa-se, de forma geral, uma queda nos índices até o ano de 2005, ano esse
que precede o pedido de recuperação judicial. Em 2007 a empresa demonstra sinal de
recuperação de seus índices de liquidez nos patamares do ano de 2002.
a) liquidez corrente: pode-se observar através da curva do gráfico que no ano de 2000
para cada R$ 1,00 a serem pagos no passivo circulante a empresa possuía R$ 1,10 para
receber, sendo esse o ponto mais alto da curva do gráfico. Desse período em diante
observa-se um forte declínio dos índices, chegando ao ponto mais baixo em 2003,
quando o índice ficou R$ 0,67. Em 2005 nota-se uma elevação do índice com o valor de
R$ 1,00, que se deve ao fato da reclassificação dos créditos quirografários do passivo
circulante para o passivo exigível a longo prazo, fato esse que poderá ser constatado na
análise da liquidez geral a seguir, sendo assim, pode-se dizer que não houve recuperação
da liquidez da empresa nesse ano. A partir de 2006 nota-se o começo da recuperação do
índice passando em 2007 para R$ 0,82;
b) liquidez geral: com relação a esse índice pode-se observar através da curva no gráfico
que permaneceu em baixa no decorrer de todo o período analisado, partindo do ano
2000 onde para cada R$ 1,00 de obrigações totais a empresa tinha R$ 0,84 para saldá-
las. O índice permanece estável até o ano de 2002, já a partir de 2003 observa-se um
declínio chegando ao ponto mais baixo em 2005 quando ficou em R$ 0,22. A partir de
2006 nota-se o começo da recuperação do índice sendo que em 2007 passou para R$
0,40;
c) liquidez seca: seguindo a mesma tendência do índice de liquidez geral, aqui também
pode-se observar através da curva no gráfico que o índice permaneceu em baixa no
decorrer de todo o período analisado, partindo do ponto mais alto no ano de 2000 onde
se a empresa não utilizasse o estoque para pagar o passivo circulante teria R$ 0,65 para
saldar suas dívidas. Em 2001 começa a se observar um declínio na curva do gráfico
chegando ao ponto mais baixo em 2003 quando ficou em R$ 0,34. Em 2005 observa-se
uma elevação no índice chegando a R$ 0,57, porém, ocasionado pelo fato da
reclassificação dos créditos quirografários do passivo circulante para o exigível a longo
78
prazo. Apenas em 2007 começa a se observar uma recuperação do índice onde passou
para R$ 0,56.
Quadro 9 – Índices de Liquidez - 2000 a 2007
Fonte: Elaborado pelo autor, 2008
Indices de Liquidez
1,10
0,97
0,65
1,00
0,68
0,820,84
0,730,82
0,22
0,40
0,650,58
0,400,34
0,57 0,56
0,66
0,60
0,27
0,60
0,67
0,340,44
0,000,100,200,300,400,500,600,700,800,901,001,101,20
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Liquidez corrente Liquidez Geral Liquidez Seca
Figura 07 – Gráfico dos Índices de Liquidez – 2000 a 2007Fonte: Elaborado pelo autor, 2008
Análise gráfica dos índices de endividamento e sua composição de 2000 a 2007 –
figuras 08 e 09
a) endividamento: ao se observar a curva no gráfico pode se notar o crescimento
acentuado do índice desde o início do período analisado representando a
responsabilidade da empresa junto a todos os credores. Em 2000 30% dos recursos
aplicados no ativo eram financiados por capitais de terceiros e 70% por capitais
próprios. Em 2005 atingiu seu ponto mais alto ficando em 177%, significando que os
recursos aplicados no ativo da empresa estavam totalmente comprometidos com
79
terceiros ultrapassando em 77% de sua totalidade, período esse que coincide com o
pedido de Recuperação Judicial da empresa. A partir de 2006 observa-se um declínio da
curva, ficando em 93% em 2006 e 90% em 2007;
b) composição do endividamento: ao se observar a curva no gráfico, podemos observar
que em 2000 a empresa tinha 72% de suas obrigações correspondentes à dívidas de
curto prazo. Os percentuais continuam altos até o ano de 2003, quanto correspondiam a
61%, porém, a partir de 2004, através das reclassificações feitas dos fornecedores,
empréstimos e financiamentos do passivo circulante para o realizável a longo prazo, os
percentuais apresentam uma queda chegando a 15% em 2005. Após esse período os
percentuais voltam a subir, chegando a 37% em 2007.
Quadro 10 – Índices de Estrutura de Capital - 2000 a 2007
Fonte: Elaborado pelo autor, 2008
Endividamento
30% 37%
55%66%
89%
177%
93% 90%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
140%
160%
180%
200%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Participação de Capital de Terceiros (Endividamento)
Figura 08 – Gráfico dos Percentuais de Endividamento – 2000 a 2007Fonte: Elaborado pelo autor, 2008
80
Composição do Endividamento
72%59%
66% 61%
38%
15%
30%37%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
140%
160%
180%
200%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Composição do Endividamento
Figura 09 – Gráfico dos Percentuais de Composição do Endividamento – 2000 a 2007Fonte: Elaborado pelo autor, 2008
4.3.3.3 Análise Vertical dos Demonstrativos de Resultado de 2000 a 2007
O quadro 11 adiante representa os demonstrativos de resultado dos anos de 2000 a
2007. Analisando esses demonstrativos pode-se fazer as seguintes considerações quanto a
analise vertical:
a) no resultado bruto: ao se observar o período entre os anos de 2000 e 2007 nota-se que
os percentuais mantiveram-se estáveis de 2000 a 2003, em torno de 27% em relação à
receita bruta de vendas. No ano de 2004, tiveram uma queda acentuada passando a
representar 11% em relação à receita bruta de vendas, originada pelas notórias
dificuldades que a companhia atravessou a partir no último trimestre de 2003 que
tiveram forte influência em seu desempenho em 2004. Após esse ano, a companhia
passou a apresentar uma leve ascensão, apresentando 14% em 2005. Já em 2007 a
empresa recupera seu resultado bruto, ficando em 20%;
b) no resultado operacional: ao se observar o período entre os anos de 2000 e 2007 nota-
se que os índices mantiveram-se em queda acentuada desde o início do período
analisado até 2005 apresentando percentuais de 3% a -58% em relação à receita bruta de
vendas. Essa situação retrata a crise enfrentada pela companhia durante esse período
atingindo seus pontos mais relevantes em 2004, ano em que entrou com pedido de
81
concordata e 2005, ano em que entrou em Recuperação Judicial. Porém, nesse ano de
2005 a empresa apresentou a soma de R$ 489.862 mil como valores extraordinários
referentes à provisão para perdas com empresas ligadas e provisão para perdas sobre
créditos, valor esse que pode ser expurgado da análise a fim de possibilitar uma
avaliação mais correta, desse modo, o percentual passaria de -58% para -13% em
relação à receita bruta de vendas. Assim, pode-se notar que a partir do ano de 2005 após
o trabalho de redesenho da companhia, que buscou a reconquista do mercado perdida
durante a crise de maneira mais rentável, observou-se percentualmente uma melhora
significativa, apresentando uma nova queda em 2006 com um percentual de -21% e
voltando à recuperação em 2007, passando a representar -6% em relação à receita bruta
de vendas. Destaca-se que a empresa passou a ter resultado operacional negativo no ano
de 2002 e até o ano de 2007 ainda não havia se recuperado;
c) no resultado líquido do exercício: seguindo a mesma tendência dos fatos citados na
análise do resultado operacional, aqui também os percentuais apresentam-se de -3% a
-61% nos anos de 2000 a 2005 em relação à receita bruta de vendas. A partir de 2006 os
índices passaram a apresentar uma leve recuperação, passando a -11% em 2006 e -6%
em 2007 em relação à receita bruta de vendas.
82
Quadro 11 – Demonstrativos de Resultado em R$ mil – 2000 a 2007
Fonte: Demonstrações Financeiras originais, adaptadas pelo autor, 2008
83
4.3.3.4 Análise Gráfica dos Índices de Lucratividade de 2000 a 2007
O quadro 12 a seguir representa a forma de cálculo dos índices de lucratividade nas
vendas no período de 2000 a 2007 , seguido pela figura gráfica dos índices.
Análise gráfica dos índices de lucratividade nas vendas de 2000 a 2007 – figura 10
a) margem bruta: ao se observar a curva do gráfico nota-se que a margem bruta atinge
seu ponto mais alto em 2001 com o percentual de 35% de lucro nas vendas
correspondente à receita liquida de vendas, após esse período começa uma queda
chegando a 14% em 2004 e no ano seguinte começa a apresentar uma recuperação
chegando ao percentual de 22% em 2007;
b) margem operacional: ao se observar a curva do gráfico, pode-se verificar que em
2000 96% da receita líquida foi consumido por custos e despesas operacionais, a partir
de 2001 inicia-se uma queda dos percentuais com valores abaixo de zero. A maior baixa
ocorre em 2005 com o percentual de -70% mantendo-se com valores negativos até 2007,
pelo fato da empresa estar apresentando prejuízo operacional de 2002 a 2007;
c) margem líquida: pode-se dizer que este indicador segue a mesma tendência da
margem operacional, abordada anteriormente, porém, já partindo de um valor negativo a
partir de 2000, mantendo-se em queda durante todo o período analisado, chegando a
-74% em 2005, pelo fato da empresa apresentar prejuízo como resultado líquido de 2000
a 2007. Em 2006 inicia-se uma recuperação ficando com percentual de -7% em 2007.
Quadro12 – Índices de Lucratividade nas Vendas 2000 a 2007
Fonte – Elaborado pelo autor, 2008
84
Indices de Lucratividade nas Vendas
32% 35% 32%28%
14% 17% 17%22%
-34%
-70%
-24%
-3% -5%-13%
-10% -14%-6%
0%4%
-14% -18%
-36%
-74%
-7%
-80%
-70%
-60%
-50%
-40%
-30%
-20%
-10%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Margem Bruta Margem Operacional Margem Líquida
Figura 10 – Gráfico dos Percentuais de Lucratividade nas Vendas – 2000 a 2007Fonte: Elaborado pelo autor, 2008
4.3.4 Análise dos Balanços Patrimoniais e Demonstrativos do Resultado Projetados de 2005 a
2017
A seguir, são apresentados os Balanços Patrimoniais e Demonstrativos do Resultado do
Exercício projetados apresentados no Plano de Recuperação Judicial da companhia.
Salienta-se que o objetivo desse trabalho não é fazer uma análise crítica das premissas e
resultados alcançados nos demonstrativos projetados que foram elaborados pela diretoria
financeira da Parmalat Brasil S/A e seus assessores.
Segundo o Laudo apresentado, de junho de 2005 a dezembro de 2006, as premissas e
pressupostos das projeções foram elaborados pela empresa baseando-se em seu Plano
Orçamentário. A partir de 2007 até 2017, as premissas e pressupostos foram definidos por
premissas de evolução conservadora de suas receitas e despesas amparadas por dados de
mercado.
4.3.4.1 Análise Vertical e Horizontal dos Balanços Patrimoniais Projetados de 2005 a 2017
O quadro 13 adiante representa os balanços patrimoniais projetados dos anos de 2005 a
2017. Analisando esses demonstrativos, observou-se que os percentuais de análise vertical
85
permaneceram estáveis durante todo o período entre 2005 a 2015, porém, entre 2016 e 2017,
notou-se uma desestabilização acentuada nos percentuais. A razão principal para as variações
é explicada pela previsão de pagamento final do saldo de credores. Abaixo apresenta-se a
interpretação:
Ativo
a) no ativo circulante: pode-se observar que os percentuais em relação ao ativo total,
caem de 64% em 2016 para -24% em 2017. Esse fato ocorreu devido ao aumento no
desconto de duplicatas que passou de R$ 39.700 mil em 2016 para R$ 297.000 mil em
2017, representando um aumento de 648% de um ano para outro;
b) no ativo realizável a longo prazo: pode-se notar que os índices permaneceram
estáveis em relação às contas, porém, no somatório do grupo, passaram de 4% em 2016
para 14% em 2017 em relação ao ativo total referente à redução de seu valor em 74%
com relação ao ano anterior, devido ao aumento do desconto de duplicatas no ativo
circulante;
c) no ativo permanente: seguindo a mesma tendência do ativo realizável a longo prazo,
também os índices permanecem estáveis, com uma pequena variação na conta de
propriedade de fábrica e equipamentos, passando de 18% em 2016 para 54% em 2017
com relação ao ativo total. Já no somatório do grupo, apresentou uma variação crescente
de 33% em 2016 para 111% em 2017 em relação ao ativo total referente à redução de
seu valor, devido ao aumento do desconto de duplicatas no ativo circulante.
Passivo
a) no passivo circulante: pode-se notar que os índices permaneceram estáveis em
relação às contas, porém, no somatório do grupo, apresentou uma variação crescente de
39% em 2016 para 152% em 2017 em relação ao passivo total, devido a um evento
ocorrido no passivo exigível a longo prazo que será interpretado a seguir;
b) no passivo exigível a longo prazo: pode-se observar que os percentuais em relação ao
passivo total, caem de 91% em 2016 para 49% em 2017. Esse fato ocorre pela baixa dos
valores das contas bancos – recuperação judicial e debênture, que provavelmente terão
sua liquidação feita através do desconto de duplicatas já abordado na análise do ativo
circulante. Em conseqüência disso, pode-se observar uma variação 86% menor de 2017
em relação ao ano de 2016;
c) no patrimônio líquido: percebe-se que na conta lucros e/ou perdas acumuladas, como
foi projetado prejuízo para todo o período, ocorre gradualmente uma redução no valor
no decorrer do tempo indicando uma recuperação. Já em relação ao passivo total em
86
2016 apresenta um percentual de -30% e em 2017 apresenta -102% do total ocasionada
pelo evento da baixa dos credores descrito na interpretação do passivo exigível a longo
prazo.
87
Quadro 13 – Balanços Patrimoniais Projetados 2005 a 2017
Fonte: Laudo Econômico-Financeiro – adaptado pelo autor, 2008
88
4.3.4.2 Análise de Indicadores Econômico-Financeiros de 2005 a 2017
Os quadros 14 e 15 a seguir representam a forma de cálculo dos índices de liquidez e
estrutura de capital para este período, seguidos pelas figuras gráficas dos índices.
Análise gráfica dos índices de liquidez de 2005 a 2017 – figura 11
A seguir apresenta-se a forma de cálculo e a interpretação do gráfico dos índices de
liquidez onde observa-se de forma geral, que os índices permanecem estáveis de 2005 a 2016,
já em 2017 nota-se uma queda nos índices explicada pela previsão de pagamento final do
saldo de credores.
a) liquidez corrente: pode-se observar através da linha do gráfico que do ano 2005 até o
ano de 2016 os índices permanecem em nível confortável, partindo em 2005 para cada
R$ 1,00 a serem pagos no passivo circulante a empresa possui R$ 2,06 para receber,
permanecendo na casa de R$ 1,90 até 2016 quando tem o índice de R$ 1,64. Já no ano
de 2017 esse índice cai para R$ -0,16, isso se deve ao fato da diminuição de seu ativo
circulante ocasionado pelo aumento de desconto de duplicatas nesse ano;
b) liquidez geral: ao se observar a linha do gráfico percebe-se que o índice em 2005 era
para cada R$ 1,00 de obrigações totais a empresa tinha R$ 0,18 para saldá-las, até 2016
os índices apresentam-se em elevação pelo fato da quitação de credores no decorrer do
tempo, chegando em 2016 a R$ 0,45. Porém, seguindo a mesma tendência do índice de
liquidez corrente abordado anteriormente em 2017 esse índice cai para R$ -0,05,
ocasionada pela redução do ativo circulante;
c) liquidez seca: seguindo a mesma tendência dos índices de liquidez corrente, aqui
também ao se observar a linha do gráfico nota-se que os índices permanecem de maneira
confortável e estável de 2005 até 2016, partindo em 2005 onde se a empresa não
utilizasse o estoque para pagar o passivo circulante teria R$ 1,35 para saldar suas
dívidas, permanecendo na casa de R$ 1,00 até 2016 quando tem o índice de R$ 1,03. Já
em 2017 ocorre a queda para R$ -0,77 novamente devida à redução no ativo circulante.
90
Indices de Liquidez
2,06 2,07 2,07 2,01 1,97 1,94 1,92 1,87 1,80 1,75 1,68 1,64
0,18 0,19 0,21 0,23 0,25 0,27 0,30 0,33 0,36 0,41 0,45 0,52
1,35 1,34 1,35 1,32 1,29 1,28 1,28 1,23 1,17 1,13 1,07 1,03
-0,77
-0,16
-0,05
-1,00-0,80-0,60-0,40-0,200,000,200,400,600,801,001,201,401,601,802,002,202,40
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Liquidez Corrente Liquidez Geral Liquidez Seca
Figura 11 – Gráfico dos Índices de Liquidez – 2005 a 2017Fonte: Elaborado pelo autor, 2008
Análise gráfica dos índices de endividamento e sua composição de 2005 a 2017 –
figuras 12 e 13
a) endividamento: ao se observar a curva do gráfico nota-se que os percentuais de
endividamento se mantêm elevados durante todo o período analisado representando a
responsabilidade da empresa junto a todos os credores, em 2005 153% dos recursos
aplicados no ativo eram financiados por capitais de terceiros. Os percentuais continuam
em elevação chegando a 178% em 2012, no ano seguinte observa-se uma redução nos
percentuais chegando a 130% em 2016 embora ainda alto. Portanto, em 2017 o
percentual se eleva consideravelmente chegando a atingir 202%, percentual que foi
atingido principalmente pela redução no valor do ativo causada pelo desconto de
duplicatas tornando-se altamente dependente do capital de terceiros;
b) composição do endividamento: ao se observar a curva do gráfico nota-se que os
percentuais comportam-se em pequena elevação de 2005 a 2016, quando em 2005 a
empresa tem 8% de suas obrigações correspondentes à dívidas de curto prazo, em 2011
o percentual é de 15% e em 2016 chega a 30%. Porém, no ano de 2017 novamente
observa-se uma elevação acentuada chegando a 75% de obrigações a curto prazo
ocasionada pela baixa de créditos quirografários do passivo a longo prazo.
92
Endividamento
153%166% 172% 175% 176% 177% 176% 178%
168%155%
143%130%
202%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
140%
160%
180%
200%
220%
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Participação de Capital de Terceiros (Endividamento)
Figura 12 – Gráfico dos Percentuais de Endividamento – 2005 a 2017Fonte: Elaborado pelo autor, 2008
Composição do Endividamento
8% 8% 9% 10% 12% 13% 15% 17% 19%22%
26%30%
75%
0%
20%
40%
60%
80%
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Composição do Endividamento
Figura 13 – Gráfico dos Percentuais de Composição do Endividamento – 2005 a 2017Fonte: Elaborado pelo autor, 2008
93
4.3.4.3 Análise Vertical e Horizontal dos Demonstrativos de Resultado de 2005 a 2017
O quadro 16 adiante representa os demonstrativos de resultado projetados dos anos de
2005 a 2017. Analisando esses demonstrativos observou-se que os percentuais da análise
vertical permaneceram estáveis durante todo o período entre 2005 a 2015, porém, entre 2016
e 2017 notou-se uma desestabilização acentuada nos percentuais. A razão principal para as
variações é explicada pelo aumento das despesas financeiras ocasionada pela previsão de
pagamento final do saldo de credores. Abaixo apresenta-se a interpretação:
a) no resultado bruto: ao se observar o período entre os anos de 2005 e 2017 nota-se que
os percentuais mantiveram-se sem maiores instabilidades, com crescimento gradual
durante todo o período;
b) no resultado operacional: ao se observar o período entre os anos de 2005 e 2017 nota-
se que os índices mantiveram-se estáveis de 2005 a 2016, porém, em 2017 ocorreu uma
instabilidade apresentando uma variação 406% menor em relação ao ano anterior. Esse
fato ocorreu devido ao aumento do valor das despesas financeiras em 370%, que
passaram de R$ 48.000 mil em 2016 para R$ 225.600 em 2017;
c) no resultado líquido do exercício: seguindo a mesma tendência dos fatos citados na
análise do resultado operacional, aqui também os percentuais apresentam-se estáveis de
2005 a 2016. Já em 2017 nota-se uma instabilidade em conseqüência do aumento das
despesas financeiras já abordado anteriormente, apresentando uma variação decrescente
de 502% menor como resultado líquido de 2016 para 2017.
94
Quadro 16 – Demonstrativos de Resultado Projetados – 2005 a 2017
Fonte: Laudo Econômico-Financeiro – adaptado pelo autor, 2008
95
4.3.4.4 Análise Gráfica dos Índices de Lucratividade de 2005 a 2017
O quadro 17 a seguir representa a forma de cálculo dos índices de lucratividade nas
vendas no período de 2005 a 2017, seguido pela figura gráfica dos índices.
Análise gráfica dos índices de lucratividade nas vendas de 2005 a 2017-figura 14
a) margem bruta: ao se observar a curva do gráfico nota-se que os percentuais
permanecem estáveis durante todo o período analisado, partindo de 23% de lucro bruto nas
vendas correspondente à receita liquida de vendas em 2005, mantendo-se entre 26% e 27%
nos demais períodos até 2017;
b) margem operacional: analisando-se a curva do gráfico observa-se que os percentuais
apresentam-se negativos de 2005 a 2007 pelo fato da empresa estar apresentando prejuízo
operacional, de 2008 até 2016 embora a empresa apresente lucro operacional, a margem
operacional apresenta-se em baixa não passando de 3% de 2013 a 2016 quando 97% da
receita líquida de vendas foram consumidos por custos e despesas operacionais. Em 2017
novamente ocorre uma queda ficando com o percentual de -9%. Esse fato se deve em grande
parte pelo aumento das despesas financeiras ocorridas pela baixa dos credores;
c) margem líquida: pode-se dizer que este indicador segue a mesma tendência da
margem operacional, abordada anteriormente, quando os percentuais apresentam-se negativos
de 2005 a 2007 pelo fato da empresa estar apresentando prejuízo como resultado líquido. De
2009 até 2016 embora a empresa apresente lucro líquido a margem líquida apresenta-se em
baixa não passando de 3% em 2014 quando 97% da receita líquida de vendas foram
consumidos por custos operacionais, despesas e tributos. Em 2017 novamente ocorre uma
queda ficando com o percentual de -9% ocasionado principalmente pelo aumento das
despesas financeiras.
96
Quadro 17 – Índices de Lucratividade nas Vendas Projetados – 2005 a 2017
Fonte – Elaborado pelo autor, 2008
97
Indices de Lucratividade nas Vendas
23%26% 26% 26% 26% 26% 26% 26% 26% 27% 27% 27% 27%
-31%
-72%
-2% -1%
-9%
3%3%
3%3%0%
1%0%1%0%
-9%
2%2%3%
2%0%0%0%
0%0%-1%
-5%
-80%
-70%
-60%
-50%
-40%
-30%
-20%
-10%
0%
10%
20%
30%
40%
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Margem Bruta Margem Operacional Margem Líquida
Figura 14 – Gráfico dos Percentuais de Lucratividade nas Vendas – 2005 a 2017Fonte: Elaborado pelo autor, 2008
4.3.4.5 Análise do Fluxo de Caixa Projetado de 2006 a 2017
Além dos Balanços Patrimoniais e Demonstrativos do Resultado, foi feita a projeção do
fluxo de caixa da companhia em 12 (doze) anos, de 2006 a 2017, sendo que no último ano
está previsto o pagamento final do saldo de credores, conforme a figura 07 adiante
apresentada.
Os fluxos de caixas gerados pela operação foram julgados suficientes e se destinam
integralmente à quitação de fornecedores e credores.
Embora tenha sido elaborada a projeção do fluxo de caixa, a empresa não o apresentou
em suas demonstrações financeiras publicadas. Caso houvessem publicações de seus fluxos
de caixas facilitaria em muito o trabalho de análise e comparação entre o projetado em seu
Laudo com o realizado.
A figura abaixo demonstra o demonstrativo projetado, apresentado no Laudo
Econômico-Financeiro:
98
Figura 15 - Demonstrativos de resultados históricos – 2000 a 2004Fonte: Laudo Econômico-Financeiro – Valores expressos em R$ mil
Análise da Gestão de Caixa de 2006 a 2017 – figura 15
Ao analisar o fluxo de caixa conforme a figura 07, percebe-se que a empresa projeta
gerar recursos para financiar suas atividades comerciais, podendo pagar suas dívidas, porém,
sem a sobra de recursos líquidos. Através do desconto de duplicatas no decorrer do período,
permanecerá com o caixa disponível para pagamento dos credores no valor exato da sua
dívida com fornecedores e bancos no período de 2005 a 2017.
4.3.5 Análise Comparativa entre os Balanços Patrimoniais e Demonstrativos do Resultado
Projetados e Realizados de 2005 a 2007
A seguir, são apresentados os Balanços Patrimoniais e Demonstrativos do Resultado do
Exercício projetados através do Laudo Econômico-Financeiro da companhia e a comparação
entre os Balanços Patrimoniais e Demonstrativos do Resultado do Exercício realizados nos
exercícios de 2005, 2006 e 2007.
Destaca-se que a elaboração da análise foi feita somente pelo somatório dos grupos de
cada demonstrativo, já que existem diferenças de apresentações entre o projetado e realizado,
sendo o último elaborado de forma analítica, com abertura de contas e o projetado elaborado
de forma sintética, modelo gerencial.
99
4.3.5.1 Análise Vertical e Horizontal dos Balanços Patrimoniais Projetados e Realizados
Comparados de 2005 a 2017
O quadro 18 adiante representa os balanços patrimoniais, reclassificados por grupos
projetado e realizado dos anos de 2005 a 2007, notando-se de maneira geral que os números
realizados ficaram um pouco abaixo do que foi projetado. Analisando esses demonstrativos
pode-se fazer as seguintes considerações quanto à analise vertical e horizontal:
Ativo
a) no ativo circulante: no ano de 2005 pode-se observar que o realizado apresentou uma
variação 8% menor em relação ao projetado, já em relação ao ativo total o projetado
representou 25% enquanto o realizado representou 26% do total. No ano de 2006 pode-
se observar que o realizado apresentou uma variação 30% menor em relação ao
projetado, já em relação ao ativo total o projetado representou 29% enquanto o realizado
representou 19% do total. Em 2007 pode-se observar que o realizado apresentou uma
variação 16% maior em relação ao projetado, já em relação ao ativo total o projetado
representou 33% enquanto o realizado representou 27% do total;
b) no ativo realizável a longo prazo: no ano de 2005 pode-se notar uma variação 256%
maior do realizado em relação ao projetado, já em relação ao ativo total o projetado
representou 3% enquanto o realizado representou 13% do total. No ano de 2006 pode-se
observar que o realizado apresentou uma variação 69% maior em relação ao projetado,
já em relação ao ativo total o projetado representou 4% enquanto o realizado
representou 6% do total. Em 2007 pode-se observar que o realizado apresentou uma
variação de 271% maior em relação ao projetado, já em relação ao ativo total o
projetado representou 3% enquanto o realizado representou 9% do total;
c) no ativo permanente: no ano de 2005 pode-se observar que o realizado teve uma
variação 26% menor em relação ao projetado, já em relação ao ativo total o projetado
representou 72% enquanto o realizado representou 61% do total. No ano de 2006 pode-
se observar que o realizado apresentou uma variação 18% maior em relação ao
projetado, já em relação ao ativo total o projetado representou 68% enquanto o realizado
representou 75% do total. Em 2007 pode-se observar que o realizado apresentou uma
variação de 41% maior em relação ao projetado, já em relação ao ativo total tanto o
projetado como o realizado representaram 64% do total.
Passivo
100
a) no passivo circulante: no ano de 2005 pode-se observar que o realizado apresentou
uma variação 90% maior em relação do projetado, já em relação ao passivo total o
projetado representou 12% enquanto o realizado representou 26% do total. No ano de
2006 pode-se observar que o realizado apresentou uma variação 113% maior em relação
do projetado, já em relação ao passivo total o projetado representou 14% enquanto o
realizado representou 28% do total. Em 2007 pode-se observar que o realizado
apresentou uma variação 194% maior em relação do projetado, já em relação ao passivo
total o projetado representou 16% enquanto o realizado representou 33% do total;
b) no passivo exigível a longo prazo: no ano de 2005 pode-se observar uma variação 6%
menor do realizado em relação ao projetado, já em relação ao passivo total o projetado
representou 141% enquanto o realizado representou 152% do total. No ano de 2006
pode-se observar uma variação 55% menor do realizado em relação ao projetado, já em
relação ao passivo total o projetado representou 152% enquanto o realizado representou
65% do total. Em 2007 pode-se observar uma variação 49% menor do realizado em
relação ao projetado, já em relação ao passivo total o projetado representou 156%
enquanto o realizado representou 57% do total;
c) no patrimônio líquido: percebe-se uma variação 28% maior do realizado em relação
ao projetado como prejuízo, já em relação ao passivo total o projetado representou -53%
enquanto o realizado representou -77% do total. No ano de 2006 percebe-se uma
variação de 112% menor no realizado em relação do projetado, porém, nota-se que
realizou-se lucro no período enquanto o projetado era prejuízo, representando uma
recuperação, já em relação ao passivo total o projetado representou -66% enquanto o
realizado representou 7% do total. Em 2007 percebe-se uma variação 120% menor no
realizado em relação do projetado, porém, seguindo a mesma tendência de 2006, nota-se
que realizou-se lucro no período enquanto o projetado era prejuízo, representando uma
recuperação, já em relação ao passivo total o projetado representou -72% enquanto o
realizado representou 10% do total.
101
Quadro 18 – Balanços Patrimoniais Reclassificados por grupo – 2005 a 2007
Fonte: Elaborado pelo autor, 2008
4.3.5.2 Análise de Indicadores Econômico-Financeiros Projetados e Realizados Comparados
de 2005 a 2007
Os quadros 19 e 20 a seguir representam a forma de cálculo dos índices de liquidez e
estrutura de capital para este período, seguidos pelas figuras gráficas dos índices.
Análise gráfica dos índices de liquidez de 2005 a 2007 – figuras 16, 17 e 18
A seguir apresenta-se a forma de cálculo e a interpretação do gráfico dos índices de
liquidez onde observamos, de forma geral, que os índices realizados de liquidez corrente e
liquidez seca ficaram abaixo dos que foram projetados, já a liquidez geral obteve uma
realização superior ao que foi projetado.
a) liquidez corrente: ao se analisar as duas curvas do gráfico pode se observar que os
índices foram projetados em níveis confortáveis para o desenvolvimento da empresa
apresentando índices com valores acima de R$ 2,00 mantendo-se estáveis durante o
período. Em 2005 para cada R$ 1,00 a serem pagos no passivo circulante a empresa
possuía R$ 2,06 para receber, em 2006 possuía R$ 2,07 mantendo o mesmo índice em
2007. Já com relação aos índices realizados apresentam-se em valores mais baixos
ficando em torno de R$ 1,00 a receber para cada R$ 1,00 que a empresa tem a pagar
apenas em 2005, primeiro ano comparado, seguindo o próximo ano em 2006 o índice
reduz para R$ 0,68 e em 2007 volta a apresentar recuperação chegando a R$ 0,82;
b) liquidez geral: ao se analisar as duas curvas do gráfico observa-se que aqui os índices
projetados apresentam-se abaixo do realizado em leve recuperação sendo em 2005 para
cada R$ 1,00 de obrigações totais a empresa tinha R$ 0,18 para saldá-las,em 2006
apresenta R$ 0,19 e em 2007 apresenta R$ 0,21. Já com relação aos índices realizados
102
apresentam-se acima a também em recuperação, partindo de 2005 quando para cada R$
1,00 de obrigações totais a empresa tinha R$ 0,22 para saldá-las, passando para R$ 0,27
em 2006 e chegando a R$ 0,67 em 2007 trazendo uma expectativa de recuperação no
decorrer do período;
c) liquidez seca: ao se analisar as duas curvas do gráfico observa-se que novamente os
índices projetados ficam acima dos índices realizados partindo de 2005 quando se a
empresa não utilizasse o estoque para pagar o passivo circulante teria R$ 1,35 para
saldar suas dívidas permanecendo estáveis no decorrer do período, em 2006 com R$
1,34 e em 2007 apresenta R$ 1,35. Já com relação aos índices realizados apresentam-se
em valores mais baixos, em 2005 se a empresa não utilizasse o estoque para pagar o
passivo circulante teria R$ 0,57 para saldar suas dívidas, em 2006 reduziu para R$ 0,34
e em 2007 recuperou-se para R$ 0,56 seguindo a mesma expectativa de recuperação.
Quadro 19 – Índices de Liquidez – 2005 a 2007
Fonte: Elaborado pelo autor, 2008
103
Liquidez Corrente-Projetada X Realizada
2,06 2,07 2,07
1,00
0,680,82
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
1,40
1,60
1,80
2,00
2,20
2005 2006 2007
Liquidez Corrente-Projetada Liquidez Corrente-Realizada
Figura 16 - Gráfico dos Índices de Liquidez Corrente – 2005 a 2007Fonte: Laudo Econômico-Financeiro – Valores expressos em R$ mil
Liquidez Geral-Projetada X Realizada
0,18 0,19 0,210,220,27
0,67
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
2005 2006 2007
Liquidez Geral-Projetada Liquidez Geral-Realizada
Figura 17 - Gráfico dos Índices de Liquidez Geral – 2005 a 2007Fonte: Laudo Econômico-Financeiro – Valores expressos em R$ mil
104
Liquidez Seca-Projetada X Realizada
1,35 1,34 1,35
0,57
0,34
0,56
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
1,40
1,60
2005 2006 2007
Liquidez Seca-Projetada Liquidez Seca-Realizada
Figura 18 - Gráfico dos Índices de Liquidez Seca – 2005 a 2007Fonte: Laudo Econômico-Financeiro – Valores expressos em R$ mil
Análise gráfica dos índices de endividamento e sua composição de 2005 a 2007 –
figuras 19 e 20
a) endividamento: ao se analisar as duas curvas do gráfico observa-se que os percentuais
projetados são altos e em elevação do decorrer do período, começando em 2005 onde 153%
dos recursos aplicados no ativo são financiados por capitais de terceiros, em 2006 passa a
166% e em 2007 fica em 172%. Já com relação aos percentuais realizados partiram com
valores mais altos, porém, com redução no decorrer do período, em 2005 177% dos recursos
aplicados no ativo foram financiados por capitais de terceiros, em 2006 caiu para 93% e em
2007 novamente caiu para 90% trazendo uma expectativa de melhora para a empresa com
relação à sua dependência com relação à capital de terceiros;
b) composição do endividamento: ao se analisar as duas curvas do gráfico observa-se
que os percentuais projetados são menores que os realizados e comportam-se estáveis no
decorrer do período, em 2005 a empresa tem 8% de suas obrigações correspondentes à dívidas
de curto prazo, em 2006 mantém o mesmo percentual de 8% e em 2007 passa para 9%. Já os
percentuais realizados foram maiores e em elevação no período, em 2005 a empresa teve 15%
de suas obrigações correspondentes à dívidas de curto prazo, em 2006 ficou em 30% e em
105
2007 passou para 37% representando um aumento do percentual de dívidas à curto prazo da
empresa.
Quadro 20 – Índices de Estrutura de Capital – 2005 a 2007
Fonte: Elaborado pelo autor, 2008
Endividamento
153%166% 172%
177%
93% 90%
-10%
20%
50%
80%
110%
140%
170%
200%
2005 2006 2007
Particip. de Capital de Terceiros (Endividamento)-Projetado Particip.de Capital deTerceiros (Endividamento)-Realizado Particip.de Capital de Terceiros (Endividamento)-Realizado
Figura 19 - Gráfico dos Percentuais de Endividamento – 2005 a 2007Fonte: Laudo Econômico-Financeiro – Valores expressos em R$ mil
106
Composição do endividamento-Projetado X Realizado
15%
30%
37%
9%8%8%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
2005 2006 2007
Composição do Endividamento-Projetado Composição do Endividamento-Realizado
Figura 20 - Gráfico dos Percentuais de Composição do Endividamento – 2005 a 2007Fonte: Laudo Econômico-Financeiro – Valores expressos em R$ mil
4.3.5.3 Análise Vertical e Horizontal dos Demonstrativos de Resultado Projetados e
Realizados Comparados de 2005 a 2007
O quadro 21 adiante, representa os demonstrativos de resultado, reclassificados por
grupos projetado e realizado, dos anos de 2005 a 2007, notando-se também que, de maneira
geral, os números realizados ficaram um pouco abaixo do que foi projetado. Analisando esses
demonstrativos pode-se fazer as seguintes considerações quanto à analise vertical e
horizontal:
a) no resultado bruto: no ano de 2005 pode-se observar que o realizado apresentou uma
variação 27% menor em relação ao projetado, já em relação à receita bruta de vendas o
projetado representou 23% enquanto o realizado representou 17% do total. No ano de
2006 pode-se observar que o realizado apresentou uma variação 49% menor em relação
ao projetado, já em relação à receita bruta de vendas o projetado representou 26%
enquanto o realizado representou 17% do total. Em 2007 pode-se observar que o
realizado apresentou uma variação 14% menor em relação ao projetado, já em relação à
receita bruta de vendas o projetado representou 26% enquanto o realizado representou
22% do total;
107
b) no resultado operacional: no ano de 2005 pode-se observar que o realizado
apresentou uma variação 126% maior em relação ao projetado como resultado negativo,
já em relação à receita bruta de vendas o projetado representou 31% enquanto o
realizado representou 70% do total. No ano de 2006, seguindo a mesma tendência do
ano anterior, pode-se observar que o realizado apresentou uma variação 850% maior em
relação ao projetado como resultado negativo, já em relação à receita bruta de vendas o
projetado representou 2% enquanto o realizado representou 24% do total. Em 2007,
também seguindo a tendência nos anos anteriores analisados, pode-se observar que o
realizado apresentou uma variação 951% maior em relação ao projetado como resultado
negativo, já em relação à receita bruta de vendas o projetado representou 1% enquanto o
realizado representou 6% do total;
c) no resultado líquido do exercício: no ano de 2005 pode-se observar que o realizado
apresentou uma variação 2% maior em relação ao projetado como resultado negativo, já
em relação à receita bruta de vendas o projetado representou 72% enquanto o realizado
representou 74% do total. No ano de 2006, seguindo a mesma tendência do ano anterior,
pode-se observar que o realizado apresentou uma variação 85% maior em relação ao
projetado como resultado negativo, já em relação à receita bruta de vendas o projetado
representou 5% enquanto o realizado representou 13% do total. Em 2007, também
seguindo a tendência nos anos anteriores analisados, pode-se observar que o realizado
apresentou uma variação 392% maior em relação ao projetado como resultado negativo,
já em relação à receita bruta de vendas o projetado representou 1% enquanto o realizado
representou 6% do total.
Quadro 21 – Demonstrativos de Resultado Reclassificado por grupos – 2005 a 2007
Fonte: Elaborado pelo autor, 2008
108
4.3.5.4 Análise Gráfica dos Índices de Lucratividade Projetados e Realizados Comparados de
2005 a 2007
O quadro 22 a seguir representa a forma de cálculo dos índices de lucratividade nas
vendas comparada entre projetado e realizado no período de 2005 a 2007, seguido pelas
figuras gráficas dos índices.
Análise gráfica dos índices de lucratividade nas vendas de 2005 a 2007 – figuras 21, 22
e 23
Abaixo será apresentada a interpretação gráfica da lucratividade nas vendas comparada
entre projetado e realizado no período de 2005 a 2007 e sua forma de cálculo onde pode-se
observar de forma geral que os índices realizados ficaram abaixo do projetado durante todo o
período analisado.
a) margem bruta: ao se analisar as duas curvas do gráfico se nota que os percentuais
projetados permanecem estáveis, em 2005 23% do lucro bruto nas vendas correspondente à
receita liquida de vendas, em 2006 passa para 26% permanecendo no mesmo percentual de
26% em 2007. Já com relação aos percentuais realizados entre 2005 e 2006 apresentaram-se
estáveis com 17% do lucro bruto nas vendas correspondente à receita liquida de vendas e em
2007 apresentaram uma recuperação passando a 22%;
b) margem operacional: ao se analisar as duas curvas do gráfico se nota que tanto os
percentuais projetados como os realizados ficaram abaixo de zero já que o lucro operacional
foi negativo devido ao valor elevado das despesas operacionais. Mesmo assim apresentam
sinais de recuperação, com relação ao projetado, em 2005 apresentou -31%, em 2006 passou a
-2% e em 2007 ficou em -1%. Já o realizado ficou abaixo, porém em recuperação, com -70%
em 2005, passando para -24% em 2006 e ficando em -6% em 2007;
c) margem líquida: seguindo a mesma tendência da margem operacional ao se analisar
as duas curvas do gráfico se nota que tanto os percentuais projetados como os realizados
ficaram abaixo de zero já que o lucro líquido foi negativo durante todo o período analisado.
Mesmo assim apresentam sinais de recuperação, com relação ao projetado, em 2005
apresentou -72%, em 2006 passou a -5% e em 2007 ficou em -1%. Já o realizado ficou
abaixo, porém em recuperação, com -74% em 2005, passando para -13% em 2006 e ficando
em -6% em 2007;
109
Quadro 22 – Índices de Lucratividade nas Vendas – 2005 a 2007
Fonte: Elaborado pelo autor, 2008
Margem Bruta - Projetada X Realizada
23%
26% 26%
17% 17%
22%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
2005 2006 2007
Margem Bruta-Projetada Margem Bruta-Realizada
Figura 21 - Gráfico dos Percentuais de Margem Bruta – 2005 a 2007Fonte: Laudo Econômico-Financeiro – Valores expressos em R$ mil
110
Margem Operacional-Projetada X Realizada
-31%
-2% -1%
-70%
-24%
-6%
-80%
-70%
-60%
-50%
-40%
-30%
-20%
-10%
0%2005 2006 2007
Margem Operacional-Projetada Margem Operacional-Realizada
Figura 22 - Gráfico dos Percentuais de Margem Operacional – 2005 a 2007Fonte: Laudo Econômico-Financeiro – Valores expressos em R$ mil
Margem Líquida-Projetada X Realizada
-72%
-1%-5%
-74%
-6%
-13%
-80%
-70%
-60%
-50%
-40%
-30%
-20%
-10%
0%2005 2006 2007
Margem Líquida-Projetada Margem Líquida-Realizada
Figura 23 - Gráfico dos Percentuais de Margem Líquida – 2005 a 2007Fonte: Laudo Econômico-Financeiro – Valores expressos em R$ mil
111
Comentário geral do desempenho da empresa de 2000 e 2007
Quanto à liquidez pode-se verificar que do ano de 2000 até ano de 2005 ocorreu uma
evolução negativa dos índices de liquidez em virtude do aumento da utilização de recursos de
terceiros, principalmente a longo prazo, com maior evidência no ano de 2005. A partir de
2006 iniciou-se uma evolução positiva com sinais de recuperação na liquidez da empresa.
Quanto ao endividamento pode-se verificar que houve uma evolução negativa de 2000
a 2005, aumentando a utilização de recursos de terceiros como fonte de recursos para a
empresa, de 30% para 177% no período. A partir de 2006 iniciou-se uma evolução positiva,
porém, ainda em 90% de utilização de recursos de terceiros na empresa.
Quanto à margem líquida pode-se verificar que houve uma evolução negativa a partir de
2000, atingindo seu ponto mais significativo em 2005. A partir de 2006 iniciou-se uma
evolução positiva trazendo expectativas de recuperação, embora ainda apresentar-se com
índices negativos.
112
5 CONCLUSÃO
Durante o desenvolvimento da pesquisa tornou-se evidente a importância da nova Lei
de Recuperação de Empresas e Falência para a preservação e reestruturação da companhia
Parmalat S/A Indústria de Alimentos. Os mecanismos de recuperação oferecidos pela nova
legislação foram imprescindíveis na expectativa da retomada operacional da instituição.
O instituto de recuperação judicial disponibilizou subsídios necessários para que a
recuperação da empresa se concretize funcionando como uma força tarefa entre devedor,
credores e judiciário, dessa forma aumentou as chances do restabelecimento operacional da
empresa e a redução de perdas para os credores.
Os avanços trazidos pelo novo preceito puderam ser observados desde à sua
comparação com a lei de concordata anterior, a qual a empresa se encontrava sobre amparo,
antes de adentrar na nova legislação. Durante o período da concordata, o caso se arrastou por
um ano, sem que nada de muito concreto tivesse acontecido. Na segunda fase, já beneficiado
pela nova legislação, o acordo saiu em apenas seis meses, agilizado principalmente pelo fato
de o texto atual deixar de exigir a concordância de todos os credores para que o plano de
recuperação fosse aprovado.
Através dos subsídios disponibilizados na Lei 11.101/2005 utilizados pela empresa em
seu Plano de Recuperação Judicial que obedeceram ao artigo 50 através dos incisos: I –
concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou
vincendas; VI – aumento de capital social; XI – venda parcial dos bens e XV – emissão de
valores mobiliários, a empresa passou a recuperar seus ativos e garantir a recuperação
judicial. Posteriormente ao plano houve uma alteração onde os credores aprovaram a
transferência do controle acionário da empresa para o Fundo de Investimentos em
participações LAEP Capital LLC para subscrever e integralizar o novo capital da empresa.
A contratação da empresa MS Cardim & Associados S/C Ltda como empresa de
consultoria profissional para a elaboração do Laudo Econômico-Financeiro da companhia foi
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fundamental para agilizar as negociações. Através de seu trabalho, a empresa de consultoria
elaborou uma projeção de 12 anos (2005 a 2017) para que a empresa pague suas dívidas
retomando seu crescimento.
Um dos pontos frágeis da nova lei é a exigência de que as empresas estejam em dia com
o fisco para conseguirem a aprovação do plano de recuperação. No caso da Parmalat S/A esse
aspecto foi tratado no momento em que ocorreu a homologação do Plano de Recuperação
Judicial da empresa, quando o administrador judicial lembrou que não tendo sido editada a lei
especial para resolver os créditos tributários a pretensão da companhia haveria de ser acolhida
motivada pela dificuldade de quitar suas obrigações junto ao governo por estar em crise.
Sendo assim, o juiz concedeu a recuperação judicial à empresa.
Foi observado ao longo do trabalho a importância de se tratar a recuperação judicial na
área contábil. No processo de recuperação judicial a contabilidade tem papel imprescindível
quanto ao fornecimento de subsídios através das análises das demonstrações contábeis e dos
registros das transações ocorridas na empresa ao longo do período e que comprovam uma
dificuldade financeira, abrindo-se um leque de oportunidades para a contabilidade e para o
contador. Como não podia deixar de ser, a responsabilidade dos profissionais também deve
ser levada em conta por estar em jogo o futuro de uma companhia, quando essas informações
transmitidas pela contabilidade devem ser claras e transparentes e espelharem exatamente a
realidade em que a empresa se encontra perante os interessados, pois é com base nos
resultados da contabilidade que os especialistas em recuperar empresas planejam toda a
estratégia de um plano de recuperação.
Quanto aos objetivos específicos de estudar o desempenho econômico-financeiro da
companhia e seu atual estágio de desenvolvimento com a recuperação judicial, durante o
desenvolvimento do trabalho foi feita uma análise detalhada de seus demonstrativos contábeis
dividindo-se na análise do desempenho econômico de 2000 a 2007, na análise do desempenho
econômico projetada conforme o laudo-financeiro econômico de 2005 a 2017 e na análise do
desempenho econômico comparada entre projetada e realizada de 2005 a 2017. Constatou-se
que embora os números apresentados nas demonstrações contábeis ainda representem uma
situação preocupante, os resultados obtidos foram favoráveis demonstrando sinais de
recuperação através da análise de seus indicadores, trazendo a expectativa de retomada do
crescimento da empresa perdido logo após deflagrada a crise financeira que teve seu ápice em
2005. Após o ano de 2005, realizou-se a comparação dos resultados projetados com os
resultados realizados pela empresa até 2007, quanto observou-se que os últimos embora não
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tenham alcançado os resultados planejados, seguem a tendência de recuperação buscada nos
planos da empresa.
O processo de recuperação judicial da Parmalat Brasil S/A Indústria de Alimentos
transcorreu em conformidade com a Lei 11.101/2005 onde a empresa cumpriu as exigências
de seu artigo 53 apresentando a discriminação dos meios de recuperação que foram
empregados, a demonstração da viabilidade econômica através das demonstrações financeiras
dos 3 (três) últimos anos anteriores à recuperação e o laudo econômico-financeiro que foi
executado pela empresa MS Cardim & Associados S/C Ltda.
A Parmalat S/A passou por profundos ajustes, incluindo ações para redução nos custos,
revisão de metas de produção e reposicionamento de marketing, sempre com o objetivo de
estabelecer uma nova relação com o mercado e reconquistar a confiança de fornecedores,
credores e consumidores, mantendo um negócio sólido e essencial para a economia do país. A
principal ferramenta que possibilitou o início da retomada do crescimento da empresa foi a
implementação da Lei de Recuperação de Empresas e Falência que, através de sua aplicação,
foi parte integrante e indispensável neste novo caminho a ser percorrido.
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