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Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
Copyleft a utopia da pane no sistema
Andreacute Azevedo da Fonseca Graduado em Comunicaccedilatildeo Social (Universidade de Uberaba Uniube) Especialista em Histoacuteria do Brasil (PUC-MG) Mestrando em Histoacuteria Cultural na Universidade Estadual Paulista ldquoJulio de Mesquisa Filhordquo (Unesp-Franca) Autor de Cotidianos culturais e outras histoacuterias a cidade sob novos olhares (Uniube 2004) disponiacutevel em licenccedila copyleft no endereccedilo httpazevedodafonsecasitesuolcombr
Resumo Este artigo busca conceituar o termo ldquocopyleftrdquo uma licenccedila que permite a livre reproduccedilatildeo e
distribuiccedilatildeo sem fins lucrativos da produccedilatildeo intelectual Simultaneamente procura
desenvolver a discussatildeo seraacute que essa disseminaccedilatildeo do conhecimento eacute verdadeiramente uma
democratizaccedilatildeo ou apenas um cosmeacutetico nas estrateacutegias de propaganda Dessa forma vistos
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas ldquoinsubordinaccedilotildeesrdquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo
Palavras chaves copyleft propriedade intelectual democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo
Resumen
Copyleft la utopia del parada en el sistema
Este artiacuteculo busca conceptualizar sobre el termino copyleft una licencia que permite la
libre reproduccioacuten y distribuicioacuten sin fines lucrativos de la produccioacuten intelectual
Simultaacuteneamente busca desarrollar la discusioacuten seraacute que esa diseminacioacuten del conocimiento
es verdaderamente una democratizacioacuten o apenas un cosmeacutetico en las estrateacutegias de
propaganda De esta forma vistos los antecedentes histoacutericos considerando que la industria
de entretenimiento siempre se mostroacute temerosa cuando surgieron nuevas tecnologias mas fue
siempre eficiente no soacutelo para vencer las crisis pero sobre todo para direccionar las
tecnologiacuteas a su favor se percibe que el mercado tiende a aprender a domar esas
insubordinaciones para sacar provecho de las teacutecnicas de guerrilla cultural bajo el costo de
una democratizacioacuten relativa de la informacioacuten
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Palabras claves copyleft propiedad intelectual democratizacioacuten de la informacioacuten
Abstract
Copyleft the Utopia of system breakdown
This article tries to conceptualize the term ldquocopyleftrdquo which is a license that permits without
lucrative ends the free reproduction and distribution of intellectual production
Simultaneously this article tries to develop the discussion Is it factual that this dissemination
of knowledge is truly a democratization or simply something superficial in propaganda
strategies From the point of view of looking at the historical antecedents and considering that
the entertainment industry has always shown itself to be fearful of new emerging
technologies yet has always been efficient not only in emerging victorious during crisis but in
using these technologies in their favor it can be seen that the market tends to learn how to
dominate these ldquoinsubordinationsrdquo in order to take advantage of these techniques in a cultural
guerrilla war at the cost of the relative democratization of information
Key-words copyleft intellectual property democratization of information
Introduccedilatildeo
A revoluccedilatildeo digital dos uacuteltimos 20 anos desencadeou uma irrefreaacutevel popularizaccedilatildeo de
equipamentos de reproduccedilatildeo de conteuacutedo Nunca foi tatildeo simples e extraordinariamente barato
copiar e distribuir informaccedilatildeo sobretudo devido agrave facilidade de uso da Internet aliada a
incessantes novidades tecnoloacutegicas tais como gravadores de CD DVD e impressoras
pessoais No entanto ao mesmo tempo em que a era digital eacute celebrada pelo seu potencial de
democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo ela preocupa seriamente donos de direitos autorais e
empresaacuterios da induacutestria da informaccedilatildeo pois a descentralizaccedilatildeo inerente agrave rede parece
inviabilizar qualquer tipo de controle da propriedade intelectual Percebe-se neste contexto
uma discussatildeo polarizada entre os idealistas da livre informaccedilatildeo e os defensores irredutiacuteveis
do copyright sob a franca ineficiecircncia das tradicionais legislaccedilotildees de proteccedilatildeo
O hacker Richard Stallman fundador do Free Software Foundation (FSF) concebeu uma
estrateacutegia criativa para garantir que todas as variaccedilotildees dos programas originalmente criados
pelo seu projeto GNU prosseguissem o desenvolvimento em coacutedigo aberto Isso significa que
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nenhum programador pode registrar o copyright desses softwares e impedir que outros
usuaacuterios tenham acesso ao coacutedigo-fonte das modificaccedilotildees que porventura tenha efetuado
Esse recurso foi batizado como ldquocopyleftrdquo em uma paroacutedia que inverte para a esquerda o
sentido de direita do copyright
Nos uacuteltimos anos grupos artiacutesticos e intelectuais de tendecircncia anarquista tecircm defendido
que o conceito de copyleft surgido na informaacutetica pode ser adaptado ao universo da produccedilatildeo
cientiacutefica e da cultura de massa Os mais entusiastas chegam a argumentar que estamos sob
uma nova era de produccedilatildeo e consumo de informaccedilatildeo na qual os grandes conglomerados da
induacutestria cultural seratildeo derrubados para que possa emergir uma forma comunitaacuteria e aberta de
livre distribuiccedilatildeo de cultura Em outras palavras capaz de provocar uma pane no sistema
(sonho antigo dos anarquistas libertaacuterios) Entretanto antecedentes histoacutericos mostram que a
loacutegica e o pragmatismo capitalista sempre tiveram flexibilidade para adequar-se agraves novidades
tecnoloacutegicas e tirar proveito das crises com assombrosa eficiecircncia A pergunta eacute o copyleft
pode mesmo democratizar a informaccedilatildeo ou tende a ser inevitavelmente domado pelo
ldquosistemardquo Satildeo esses os assuntos expostos e discutidos neste artigo
O estudo direto dos projetos de Richard Stallman justificam-se por que a ele eacute atribuiacutedo a
criaccedilatildeo do proacuteprio conceito de copyleft Em relaccedilatildeo agrave transposiccedilatildeo do copyleft para a induacutestria
cultural a pesquisa foi delimitada a um manifesto do coletivo literaacuterio italiano WU MING
ldquoCopyright e maremotordquo primeiro por causa do histoacuterico de defesa do copyleft desse grupo
depois pelo farto material que o coletivo disponibiliza sobre o tema mas sobretudo devido ao
fenocircmeno de vendas do romance Q de Luther Blisset editado pela fundaccedilatildeo Wu Ming que
sob a bandeira do copyleft e ateacute mesmo do incentivo agrave livre reproduccedilatildeo jaacute vendeu mais de 2
milhotildees de coacutepias oficiais
A obra de Shapiro e Varian utilizada como base da contra-argumentaccedilatildeo foi escolhida por
um motivo muito simples os autores satildeo reverenciados pelos maiores lsquoinimigosrsquo de Stallman
como Jeff Bezos da Amazoncom aleacutem de representantes da Intel Novell e da Federal Trade
Commision entre outros1 Dessa forma acredita-se que foi possiacutevel reunir um razoaacutevel
contraponto de ideacuteias e buscar pontos de convergecircncia entre posiccedilotildees antagocircnicas Devido agraves
restriccedilotildees de espaccedilo deste artigo preferiu-se por natildeo abordar o problema da induacutestria
1 Na Quarta capa da ediccedilatildeo brasileira de A economia da informaccedilatildeo de Carl Shapiro e Hal R Varian o empresaacuterio Michael Dolbec vice-presidente da 3Com escreve ldquoLeia este livro para descobrir exatamente o que seus concorrentes estatildeo fazendo e como vocecirc poderaacute tirar o sono deles agrave medida que compete para o futurordquo A informaccedilatildeo eacute um grande negoacutecio
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fonograacutefica por tratar-se de uma questatildeo com complexidades proacuteprias devendo portanto ser
analisado agrave parte
Apesar de ser um conceito cunhado nos anos 80 satildeo raros os trabalhos em portuguecircs sobre
copyleft Este artigo esboccedila resultados de uma pesquisa ainda em andamento e visa contribuir
para suprir essa lacuna
Induacutestria de informaccedilatildeo
A discussatildeo sobre propriedade intelectual eacute uma das mais explosivas da economia do
conhecimento pois toca em um problema crucial na atualidade como determinar e garantir os
direitos autorais de uma ideacuteia de um produto imaterial Em um mercado sofisticado ao ponto
de ser capaz de comercializar bens simboacutelicos ainda natildeo se encontrou a foacutermula eficiente
para regulamentar a circulaccedilatildeo da mercadoria ldquoinformaccedilatildeordquo E essa economia parece deslizar
no seguinte paradoxo que cria uma curiosa situaccedilatildeo de interdependecircncia aparentemente
suicida agrave medida em que as empresas de softwares e equipamentos ndash aparelhos de som de
CDs de DVDs e Viacutedeos Cassetes equipamentos de reprografia induacutestria de informaacutetica etc
ndash lanccedilam produtos mais sofisticados capazes de gravar regravar ou copiar dados com
qualidade industrial os produtores de conteuacutedo perdem cada vez mais a capacidade de
recolher os direitos autorais sobre a reproduccedilatildeo de seus produtos intelectuais ldquoAs mesmas
corporaccedilotildees que vendem samplers fotocopiadoras scanners e masterizadores controlam a
induacutestria global do entretenimento e se descobrem prejudicadas pelo uso de tais
instrumentosrdquo (WU MING 2002 p5)
Shapiro e Varian (1999 p16) observam que na economia do conhecimento a informaccedilatildeo
eacute cara de produzir mas barata para reproduzir ndash filmes de 100 milhotildees de doacutelares por
exemplo podem ser reproduzidos em fitas que custam alguns centavos E evidentemente natildeo
haacute lei de patentes capaz de controlar essa dinacircmica Castells (1999 p51) afirma que uma das
principais caracteriacutesticas da sociedade em rede eacute justamente a capacidade de as pessoas
apropriarem-se criativamente dos novos meios ldquoAs novas tecnologias da informaccedilatildeo natildeo satildeo
simplesmente ferramentas a serem aplicadas mas processos a serem desenvolvidos Usuaacuterios
e criadores podem tornar-se a mesma coisa Dessa forma os usuaacuterios podem assumir o
controle da tecnologia como no caso da Internetrdquo
Essa dinacircmica remete agravequela das criaccedilotildees coletivas que marcaram e ainda caracterizam
sobretudo as culturas orais mas que apesar das restriccedilotildees de propriedade intelectual natildeo
deixam evidentemente de influenciar a cultura escrita Nas sociedades aacutegrafas um dos fatores
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que mais enriquecem os relatos populares eacute a diversidade das versotildees ou seja cada um que
ouve um caso apropria-se da estrutura narrativa e acrescenta elementos de seu universo
cultural ao contaacute-lo De boca a boca temperadas pelas sutilezas do cotidiano as histoacuterias
adquirem novos sabores e acabam por reunir os ingredientes mais significativos do imaginaacuterio
coletivo de uma eacutepoca
A antropologia ensina que o ser humano eacute o resultado do meio cultural em que foi
socializado Somos herdeiros de um longo processo acumulativo fundamentado no
conhecimento adquirido por geraccedilotildees de ancestrais Laraia (2001 p45-47) observa que eacute
justamente a manipulaccedilatildeo adequada e criativa desse patrimocircnio cultural que permite
inovaccedilotildees e invenccedilotildees que por sua vez natildeo satildeo produtos de accedilatildeo isolada de um gecircnio mas o
resultado de um esforccedilo comunitaacuterio Na histoacuteria temos incontaacuteveis casos de obras coletivas
como as lendas miacuteticas as canccedilotildees populares e mesmo o caso da Iliacuteada atribuiacuteda a Homero
mas que hoje acredita-se tratar de uma reuniatildeo de narrativas correntes da tradiccedilatildeo oral
claacutessica Assim Laraia defende a hipoacutetese que se Albert Einstein por exemplo natildeo tivesse
desenvolvido suas teorias algueacutem o faria mais cedo ou mais tarde pois outros cientistas
ldquodiante de um mesmo material culturalrdquo estariam aptos para utilizar os mesmos
conhecimentos e chegar aos mesmos resultados
Aiacute estaacute uma boa questatildeo Estariam os segredos de patentes impedindo o surgimento de
novos Einsteins Laraia (2001 p46) observa que natildeo basta a natureza criar indiviacuteduos
altamente inteligentes pois isto ela jaacute faz com frequumlecircncia mas ldquoeacute necessaacuterio que coloque ao
alcance desses indiviacuteduos o material que lhes permita exercer a sua criatividade de uma
maneira revolucionaacuteriardquo Dessa forma sentimo-nos agrave vontade para afirmar que sim sem
circulaccedilatildeo efetiva de conhecimento sobretudo devido agraves restriccedilotildees econocircmicas gecircnios
potenciais satildeo prodigamente desperdiccedilados
Mas como a nova economia estruturou a informaccedilatildeo como um produto agrave venda a equaccedilatildeo
natildeo fecha Em relaccedilatildeo a Internet proprietaacuterios de direitos autorais natildeo conseguem encontrar
soluccedilotildees para essa inquietante ambivalecircncia Por um lado a rede eacute um recurso fabuloso de
divulgaccedilatildeo e um potencial ineacutedito de distribuiccedilatildeo de conteuacutedo Por outro muitos empresaacuterios
ainda mantecircm forte resistecircncia por consideraacute-la um instrumento que soacute favorece a livre e
infinita pirataria
Nesse turbulento contexto surge da informaacutetica a ideacuteia de copyleft um novo conceito que
ainda natildeo eacute reconhecido em convenccedilotildees internacionais mas que vem adquirindo popularidade
e legitimidade sobretudo na Internet ao mesmo tempo que parece ameaccedilar negociantes de
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conteuacutedos A criaccedilatildeo deste termo eacute atribuiacuteda a Richard Stallman um ativista da primeira
geraccedilatildeo de hackers da Universidade de Harvard e do MIT Artificial Intelligence Lab
(Laboratoacuterio de Inteligecircncia Artificial do Instituto de Tecnologia de Massachusetts) nos anos
1970 Em janeiro de 1984 Stallman abandonou o MIT para dedicar-se ao projeto GNU ndash uma
paroacutedia metalinguumliacutestica e tautoloacutegica a sigla GNU significa Gnu is Not Unix (Gnu Natildeo eacute
Unix) Em 1985 fundou a Free Software Foundation (FSF)
Copyleft eacute um trocadilho de traduccedilatildeo literal impossiacutevel No primeiro momento em uma
inversatildeo do copyright (direitos de reproduccedilatildeo) o novo termo substitui o ldquorightrdquo pelo ldquoleftrdquo
direita por esquerda em inglecircs ndash naturalmente uma alusatildeo agrave ideologia poliacutetica agrave esquerda
historicamente envolvida nos esforccedilos de democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo Mas ldquoleftrdquo eacute
tambeacutem um modo verbal que se refere ao ldquosimple pastrdquo (passado perfeito) do verbo ldquoleaverdquo
que significa ldquopermitir deixarrdquo Neste segunda leitura poderiacuteamos traduzir copyleft por algo
como ldquocoacutepia permitidardquo Junto a esse conceito foi criado para parodiar o slogan ldquoAll rights
reservedrdquo (Todos os direitos reservados) a foacutermula ldquoAll rights reversedrdquo (Todos os direitos
invertidos) Mas para compreender as sutilezas do copyleft eacute necessaacuterio compreender os
fundamentos do projeto GNU
GNU is Not Unix
O GNU foi idealizado em 1983 e lanccedilado no ano seguinte com o objetivo de desenvolver
um sistema operacional completo e tatildeo eficiente quanto o Unix A diferenccedila eacute que ao
contraacuterio deste uacuteltimo que eacute um sistema fechado e exige pagamento pela licenccedila de uso o
GNU eacute um sistema aberto e oferece livre acesso para os usuaacuterios ndash ou seja pode ser instalado
modificado e copiado gratuitamente De acordo com informaccedilotildees no site do projeto diversas
variaccedilotildees do sistema GNU que utilizam o nuacutecleo Linux satildeo hoje largamente utilizadas
(estima-se que aproximadamente 20 milhotildees de usuaacuterios tecircm acesso ao programa) Apesar de
serem normalmente chamados apenas de Linux o popular sistema operacional gratuito criado
por Linus Torvalds na verdade trata-se de variaccedilotildees de sistemas GNULinux ldquoO Software
Livre eacute uma questatildeo de liberdade as pessoas devem ser livres para usar o software de todas as
maneiras que sejam socialmente uacuteteis2rdquo
Na concepccedilatildeo dos criadores do GNU a palavra livre (free no original) estaacute relacionada
com liberdade em vez de preccedilo Isso quer dizer que o usuaacuterio pode ou natildeo pagar um preccedilo
2 Traduzida por Pedro Oliveira e revisada por Miguel Oliveira em abril de 2000 Atualizada por Fernando Lozano Disponiacutevem el lthttpwwwgnuorgphilosophyphilosophypthtmlAbouttheGNUprojectgt Acesso em 27 fev 2004
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para obter o software GNU Informaccedilotildees no site oficial esclarecem que esse programa
possibilita trecircs liberdades especiacuteficas de utilizaccedilatildeo
Primeiro a liberdade de copiar o programa e da-lo (sic) para seus amigos e colegas de trabalho
Segundo a liberdade de modificar o programa de acordo com os seus desejos por ter acesso
completo agraves fontes Terceiro a liberdade de distribuir versotildees modificadas e assim ajudar a
construir a comunidade (Se vocecirc redistribui software GNU vocecirc pode cobrar pelo ato de
transferir uma coacutepia ou vocecirc pode dar coacutepias de graccedila)3
A ideacuteia ainda segundo os criadores eacute ldquotrazer de volta o espiacuterito cooperativo que prevalecia
na comunidade de informaacutetica nos seus primoacuterdiosrdquo removendo obstaacuteculos impostos pelos
proprietaacuterios do software e tornando possiacutevel a cooperaccedilatildeo entre programadores
Todo usuaacuterio de computador precisa necessariamente de um Sistema Operacional
(Operating System) como o Windows o Mac ou o Unix para citar os mais populares entre o
puacuteblico natildeo especializado Sem um sistema operacional livre natildeo eacute possiacutevel nem mesmo
iniciar um computador sem pagar pela licenccedila de uso do software (a natildeo ser que se use
versotildees piratas e portanto ilegais) Assim para o GNU o primeiro item na agenda do
software livre eacute o estabelecimento de um sistema operacional livre
A Free Software Foundation (FSF) fundada por Richard Stallman manteacutem desde 1999 o
projeto Free Software Directory (FSD) Em um site da web a fundaccedilatildeo deixa agrave disposiccedilatildeo
para download softwares livres que funcionam em sistemas operacionais abertos sobretudo
nas variaccedilotildees GNULinux Desde abril de 2003 o projeto conta com o apoio da Unesco
Quase tudo em copyleft
Haacute nesse conceito uma caracteriacutestica chave que o diferencia definitivamente da ideacuteia de
ldquodomiacutenio puacuteblicordquo De fato o modo mais simples de estabelecer um software-livre eacute colocaacute-
lo sob domiacutenio puacuteblico ou seja abrir matildeo por completo do copyright No entanto se por um
lado permite que os usuaacuterios compartilhem livremente o programa original essa licenccedila
aberta deixa uma brecha Ela natildeo impede por exemplo que empresas natildeo-cooperativas ao
fazer poucas modificaccedilotildees no programa registrem o copyright e detentoras dos direitos
autorais comercializem com exclusividade o ldquonovordquo software com coacutedigo fechado
Assim em vez de colocar os programas do GNU em domiacutenio puacuteblico o projeto
desenvolveu esse artifiacutecio O copyleft impotildee que qualquer usuaacuterio que redistribua o programa
3 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggnugnu-historypthtmlgt Acesso em 27 fev 2004
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com ou sem modificaccedilotildees deve necessariamente passar adiante as liberdades de fazer novas
coacutepias e modificaacute-las Em outras palavras torna ilegal a comercializaccedilatildeo da versatildeo melhorada
em coacutedigo fechado
A estrateacutegia dessa licenccedila eacute engenhosa Para distribuir programa em copyleft primeiro o
GNU esclarece que ele estaacute protegido sob copyright Em seguida nos termos de distribuiccedilatildeo ndash
o instrumento legal que concede o direito de uso ndash registra que o usuaacuterio pode modificar e
redistribuir o coacutedigo-fonte do programa (ou qualquer outro programa derivado dele) mas
somente se todos os termos de distribuiccedilatildeo permanecerem inalterados ndash leia-se se for
mantido o coacutedigo aberto Aleacutem disso a FSF estabelece que cada autor de coacutedigo incorporado
a softwares da fundaccedilatildeo ceda seus direitos de copyright ldquoDeste modo noacutes podemos ter
certeza de que todo o coacutedigo em projetos da FSF eacute coacutedigo livre cuja liberdade noacutes podemos
proteger de maneira efetiva e na qual outros desenvolvedores possam confiar plenamente4rdquo
Assim o coacutedigo e as liberdades se tornam legalmente inseparaacuteveis A grosso modo satildeo essas
as bases da General Public License (Licenccedila Puacuteblica Geral) do GNU comumente chamada
de GNU GPL
O trecho a seguir do coletivo literaacuterio Wu Ming explica com a insolecircncia tiacutepica de grupos
anarquistas como essa estrateacutegia funciona na praacutetica
Se o software livre tivesse permanecido simplesmente em domiacutenio puacuteblico cedo ou tarde
os rapaces da induacutestria o teriam colocado sob suas garras A soluccedilatildeo foi virar o copyright pelo
avesso para transformaacute-lo de obstaacuteculo agrave livre reproduccedilatildeo em suprema garantia desta uacuteltima
Em poucas palavras ponho o copyright uma vez que sou proprietaacuterio desta obra portanto
aproveito deste poder para dizer que com esta obra vocecirc pode fazer o que quiser pode copiaacute-la
difundi-la modificaacute-la mas natildeo pode impedir outro de fazecirc-lo isto eacute natildeo pode apropriar-se
dela e impedir sua circulaccedilatildeo natildeo pode colocar nela um copyright seu porque ela jaacute tem um
me pertence e eu te enrabo (WU MING 1 2003)
ldquoAteacute onde o software livre pode irrdquo perguntam os criadores do GNU ldquoNatildeo haacute limites
exceto quando leis como o sistema de patentes proiacutebem o software livre completamente O
objetivo final eacute fornecer software livre para realizar todas as tarefas que os usuaacuterios de
computadores querem realizar -- e assim tornar o software proprietaacuterio obsoletordquo5
4 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorglicenseswhy-assignpthtmlgt Acesso em 27 fev 2004 5 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggnugnu-historypthtmlgt Acesso em 27 fev 2004
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Do universo da informaacutetica o copyleft invadiu outras aacutereas do conhecimento Em artigo
publicado na revista Nature o proacuteprio Richard Stallman defende que a ciecircncia deve deixar o
copyright de lado
Deveria ser naturalmente oacutebvio que a literatura cientiacutefica existe para disseminar o
conhecimento cientiacutefico e que as publicaccedilotildees cientiacuteficas existem para facilitar o processo (hellip)
[Entretanto] muitos editores de publicaccedilotildees parecem acreditar que o propoacutesito da literatura
cientiacutefica eacute permitir a eles publicar perioacutedicos para nada mais do que angariar assinaturas de
cientistas e estudantes Tal pensamento eacute conhecido como lsquoconfusatildeo dos meios com os finsrsquo
(STALLMAN 2001)6
Para Stallman o copyright foi estabelecido para satisfazer demandas de proteccedilatildeo proacuteprias
das publicaccedilotildees impressas mas natildeo tem mais sentido na era da comunicaccedilatildeo eletrocircnica
(voltaremos a essa argumentaccedilatildeo adiante) A pergunta que faz eacute ldquoquais regras garantiriam a
maacutexima disseminaccedilatildeo de artigos cientiacuteficos e conhecimento na Webrdquo Ele defende que
textos cientiacuteficos deveriam ser distribuiacutedos livremente com acesso aberto para todos E nas
paacuteginas da Internet todos deveriam ter o direito de ldquoespelharrdquo artigos isto eacute republicaacute-los
literalmente em seus proacuteprios sites com as devidas referecircncias
Editores de perioacutedicos costumam reclamar que a infra-estrutura on-line requer cariacutessimos
servidores de alta potecircncia e entatildeo precisam cobrar taxas de acesso para pagar os custos Para
Stallman este lsquoproblemarsquo eacute uma consequumlecircncia da proacutepria lsquosoluccedilatildeorsquo que os editores adotam
ldquoDecirc a todo mundo a liberdade de espelhar e bibliotecas ao redor do planeta vatildeo instalar sites
espelho para responder agrave demandardquo Essa distribuiccedilatildeo descentralizada certamente reduziria as
necessidades individuais de expandir a largura da banda da rede para responder ao traacutefego
possibilitaria portanto acesso mais raacutepido aleacutem da vantagem de proteger os trabalhos
acadecircmicos contra perdas acidentais
Mas como financiar as publicaccedilotildees O custo da ediccedilatildeo (mesmo no caso de impressos
atreveriacuteamos a acrescentar) poderia ser recuperado sugere Stallman atraveacutes de uma taxa por
paacutegina cobrada dos autores que por sua vez poderiam passar os custos para os financiadores
da pesquisa O autor ocasional que natildeo eacute afiliado a uma instituiccedilatildeo e que natildeo tem nenhum
oacutergatildeo financiador seria eximido de pagar as taxas e os custos computados a outros autores
ligados agrave instituiccedilotildees de fomento agrave pesquisa
6 Traduccedilatildeo livre
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ldquoA Constituiccedilatildeo Americana diz que o copyright existe lsquopara promover o progresso da
ciecircnciarsquo Quando o copyright impede o progresso da ciecircncia a Ciecircncia precisa deixar o
copyright de ladordquo conclui Stallman (2001)
Copyright e maremoto
Da ciecircncia o conceito passou a referir-se a fenocircmenos da cultura
Atualmente existe um amplo movimento de protesto e transformaccedilatildeo social em grande
parte do planeta Ele possui um potencial enorme mas ainda natildeo estaacute completamente
consciente disso Embora sua origem seja antiga soacute se manifestou recentemente aparecendo
em vaacuterias ocasiotildees sob os refletores da miacutedia poreacutem trabalhando dia a dia longe deles Eacute
formado por multidotildees e singularidades por retiacuteculas capilares no territoacuterio Cavalga as mais
recentes inovaccedilotildees tecnoloacutegicas As definiccedilotildees cunhadas por seus adversaacuterios ficam-lhe
pequenas Logo seraacute impossiacutevel paraacute-lo e a repressatildeo nada poderaacute contra ele
Eacute aquilo que o poder econocircmico chama ldquopiratariardquo (WU MING 1 2002 p3)7
Esta eacute a introduccedilatildeo do manifesto Copyright e maremoto do coletivo literaacuterio italiano Wu
Ming (que significa em chinecircs Natildeo-famoso ou Anocircnimo) O texto argumenta que durante
milecircnios a civilizaccedilatildeo humana prescindiu do copyright do mesmo modo que prescindiu de
ldquooutros falsos axiomas parecidos como a lsquocentralidade do mercadorsquo ou o lsquocrescimento
ilimitadorsquordquo Afirma que se a propriedade intelectual tivesse surgido na antiguumlidade a
humanidade natildeo teria a Biacuteblia o Coratildeo Gilgamesh o Mahabarata a Iliacuteada a Odisseacuteia e todas
as narrativas surgidas de um amplo e feacutertil processo de mistura combinaccedilatildeo re-escritura e
transformaccedilatildeo ndash ou seja tudo aquilo que muitos chamam de plaacutegio
O manifesto celebra o fato de que a cada dia na era digital milhotildees de pessoas violam e
rechaccedilam continuamente o copyright Essa subversatildeo eacute feita quando copiamos muacutesica em
formato MP3 na Internet quando distribuiacutemos informaccedilatildeo pela rede e quando reproduzimos
livremente conteuacutedos que nos interessam usufruindo de tecnologias que suprimem a distinccedilatildeo
entre original e coacutepia ldquoNatildeo estamos falando da lsquopiratariarsquo gerida pelo crime organizado
divisatildeo extralegal do capitalismo natildeo menos deslocada e ofegante do que a legal pela
extensatildeo da lsquopiratariarsquo autogestionada e de massasrdquo prossegue o manifesto Para Wu Ming 1
a democratizaccedilatildeo geral do acesso agraves artes tem a ver com o rompimento de barreiras sociais
ldquo(hellip) devo fornecer algum dado sobre o preccedilo dos CDsrdquo (idem p4)
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Assim entusiasticamente argumenta que esse processo estaacute mudando o aspecto da
induacutestria cultural mundial ao inaugurar uma nova fase da cultura onde leis mais duras jamais
seratildeo suficientes para deter uma dinacircmica social jaacute iniciada e envolvente Essa movimentaccedilatildeo
estaria rumando a um ponto em que seriam superadas todas legislaccedilotildees sobre propriedade
intelectual para que fossem totalmente reescritas
O copyleft eacute entatildeo saudado como uma inovaccedilatildeo juriacutedica vinda de baixo que superou a
lsquopiratariarsquo ao enfatizar a forccedila construtiva (pars construens) do movimento real Para o
manifesto com aquela estrateacutegia do copyleft (explicitada neste artigo na discussatildeo sobre o
GNU) as leis vigentes do copyright8 estatildeo sendo pervertidas em relaccedilatildeo a sua funccedilatildeo original
e em vez de oferecer obstaacuteculos se converte em garantia de livre circulaccedilatildeo
Para servir de exemplo praacutetico todos os livros editados pelo coletivo Wu Ming contam
com a seguinte locuccedilatildeo ldquoPermitida a reproduccedilatildeo parcial ou total da obra e sua difusatildeo por via
telemaacutetica para uso pessoal dos leitores sob condiccedilatildeo de que natildeo seja com fins comerciaisrdquo
(idem p6) Rogeacuterio de Campos diretor editorial da Conrad editora da coleccedilatildeo Baderna
afirmou em entrevista agrave Folha de S Paulo que soacute conseguiu negociar os direitos de
reproduccedilatildeo do romance Q do autor Luther Blisset (pseudocircnimo de autores coletivos ligados
ao Wu Ming) depois de admitir uma claacuteusula que obriga a editora a ldquoprocessar qualquer um
que impeccedila a livre reproduccedilatildeo da obrardquo (ASSIS 2002)
As leis vigentes sobre o copyright ainda ignoram completamente o recurso ao copyleft De
acordo com o texto do manifesto em diversos encontros com deputados italianos os
produtores de software livre foram comparados pura e simplesmente aos ldquopiratasrdquo Isso faz
lembrar uma declaraccedilatildeo Richard Stallman em entrevista agrave Folha de S Paulo ldquoNatildeo faz sentido
sermos comparados a pessoas que atacavam navios e matam soacute porque compartilhamos
informaccedilatildeo puacuteblica com o vizinhordquo (MAISONNAVE LOUZANO 2000)
A segunda parte do livreto Copyright e maremoto conta com trechos de uma entrevista
feita com o grupo Neste pequeno diaacutelogo eles expotildeem com paixatildeo e fuacuteria seus atrevimentos
culturais sem receio de exageros retoacutericos entusiasmados ldquoSim noacutes afirmamos que a cultura
popular ocidental do seacuteculo XX (hellip) estava muitas vezes mais proacutexima do socialismo do que
os regimes lsquosocialistasrsquo orientais do seacuteculo XX conseguiram estarrdquo Para eles a seacuterie de
imagens de Mao Tse Tung serigrafadas por Andy Warhol foi mais importante para os
fundamentos da Revoluccedilatildeo do que os retratos oficiais do Grande Timoneiro agitados em
7 Esse manifesto foi escrito por Roberto Bui que publicamente identifica-se como Wu Ming 1 8 As atuais leis de copyright foram padronizadas na Convenccedilatildeo de Berna em 1971
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manifestaccedilotildees maoiacutestas ldquoO socialismo deve ser baseado na natureza coletiva da produccedilatildeo
capitalistardquo Ao contraacuterio do pessimismo de Adorno em relaccedilatildeo agrave induacutestria cultural e da
lsquoobsessatildeorsquo dos situacionaistas com o lsquoespetaacuteculorsquo o manifesto prega que a produccedilatildeo da
cultura pop no seacuteculo passado foi um processo socialista coletivo aberto mutante e
constantemente entrelaccedilado por inuacutemeras subculturas graccedilas agrave esfuziante habilidade das
multidotildees na reapropriaccedilatildeo ou ldquode-propriaccedilatildeordquo dessa cultura via pirataria de CDs violaccedilatildeo
de DVDs troca de arquivos em rede etc ldquoAs instituiccedilotildees da propriedade intelectual estatildeo
caindo aos pedaccedilos as pessoas estatildeo detonando-as Eacute um maravilhoso processo popular e
estaacute mais proacuteximo do socialismo do que a China jamais esteverdquo (WU MING 1 2002 p7-8)
Surge enfim a questatildeo da remuneraccedilatildeo dos autores O trabalho intelectual eacute um serviccedilo
pesado Exige um alto investimento em estudo em tempo e evidentemente deve ser
remunerado Assim a pergunda natural eacute o copyright natildeo eacute essencial para a sobrevivecircncia do
autor
Se um sujeito natildeo tem dinheiro para comprar qualquer um dos livros editados pela Wu
Ming Foundation pode tranquumlilamente fotocopiaacute-lo digitalizaacute-lo em scanner ou entatildeo a
soluccedilatildeo mais cocircmoda fazer o download gratuito da obra integral no site oficial
wwwwumingfoundationorg em um computador puacuteblico em alguma universidade ou
biblioteca As reproduccedilotildees que natildeo visam lucro satildeo automaticamente autorizadas Mas se um
editor estrangeiro quer comercializar uma de suas obras em outro paiacutes neste caso a utilizaccedilatildeo
evidentemente visa lucro e portanto essa empresa deve pagar por isso
Na verdade o Wu Ming apenas admitiu uma evidecircncia expliacutecita ningueacutem deixa de copiar
uma obra porque no rodapeacute haacute uma frase que diz lsquotodos os direitos satildeo reservados e
protegidos pela Lei 5988 de 141273 Nenhuma parte deste livro sem autorizaccedilatildeo preacutevia
por escrito da editora poderaacute ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios
empregados etchelliprsquo Quando o copyright foi introduzido9 concomitante ao desenvolvimento
da imprensa haacute trecircs seacuteculos natildeo havia possibilidade de lsquocoacutepia privadarsquo ou lsquoreproduccedilatildeo sem
fins de lucrorsquo porque soacute empresaacuterios editores tinham acesso agraves maacutequinas tipograacuteficas
Portanto em suas origens o copyright natildeo era percebido como lsquoanti-socialrsquo mas era uma
arma de um empresaacuterio contra o outro natildeo de um empresaacuterio contra o puacuteblico Mas com a
revoluccedilatildeo da informaacutetica e das comunicaccedilotildees o puacuteblico tem acesso agraves tecnologias de
9 A primeila lei de copyright surgiu na Inglaterra em 1710 mas foi desenvolvida a seguir nos EUA
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reproduccedilatildeo Dessa forma o copyright tornou-se na visatildeo do Wu Ming ldquouma arma que
dispara na multidatildeordquo10 (WU MING 1 2003) ndash mas sem muito efeito poderiacuteamos acrescentar
Nesse contexto observando sua proacutepria experiecircncia editorial esse coletivo literaacuterio
percebeu um fenocircmeno curioso e aparentemente paradoxal natildeo haacute relaccedilatildeo direta entre
ldquocoacutepias oficiais natildeo vendidasrdquo e ldquocoacutepias pirateadasrdquo Em outras palavras as coacutepias natildeo
influenciam na vendagem das obras ldquoEm realidade editorialmente quanto mais uma obra
circula mais venderdquo Ou seja quanto mais democratizada maiores os lucros O exemplo
paradigmaacutetico eacute a obra Q de Luther Blisset editado por eles que vendeu mais de 2 milhotildees
de coacutepias apesar de ndash ou melhor justamente devido ao copyleft O sujeito copia o livro seja
porque natildeo tem dinheiro seja porque natildeo quer comprar lsquono escurorsquo e gosta do que leu
Decide indicar ou mesmo dar de presente a algueacutem mas natildeo quer dar uma coacutepia qualquer
Pronto compra o livro A pessoa presenteada tambeacutem gosta e passa a indicar ou presentear
outras com o mesmo livro Uma coacutepia dois ou trecircs livros vendidos Simples assim
Para o Wu Ming se a maioria dos editores natildeo perceberam essa dinacircmica foi mais por
questatildeo ideoloacutegica que mercadoloacutegica ldquoA editoraccedilatildeo natildeo estaacute em risco de extinccedilatildeo como a
induacutestria fonograacutefica a loacutegica eacute outra outros os suportes outros os circuitos outro o modo de
fruiccedilatildeo e sobretudo a editoraccedilatildeo natildeo perdeu ainda a cabeccedila natildeo reagiu com retaliaccedilotildees em
massa denuacutencias e processos agrave grande revoluccedilatildeo tecnoloacutegica que democratiza o acesso aos
meios de reproduccedilatildeordquo (WU MING 2003)
A estrateacutegia da induacutestria
Seraacute que estamos mesmo prestes a assistir ao desmoronamento da induacutestria cultural Seraacute
que os legisladores precisaratildeo reescrever todas as regras de direitos autorais para responder ao
novo momento tecnoloacutegico-cultural do seacuteculo XXI Shapiro e Varian (1999 p103)
argumentam que natildeo Na verdade eles defendem que muitos princiacutepios claacutessicos da economia
ainda satildeo perfeitamente vaacutelidos para essas situaccedilotildees ldquoO que mudou eacute que a Internet e a
tecnologia da informaccedilatildeo em geral oferecem oportunidades e desafios novos para a aplicaccedilatildeo
desses princiacutepiosrdquo Assim acreditam que os donos de propriedade intelectual seratildeo
naturalmente capazes de superar as lsquoameaccedilasrsquo da reproduccedilatildeo digital atraveacutes de estrateacutegias
semelhantes as quais superaram os desafios provocados pela tecnologia no passado ldquoAs
10 A Disney chegou a levar vaacuterias creches americanas aos tribunais por exibirem desenhos animados em viacutedeo sem licenccedila formal Na deacutecada de 90 a empresa ameaccedilou processar trecircs creches da Floacuterida que haviam pintado personagens da Disney em suas paredes (SHAPIRO VARIAN 1999 p109)
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novas oportunidades oferecidas pela reproduccedilatildeo digital excedem em muito os problemasrdquo
(SHAPIRO VARIAN 1999 p104)
Todas as facilidades da tecnologia digital satildeo elencadas para dar suporte ao otimismo dos
autores sobretudo os baixos custos de reproduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo ldquoNatildeo lute contra os custos
de distribuiccedilatildeo mais baixosrdquo aconselham ldquotire vantagem delesrdquo Para isso eacute preciso que
negociantes saibam lidar com o que os economistas chamam de ldquobem da experiecircnciardquo
O objeto de consumo eacute chamado de ldquobem da experiecircnciardquo (idem p18) quando os
fregueses precisam experimentar o produto antes de atribuir-lhes valor Qualquer novidade no
mercado eacute potencialmente um bem da experiecircncia e os publicitaacuterios contam com meacutetodos
claacutessicos de propaganda nesses casos promoccedilatildeo atraveacutes de reduccedilatildeo comparativa de preccedilo
depoimentos de famosos e anocircnimos e a infaliacutevel distribuiccedilatildeo de amostras graacutetis de pequenas
quantidades do produto a ser anunciado Eis mais uma pista Voltaremos a ela adiante
A induacutestria da informaccedilatildeo tecircm tambeacutem seus meacutetodos claacutessicos para fazer com que os
consumidores comprem o bem simboacutelico antes de ter certeza se o que estatildeo adquirindo vale o
preccedilo que pagam antecipadamente Primeiramente da mesma forma que em supermercados eacute
possiacutevel bebericar gratuitamente uma nova marca de iogurte em promoccedilotildees de lanccedilamento
existem formas de experimentar o ldquogostinhordquo do produto cultural Eacute possiacutevel ler as manchetes
de capa do jornal o trailer do filme etc Evidentemente isso eacute apenas uma parte da histoacuteria
Os produtos de sucesso superam o problema do ldquobem da experiecircnciardquo por meio da promoccedilatildeo
de sua ldquomarcardquo e sua ldquoreputaccedilatildeordquo Mas natildeo pretendemos entrar nessa discussatildeo pois natildeo cabe
na abordagem que restringe este artigo
Pois bem as grandes lojas de livros tornaram o ato de folhear mais confortaacutevel oferecendo
poltronas aacutereas abertas e cafeacutes porque haacute tempos jaacute sabem que essa estrateacutegia empresarial
impulsiona a venda de livros Ao lsquooferecerem gratuitamentersquo parte de seu produto elas
acabam ganhando muito mais dinheiro Nessa perspectiva a Internet eacute vista por Shapiro e
Varian (1999 p106) como ldquoum modo maravilhoso de oferecer amostras graacutetis do conteuacutedo
da informaccedilatildeordquo E enquanto especialistas discutem a maneira mais adequada de propaganda
na Web Shapiro e varian satildeo categoacutericos a Internet eacute ideal para ldquoinfomerciais11rdquo ou seja
estrateacutegia que fisga o leitor atraveacutes do oferecimento do proacuteprio conteuacutedo Mas a duacutevida eacute
como vatildeo ganhar dinheiro se simplesmente doarem seu produto A resposta dos autores eacute
11 ldquoComerciais de longa duraccedilatildeo que aleacutem de explicar em detalhes as caracteriacuterticas (hellip) do produto transmitem ainda depoimentos de usuaacuterios e outras informaccedilotildees pertinentes ao bem ou serviccedilo anunciadordquo (SHAPIRO VARIAN 1999 p106)
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doe somente parte de seu produto Eacute o princiacutepio claacutessico da amostra graacutetis mas com a
vantagem do insignificante custo de distribuiccedilatildeo ldquoO truque eacute dividir seu produto em
componentes dos quais alguns vocecirc daacute outros vocecirc vende As partes doadas satildeo os anuacutencios
ndash os infomerciais ndash das partes que vocecirc venderdquo
Os autores partem de um princiacutepio ergonocircmico para fundamentar suas hipoacuteteses hoje e
provavelmente por um bom tempo ningueacutem consegue ler um livro ou ateacute mesmo um artigo
de revista muito extenso com os olhos fixos em um monitor Eacute simplesmente muito
cansativo Segundo Shapiro e Varian pesquisas mostram que os usuaacuterios da web em geral
lecircem apenas duas telas de conteuacutedo antes de clicarem para sair Dessa forma o deconforto
associado agrave leitura direta em monitores sugere que a empresa pode colocar grandes
quantidades de conteuacutedo on-line sem que isso prejudique as vendas de coacutepias impressas12
Eacute claro que se a versatildeo na Web for faacutecil de imprimir podemos supor que o usuaacuterios
estaratildeo tentados a fazecirc-lo Mas haacute uma estrateacutegia muito simples para tornar a impressatildeo
caseira um ato trabalhoso e desconfortaacutevel ldquoA melhor coisa a fazerrdquo escrevem ldquoeacute tornar a
versatildeo on-line faacutecil de folherar ndash muitas telas curtas muitos links ndash mas difiacutecil de imprimir
em sua totalidaderdquo
Natildeo eacute difiacutecil perceber que ateacute esse momento com palavras e propoacutesitos diferentes
Shapiro e Varian disseram as mesmas coisas que o coletivo Wu Ming em relaccedilatildeo ao negoacutecio
editorial As divergecircncias satildeo ideoloacutegicas pois os primeiros admitem como um verdadeiro
problema o ldquocontrabando de bitsrdquoe a ldquopirataria digitalrdquo dizendo ldquoTudo de que se precisa eacute
que haja vontade poliacutetica para defender os direitos de propriedade intelectualrdquo (idem p114)
Mas na verdade os autores consideram que os proprietaacuterios dos conteuacutedos satildeo
excessivamente conservadores a respeito de gestatildeo de suas propriedades intelectuais Eles
observam que tradicionalmente toda nova tecnologia de reproduccedilatildeo produz previsotildees
catastroacuteficas no mercado Para eles a histoacuteria da veiculaccedilatildeo dos filmes em viacutedeo eacute um caso
exemplar
Hollywood ficou petrificada com o advento dos gravadores de videocassete O setor de
televisatildeo deu entrada em processos para impedir a coacutepia domeacutestica de programas de TV e a
Disney tentou distinguir as compras dos alugueacuteis de viacutedeo por meio de arranjos de
licenciamento Todas essas tentativas fracassaram Ironicamente Hollywood ganha hoje mais
com os viacutedeos do que com as apresentaccedilotildees em cinemas na maioria das produccedilotildees O mercado
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de vendas e de aluguel de viacutedeos antes tatildeo temido tornou-se uma imensa fonte de receita para
Hollywood (SHAPIRO VARIAN 1999 p17)
As proacuteprias bibliotecas satildeo um exemplo de uma inovaccedilatildeo que primeiro pareceu ameaccedilar o
setor editorial mas acabou por ampliaacute-lo imensamente (idem p115) A loacutegica eacute simples o
acesso agrave obras gratuitas forma o gosto de leitores que mais tarde compraratildeo livros Shapiro e
Varian percebem que perante os desafios da era digital haacute uma tendecircncia natural para que os
produtores se preocupem demais em lsquoprotegerrsquo sua propriedade intelectual Mas para eles o
importante eacute lsquomaximizarrsquo o valor da propriedade intelectual natildeo protegecirc-la pela pura
proteccedilatildeo ldquoSe vocecirc perde um pouco de sua propriedade quando a vende ou aluga esses eacute
apenas um dos custos de fazer negoacutecios juntamente com a depreciaccedilatildeo as perdas de estoque
e a obsolecircnciardquo
Ao mesmo tempo sabenos que existem muitos outros recursos para motivar a compra do
consumidor mesmo quando se tratam de bens culturais Moles (1974) ensina que o
mecanismo baacutesico da publicidade consiste em acrescentar um valor psicoloacutegico ao valor
propriamente utilitaacuterio do produto explorando portanto as emoccedilotildees secundaacuterias do
consumidor A publicidade alimenta artificialmente um desejo e sobretudo atraveacutes da
repeticcedilatildeo pelos meios de comunicaccedilatildeo primeiro convence que essa vontade eacute uma
necessidade essencial e depois promete satisfazecirc-la atraveacutes dos valores associados ao objeto
de consumo Na verdade natildeo satildeo vendidos produtos mas status social estilos sensaccedilotildees
impressotildees Isso quer dizer que os anuacutencios publicitaacuterios natildeo oferecem sabonetes mas
possibilidade de beleza natildeo anunciam automoacuteveis mas o prazer da velocidade e de poder
natildeo querem vender cigarro mas sentimento de juventude e de liberdade Em outras palavras
a publicidade complica a vida para oferecer a possibilidade de resolvecirc-la por meio do
consumo Assim podemos dizer que o mercado da cultura tambeacutem vive da venda de status
de prestiacutegio intelectual e natildeo apenas de conhecimento Basta pensar em quantos livros
compramos por lsquoimpulsorsquo mesmo sabendo que talvez nunca o leremos Ou quantos CDs
adquirimos para ouviacute-los algumas poucas vezes e guardaacute-los na estante Ou quantas fitas de
viacutedeo ou DVDs de filmes que jaacute vimos noacutes compramos para guardar mas nunca assistimos
porque estamos sempre alugando outros filmes
12 ldquoA Nacional Academy os Science Press pocircs on-line mais de mil de seus livros e descobriu que a disponibilidade das versotildees eletrocircnicas impulsionou as vendas de coacutepias impressas em duas a trecircs vezesrdquo (idem p107)
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Mas haacute um outro movimento juriacutedico contemporacircneo que parece ter o potencial de
provocar uma discussatildeo sobretudo filosoacutefica na economia da cultura no capitalismo do seacuteculo
XXI O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio
Vargas no Rio de Janeiro cujo objetivo eacute estudar implicaccedilotildees juriacutedicas sociais e culturais do
avanccedilo da tecnologia da informaccedilatildeo vem desenvolvendo estudos importantes nas aacutereas de
propriedade intelectual software livre governanccedila da web e privacidade na Internet O CTS eacute
o oacutergatildeo responsaacutevel pela direccedilatildeo no Brasil do projeto Creative Commons uma iniciativa
criada por Lawrence Lessig na Universidade de Stanford (EUA) O CTS adaptou as licenccedilas
do Creative Commons para o ordenamento juriacutedico brasileiro e fez com que o Brasil se
tornasse pioneiro no desenvolvimento de licenccedilas CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL
atualmente utilizadas pelo governo para o licenciamento de software livre
Uma das principais caracteriacutesticas do direito autoral claacutessico eacute que ele funciona como um
grande NAtildeO Isto quer dizer que para utilizar qualquer conteuacutedo eacute necessaacuterio pedir permissatildeo ao seu autor ou titular de direitos No sistema juriacutedico da propriedade intelectual adotado no Brasil ateacute mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jaacute nascem com todos os direitos reservados
Apesar disto muitos autores e titulares de direitos natildeo se importam que outras pessoas tenham acesso aos seus trabalhos Um muacutesico um videomaker ou uma escritora podem desejar justamente o contraacuterio o amplo acesso agraves suas obras ou eventualmente que seus trabalho sejam reinterpretandos reconstruiacutedos e recriados por outras pessoas
Assim o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitos possa dizer ao mundo que ele natildeo se opotildee agrave utilizaccedilatildeo de sua obra no que diz respeito agrave distribuiccedilatildeo coacutepia e outros tipos de uso
O Creative Commons eacute um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativas disponiacuteveis ao puacuteblico permitindo criar outras obras sobre elas compartilhando-as Isso eacute feito atraveacutes do desenvolvimento e disponibilizaccedilatildeo de licenccedilas juriacutedicas que permitem o acesso agraves obras pelo puacuteblico sob condiccedilotildees mais flexiacuteveis (FGV 2005)
Existem uma seacuterie de modalidades de licenccedila e cada uma delas concede direitos e deveres
especiacuteficos Haacute licenccedilas que por exemplo permitem a divulgaccedilatildeo da obra mas proiacutebem o uso
comercial Outras permitem a utilizaccedilatildeo da obra em outros trabalhos Haacute tambeacutem licenccedilas
que permitem o sampleamento remixagem colagem e outras formas criativas de
reconstruccedilatildeo da obra permitindo uma enorme explosatildeo de possibilidades criativas Dessa
forma a riacutegida locuccedilatildeo todos os direitos reservados eacute substituiacuteda por alguns direitos
reservados propondo assim uma universalidade de bens intelectuais criativos acessiacuteveis a
todos que eacute condiccedilatildeo fundamental para qualquer inovaccedilatildeo cultural e tecnoloacutegica (idem
2005) Assim as novas formas de apropriaccedilatildeo cultural na sociedade da informaccedilatildeo jaacute
comeccedilam a organizar respaldo juriacutedico atraveacutes de movimentos internacionais de
questionamento agrave pertinecircncia das velhas regulaccedilotildees autorais frente agraves exponenciais
possibilidades dos intercacircmbios mediatizados
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Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
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Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
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Palabras claves copyleft propiedad intelectual democratizacioacuten de la informacioacuten
Abstract
Copyleft the Utopia of system breakdown
This article tries to conceptualize the term ldquocopyleftrdquo which is a license that permits without
lucrative ends the free reproduction and distribution of intellectual production
Simultaneously this article tries to develop the discussion Is it factual that this dissemination
of knowledge is truly a democratization or simply something superficial in propaganda
strategies From the point of view of looking at the historical antecedents and considering that
the entertainment industry has always shown itself to be fearful of new emerging
technologies yet has always been efficient not only in emerging victorious during crisis but in
using these technologies in their favor it can be seen that the market tends to learn how to
dominate these ldquoinsubordinationsrdquo in order to take advantage of these techniques in a cultural
guerrilla war at the cost of the relative democratization of information
Key-words copyleft intellectual property democratization of information
Introduccedilatildeo
A revoluccedilatildeo digital dos uacuteltimos 20 anos desencadeou uma irrefreaacutevel popularizaccedilatildeo de
equipamentos de reproduccedilatildeo de conteuacutedo Nunca foi tatildeo simples e extraordinariamente barato
copiar e distribuir informaccedilatildeo sobretudo devido agrave facilidade de uso da Internet aliada a
incessantes novidades tecnoloacutegicas tais como gravadores de CD DVD e impressoras
pessoais No entanto ao mesmo tempo em que a era digital eacute celebrada pelo seu potencial de
democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo ela preocupa seriamente donos de direitos autorais e
empresaacuterios da induacutestria da informaccedilatildeo pois a descentralizaccedilatildeo inerente agrave rede parece
inviabilizar qualquer tipo de controle da propriedade intelectual Percebe-se neste contexto
uma discussatildeo polarizada entre os idealistas da livre informaccedilatildeo e os defensores irredutiacuteveis
do copyright sob a franca ineficiecircncia das tradicionais legislaccedilotildees de proteccedilatildeo
O hacker Richard Stallman fundador do Free Software Foundation (FSF) concebeu uma
estrateacutegia criativa para garantir que todas as variaccedilotildees dos programas originalmente criados
pelo seu projeto GNU prosseguissem o desenvolvimento em coacutedigo aberto Isso significa que
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nenhum programador pode registrar o copyright desses softwares e impedir que outros
usuaacuterios tenham acesso ao coacutedigo-fonte das modificaccedilotildees que porventura tenha efetuado
Esse recurso foi batizado como ldquocopyleftrdquo em uma paroacutedia que inverte para a esquerda o
sentido de direita do copyright
Nos uacuteltimos anos grupos artiacutesticos e intelectuais de tendecircncia anarquista tecircm defendido
que o conceito de copyleft surgido na informaacutetica pode ser adaptado ao universo da produccedilatildeo
cientiacutefica e da cultura de massa Os mais entusiastas chegam a argumentar que estamos sob
uma nova era de produccedilatildeo e consumo de informaccedilatildeo na qual os grandes conglomerados da
induacutestria cultural seratildeo derrubados para que possa emergir uma forma comunitaacuteria e aberta de
livre distribuiccedilatildeo de cultura Em outras palavras capaz de provocar uma pane no sistema
(sonho antigo dos anarquistas libertaacuterios) Entretanto antecedentes histoacutericos mostram que a
loacutegica e o pragmatismo capitalista sempre tiveram flexibilidade para adequar-se agraves novidades
tecnoloacutegicas e tirar proveito das crises com assombrosa eficiecircncia A pergunta eacute o copyleft
pode mesmo democratizar a informaccedilatildeo ou tende a ser inevitavelmente domado pelo
ldquosistemardquo Satildeo esses os assuntos expostos e discutidos neste artigo
O estudo direto dos projetos de Richard Stallman justificam-se por que a ele eacute atribuiacutedo a
criaccedilatildeo do proacuteprio conceito de copyleft Em relaccedilatildeo agrave transposiccedilatildeo do copyleft para a induacutestria
cultural a pesquisa foi delimitada a um manifesto do coletivo literaacuterio italiano WU MING
ldquoCopyright e maremotordquo primeiro por causa do histoacuterico de defesa do copyleft desse grupo
depois pelo farto material que o coletivo disponibiliza sobre o tema mas sobretudo devido ao
fenocircmeno de vendas do romance Q de Luther Blisset editado pela fundaccedilatildeo Wu Ming que
sob a bandeira do copyleft e ateacute mesmo do incentivo agrave livre reproduccedilatildeo jaacute vendeu mais de 2
milhotildees de coacutepias oficiais
A obra de Shapiro e Varian utilizada como base da contra-argumentaccedilatildeo foi escolhida por
um motivo muito simples os autores satildeo reverenciados pelos maiores lsquoinimigosrsquo de Stallman
como Jeff Bezos da Amazoncom aleacutem de representantes da Intel Novell e da Federal Trade
Commision entre outros1 Dessa forma acredita-se que foi possiacutevel reunir um razoaacutevel
contraponto de ideacuteias e buscar pontos de convergecircncia entre posiccedilotildees antagocircnicas Devido agraves
restriccedilotildees de espaccedilo deste artigo preferiu-se por natildeo abordar o problema da induacutestria
1 Na Quarta capa da ediccedilatildeo brasileira de A economia da informaccedilatildeo de Carl Shapiro e Hal R Varian o empresaacuterio Michael Dolbec vice-presidente da 3Com escreve ldquoLeia este livro para descobrir exatamente o que seus concorrentes estatildeo fazendo e como vocecirc poderaacute tirar o sono deles agrave medida que compete para o futurordquo A informaccedilatildeo eacute um grande negoacutecio
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fonograacutefica por tratar-se de uma questatildeo com complexidades proacuteprias devendo portanto ser
analisado agrave parte
Apesar de ser um conceito cunhado nos anos 80 satildeo raros os trabalhos em portuguecircs sobre
copyleft Este artigo esboccedila resultados de uma pesquisa ainda em andamento e visa contribuir
para suprir essa lacuna
Induacutestria de informaccedilatildeo
A discussatildeo sobre propriedade intelectual eacute uma das mais explosivas da economia do
conhecimento pois toca em um problema crucial na atualidade como determinar e garantir os
direitos autorais de uma ideacuteia de um produto imaterial Em um mercado sofisticado ao ponto
de ser capaz de comercializar bens simboacutelicos ainda natildeo se encontrou a foacutermula eficiente
para regulamentar a circulaccedilatildeo da mercadoria ldquoinformaccedilatildeordquo E essa economia parece deslizar
no seguinte paradoxo que cria uma curiosa situaccedilatildeo de interdependecircncia aparentemente
suicida agrave medida em que as empresas de softwares e equipamentos ndash aparelhos de som de
CDs de DVDs e Viacutedeos Cassetes equipamentos de reprografia induacutestria de informaacutetica etc
ndash lanccedilam produtos mais sofisticados capazes de gravar regravar ou copiar dados com
qualidade industrial os produtores de conteuacutedo perdem cada vez mais a capacidade de
recolher os direitos autorais sobre a reproduccedilatildeo de seus produtos intelectuais ldquoAs mesmas
corporaccedilotildees que vendem samplers fotocopiadoras scanners e masterizadores controlam a
induacutestria global do entretenimento e se descobrem prejudicadas pelo uso de tais
instrumentosrdquo (WU MING 2002 p5)
Shapiro e Varian (1999 p16) observam que na economia do conhecimento a informaccedilatildeo
eacute cara de produzir mas barata para reproduzir ndash filmes de 100 milhotildees de doacutelares por
exemplo podem ser reproduzidos em fitas que custam alguns centavos E evidentemente natildeo
haacute lei de patentes capaz de controlar essa dinacircmica Castells (1999 p51) afirma que uma das
principais caracteriacutesticas da sociedade em rede eacute justamente a capacidade de as pessoas
apropriarem-se criativamente dos novos meios ldquoAs novas tecnologias da informaccedilatildeo natildeo satildeo
simplesmente ferramentas a serem aplicadas mas processos a serem desenvolvidos Usuaacuterios
e criadores podem tornar-se a mesma coisa Dessa forma os usuaacuterios podem assumir o
controle da tecnologia como no caso da Internetrdquo
Essa dinacircmica remete agravequela das criaccedilotildees coletivas que marcaram e ainda caracterizam
sobretudo as culturas orais mas que apesar das restriccedilotildees de propriedade intelectual natildeo
deixam evidentemente de influenciar a cultura escrita Nas sociedades aacutegrafas um dos fatores
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que mais enriquecem os relatos populares eacute a diversidade das versotildees ou seja cada um que
ouve um caso apropria-se da estrutura narrativa e acrescenta elementos de seu universo
cultural ao contaacute-lo De boca a boca temperadas pelas sutilezas do cotidiano as histoacuterias
adquirem novos sabores e acabam por reunir os ingredientes mais significativos do imaginaacuterio
coletivo de uma eacutepoca
A antropologia ensina que o ser humano eacute o resultado do meio cultural em que foi
socializado Somos herdeiros de um longo processo acumulativo fundamentado no
conhecimento adquirido por geraccedilotildees de ancestrais Laraia (2001 p45-47) observa que eacute
justamente a manipulaccedilatildeo adequada e criativa desse patrimocircnio cultural que permite
inovaccedilotildees e invenccedilotildees que por sua vez natildeo satildeo produtos de accedilatildeo isolada de um gecircnio mas o
resultado de um esforccedilo comunitaacuterio Na histoacuteria temos incontaacuteveis casos de obras coletivas
como as lendas miacuteticas as canccedilotildees populares e mesmo o caso da Iliacuteada atribuiacuteda a Homero
mas que hoje acredita-se tratar de uma reuniatildeo de narrativas correntes da tradiccedilatildeo oral
claacutessica Assim Laraia defende a hipoacutetese que se Albert Einstein por exemplo natildeo tivesse
desenvolvido suas teorias algueacutem o faria mais cedo ou mais tarde pois outros cientistas
ldquodiante de um mesmo material culturalrdquo estariam aptos para utilizar os mesmos
conhecimentos e chegar aos mesmos resultados
Aiacute estaacute uma boa questatildeo Estariam os segredos de patentes impedindo o surgimento de
novos Einsteins Laraia (2001 p46) observa que natildeo basta a natureza criar indiviacuteduos
altamente inteligentes pois isto ela jaacute faz com frequumlecircncia mas ldquoeacute necessaacuterio que coloque ao
alcance desses indiviacuteduos o material que lhes permita exercer a sua criatividade de uma
maneira revolucionaacuteriardquo Dessa forma sentimo-nos agrave vontade para afirmar que sim sem
circulaccedilatildeo efetiva de conhecimento sobretudo devido agraves restriccedilotildees econocircmicas gecircnios
potenciais satildeo prodigamente desperdiccedilados
Mas como a nova economia estruturou a informaccedilatildeo como um produto agrave venda a equaccedilatildeo
natildeo fecha Em relaccedilatildeo a Internet proprietaacuterios de direitos autorais natildeo conseguem encontrar
soluccedilotildees para essa inquietante ambivalecircncia Por um lado a rede eacute um recurso fabuloso de
divulgaccedilatildeo e um potencial ineacutedito de distribuiccedilatildeo de conteuacutedo Por outro muitos empresaacuterios
ainda mantecircm forte resistecircncia por consideraacute-la um instrumento que soacute favorece a livre e
infinita pirataria
Nesse turbulento contexto surge da informaacutetica a ideacuteia de copyleft um novo conceito que
ainda natildeo eacute reconhecido em convenccedilotildees internacionais mas que vem adquirindo popularidade
e legitimidade sobretudo na Internet ao mesmo tempo que parece ameaccedilar negociantes de
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conteuacutedos A criaccedilatildeo deste termo eacute atribuiacuteda a Richard Stallman um ativista da primeira
geraccedilatildeo de hackers da Universidade de Harvard e do MIT Artificial Intelligence Lab
(Laboratoacuterio de Inteligecircncia Artificial do Instituto de Tecnologia de Massachusetts) nos anos
1970 Em janeiro de 1984 Stallman abandonou o MIT para dedicar-se ao projeto GNU ndash uma
paroacutedia metalinguumliacutestica e tautoloacutegica a sigla GNU significa Gnu is Not Unix (Gnu Natildeo eacute
Unix) Em 1985 fundou a Free Software Foundation (FSF)
Copyleft eacute um trocadilho de traduccedilatildeo literal impossiacutevel No primeiro momento em uma
inversatildeo do copyright (direitos de reproduccedilatildeo) o novo termo substitui o ldquorightrdquo pelo ldquoleftrdquo
direita por esquerda em inglecircs ndash naturalmente uma alusatildeo agrave ideologia poliacutetica agrave esquerda
historicamente envolvida nos esforccedilos de democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo Mas ldquoleftrdquo eacute
tambeacutem um modo verbal que se refere ao ldquosimple pastrdquo (passado perfeito) do verbo ldquoleaverdquo
que significa ldquopermitir deixarrdquo Neste segunda leitura poderiacuteamos traduzir copyleft por algo
como ldquocoacutepia permitidardquo Junto a esse conceito foi criado para parodiar o slogan ldquoAll rights
reservedrdquo (Todos os direitos reservados) a foacutermula ldquoAll rights reversedrdquo (Todos os direitos
invertidos) Mas para compreender as sutilezas do copyleft eacute necessaacuterio compreender os
fundamentos do projeto GNU
GNU is Not Unix
O GNU foi idealizado em 1983 e lanccedilado no ano seguinte com o objetivo de desenvolver
um sistema operacional completo e tatildeo eficiente quanto o Unix A diferenccedila eacute que ao
contraacuterio deste uacuteltimo que eacute um sistema fechado e exige pagamento pela licenccedila de uso o
GNU eacute um sistema aberto e oferece livre acesso para os usuaacuterios ndash ou seja pode ser instalado
modificado e copiado gratuitamente De acordo com informaccedilotildees no site do projeto diversas
variaccedilotildees do sistema GNU que utilizam o nuacutecleo Linux satildeo hoje largamente utilizadas
(estima-se que aproximadamente 20 milhotildees de usuaacuterios tecircm acesso ao programa) Apesar de
serem normalmente chamados apenas de Linux o popular sistema operacional gratuito criado
por Linus Torvalds na verdade trata-se de variaccedilotildees de sistemas GNULinux ldquoO Software
Livre eacute uma questatildeo de liberdade as pessoas devem ser livres para usar o software de todas as
maneiras que sejam socialmente uacuteteis2rdquo
Na concepccedilatildeo dos criadores do GNU a palavra livre (free no original) estaacute relacionada
com liberdade em vez de preccedilo Isso quer dizer que o usuaacuterio pode ou natildeo pagar um preccedilo
2 Traduzida por Pedro Oliveira e revisada por Miguel Oliveira em abril de 2000 Atualizada por Fernando Lozano Disponiacutevem el lthttpwwwgnuorgphilosophyphilosophypthtmlAbouttheGNUprojectgt Acesso em 27 fev 2004
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para obter o software GNU Informaccedilotildees no site oficial esclarecem que esse programa
possibilita trecircs liberdades especiacuteficas de utilizaccedilatildeo
Primeiro a liberdade de copiar o programa e da-lo (sic) para seus amigos e colegas de trabalho
Segundo a liberdade de modificar o programa de acordo com os seus desejos por ter acesso
completo agraves fontes Terceiro a liberdade de distribuir versotildees modificadas e assim ajudar a
construir a comunidade (Se vocecirc redistribui software GNU vocecirc pode cobrar pelo ato de
transferir uma coacutepia ou vocecirc pode dar coacutepias de graccedila)3
A ideacuteia ainda segundo os criadores eacute ldquotrazer de volta o espiacuterito cooperativo que prevalecia
na comunidade de informaacutetica nos seus primoacuterdiosrdquo removendo obstaacuteculos impostos pelos
proprietaacuterios do software e tornando possiacutevel a cooperaccedilatildeo entre programadores
Todo usuaacuterio de computador precisa necessariamente de um Sistema Operacional
(Operating System) como o Windows o Mac ou o Unix para citar os mais populares entre o
puacuteblico natildeo especializado Sem um sistema operacional livre natildeo eacute possiacutevel nem mesmo
iniciar um computador sem pagar pela licenccedila de uso do software (a natildeo ser que se use
versotildees piratas e portanto ilegais) Assim para o GNU o primeiro item na agenda do
software livre eacute o estabelecimento de um sistema operacional livre
A Free Software Foundation (FSF) fundada por Richard Stallman manteacutem desde 1999 o
projeto Free Software Directory (FSD) Em um site da web a fundaccedilatildeo deixa agrave disposiccedilatildeo
para download softwares livres que funcionam em sistemas operacionais abertos sobretudo
nas variaccedilotildees GNULinux Desde abril de 2003 o projeto conta com o apoio da Unesco
Quase tudo em copyleft
Haacute nesse conceito uma caracteriacutestica chave que o diferencia definitivamente da ideacuteia de
ldquodomiacutenio puacuteblicordquo De fato o modo mais simples de estabelecer um software-livre eacute colocaacute-
lo sob domiacutenio puacuteblico ou seja abrir matildeo por completo do copyright No entanto se por um
lado permite que os usuaacuterios compartilhem livremente o programa original essa licenccedila
aberta deixa uma brecha Ela natildeo impede por exemplo que empresas natildeo-cooperativas ao
fazer poucas modificaccedilotildees no programa registrem o copyright e detentoras dos direitos
autorais comercializem com exclusividade o ldquonovordquo software com coacutedigo fechado
Assim em vez de colocar os programas do GNU em domiacutenio puacuteblico o projeto
desenvolveu esse artifiacutecio O copyleft impotildee que qualquer usuaacuterio que redistribua o programa
3 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggnugnu-historypthtmlgt Acesso em 27 fev 2004
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com ou sem modificaccedilotildees deve necessariamente passar adiante as liberdades de fazer novas
coacutepias e modificaacute-las Em outras palavras torna ilegal a comercializaccedilatildeo da versatildeo melhorada
em coacutedigo fechado
A estrateacutegia dessa licenccedila eacute engenhosa Para distribuir programa em copyleft primeiro o
GNU esclarece que ele estaacute protegido sob copyright Em seguida nos termos de distribuiccedilatildeo ndash
o instrumento legal que concede o direito de uso ndash registra que o usuaacuterio pode modificar e
redistribuir o coacutedigo-fonte do programa (ou qualquer outro programa derivado dele) mas
somente se todos os termos de distribuiccedilatildeo permanecerem inalterados ndash leia-se se for
mantido o coacutedigo aberto Aleacutem disso a FSF estabelece que cada autor de coacutedigo incorporado
a softwares da fundaccedilatildeo ceda seus direitos de copyright ldquoDeste modo noacutes podemos ter
certeza de que todo o coacutedigo em projetos da FSF eacute coacutedigo livre cuja liberdade noacutes podemos
proteger de maneira efetiva e na qual outros desenvolvedores possam confiar plenamente4rdquo
Assim o coacutedigo e as liberdades se tornam legalmente inseparaacuteveis A grosso modo satildeo essas
as bases da General Public License (Licenccedila Puacuteblica Geral) do GNU comumente chamada
de GNU GPL
O trecho a seguir do coletivo literaacuterio Wu Ming explica com a insolecircncia tiacutepica de grupos
anarquistas como essa estrateacutegia funciona na praacutetica
Se o software livre tivesse permanecido simplesmente em domiacutenio puacuteblico cedo ou tarde
os rapaces da induacutestria o teriam colocado sob suas garras A soluccedilatildeo foi virar o copyright pelo
avesso para transformaacute-lo de obstaacuteculo agrave livre reproduccedilatildeo em suprema garantia desta uacuteltima
Em poucas palavras ponho o copyright uma vez que sou proprietaacuterio desta obra portanto
aproveito deste poder para dizer que com esta obra vocecirc pode fazer o que quiser pode copiaacute-la
difundi-la modificaacute-la mas natildeo pode impedir outro de fazecirc-lo isto eacute natildeo pode apropriar-se
dela e impedir sua circulaccedilatildeo natildeo pode colocar nela um copyright seu porque ela jaacute tem um
me pertence e eu te enrabo (WU MING 1 2003)
ldquoAteacute onde o software livre pode irrdquo perguntam os criadores do GNU ldquoNatildeo haacute limites
exceto quando leis como o sistema de patentes proiacutebem o software livre completamente O
objetivo final eacute fornecer software livre para realizar todas as tarefas que os usuaacuterios de
computadores querem realizar -- e assim tornar o software proprietaacuterio obsoletordquo5
4 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorglicenseswhy-assignpthtmlgt Acesso em 27 fev 2004 5 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggnugnu-historypthtmlgt Acesso em 27 fev 2004
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Do universo da informaacutetica o copyleft invadiu outras aacutereas do conhecimento Em artigo
publicado na revista Nature o proacuteprio Richard Stallman defende que a ciecircncia deve deixar o
copyright de lado
Deveria ser naturalmente oacutebvio que a literatura cientiacutefica existe para disseminar o
conhecimento cientiacutefico e que as publicaccedilotildees cientiacuteficas existem para facilitar o processo (hellip)
[Entretanto] muitos editores de publicaccedilotildees parecem acreditar que o propoacutesito da literatura
cientiacutefica eacute permitir a eles publicar perioacutedicos para nada mais do que angariar assinaturas de
cientistas e estudantes Tal pensamento eacute conhecido como lsquoconfusatildeo dos meios com os finsrsquo
(STALLMAN 2001)6
Para Stallman o copyright foi estabelecido para satisfazer demandas de proteccedilatildeo proacuteprias
das publicaccedilotildees impressas mas natildeo tem mais sentido na era da comunicaccedilatildeo eletrocircnica
(voltaremos a essa argumentaccedilatildeo adiante) A pergunta que faz eacute ldquoquais regras garantiriam a
maacutexima disseminaccedilatildeo de artigos cientiacuteficos e conhecimento na Webrdquo Ele defende que
textos cientiacuteficos deveriam ser distribuiacutedos livremente com acesso aberto para todos E nas
paacuteginas da Internet todos deveriam ter o direito de ldquoespelharrdquo artigos isto eacute republicaacute-los
literalmente em seus proacuteprios sites com as devidas referecircncias
Editores de perioacutedicos costumam reclamar que a infra-estrutura on-line requer cariacutessimos
servidores de alta potecircncia e entatildeo precisam cobrar taxas de acesso para pagar os custos Para
Stallman este lsquoproblemarsquo eacute uma consequumlecircncia da proacutepria lsquosoluccedilatildeorsquo que os editores adotam
ldquoDecirc a todo mundo a liberdade de espelhar e bibliotecas ao redor do planeta vatildeo instalar sites
espelho para responder agrave demandardquo Essa distribuiccedilatildeo descentralizada certamente reduziria as
necessidades individuais de expandir a largura da banda da rede para responder ao traacutefego
possibilitaria portanto acesso mais raacutepido aleacutem da vantagem de proteger os trabalhos
acadecircmicos contra perdas acidentais
Mas como financiar as publicaccedilotildees O custo da ediccedilatildeo (mesmo no caso de impressos
atreveriacuteamos a acrescentar) poderia ser recuperado sugere Stallman atraveacutes de uma taxa por
paacutegina cobrada dos autores que por sua vez poderiam passar os custos para os financiadores
da pesquisa O autor ocasional que natildeo eacute afiliado a uma instituiccedilatildeo e que natildeo tem nenhum
oacutergatildeo financiador seria eximido de pagar as taxas e os custos computados a outros autores
ligados agrave instituiccedilotildees de fomento agrave pesquisa
6 Traduccedilatildeo livre
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ldquoA Constituiccedilatildeo Americana diz que o copyright existe lsquopara promover o progresso da
ciecircnciarsquo Quando o copyright impede o progresso da ciecircncia a Ciecircncia precisa deixar o
copyright de ladordquo conclui Stallman (2001)
Copyright e maremoto
Da ciecircncia o conceito passou a referir-se a fenocircmenos da cultura
Atualmente existe um amplo movimento de protesto e transformaccedilatildeo social em grande
parte do planeta Ele possui um potencial enorme mas ainda natildeo estaacute completamente
consciente disso Embora sua origem seja antiga soacute se manifestou recentemente aparecendo
em vaacuterias ocasiotildees sob os refletores da miacutedia poreacutem trabalhando dia a dia longe deles Eacute
formado por multidotildees e singularidades por retiacuteculas capilares no territoacuterio Cavalga as mais
recentes inovaccedilotildees tecnoloacutegicas As definiccedilotildees cunhadas por seus adversaacuterios ficam-lhe
pequenas Logo seraacute impossiacutevel paraacute-lo e a repressatildeo nada poderaacute contra ele
Eacute aquilo que o poder econocircmico chama ldquopiratariardquo (WU MING 1 2002 p3)7
Esta eacute a introduccedilatildeo do manifesto Copyright e maremoto do coletivo literaacuterio italiano Wu
Ming (que significa em chinecircs Natildeo-famoso ou Anocircnimo) O texto argumenta que durante
milecircnios a civilizaccedilatildeo humana prescindiu do copyright do mesmo modo que prescindiu de
ldquooutros falsos axiomas parecidos como a lsquocentralidade do mercadorsquo ou o lsquocrescimento
ilimitadorsquordquo Afirma que se a propriedade intelectual tivesse surgido na antiguumlidade a
humanidade natildeo teria a Biacuteblia o Coratildeo Gilgamesh o Mahabarata a Iliacuteada a Odisseacuteia e todas
as narrativas surgidas de um amplo e feacutertil processo de mistura combinaccedilatildeo re-escritura e
transformaccedilatildeo ndash ou seja tudo aquilo que muitos chamam de plaacutegio
O manifesto celebra o fato de que a cada dia na era digital milhotildees de pessoas violam e
rechaccedilam continuamente o copyright Essa subversatildeo eacute feita quando copiamos muacutesica em
formato MP3 na Internet quando distribuiacutemos informaccedilatildeo pela rede e quando reproduzimos
livremente conteuacutedos que nos interessam usufruindo de tecnologias que suprimem a distinccedilatildeo
entre original e coacutepia ldquoNatildeo estamos falando da lsquopiratariarsquo gerida pelo crime organizado
divisatildeo extralegal do capitalismo natildeo menos deslocada e ofegante do que a legal pela
extensatildeo da lsquopiratariarsquo autogestionada e de massasrdquo prossegue o manifesto Para Wu Ming 1
a democratizaccedilatildeo geral do acesso agraves artes tem a ver com o rompimento de barreiras sociais
ldquo(hellip) devo fornecer algum dado sobre o preccedilo dos CDsrdquo (idem p4)
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Assim entusiasticamente argumenta que esse processo estaacute mudando o aspecto da
induacutestria cultural mundial ao inaugurar uma nova fase da cultura onde leis mais duras jamais
seratildeo suficientes para deter uma dinacircmica social jaacute iniciada e envolvente Essa movimentaccedilatildeo
estaria rumando a um ponto em que seriam superadas todas legislaccedilotildees sobre propriedade
intelectual para que fossem totalmente reescritas
O copyleft eacute entatildeo saudado como uma inovaccedilatildeo juriacutedica vinda de baixo que superou a
lsquopiratariarsquo ao enfatizar a forccedila construtiva (pars construens) do movimento real Para o
manifesto com aquela estrateacutegia do copyleft (explicitada neste artigo na discussatildeo sobre o
GNU) as leis vigentes do copyright8 estatildeo sendo pervertidas em relaccedilatildeo a sua funccedilatildeo original
e em vez de oferecer obstaacuteculos se converte em garantia de livre circulaccedilatildeo
Para servir de exemplo praacutetico todos os livros editados pelo coletivo Wu Ming contam
com a seguinte locuccedilatildeo ldquoPermitida a reproduccedilatildeo parcial ou total da obra e sua difusatildeo por via
telemaacutetica para uso pessoal dos leitores sob condiccedilatildeo de que natildeo seja com fins comerciaisrdquo
(idem p6) Rogeacuterio de Campos diretor editorial da Conrad editora da coleccedilatildeo Baderna
afirmou em entrevista agrave Folha de S Paulo que soacute conseguiu negociar os direitos de
reproduccedilatildeo do romance Q do autor Luther Blisset (pseudocircnimo de autores coletivos ligados
ao Wu Ming) depois de admitir uma claacuteusula que obriga a editora a ldquoprocessar qualquer um
que impeccedila a livre reproduccedilatildeo da obrardquo (ASSIS 2002)
As leis vigentes sobre o copyright ainda ignoram completamente o recurso ao copyleft De
acordo com o texto do manifesto em diversos encontros com deputados italianos os
produtores de software livre foram comparados pura e simplesmente aos ldquopiratasrdquo Isso faz
lembrar uma declaraccedilatildeo Richard Stallman em entrevista agrave Folha de S Paulo ldquoNatildeo faz sentido
sermos comparados a pessoas que atacavam navios e matam soacute porque compartilhamos
informaccedilatildeo puacuteblica com o vizinhordquo (MAISONNAVE LOUZANO 2000)
A segunda parte do livreto Copyright e maremoto conta com trechos de uma entrevista
feita com o grupo Neste pequeno diaacutelogo eles expotildeem com paixatildeo e fuacuteria seus atrevimentos
culturais sem receio de exageros retoacutericos entusiasmados ldquoSim noacutes afirmamos que a cultura
popular ocidental do seacuteculo XX (hellip) estava muitas vezes mais proacutexima do socialismo do que
os regimes lsquosocialistasrsquo orientais do seacuteculo XX conseguiram estarrdquo Para eles a seacuterie de
imagens de Mao Tse Tung serigrafadas por Andy Warhol foi mais importante para os
fundamentos da Revoluccedilatildeo do que os retratos oficiais do Grande Timoneiro agitados em
7 Esse manifesto foi escrito por Roberto Bui que publicamente identifica-se como Wu Ming 1 8 As atuais leis de copyright foram padronizadas na Convenccedilatildeo de Berna em 1971
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manifestaccedilotildees maoiacutestas ldquoO socialismo deve ser baseado na natureza coletiva da produccedilatildeo
capitalistardquo Ao contraacuterio do pessimismo de Adorno em relaccedilatildeo agrave induacutestria cultural e da
lsquoobsessatildeorsquo dos situacionaistas com o lsquoespetaacuteculorsquo o manifesto prega que a produccedilatildeo da
cultura pop no seacuteculo passado foi um processo socialista coletivo aberto mutante e
constantemente entrelaccedilado por inuacutemeras subculturas graccedilas agrave esfuziante habilidade das
multidotildees na reapropriaccedilatildeo ou ldquode-propriaccedilatildeordquo dessa cultura via pirataria de CDs violaccedilatildeo
de DVDs troca de arquivos em rede etc ldquoAs instituiccedilotildees da propriedade intelectual estatildeo
caindo aos pedaccedilos as pessoas estatildeo detonando-as Eacute um maravilhoso processo popular e
estaacute mais proacuteximo do socialismo do que a China jamais esteverdquo (WU MING 1 2002 p7-8)
Surge enfim a questatildeo da remuneraccedilatildeo dos autores O trabalho intelectual eacute um serviccedilo
pesado Exige um alto investimento em estudo em tempo e evidentemente deve ser
remunerado Assim a pergunda natural eacute o copyright natildeo eacute essencial para a sobrevivecircncia do
autor
Se um sujeito natildeo tem dinheiro para comprar qualquer um dos livros editados pela Wu
Ming Foundation pode tranquumlilamente fotocopiaacute-lo digitalizaacute-lo em scanner ou entatildeo a
soluccedilatildeo mais cocircmoda fazer o download gratuito da obra integral no site oficial
wwwwumingfoundationorg em um computador puacuteblico em alguma universidade ou
biblioteca As reproduccedilotildees que natildeo visam lucro satildeo automaticamente autorizadas Mas se um
editor estrangeiro quer comercializar uma de suas obras em outro paiacutes neste caso a utilizaccedilatildeo
evidentemente visa lucro e portanto essa empresa deve pagar por isso
Na verdade o Wu Ming apenas admitiu uma evidecircncia expliacutecita ningueacutem deixa de copiar
uma obra porque no rodapeacute haacute uma frase que diz lsquotodos os direitos satildeo reservados e
protegidos pela Lei 5988 de 141273 Nenhuma parte deste livro sem autorizaccedilatildeo preacutevia
por escrito da editora poderaacute ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios
empregados etchelliprsquo Quando o copyright foi introduzido9 concomitante ao desenvolvimento
da imprensa haacute trecircs seacuteculos natildeo havia possibilidade de lsquocoacutepia privadarsquo ou lsquoreproduccedilatildeo sem
fins de lucrorsquo porque soacute empresaacuterios editores tinham acesso agraves maacutequinas tipograacuteficas
Portanto em suas origens o copyright natildeo era percebido como lsquoanti-socialrsquo mas era uma
arma de um empresaacuterio contra o outro natildeo de um empresaacuterio contra o puacuteblico Mas com a
revoluccedilatildeo da informaacutetica e das comunicaccedilotildees o puacuteblico tem acesso agraves tecnologias de
9 A primeila lei de copyright surgiu na Inglaterra em 1710 mas foi desenvolvida a seguir nos EUA
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reproduccedilatildeo Dessa forma o copyright tornou-se na visatildeo do Wu Ming ldquouma arma que
dispara na multidatildeordquo10 (WU MING 1 2003) ndash mas sem muito efeito poderiacuteamos acrescentar
Nesse contexto observando sua proacutepria experiecircncia editorial esse coletivo literaacuterio
percebeu um fenocircmeno curioso e aparentemente paradoxal natildeo haacute relaccedilatildeo direta entre
ldquocoacutepias oficiais natildeo vendidasrdquo e ldquocoacutepias pirateadasrdquo Em outras palavras as coacutepias natildeo
influenciam na vendagem das obras ldquoEm realidade editorialmente quanto mais uma obra
circula mais venderdquo Ou seja quanto mais democratizada maiores os lucros O exemplo
paradigmaacutetico eacute a obra Q de Luther Blisset editado por eles que vendeu mais de 2 milhotildees
de coacutepias apesar de ndash ou melhor justamente devido ao copyleft O sujeito copia o livro seja
porque natildeo tem dinheiro seja porque natildeo quer comprar lsquono escurorsquo e gosta do que leu
Decide indicar ou mesmo dar de presente a algueacutem mas natildeo quer dar uma coacutepia qualquer
Pronto compra o livro A pessoa presenteada tambeacutem gosta e passa a indicar ou presentear
outras com o mesmo livro Uma coacutepia dois ou trecircs livros vendidos Simples assim
Para o Wu Ming se a maioria dos editores natildeo perceberam essa dinacircmica foi mais por
questatildeo ideoloacutegica que mercadoloacutegica ldquoA editoraccedilatildeo natildeo estaacute em risco de extinccedilatildeo como a
induacutestria fonograacutefica a loacutegica eacute outra outros os suportes outros os circuitos outro o modo de
fruiccedilatildeo e sobretudo a editoraccedilatildeo natildeo perdeu ainda a cabeccedila natildeo reagiu com retaliaccedilotildees em
massa denuacutencias e processos agrave grande revoluccedilatildeo tecnoloacutegica que democratiza o acesso aos
meios de reproduccedilatildeordquo (WU MING 2003)
A estrateacutegia da induacutestria
Seraacute que estamos mesmo prestes a assistir ao desmoronamento da induacutestria cultural Seraacute
que os legisladores precisaratildeo reescrever todas as regras de direitos autorais para responder ao
novo momento tecnoloacutegico-cultural do seacuteculo XXI Shapiro e Varian (1999 p103)
argumentam que natildeo Na verdade eles defendem que muitos princiacutepios claacutessicos da economia
ainda satildeo perfeitamente vaacutelidos para essas situaccedilotildees ldquoO que mudou eacute que a Internet e a
tecnologia da informaccedilatildeo em geral oferecem oportunidades e desafios novos para a aplicaccedilatildeo
desses princiacutepiosrdquo Assim acreditam que os donos de propriedade intelectual seratildeo
naturalmente capazes de superar as lsquoameaccedilasrsquo da reproduccedilatildeo digital atraveacutes de estrateacutegias
semelhantes as quais superaram os desafios provocados pela tecnologia no passado ldquoAs
10 A Disney chegou a levar vaacuterias creches americanas aos tribunais por exibirem desenhos animados em viacutedeo sem licenccedila formal Na deacutecada de 90 a empresa ameaccedilou processar trecircs creches da Floacuterida que haviam pintado personagens da Disney em suas paredes (SHAPIRO VARIAN 1999 p109)
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novas oportunidades oferecidas pela reproduccedilatildeo digital excedem em muito os problemasrdquo
(SHAPIRO VARIAN 1999 p104)
Todas as facilidades da tecnologia digital satildeo elencadas para dar suporte ao otimismo dos
autores sobretudo os baixos custos de reproduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo ldquoNatildeo lute contra os custos
de distribuiccedilatildeo mais baixosrdquo aconselham ldquotire vantagem delesrdquo Para isso eacute preciso que
negociantes saibam lidar com o que os economistas chamam de ldquobem da experiecircnciardquo
O objeto de consumo eacute chamado de ldquobem da experiecircnciardquo (idem p18) quando os
fregueses precisam experimentar o produto antes de atribuir-lhes valor Qualquer novidade no
mercado eacute potencialmente um bem da experiecircncia e os publicitaacuterios contam com meacutetodos
claacutessicos de propaganda nesses casos promoccedilatildeo atraveacutes de reduccedilatildeo comparativa de preccedilo
depoimentos de famosos e anocircnimos e a infaliacutevel distribuiccedilatildeo de amostras graacutetis de pequenas
quantidades do produto a ser anunciado Eis mais uma pista Voltaremos a ela adiante
A induacutestria da informaccedilatildeo tecircm tambeacutem seus meacutetodos claacutessicos para fazer com que os
consumidores comprem o bem simboacutelico antes de ter certeza se o que estatildeo adquirindo vale o
preccedilo que pagam antecipadamente Primeiramente da mesma forma que em supermercados eacute
possiacutevel bebericar gratuitamente uma nova marca de iogurte em promoccedilotildees de lanccedilamento
existem formas de experimentar o ldquogostinhordquo do produto cultural Eacute possiacutevel ler as manchetes
de capa do jornal o trailer do filme etc Evidentemente isso eacute apenas uma parte da histoacuteria
Os produtos de sucesso superam o problema do ldquobem da experiecircnciardquo por meio da promoccedilatildeo
de sua ldquomarcardquo e sua ldquoreputaccedilatildeordquo Mas natildeo pretendemos entrar nessa discussatildeo pois natildeo cabe
na abordagem que restringe este artigo
Pois bem as grandes lojas de livros tornaram o ato de folhear mais confortaacutevel oferecendo
poltronas aacutereas abertas e cafeacutes porque haacute tempos jaacute sabem que essa estrateacutegia empresarial
impulsiona a venda de livros Ao lsquooferecerem gratuitamentersquo parte de seu produto elas
acabam ganhando muito mais dinheiro Nessa perspectiva a Internet eacute vista por Shapiro e
Varian (1999 p106) como ldquoum modo maravilhoso de oferecer amostras graacutetis do conteuacutedo
da informaccedilatildeordquo E enquanto especialistas discutem a maneira mais adequada de propaganda
na Web Shapiro e varian satildeo categoacutericos a Internet eacute ideal para ldquoinfomerciais11rdquo ou seja
estrateacutegia que fisga o leitor atraveacutes do oferecimento do proacuteprio conteuacutedo Mas a duacutevida eacute
como vatildeo ganhar dinheiro se simplesmente doarem seu produto A resposta dos autores eacute
11 ldquoComerciais de longa duraccedilatildeo que aleacutem de explicar em detalhes as caracteriacuterticas (hellip) do produto transmitem ainda depoimentos de usuaacuterios e outras informaccedilotildees pertinentes ao bem ou serviccedilo anunciadordquo (SHAPIRO VARIAN 1999 p106)
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doe somente parte de seu produto Eacute o princiacutepio claacutessico da amostra graacutetis mas com a
vantagem do insignificante custo de distribuiccedilatildeo ldquoO truque eacute dividir seu produto em
componentes dos quais alguns vocecirc daacute outros vocecirc vende As partes doadas satildeo os anuacutencios
ndash os infomerciais ndash das partes que vocecirc venderdquo
Os autores partem de um princiacutepio ergonocircmico para fundamentar suas hipoacuteteses hoje e
provavelmente por um bom tempo ningueacutem consegue ler um livro ou ateacute mesmo um artigo
de revista muito extenso com os olhos fixos em um monitor Eacute simplesmente muito
cansativo Segundo Shapiro e Varian pesquisas mostram que os usuaacuterios da web em geral
lecircem apenas duas telas de conteuacutedo antes de clicarem para sair Dessa forma o deconforto
associado agrave leitura direta em monitores sugere que a empresa pode colocar grandes
quantidades de conteuacutedo on-line sem que isso prejudique as vendas de coacutepias impressas12
Eacute claro que se a versatildeo na Web for faacutecil de imprimir podemos supor que o usuaacuterios
estaratildeo tentados a fazecirc-lo Mas haacute uma estrateacutegia muito simples para tornar a impressatildeo
caseira um ato trabalhoso e desconfortaacutevel ldquoA melhor coisa a fazerrdquo escrevem ldquoeacute tornar a
versatildeo on-line faacutecil de folherar ndash muitas telas curtas muitos links ndash mas difiacutecil de imprimir
em sua totalidaderdquo
Natildeo eacute difiacutecil perceber que ateacute esse momento com palavras e propoacutesitos diferentes
Shapiro e Varian disseram as mesmas coisas que o coletivo Wu Ming em relaccedilatildeo ao negoacutecio
editorial As divergecircncias satildeo ideoloacutegicas pois os primeiros admitem como um verdadeiro
problema o ldquocontrabando de bitsrdquoe a ldquopirataria digitalrdquo dizendo ldquoTudo de que se precisa eacute
que haja vontade poliacutetica para defender os direitos de propriedade intelectualrdquo (idem p114)
Mas na verdade os autores consideram que os proprietaacuterios dos conteuacutedos satildeo
excessivamente conservadores a respeito de gestatildeo de suas propriedades intelectuais Eles
observam que tradicionalmente toda nova tecnologia de reproduccedilatildeo produz previsotildees
catastroacuteficas no mercado Para eles a histoacuteria da veiculaccedilatildeo dos filmes em viacutedeo eacute um caso
exemplar
Hollywood ficou petrificada com o advento dos gravadores de videocassete O setor de
televisatildeo deu entrada em processos para impedir a coacutepia domeacutestica de programas de TV e a
Disney tentou distinguir as compras dos alugueacuteis de viacutedeo por meio de arranjos de
licenciamento Todas essas tentativas fracassaram Ironicamente Hollywood ganha hoje mais
com os viacutedeos do que com as apresentaccedilotildees em cinemas na maioria das produccedilotildees O mercado
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de vendas e de aluguel de viacutedeos antes tatildeo temido tornou-se uma imensa fonte de receita para
Hollywood (SHAPIRO VARIAN 1999 p17)
As proacuteprias bibliotecas satildeo um exemplo de uma inovaccedilatildeo que primeiro pareceu ameaccedilar o
setor editorial mas acabou por ampliaacute-lo imensamente (idem p115) A loacutegica eacute simples o
acesso agrave obras gratuitas forma o gosto de leitores que mais tarde compraratildeo livros Shapiro e
Varian percebem que perante os desafios da era digital haacute uma tendecircncia natural para que os
produtores se preocupem demais em lsquoprotegerrsquo sua propriedade intelectual Mas para eles o
importante eacute lsquomaximizarrsquo o valor da propriedade intelectual natildeo protegecirc-la pela pura
proteccedilatildeo ldquoSe vocecirc perde um pouco de sua propriedade quando a vende ou aluga esses eacute
apenas um dos custos de fazer negoacutecios juntamente com a depreciaccedilatildeo as perdas de estoque
e a obsolecircnciardquo
Ao mesmo tempo sabenos que existem muitos outros recursos para motivar a compra do
consumidor mesmo quando se tratam de bens culturais Moles (1974) ensina que o
mecanismo baacutesico da publicidade consiste em acrescentar um valor psicoloacutegico ao valor
propriamente utilitaacuterio do produto explorando portanto as emoccedilotildees secundaacuterias do
consumidor A publicidade alimenta artificialmente um desejo e sobretudo atraveacutes da
repeticcedilatildeo pelos meios de comunicaccedilatildeo primeiro convence que essa vontade eacute uma
necessidade essencial e depois promete satisfazecirc-la atraveacutes dos valores associados ao objeto
de consumo Na verdade natildeo satildeo vendidos produtos mas status social estilos sensaccedilotildees
impressotildees Isso quer dizer que os anuacutencios publicitaacuterios natildeo oferecem sabonetes mas
possibilidade de beleza natildeo anunciam automoacuteveis mas o prazer da velocidade e de poder
natildeo querem vender cigarro mas sentimento de juventude e de liberdade Em outras palavras
a publicidade complica a vida para oferecer a possibilidade de resolvecirc-la por meio do
consumo Assim podemos dizer que o mercado da cultura tambeacutem vive da venda de status
de prestiacutegio intelectual e natildeo apenas de conhecimento Basta pensar em quantos livros
compramos por lsquoimpulsorsquo mesmo sabendo que talvez nunca o leremos Ou quantos CDs
adquirimos para ouviacute-los algumas poucas vezes e guardaacute-los na estante Ou quantas fitas de
viacutedeo ou DVDs de filmes que jaacute vimos noacutes compramos para guardar mas nunca assistimos
porque estamos sempre alugando outros filmes
12 ldquoA Nacional Academy os Science Press pocircs on-line mais de mil de seus livros e descobriu que a disponibilidade das versotildees eletrocircnicas impulsionou as vendas de coacutepias impressas em duas a trecircs vezesrdquo (idem p107)
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Mas haacute um outro movimento juriacutedico contemporacircneo que parece ter o potencial de
provocar uma discussatildeo sobretudo filosoacutefica na economia da cultura no capitalismo do seacuteculo
XXI O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio
Vargas no Rio de Janeiro cujo objetivo eacute estudar implicaccedilotildees juriacutedicas sociais e culturais do
avanccedilo da tecnologia da informaccedilatildeo vem desenvolvendo estudos importantes nas aacutereas de
propriedade intelectual software livre governanccedila da web e privacidade na Internet O CTS eacute
o oacutergatildeo responsaacutevel pela direccedilatildeo no Brasil do projeto Creative Commons uma iniciativa
criada por Lawrence Lessig na Universidade de Stanford (EUA) O CTS adaptou as licenccedilas
do Creative Commons para o ordenamento juriacutedico brasileiro e fez com que o Brasil se
tornasse pioneiro no desenvolvimento de licenccedilas CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL
atualmente utilizadas pelo governo para o licenciamento de software livre
Uma das principais caracteriacutesticas do direito autoral claacutessico eacute que ele funciona como um
grande NAtildeO Isto quer dizer que para utilizar qualquer conteuacutedo eacute necessaacuterio pedir permissatildeo ao seu autor ou titular de direitos No sistema juriacutedico da propriedade intelectual adotado no Brasil ateacute mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jaacute nascem com todos os direitos reservados
Apesar disto muitos autores e titulares de direitos natildeo se importam que outras pessoas tenham acesso aos seus trabalhos Um muacutesico um videomaker ou uma escritora podem desejar justamente o contraacuterio o amplo acesso agraves suas obras ou eventualmente que seus trabalho sejam reinterpretandos reconstruiacutedos e recriados por outras pessoas
Assim o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitos possa dizer ao mundo que ele natildeo se opotildee agrave utilizaccedilatildeo de sua obra no que diz respeito agrave distribuiccedilatildeo coacutepia e outros tipos de uso
O Creative Commons eacute um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativas disponiacuteveis ao puacuteblico permitindo criar outras obras sobre elas compartilhando-as Isso eacute feito atraveacutes do desenvolvimento e disponibilizaccedilatildeo de licenccedilas juriacutedicas que permitem o acesso agraves obras pelo puacuteblico sob condiccedilotildees mais flexiacuteveis (FGV 2005)
Existem uma seacuterie de modalidades de licenccedila e cada uma delas concede direitos e deveres
especiacuteficos Haacute licenccedilas que por exemplo permitem a divulgaccedilatildeo da obra mas proiacutebem o uso
comercial Outras permitem a utilizaccedilatildeo da obra em outros trabalhos Haacute tambeacutem licenccedilas
que permitem o sampleamento remixagem colagem e outras formas criativas de
reconstruccedilatildeo da obra permitindo uma enorme explosatildeo de possibilidades criativas Dessa
forma a riacutegida locuccedilatildeo todos os direitos reservados eacute substituiacuteda por alguns direitos
reservados propondo assim uma universalidade de bens intelectuais criativos acessiacuteveis a
todos que eacute condiccedilatildeo fundamental para qualquer inovaccedilatildeo cultural e tecnoloacutegica (idem
2005) Assim as novas formas de apropriaccedilatildeo cultural na sociedade da informaccedilatildeo jaacute
comeccedilam a organizar respaldo juriacutedico atraveacutes de movimentos internacionais de
questionamento agrave pertinecircncia das velhas regulaccedilotildees autorais frente agraves exponenciais
possibilidades dos intercacircmbios mediatizados
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Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
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Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
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nenhum programador pode registrar o copyright desses softwares e impedir que outros
usuaacuterios tenham acesso ao coacutedigo-fonte das modificaccedilotildees que porventura tenha efetuado
Esse recurso foi batizado como ldquocopyleftrdquo em uma paroacutedia que inverte para a esquerda o
sentido de direita do copyright
Nos uacuteltimos anos grupos artiacutesticos e intelectuais de tendecircncia anarquista tecircm defendido
que o conceito de copyleft surgido na informaacutetica pode ser adaptado ao universo da produccedilatildeo
cientiacutefica e da cultura de massa Os mais entusiastas chegam a argumentar que estamos sob
uma nova era de produccedilatildeo e consumo de informaccedilatildeo na qual os grandes conglomerados da
induacutestria cultural seratildeo derrubados para que possa emergir uma forma comunitaacuteria e aberta de
livre distribuiccedilatildeo de cultura Em outras palavras capaz de provocar uma pane no sistema
(sonho antigo dos anarquistas libertaacuterios) Entretanto antecedentes histoacutericos mostram que a
loacutegica e o pragmatismo capitalista sempre tiveram flexibilidade para adequar-se agraves novidades
tecnoloacutegicas e tirar proveito das crises com assombrosa eficiecircncia A pergunta eacute o copyleft
pode mesmo democratizar a informaccedilatildeo ou tende a ser inevitavelmente domado pelo
ldquosistemardquo Satildeo esses os assuntos expostos e discutidos neste artigo
O estudo direto dos projetos de Richard Stallman justificam-se por que a ele eacute atribuiacutedo a
criaccedilatildeo do proacuteprio conceito de copyleft Em relaccedilatildeo agrave transposiccedilatildeo do copyleft para a induacutestria
cultural a pesquisa foi delimitada a um manifesto do coletivo literaacuterio italiano WU MING
ldquoCopyright e maremotordquo primeiro por causa do histoacuterico de defesa do copyleft desse grupo
depois pelo farto material que o coletivo disponibiliza sobre o tema mas sobretudo devido ao
fenocircmeno de vendas do romance Q de Luther Blisset editado pela fundaccedilatildeo Wu Ming que
sob a bandeira do copyleft e ateacute mesmo do incentivo agrave livre reproduccedilatildeo jaacute vendeu mais de 2
milhotildees de coacutepias oficiais
A obra de Shapiro e Varian utilizada como base da contra-argumentaccedilatildeo foi escolhida por
um motivo muito simples os autores satildeo reverenciados pelos maiores lsquoinimigosrsquo de Stallman
como Jeff Bezos da Amazoncom aleacutem de representantes da Intel Novell e da Federal Trade
Commision entre outros1 Dessa forma acredita-se que foi possiacutevel reunir um razoaacutevel
contraponto de ideacuteias e buscar pontos de convergecircncia entre posiccedilotildees antagocircnicas Devido agraves
restriccedilotildees de espaccedilo deste artigo preferiu-se por natildeo abordar o problema da induacutestria
1 Na Quarta capa da ediccedilatildeo brasileira de A economia da informaccedilatildeo de Carl Shapiro e Hal R Varian o empresaacuterio Michael Dolbec vice-presidente da 3Com escreve ldquoLeia este livro para descobrir exatamente o que seus concorrentes estatildeo fazendo e como vocecirc poderaacute tirar o sono deles agrave medida que compete para o futurordquo A informaccedilatildeo eacute um grande negoacutecio
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fonograacutefica por tratar-se de uma questatildeo com complexidades proacuteprias devendo portanto ser
analisado agrave parte
Apesar de ser um conceito cunhado nos anos 80 satildeo raros os trabalhos em portuguecircs sobre
copyleft Este artigo esboccedila resultados de uma pesquisa ainda em andamento e visa contribuir
para suprir essa lacuna
Induacutestria de informaccedilatildeo
A discussatildeo sobre propriedade intelectual eacute uma das mais explosivas da economia do
conhecimento pois toca em um problema crucial na atualidade como determinar e garantir os
direitos autorais de uma ideacuteia de um produto imaterial Em um mercado sofisticado ao ponto
de ser capaz de comercializar bens simboacutelicos ainda natildeo se encontrou a foacutermula eficiente
para regulamentar a circulaccedilatildeo da mercadoria ldquoinformaccedilatildeordquo E essa economia parece deslizar
no seguinte paradoxo que cria uma curiosa situaccedilatildeo de interdependecircncia aparentemente
suicida agrave medida em que as empresas de softwares e equipamentos ndash aparelhos de som de
CDs de DVDs e Viacutedeos Cassetes equipamentos de reprografia induacutestria de informaacutetica etc
ndash lanccedilam produtos mais sofisticados capazes de gravar regravar ou copiar dados com
qualidade industrial os produtores de conteuacutedo perdem cada vez mais a capacidade de
recolher os direitos autorais sobre a reproduccedilatildeo de seus produtos intelectuais ldquoAs mesmas
corporaccedilotildees que vendem samplers fotocopiadoras scanners e masterizadores controlam a
induacutestria global do entretenimento e se descobrem prejudicadas pelo uso de tais
instrumentosrdquo (WU MING 2002 p5)
Shapiro e Varian (1999 p16) observam que na economia do conhecimento a informaccedilatildeo
eacute cara de produzir mas barata para reproduzir ndash filmes de 100 milhotildees de doacutelares por
exemplo podem ser reproduzidos em fitas que custam alguns centavos E evidentemente natildeo
haacute lei de patentes capaz de controlar essa dinacircmica Castells (1999 p51) afirma que uma das
principais caracteriacutesticas da sociedade em rede eacute justamente a capacidade de as pessoas
apropriarem-se criativamente dos novos meios ldquoAs novas tecnologias da informaccedilatildeo natildeo satildeo
simplesmente ferramentas a serem aplicadas mas processos a serem desenvolvidos Usuaacuterios
e criadores podem tornar-se a mesma coisa Dessa forma os usuaacuterios podem assumir o
controle da tecnologia como no caso da Internetrdquo
Essa dinacircmica remete agravequela das criaccedilotildees coletivas que marcaram e ainda caracterizam
sobretudo as culturas orais mas que apesar das restriccedilotildees de propriedade intelectual natildeo
deixam evidentemente de influenciar a cultura escrita Nas sociedades aacutegrafas um dos fatores
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que mais enriquecem os relatos populares eacute a diversidade das versotildees ou seja cada um que
ouve um caso apropria-se da estrutura narrativa e acrescenta elementos de seu universo
cultural ao contaacute-lo De boca a boca temperadas pelas sutilezas do cotidiano as histoacuterias
adquirem novos sabores e acabam por reunir os ingredientes mais significativos do imaginaacuterio
coletivo de uma eacutepoca
A antropologia ensina que o ser humano eacute o resultado do meio cultural em que foi
socializado Somos herdeiros de um longo processo acumulativo fundamentado no
conhecimento adquirido por geraccedilotildees de ancestrais Laraia (2001 p45-47) observa que eacute
justamente a manipulaccedilatildeo adequada e criativa desse patrimocircnio cultural que permite
inovaccedilotildees e invenccedilotildees que por sua vez natildeo satildeo produtos de accedilatildeo isolada de um gecircnio mas o
resultado de um esforccedilo comunitaacuterio Na histoacuteria temos incontaacuteveis casos de obras coletivas
como as lendas miacuteticas as canccedilotildees populares e mesmo o caso da Iliacuteada atribuiacuteda a Homero
mas que hoje acredita-se tratar de uma reuniatildeo de narrativas correntes da tradiccedilatildeo oral
claacutessica Assim Laraia defende a hipoacutetese que se Albert Einstein por exemplo natildeo tivesse
desenvolvido suas teorias algueacutem o faria mais cedo ou mais tarde pois outros cientistas
ldquodiante de um mesmo material culturalrdquo estariam aptos para utilizar os mesmos
conhecimentos e chegar aos mesmos resultados
Aiacute estaacute uma boa questatildeo Estariam os segredos de patentes impedindo o surgimento de
novos Einsteins Laraia (2001 p46) observa que natildeo basta a natureza criar indiviacuteduos
altamente inteligentes pois isto ela jaacute faz com frequumlecircncia mas ldquoeacute necessaacuterio que coloque ao
alcance desses indiviacuteduos o material que lhes permita exercer a sua criatividade de uma
maneira revolucionaacuteriardquo Dessa forma sentimo-nos agrave vontade para afirmar que sim sem
circulaccedilatildeo efetiva de conhecimento sobretudo devido agraves restriccedilotildees econocircmicas gecircnios
potenciais satildeo prodigamente desperdiccedilados
Mas como a nova economia estruturou a informaccedilatildeo como um produto agrave venda a equaccedilatildeo
natildeo fecha Em relaccedilatildeo a Internet proprietaacuterios de direitos autorais natildeo conseguem encontrar
soluccedilotildees para essa inquietante ambivalecircncia Por um lado a rede eacute um recurso fabuloso de
divulgaccedilatildeo e um potencial ineacutedito de distribuiccedilatildeo de conteuacutedo Por outro muitos empresaacuterios
ainda mantecircm forte resistecircncia por consideraacute-la um instrumento que soacute favorece a livre e
infinita pirataria
Nesse turbulento contexto surge da informaacutetica a ideacuteia de copyleft um novo conceito que
ainda natildeo eacute reconhecido em convenccedilotildees internacionais mas que vem adquirindo popularidade
e legitimidade sobretudo na Internet ao mesmo tempo que parece ameaccedilar negociantes de
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conteuacutedos A criaccedilatildeo deste termo eacute atribuiacuteda a Richard Stallman um ativista da primeira
geraccedilatildeo de hackers da Universidade de Harvard e do MIT Artificial Intelligence Lab
(Laboratoacuterio de Inteligecircncia Artificial do Instituto de Tecnologia de Massachusetts) nos anos
1970 Em janeiro de 1984 Stallman abandonou o MIT para dedicar-se ao projeto GNU ndash uma
paroacutedia metalinguumliacutestica e tautoloacutegica a sigla GNU significa Gnu is Not Unix (Gnu Natildeo eacute
Unix) Em 1985 fundou a Free Software Foundation (FSF)
Copyleft eacute um trocadilho de traduccedilatildeo literal impossiacutevel No primeiro momento em uma
inversatildeo do copyright (direitos de reproduccedilatildeo) o novo termo substitui o ldquorightrdquo pelo ldquoleftrdquo
direita por esquerda em inglecircs ndash naturalmente uma alusatildeo agrave ideologia poliacutetica agrave esquerda
historicamente envolvida nos esforccedilos de democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo Mas ldquoleftrdquo eacute
tambeacutem um modo verbal que se refere ao ldquosimple pastrdquo (passado perfeito) do verbo ldquoleaverdquo
que significa ldquopermitir deixarrdquo Neste segunda leitura poderiacuteamos traduzir copyleft por algo
como ldquocoacutepia permitidardquo Junto a esse conceito foi criado para parodiar o slogan ldquoAll rights
reservedrdquo (Todos os direitos reservados) a foacutermula ldquoAll rights reversedrdquo (Todos os direitos
invertidos) Mas para compreender as sutilezas do copyleft eacute necessaacuterio compreender os
fundamentos do projeto GNU
GNU is Not Unix
O GNU foi idealizado em 1983 e lanccedilado no ano seguinte com o objetivo de desenvolver
um sistema operacional completo e tatildeo eficiente quanto o Unix A diferenccedila eacute que ao
contraacuterio deste uacuteltimo que eacute um sistema fechado e exige pagamento pela licenccedila de uso o
GNU eacute um sistema aberto e oferece livre acesso para os usuaacuterios ndash ou seja pode ser instalado
modificado e copiado gratuitamente De acordo com informaccedilotildees no site do projeto diversas
variaccedilotildees do sistema GNU que utilizam o nuacutecleo Linux satildeo hoje largamente utilizadas
(estima-se que aproximadamente 20 milhotildees de usuaacuterios tecircm acesso ao programa) Apesar de
serem normalmente chamados apenas de Linux o popular sistema operacional gratuito criado
por Linus Torvalds na verdade trata-se de variaccedilotildees de sistemas GNULinux ldquoO Software
Livre eacute uma questatildeo de liberdade as pessoas devem ser livres para usar o software de todas as
maneiras que sejam socialmente uacuteteis2rdquo
Na concepccedilatildeo dos criadores do GNU a palavra livre (free no original) estaacute relacionada
com liberdade em vez de preccedilo Isso quer dizer que o usuaacuterio pode ou natildeo pagar um preccedilo
2 Traduzida por Pedro Oliveira e revisada por Miguel Oliveira em abril de 2000 Atualizada por Fernando Lozano Disponiacutevem el lthttpwwwgnuorgphilosophyphilosophypthtmlAbouttheGNUprojectgt Acesso em 27 fev 2004
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
para obter o software GNU Informaccedilotildees no site oficial esclarecem que esse programa
possibilita trecircs liberdades especiacuteficas de utilizaccedilatildeo
Primeiro a liberdade de copiar o programa e da-lo (sic) para seus amigos e colegas de trabalho
Segundo a liberdade de modificar o programa de acordo com os seus desejos por ter acesso
completo agraves fontes Terceiro a liberdade de distribuir versotildees modificadas e assim ajudar a
construir a comunidade (Se vocecirc redistribui software GNU vocecirc pode cobrar pelo ato de
transferir uma coacutepia ou vocecirc pode dar coacutepias de graccedila)3
A ideacuteia ainda segundo os criadores eacute ldquotrazer de volta o espiacuterito cooperativo que prevalecia
na comunidade de informaacutetica nos seus primoacuterdiosrdquo removendo obstaacuteculos impostos pelos
proprietaacuterios do software e tornando possiacutevel a cooperaccedilatildeo entre programadores
Todo usuaacuterio de computador precisa necessariamente de um Sistema Operacional
(Operating System) como o Windows o Mac ou o Unix para citar os mais populares entre o
puacuteblico natildeo especializado Sem um sistema operacional livre natildeo eacute possiacutevel nem mesmo
iniciar um computador sem pagar pela licenccedila de uso do software (a natildeo ser que se use
versotildees piratas e portanto ilegais) Assim para o GNU o primeiro item na agenda do
software livre eacute o estabelecimento de um sistema operacional livre
A Free Software Foundation (FSF) fundada por Richard Stallman manteacutem desde 1999 o
projeto Free Software Directory (FSD) Em um site da web a fundaccedilatildeo deixa agrave disposiccedilatildeo
para download softwares livres que funcionam em sistemas operacionais abertos sobretudo
nas variaccedilotildees GNULinux Desde abril de 2003 o projeto conta com o apoio da Unesco
Quase tudo em copyleft
Haacute nesse conceito uma caracteriacutestica chave que o diferencia definitivamente da ideacuteia de
ldquodomiacutenio puacuteblicordquo De fato o modo mais simples de estabelecer um software-livre eacute colocaacute-
lo sob domiacutenio puacuteblico ou seja abrir matildeo por completo do copyright No entanto se por um
lado permite que os usuaacuterios compartilhem livremente o programa original essa licenccedila
aberta deixa uma brecha Ela natildeo impede por exemplo que empresas natildeo-cooperativas ao
fazer poucas modificaccedilotildees no programa registrem o copyright e detentoras dos direitos
autorais comercializem com exclusividade o ldquonovordquo software com coacutedigo fechado
Assim em vez de colocar os programas do GNU em domiacutenio puacuteblico o projeto
desenvolveu esse artifiacutecio O copyleft impotildee que qualquer usuaacuterio que redistribua o programa
3 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggnugnu-historypthtmlgt Acesso em 27 fev 2004
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com ou sem modificaccedilotildees deve necessariamente passar adiante as liberdades de fazer novas
coacutepias e modificaacute-las Em outras palavras torna ilegal a comercializaccedilatildeo da versatildeo melhorada
em coacutedigo fechado
A estrateacutegia dessa licenccedila eacute engenhosa Para distribuir programa em copyleft primeiro o
GNU esclarece que ele estaacute protegido sob copyright Em seguida nos termos de distribuiccedilatildeo ndash
o instrumento legal que concede o direito de uso ndash registra que o usuaacuterio pode modificar e
redistribuir o coacutedigo-fonte do programa (ou qualquer outro programa derivado dele) mas
somente se todos os termos de distribuiccedilatildeo permanecerem inalterados ndash leia-se se for
mantido o coacutedigo aberto Aleacutem disso a FSF estabelece que cada autor de coacutedigo incorporado
a softwares da fundaccedilatildeo ceda seus direitos de copyright ldquoDeste modo noacutes podemos ter
certeza de que todo o coacutedigo em projetos da FSF eacute coacutedigo livre cuja liberdade noacutes podemos
proteger de maneira efetiva e na qual outros desenvolvedores possam confiar plenamente4rdquo
Assim o coacutedigo e as liberdades se tornam legalmente inseparaacuteveis A grosso modo satildeo essas
as bases da General Public License (Licenccedila Puacuteblica Geral) do GNU comumente chamada
de GNU GPL
O trecho a seguir do coletivo literaacuterio Wu Ming explica com a insolecircncia tiacutepica de grupos
anarquistas como essa estrateacutegia funciona na praacutetica
Se o software livre tivesse permanecido simplesmente em domiacutenio puacuteblico cedo ou tarde
os rapaces da induacutestria o teriam colocado sob suas garras A soluccedilatildeo foi virar o copyright pelo
avesso para transformaacute-lo de obstaacuteculo agrave livre reproduccedilatildeo em suprema garantia desta uacuteltima
Em poucas palavras ponho o copyright uma vez que sou proprietaacuterio desta obra portanto
aproveito deste poder para dizer que com esta obra vocecirc pode fazer o que quiser pode copiaacute-la
difundi-la modificaacute-la mas natildeo pode impedir outro de fazecirc-lo isto eacute natildeo pode apropriar-se
dela e impedir sua circulaccedilatildeo natildeo pode colocar nela um copyright seu porque ela jaacute tem um
me pertence e eu te enrabo (WU MING 1 2003)
ldquoAteacute onde o software livre pode irrdquo perguntam os criadores do GNU ldquoNatildeo haacute limites
exceto quando leis como o sistema de patentes proiacutebem o software livre completamente O
objetivo final eacute fornecer software livre para realizar todas as tarefas que os usuaacuterios de
computadores querem realizar -- e assim tornar o software proprietaacuterio obsoletordquo5
4 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorglicenseswhy-assignpthtmlgt Acesso em 27 fev 2004 5 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggnugnu-historypthtmlgt Acesso em 27 fev 2004
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Do universo da informaacutetica o copyleft invadiu outras aacutereas do conhecimento Em artigo
publicado na revista Nature o proacuteprio Richard Stallman defende que a ciecircncia deve deixar o
copyright de lado
Deveria ser naturalmente oacutebvio que a literatura cientiacutefica existe para disseminar o
conhecimento cientiacutefico e que as publicaccedilotildees cientiacuteficas existem para facilitar o processo (hellip)
[Entretanto] muitos editores de publicaccedilotildees parecem acreditar que o propoacutesito da literatura
cientiacutefica eacute permitir a eles publicar perioacutedicos para nada mais do que angariar assinaturas de
cientistas e estudantes Tal pensamento eacute conhecido como lsquoconfusatildeo dos meios com os finsrsquo
(STALLMAN 2001)6
Para Stallman o copyright foi estabelecido para satisfazer demandas de proteccedilatildeo proacuteprias
das publicaccedilotildees impressas mas natildeo tem mais sentido na era da comunicaccedilatildeo eletrocircnica
(voltaremos a essa argumentaccedilatildeo adiante) A pergunta que faz eacute ldquoquais regras garantiriam a
maacutexima disseminaccedilatildeo de artigos cientiacuteficos e conhecimento na Webrdquo Ele defende que
textos cientiacuteficos deveriam ser distribuiacutedos livremente com acesso aberto para todos E nas
paacuteginas da Internet todos deveriam ter o direito de ldquoespelharrdquo artigos isto eacute republicaacute-los
literalmente em seus proacuteprios sites com as devidas referecircncias
Editores de perioacutedicos costumam reclamar que a infra-estrutura on-line requer cariacutessimos
servidores de alta potecircncia e entatildeo precisam cobrar taxas de acesso para pagar os custos Para
Stallman este lsquoproblemarsquo eacute uma consequumlecircncia da proacutepria lsquosoluccedilatildeorsquo que os editores adotam
ldquoDecirc a todo mundo a liberdade de espelhar e bibliotecas ao redor do planeta vatildeo instalar sites
espelho para responder agrave demandardquo Essa distribuiccedilatildeo descentralizada certamente reduziria as
necessidades individuais de expandir a largura da banda da rede para responder ao traacutefego
possibilitaria portanto acesso mais raacutepido aleacutem da vantagem de proteger os trabalhos
acadecircmicos contra perdas acidentais
Mas como financiar as publicaccedilotildees O custo da ediccedilatildeo (mesmo no caso de impressos
atreveriacuteamos a acrescentar) poderia ser recuperado sugere Stallman atraveacutes de uma taxa por
paacutegina cobrada dos autores que por sua vez poderiam passar os custos para os financiadores
da pesquisa O autor ocasional que natildeo eacute afiliado a uma instituiccedilatildeo e que natildeo tem nenhum
oacutergatildeo financiador seria eximido de pagar as taxas e os custos computados a outros autores
ligados agrave instituiccedilotildees de fomento agrave pesquisa
6 Traduccedilatildeo livre
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ldquoA Constituiccedilatildeo Americana diz que o copyright existe lsquopara promover o progresso da
ciecircnciarsquo Quando o copyright impede o progresso da ciecircncia a Ciecircncia precisa deixar o
copyright de ladordquo conclui Stallman (2001)
Copyright e maremoto
Da ciecircncia o conceito passou a referir-se a fenocircmenos da cultura
Atualmente existe um amplo movimento de protesto e transformaccedilatildeo social em grande
parte do planeta Ele possui um potencial enorme mas ainda natildeo estaacute completamente
consciente disso Embora sua origem seja antiga soacute se manifestou recentemente aparecendo
em vaacuterias ocasiotildees sob os refletores da miacutedia poreacutem trabalhando dia a dia longe deles Eacute
formado por multidotildees e singularidades por retiacuteculas capilares no territoacuterio Cavalga as mais
recentes inovaccedilotildees tecnoloacutegicas As definiccedilotildees cunhadas por seus adversaacuterios ficam-lhe
pequenas Logo seraacute impossiacutevel paraacute-lo e a repressatildeo nada poderaacute contra ele
Eacute aquilo que o poder econocircmico chama ldquopiratariardquo (WU MING 1 2002 p3)7
Esta eacute a introduccedilatildeo do manifesto Copyright e maremoto do coletivo literaacuterio italiano Wu
Ming (que significa em chinecircs Natildeo-famoso ou Anocircnimo) O texto argumenta que durante
milecircnios a civilizaccedilatildeo humana prescindiu do copyright do mesmo modo que prescindiu de
ldquooutros falsos axiomas parecidos como a lsquocentralidade do mercadorsquo ou o lsquocrescimento
ilimitadorsquordquo Afirma que se a propriedade intelectual tivesse surgido na antiguumlidade a
humanidade natildeo teria a Biacuteblia o Coratildeo Gilgamesh o Mahabarata a Iliacuteada a Odisseacuteia e todas
as narrativas surgidas de um amplo e feacutertil processo de mistura combinaccedilatildeo re-escritura e
transformaccedilatildeo ndash ou seja tudo aquilo que muitos chamam de plaacutegio
O manifesto celebra o fato de que a cada dia na era digital milhotildees de pessoas violam e
rechaccedilam continuamente o copyright Essa subversatildeo eacute feita quando copiamos muacutesica em
formato MP3 na Internet quando distribuiacutemos informaccedilatildeo pela rede e quando reproduzimos
livremente conteuacutedos que nos interessam usufruindo de tecnologias que suprimem a distinccedilatildeo
entre original e coacutepia ldquoNatildeo estamos falando da lsquopiratariarsquo gerida pelo crime organizado
divisatildeo extralegal do capitalismo natildeo menos deslocada e ofegante do que a legal pela
extensatildeo da lsquopiratariarsquo autogestionada e de massasrdquo prossegue o manifesto Para Wu Ming 1
a democratizaccedilatildeo geral do acesso agraves artes tem a ver com o rompimento de barreiras sociais
ldquo(hellip) devo fornecer algum dado sobre o preccedilo dos CDsrdquo (idem p4)
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Assim entusiasticamente argumenta que esse processo estaacute mudando o aspecto da
induacutestria cultural mundial ao inaugurar uma nova fase da cultura onde leis mais duras jamais
seratildeo suficientes para deter uma dinacircmica social jaacute iniciada e envolvente Essa movimentaccedilatildeo
estaria rumando a um ponto em que seriam superadas todas legislaccedilotildees sobre propriedade
intelectual para que fossem totalmente reescritas
O copyleft eacute entatildeo saudado como uma inovaccedilatildeo juriacutedica vinda de baixo que superou a
lsquopiratariarsquo ao enfatizar a forccedila construtiva (pars construens) do movimento real Para o
manifesto com aquela estrateacutegia do copyleft (explicitada neste artigo na discussatildeo sobre o
GNU) as leis vigentes do copyright8 estatildeo sendo pervertidas em relaccedilatildeo a sua funccedilatildeo original
e em vez de oferecer obstaacuteculos se converte em garantia de livre circulaccedilatildeo
Para servir de exemplo praacutetico todos os livros editados pelo coletivo Wu Ming contam
com a seguinte locuccedilatildeo ldquoPermitida a reproduccedilatildeo parcial ou total da obra e sua difusatildeo por via
telemaacutetica para uso pessoal dos leitores sob condiccedilatildeo de que natildeo seja com fins comerciaisrdquo
(idem p6) Rogeacuterio de Campos diretor editorial da Conrad editora da coleccedilatildeo Baderna
afirmou em entrevista agrave Folha de S Paulo que soacute conseguiu negociar os direitos de
reproduccedilatildeo do romance Q do autor Luther Blisset (pseudocircnimo de autores coletivos ligados
ao Wu Ming) depois de admitir uma claacuteusula que obriga a editora a ldquoprocessar qualquer um
que impeccedila a livre reproduccedilatildeo da obrardquo (ASSIS 2002)
As leis vigentes sobre o copyright ainda ignoram completamente o recurso ao copyleft De
acordo com o texto do manifesto em diversos encontros com deputados italianos os
produtores de software livre foram comparados pura e simplesmente aos ldquopiratasrdquo Isso faz
lembrar uma declaraccedilatildeo Richard Stallman em entrevista agrave Folha de S Paulo ldquoNatildeo faz sentido
sermos comparados a pessoas que atacavam navios e matam soacute porque compartilhamos
informaccedilatildeo puacuteblica com o vizinhordquo (MAISONNAVE LOUZANO 2000)
A segunda parte do livreto Copyright e maremoto conta com trechos de uma entrevista
feita com o grupo Neste pequeno diaacutelogo eles expotildeem com paixatildeo e fuacuteria seus atrevimentos
culturais sem receio de exageros retoacutericos entusiasmados ldquoSim noacutes afirmamos que a cultura
popular ocidental do seacuteculo XX (hellip) estava muitas vezes mais proacutexima do socialismo do que
os regimes lsquosocialistasrsquo orientais do seacuteculo XX conseguiram estarrdquo Para eles a seacuterie de
imagens de Mao Tse Tung serigrafadas por Andy Warhol foi mais importante para os
fundamentos da Revoluccedilatildeo do que os retratos oficiais do Grande Timoneiro agitados em
7 Esse manifesto foi escrito por Roberto Bui que publicamente identifica-se como Wu Ming 1 8 As atuais leis de copyright foram padronizadas na Convenccedilatildeo de Berna em 1971
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manifestaccedilotildees maoiacutestas ldquoO socialismo deve ser baseado na natureza coletiva da produccedilatildeo
capitalistardquo Ao contraacuterio do pessimismo de Adorno em relaccedilatildeo agrave induacutestria cultural e da
lsquoobsessatildeorsquo dos situacionaistas com o lsquoespetaacuteculorsquo o manifesto prega que a produccedilatildeo da
cultura pop no seacuteculo passado foi um processo socialista coletivo aberto mutante e
constantemente entrelaccedilado por inuacutemeras subculturas graccedilas agrave esfuziante habilidade das
multidotildees na reapropriaccedilatildeo ou ldquode-propriaccedilatildeordquo dessa cultura via pirataria de CDs violaccedilatildeo
de DVDs troca de arquivos em rede etc ldquoAs instituiccedilotildees da propriedade intelectual estatildeo
caindo aos pedaccedilos as pessoas estatildeo detonando-as Eacute um maravilhoso processo popular e
estaacute mais proacuteximo do socialismo do que a China jamais esteverdquo (WU MING 1 2002 p7-8)
Surge enfim a questatildeo da remuneraccedilatildeo dos autores O trabalho intelectual eacute um serviccedilo
pesado Exige um alto investimento em estudo em tempo e evidentemente deve ser
remunerado Assim a pergunda natural eacute o copyright natildeo eacute essencial para a sobrevivecircncia do
autor
Se um sujeito natildeo tem dinheiro para comprar qualquer um dos livros editados pela Wu
Ming Foundation pode tranquumlilamente fotocopiaacute-lo digitalizaacute-lo em scanner ou entatildeo a
soluccedilatildeo mais cocircmoda fazer o download gratuito da obra integral no site oficial
wwwwumingfoundationorg em um computador puacuteblico em alguma universidade ou
biblioteca As reproduccedilotildees que natildeo visam lucro satildeo automaticamente autorizadas Mas se um
editor estrangeiro quer comercializar uma de suas obras em outro paiacutes neste caso a utilizaccedilatildeo
evidentemente visa lucro e portanto essa empresa deve pagar por isso
Na verdade o Wu Ming apenas admitiu uma evidecircncia expliacutecita ningueacutem deixa de copiar
uma obra porque no rodapeacute haacute uma frase que diz lsquotodos os direitos satildeo reservados e
protegidos pela Lei 5988 de 141273 Nenhuma parte deste livro sem autorizaccedilatildeo preacutevia
por escrito da editora poderaacute ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios
empregados etchelliprsquo Quando o copyright foi introduzido9 concomitante ao desenvolvimento
da imprensa haacute trecircs seacuteculos natildeo havia possibilidade de lsquocoacutepia privadarsquo ou lsquoreproduccedilatildeo sem
fins de lucrorsquo porque soacute empresaacuterios editores tinham acesso agraves maacutequinas tipograacuteficas
Portanto em suas origens o copyright natildeo era percebido como lsquoanti-socialrsquo mas era uma
arma de um empresaacuterio contra o outro natildeo de um empresaacuterio contra o puacuteblico Mas com a
revoluccedilatildeo da informaacutetica e das comunicaccedilotildees o puacuteblico tem acesso agraves tecnologias de
9 A primeila lei de copyright surgiu na Inglaterra em 1710 mas foi desenvolvida a seguir nos EUA
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reproduccedilatildeo Dessa forma o copyright tornou-se na visatildeo do Wu Ming ldquouma arma que
dispara na multidatildeordquo10 (WU MING 1 2003) ndash mas sem muito efeito poderiacuteamos acrescentar
Nesse contexto observando sua proacutepria experiecircncia editorial esse coletivo literaacuterio
percebeu um fenocircmeno curioso e aparentemente paradoxal natildeo haacute relaccedilatildeo direta entre
ldquocoacutepias oficiais natildeo vendidasrdquo e ldquocoacutepias pirateadasrdquo Em outras palavras as coacutepias natildeo
influenciam na vendagem das obras ldquoEm realidade editorialmente quanto mais uma obra
circula mais venderdquo Ou seja quanto mais democratizada maiores os lucros O exemplo
paradigmaacutetico eacute a obra Q de Luther Blisset editado por eles que vendeu mais de 2 milhotildees
de coacutepias apesar de ndash ou melhor justamente devido ao copyleft O sujeito copia o livro seja
porque natildeo tem dinheiro seja porque natildeo quer comprar lsquono escurorsquo e gosta do que leu
Decide indicar ou mesmo dar de presente a algueacutem mas natildeo quer dar uma coacutepia qualquer
Pronto compra o livro A pessoa presenteada tambeacutem gosta e passa a indicar ou presentear
outras com o mesmo livro Uma coacutepia dois ou trecircs livros vendidos Simples assim
Para o Wu Ming se a maioria dos editores natildeo perceberam essa dinacircmica foi mais por
questatildeo ideoloacutegica que mercadoloacutegica ldquoA editoraccedilatildeo natildeo estaacute em risco de extinccedilatildeo como a
induacutestria fonograacutefica a loacutegica eacute outra outros os suportes outros os circuitos outro o modo de
fruiccedilatildeo e sobretudo a editoraccedilatildeo natildeo perdeu ainda a cabeccedila natildeo reagiu com retaliaccedilotildees em
massa denuacutencias e processos agrave grande revoluccedilatildeo tecnoloacutegica que democratiza o acesso aos
meios de reproduccedilatildeordquo (WU MING 2003)
A estrateacutegia da induacutestria
Seraacute que estamos mesmo prestes a assistir ao desmoronamento da induacutestria cultural Seraacute
que os legisladores precisaratildeo reescrever todas as regras de direitos autorais para responder ao
novo momento tecnoloacutegico-cultural do seacuteculo XXI Shapiro e Varian (1999 p103)
argumentam que natildeo Na verdade eles defendem que muitos princiacutepios claacutessicos da economia
ainda satildeo perfeitamente vaacutelidos para essas situaccedilotildees ldquoO que mudou eacute que a Internet e a
tecnologia da informaccedilatildeo em geral oferecem oportunidades e desafios novos para a aplicaccedilatildeo
desses princiacutepiosrdquo Assim acreditam que os donos de propriedade intelectual seratildeo
naturalmente capazes de superar as lsquoameaccedilasrsquo da reproduccedilatildeo digital atraveacutes de estrateacutegias
semelhantes as quais superaram os desafios provocados pela tecnologia no passado ldquoAs
10 A Disney chegou a levar vaacuterias creches americanas aos tribunais por exibirem desenhos animados em viacutedeo sem licenccedila formal Na deacutecada de 90 a empresa ameaccedilou processar trecircs creches da Floacuterida que haviam pintado personagens da Disney em suas paredes (SHAPIRO VARIAN 1999 p109)
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novas oportunidades oferecidas pela reproduccedilatildeo digital excedem em muito os problemasrdquo
(SHAPIRO VARIAN 1999 p104)
Todas as facilidades da tecnologia digital satildeo elencadas para dar suporte ao otimismo dos
autores sobretudo os baixos custos de reproduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo ldquoNatildeo lute contra os custos
de distribuiccedilatildeo mais baixosrdquo aconselham ldquotire vantagem delesrdquo Para isso eacute preciso que
negociantes saibam lidar com o que os economistas chamam de ldquobem da experiecircnciardquo
O objeto de consumo eacute chamado de ldquobem da experiecircnciardquo (idem p18) quando os
fregueses precisam experimentar o produto antes de atribuir-lhes valor Qualquer novidade no
mercado eacute potencialmente um bem da experiecircncia e os publicitaacuterios contam com meacutetodos
claacutessicos de propaganda nesses casos promoccedilatildeo atraveacutes de reduccedilatildeo comparativa de preccedilo
depoimentos de famosos e anocircnimos e a infaliacutevel distribuiccedilatildeo de amostras graacutetis de pequenas
quantidades do produto a ser anunciado Eis mais uma pista Voltaremos a ela adiante
A induacutestria da informaccedilatildeo tecircm tambeacutem seus meacutetodos claacutessicos para fazer com que os
consumidores comprem o bem simboacutelico antes de ter certeza se o que estatildeo adquirindo vale o
preccedilo que pagam antecipadamente Primeiramente da mesma forma que em supermercados eacute
possiacutevel bebericar gratuitamente uma nova marca de iogurte em promoccedilotildees de lanccedilamento
existem formas de experimentar o ldquogostinhordquo do produto cultural Eacute possiacutevel ler as manchetes
de capa do jornal o trailer do filme etc Evidentemente isso eacute apenas uma parte da histoacuteria
Os produtos de sucesso superam o problema do ldquobem da experiecircnciardquo por meio da promoccedilatildeo
de sua ldquomarcardquo e sua ldquoreputaccedilatildeordquo Mas natildeo pretendemos entrar nessa discussatildeo pois natildeo cabe
na abordagem que restringe este artigo
Pois bem as grandes lojas de livros tornaram o ato de folhear mais confortaacutevel oferecendo
poltronas aacutereas abertas e cafeacutes porque haacute tempos jaacute sabem que essa estrateacutegia empresarial
impulsiona a venda de livros Ao lsquooferecerem gratuitamentersquo parte de seu produto elas
acabam ganhando muito mais dinheiro Nessa perspectiva a Internet eacute vista por Shapiro e
Varian (1999 p106) como ldquoum modo maravilhoso de oferecer amostras graacutetis do conteuacutedo
da informaccedilatildeordquo E enquanto especialistas discutem a maneira mais adequada de propaganda
na Web Shapiro e varian satildeo categoacutericos a Internet eacute ideal para ldquoinfomerciais11rdquo ou seja
estrateacutegia que fisga o leitor atraveacutes do oferecimento do proacuteprio conteuacutedo Mas a duacutevida eacute
como vatildeo ganhar dinheiro se simplesmente doarem seu produto A resposta dos autores eacute
11 ldquoComerciais de longa duraccedilatildeo que aleacutem de explicar em detalhes as caracteriacuterticas (hellip) do produto transmitem ainda depoimentos de usuaacuterios e outras informaccedilotildees pertinentes ao bem ou serviccedilo anunciadordquo (SHAPIRO VARIAN 1999 p106)
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doe somente parte de seu produto Eacute o princiacutepio claacutessico da amostra graacutetis mas com a
vantagem do insignificante custo de distribuiccedilatildeo ldquoO truque eacute dividir seu produto em
componentes dos quais alguns vocecirc daacute outros vocecirc vende As partes doadas satildeo os anuacutencios
ndash os infomerciais ndash das partes que vocecirc venderdquo
Os autores partem de um princiacutepio ergonocircmico para fundamentar suas hipoacuteteses hoje e
provavelmente por um bom tempo ningueacutem consegue ler um livro ou ateacute mesmo um artigo
de revista muito extenso com os olhos fixos em um monitor Eacute simplesmente muito
cansativo Segundo Shapiro e Varian pesquisas mostram que os usuaacuterios da web em geral
lecircem apenas duas telas de conteuacutedo antes de clicarem para sair Dessa forma o deconforto
associado agrave leitura direta em monitores sugere que a empresa pode colocar grandes
quantidades de conteuacutedo on-line sem que isso prejudique as vendas de coacutepias impressas12
Eacute claro que se a versatildeo na Web for faacutecil de imprimir podemos supor que o usuaacuterios
estaratildeo tentados a fazecirc-lo Mas haacute uma estrateacutegia muito simples para tornar a impressatildeo
caseira um ato trabalhoso e desconfortaacutevel ldquoA melhor coisa a fazerrdquo escrevem ldquoeacute tornar a
versatildeo on-line faacutecil de folherar ndash muitas telas curtas muitos links ndash mas difiacutecil de imprimir
em sua totalidaderdquo
Natildeo eacute difiacutecil perceber que ateacute esse momento com palavras e propoacutesitos diferentes
Shapiro e Varian disseram as mesmas coisas que o coletivo Wu Ming em relaccedilatildeo ao negoacutecio
editorial As divergecircncias satildeo ideoloacutegicas pois os primeiros admitem como um verdadeiro
problema o ldquocontrabando de bitsrdquoe a ldquopirataria digitalrdquo dizendo ldquoTudo de que se precisa eacute
que haja vontade poliacutetica para defender os direitos de propriedade intelectualrdquo (idem p114)
Mas na verdade os autores consideram que os proprietaacuterios dos conteuacutedos satildeo
excessivamente conservadores a respeito de gestatildeo de suas propriedades intelectuais Eles
observam que tradicionalmente toda nova tecnologia de reproduccedilatildeo produz previsotildees
catastroacuteficas no mercado Para eles a histoacuteria da veiculaccedilatildeo dos filmes em viacutedeo eacute um caso
exemplar
Hollywood ficou petrificada com o advento dos gravadores de videocassete O setor de
televisatildeo deu entrada em processos para impedir a coacutepia domeacutestica de programas de TV e a
Disney tentou distinguir as compras dos alugueacuteis de viacutedeo por meio de arranjos de
licenciamento Todas essas tentativas fracassaram Ironicamente Hollywood ganha hoje mais
com os viacutedeos do que com as apresentaccedilotildees em cinemas na maioria das produccedilotildees O mercado
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de vendas e de aluguel de viacutedeos antes tatildeo temido tornou-se uma imensa fonte de receita para
Hollywood (SHAPIRO VARIAN 1999 p17)
As proacuteprias bibliotecas satildeo um exemplo de uma inovaccedilatildeo que primeiro pareceu ameaccedilar o
setor editorial mas acabou por ampliaacute-lo imensamente (idem p115) A loacutegica eacute simples o
acesso agrave obras gratuitas forma o gosto de leitores que mais tarde compraratildeo livros Shapiro e
Varian percebem que perante os desafios da era digital haacute uma tendecircncia natural para que os
produtores se preocupem demais em lsquoprotegerrsquo sua propriedade intelectual Mas para eles o
importante eacute lsquomaximizarrsquo o valor da propriedade intelectual natildeo protegecirc-la pela pura
proteccedilatildeo ldquoSe vocecirc perde um pouco de sua propriedade quando a vende ou aluga esses eacute
apenas um dos custos de fazer negoacutecios juntamente com a depreciaccedilatildeo as perdas de estoque
e a obsolecircnciardquo
Ao mesmo tempo sabenos que existem muitos outros recursos para motivar a compra do
consumidor mesmo quando se tratam de bens culturais Moles (1974) ensina que o
mecanismo baacutesico da publicidade consiste em acrescentar um valor psicoloacutegico ao valor
propriamente utilitaacuterio do produto explorando portanto as emoccedilotildees secundaacuterias do
consumidor A publicidade alimenta artificialmente um desejo e sobretudo atraveacutes da
repeticcedilatildeo pelos meios de comunicaccedilatildeo primeiro convence que essa vontade eacute uma
necessidade essencial e depois promete satisfazecirc-la atraveacutes dos valores associados ao objeto
de consumo Na verdade natildeo satildeo vendidos produtos mas status social estilos sensaccedilotildees
impressotildees Isso quer dizer que os anuacutencios publicitaacuterios natildeo oferecem sabonetes mas
possibilidade de beleza natildeo anunciam automoacuteveis mas o prazer da velocidade e de poder
natildeo querem vender cigarro mas sentimento de juventude e de liberdade Em outras palavras
a publicidade complica a vida para oferecer a possibilidade de resolvecirc-la por meio do
consumo Assim podemos dizer que o mercado da cultura tambeacutem vive da venda de status
de prestiacutegio intelectual e natildeo apenas de conhecimento Basta pensar em quantos livros
compramos por lsquoimpulsorsquo mesmo sabendo que talvez nunca o leremos Ou quantos CDs
adquirimos para ouviacute-los algumas poucas vezes e guardaacute-los na estante Ou quantas fitas de
viacutedeo ou DVDs de filmes que jaacute vimos noacutes compramos para guardar mas nunca assistimos
porque estamos sempre alugando outros filmes
12 ldquoA Nacional Academy os Science Press pocircs on-line mais de mil de seus livros e descobriu que a disponibilidade das versotildees eletrocircnicas impulsionou as vendas de coacutepias impressas em duas a trecircs vezesrdquo (idem p107)
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Mas haacute um outro movimento juriacutedico contemporacircneo que parece ter o potencial de
provocar uma discussatildeo sobretudo filosoacutefica na economia da cultura no capitalismo do seacuteculo
XXI O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio
Vargas no Rio de Janeiro cujo objetivo eacute estudar implicaccedilotildees juriacutedicas sociais e culturais do
avanccedilo da tecnologia da informaccedilatildeo vem desenvolvendo estudos importantes nas aacutereas de
propriedade intelectual software livre governanccedila da web e privacidade na Internet O CTS eacute
o oacutergatildeo responsaacutevel pela direccedilatildeo no Brasil do projeto Creative Commons uma iniciativa
criada por Lawrence Lessig na Universidade de Stanford (EUA) O CTS adaptou as licenccedilas
do Creative Commons para o ordenamento juriacutedico brasileiro e fez com que o Brasil se
tornasse pioneiro no desenvolvimento de licenccedilas CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL
atualmente utilizadas pelo governo para o licenciamento de software livre
Uma das principais caracteriacutesticas do direito autoral claacutessico eacute que ele funciona como um
grande NAtildeO Isto quer dizer que para utilizar qualquer conteuacutedo eacute necessaacuterio pedir permissatildeo ao seu autor ou titular de direitos No sistema juriacutedico da propriedade intelectual adotado no Brasil ateacute mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jaacute nascem com todos os direitos reservados
Apesar disto muitos autores e titulares de direitos natildeo se importam que outras pessoas tenham acesso aos seus trabalhos Um muacutesico um videomaker ou uma escritora podem desejar justamente o contraacuterio o amplo acesso agraves suas obras ou eventualmente que seus trabalho sejam reinterpretandos reconstruiacutedos e recriados por outras pessoas
Assim o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitos possa dizer ao mundo que ele natildeo se opotildee agrave utilizaccedilatildeo de sua obra no que diz respeito agrave distribuiccedilatildeo coacutepia e outros tipos de uso
O Creative Commons eacute um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativas disponiacuteveis ao puacuteblico permitindo criar outras obras sobre elas compartilhando-as Isso eacute feito atraveacutes do desenvolvimento e disponibilizaccedilatildeo de licenccedilas juriacutedicas que permitem o acesso agraves obras pelo puacuteblico sob condiccedilotildees mais flexiacuteveis (FGV 2005)
Existem uma seacuterie de modalidades de licenccedila e cada uma delas concede direitos e deveres
especiacuteficos Haacute licenccedilas que por exemplo permitem a divulgaccedilatildeo da obra mas proiacutebem o uso
comercial Outras permitem a utilizaccedilatildeo da obra em outros trabalhos Haacute tambeacutem licenccedilas
que permitem o sampleamento remixagem colagem e outras formas criativas de
reconstruccedilatildeo da obra permitindo uma enorme explosatildeo de possibilidades criativas Dessa
forma a riacutegida locuccedilatildeo todos os direitos reservados eacute substituiacuteda por alguns direitos
reservados propondo assim uma universalidade de bens intelectuais criativos acessiacuteveis a
todos que eacute condiccedilatildeo fundamental para qualquer inovaccedilatildeo cultural e tecnoloacutegica (idem
2005) Assim as novas formas de apropriaccedilatildeo cultural na sociedade da informaccedilatildeo jaacute
comeccedilam a organizar respaldo juriacutedico atraveacutes de movimentos internacionais de
questionamento agrave pertinecircncia das velhas regulaccedilotildees autorais frente agraves exponenciais
possibilidades dos intercacircmbios mediatizados
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Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
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Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
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fonograacutefica por tratar-se de uma questatildeo com complexidades proacuteprias devendo portanto ser
analisado agrave parte
Apesar de ser um conceito cunhado nos anos 80 satildeo raros os trabalhos em portuguecircs sobre
copyleft Este artigo esboccedila resultados de uma pesquisa ainda em andamento e visa contribuir
para suprir essa lacuna
Induacutestria de informaccedilatildeo
A discussatildeo sobre propriedade intelectual eacute uma das mais explosivas da economia do
conhecimento pois toca em um problema crucial na atualidade como determinar e garantir os
direitos autorais de uma ideacuteia de um produto imaterial Em um mercado sofisticado ao ponto
de ser capaz de comercializar bens simboacutelicos ainda natildeo se encontrou a foacutermula eficiente
para regulamentar a circulaccedilatildeo da mercadoria ldquoinformaccedilatildeordquo E essa economia parece deslizar
no seguinte paradoxo que cria uma curiosa situaccedilatildeo de interdependecircncia aparentemente
suicida agrave medida em que as empresas de softwares e equipamentos ndash aparelhos de som de
CDs de DVDs e Viacutedeos Cassetes equipamentos de reprografia induacutestria de informaacutetica etc
ndash lanccedilam produtos mais sofisticados capazes de gravar regravar ou copiar dados com
qualidade industrial os produtores de conteuacutedo perdem cada vez mais a capacidade de
recolher os direitos autorais sobre a reproduccedilatildeo de seus produtos intelectuais ldquoAs mesmas
corporaccedilotildees que vendem samplers fotocopiadoras scanners e masterizadores controlam a
induacutestria global do entretenimento e se descobrem prejudicadas pelo uso de tais
instrumentosrdquo (WU MING 2002 p5)
Shapiro e Varian (1999 p16) observam que na economia do conhecimento a informaccedilatildeo
eacute cara de produzir mas barata para reproduzir ndash filmes de 100 milhotildees de doacutelares por
exemplo podem ser reproduzidos em fitas que custam alguns centavos E evidentemente natildeo
haacute lei de patentes capaz de controlar essa dinacircmica Castells (1999 p51) afirma que uma das
principais caracteriacutesticas da sociedade em rede eacute justamente a capacidade de as pessoas
apropriarem-se criativamente dos novos meios ldquoAs novas tecnologias da informaccedilatildeo natildeo satildeo
simplesmente ferramentas a serem aplicadas mas processos a serem desenvolvidos Usuaacuterios
e criadores podem tornar-se a mesma coisa Dessa forma os usuaacuterios podem assumir o
controle da tecnologia como no caso da Internetrdquo
Essa dinacircmica remete agravequela das criaccedilotildees coletivas que marcaram e ainda caracterizam
sobretudo as culturas orais mas que apesar das restriccedilotildees de propriedade intelectual natildeo
deixam evidentemente de influenciar a cultura escrita Nas sociedades aacutegrafas um dos fatores
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que mais enriquecem os relatos populares eacute a diversidade das versotildees ou seja cada um que
ouve um caso apropria-se da estrutura narrativa e acrescenta elementos de seu universo
cultural ao contaacute-lo De boca a boca temperadas pelas sutilezas do cotidiano as histoacuterias
adquirem novos sabores e acabam por reunir os ingredientes mais significativos do imaginaacuterio
coletivo de uma eacutepoca
A antropologia ensina que o ser humano eacute o resultado do meio cultural em que foi
socializado Somos herdeiros de um longo processo acumulativo fundamentado no
conhecimento adquirido por geraccedilotildees de ancestrais Laraia (2001 p45-47) observa que eacute
justamente a manipulaccedilatildeo adequada e criativa desse patrimocircnio cultural que permite
inovaccedilotildees e invenccedilotildees que por sua vez natildeo satildeo produtos de accedilatildeo isolada de um gecircnio mas o
resultado de um esforccedilo comunitaacuterio Na histoacuteria temos incontaacuteveis casos de obras coletivas
como as lendas miacuteticas as canccedilotildees populares e mesmo o caso da Iliacuteada atribuiacuteda a Homero
mas que hoje acredita-se tratar de uma reuniatildeo de narrativas correntes da tradiccedilatildeo oral
claacutessica Assim Laraia defende a hipoacutetese que se Albert Einstein por exemplo natildeo tivesse
desenvolvido suas teorias algueacutem o faria mais cedo ou mais tarde pois outros cientistas
ldquodiante de um mesmo material culturalrdquo estariam aptos para utilizar os mesmos
conhecimentos e chegar aos mesmos resultados
Aiacute estaacute uma boa questatildeo Estariam os segredos de patentes impedindo o surgimento de
novos Einsteins Laraia (2001 p46) observa que natildeo basta a natureza criar indiviacuteduos
altamente inteligentes pois isto ela jaacute faz com frequumlecircncia mas ldquoeacute necessaacuterio que coloque ao
alcance desses indiviacuteduos o material que lhes permita exercer a sua criatividade de uma
maneira revolucionaacuteriardquo Dessa forma sentimo-nos agrave vontade para afirmar que sim sem
circulaccedilatildeo efetiva de conhecimento sobretudo devido agraves restriccedilotildees econocircmicas gecircnios
potenciais satildeo prodigamente desperdiccedilados
Mas como a nova economia estruturou a informaccedilatildeo como um produto agrave venda a equaccedilatildeo
natildeo fecha Em relaccedilatildeo a Internet proprietaacuterios de direitos autorais natildeo conseguem encontrar
soluccedilotildees para essa inquietante ambivalecircncia Por um lado a rede eacute um recurso fabuloso de
divulgaccedilatildeo e um potencial ineacutedito de distribuiccedilatildeo de conteuacutedo Por outro muitos empresaacuterios
ainda mantecircm forte resistecircncia por consideraacute-la um instrumento que soacute favorece a livre e
infinita pirataria
Nesse turbulento contexto surge da informaacutetica a ideacuteia de copyleft um novo conceito que
ainda natildeo eacute reconhecido em convenccedilotildees internacionais mas que vem adquirindo popularidade
e legitimidade sobretudo na Internet ao mesmo tempo que parece ameaccedilar negociantes de
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conteuacutedos A criaccedilatildeo deste termo eacute atribuiacuteda a Richard Stallman um ativista da primeira
geraccedilatildeo de hackers da Universidade de Harvard e do MIT Artificial Intelligence Lab
(Laboratoacuterio de Inteligecircncia Artificial do Instituto de Tecnologia de Massachusetts) nos anos
1970 Em janeiro de 1984 Stallman abandonou o MIT para dedicar-se ao projeto GNU ndash uma
paroacutedia metalinguumliacutestica e tautoloacutegica a sigla GNU significa Gnu is Not Unix (Gnu Natildeo eacute
Unix) Em 1985 fundou a Free Software Foundation (FSF)
Copyleft eacute um trocadilho de traduccedilatildeo literal impossiacutevel No primeiro momento em uma
inversatildeo do copyright (direitos de reproduccedilatildeo) o novo termo substitui o ldquorightrdquo pelo ldquoleftrdquo
direita por esquerda em inglecircs ndash naturalmente uma alusatildeo agrave ideologia poliacutetica agrave esquerda
historicamente envolvida nos esforccedilos de democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo Mas ldquoleftrdquo eacute
tambeacutem um modo verbal que se refere ao ldquosimple pastrdquo (passado perfeito) do verbo ldquoleaverdquo
que significa ldquopermitir deixarrdquo Neste segunda leitura poderiacuteamos traduzir copyleft por algo
como ldquocoacutepia permitidardquo Junto a esse conceito foi criado para parodiar o slogan ldquoAll rights
reservedrdquo (Todos os direitos reservados) a foacutermula ldquoAll rights reversedrdquo (Todos os direitos
invertidos) Mas para compreender as sutilezas do copyleft eacute necessaacuterio compreender os
fundamentos do projeto GNU
GNU is Not Unix
O GNU foi idealizado em 1983 e lanccedilado no ano seguinte com o objetivo de desenvolver
um sistema operacional completo e tatildeo eficiente quanto o Unix A diferenccedila eacute que ao
contraacuterio deste uacuteltimo que eacute um sistema fechado e exige pagamento pela licenccedila de uso o
GNU eacute um sistema aberto e oferece livre acesso para os usuaacuterios ndash ou seja pode ser instalado
modificado e copiado gratuitamente De acordo com informaccedilotildees no site do projeto diversas
variaccedilotildees do sistema GNU que utilizam o nuacutecleo Linux satildeo hoje largamente utilizadas
(estima-se que aproximadamente 20 milhotildees de usuaacuterios tecircm acesso ao programa) Apesar de
serem normalmente chamados apenas de Linux o popular sistema operacional gratuito criado
por Linus Torvalds na verdade trata-se de variaccedilotildees de sistemas GNULinux ldquoO Software
Livre eacute uma questatildeo de liberdade as pessoas devem ser livres para usar o software de todas as
maneiras que sejam socialmente uacuteteis2rdquo
Na concepccedilatildeo dos criadores do GNU a palavra livre (free no original) estaacute relacionada
com liberdade em vez de preccedilo Isso quer dizer que o usuaacuterio pode ou natildeo pagar um preccedilo
2 Traduzida por Pedro Oliveira e revisada por Miguel Oliveira em abril de 2000 Atualizada por Fernando Lozano Disponiacutevem el lthttpwwwgnuorgphilosophyphilosophypthtmlAbouttheGNUprojectgt Acesso em 27 fev 2004
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para obter o software GNU Informaccedilotildees no site oficial esclarecem que esse programa
possibilita trecircs liberdades especiacuteficas de utilizaccedilatildeo
Primeiro a liberdade de copiar o programa e da-lo (sic) para seus amigos e colegas de trabalho
Segundo a liberdade de modificar o programa de acordo com os seus desejos por ter acesso
completo agraves fontes Terceiro a liberdade de distribuir versotildees modificadas e assim ajudar a
construir a comunidade (Se vocecirc redistribui software GNU vocecirc pode cobrar pelo ato de
transferir uma coacutepia ou vocecirc pode dar coacutepias de graccedila)3
A ideacuteia ainda segundo os criadores eacute ldquotrazer de volta o espiacuterito cooperativo que prevalecia
na comunidade de informaacutetica nos seus primoacuterdiosrdquo removendo obstaacuteculos impostos pelos
proprietaacuterios do software e tornando possiacutevel a cooperaccedilatildeo entre programadores
Todo usuaacuterio de computador precisa necessariamente de um Sistema Operacional
(Operating System) como o Windows o Mac ou o Unix para citar os mais populares entre o
puacuteblico natildeo especializado Sem um sistema operacional livre natildeo eacute possiacutevel nem mesmo
iniciar um computador sem pagar pela licenccedila de uso do software (a natildeo ser que se use
versotildees piratas e portanto ilegais) Assim para o GNU o primeiro item na agenda do
software livre eacute o estabelecimento de um sistema operacional livre
A Free Software Foundation (FSF) fundada por Richard Stallman manteacutem desde 1999 o
projeto Free Software Directory (FSD) Em um site da web a fundaccedilatildeo deixa agrave disposiccedilatildeo
para download softwares livres que funcionam em sistemas operacionais abertos sobretudo
nas variaccedilotildees GNULinux Desde abril de 2003 o projeto conta com o apoio da Unesco
Quase tudo em copyleft
Haacute nesse conceito uma caracteriacutestica chave que o diferencia definitivamente da ideacuteia de
ldquodomiacutenio puacuteblicordquo De fato o modo mais simples de estabelecer um software-livre eacute colocaacute-
lo sob domiacutenio puacuteblico ou seja abrir matildeo por completo do copyright No entanto se por um
lado permite que os usuaacuterios compartilhem livremente o programa original essa licenccedila
aberta deixa uma brecha Ela natildeo impede por exemplo que empresas natildeo-cooperativas ao
fazer poucas modificaccedilotildees no programa registrem o copyright e detentoras dos direitos
autorais comercializem com exclusividade o ldquonovordquo software com coacutedigo fechado
Assim em vez de colocar os programas do GNU em domiacutenio puacuteblico o projeto
desenvolveu esse artifiacutecio O copyleft impotildee que qualquer usuaacuterio que redistribua o programa
3 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggnugnu-historypthtmlgt Acesso em 27 fev 2004
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com ou sem modificaccedilotildees deve necessariamente passar adiante as liberdades de fazer novas
coacutepias e modificaacute-las Em outras palavras torna ilegal a comercializaccedilatildeo da versatildeo melhorada
em coacutedigo fechado
A estrateacutegia dessa licenccedila eacute engenhosa Para distribuir programa em copyleft primeiro o
GNU esclarece que ele estaacute protegido sob copyright Em seguida nos termos de distribuiccedilatildeo ndash
o instrumento legal que concede o direito de uso ndash registra que o usuaacuterio pode modificar e
redistribuir o coacutedigo-fonte do programa (ou qualquer outro programa derivado dele) mas
somente se todos os termos de distribuiccedilatildeo permanecerem inalterados ndash leia-se se for
mantido o coacutedigo aberto Aleacutem disso a FSF estabelece que cada autor de coacutedigo incorporado
a softwares da fundaccedilatildeo ceda seus direitos de copyright ldquoDeste modo noacutes podemos ter
certeza de que todo o coacutedigo em projetos da FSF eacute coacutedigo livre cuja liberdade noacutes podemos
proteger de maneira efetiva e na qual outros desenvolvedores possam confiar plenamente4rdquo
Assim o coacutedigo e as liberdades se tornam legalmente inseparaacuteveis A grosso modo satildeo essas
as bases da General Public License (Licenccedila Puacuteblica Geral) do GNU comumente chamada
de GNU GPL
O trecho a seguir do coletivo literaacuterio Wu Ming explica com a insolecircncia tiacutepica de grupos
anarquistas como essa estrateacutegia funciona na praacutetica
Se o software livre tivesse permanecido simplesmente em domiacutenio puacuteblico cedo ou tarde
os rapaces da induacutestria o teriam colocado sob suas garras A soluccedilatildeo foi virar o copyright pelo
avesso para transformaacute-lo de obstaacuteculo agrave livre reproduccedilatildeo em suprema garantia desta uacuteltima
Em poucas palavras ponho o copyright uma vez que sou proprietaacuterio desta obra portanto
aproveito deste poder para dizer que com esta obra vocecirc pode fazer o que quiser pode copiaacute-la
difundi-la modificaacute-la mas natildeo pode impedir outro de fazecirc-lo isto eacute natildeo pode apropriar-se
dela e impedir sua circulaccedilatildeo natildeo pode colocar nela um copyright seu porque ela jaacute tem um
me pertence e eu te enrabo (WU MING 1 2003)
ldquoAteacute onde o software livre pode irrdquo perguntam os criadores do GNU ldquoNatildeo haacute limites
exceto quando leis como o sistema de patentes proiacutebem o software livre completamente O
objetivo final eacute fornecer software livre para realizar todas as tarefas que os usuaacuterios de
computadores querem realizar -- e assim tornar o software proprietaacuterio obsoletordquo5
4 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorglicenseswhy-assignpthtmlgt Acesso em 27 fev 2004 5 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggnugnu-historypthtmlgt Acesso em 27 fev 2004
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Do universo da informaacutetica o copyleft invadiu outras aacutereas do conhecimento Em artigo
publicado na revista Nature o proacuteprio Richard Stallman defende que a ciecircncia deve deixar o
copyright de lado
Deveria ser naturalmente oacutebvio que a literatura cientiacutefica existe para disseminar o
conhecimento cientiacutefico e que as publicaccedilotildees cientiacuteficas existem para facilitar o processo (hellip)
[Entretanto] muitos editores de publicaccedilotildees parecem acreditar que o propoacutesito da literatura
cientiacutefica eacute permitir a eles publicar perioacutedicos para nada mais do que angariar assinaturas de
cientistas e estudantes Tal pensamento eacute conhecido como lsquoconfusatildeo dos meios com os finsrsquo
(STALLMAN 2001)6
Para Stallman o copyright foi estabelecido para satisfazer demandas de proteccedilatildeo proacuteprias
das publicaccedilotildees impressas mas natildeo tem mais sentido na era da comunicaccedilatildeo eletrocircnica
(voltaremos a essa argumentaccedilatildeo adiante) A pergunta que faz eacute ldquoquais regras garantiriam a
maacutexima disseminaccedilatildeo de artigos cientiacuteficos e conhecimento na Webrdquo Ele defende que
textos cientiacuteficos deveriam ser distribuiacutedos livremente com acesso aberto para todos E nas
paacuteginas da Internet todos deveriam ter o direito de ldquoespelharrdquo artigos isto eacute republicaacute-los
literalmente em seus proacuteprios sites com as devidas referecircncias
Editores de perioacutedicos costumam reclamar que a infra-estrutura on-line requer cariacutessimos
servidores de alta potecircncia e entatildeo precisam cobrar taxas de acesso para pagar os custos Para
Stallman este lsquoproblemarsquo eacute uma consequumlecircncia da proacutepria lsquosoluccedilatildeorsquo que os editores adotam
ldquoDecirc a todo mundo a liberdade de espelhar e bibliotecas ao redor do planeta vatildeo instalar sites
espelho para responder agrave demandardquo Essa distribuiccedilatildeo descentralizada certamente reduziria as
necessidades individuais de expandir a largura da banda da rede para responder ao traacutefego
possibilitaria portanto acesso mais raacutepido aleacutem da vantagem de proteger os trabalhos
acadecircmicos contra perdas acidentais
Mas como financiar as publicaccedilotildees O custo da ediccedilatildeo (mesmo no caso de impressos
atreveriacuteamos a acrescentar) poderia ser recuperado sugere Stallman atraveacutes de uma taxa por
paacutegina cobrada dos autores que por sua vez poderiam passar os custos para os financiadores
da pesquisa O autor ocasional que natildeo eacute afiliado a uma instituiccedilatildeo e que natildeo tem nenhum
oacutergatildeo financiador seria eximido de pagar as taxas e os custos computados a outros autores
ligados agrave instituiccedilotildees de fomento agrave pesquisa
6 Traduccedilatildeo livre
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ldquoA Constituiccedilatildeo Americana diz que o copyright existe lsquopara promover o progresso da
ciecircnciarsquo Quando o copyright impede o progresso da ciecircncia a Ciecircncia precisa deixar o
copyright de ladordquo conclui Stallman (2001)
Copyright e maremoto
Da ciecircncia o conceito passou a referir-se a fenocircmenos da cultura
Atualmente existe um amplo movimento de protesto e transformaccedilatildeo social em grande
parte do planeta Ele possui um potencial enorme mas ainda natildeo estaacute completamente
consciente disso Embora sua origem seja antiga soacute se manifestou recentemente aparecendo
em vaacuterias ocasiotildees sob os refletores da miacutedia poreacutem trabalhando dia a dia longe deles Eacute
formado por multidotildees e singularidades por retiacuteculas capilares no territoacuterio Cavalga as mais
recentes inovaccedilotildees tecnoloacutegicas As definiccedilotildees cunhadas por seus adversaacuterios ficam-lhe
pequenas Logo seraacute impossiacutevel paraacute-lo e a repressatildeo nada poderaacute contra ele
Eacute aquilo que o poder econocircmico chama ldquopiratariardquo (WU MING 1 2002 p3)7
Esta eacute a introduccedilatildeo do manifesto Copyright e maremoto do coletivo literaacuterio italiano Wu
Ming (que significa em chinecircs Natildeo-famoso ou Anocircnimo) O texto argumenta que durante
milecircnios a civilizaccedilatildeo humana prescindiu do copyright do mesmo modo que prescindiu de
ldquooutros falsos axiomas parecidos como a lsquocentralidade do mercadorsquo ou o lsquocrescimento
ilimitadorsquordquo Afirma que se a propriedade intelectual tivesse surgido na antiguumlidade a
humanidade natildeo teria a Biacuteblia o Coratildeo Gilgamesh o Mahabarata a Iliacuteada a Odisseacuteia e todas
as narrativas surgidas de um amplo e feacutertil processo de mistura combinaccedilatildeo re-escritura e
transformaccedilatildeo ndash ou seja tudo aquilo que muitos chamam de plaacutegio
O manifesto celebra o fato de que a cada dia na era digital milhotildees de pessoas violam e
rechaccedilam continuamente o copyright Essa subversatildeo eacute feita quando copiamos muacutesica em
formato MP3 na Internet quando distribuiacutemos informaccedilatildeo pela rede e quando reproduzimos
livremente conteuacutedos que nos interessam usufruindo de tecnologias que suprimem a distinccedilatildeo
entre original e coacutepia ldquoNatildeo estamos falando da lsquopiratariarsquo gerida pelo crime organizado
divisatildeo extralegal do capitalismo natildeo menos deslocada e ofegante do que a legal pela
extensatildeo da lsquopiratariarsquo autogestionada e de massasrdquo prossegue o manifesto Para Wu Ming 1
a democratizaccedilatildeo geral do acesso agraves artes tem a ver com o rompimento de barreiras sociais
ldquo(hellip) devo fornecer algum dado sobre o preccedilo dos CDsrdquo (idem p4)
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Assim entusiasticamente argumenta que esse processo estaacute mudando o aspecto da
induacutestria cultural mundial ao inaugurar uma nova fase da cultura onde leis mais duras jamais
seratildeo suficientes para deter uma dinacircmica social jaacute iniciada e envolvente Essa movimentaccedilatildeo
estaria rumando a um ponto em que seriam superadas todas legislaccedilotildees sobre propriedade
intelectual para que fossem totalmente reescritas
O copyleft eacute entatildeo saudado como uma inovaccedilatildeo juriacutedica vinda de baixo que superou a
lsquopiratariarsquo ao enfatizar a forccedila construtiva (pars construens) do movimento real Para o
manifesto com aquela estrateacutegia do copyleft (explicitada neste artigo na discussatildeo sobre o
GNU) as leis vigentes do copyright8 estatildeo sendo pervertidas em relaccedilatildeo a sua funccedilatildeo original
e em vez de oferecer obstaacuteculos se converte em garantia de livre circulaccedilatildeo
Para servir de exemplo praacutetico todos os livros editados pelo coletivo Wu Ming contam
com a seguinte locuccedilatildeo ldquoPermitida a reproduccedilatildeo parcial ou total da obra e sua difusatildeo por via
telemaacutetica para uso pessoal dos leitores sob condiccedilatildeo de que natildeo seja com fins comerciaisrdquo
(idem p6) Rogeacuterio de Campos diretor editorial da Conrad editora da coleccedilatildeo Baderna
afirmou em entrevista agrave Folha de S Paulo que soacute conseguiu negociar os direitos de
reproduccedilatildeo do romance Q do autor Luther Blisset (pseudocircnimo de autores coletivos ligados
ao Wu Ming) depois de admitir uma claacuteusula que obriga a editora a ldquoprocessar qualquer um
que impeccedila a livre reproduccedilatildeo da obrardquo (ASSIS 2002)
As leis vigentes sobre o copyright ainda ignoram completamente o recurso ao copyleft De
acordo com o texto do manifesto em diversos encontros com deputados italianos os
produtores de software livre foram comparados pura e simplesmente aos ldquopiratasrdquo Isso faz
lembrar uma declaraccedilatildeo Richard Stallman em entrevista agrave Folha de S Paulo ldquoNatildeo faz sentido
sermos comparados a pessoas que atacavam navios e matam soacute porque compartilhamos
informaccedilatildeo puacuteblica com o vizinhordquo (MAISONNAVE LOUZANO 2000)
A segunda parte do livreto Copyright e maremoto conta com trechos de uma entrevista
feita com o grupo Neste pequeno diaacutelogo eles expotildeem com paixatildeo e fuacuteria seus atrevimentos
culturais sem receio de exageros retoacutericos entusiasmados ldquoSim noacutes afirmamos que a cultura
popular ocidental do seacuteculo XX (hellip) estava muitas vezes mais proacutexima do socialismo do que
os regimes lsquosocialistasrsquo orientais do seacuteculo XX conseguiram estarrdquo Para eles a seacuterie de
imagens de Mao Tse Tung serigrafadas por Andy Warhol foi mais importante para os
fundamentos da Revoluccedilatildeo do que os retratos oficiais do Grande Timoneiro agitados em
7 Esse manifesto foi escrito por Roberto Bui que publicamente identifica-se como Wu Ming 1 8 As atuais leis de copyright foram padronizadas na Convenccedilatildeo de Berna em 1971
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manifestaccedilotildees maoiacutestas ldquoO socialismo deve ser baseado na natureza coletiva da produccedilatildeo
capitalistardquo Ao contraacuterio do pessimismo de Adorno em relaccedilatildeo agrave induacutestria cultural e da
lsquoobsessatildeorsquo dos situacionaistas com o lsquoespetaacuteculorsquo o manifesto prega que a produccedilatildeo da
cultura pop no seacuteculo passado foi um processo socialista coletivo aberto mutante e
constantemente entrelaccedilado por inuacutemeras subculturas graccedilas agrave esfuziante habilidade das
multidotildees na reapropriaccedilatildeo ou ldquode-propriaccedilatildeordquo dessa cultura via pirataria de CDs violaccedilatildeo
de DVDs troca de arquivos em rede etc ldquoAs instituiccedilotildees da propriedade intelectual estatildeo
caindo aos pedaccedilos as pessoas estatildeo detonando-as Eacute um maravilhoso processo popular e
estaacute mais proacuteximo do socialismo do que a China jamais esteverdquo (WU MING 1 2002 p7-8)
Surge enfim a questatildeo da remuneraccedilatildeo dos autores O trabalho intelectual eacute um serviccedilo
pesado Exige um alto investimento em estudo em tempo e evidentemente deve ser
remunerado Assim a pergunda natural eacute o copyright natildeo eacute essencial para a sobrevivecircncia do
autor
Se um sujeito natildeo tem dinheiro para comprar qualquer um dos livros editados pela Wu
Ming Foundation pode tranquumlilamente fotocopiaacute-lo digitalizaacute-lo em scanner ou entatildeo a
soluccedilatildeo mais cocircmoda fazer o download gratuito da obra integral no site oficial
wwwwumingfoundationorg em um computador puacuteblico em alguma universidade ou
biblioteca As reproduccedilotildees que natildeo visam lucro satildeo automaticamente autorizadas Mas se um
editor estrangeiro quer comercializar uma de suas obras em outro paiacutes neste caso a utilizaccedilatildeo
evidentemente visa lucro e portanto essa empresa deve pagar por isso
Na verdade o Wu Ming apenas admitiu uma evidecircncia expliacutecita ningueacutem deixa de copiar
uma obra porque no rodapeacute haacute uma frase que diz lsquotodos os direitos satildeo reservados e
protegidos pela Lei 5988 de 141273 Nenhuma parte deste livro sem autorizaccedilatildeo preacutevia
por escrito da editora poderaacute ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios
empregados etchelliprsquo Quando o copyright foi introduzido9 concomitante ao desenvolvimento
da imprensa haacute trecircs seacuteculos natildeo havia possibilidade de lsquocoacutepia privadarsquo ou lsquoreproduccedilatildeo sem
fins de lucrorsquo porque soacute empresaacuterios editores tinham acesso agraves maacutequinas tipograacuteficas
Portanto em suas origens o copyright natildeo era percebido como lsquoanti-socialrsquo mas era uma
arma de um empresaacuterio contra o outro natildeo de um empresaacuterio contra o puacuteblico Mas com a
revoluccedilatildeo da informaacutetica e das comunicaccedilotildees o puacuteblico tem acesso agraves tecnologias de
9 A primeila lei de copyright surgiu na Inglaterra em 1710 mas foi desenvolvida a seguir nos EUA
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reproduccedilatildeo Dessa forma o copyright tornou-se na visatildeo do Wu Ming ldquouma arma que
dispara na multidatildeordquo10 (WU MING 1 2003) ndash mas sem muito efeito poderiacuteamos acrescentar
Nesse contexto observando sua proacutepria experiecircncia editorial esse coletivo literaacuterio
percebeu um fenocircmeno curioso e aparentemente paradoxal natildeo haacute relaccedilatildeo direta entre
ldquocoacutepias oficiais natildeo vendidasrdquo e ldquocoacutepias pirateadasrdquo Em outras palavras as coacutepias natildeo
influenciam na vendagem das obras ldquoEm realidade editorialmente quanto mais uma obra
circula mais venderdquo Ou seja quanto mais democratizada maiores os lucros O exemplo
paradigmaacutetico eacute a obra Q de Luther Blisset editado por eles que vendeu mais de 2 milhotildees
de coacutepias apesar de ndash ou melhor justamente devido ao copyleft O sujeito copia o livro seja
porque natildeo tem dinheiro seja porque natildeo quer comprar lsquono escurorsquo e gosta do que leu
Decide indicar ou mesmo dar de presente a algueacutem mas natildeo quer dar uma coacutepia qualquer
Pronto compra o livro A pessoa presenteada tambeacutem gosta e passa a indicar ou presentear
outras com o mesmo livro Uma coacutepia dois ou trecircs livros vendidos Simples assim
Para o Wu Ming se a maioria dos editores natildeo perceberam essa dinacircmica foi mais por
questatildeo ideoloacutegica que mercadoloacutegica ldquoA editoraccedilatildeo natildeo estaacute em risco de extinccedilatildeo como a
induacutestria fonograacutefica a loacutegica eacute outra outros os suportes outros os circuitos outro o modo de
fruiccedilatildeo e sobretudo a editoraccedilatildeo natildeo perdeu ainda a cabeccedila natildeo reagiu com retaliaccedilotildees em
massa denuacutencias e processos agrave grande revoluccedilatildeo tecnoloacutegica que democratiza o acesso aos
meios de reproduccedilatildeordquo (WU MING 2003)
A estrateacutegia da induacutestria
Seraacute que estamos mesmo prestes a assistir ao desmoronamento da induacutestria cultural Seraacute
que os legisladores precisaratildeo reescrever todas as regras de direitos autorais para responder ao
novo momento tecnoloacutegico-cultural do seacuteculo XXI Shapiro e Varian (1999 p103)
argumentam que natildeo Na verdade eles defendem que muitos princiacutepios claacutessicos da economia
ainda satildeo perfeitamente vaacutelidos para essas situaccedilotildees ldquoO que mudou eacute que a Internet e a
tecnologia da informaccedilatildeo em geral oferecem oportunidades e desafios novos para a aplicaccedilatildeo
desses princiacutepiosrdquo Assim acreditam que os donos de propriedade intelectual seratildeo
naturalmente capazes de superar as lsquoameaccedilasrsquo da reproduccedilatildeo digital atraveacutes de estrateacutegias
semelhantes as quais superaram os desafios provocados pela tecnologia no passado ldquoAs
10 A Disney chegou a levar vaacuterias creches americanas aos tribunais por exibirem desenhos animados em viacutedeo sem licenccedila formal Na deacutecada de 90 a empresa ameaccedilou processar trecircs creches da Floacuterida que haviam pintado personagens da Disney em suas paredes (SHAPIRO VARIAN 1999 p109)
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novas oportunidades oferecidas pela reproduccedilatildeo digital excedem em muito os problemasrdquo
(SHAPIRO VARIAN 1999 p104)
Todas as facilidades da tecnologia digital satildeo elencadas para dar suporte ao otimismo dos
autores sobretudo os baixos custos de reproduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo ldquoNatildeo lute contra os custos
de distribuiccedilatildeo mais baixosrdquo aconselham ldquotire vantagem delesrdquo Para isso eacute preciso que
negociantes saibam lidar com o que os economistas chamam de ldquobem da experiecircnciardquo
O objeto de consumo eacute chamado de ldquobem da experiecircnciardquo (idem p18) quando os
fregueses precisam experimentar o produto antes de atribuir-lhes valor Qualquer novidade no
mercado eacute potencialmente um bem da experiecircncia e os publicitaacuterios contam com meacutetodos
claacutessicos de propaganda nesses casos promoccedilatildeo atraveacutes de reduccedilatildeo comparativa de preccedilo
depoimentos de famosos e anocircnimos e a infaliacutevel distribuiccedilatildeo de amostras graacutetis de pequenas
quantidades do produto a ser anunciado Eis mais uma pista Voltaremos a ela adiante
A induacutestria da informaccedilatildeo tecircm tambeacutem seus meacutetodos claacutessicos para fazer com que os
consumidores comprem o bem simboacutelico antes de ter certeza se o que estatildeo adquirindo vale o
preccedilo que pagam antecipadamente Primeiramente da mesma forma que em supermercados eacute
possiacutevel bebericar gratuitamente uma nova marca de iogurte em promoccedilotildees de lanccedilamento
existem formas de experimentar o ldquogostinhordquo do produto cultural Eacute possiacutevel ler as manchetes
de capa do jornal o trailer do filme etc Evidentemente isso eacute apenas uma parte da histoacuteria
Os produtos de sucesso superam o problema do ldquobem da experiecircnciardquo por meio da promoccedilatildeo
de sua ldquomarcardquo e sua ldquoreputaccedilatildeordquo Mas natildeo pretendemos entrar nessa discussatildeo pois natildeo cabe
na abordagem que restringe este artigo
Pois bem as grandes lojas de livros tornaram o ato de folhear mais confortaacutevel oferecendo
poltronas aacutereas abertas e cafeacutes porque haacute tempos jaacute sabem que essa estrateacutegia empresarial
impulsiona a venda de livros Ao lsquooferecerem gratuitamentersquo parte de seu produto elas
acabam ganhando muito mais dinheiro Nessa perspectiva a Internet eacute vista por Shapiro e
Varian (1999 p106) como ldquoum modo maravilhoso de oferecer amostras graacutetis do conteuacutedo
da informaccedilatildeordquo E enquanto especialistas discutem a maneira mais adequada de propaganda
na Web Shapiro e varian satildeo categoacutericos a Internet eacute ideal para ldquoinfomerciais11rdquo ou seja
estrateacutegia que fisga o leitor atraveacutes do oferecimento do proacuteprio conteuacutedo Mas a duacutevida eacute
como vatildeo ganhar dinheiro se simplesmente doarem seu produto A resposta dos autores eacute
11 ldquoComerciais de longa duraccedilatildeo que aleacutem de explicar em detalhes as caracteriacuterticas (hellip) do produto transmitem ainda depoimentos de usuaacuterios e outras informaccedilotildees pertinentes ao bem ou serviccedilo anunciadordquo (SHAPIRO VARIAN 1999 p106)
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doe somente parte de seu produto Eacute o princiacutepio claacutessico da amostra graacutetis mas com a
vantagem do insignificante custo de distribuiccedilatildeo ldquoO truque eacute dividir seu produto em
componentes dos quais alguns vocecirc daacute outros vocecirc vende As partes doadas satildeo os anuacutencios
ndash os infomerciais ndash das partes que vocecirc venderdquo
Os autores partem de um princiacutepio ergonocircmico para fundamentar suas hipoacuteteses hoje e
provavelmente por um bom tempo ningueacutem consegue ler um livro ou ateacute mesmo um artigo
de revista muito extenso com os olhos fixos em um monitor Eacute simplesmente muito
cansativo Segundo Shapiro e Varian pesquisas mostram que os usuaacuterios da web em geral
lecircem apenas duas telas de conteuacutedo antes de clicarem para sair Dessa forma o deconforto
associado agrave leitura direta em monitores sugere que a empresa pode colocar grandes
quantidades de conteuacutedo on-line sem que isso prejudique as vendas de coacutepias impressas12
Eacute claro que se a versatildeo na Web for faacutecil de imprimir podemos supor que o usuaacuterios
estaratildeo tentados a fazecirc-lo Mas haacute uma estrateacutegia muito simples para tornar a impressatildeo
caseira um ato trabalhoso e desconfortaacutevel ldquoA melhor coisa a fazerrdquo escrevem ldquoeacute tornar a
versatildeo on-line faacutecil de folherar ndash muitas telas curtas muitos links ndash mas difiacutecil de imprimir
em sua totalidaderdquo
Natildeo eacute difiacutecil perceber que ateacute esse momento com palavras e propoacutesitos diferentes
Shapiro e Varian disseram as mesmas coisas que o coletivo Wu Ming em relaccedilatildeo ao negoacutecio
editorial As divergecircncias satildeo ideoloacutegicas pois os primeiros admitem como um verdadeiro
problema o ldquocontrabando de bitsrdquoe a ldquopirataria digitalrdquo dizendo ldquoTudo de que se precisa eacute
que haja vontade poliacutetica para defender os direitos de propriedade intelectualrdquo (idem p114)
Mas na verdade os autores consideram que os proprietaacuterios dos conteuacutedos satildeo
excessivamente conservadores a respeito de gestatildeo de suas propriedades intelectuais Eles
observam que tradicionalmente toda nova tecnologia de reproduccedilatildeo produz previsotildees
catastroacuteficas no mercado Para eles a histoacuteria da veiculaccedilatildeo dos filmes em viacutedeo eacute um caso
exemplar
Hollywood ficou petrificada com o advento dos gravadores de videocassete O setor de
televisatildeo deu entrada em processos para impedir a coacutepia domeacutestica de programas de TV e a
Disney tentou distinguir as compras dos alugueacuteis de viacutedeo por meio de arranjos de
licenciamento Todas essas tentativas fracassaram Ironicamente Hollywood ganha hoje mais
com os viacutedeos do que com as apresentaccedilotildees em cinemas na maioria das produccedilotildees O mercado
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de vendas e de aluguel de viacutedeos antes tatildeo temido tornou-se uma imensa fonte de receita para
Hollywood (SHAPIRO VARIAN 1999 p17)
As proacuteprias bibliotecas satildeo um exemplo de uma inovaccedilatildeo que primeiro pareceu ameaccedilar o
setor editorial mas acabou por ampliaacute-lo imensamente (idem p115) A loacutegica eacute simples o
acesso agrave obras gratuitas forma o gosto de leitores que mais tarde compraratildeo livros Shapiro e
Varian percebem que perante os desafios da era digital haacute uma tendecircncia natural para que os
produtores se preocupem demais em lsquoprotegerrsquo sua propriedade intelectual Mas para eles o
importante eacute lsquomaximizarrsquo o valor da propriedade intelectual natildeo protegecirc-la pela pura
proteccedilatildeo ldquoSe vocecirc perde um pouco de sua propriedade quando a vende ou aluga esses eacute
apenas um dos custos de fazer negoacutecios juntamente com a depreciaccedilatildeo as perdas de estoque
e a obsolecircnciardquo
Ao mesmo tempo sabenos que existem muitos outros recursos para motivar a compra do
consumidor mesmo quando se tratam de bens culturais Moles (1974) ensina que o
mecanismo baacutesico da publicidade consiste em acrescentar um valor psicoloacutegico ao valor
propriamente utilitaacuterio do produto explorando portanto as emoccedilotildees secundaacuterias do
consumidor A publicidade alimenta artificialmente um desejo e sobretudo atraveacutes da
repeticcedilatildeo pelos meios de comunicaccedilatildeo primeiro convence que essa vontade eacute uma
necessidade essencial e depois promete satisfazecirc-la atraveacutes dos valores associados ao objeto
de consumo Na verdade natildeo satildeo vendidos produtos mas status social estilos sensaccedilotildees
impressotildees Isso quer dizer que os anuacutencios publicitaacuterios natildeo oferecem sabonetes mas
possibilidade de beleza natildeo anunciam automoacuteveis mas o prazer da velocidade e de poder
natildeo querem vender cigarro mas sentimento de juventude e de liberdade Em outras palavras
a publicidade complica a vida para oferecer a possibilidade de resolvecirc-la por meio do
consumo Assim podemos dizer que o mercado da cultura tambeacutem vive da venda de status
de prestiacutegio intelectual e natildeo apenas de conhecimento Basta pensar em quantos livros
compramos por lsquoimpulsorsquo mesmo sabendo que talvez nunca o leremos Ou quantos CDs
adquirimos para ouviacute-los algumas poucas vezes e guardaacute-los na estante Ou quantas fitas de
viacutedeo ou DVDs de filmes que jaacute vimos noacutes compramos para guardar mas nunca assistimos
porque estamos sempre alugando outros filmes
12 ldquoA Nacional Academy os Science Press pocircs on-line mais de mil de seus livros e descobriu que a disponibilidade das versotildees eletrocircnicas impulsionou as vendas de coacutepias impressas em duas a trecircs vezesrdquo (idem p107)
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Mas haacute um outro movimento juriacutedico contemporacircneo que parece ter o potencial de
provocar uma discussatildeo sobretudo filosoacutefica na economia da cultura no capitalismo do seacuteculo
XXI O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio
Vargas no Rio de Janeiro cujo objetivo eacute estudar implicaccedilotildees juriacutedicas sociais e culturais do
avanccedilo da tecnologia da informaccedilatildeo vem desenvolvendo estudos importantes nas aacutereas de
propriedade intelectual software livre governanccedila da web e privacidade na Internet O CTS eacute
o oacutergatildeo responsaacutevel pela direccedilatildeo no Brasil do projeto Creative Commons uma iniciativa
criada por Lawrence Lessig na Universidade de Stanford (EUA) O CTS adaptou as licenccedilas
do Creative Commons para o ordenamento juriacutedico brasileiro e fez com que o Brasil se
tornasse pioneiro no desenvolvimento de licenccedilas CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL
atualmente utilizadas pelo governo para o licenciamento de software livre
Uma das principais caracteriacutesticas do direito autoral claacutessico eacute que ele funciona como um
grande NAtildeO Isto quer dizer que para utilizar qualquer conteuacutedo eacute necessaacuterio pedir permissatildeo ao seu autor ou titular de direitos No sistema juriacutedico da propriedade intelectual adotado no Brasil ateacute mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jaacute nascem com todos os direitos reservados
Apesar disto muitos autores e titulares de direitos natildeo se importam que outras pessoas tenham acesso aos seus trabalhos Um muacutesico um videomaker ou uma escritora podem desejar justamente o contraacuterio o amplo acesso agraves suas obras ou eventualmente que seus trabalho sejam reinterpretandos reconstruiacutedos e recriados por outras pessoas
Assim o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitos possa dizer ao mundo que ele natildeo se opotildee agrave utilizaccedilatildeo de sua obra no que diz respeito agrave distribuiccedilatildeo coacutepia e outros tipos de uso
O Creative Commons eacute um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativas disponiacuteveis ao puacuteblico permitindo criar outras obras sobre elas compartilhando-as Isso eacute feito atraveacutes do desenvolvimento e disponibilizaccedilatildeo de licenccedilas juriacutedicas que permitem o acesso agraves obras pelo puacuteblico sob condiccedilotildees mais flexiacuteveis (FGV 2005)
Existem uma seacuterie de modalidades de licenccedila e cada uma delas concede direitos e deveres
especiacuteficos Haacute licenccedilas que por exemplo permitem a divulgaccedilatildeo da obra mas proiacutebem o uso
comercial Outras permitem a utilizaccedilatildeo da obra em outros trabalhos Haacute tambeacutem licenccedilas
que permitem o sampleamento remixagem colagem e outras formas criativas de
reconstruccedilatildeo da obra permitindo uma enorme explosatildeo de possibilidades criativas Dessa
forma a riacutegida locuccedilatildeo todos os direitos reservados eacute substituiacuteda por alguns direitos
reservados propondo assim uma universalidade de bens intelectuais criativos acessiacuteveis a
todos que eacute condiccedilatildeo fundamental para qualquer inovaccedilatildeo cultural e tecnoloacutegica (idem
2005) Assim as novas formas de apropriaccedilatildeo cultural na sociedade da informaccedilatildeo jaacute
comeccedilam a organizar respaldo juriacutedico atraveacutes de movimentos internacionais de
questionamento agrave pertinecircncia das velhas regulaccedilotildees autorais frente agraves exponenciais
possibilidades dos intercacircmbios mediatizados
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Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
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Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
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que mais enriquecem os relatos populares eacute a diversidade das versotildees ou seja cada um que
ouve um caso apropria-se da estrutura narrativa e acrescenta elementos de seu universo
cultural ao contaacute-lo De boca a boca temperadas pelas sutilezas do cotidiano as histoacuterias
adquirem novos sabores e acabam por reunir os ingredientes mais significativos do imaginaacuterio
coletivo de uma eacutepoca
A antropologia ensina que o ser humano eacute o resultado do meio cultural em que foi
socializado Somos herdeiros de um longo processo acumulativo fundamentado no
conhecimento adquirido por geraccedilotildees de ancestrais Laraia (2001 p45-47) observa que eacute
justamente a manipulaccedilatildeo adequada e criativa desse patrimocircnio cultural que permite
inovaccedilotildees e invenccedilotildees que por sua vez natildeo satildeo produtos de accedilatildeo isolada de um gecircnio mas o
resultado de um esforccedilo comunitaacuterio Na histoacuteria temos incontaacuteveis casos de obras coletivas
como as lendas miacuteticas as canccedilotildees populares e mesmo o caso da Iliacuteada atribuiacuteda a Homero
mas que hoje acredita-se tratar de uma reuniatildeo de narrativas correntes da tradiccedilatildeo oral
claacutessica Assim Laraia defende a hipoacutetese que se Albert Einstein por exemplo natildeo tivesse
desenvolvido suas teorias algueacutem o faria mais cedo ou mais tarde pois outros cientistas
ldquodiante de um mesmo material culturalrdquo estariam aptos para utilizar os mesmos
conhecimentos e chegar aos mesmos resultados
Aiacute estaacute uma boa questatildeo Estariam os segredos de patentes impedindo o surgimento de
novos Einsteins Laraia (2001 p46) observa que natildeo basta a natureza criar indiviacuteduos
altamente inteligentes pois isto ela jaacute faz com frequumlecircncia mas ldquoeacute necessaacuterio que coloque ao
alcance desses indiviacuteduos o material que lhes permita exercer a sua criatividade de uma
maneira revolucionaacuteriardquo Dessa forma sentimo-nos agrave vontade para afirmar que sim sem
circulaccedilatildeo efetiva de conhecimento sobretudo devido agraves restriccedilotildees econocircmicas gecircnios
potenciais satildeo prodigamente desperdiccedilados
Mas como a nova economia estruturou a informaccedilatildeo como um produto agrave venda a equaccedilatildeo
natildeo fecha Em relaccedilatildeo a Internet proprietaacuterios de direitos autorais natildeo conseguem encontrar
soluccedilotildees para essa inquietante ambivalecircncia Por um lado a rede eacute um recurso fabuloso de
divulgaccedilatildeo e um potencial ineacutedito de distribuiccedilatildeo de conteuacutedo Por outro muitos empresaacuterios
ainda mantecircm forte resistecircncia por consideraacute-la um instrumento que soacute favorece a livre e
infinita pirataria
Nesse turbulento contexto surge da informaacutetica a ideacuteia de copyleft um novo conceito que
ainda natildeo eacute reconhecido em convenccedilotildees internacionais mas que vem adquirindo popularidade
e legitimidade sobretudo na Internet ao mesmo tempo que parece ameaccedilar negociantes de
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conteuacutedos A criaccedilatildeo deste termo eacute atribuiacuteda a Richard Stallman um ativista da primeira
geraccedilatildeo de hackers da Universidade de Harvard e do MIT Artificial Intelligence Lab
(Laboratoacuterio de Inteligecircncia Artificial do Instituto de Tecnologia de Massachusetts) nos anos
1970 Em janeiro de 1984 Stallman abandonou o MIT para dedicar-se ao projeto GNU ndash uma
paroacutedia metalinguumliacutestica e tautoloacutegica a sigla GNU significa Gnu is Not Unix (Gnu Natildeo eacute
Unix) Em 1985 fundou a Free Software Foundation (FSF)
Copyleft eacute um trocadilho de traduccedilatildeo literal impossiacutevel No primeiro momento em uma
inversatildeo do copyright (direitos de reproduccedilatildeo) o novo termo substitui o ldquorightrdquo pelo ldquoleftrdquo
direita por esquerda em inglecircs ndash naturalmente uma alusatildeo agrave ideologia poliacutetica agrave esquerda
historicamente envolvida nos esforccedilos de democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo Mas ldquoleftrdquo eacute
tambeacutem um modo verbal que se refere ao ldquosimple pastrdquo (passado perfeito) do verbo ldquoleaverdquo
que significa ldquopermitir deixarrdquo Neste segunda leitura poderiacuteamos traduzir copyleft por algo
como ldquocoacutepia permitidardquo Junto a esse conceito foi criado para parodiar o slogan ldquoAll rights
reservedrdquo (Todos os direitos reservados) a foacutermula ldquoAll rights reversedrdquo (Todos os direitos
invertidos) Mas para compreender as sutilezas do copyleft eacute necessaacuterio compreender os
fundamentos do projeto GNU
GNU is Not Unix
O GNU foi idealizado em 1983 e lanccedilado no ano seguinte com o objetivo de desenvolver
um sistema operacional completo e tatildeo eficiente quanto o Unix A diferenccedila eacute que ao
contraacuterio deste uacuteltimo que eacute um sistema fechado e exige pagamento pela licenccedila de uso o
GNU eacute um sistema aberto e oferece livre acesso para os usuaacuterios ndash ou seja pode ser instalado
modificado e copiado gratuitamente De acordo com informaccedilotildees no site do projeto diversas
variaccedilotildees do sistema GNU que utilizam o nuacutecleo Linux satildeo hoje largamente utilizadas
(estima-se que aproximadamente 20 milhotildees de usuaacuterios tecircm acesso ao programa) Apesar de
serem normalmente chamados apenas de Linux o popular sistema operacional gratuito criado
por Linus Torvalds na verdade trata-se de variaccedilotildees de sistemas GNULinux ldquoO Software
Livre eacute uma questatildeo de liberdade as pessoas devem ser livres para usar o software de todas as
maneiras que sejam socialmente uacuteteis2rdquo
Na concepccedilatildeo dos criadores do GNU a palavra livre (free no original) estaacute relacionada
com liberdade em vez de preccedilo Isso quer dizer que o usuaacuterio pode ou natildeo pagar um preccedilo
2 Traduzida por Pedro Oliveira e revisada por Miguel Oliveira em abril de 2000 Atualizada por Fernando Lozano Disponiacutevem el lthttpwwwgnuorgphilosophyphilosophypthtmlAbouttheGNUprojectgt Acesso em 27 fev 2004
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para obter o software GNU Informaccedilotildees no site oficial esclarecem que esse programa
possibilita trecircs liberdades especiacuteficas de utilizaccedilatildeo
Primeiro a liberdade de copiar o programa e da-lo (sic) para seus amigos e colegas de trabalho
Segundo a liberdade de modificar o programa de acordo com os seus desejos por ter acesso
completo agraves fontes Terceiro a liberdade de distribuir versotildees modificadas e assim ajudar a
construir a comunidade (Se vocecirc redistribui software GNU vocecirc pode cobrar pelo ato de
transferir uma coacutepia ou vocecirc pode dar coacutepias de graccedila)3
A ideacuteia ainda segundo os criadores eacute ldquotrazer de volta o espiacuterito cooperativo que prevalecia
na comunidade de informaacutetica nos seus primoacuterdiosrdquo removendo obstaacuteculos impostos pelos
proprietaacuterios do software e tornando possiacutevel a cooperaccedilatildeo entre programadores
Todo usuaacuterio de computador precisa necessariamente de um Sistema Operacional
(Operating System) como o Windows o Mac ou o Unix para citar os mais populares entre o
puacuteblico natildeo especializado Sem um sistema operacional livre natildeo eacute possiacutevel nem mesmo
iniciar um computador sem pagar pela licenccedila de uso do software (a natildeo ser que se use
versotildees piratas e portanto ilegais) Assim para o GNU o primeiro item na agenda do
software livre eacute o estabelecimento de um sistema operacional livre
A Free Software Foundation (FSF) fundada por Richard Stallman manteacutem desde 1999 o
projeto Free Software Directory (FSD) Em um site da web a fundaccedilatildeo deixa agrave disposiccedilatildeo
para download softwares livres que funcionam em sistemas operacionais abertos sobretudo
nas variaccedilotildees GNULinux Desde abril de 2003 o projeto conta com o apoio da Unesco
Quase tudo em copyleft
Haacute nesse conceito uma caracteriacutestica chave que o diferencia definitivamente da ideacuteia de
ldquodomiacutenio puacuteblicordquo De fato o modo mais simples de estabelecer um software-livre eacute colocaacute-
lo sob domiacutenio puacuteblico ou seja abrir matildeo por completo do copyright No entanto se por um
lado permite que os usuaacuterios compartilhem livremente o programa original essa licenccedila
aberta deixa uma brecha Ela natildeo impede por exemplo que empresas natildeo-cooperativas ao
fazer poucas modificaccedilotildees no programa registrem o copyright e detentoras dos direitos
autorais comercializem com exclusividade o ldquonovordquo software com coacutedigo fechado
Assim em vez de colocar os programas do GNU em domiacutenio puacuteblico o projeto
desenvolveu esse artifiacutecio O copyleft impotildee que qualquer usuaacuterio que redistribua o programa
3 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggnugnu-historypthtmlgt Acesso em 27 fev 2004
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com ou sem modificaccedilotildees deve necessariamente passar adiante as liberdades de fazer novas
coacutepias e modificaacute-las Em outras palavras torna ilegal a comercializaccedilatildeo da versatildeo melhorada
em coacutedigo fechado
A estrateacutegia dessa licenccedila eacute engenhosa Para distribuir programa em copyleft primeiro o
GNU esclarece que ele estaacute protegido sob copyright Em seguida nos termos de distribuiccedilatildeo ndash
o instrumento legal que concede o direito de uso ndash registra que o usuaacuterio pode modificar e
redistribuir o coacutedigo-fonte do programa (ou qualquer outro programa derivado dele) mas
somente se todos os termos de distribuiccedilatildeo permanecerem inalterados ndash leia-se se for
mantido o coacutedigo aberto Aleacutem disso a FSF estabelece que cada autor de coacutedigo incorporado
a softwares da fundaccedilatildeo ceda seus direitos de copyright ldquoDeste modo noacutes podemos ter
certeza de que todo o coacutedigo em projetos da FSF eacute coacutedigo livre cuja liberdade noacutes podemos
proteger de maneira efetiva e na qual outros desenvolvedores possam confiar plenamente4rdquo
Assim o coacutedigo e as liberdades se tornam legalmente inseparaacuteveis A grosso modo satildeo essas
as bases da General Public License (Licenccedila Puacuteblica Geral) do GNU comumente chamada
de GNU GPL
O trecho a seguir do coletivo literaacuterio Wu Ming explica com a insolecircncia tiacutepica de grupos
anarquistas como essa estrateacutegia funciona na praacutetica
Se o software livre tivesse permanecido simplesmente em domiacutenio puacuteblico cedo ou tarde
os rapaces da induacutestria o teriam colocado sob suas garras A soluccedilatildeo foi virar o copyright pelo
avesso para transformaacute-lo de obstaacuteculo agrave livre reproduccedilatildeo em suprema garantia desta uacuteltima
Em poucas palavras ponho o copyright uma vez que sou proprietaacuterio desta obra portanto
aproveito deste poder para dizer que com esta obra vocecirc pode fazer o que quiser pode copiaacute-la
difundi-la modificaacute-la mas natildeo pode impedir outro de fazecirc-lo isto eacute natildeo pode apropriar-se
dela e impedir sua circulaccedilatildeo natildeo pode colocar nela um copyright seu porque ela jaacute tem um
me pertence e eu te enrabo (WU MING 1 2003)
ldquoAteacute onde o software livre pode irrdquo perguntam os criadores do GNU ldquoNatildeo haacute limites
exceto quando leis como o sistema de patentes proiacutebem o software livre completamente O
objetivo final eacute fornecer software livre para realizar todas as tarefas que os usuaacuterios de
computadores querem realizar -- e assim tornar o software proprietaacuterio obsoletordquo5
4 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorglicenseswhy-assignpthtmlgt Acesso em 27 fev 2004 5 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggnugnu-historypthtmlgt Acesso em 27 fev 2004
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Do universo da informaacutetica o copyleft invadiu outras aacutereas do conhecimento Em artigo
publicado na revista Nature o proacuteprio Richard Stallman defende que a ciecircncia deve deixar o
copyright de lado
Deveria ser naturalmente oacutebvio que a literatura cientiacutefica existe para disseminar o
conhecimento cientiacutefico e que as publicaccedilotildees cientiacuteficas existem para facilitar o processo (hellip)
[Entretanto] muitos editores de publicaccedilotildees parecem acreditar que o propoacutesito da literatura
cientiacutefica eacute permitir a eles publicar perioacutedicos para nada mais do que angariar assinaturas de
cientistas e estudantes Tal pensamento eacute conhecido como lsquoconfusatildeo dos meios com os finsrsquo
(STALLMAN 2001)6
Para Stallman o copyright foi estabelecido para satisfazer demandas de proteccedilatildeo proacuteprias
das publicaccedilotildees impressas mas natildeo tem mais sentido na era da comunicaccedilatildeo eletrocircnica
(voltaremos a essa argumentaccedilatildeo adiante) A pergunta que faz eacute ldquoquais regras garantiriam a
maacutexima disseminaccedilatildeo de artigos cientiacuteficos e conhecimento na Webrdquo Ele defende que
textos cientiacuteficos deveriam ser distribuiacutedos livremente com acesso aberto para todos E nas
paacuteginas da Internet todos deveriam ter o direito de ldquoespelharrdquo artigos isto eacute republicaacute-los
literalmente em seus proacuteprios sites com as devidas referecircncias
Editores de perioacutedicos costumam reclamar que a infra-estrutura on-line requer cariacutessimos
servidores de alta potecircncia e entatildeo precisam cobrar taxas de acesso para pagar os custos Para
Stallman este lsquoproblemarsquo eacute uma consequumlecircncia da proacutepria lsquosoluccedilatildeorsquo que os editores adotam
ldquoDecirc a todo mundo a liberdade de espelhar e bibliotecas ao redor do planeta vatildeo instalar sites
espelho para responder agrave demandardquo Essa distribuiccedilatildeo descentralizada certamente reduziria as
necessidades individuais de expandir a largura da banda da rede para responder ao traacutefego
possibilitaria portanto acesso mais raacutepido aleacutem da vantagem de proteger os trabalhos
acadecircmicos contra perdas acidentais
Mas como financiar as publicaccedilotildees O custo da ediccedilatildeo (mesmo no caso de impressos
atreveriacuteamos a acrescentar) poderia ser recuperado sugere Stallman atraveacutes de uma taxa por
paacutegina cobrada dos autores que por sua vez poderiam passar os custos para os financiadores
da pesquisa O autor ocasional que natildeo eacute afiliado a uma instituiccedilatildeo e que natildeo tem nenhum
oacutergatildeo financiador seria eximido de pagar as taxas e os custos computados a outros autores
ligados agrave instituiccedilotildees de fomento agrave pesquisa
6 Traduccedilatildeo livre
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ldquoA Constituiccedilatildeo Americana diz que o copyright existe lsquopara promover o progresso da
ciecircnciarsquo Quando o copyright impede o progresso da ciecircncia a Ciecircncia precisa deixar o
copyright de ladordquo conclui Stallman (2001)
Copyright e maremoto
Da ciecircncia o conceito passou a referir-se a fenocircmenos da cultura
Atualmente existe um amplo movimento de protesto e transformaccedilatildeo social em grande
parte do planeta Ele possui um potencial enorme mas ainda natildeo estaacute completamente
consciente disso Embora sua origem seja antiga soacute se manifestou recentemente aparecendo
em vaacuterias ocasiotildees sob os refletores da miacutedia poreacutem trabalhando dia a dia longe deles Eacute
formado por multidotildees e singularidades por retiacuteculas capilares no territoacuterio Cavalga as mais
recentes inovaccedilotildees tecnoloacutegicas As definiccedilotildees cunhadas por seus adversaacuterios ficam-lhe
pequenas Logo seraacute impossiacutevel paraacute-lo e a repressatildeo nada poderaacute contra ele
Eacute aquilo que o poder econocircmico chama ldquopiratariardquo (WU MING 1 2002 p3)7
Esta eacute a introduccedilatildeo do manifesto Copyright e maremoto do coletivo literaacuterio italiano Wu
Ming (que significa em chinecircs Natildeo-famoso ou Anocircnimo) O texto argumenta que durante
milecircnios a civilizaccedilatildeo humana prescindiu do copyright do mesmo modo que prescindiu de
ldquooutros falsos axiomas parecidos como a lsquocentralidade do mercadorsquo ou o lsquocrescimento
ilimitadorsquordquo Afirma que se a propriedade intelectual tivesse surgido na antiguumlidade a
humanidade natildeo teria a Biacuteblia o Coratildeo Gilgamesh o Mahabarata a Iliacuteada a Odisseacuteia e todas
as narrativas surgidas de um amplo e feacutertil processo de mistura combinaccedilatildeo re-escritura e
transformaccedilatildeo ndash ou seja tudo aquilo que muitos chamam de plaacutegio
O manifesto celebra o fato de que a cada dia na era digital milhotildees de pessoas violam e
rechaccedilam continuamente o copyright Essa subversatildeo eacute feita quando copiamos muacutesica em
formato MP3 na Internet quando distribuiacutemos informaccedilatildeo pela rede e quando reproduzimos
livremente conteuacutedos que nos interessam usufruindo de tecnologias que suprimem a distinccedilatildeo
entre original e coacutepia ldquoNatildeo estamos falando da lsquopiratariarsquo gerida pelo crime organizado
divisatildeo extralegal do capitalismo natildeo menos deslocada e ofegante do que a legal pela
extensatildeo da lsquopiratariarsquo autogestionada e de massasrdquo prossegue o manifesto Para Wu Ming 1
a democratizaccedilatildeo geral do acesso agraves artes tem a ver com o rompimento de barreiras sociais
ldquo(hellip) devo fornecer algum dado sobre o preccedilo dos CDsrdquo (idem p4)
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Assim entusiasticamente argumenta que esse processo estaacute mudando o aspecto da
induacutestria cultural mundial ao inaugurar uma nova fase da cultura onde leis mais duras jamais
seratildeo suficientes para deter uma dinacircmica social jaacute iniciada e envolvente Essa movimentaccedilatildeo
estaria rumando a um ponto em que seriam superadas todas legislaccedilotildees sobre propriedade
intelectual para que fossem totalmente reescritas
O copyleft eacute entatildeo saudado como uma inovaccedilatildeo juriacutedica vinda de baixo que superou a
lsquopiratariarsquo ao enfatizar a forccedila construtiva (pars construens) do movimento real Para o
manifesto com aquela estrateacutegia do copyleft (explicitada neste artigo na discussatildeo sobre o
GNU) as leis vigentes do copyright8 estatildeo sendo pervertidas em relaccedilatildeo a sua funccedilatildeo original
e em vez de oferecer obstaacuteculos se converte em garantia de livre circulaccedilatildeo
Para servir de exemplo praacutetico todos os livros editados pelo coletivo Wu Ming contam
com a seguinte locuccedilatildeo ldquoPermitida a reproduccedilatildeo parcial ou total da obra e sua difusatildeo por via
telemaacutetica para uso pessoal dos leitores sob condiccedilatildeo de que natildeo seja com fins comerciaisrdquo
(idem p6) Rogeacuterio de Campos diretor editorial da Conrad editora da coleccedilatildeo Baderna
afirmou em entrevista agrave Folha de S Paulo que soacute conseguiu negociar os direitos de
reproduccedilatildeo do romance Q do autor Luther Blisset (pseudocircnimo de autores coletivos ligados
ao Wu Ming) depois de admitir uma claacuteusula que obriga a editora a ldquoprocessar qualquer um
que impeccedila a livre reproduccedilatildeo da obrardquo (ASSIS 2002)
As leis vigentes sobre o copyright ainda ignoram completamente o recurso ao copyleft De
acordo com o texto do manifesto em diversos encontros com deputados italianos os
produtores de software livre foram comparados pura e simplesmente aos ldquopiratasrdquo Isso faz
lembrar uma declaraccedilatildeo Richard Stallman em entrevista agrave Folha de S Paulo ldquoNatildeo faz sentido
sermos comparados a pessoas que atacavam navios e matam soacute porque compartilhamos
informaccedilatildeo puacuteblica com o vizinhordquo (MAISONNAVE LOUZANO 2000)
A segunda parte do livreto Copyright e maremoto conta com trechos de uma entrevista
feita com o grupo Neste pequeno diaacutelogo eles expotildeem com paixatildeo e fuacuteria seus atrevimentos
culturais sem receio de exageros retoacutericos entusiasmados ldquoSim noacutes afirmamos que a cultura
popular ocidental do seacuteculo XX (hellip) estava muitas vezes mais proacutexima do socialismo do que
os regimes lsquosocialistasrsquo orientais do seacuteculo XX conseguiram estarrdquo Para eles a seacuterie de
imagens de Mao Tse Tung serigrafadas por Andy Warhol foi mais importante para os
fundamentos da Revoluccedilatildeo do que os retratos oficiais do Grande Timoneiro agitados em
7 Esse manifesto foi escrito por Roberto Bui que publicamente identifica-se como Wu Ming 1 8 As atuais leis de copyright foram padronizadas na Convenccedilatildeo de Berna em 1971
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manifestaccedilotildees maoiacutestas ldquoO socialismo deve ser baseado na natureza coletiva da produccedilatildeo
capitalistardquo Ao contraacuterio do pessimismo de Adorno em relaccedilatildeo agrave induacutestria cultural e da
lsquoobsessatildeorsquo dos situacionaistas com o lsquoespetaacuteculorsquo o manifesto prega que a produccedilatildeo da
cultura pop no seacuteculo passado foi um processo socialista coletivo aberto mutante e
constantemente entrelaccedilado por inuacutemeras subculturas graccedilas agrave esfuziante habilidade das
multidotildees na reapropriaccedilatildeo ou ldquode-propriaccedilatildeordquo dessa cultura via pirataria de CDs violaccedilatildeo
de DVDs troca de arquivos em rede etc ldquoAs instituiccedilotildees da propriedade intelectual estatildeo
caindo aos pedaccedilos as pessoas estatildeo detonando-as Eacute um maravilhoso processo popular e
estaacute mais proacuteximo do socialismo do que a China jamais esteverdquo (WU MING 1 2002 p7-8)
Surge enfim a questatildeo da remuneraccedilatildeo dos autores O trabalho intelectual eacute um serviccedilo
pesado Exige um alto investimento em estudo em tempo e evidentemente deve ser
remunerado Assim a pergunda natural eacute o copyright natildeo eacute essencial para a sobrevivecircncia do
autor
Se um sujeito natildeo tem dinheiro para comprar qualquer um dos livros editados pela Wu
Ming Foundation pode tranquumlilamente fotocopiaacute-lo digitalizaacute-lo em scanner ou entatildeo a
soluccedilatildeo mais cocircmoda fazer o download gratuito da obra integral no site oficial
wwwwumingfoundationorg em um computador puacuteblico em alguma universidade ou
biblioteca As reproduccedilotildees que natildeo visam lucro satildeo automaticamente autorizadas Mas se um
editor estrangeiro quer comercializar uma de suas obras em outro paiacutes neste caso a utilizaccedilatildeo
evidentemente visa lucro e portanto essa empresa deve pagar por isso
Na verdade o Wu Ming apenas admitiu uma evidecircncia expliacutecita ningueacutem deixa de copiar
uma obra porque no rodapeacute haacute uma frase que diz lsquotodos os direitos satildeo reservados e
protegidos pela Lei 5988 de 141273 Nenhuma parte deste livro sem autorizaccedilatildeo preacutevia
por escrito da editora poderaacute ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios
empregados etchelliprsquo Quando o copyright foi introduzido9 concomitante ao desenvolvimento
da imprensa haacute trecircs seacuteculos natildeo havia possibilidade de lsquocoacutepia privadarsquo ou lsquoreproduccedilatildeo sem
fins de lucrorsquo porque soacute empresaacuterios editores tinham acesso agraves maacutequinas tipograacuteficas
Portanto em suas origens o copyright natildeo era percebido como lsquoanti-socialrsquo mas era uma
arma de um empresaacuterio contra o outro natildeo de um empresaacuterio contra o puacuteblico Mas com a
revoluccedilatildeo da informaacutetica e das comunicaccedilotildees o puacuteblico tem acesso agraves tecnologias de
9 A primeila lei de copyright surgiu na Inglaterra em 1710 mas foi desenvolvida a seguir nos EUA
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reproduccedilatildeo Dessa forma o copyright tornou-se na visatildeo do Wu Ming ldquouma arma que
dispara na multidatildeordquo10 (WU MING 1 2003) ndash mas sem muito efeito poderiacuteamos acrescentar
Nesse contexto observando sua proacutepria experiecircncia editorial esse coletivo literaacuterio
percebeu um fenocircmeno curioso e aparentemente paradoxal natildeo haacute relaccedilatildeo direta entre
ldquocoacutepias oficiais natildeo vendidasrdquo e ldquocoacutepias pirateadasrdquo Em outras palavras as coacutepias natildeo
influenciam na vendagem das obras ldquoEm realidade editorialmente quanto mais uma obra
circula mais venderdquo Ou seja quanto mais democratizada maiores os lucros O exemplo
paradigmaacutetico eacute a obra Q de Luther Blisset editado por eles que vendeu mais de 2 milhotildees
de coacutepias apesar de ndash ou melhor justamente devido ao copyleft O sujeito copia o livro seja
porque natildeo tem dinheiro seja porque natildeo quer comprar lsquono escurorsquo e gosta do que leu
Decide indicar ou mesmo dar de presente a algueacutem mas natildeo quer dar uma coacutepia qualquer
Pronto compra o livro A pessoa presenteada tambeacutem gosta e passa a indicar ou presentear
outras com o mesmo livro Uma coacutepia dois ou trecircs livros vendidos Simples assim
Para o Wu Ming se a maioria dos editores natildeo perceberam essa dinacircmica foi mais por
questatildeo ideoloacutegica que mercadoloacutegica ldquoA editoraccedilatildeo natildeo estaacute em risco de extinccedilatildeo como a
induacutestria fonograacutefica a loacutegica eacute outra outros os suportes outros os circuitos outro o modo de
fruiccedilatildeo e sobretudo a editoraccedilatildeo natildeo perdeu ainda a cabeccedila natildeo reagiu com retaliaccedilotildees em
massa denuacutencias e processos agrave grande revoluccedilatildeo tecnoloacutegica que democratiza o acesso aos
meios de reproduccedilatildeordquo (WU MING 2003)
A estrateacutegia da induacutestria
Seraacute que estamos mesmo prestes a assistir ao desmoronamento da induacutestria cultural Seraacute
que os legisladores precisaratildeo reescrever todas as regras de direitos autorais para responder ao
novo momento tecnoloacutegico-cultural do seacuteculo XXI Shapiro e Varian (1999 p103)
argumentam que natildeo Na verdade eles defendem que muitos princiacutepios claacutessicos da economia
ainda satildeo perfeitamente vaacutelidos para essas situaccedilotildees ldquoO que mudou eacute que a Internet e a
tecnologia da informaccedilatildeo em geral oferecem oportunidades e desafios novos para a aplicaccedilatildeo
desses princiacutepiosrdquo Assim acreditam que os donos de propriedade intelectual seratildeo
naturalmente capazes de superar as lsquoameaccedilasrsquo da reproduccedilatildeo digital atraveacutes de estrateacutegias
semelhantes as quais superaram os desafios provocados pela tecnologia no passado ldquoAs
10 A Disney chegou a levar vaacuterias creches americanas aos tribunais por exibirem desenhos animados em viacutedeo sem licenccedila formal Na deacutecada de 90 a empresa ameaccedilou processar trecircs creches da Floacuterida que haviam pintado personagens da Disney em suas paredes (SHAPIRO VARIAN 1999 p109)
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novas oportunidades oferecidas pela reproduccedilatildeo digital excedem em muito os problemasrdquo
(SHAPIRO VARIAN 1999 p104)
Todas as facilidades da tecnologia digital satildeo elencadas para dar suporte ao otimismo dos
autores sobretudo os baixos custos de reproduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo ldquoNatildeo lute contra os custos
de distribuiccedilatildeo mais baixosrdquo aconselham ldquotire vantagem delesrdquo Para isso eacute preciso que
negociantes saibam lidar com o que os economistas chamam de ldquobem da experiecircnciardquo
O objeto de consumo eacute chamado de ldquobem da experiecircnciardquo (idem p18) quando os
fregueses precisam experimentar o produto antes de atribuir-lhes valor Qualquer novidade no
mercado eacute potencialmente um bem da experiecircncia e os publicitaacuterios contam com meacutetodos
claacutessicos de propaganda nesses casos promoccedilatildeo atraveacutes de reduccedilatildeo comparativa de preccedilo
depoimentos de famosos e anocircnimos e a infaliacutevel distribuiccedilatildeo de amostras graacutetis de pequenas
quantidades do produto a ser anunciado Eis mais uma pista Voltaremos a ela adiante
A induacutestria da informaccedilatildeo tecircm tambeacutem seus meacutetodos claacutessicos para fazer com que os
consumidores comprem o bem simboacutelico antes de ter certeza se o que estatildeo adquirindo vale o
preccedilo que pagam antecipadamente Primeiramente da mesma forma que em supermercados eacute
possiacutevel bebericar gratuitamente uma nova marca de iogurte em promoccedilotildees de lanccedilamento
existem formas de experimentar o ldquogostinhordquo do produto cultural Eacute possiacutevel ler as manchetes
de capa do jornal o trailer do filme etc Evidentemente isso eacute apenas uma parte da histoacuteria
Os produtos de sucesso superam o problema do ldquobem da experiecircnciardquo por meio da promoccedilatildeo
de sua ldquomarcardquo e sua ldquoreputaccedilatildeordquo Mas natildeo pretendemos entrar nessa discussatildeo pois natildeo cabe
na abordagem que restringe este artigo
Pois bem as grandes lojas de livros tornaram o ato de folhear mais confortaacutevel oferecendo
poltronas aacutereas abertas e cafeacutes porque haacute tempos jaacute sabem que essa estrateacutegia empresarial
impulsiona a venda de livros Ao lsquooferecerem gratuitamentersquo parte de seu produto elas
acabam ganhando muito mais dinheiro Nessa perspectiva a Internet eacute vista por Shapiro e
Varian (1999 p106) como ldquoum modo maravilhoso de oferecer amostras graacutetis do conteuacutedo
da informaccedilatildeordquo E enquanto especialistas discutem a maneira mais adequada de propaganda
na Web Shapiro e varian satildeo categoacutericos a Internet eacute ideal para ldquoinfomerciais11rdquo ou seja
estrateacutegia que fisga o leitor atraveacutes do oferecimento do proacuteprio conteuacutedo Mas a duacutevida eacute
como vatildeo ganhar dinheiro se simplesmente doarem seu produto A resposta dos autores eacute
11 ldquoComerciais de longa duraccedilatildeo que aleacutem de explicar em detalhes as caracteriacuterticas (hellip) do produto transmitem ainda depoimentos de usuaacuterios e outras informaccedilotildees pertinentes ao bem ou serviccedilo anunciadordquo (SHAPIRO VARIAN 1999 p106)
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doe somente parte de seu produto Eacute o princiacutepio claacutessico da amostra graacutetis mas com a
vantagem do insignificante custo de distribuiccedilatildeo ldquoO truque eacute dividir seu produto em
componentes dos quais alguns vocecirc daacute outros vocecirc vende As partes doadas satildeo os anuacutencios
ndash os infomerciais ndash das partes que vocecirc venderdquo
Os autores partem de um princiacutepio ergonocircmico para fundamentar suas hipoacuteteses hoje e
provavelmente por um bom tempo ningueacutem consegue ler um livro ou ateacute mesmo um artigo
de revista muito extenso com os olhos fixos em um monitor Eacute simplesmente muito
cansativo Segundo Shapiro e Varian pesquisas mostram que os usuaacuterios da web em geral
lecircem apenas duas telas de conteuacutedo antes de clicarem para sair Dessa forma o deconforto
associado agrave leitura direta em monitores sugere que a empresa pode colocar grandes
quantidades de conteuacutedo on-line sem que isso prejudique as vendas de coacutepias impressas12
Eacute claro que se a versatildeo na Web for faacutecil de imprimir podemos supor que o usuaacuterios
estaratildeo tentados a fazecirc-lo Mas haacute uma estrateacutegia muito simples para tornar a impressatildeo
caseira um ato trabalhoso e desconfortaacutevel ldquoA melhor coisa a fazerrdquo escrevem ldquoeacute tornar a
versatildeo on-line faacutecil de folherar ndash muitas telas curtas muitos links ndash mas difiacutecil de imprimir
em sua totalidaderdquo
Natildeo eacute difiacutecil perceber que ateacute esse momento com palavras e propoacutesitos diferentes
Shapiro e Varian disseram as mesmas coisas que o coletivo Wu Ming em relaccedilatildeo ao negoacutecio
editorial As divergecircncias satildeo ideoloacutegicas pois os primeiros admitem como um verdadeiro
problema o ldquocontrabando de bitsrdquoe a ldquopirataria digitalrdquo dizendo ldquoTudo de que se precisa eacute
que haja vontade poliacutetica para defender os direitos de propriedade intelectualrdquo (idem p114)
Mas na verdade os autores consideram que os proprietaacuterios dos conteuacutedos satildeo
excessivamente conservadores a respeito de gestatildeo de suas propriedades intelectuais Eles
observam que tradicionalmente toda nova tecnologia de reproduccedilatildeo produz previsotildees
catastroacuteficas no mercado Para eles a histoacuteria da veiculaccedilatildeo dos filmes em viacutedeo eacute um caso
exemplar
Hollywood ficou petrificada com o advento dos gravadores de videocassete O setor de
televisatildeo deu entrada em processos para impedir a coacutepia domeacutestica de programas de TV e a
Disney tentou distinguir as compras dos alugueacuteis de viacutedeo por meio de arranjos de
licenciamento Todas essas tentativas fracassaram Ironicamente Hollywood ganha hoje mais
com os viacutedeos do que com as apresentaccedilotildees em cinemas na maioria das produccedilotildees O mercado
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de vendas e de aluguel de viacutedeos antes tatildeo temido tornou-se uma imensa fonte de receita para
Hollywood (SHAPIRO VARIAN 1999 p17)
As proacuteprias bibliotecas satildeo um exemplo de uma inovaccedilatildeo que primeiro pareceu ameaccedilar o
setor editorial mas acabou por ampliaacute-lo imensamente (idem p115) A loacutegica eacute simples o
acesso agrave obras gratuitas forma o gosto de leitores que mais tarde compraratildeo livros Shapiro e
Varian percebem que perante os desafios da era digital haacute uma tendecircncia natural para que os
produtores se preocupem demais em lsquoprotegerrsquo sua propriedade intelectual Mas para eles o
importante eacute lsquomaximizarrsquo o valor da propriedade intelectual natildeo protegecirc-la pela pura
proteccedilatildeo ldquoSe vocecirc perde um pouco de sua propriedade quando a vende ou aluga esses eacute
apenas um dos custos de fazer negoacutecios juntamente com a depreciaccedilatildeo as perdas de estoque
e a obsolecircnciardquo
Ao mesmo tempo sabenos que existem muitos outros recursos para motivar a compra do
consumidor mesmo quando se tratam de bens culturais Moles (1974) ensina que o
mecanismo baacutesico da publicidade consiste em acrescentar um valor psicoloacutegico ao valor
propriamente utilitaacuterio do produto explorando portanto as emoccedilotildees secundaacuterias do
consumidor A publicidade alimenta artificialmente um desejo e sobretudo atraveacutes da
repeticcedilatildeo pelos meios de comunicaccedilatildeo primeiro convence que essa vontade eacute uma
necessidade essencial e depois promete satisfazecirc-la atraveacutes dos valores associados ao objeto
de consumo Na verdade natildeo satildeo vendidos produtos mas status social estilos sensaccedilotildees
impressotildees Isso quer dizer que os anuacutencios publicitaacuterios natildeo oferecem sabonetes mas
possibilidade de beleza natildeo anunciam automoacuteveis mas o prazer da velocidade e de poder
natildeo querem vender cigarro mas sentimento de juventude e de liberdade Em outras palavras
a publicidade complica a vida para oferecer a possibilidade de resolvecirc-la por meio do
consumo Assim podemos dizer que o mercado da cultura tambeacutem vive da venda de status
de prestiacutegio intelectual e natildeo apenas de conhecimento Basta pensar em quantos livros
compramos por lsquoimpulsorsquo mesmo sabendo que talvez nunca o leremos Ou quantos CDs
adquirimos para ouviacute-los algumas poucas vezes e guardaacute-los na estante Ou quantas fitas de
viacutedeo ou DVDs de filmes que jaacute vimos noacutes compramos para guardar mas nunca assistimos
porque estamos sempre alugando outros filmes
12 ldquoA Nacional Academy os Science Press pocircs on-line mais de mil de seus livros e descobriu que a disponibilidade das versotildees eletrocircnicas impulsionou as vendas de coacutepias impressas em duas a trecircs vezesrdquo (idem p107)
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Mas haacute um outro movimento juriacutedico contemporacircneo que parece ter o potencial de
provocar uma discussatildeo sobretudo filosoacutefica na economia da cultura no capitalismo do seacuteculo
XXI O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio
Vargas no Rio de Janeiro cujo objetivo eacute estudar implicaccedilotildees juriacutedicas sociais e culturais do
avanccedilo da tecnologia da informaccedilatildeo vem desenvolvendo estudos importantes nas aacutereas de
propriedade intelectual software livre governanccedila da web e privacidade na Internet O CTS eacute
o oacutergatildeo responsaacutevel pela direccedilatildeo no Brasil do projeto Creative Commons uma iniciativa
criada por Lawrence Lessig na Universidade de Stanford (EUA) O CTS adaptou as licenccedilas
do Creative Commons para o ordenamento juriacutedico brasileiro e fez com que o Brasil se
tornasse pioneiro no desenvolvimento de licenccedilas CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL
atualmente utilizadas pelo governo para o licenciamento de software livre
Uma das principais caracteriacutesticas do direito autoral claacutessico eacute que ele funciona como um
grande NAtildeO Isto quer dizer que para utilizar qualquer conteuacutedo eacute necessaacuterio pedir permissatildeo ao seu autor ou titular de direitos No sistema juriacutedico da propriedade intelectual adotado no Brasil ateacute mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jaacute nascem com todos os direitos reservados
Apesar disto muitos autores e titulares de direitos natildeo se importam que outras pessoas tenham acesso aos seus trabalhos Um muacutesico um videomaker ou uma escritora podem desejar justamente o contraacuterio o amplo acesso agraves suas obras ou eventualmente que seus trabalho sejam reinterpretandos reconstruiacutedos e recriados por outras pessoas
Assim o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitos possa dizer ao mundo que ele natildeo se opotildee agrave utilizaccedilatildeo de sua obra no que diz respeito agrave distribuiccedilatildeo coacutepia e outros tipos de uso
O Creative Commons eacute um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativas disponiacuteveis ao puacuteblico permitindo criar outras obras sobre elas compartilhando-as Isso eacute feito atraveacutes do desenvolvimento e disponibilizaccedilatildeo de licenccedilas juriacutedicas que permitem o acesso agraves obras pelo puacuteblico sob condiccedilotildees mais flexiacuteveis (FGV 2005)
Existem uma seacuterie de modalidades de licenccedila e cada uma delas concede direitos e deveres
especiacuteficos Haacute licenccedilas que por exemplo permitem a divulgaccedilatildeo da obra mas proiacutebem o uso
comercial Outras permitem a utilizaccedilatildeo da obra em outros trabalhos Haacute tambeacutem licenccedilas
que permitem o sampleamento remixagem colagem e outras formas criativas de
reconstruccedilatildeo da obra permitindo uma enorme explosatildeo de possibilidades criativas Dessa
forma a riacutegida locuccedilatildeo todos os direitos reservados eacute substituiacuteda por alguns direitos
reservados propondo assim uma universalidade de bens intelectuais criativos acessiacuteveis a
todos que eacute condiccedilatildeo fundamental para qualquer inovaccedilatildeo cultural e tecnoloacutegica (idem
2005) Assim as novas formas de apropriaccedilatildeo cultural na sociedade da informaccedilatildeo jaacute
comeccedilam a organizar respaldo juriacutedico atraveacutes de movimentos internacionais de
questionamento agrave pertinecircncia das velhas regulaccedilotildees autorais frente agraves exponenciais
possibilidades dos intercacircmbios mediatizados
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Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
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Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
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conteuacutedos A criaccedilatildeo deste termo eacute atribuiacuteda a Richard Stallman um ativista da primeira
geraccedilatildeo de hackers da Universidade de Harvard e do MIT Artificial Intelligence Lab
(Laboratoacuterio de Inteligecircncia Artificial do Instituto de Tecnologia de Massachusetts) nos anos
1970 Em janeiro de 1984 Stallman abandonou o MIT para dedicar-se ao projeto GNU ndash uma
paroacutedia metalinguumliacutestica e tautoloacutegica a sigla GNU significa Gnu is Not Unix (Gnu Natildeo eacute
Unix) Em 1985 fundou a Free Software Foundation (FSF)
Copyleft eacute um trocadilho de traduccedilatildeo literal impossiacutevel No primeiro momento em uma
inversatildeo do copyright (direitos de reproduccedilatildeo) o novo termo substitui o ldquorightrdquo pelo ldquoleftrdquo
direita por esquerda em inglecircs ndash naturalmente uma alusatildeo agrave ideologia poliacutetica agrave esquerda
historicamente envolvida nos esforccedilos de democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo Mas ldquoleftrdquo eacute
tambeacutem um modo verbal que se refere ao ldquosimple pastrdquo (passado perfeito) do verbo ldquoleaverdquo
que significa ldquopermitir deixarrdquo Neste segunda leitura poderiacuteamos traduzir copyleft por algo
como ldquocoacutepia permitidardquo Junto a esse conceito foi criado para parodiar o slogan ldquoAll rights
reservedrdquo (Todos os direitos reservados) a foacutermula ldquoAll rights reversedrdquo (Todos os direitos
invertidos) Mas para compreender as sutilezas do copyleft eacute necessaacuterio compreender os
fundamentos do projeto GNU
GNU is Not Unix
O GNU foi idealizado em 1983 e lanccedilado no ano seguinte com o objetivo de desenvolver
um sistema operacional completo e tatildeo eficiente quanto o Unix A diferenccedila eacute que ao
contraacuterio deste uacuteltimo que eacute um sistema fechado e exige pagamento pela licenccedila de uso o
GNU eacute um sistema aberto e oferece livre acesso para os usuaacuterios ndash ou seja pode ser instalado
modificado e copiado gratuitamente De acordo com informaccedilotildees no site do projeto diversas
variaccedilotildees do sistema GNU que utilizam o nuacutecleo Linux satildeo hoje largamente utilizadas
(estima-se que aproximadamente 20 milhotildees de usuaacuterios tecircm acesso ao programa) Apesar de
serem normalmente chamados apenas de Linux o popular sistema operacional gratuito criado
por Linus Torvalds na verdade trata-se de variaccedilotildees de sistemas GNULinux ldquoO Software
Livre eacute uma questatildeo de liberdade as pessoas devem ser livres para usar o software de todas as
maneiras que sejam socialmente uacuteteis2rdquo
Na concepccedilatildeo dos criadores do GNU a palavra livre (free no original) estaacute relacionada
com liberdade em vez de preccedilo Isso quer dizer que o usuaacuterio pode ou natildeo pagar um preccedilo
2 Traduzida por Pedro Oliveira e revisada por Miguel Oliveira em abril de 2000 Atualizada por Fernando Lozano Disponiacutevem el lthttpwwwgnuorgphilosophyphilosophypthtmlAbouttheGNUprojectgt Acesso em 27 fev 2004
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para obter o software GNU Informaccedilotildees no site oficial esclarecem que esse programa
possibilita trecircs liberdades especiacuteficas de utilizaccedilatildeo
Primeiro a liberdade de copiar o programa e da-lo (sic) para seus amigos e colegas de trabalho
Segundo a liberdade de modificar o programa de acordo com os seus desejos por ter acesso
completo agraves fontes Terceiro a liberdade de distribuir versotildees modificadas e assim ajudar a
construir a comunidade (Se vocecirc redistribui software GNU vocecirc pode cobrar pelo ato de
transferir uma coacutepia ou vocecirc pode dar coacutepias de graccedila)3
A ideacuteia ainda segundo os criadores eacute ldquotrazer de volta o espiacuterito cooperativo que prevalecia
na comunidade de informaacutetica nos seus primoacuterdiosrdquo removendo obstaacuteculos impostos pelos
proprietaacuterios do software e tornando possiacutevel a cooperaccedilatildeo entre programadores
Todo usuaacuterio de computador precisa necessariamente de um Sistema Operacional
(Operating System) como o Windows o Mac ou o Unix para citar os mais populares entre o
puacuteblico natildeo especializado Sem um sistema operacional livre natildeo eacute possiacutevel nem mesmo
iniciar um computador sem pagar pela licenccedila de uso do software (a natildeo ser que se use
versotildees piratas e portanto ilegais) Assim para o GNU o primeiro item na agenda do
software livre eacute o estabelecimento de um sistema operacional livre
A Free Software Foundation (FSF) fundada por Richard Stallman manteacutem desde 1999 o
projeto Free Software Directory (FSD) Em um site da web a fundaccedilatildeo deixa agrave disposiccedilatildeo
para download softwares livres que funcionam em sistemas operacionais abertos sobretudo
nas variaccedilotildees GNULinux Desde abril de 2003 o projeto conta com o apoio da Unesco
Quase tudo em copyleft
Haacute nesse conceito uma caracteriacutestica chave que o diferencia definitivamente da ideacuteia de
ldquodomiacutenio puacuteblicordquo De fato o modo mais simples de estabelecer um software-livre eacute colocaacute-
lo sob domiacutenio puacuteblico ou seja abrir matildeo por completo do copyright No entanto se por um
lado permite que os usuaacuterios compartilhem livremente o programa original essa licenccedila
aberta deixa uma brecha Ela natildeo impede por exemplo que empresas natildeo-cooperativas ao
fazer poucas modificaccedilotildees no programa registrem o copyright e detentoras dos direitos
autorais comercializem com exclusividade o ldquonovordquo software com coacutedigo fechado
Assim em vez de colocar os programas do GNU em domiacutenio puacuteblico o projeto
desenvolveu esse artifiacutecio O copyleft impotildee que qualquer usuaacuterio que redistribua o programa
3 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggnugnu-historypthtmlgt Acesso em 27 fev 2004
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com ou sem modificaccedilotildees deve necessariamente passar adiante as liberdades de fazer novas
coacutepias e modificaacute-las Em outras palavras torna ilegal a comercializaccedilatildeo da versatildeo melhorada
em coacutedigo fechado
A estrateacutegia dessa licenccedila eacute engenhosa Para distribuir programa em copyleft primeiro o
GNU esclarece que ele estaacute protegido sob copyright Em seguida nos termos de distribuiccedilatildeo ndash
o instrumento legal que concede o direito de uso ndash registra que o usuaacuterio pode modificar e
redistribuir o coacutedigo-fonte do programa (ou qualquer outro programa derivado dele) mas
somente se todos os termos de distribuiccedilatildeo permanecerem inalterados ndash leia-se se for
mantido o coacutedigo aberto Aleacutem disso a FSF estabelece que cada autor de coacutedigo incorporado
a softwares da fundaccedilatildeo ceda seus direitos de copyright ldquoDeste modo noacutes podemos ter
certeza de que todo o coacutedigo em projetos da FSF eacute coacutedigo livre cuja liberdade noacutes podemos
proteger de maneira efetiva e na qual outros desenvolvedores possam confiar plenamente4rdquo
Assim o coacutedigo e as liberdades se tornam legalmente inseparaacuteveis A grosso modo satildeo essas
as bases da General Public License (Licenccedila Puacuteblica Geral) do GNU comumente chamada
de GNU GPL
O trecho a seguir do coletivo literaacuterio Wu Ming explica com a insolecircncia tiacutepica de grupos
anarquistas como essa estrateacutegia funciona na praacutetica
Se o software livre tivesse permanecido simplesmente em domiacutenio puacuteblico cedo ou tarde
os rapaces da induacutestria o teriam colocado sob suas garras A soluccedilatildeo foi virar o copyright pelo
avesso para transformaacute-lo de obstaacuteculo agrave livre reproduccedilatildeo em suprema garantia desta uacuteltima
Em poucas palavras ponho o copyright uma vez que sou proprietaacuterio desta obra portanto
aproveito deste poder para dizer que com esta obra vocecirc pode fazer o que quiser pode copiaacute-la
difundi-la modificaacute-la mas natildeo pode impedir outro de fazecirc-lo isto eacute natildeo pode apropriar-se
dela e impedir sua circulaccedilatildeo natildeo pode colocar nela um copyright seu porque ela jaacute tem um
me pertence e eu te enrabo (WU MING 1 2003)
ldquoAteacute onde o software livre pode irrdquo perguntam os criadores do GNU ldquoNatildeo haacute limites
exceto quando leis como o sistema de patentes proiacutebem o software livre completamente O
objetivo final eacute fornecer software livre para realizar todas as tarefas que os usuaacuterios de
computadores querem realizar -- e assim tornar o software proprietaacuterio obsoletordquo5
4 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorglicenseswhy-assignpthtmlgt Acesso em 27 fev 2004 5 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggnugnu-historypthtmlgt Acesso em 27 fev 2004
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Do universo da informaacutetica o copyleft invadiu outras aacutereas do conhecimento Em artigo
publicado na revista Nature o proacuteprio Richard Stallman defende que a ciecircncia deve deixar o
copyright de lado
Deveria ser naturalmente oacutebvio que a literatura cientiacutefica existe para disseminar o
conhecimento cientiacutefico e que as publicaccedilotildees cientiacuteficas existem para facilitar o processo (hellip)
[Entretanto] muitos editores de publicaccedilotildees parecem acreditar que o propoacutesito da literatura
cientiacutefica eacute permitir a eles publicar perioacutedicos para nada mais do que angariar assinaturas de
cientistas e estudantes Tal pensamento eacute conhecido como lsquoconfusatildeo dos meios com os finsrsquo
(STALLMAN 2001)6
Para Stallman o copyright foi estabelecido para satisfazer demandas de proteccedilatildeo proacuteprias
das publicaccedilotildees impressas mas natildeo tem mais sentido na era da comunicaccedilatildeo eletrocircnica
(voltaremos a essa argumentaccedilatildeo adiante) A pergunta que faz eacute ldquoquais regras garantiriam a
maacutexima disseminaccedilatildeo de artigos cientiacuteficos e conhecimento na Webrdquo Ele defende que
textos cientiacuteficos deveriam ser distribuiacutedos livremente com acesso aberto para todos E nas
paacuteginas da Internet todos deveriam ter o direito de ldquoespelharrdquo artigos isto eacute republicaacute-los
literalmente em seus proacuteprios sites com as devidas referecircncias
Editores de perioacutedicos costumam reclamar que a infra-estrutura on-line requer cariacutessimos
servidores de alta potecircncia e entatildeo precisam cobrar taxas de acesso para pagar os custos Para
Stallman este lsquoproblemarsquo eacute uma consequumlecircncia da proacutepria lsquosoluccedilatildeorsquo que os editores adotam
ldquoDecirc a todo mundo a liberdade de espelhar e bibliotecas ao redor do planeta vatildeo instalar sites
espelho para responder agrave demandardquo Essa distribuiccedilatildeo descentralizada certamente reduziria as
necessidades individuais de expandir a largura da banda da rede para responder ao traacutefego
possibilitaria portanto acesso mais raacutepido aleacutem da vantagem de proteger os trabalhos
acadecircmicos contra perdas acidentais
Mas como financiar as publicaccedilotildees O custo da ediccedilatildeo (mesmo no caso de impressos
atreveriacuteamos a acrescentar) poderia ser recuperado sugere Stallman atraveacutes de uma taxa por
paacutegina cobrada dos autores que por sua vez poderiam passar os custos para os financiadores
da pesquisa O autor ocasional que natildeo eacute afiliado a uma instituiccedilatildeo e que natildeo tem nenhum
oacutergatildeo financiador seria eximido de pagar as taxas e os custos computados a outros autores
ligados agrave instituiccedilotildees de fomento agrave pesquisa
6 Traduccedilatildeo livre
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ldquoA Constituiccedilatildeo Americana diz que o copyright existe lsquopara promover o progresso da
ciecircnciarsquo Quando o copyright impede o progresso da ciecircncia a Ciecircncia precisa deixar o
copyright de ladordquo conclui Stallman (2001)
Copyright e maremoto
Da ciecircncia o conceito passou a referir-se a fenocircmenos da cultura
Atualmente existe um amplo movimento de protesto e transformaccedilatildeo social em grande
parte do planeta Ele possui um potencial enorme mas ainda natildeo estaacute completamente
consciente disso Embora sua origem seja antiga soacute se manifestou recentemente aparecendo
em vaacuterias ocasiotildees sob os refletores da miacutedia poreacutem trabalhando dia a dia longe deles Eacute
formado por multidotildees e singularidades por retiacuteculas capilares no territoacuterio Cavalga as mais
recentes inovaccedilotildees tecnoloacutegicas As definiccedilotildees cunhadas por seus adversaacuterios ficam-lhe
pequenas Logo seraacute impossiacutevel paraacute-lo e a repressatildeo nada poderaacute contra ele
Eacute aquilo que o poder econocircmico chama ldquopiratariardquo (WU MING 1 2002 p3)7
Esta eacute a introduccedilatildeo do manifesto Copyright e maremoto do coletivo literaacuterio italiano Wu
Ming (que significa em chinecircs Natildeo-famoso ou Anocircnimo) O texto argumenta que durante
milecircnios a civilizaccedilatildeo humana prescindiu do copyright do mesmo modo que prescindiu de
ldquooutros falsos axiomas parecidos como a lsquocentralidade do mercadorsquo ou o lsquocrescimento
ilimitadorsquordquo Afirma que se a propriedade intelectual tivesse surgido na antiguumlidade a
humanidade natildeo teria a Biacuteblia o Coratildeo Gilgamesh o Mahabarata a Iliacuteada a Odisseacuteia e todas
as narrativas surgidas de um amplo e feacutertil processo de mistura combinaccedilatildeo re-escritura e
transformaccedilatildeo ndash ou seja tudo aquilo que muitos chamam de plaacutegio
O manifesto celebra o fato de que a cada dia na era digital milhotildees de pessoas violam e
rechaccedilam continuamente o copyright Essa subversatildeo eacute feita quando copiamos muacutesica em
formato MP3 na Internet quando distribuiacutemos informaccedilatildeo pela rede e quando reproduzimos
livremente conteuacutedos que nos interessam usufruindo de tecnologias que suprimem a distinccedilatildeo
entre original e coacutepia ldquoNatildeo estamos falando da lsquopiratariarsquo gerida pelo crime organizado
divisatildeo extralegal do capitalismo natildeo menos deslocada e ofegante do que a legal pela
extensatildeo da lsquopiratariarsquo autogestionada e de massasrdquo prossegue o manifesto Para Wu Ming 1
a democratizaccedilatildeo geral do acesso agraves artes tem a ver com o rompimento de barreiras sociais
ldquo(hellip) devo fornecer algum dado sobre o preccedilo dos CDsrdquo (idem p4)
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Assim entusiasticamente argumenta que esse processo estaacute mudando o aspecto da
induacutestria cultural mundial ao inaugurar uma nova fase da cultura onde leis mais duras jamais
seratildeo suficientes para deter uma dinacircmica social jaacute iniciada e envolvente Essa movimentaccedilatildeo
estaria rumando a um ponto em que seriam superadas todas legislaccedilotildees sobre propriedade
intelectual para que fossem totalmente reescritas
O copyleft eacute entatildeo saudado como uma inovaccedilatildeo juriacutedica vinda de baixo que superou a
lsquopiratariarsquo ao enfatizar a forccedila construtiva (pars construens) do movimento real Para o
manifesto com aquela estrateacutegia do copyleft (explicitada neste artigo na discussatildeo sobre o
GNU) as leis vigentes do copyright8 estatildeo sendo pervertidas em relaccedilatildeo a sua funccedilatildeo original
e em vez de oferecer obstaacuteculos se converte em garantia de livre circulaccedilatildeo
Para servir de exemplo praacutetico todos os livros editados pelo coletivo Wu Ming contam
com a seguinte locuccedilatildeo ldquoPermitida a reproduccedilatildeo parcial ou total da obra e sua difusatildeo por via
telemaacutetica para uso pessoal dos leitores sob condiccedilatildeo de que natildeo seja com fins comerciaisrdquo
(idem p6) Rogeacuterio de Campos diretor editorial da Conrad editora da coleccedilatildeo Baderna
afirmou em entrevista agrave Folha de S Paulo que soacute conseguiu negociar os direitos de
reproduccedilatildeo do romance Q do autor Luther Blisset (pseudocircnimo de autores coletivos ligados
ao Wu Ming) depois de admitir uma claacuteusula que obriga a editora a ldquoprocessar qualquer um
que impeccedila a livre reproduccedilatildeo da obrardquo (ASSIS 2002)
As leis vigentes sobre o copyright ainda ignoram completamente o recurso ao copyleft De
acordo com o texto do manifesto em diversos encontros com deputados italianos os
produtores de software livre foram comparados pura e simplesmente aos ldquopiratasrdquo Isso faz
lembrar uma declaraccedilatildeo Richard Stallman em entrevista agrave Folha de S Paulo ldquoNatildeo faz sentido
sermos comparados a pessoas que atacavam navios e matam soacute porque compartilhamos
informaccedilatildeo puacuteblica com o vizinhordquo (MAISONNAVE LOUZANO 2000)
A segunda parte do livreto Copyright e maremoto conta com trechos de uma entrevista
feita com o grupo Neste pequeno diaacutelogo eles expotildeem com paixatildeo e fuacuteria seus atrevimentos
culturais sem receio de exageros retoacutericos entusiasmados ldquoSim noacutes afirmamos que a cultura
popular ocidental do seacuteculo XX (hellip) estava muitas vezes mais proacutexima do socialismo do que
os regimes lsquosocialistasrsquo orientais do seacuteculo XX conseguiram estarrdquo Para eles a seacuterie de
imagens de Mao Tse Tung serigrafadas por Andy Warhol foi mais importante para os
fundamentos da Revoluccedilatildeo do que os retratos oficiais do Grande Timoneiro agitados em
7 Esse manifesto foi escrito por Roberto Bui que publicamente identifica-se como Wu Ming 1 8 As atuais leis de copyright foram padronizadas na Convenccedilatildeo de Berna em 1971
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manifestaccedilotildees maoiacutestas ldquoO socialismo deve ser baseado na natureza coletiva da produccedilatildeo
capitalistardquo Ao contraacuterio do pessimismo de Adorno em relaccedilatildeo agrave induacutestria cultural e da
lsquoobsessatildeorsquo dos situacionaistas com o lsquoespetaacuteculorsquo o manifesto prega que a produccedilatildeo da
cultura pop no seacuteculo passado foi um processo socialista coletivo aberto mutante e
constantemente entrelaccedilado por inuacutemeras subculturas graccedilas agrave esfuziante habilidade das
multidotildees na reapropriaccedilatildeo ou ldquode-propriaccedilatildeordquo dessa cultura via pirataria de CDs violaccedilatildeo
de DVDs troca de arquivos em rede etc ldquoAs instituiccedilotildees da propriedade intelectual estatildeo
caindo aos pedaccedilos as pessoas estatildeo detonando-as Eacute um maravilhoso processo popular e
estaacute mais proacuteximo do socialismo do que a China jamais esteverdquo (WU MING 1 2002 p7-8)
Surge enfim a questatildeo da remuneraccedilatildeo dos autores O trabalho intelectual eacute um serviccedilo
pesado Exige um alto investimento em estudo em tempo e evidentemente deve ser
remunerado Assim a pergunda natural eacute o copyright natildeo eacute essencial para a sobrevivecircncia do
autor
Se um sujeito natildeo tem dinheiro para comprar qualquer um dos livros editados pela Wu
Ming Foundation pode tranquumlilamente fotocopiaacute-lo digitalizaacute-lo em scanner ou entatildeo a
soluccedilatildeo mais cocircmoda fazer o download gratuito da obra integral no site oficial
wwwwumingfoundationorg em um computador puacuteblico em alguma universidade ou
biblioteca As reproduccedilotildees que natildeo visam lucro satildeo automaticamente autorizadas Mas se um
editor estrangeiro quer comercializar uma de suas obras em outro paiacutes neste caso a utilizaccedilatildeo
evidentemente visa lucro e portanto essa empresa deve pagar por isso
Na verdade o Wu Ming apenas admitiu uma evidecircncia expliacutecita ningueacutem deixa de copiar
uma obra porque no rodapeacute haacute uma frase que diz lsquotodos os direitos satildeo reservados e
protegidos pela Lei 5988 de 141273 Nenhuma parte deste livro sem autorizaccedilatildeo preacutevia
por escrito da editora poderaacute ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios
empregados etchelliprsquo Quando o copyright foi introduzido9 concomitante ao desenvolvimento
da imprensa haacute trecircs seacuteculos natildeo havia possibilidade de lsquocoacutepia privadarsquo ou lsquoreproduccedilatildeo sem
fins de lucrorsquo porque soacute empresaacuterios editores tinham acesso agraves maacutequinas tipograacuteficas
Portanto em suas origens o copyright natildeo era percebido como lsquoanti-socialrsquo mas era uma
arma de um empresaacuterio contra o outro natildeo de um empresaacuterio contra o puacuteblico Mas com a
revoluccedilatildeo da informaacutetica e das comunicaccedilotildees o puacuteblico tem acesso agraves tecnologias de
9 A primeila lei de copyright surgiu na Inglaterra em 1710 mas foi desenvolvida a seguir nos EUA
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reproduccedilatildeo Dessa forma o copyright tornou-se na visatildeo do Wu Ming ldquouma arma que
dispara na multidatildeordquo10 (WU MING 1 2003) ndash mas sem muito efeito poderiacuteamos acrescentar
Nesse contexto observando sua proacutepria experiecircncia editorial esse coletivo literaacuterio
percebeu um fenocircmeno curioso e aparentemente paradoxal natildeo haacute relaccedilatildeo direta entre
ldquocoacutepias oficiais natildeo vendidasrdquo e ldquocoacutepias pirateadasrdquo Em outras palavras as coacutepias natildeo
influenciam na vendagem das obras ldquoEm realidade editorialmente quanto mais uma obra
circula mais venderdquo Ou seja quanto mais democratizada maiores os lucros O exemplo
paradigmaacutetico eacute a obra Q de Luther Blisset editado por eles que vendeu mais de 2 milhotildees
de coacutepias apesar de ndash ou melhor justamente devido ao copyleft O sujeito copia o livro seja
porque natildeo tem dinheiro seja porque natildeo quer comprar lsquono escurorsquo e gosta do que leu
Decide indicar ou mesmo dar de presente a algueacutem mas natildeo quer dar uma coacutepia qualquer
Pronto compra o livro A pessoa presenteada tambeacutem gosta e passa a indicar ou presentear
outras com o mesmo livro Uma coacutepia dois ou trecircs livros vendidos Simples assim
Para o Wu Ming se a maioria dos editores natildeo perceberam essa dinacircmica foi mais por
questatildeo ideoloacutegica que mercadoloacutegica ldquoA editoraccedilatildeo natildeo estaacute em risco de extinccedilatildeo como a
induacutestria fonograacutefica a loacutegica eacute outra outros os suportes outros os circuitos outro o modo de
fruiccedilatildeo e sobretudo a editoraccedilatildeo natildeo perdeu ainda a cabeccedila natildeo reagiu com retaliaccedilotildees em
massa denuacutencias e processos agrave grande revoluccedilatildeo tecnoloacutegica que democratiza o acesso aos
meios de reproduccedilatildeordquo (WU MING 2003)
A estrateacutegia da induacutestria
Seraacute que estamos mesmo prestes a assistir ao desmoronamento da induacutestria cultural Seraacute
que os legisladores precisaratildeo reescrever todas as regras de direitos autorais para responder ao
novo momento tecnoloacutegico-cultural do seacuteculo XXI Shapiro e Varian (1999 p103)
argumentam que natildeo Na verdade eles defendem que muitos princiacutepios claacutessicos da economia
ainda satildeo perfeitamente vaacutelidos para essas situaccedilotildees ldquoO que mudou eacute que a Internet e a
tecnologia da informaccedilatildeo em geral oferecem oportunidades e desafios novos para a aplicaccedilatildeo
desses princiacutepiosrdquo Assim acreditam que os donos de propriedade intelectual seratildeo
naturalmente capazes de superar as lsquoameaccedilasrsquo da reproduccedilatildeo digital atraveacutes de estrateacutegias
semelhantes as quais superaram os desafios provocados pela tecnologia no passado ldquoAs
10 A Disney chegou a levar vaacuterias creches americanas aos tribunais por exibirem desenhos animados em viacutedeo sem licenccedila formal Na deacutecada de 90 a empresa ameaccedilou processar trecircs creches da Floacuterida que haviam pintado personagens da Disney em suas paredes (SHAPIRO VARIAN 1999 p109)
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novas oportunidades oferecidas pela reproduccedilatildeo digital excedem em muito os problemasrdquo
(SHAPIRO VARIAN 1999 p104)
Todas as facilidades da tecnologia digital satildeo elencadas para dar suporte ao otimismo dos
autores sobretudo os baixos custos de reproduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo ldquoNatildeo lute contra os custos
de distribuiccedilatildeo mais baixosrdquo aconselham ldquotire vantagem delesrdquo Para isso eacute preciso que
negociantes saibam lidar com o que os economistas chamam de ldquobem da experiecircnciardquo
O objeto de consumo eacute chamado de ldquobem da experiecircnciardquo (idem p18) quando os
fregueses precisam experimentar o produto antes de atribuir-lhes valor Qualquer novidade no
mercado eacute potencialmente um bem da experiecircncia e os publicitaacuterios contam com meacutetodos
claacutessicos de propaganda nesses casos promoccedilatildeo atraveacutes de reduccedilatildeo comparativa de preccedilo
depoimentos de famosos e anocircnimos e a infaliacutevel distribuiccedilatildeo de amostras graacutetis de pequenas
quantidades do produto a ser anunciado Eis mais uma pista Voltaremos a ela adiante
A induacutestria da informaccedilatildeo tecircm tambeacutem seus meacutetodos claacutessicos para fazer com que os
consumidores comprem o bem simboacutelico antes de ter certeza se o que estatildeo adquirindo vale o
preccedilo que pagam antecipadamente Primeiramente da mesma forma que em supermercados eacute
possiacutevel bebericar gratuitamente uma nova marca de iogurte em promoccedilotildees de lanccedilamento
existem formas de experimentar o ldquogostinhordquo do produto cultural Eacute possiacutevel ler as manchetes
de capa do jornal o trailer do filme etc Evidentemente isso eacute apenas uma parte da histoacuteria
Os produtos de sucesso superam o problema do ldquobem da experiecircnciardquo por meio da promoccedilatildeo
de sua ldquomarcardquo e sua ldquoreputaccedilatildeordquo Mas natildeo pretendemos entrar nessa discussatildeo pois natildeo cabe
na abordagem que restringe este artigo
Pois bem as grandes lojas de livros tornaram o ato de folhear mais confortaacutevel oferecendo
poltronas aacutereas abertas e cafeacutes porque haacute tempos jaacute sabem que essa estrateacutegia empresarial
impulsiona a venda de livros Ao lsquooferecerem gratuitamentersquo parte de seu produto elas
acabam ganhando muito mais dinheiro Nessa perspectiva a Internet eacute vista por Shapiro e
Varian (1999 p106) como ldquoum modo maravilhoso de oferecer amostras graacutetis do conteuacutedo
da informaccedilatildeordquo E enquanto especialistas discutem a maneira mais adequada de propaganda
na Web Shapiro e varian satildeo categoacutericos a Internet eacute ideal para ldquoinfomerciais11rdquo ou seja
estrateacutegia que fisga o leitor atraveacutes do oferecimento do proacuteprio conteuacutedo Mas a duacutevida eacute
como vatildeo ganhar dinheiro se simplesmente doarem seu produto A resposta dos autores eacute
11 ldquoComerciais de longa duraccedilatildeo que aleacutem de explicar em detalhes as caracteriacuterticas (hellip) do produto transmitem ainda depoimentos de usuaacuterios e outras informaccedilotildees pertinentes ao bem ou serviccedilo anunciadordquo (SHAPIRO VARIAN 1999 p106)
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doe somente parte de seu produto Eacute o princiacutepio claacutessico da amostra graacutetis mas com a
vantagem do insignificante custo de distribuiccedilatildeo ldquoO truque eacute dividir seu produto em
componentes dos quais alguns vocecirc daacute outros vocecirc vende As partes doadas satildeo os anuacutencios
ndash os infomerciais ndash das partes que vocecirc venderdquo
Os autores partem de um princiacutepio ergonocircmico para fundamentar suas hipoacuteteses hoje e
provavelmente por um bom tempo ningueacutem consegue ler um livro ou ateacute mesmo um artigo
de revista muito extenso com os olhos fixos em um monitor Eacute simplesmente muito
cansativo Segundo Shapiro e Varian pesquisas mostram que os usuaacuterios da web em geral
lecircem apenas duas telas de conteuacutedo antes de clicarem para sair Dessa forma o deconforto
associado agrave leitura direta em monitores sugere que a empresa pode colocar grandes
quantidades de conteuacutedo on-line sem que isso prejudique as vendas de coacutepias impressas12
Eacute claro que se a versatildeo na Web for faacutecil de imprimir podemos supor que o usuaacuterios
estaratildeo tentados a fazecirc-lo Mas haacute uma estrateacutegia muito simples para tornar a impressatildeo
caseira um ato trabalhoso e desconfortaacutevel ldquoA melhor coisa a fazerrdquo escrevem ldquoeacute tornar a
versatildeo on-line faacutecil de folherar ndash muitas telas curtas muitos links ndash mas difiacutecil de imprimir
em sua totalidaderdquo
Natildeo eacute difiacutecil perceber que ateacute esse momento com palavras e propoacutesitos diferentes
Shapiro e Varian disseram as mesmas coisas que o coletivo Wu Ming em relaccedilatildeo ao negoacutecio
editorial As divergecircncias satildeo ideoloacutegicas pois os primeiros admitem como um verdadeiro
problema o ldquocontrabando de bitsrdquoe a ldquopirataria digitalrdquo dizendo ldquoTudo de que se precisa eacute
que haja vontade poliacutetica para defender os direitos de propriedade intelectualrdquo (idem p114)
Mas na verdade os autores consideram que os proprietaacuterios dos conteuacutedos satildeo
excessivamente conservadores a respeito de gestatildeo de suas propriedades intelectuais Eles
observam que tradicionalmente toda nova tecnologia de reproduccedilatildeo produz previsotildees
catastroacuteficas no mercado Para eles a histoacuteria da veiculaccedilatildeo dos filmes em viacutedeo eacute um caso
exemplar
Hollywood ficou petrificada com o advento dos gravadores de videocassete O setor de
televisatildeo deu entrada em processos para impedir a coacutepia domeacutestica de programas de TV e a
Disney tentou distinguir as compras dos alugueacuteis de viacutedeo por meio de arranjos de
licenciamento Todas essas tentativas fracassaram Ironicamente Hollywood ganha hoje mais
com os viacutedeos do que com as apresentaccedilotildees em cinemas na maioria das produccedilotildees O mercado
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de vendas e de aluguel de viacutedeos antes tatildeo temido tornou-se uma imensa fonte de receita para
Hollywood (SHAPIRO VARIAN 1999 p17)
As proacuteprias bibliotecas satildeo um exemplo de uma inovaccedilatildeo que primeiro pareceu ameaccedilar o
setor editorial mas acabou por ampliaacute-lo imensamente (idem p115) A loacutegica eacute simples o
acesso agrave obras gratuitas forma o gosto de leitores que mais tarde compraratildeo livros Shapiro e
Varian percebem que perante os desafios da era digital haacute uma tendecircncia natural para que os
produtores se preocupem demais em lsquoprotegerrsquo sua propriedade intelectual Mas para eles o
importante eacute lsquomaximizarrsquo o valor da propriedade intelectual natildeo protegecirc-la pela pura
proteccedilatildeo ldquoSe vocecirc perde um pouco de sua propriedade quando a vende ou aluga esses eacute
apenas um dos custos de fazer negoacutecios juntamente com a depreciaccedilatildeo as perdas de estoque
e a obsolecircnciardquo
Ao mesmo tempo sabenos que existem muitos outros recursos para motivar a compra do
consumidor mesmo quando se tratam de bens culturais Moles (1974) ensina que o
mecanismo baacutesico da publicidade consiste em acrescentar um valor psicoloacutegico ao valor
propriamente utilitaacuterio do produto explorando portanto as emoccedilotildees secundaacuterias do
consumidor A publicidade alimenta artificialmente um desejo e sobretudo atraveacutes da
repeticcedilatildeo pelos meios de comunicaccedilatildeo primeiro convence que essa vontade eacute uma
necessidade essencial e depois promete satisfazecirc-la atraveacutes dos valores associados ao objeto
de consumo Na verdade natildeo satildeo vendidos produtos mas status social estilos sensaccedilotildees
impressotildees Isso quer dizer que os anuacutencios publicitaacuterios natildeo oferecem sabonetes mas
possibilidade de beleza natildeo anunciam automoacuteveis mas o prazer da velocidade e de poder
natildeo querem vender cigarro mas sentimento de juventude e de liberdade Em outras palavras
a publicidade complica a vida para oferecer a possibilidade de resolvecirc-la por meio do
consumo Assim podemos dizer que o mercado da cultura tambeacutem vive da venda de status
de prestiacutegio intelectual e natildeo apenas de conhecimento Basta pensar em quantos livros
compramos por lsquoimpulsorsquo mesmo sabendo que talvez nunca o leremos Ou quantos CDs
adquirimos para ouviacute-los algumas poucas vezes e guardaacute-los na estante Ou quantas fitas de
viacutedeo ou DVDs de filmes que jaacute vimos noacutes compramos para guardar mas nunca assistimos
porque estamos sempre alugando outros filmes
12 ldquoA Nacional Academy os Science Press pocircs on-line mais de mil de seus livros e descobriu que a disponibilidade das versotildees eletrocircnicas impulsionou as vendas de coacutepias impressas em duas a trecircs vezesrdquo (idem p107)
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Mas haacute um outro movimento juriacutedico contemporacircneo que parece ter o potencial de
provocar uma discussatildeo sobretudo filosoacutefica na economia da cultura no capitalismo do seacuteculo
XXI O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio
Vargas no Rio de Janeiro cujo objetivo eacute estudar implicaccedilotildees juriacutedicas sociais e culturais do
avanccedilo da tecnologia da informaccedilatildeo vem desenvolvendo estudos importantes nas aacutereas de
propriedade intelectual software livre governanccedila da web e privacidade na Internet O CTS eacute
o oacutergatildeo responsaacutevel pela direccedilatildeo no Brasil do projeto Creative Commons uma iniciativa
criada por Lawrence Lessig na Universidade de Stanford (EUA) O CTS adaptou as licenccedilas
do Creative Commons para o ordenamento juriacutedico brasileiro e fez com que o Brasil se
tornasse pioneiro no desenvolvimento de licenccedilas CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL
atualmente utilizadas pelo governo para o licenciamento de software livre
Uma das principais caracteriacutesticas do direito autoral claacutessico eacute que ele funciona como um
grande NAtildeO Isto quer dizer que para utilizar qualquer conteuacutedo eacute necessaacuterio pedir permissatildeo ao seu autor ou titular de direitos No sistema juriacutedico da propriedade intelectual adotado no Brasil ateacute mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jaacute nascem com todos os direitos reservados
Apesar disto muitos autores e titulares de direitos natildeo se importam que outras pessoas tenham acesso aos seus trabalhos Um muacutesico um videomaker ou uma escritora podem desejar justamente o contraacuterio o amplo acesso agraves suas obras ou eventualmente que seus trabalho sejam reinterpretandos reconstruiacutedos e recriados por outras pessoas
Assim o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitos possa dizer ao mundo que ele natildeo se opotildee agrave utilizaccedilatildeo de sua obra no que diz respeito agrave distribuiccedilatildeo coacutepia e outros tipos de uso
O Creative Commons eacute um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativas disponiacuteveis ao puacuteblico permitindo criar outras obras sobre elas compartilhando-as Isso eacute feito atraveacutes do desenvolvimento e disponibilizaccedilatildeo de licenccedilas juriacutedicas que permitem o acesso agraves obras pelo puacuteblico sob condiccedilotildees mais flexiacuteveis (FGV 2005)
Existem uma seacuterie de modalidades de licenccedila e cada uma delas concede direitos e deveres
especiacuteficos Haacute licenccedilas que por exemplo permitem a divulgaccedilatildeo da obra mas proiacutebem o uso
comercial Outras permitem a utilizaccedilatildeo da obra em outros trabalhos Haacute tambeacutem licenccedilas
que permitem o sampleamento remixagem colagem e outras formas criativas de
reconstruccedilatildeo da obra permitindo uma enorme explosatildeo de possibilidades criativas Dessa
forma a riacutegida locuccedilatildeo todos os direitos reservados eacute substituiacuteda por alguns direitos
reservados propondo assim uma universalidade de bens intelectuais criativos acessiacuteveis a
todos que eacute condiccedilatildeo fundamental para qualquer inovaccedilatildeo cultural e tecnoloacutegica (idem
2005) Assim as novas formas de apropriaccedilatildeo cultural na sociedade da informaccedilatildeo jaacute
comeccedilam a organizar respaldo juriacutedico atraveacutes de movimentos internacionais de
questionamento agrave pertinecircncia das velhas regulaccedilotildees autorais frente agraves exponenciais
possibilidades dos intercacircmbios mediatizados
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Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
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Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
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para obter o software GNU Informaccedilotildees no site oficial esclarecem que esse programa
possibilita trecircs liberdades especiacuteficas de utilizaccedilatildeo
Primeiro a liberdade de copiar o programa e da-lo (sic) para seus amigos e colegas de trabalho
Segundo a liberdade de modificar o programa de acordo com os seus desejos por ter acesso
completo agraves fontes Terceiro a liberdade de distribuir versotildees modificadas e assim ajudar a
construir a comunidade (Se vocecirc redistribui software GNU vocecirc pode cobrar pelo ato de
transferir uma coacutepia ou vocecirc pode dar coacutepias de graccedila)3
A ideacuteia ainda segundo os criadores eacute ldquotrazer de volta o espiacuterito cooperativo que prevalecia
na comunidade de informaacutetica nos seus primoacuterdiosrdquo removendo obstaacuteculos impostos pelos
proprietaacuterios do software e tornando possiacutevel a cooperaccedilatildeo entre programadores
Todo usuaacuterio de computador precisa necessariamente de um Sistema Operacional
(Operating System) como o Windows o Mac ou o Unix para citar os mais populares entre o
puacuteblico natildeo especializado Sem um sistema operacional livre natildeo eacute possiacutevel nem mesmo
iniciar um computador sem pagar pela licenccedila de uso do software (a natildeo ser que se use
versotildees piratas e portanto ilegais) Assim para o GNU o primeiro item na agenda do
software livre eacute o estabelecimento de um sistema operacional livre
A Free Software Foundation (FSF) fundada por Richard Stallman manteacutem desde 1999 o
projeto Free Software Directory (FSD) Em um site da web a fundaccedilatildeo deixa agrave disposiccedilatildeo
para download softwares livres que funcionam em sistemas operacionais abertos sobretudo
nas variaccedilotildees GNULinux Desde abril de 2003 o projeto conta com o apoio da Unesco
Quase tudo em copyleft
Haacute nesse conceito uma caracteriacutestica chave que o diferencia definitivamente da ideacuteia de
ldquodomiacutenio puacuteblicordquo De fato o modo mais simples de estabelecer um software-livre eacute colocaacute-
lo sob domiacutenio puacuteblico ou seja abrir matildeo por completo do copyright No entanto se por um
lado permite que os usuaacuterios compartilhem livremente o programa original essa licenccedila
aberta deixa uma brecha Ela natildeo impede por exemplo que empresas natildeo-cooperativas ao
fazer poucas modificaccedilotildees no programa registrem o copyright e detentoras dos direitos
autorais comercializem com exclusividade o ldquonovordquo software com coacutedigo fechado
Assim em vez de colocar os programas do GNU em domiacutenio puacuteblico o projeto
desenvolveu esse artifiacutecio O copyleft impotildee que qualquer usuaacuterio que redistribua o programa
3 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggnugnu-historypthtmlgt Acesso em 27 fev 2004
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
com ou sem modificaccedilotildees deve necessariamente passar adiante as liberdades de fazer novas
coacutepias e modificaacute-las Em outras palavras torna ilegal a comercializaccedilatildeo da versatildeo melhorada
em coacutedigo fechado
A estrateacutegia dessa licenccedila eacute engenhosa Para distribuir programa em copyleft primeiro o
GNU esclarece que ele estaacute protegido sob copyright Em seguida nos termos de distribuiccedilatildeo ndash
o instrumento legal que concede o direito de uso ndash registra que o usuaacuterio pode modificar e
redistribuir o coacutedigo-fonte do programa (ou qualquer outro programa derivado dele) mas
somente se todos os termos de distribuiccedilatildeo permanecerem inalterados ndash leia-se se for
mantido o coacutedigo aberto Aleacutem disso a FSF estabelece que cada autor de coacutedigo incorporado
a softwares da fundaccedilatildeo ceda seus direitos de copyright ldquoDeste modo noacutes podemos ter
certeza de que todo o coacutedigo em projetos da FSF eacute coacutedigo livre cuja liberdade noacutes podemos
proteger de maneira efetiva e na qual outros desenvolvedores possam confiar plenamente4rdquo
Assim o coacutedigo e as liberdades se tornam legalmente inseparaacuteveis A grosso modo satildeo essas
as bases da General Public License (Licenccedila Puacuteblica Geral) do GNU comumente chamada
de GNU GPL
O trecho a seguir do coletivo literaacuterio Wu Ming explica com a insolecircncia tiacutepica de grupos
anarquistas como essa estrateacutegia funciona na praacutetica
Se o software livre tivesse permanecido simplesmente em domiacutenio puacuteblico cedo ou tarde
os rapaces da induacutestria o teriam colocado sob suas garras A soluccedilatildeo foi virar o copyright pelo
avesso para transformaacute-lo de obstaacuteculo agrave livre reproduccedilatildeo em suprema garantia desta uacuteltima
Em poucas palavras ponho o copyright uma vez que sou proprietaacuterio desta obra portanto
aproveito deste poder para dizer que com esta obra vocecirc pode fazer o que quiser pode copiaacute-la
difundi-la modificaacute-la mas natildeo pode impedir outro de fazecirc-lo isto eacute natildeo pode apropriar-se
dela e impedir sua circulaccedilatildeo natildeo pode colocar nela um copyright seu porque ela jaacute tem um
me pertence e eu te enrabo (WU MING 1 2003)
ldquoAteacute onde o software livre pode irrdquo perguntam os criadores do GNU ldquoNatildeo haacute limites
exceto quando leis como o sistema de patentes proiacutebem o software livre completamente O
objetivo final eacute fornecer software livre para realizar todas as tarefas que os usuaacuterios de
computadores querem realizar -- e assim tornar o software proprietaacuterio obsoletordquo5
4 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorglicenseswhy-assignpthtmlgt Acesso em 27 fev 2004 5 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggnugnu-historypthtmlgt Acesso em 27 fev 2004
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Do universo da informaacutetica o copyleft invadiu outras aacutereas do conhecimento Em artigo
publicado na revista Nature o proacuteprio Richard Stallman defende que a ciecircncia deve deixar o
copyright de lado
Deveria ser naturalmente oacutebvio que a literatura cientiacutefica existe para disseminar o
conhecimento cientiacutefico e que as publicaccedilotildees cientiacuteficas existem para facilitar o processo (hellip)
[Entretanto] muitos editores de publicaccedilotildees parecem acreditar que o propoacutesito da literatura
cientiacutefica eacute permitir a eles publicar perioacutedicos para nada mais do que angariar assinaturas de
cientistas e estudantes Tal pensamento eacute conhecido como lsquoconfusatildeo dos meios com os finsrsquo
(STALLMAN 2001)6
Para Stallman o copyright foi estabelecido para satisfazer demandas de proteccedilatildeo proacuteprias
das publicaccedilotildees impressas mas natildeo tem mais sentido na era da comunicaccedilatildeo eletrocircnica
(voltaremos a essa argumentaccedilatildeo adiante) A pergunta que faz eacute ldquoquais regras garantiriam a
maacutexima disseminaccedilatildeo de artigos cientiacuteficos e conhecimento na Webrdquo Ele defende que
textos cientiacuteficos deveriam ser distribuiacutedos livremente com acesso aberto para todos E nas
paacuteginas da Internet todos deveriam ter o direito de ldquoespelharrdquo artigos isto eacute republicaacute-los
literalmente em seus proacuteprios sites com as devidas referecircncias
Editores de perioacutedicos costumam reclamar que a infra-estrutura on-line requer cariacutessimos
servidores de alta potecircncia e entatildeo precisam cobrar taxas de acesso para pagar os custos Para
Stallman este lsquoproblemarsquo eacute uma consequumlecircncia da proacutepria lsquosoluccedilatildeorsquo que os editores adotam
ldquoDecirc a todo mundo a liberdade de espelhar e bibliotecas ao redor do planeta vatildeo instalar sites
espelho para responder agrave demandardquo Essa distribuiccedilatildeo descentralizada certamente reduziria as
necessidades individuais de expandir a largura da banda da rede para responder ao traacutefego
possibilitaria portanto acesso mais raacutepido aleacutem da vantagem de proteger os trabalhos
acadecircmicos contra perdas acidentais
Mas como financiar as publicaccedilotildees O custo da ediccedilatildeo (mesmo no caso de impressos
atreveriacuteamos a acrescentar) poderia ser recuperado sugere Stallman atraveacutes de uma taxa por
paacutegina cobrada dos autores que por sua vez poderiam passar os custos para os financiadores
da pesquisa O autor ocasional que natildeo eacute afiliado a uma instituiccedilatildeo e que natildeo tem nenhum
oacutergatildeo financiador seria eximido de pagar as taxas e os custos computados a outros autores
ligados agrave instituiccedilotildees de fomento agrave pesquisa
6 Traduccedilatildeo livre
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ldquoA Constituiccedilatildeo Americana diz que o copyright existe lsquopara promover o progresso da
ciecircnciarsquo Quando o copyright impede o progresso da ciecircncia a Ciecircncia precisa deixar o
copyright de ladordquo conclui Stallman (2001)
Copyright e maremoto
Da ciecircncia o conceito passou a referir-se a fenocircmenos da cultura
Atualmente existe um amplo movimento de protesto e transformaccedilatildeo social em grande
parte do planeta Ele possui um potencial enorme mas ainda natildeo estaacute completamente
consciente disso Embora sua origem seja antiga soacute se manifestou recentemente aparecendo
em vaacuterias ocasiotildees sob os refletores da miacutedia poreacutem trabalhando dia a dia longe deles Eacute
formado por multidotildees e singularidades por retiacuteculas capilares no territoacuterio Cavalga as mais
recentes inovaccedilotildees tecnoloacutegicas As definiccedilotildees cunhadas por seus adversaacuterios ficam-lhe
pequenas Logo seraacute impossiacutevel paraacute-lo e a repressatildeo nada poderaacute contra ele
Eacute aquilo que o poder econocircmico chama ldquopiratariardquo (WU MING 1 2002 p3)7
Esta eacute a introduccedilatildeo do manifesto Copyright e maremoto do coletivo literaacuterio italiano Wu
Ming (que significa em chinecircs Natildeo-famoso ou Anocircnimo) O texto argumenta que durante
milecircnios a civilizaccedilatildeo humana prescindiu do copyright do mesmo modo que prescindiu de
ldquooutros falsos axiomas parecidos como a lsquocentralidade do mercadorsquo ou o lsquocrescimento
ilimitadorsquordquo Afirma que se a propriedade intelectual tivesse surgido na antiguumlidade a
humanidade natildeo teria a Biacuteblia o Coratildeo Gilgamesh o Mahabarata a Iliacuteada a Odisseacuteia e todas
as narrativas surgidas de um amplo e feacutertil processo de mistura combinaccedilatildeo re-escritura e
transformaccedilatildeo ndash ou seja tudo aquilo que muitos chamam de plaacutegio
O manifesto celebra o fato de que a cada dia na era digital milhotildees de pessoas violam e
rechaccedilam continuamente o copyright Essa subversatildeo eacute feita quando copiamos muacutesica em
formato MP3 na Internet quando distribuiacutemos informaccedilatildeo pela rede e quando reproduzimos
livremente conteuacutedos que nos interessam usufruindo de tecnologias que suprimem a distinccedilatildeo
entre original e coacutepia ldquoNatildeo estamos falando da lsquopiratariarsquo gerida pelo crime organizado
divisatildeo extralegal do capitalismo natildeo menos deslocada e ofegante do que a legal pela
extensatildeo da lsquopiratariarsquo autogestionada e de massasrdquo prossegue o manifesto Para Wu Ming 1
a democratizaccedilatildeo geral do acesso agraves artes tem a ver com o rompimento de barreiras sociais
ldquo(hellip) devo fornecer algum dado sobre o preccedilo dos CDsrdquo (idem p4)
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Assim entusiasticamente argumenta que esse processo estaacute mudando o aspecto da
induacutestria cultural mundial ao inaugurar uma nova fase da cultura onde leis mais duras jamais
seratildeo suficientes para deter uma dinacircmica social jaacute iniciada e envolvente Essa movimentaccedilatildeo
estaria rumando a um ponto em que seriam superadas todas legislaccedilotildees sobre propriedade
intelectual para que fossem totalmente reescritas
O copyleft eacute entatildeo saudado como uma inovaccedilatildeo juriacutedica vinda de baixo que superou a
lsquopiratariarsquo ao enfatizar a forccedila construtiva (pars construens) do movimento real Para o
manifesto com aquela estrateacutegia do copyleft (explicitada neste artigo na discussatildeo sobre o
GNU) as leis vigentes do copyright8 estatildeo sendo pervertidas em relaccedilatildeo a sua funccedilatildeo original
e em vez de oferecer obstaacuteculos se converte em garantia de livre circulaccedilatildeo
Para servir de exemplo praacutetico todos os livros editados pelo coletivo Wu Ming contam
com a seguinte locuccedilatildeo ldquoPermitida a reproduccedilatildeo parcial ou total da obra e sua difusatildeo por via
telemaacutetica para uso pessoal dos leitores sob condiccedilatildeo de que natildeo seja com fins comerciaisrdquo
(idem p6) Rogeacuterio de Campos diretor editorial da Conrad editora da coleccedilatildeo Baderna
afirmou em entrevista agrave Folha de S Paulo que soacute conseguiu negociar os direitos de
reproduccedilatildeo do romance Q do autor Luther Blisset (pseudocircnimo de autores coletivos ligados
ao Wu Ming) depois de admitir uma claacuteusula que obriga a editora a ldquoprocessar qualquer um
que impeccedila a livre reproduccedilatildeo da obrardquo (ASSIS 2002)
As leis vigentes sobre o copyright ainda ignoram completamente o recurso ao copyleft De
acordo com o texto do manifesto em diversos encontros com deputados italianos os
produtores de software livre foram comparados pura e simplesmente aos ldquopiratasrdquo Isso faz
lembrar uma declaraccedilatildeo Richard Stallman em entrevista agrave Folha de S Paulo ldquoNatildeo faz sentido
sermos comparados a pessoas que atacavam navios e matam soacute porque compartilhamos
informaccedilatildeo puacuteblica com o vizinhordquo (MAISONNAVE LOUZANO 2000)
A segunda parte do livreto Copyright e maremoto conta com trechos de uma entrevista
feita com o grupo Neste pequeno diaacutelogo eles expotildeem com paixatildeo e fuacuteria seus atrevimentos
culturais sem receio de exageros retoacutericos entusiasmados ldquoSim noacutes afirmamos que a cultura
popular ocidental do seacuteculo XX (hellip) estava muitas vezes mais proacutexima do socialismo do que
os regimes lsquosocialistasrsquo orientais do seacuteculo XX conseguiram estarrdquo Para eles a seacuterie de
imagens de Mao Tse Tung serigrafadas por Andy Warhol foi mais importante para os
fundamentos da Revoluccedilatildeo do que os retratos oficiais do Grande Timoneiro agitados em
7 Esse manifesto foi escrito por Roberto Bui que publicamente identifica-se como Wu Ming 1 8 As atuais leis de copyright foram padronizadas na Convenccedilatildeo de Berna em 1971
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manifestaccedilotildees maoiacutestas ldquoO socialismo deve ser baseado na natureza coletiva da produccedilatildeo
capitalistardquo Ao contraacuterio do pessimismo de Adorno em relaccedilatildeo agrave induacutestria cultural e da
lsquoobsessatildeorsquo dos situacionaistas com o lsquoespetaacuteculorsquo o manifesto prega que a produccedilatildeo da
cultura pop no seacuteculo passado foi um processo socialista coletivo aberto mutante e
constantemente entrelaccedilado por inuacutemeras subculturas graccedilas agrave esfuziante habilidade das
multidotildees na reapropriaccedilatildeo ou ldquode-propriaccedilatildeordquo dessa cultura via pirataria de CDs violaccedilatildeo
de DVDs troca de arquivos em rede etc ldquoAs instituiccedilotildees da propriedade intelectual estatildeo
caindo aos pedaccedilos as pessoas estatildeo detonando-as Eacute um maravilhoso processo popular e
estaacute mais proacuteximo do socialismo do que a China jamais esteverdquo (WU MING 1 2002 p7-8)
Surge enfim a questatildeo da remuneraccedilatildeo dos autores O trabalho intelectual eacute um serviccedilo
pesado Exige um alto investimento em estudo em tempo e evidentemente deve ser
remunerado Assim a pergunda natural eacute o copyright natildeo eacute essencial para a sobrevivecircncia do
autor
Se um sujeito natildeo tem dinheiro para comprar qualquer um dos livros editados pela Wu
Ming Foundation pode tranquumlilamente fotocopiaacute-lo digitalizaacute-lo em scanner ou entatildeo a
soluccedilatildeo mais cocircmoda fazer o download gratuito da obra integral no site oficial
wwwwumingfoundationorg em um computador puacuteblico em alguma universidade ou
biblioteca As reproduccedilotildees que natildeo visam lucro satildeo automaticamente autorizadas Mas se um
editor estrangeiro quer comercializar uma de suas obras em outro paiacutes neste caso a utilizaccedilatildeo
evidentemente visa lucro e portanto essa empresa deve pagar por isso
Na verdade o Wu Ming apenas admitiu uma evidecircncia expliacutecita ningueacutem deixa de copiar
uma obra porque no rodapeacute haacute uma frase que diz lsquotodos os direitos satildeo reservados e
protegidos pela Lei 5988 de 141273 Nenhuma parte deste livro sem autorizaccedilatildeo preacutevia
por escrito da editora poderaacute ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios
empregados etchelliprsquo Quando o copyright foi introduzido9 concomitante ao desenvolvimento
da imprensa haacute trecircs seacuteculos natildeo havia possibilidade de lsquocoacutepia privadarsquo ou lsquoreproduccedilatildeo sem
fins de lucrorsquo porque soacute empresaacuterios editores tinham acesso agraves maacutequinas tipograacuteficas
Portanto em suas origens o copyright natildeo era percebido como lsquoanti-socialrsquo mas era uma
arma de um empresaacuterio contra o outro natildeo de um empresaacuterio contra o puacuteblico Mas com a
revoluccedilatildeo da informaacutetica e das comunicaccedilotildees o puacuteblico tem acesso agraves tecnologias de
9 A primeila lei de copyright surgiu na Inglaterra em 1710 mas foi desenvolvida a seguir nos EUA
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reproduccedilatildeo Dessa forma o copyright tornou-se na visatildeo do Wu Ming ldquouma arma que
dispara na multidatildeordquo10 (WU MING 1 2003) ndash mas sem muito efeito poderiacuteamos acrescentar
Nesse contexto observando sua proacutepria experiecircncia editorial esse coletivo literaacuterio
percebeu um fenocircmeno curioso e aparentemente paradoxal natildeo haacute relaccedilatildeo direta entre
ldquocoacutepias oficiais natildeo vendidasrdquo e ldquocoacutepias pirateadasrdquo Em outras palavras as coacutepias natildeo
influenciam na vendagem das obras ldquoEm realidade editorialmente quanto mais uma obra
circula mais venderdquo Ou seja quanto mais democratizada maiores os lucros O exemplo
paradigmaacutetico eacute a obra Q de Luther Blisset editado por eles que vendeu mais de 2 milhotildees
de coacutepias apesar de ndash ou melhor justamente devido ao copyleft O sujeito copia o livro seja
porque natildeo tem dinheiro seja porque natildeo quer comprar lsquono escurorsquo e gosta do que leu
Decide indicar ou mesmo dar de presente a algueacutem mas natildeo quer dar uma coacutepia qualquer
Pronto compra o livro A pessoa presenteada tambeacutem gosta e passa a indicar ou presentear
outras com o mesmo livro Uma coacutepia dois ou trecircs livros vendidos Simples assim
Para o Wu Ming se a maioria dos editores natildeo perceberam essa dinacircmica foi mais por
questatildeo ideoloacutegica que mercadoloacutegica ldquoA editoraccedilatildeo natildeo estaacute em risco de extinccedilatildeo como a
induacutestria fonograacutefica a loacutegica eacute outra outros os suportes outros os circuitos outro o modo de
fruiccedilatildeo e sobretudo a editoraccedilatildeo natildeo perdeu ainda a cabeccedila natildeo reagiu com retaliaccedilotildees em
massa denuacutencias e processos agrave grande revoluccedilatildeo tecnoloacutegica que democratiza o acesso aos
meios de reproduccedilatildeordquo (WU MING 2003)
A estrateacutegia da induacutestria
Seraacute que estamos mesmo prestes a assistir ao desmoronamento da induacutestria cultural Seraacute
que os legisladores precisaratildeo reescrever todas as regras de direitos autorais para responder ao
novo momento tecnoloacutegico-cultural do seacuteculo XXI Shapiro e Varian (1999 p103)
argumentam que natildeo Na verdade eles defendem que muitos princiacutepios claacutessicos da economia
ainda satildeo perfeitamente vaacutelidos para essas situaccedilotildees ldquoO que mudou eacute que a Internet e a
tecnologia da informaccedilatildeo em geral oferecem oportunidades e desafios novos para a aplicaccedilatildeo
desses princiacutepiosrdquo Assim acreditam que os donos de propriedade intelectual seratildeo
naturalmente capazes de superar as lsquoameaccedilasrsquo da reproduccedilatildeo digital atraveacutes de estrateacutegias
semelhantes as quais superaram os desafios provocados pela tecnologia no passado ldquoAs
10 A Disney chegou a levar vaacuterias creches americanas aos tribunais por exibirem desenhos animados em viacutedeo sem licenccedila formal Na deacutecada de 90 a empresa ameaccedilou processar trecircs creches da Floacuterida que haviam pintado personagens da Disney em suas paredes (SHAPIRO VARIAN 1999 p109)
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novas oportunidades oferecidas pela reproduccedilatildeo digital excedem em muito os problemasrdquo
(SHAPIRO VARIAN 1999 p104)
Todas as facilidades da tecnologia digital satildeo elencadas para dar suporte ao otimismo dos
autores sobretudo os baixos custos de reproduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo ldquoNatildeo lute contra os custos
de distribuiccedilatildeo mais baixosrdquo aconselham ldquotire vantagem delesrdquo Para isso eacute preciso que
negociantes saibam lidar com o que os economistas chamam de ldquobem da experiecircnciardquo
O objeto de consumo eacute chamado de ldquobem da experiecircnciardquo (idem p18) quando os
fregueses precisam experimentar o produto antes de atribuir-lhes valor Qualquer novidade no
mercado eacute potencialmente um bem da experiecircncia e os publicitaacuterios contam com meacutetodos
claacutessicos de propaganda nesses casos promoccedilatildeo atraveacutes de reduccedilatildeo comparativa de preccedilo
depoimentos de famosos e anocircnimos e a infaliacutevel distribuiccedilatildeo de amostras graacutetis de pequenas
quantidades do produto a ser anunciado Eis mais uma pista Voltaremos a ela adiante
A induacutestria da informaccedilatildeo tecircm tambeacutem seus meacutetodos claacutessicos para fazer com que os
consumidores comprem o bem simboacutelico antes de ter certeza se o que estatildeo adquirindo vale o
preccedilo que pagam antecipadamente Primeiramente da mesma forma que em supermercados eacute
possiacutevel bebericar gratuitamente uma nova marca de iogurte em promoccedilotildees de lanccedilamento
existem formas de experimentar o ldquogostinhordquo do produto cultural Eacute possiacutevel ler as manchetes
de capa do jornal o trailer do filme etc Evidentemente isso eacute apenas uma parte da histoacuteria
Os produtos de sucesso superam o problema do ldquobem da experiecircnciardquo por meio da promoccedilatildeo
de sua ldquomarcardquo e sua ldquoreputaccedilatildeordquo Mas natildeo pretendemos entrar nessa discussatildeo pois natildeo cabe
na abordagem que restringe este artigo
Pois bem as grandes lojas de livros tornaram o ato de folhear mais confortaacutevel oferecendo
poltronas aacutereas abertas e cafeacutes porque haacute tempos jaacute sabem que essa estrateacutegia empresarial
impulsiona a venda de livros Ao lsquooferecerem gratuitamentersquo parte de seu produto elas
acabam ganhando muito mais dinheiro Nessa perspectiva a Internet eacute vista por Shapiro e
Varian (1999 p106) como ldquoum modo maravilhoso de oferecer amostras graacutetis do conteuacutedo
da informaccedilatildeordquo E enquanto especialistas discutem a maneira mais adequada de propaganda
na Web Shapiro e varian satildeo categoacutericos a Internet eacute ideal para ldquoinfomerciais11rdquo ou seja
estrateacutegia que fisga o leitor atraveacutes do oferecimento do proacuteprio conteuacutedo Mas a duacutevida eacute
como vatildeo ganhar dinheiro se simplesmente doarem seu produto A resposta dos autores eacute
11 ldquoComerciais de longa duraccedilatildeo que aleacutem de explicar em detalhes as caracteriacuterticas (hellip) do produto transmitem ainda depoimentos de usuaacuterios e outras informaccedilotildees pertinentes ao bem ou serviccedilo anunciadordquo (SHAPIRO VARIAN 1999 p106)
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doe somente parte de seu produto Eacute o princiacutepio claacutessico da amostra graacutetis mas com a
vantagem do insignificante custo de distribuiccedilatildeo ldquoO truque eacute dividir seu produto em
componentes dos quais alguns vocecirc daacute outros vocecirc vende As partes doadas satildeo os anuacutencios
ndash os infomerciais ndash das partes que vocecirc venderdquo
Os autores partem de um princiacutepio ergonocircmico para fundamentar suas hipoacuteteses hoje e
provavelmente por um bom tempo ningueacutem consegue ler um livro ou ateacute mesmo um artigo
de revista muito extenso com os olhos fixos em um monitor Eacute simplesmente muito
cansativo Segundo Shapiro e Varian pesquisas mostram que os usuaacuterios da web em geral
lecircem apenas duas telas de conteuacutedo antes de clicarem para sair Dessa forma o deconforto
associado agrave leitura direta em monitores sugere que a empresa pode colocar grandes
quantidades de conteuacutedo on-line sem que isso prejudique as vendas de coacutepias impressas12
Eacute claro que se a versatildeo na Web for faacutecil de imprimir podemos supor que o usuaacuterios
estaratildeo tentados a fazecirc-lo Mas haacute uma estrateacutegia muito simples para tornar a impressatildeo
caseira um ato trabalhoso e desconfortaacutevel ldquoA melhor coisa a fazerrdquo escrevem ldquoeacute tornar a
versatildeo on-line faacutecil de folherar ndash muitas telas curtas muitos links ndash mas difiacutecil de imprimir
em sua totalidaderdquo
Natildeo eacute difiacutecil perceber que ateacute esse momento com palavras e propoacutesitos diferentes
Shapiro e Varian disseram as mesmas coisas que o coletivo Wu Ming em relaccedilatildeo ao negoacutecio
editorial As divergecircncias satildeo ideoloacutegicas pois os primeiros admitem como um verdadeiro
problema o ldquocontrabando de bitsrdquoe a ldquopirataria digitalrdquo dizendo ldquoTudo de que se precisa eacute
que haja vontade poliacutetica para defender os direitos de propriedade intelectualrdquo (idem p114)
Mas na verdade os autores consideram que os proprietaacuterios dos conteuacutedos satildeo
excessivamente conservadores a respeito de gestatildeo de suas propriedades intelectuais Eles
observam que tradicionalmente toda nova tecnologia de reproduccedilatildeo produz previsotildees
catastroacuteficas no mercado Para eles a histoacuteria da veiculaccedilatildeo dos filmes em viacutedeo eacute um caso
exemplar
Hollywood ficou petrificada com o advento dos gravadores de videocassete O setor de
televisatildeo deu entrada em processos para impedir a coacutepia domeacutestica de programas de TV e a
Disney tentou distinguir as compras dos alugueacuteis de viacutedeo por meio de arranjos de
licenciamento Todas essas tentativas fracassaram Ironicamente Hollywood ganha hoje mais
com os viacutedeos do que com as apresentaccedilotildees em cinemas na maioria das produccedilotildees O mercado
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de vendas e de aluguel de viacutedeos antes tatildeo temido tornou-se uma imensa fonte de receita para
Hollywood (SHAPIRO VARIAN 1999 p17)
As proacuteprias bibliotecas satildeo um exemplo de uma inovaccedilatildeo que primeiro pareceu ameaccedilar o
setor editorial mas acabou por ampliaacute-lo imensamente (idem p115) A loacutegica eacute simples o
acesso agrave obras gratuitas forma o gosto de leitores que mais tarde compraratildeo livros Shapiro e
Varian percebem que perante os desafios da era digital haacute uma tendecircncia natural para que os
produtores se preocupem demais em lsquoprotegerrsquo sua propriedade intelectual Mas para eles o
importante eacute lsquomaximizarrsquo o valor da propriedade intelectual natildeo protegecirc-la pela pura
proteccedilatildeo ldquoSe vocecirc perde um pouco de sua propriedade quando a vende ou aluga esses eacute
apenas um dos custos de fazer negoacutecios juntamente com a depreciaccedilatildeo as perdas de estoque
e a obsolecircnciardquo
Ao mesmo tempo sabenos que existem muitos outros recursos para motivar a compra do
consumidor mesmo quando se tratam de bens culturais Moles (1974) ensina que o
mecanismo baacutesico da publicidade consiste em acrescentar um valor psicoloacutegico ao valor
propriamente utilitaacuterio do produto explorando portanto as emoccedilotildees secundaacuterias do
consumidor A publicidade alimenta artificialmente um desejo e sobretudo atraveacutes da
repeticcedilatildeo pelos meios de comunicaccedilatildeo primeiro convence que essa vontade eacute uma
necessidade essencial e depois promete satisfazecirc-la atraveacutes dos valores associados ao objeto
de consumo Na verdade natildeo satildeo vendidos produtos mas status social estilos sensaccedilotildees
impressotildees Isso quer dizer que os anuacutencios publicitaacuterios natildeo oferecem sabonetes mas
possibilidade de beleza natildeo anunciam automoacuteveis mas o prazer da velocidade e de poder
natildeo querem vender cigarro mas sentimento de juventude e de liberdade Em outras palavras
a publicidade complica a vida para oferecer a possibilidade de resolvecirc-la por meio do
consumo Assim podemos dizer que o mercado da cultura tambeacutem vive da venda de status
de prestiacutegio intelectual e natildeo apenas de conhecimento Basta pensar em quantos livros
compramos por lsquoimpulsorsquo mesmo sabendo que talvez nunca o leremos Ou quantos CDs
adquirimos para ouviacute-los algumas poucas vezes e guardaacute-los na estante Ou quantas fitas de
viacutedeo ou DVDs de filmes que jaacute vimos noacutes compramos para guardar mas nunca assistimos
porque estamos sempre alugando outros filmes
12 ldquoA Nacional Academy os Science Press pocircs on-line mais de mil de seus livros e descobriu que a disponibilidade das versotildees eletrocircnicas impulsionou as vendas de coacutepias impressas em duas a trecircs vezesrdquo (idem p107)
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Mas haacute um outro movimento juriacutedico contemporacircneo que parece ter o potencial de
provocar uma discussatildeo sobretudo filosoacutefica na economia da cultura no capitalismo do seacuteculo
XXI O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio
Vargas no Rio de Janeiro cujo objetivo eacute estudar implicaccedilotildees juriacutedicas sociais e culturais do
avanccedilo da tecnologia da informaccedilatildeo vem desenvolvendo estudos importantes nas aacutereas de
propriedade intelectual software livre governanccedila da web e privacidade na Internet O CTS eacute
o oacutergatildeo responsaacutevel pela direccedilatildeo no Brasil do projeto Creative Commons uma iniciativa
criada por Lawrence Lessig na Universidade de Stanford (EUA) O CTS adaptou as licenccedilas
do Creative Commons para o ordenamento juriacutedico brasileiro e fez com que o Brasil se
tornasse pioneiro no desenvolvimento de licenccedilas CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL
atualmente utilizadas pelo governo para o licenciamento de software livre
Uma das principais caracteriacutesticas do direito autoral claacutessico eacute que ele funciona como um
grande NAtildeO Isto quer dizer que para utilizar qualquer conteuacutedo eacute necessaacuterio pedir permissatildeo ao seu autor ou titular de direitos No sistema juriacutedico da propriedade intelectual adotado no Brasil ateacute mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jaacute nascem com todos os direitos reservados
Apesar disto muitos autores e titulares de direitos natildeo se importam que outras pessoas tenham acesso aos seus trabalhos Um muacutesico um videomaker ou uma escritora podem desejar justamente o contraacuterio o amplo acesso agraves suas obras ou eventualmente que seus trabalho sejam reinterpretandos reconstruiacutedos e recriados por outras pessoas
Assim o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitos possa dizer ao mundo que ele natildeo se opotildee agrave utilizaccedilatildeo de sua obra no que diz respeito agrave distribuiccedilatildeo coacutepia e outros tipos de uso
O Creative Commons eacute um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativas disponiacuteveis ao puacuteblico permitindo criar outras obras sobre elas compartilhando-as Isso eacute feito atraveacutes do desenvolvimento e disponibilizaccedilatildeo de licenccedilas juriacutedicas que permitem o acesso agraves obras pelo puacuteblico sob condiccedilotildees mais flexiacuteveis (FGV 2005)
Existem uma seacuterie de modalidades de licenccedila e cada uma delas concede direitos e deveres
especiacuteficos Haacute licenccedilas que por exemplo permitem a divulgaccedilatildeo da obra mas proiacutebem o uso
comercial Outras permitem a utilizaccedilatildeo da obra em outros trabalhos Haacute tambeacutem licenccedilas
que permitem o sampleamento remixagem colagem e outras formas criativas de
reconstruccedilatildeo da obra permitindo uma enorme explosatildeo de possibilidades criativas Dessa
forma a riacutegida locuccedilatildeo todos os direitos reservados eacute substituiacuteda por alguns direitos
reservados propondo assim uma universalidade de bens intelectuais criativos acessiacuteveis a
todos que eacute condiccedilatildeo fundamental para qualquer inovaccedilatildeo cultural e tecnoloacutegica (idem
2005) Assim as novas formas de apropriaccedilatildeo cultural na sociedade da informaccedilatildeo jaacute
comeccedilam a organizar respaldo juriacutedico atraveacutes de movimentos internacionais de
questionamento agrave pertinecircncia das velhas regulaccedilotildees autorais frente agraves exponenciais
possibilidades dos intercacircmbios mediatizados
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Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
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Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
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com ou sem modificaccedilotildees deve necessariamente passar adiante as liberdades de fazer novas
coacutepias e modificaacute-las Em outras palavras torna ilegal a comercializaccedilatildeo da versatildeo melhorada
em coacutedigo fechado
A estrateacutegia dessa licenccedila eacute engenhosa Para distribuir programa em copyleft primeiro o
GNU esclarece que ele estaacute protegido sob copyright Em seguida nos termos de distribuiccedilatildeo ndash
o instrumento legal que concede o direito de uso ndash registra que o usuaacuterio pode modificar e
redistribuir o coacutedigo-fonte do programa (ou qualquer outro programa derivado dele) mas
somente se todos os termos de distribuiccedilatildeo permanecerem inalterados ndash leia-se se for
mantido o coacutedigo aberto Aleacutem disso a FSF estabelece que cada autor de coacutedigo incorporado
a softwares da fundaccedilatildeo ceda seus direitos de copyright ldquoDeste modo noacutes podemos ter
certeza de que todo o coacutedigo em projetos da FSF eacute coacutedigo livre cuja liberdade noacutes podemos
proteger de maneira efetiva e na qual outros desenvolvedores possam confiar plenamente4rdquo
Assim o coacutedigo e as liberdades se tornam legalmente inseparaacuteveis A grosso modo satildeo essas
as bases da General Public License (Licenccedila Puacuteblica Geral) do GNU comumente chamada
de GNU GPL
O trecho a seguir do coletivo literaacuterio Wu Ming explica com a insolecircncia tiacutepica de grupos
anarquistas como essa estrateacutegia funciona na praacutetica
Se o software livre tivesse permanecido simplesmente em domiacutenio puacuteblico cedo ou tarde
os rapaces da induacutestria o teriam colocado sob suas garras A soluccedilatildeo foi virar o copyright pelo
avesso para transformaacute-lo de obstaacuteculo agrave livre reproduccedilatildeo em suprema garantia desta uacuteltima
Em poucas palavras ponho o copyright uma vez que sou proprietaacuterio desta obra portanto
aproveito deste poder para dizer que com esta obra vocecirc pode fazer o que quiser pode copiaacute-la
difundi-la modificaacute-la mas natildeo pode impedir outro de fazecirc-lo isto eacute natildeo pode apropriar-se
dela e impedir sua circulaccedilatildeo natildeo pode colocar nela um copyright seu porque ela jaacute tem um
me pertence e eu te enrabo (WU MING 1 2003)
ldquoAteacute onde o software livre pode irrdquo perguntam os criadores do GNU ldquoNatildeo haacute limites
exceto quando leis como o sistema de patentes proiacutebem o software livre completamente O
objetivo final eacute fornecer software livre para realizar todas as tarefas que os usuaacuterios de
computadores querem realizar -- e assim tornar o software proprietaacuterio obsoletordquo5
4 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorglicenseswhy-assignpthtmlgt Acesso em 27 fev 2004 5 Traduzido por Fernando Lozano Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggnugnu-historypthtmlgt Acesso em 27 fev 2004
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Do universo da informaacutetica o copyleft invadiu outras aacutereas do conhecimento Em artigo
publicado na revista Nature o proacuteprio Richard Stallman defende que a ciecircncia deve deixar o
copyright de lado
Deveria ser naturalmente oacutebvio que a literatura cientiacutefica existe para disseminar o
conhecimento cientiacutefico e que as publicaccedilotildees cientiacuteficas existem para facilitar o processo (hellip)
[Entretanto] muitos editores de publicaccedilotildees parecem acreditar que o propoacutesito da literatura
cientiacutefica eacute permitir a eles publicar perioacutedicos para nada mais do que angariar assinaturas de
cientistas e estudantes Tal pensamento eacute conhecido como lsquoconfusatildeo dos meios com os finsrsquo
(STALLMAN 2001)6
Para Stallman o copyright foi estabelecido para satisfazer demandas de proteccedilatildeo proacuteprias
das publicaccedilotildees impressas mas natildeo tem mais sentido na era da comunicaccedilatildeo eletrocircnica
(voltaremos a essa argumentaccedilatildeo adiante) A pergunta que faz eacute ldquoquais regras garantiriam a
maacutexima disseminaccedilatildeo de artigos cientiacuteficos e conhecimento na Webrdquo Ele defende que
textos cientiacuteficos deveriam ser distribuiacutedos livremente com acesso aberto para todos E nas
paacuteginas da Internet todos deveriam ter o direito de ldquoespelharrdquo artigos isto eacute republicaacute-los
literalmente em seus proacuteprios sites com as devidas referecircncias
Editores de perioacutedicos costumam reclamar que a infra-estrutura on-line requer cariacutessimos
servidores de alta potecircncia e entatildeo precisam cobrar taxas de acesso para pagar os custos Para
Stallman este lsquoproblemarsquo eacute uma consequumlecircncia da proacutepria lsquosoluccedilatildeorsquo que os editores adotam
ldquoDecirc a todo mundo a liberdade de espelhar e bibliotecas ao redor do planeta vatildeo instalar sites
espelho para responder agrave demandardquo Essa distribuiccedilatildeo descentralizada certamente reduziria as
necessidades individuais de expandir a largura da banda da rede para responder ao traacutefego
possibilitaria portanto acesso mais raacutepido aleacutem da vantagem de proteger os trabalhos
acadecircmicos contra perdas acidentais
Mas como financiar as publicaccedilotildees O custo da ediccedilatildeo (mesmo no caso de impressos
atreveriacuteamos a acrescentar) poderia ser recuperado sugere Stallman atraveacutes de uma taxa por
paacutegina cobrada dos autores que por sua vez poderiam passar os custos para os financiadores
da pesquisa O autor ocasional que natildeo eacute afiliado a uma instituiccedilatildeo e que natildeo tem nenhum
oacutergatildeo financiador seria eximido de pagar as taxas e os custos computados a outros autores
ligados agrave instituiccedilotildees de fomento agrave pesquisa
6 Traduccedilatildeo livre
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ldquoA Constituiccedilatildeo Americana diz que o copyright existe lsquopara promover o progresso da
ciecircnciarsquo Quando o copyright impede o progresso da ciecircncia a Ciecircncia precisa deixar o
copyright de ladordquo conclui Stallman (2001)
Copyright e maremoto
Da ciecircncia o conceito passou a referir-se a fenocircmenos da cultura
Atualmente existe um amplo movimento de protesto e transformaccedilatildeo social em grande
parte do planeta Ele possui um potencial enorme mas ainda natildeo estaacute completamente
consciente disso Embora sua origem seja antiga soacute se manifestou recentemente aparecendo
em vaacuterias ocasiotildees sob os refletores da miacutedia poreacutem trabalhando dia a dia longe deles Eacute
formado por multidotildees e singularidades por retiacuteculas capilares no territoacuterio Cavalga as mais
recentes inovaccedilotildees tecnoloacutegicas As definiccedilotildees cunhadas por seus adversaacuterios ficam-lhe
pequenas Logo seraacute impossiacutevel paraacute-lo e a repressatildeo nada poderaacute contra ele
Eacute aquilo que o poder econocircmico chama ldquopiratariardquo (WU MING 1 2002 p3)7
Esta eacute a introduccedilatildeo do manifesto Copyright e maremoto do coletivo literaacuterio italiano Wu
Ming (que significa em chinecircs Natildeo-famoso ou Anocircnimo) O texto argumenta que durante
milecircnios a civilizaccedilatildeo humana prescindiu do copyright do mesmo modo que prescindiu de
ldquooutros falsos axiomas parecidos como a lsquocentralidade do mercadorsquo ou o lsquocrescimento
ilimitadorsquordquo Afirma que se a propriedade intelectual tivesse surgido na antiguumlidade a
humanidade natildeo teria a Biacuteblia o Coratildeo Gilgamesh o Mahabarata a Iliacuteada a Odisseacuteia e todas
as narrativas surgidas de um amplo e feacutertil processo de mistura combinaccedilatildeo re-escritura e
transformaccedilatildeo ndash ou seja tudo aquilo que muitos chamam de plaacutegio
O manifesto celebra o fato de que a cada dia na era digital milhotildees de pessoas violam e
rechaccedilam continuamente o copyright Essa subversatildeo eacute feita quando copiamos muacutesica em
formato MP3 na Internet quando distribuiacutemos informaccedilatildeo pela rede e quando reproduzimos
livremente conteuacutedos que nos interessam usufruindo de tecnologias que suprimem a distinccedilatildeo
entre original e coacutepia ldquoNatildeo estamos falando da lsquopiratariarsquo gerida pelo crime organizado
divisatildeo extralegal do capitalismo natildeo menos deslocada e ofegante do que a legal pela
extensatildeo da lsquopiratariarsquo autogestionada e de massasrdquo prossegue o manifesto Para Wu Ming 1
a democratizaccedilatildeo geral do acesso agraves artes tem a ver com o rompimento de barreiras sociais
ldquo(hellip) devo fornecer algum dado sobre o preccedilo dos CDsrdquo (idem p4)
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Assim entusiasticamente argumenta que esse processo estaacute mudando o aspecto da
induacutestria cultural mundial ao inaugurar uma nova fase da cultura onde leis mais duras jamais
seratildeo suficientes para deter uma dinacircmica social jaacute iniciada e envolvente Essa movimentaccedilatildeo
estaria rumando a um ponto em que seriam superadas todas legislaccedilotildees sobre propriedade
intelectual para que fossem totalmente reescritas
O copyleft eacute entatildeo saudado como uma inovaccedilatildeo juriacutedica vinda de baixo que superou a
lsquopiratariarsquo ao enfatizar a forccedila construtiva (pars construens) do movimento real Para o
manifesto com aquela estrateacutegia do copyleft (explicitada neste artigo na discussatildeo sobre o
GNU) as leis vigentes do copyright8 estatildeo sendo pervertidas em relaccedilatildeo a sua funccedilatildeo original
e em vez de oferecer obstaacuteculos se converte em garantia de livre circulaccedilatildeo
Para servir de exemplo praacutetico todos os livros editados pelo coletivo Wu Ming contam
com a seguinte locuccedilatildeo ldquoPermitida a reproduccedilatildeo parcial ou total da obra e sua difusatildeo por via
telemaacutetica para uso pessoal dos leitores sob condiccedilatildeo de que natildeo seja com fins comerciaisrdquo
(idem p6) Rogeacuterio de Campos diretor editorial da Conrad editora da coleccedilatildeo Baderna
afirmou em entrevista agrave Folha de S Paulo que soacute conseguiu negociar os direitos de
reproduccedilatildeo do romance Q do autor Luther Blisset (pseudocircnimo de autores coletivos ligados
ao Wu Ming) depois de admitir uma claacuteusula que obriga a editora a ldquoprocessar qualquer um
que impeccedila a livre reproduccedilatildeo da obrardquo (ASSIS 2002)
As leis vigentes sobre o copyright ainda ignoram completamente o recurso ao copyleft De
acordo com o texto do manifesto em diversos encontros com deputados italianos os
produtores de software livre foram comparados pura e simplesmente aos ldquopiratasrdquo Isso faz
lembrar uma declaraccedilatildeo Richard Stallman em entrevista agrave Folha de S Paulo ldquoNatildeo faz sentido
sermos comparados a pessoas que atacavam navios e matam soacute porque compartilhamos
informaccedilatildeo puacuteblica com o vizinhordquo (MAISONNAVE LOUZANO 2000)
A segunda parte do livreto Copyright e maremoto conta com trechos de uma entrevista
feita com o grupo Neste pequeno diaacutelogo eles expotildeem com paixatildeo e fuacuteria seus atrevimentos
culturais sem receio de exageros retoacutericos entusiasmados ldquoSim noacutes afirmamos que a cultura
popular ocidental do seacuteculo XX (hellip) estava muitas vezes mais proacutexima do socialismo do que
os regimes lsquosocialistasrsquo orientais do seacuteculo XX conseguiram estarrdquo Para eles a seacuterie de
imagens de Mao Tse Tung serigrafadas por Andy Warhol foi mais importante para os
fundamentos da Revoluccedilatildeo do que os retratos oficiais do Grande Timoneiro agitados em
7 Esse manifesto foi escrito por Roberto Bui que publicamente identifica-se como Wu Ming 1 8 As atuais leis de copyright foram padronizadas na Convenccedilatildeo de Berna em 1971
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manifestaccedilotildees maoiacutestas ldquoO socialismo deve ser baseado na natureza coletiva da produccedilatildeo
capitalistardquo Ao contraacuterio do pessimismo de Adorno em relaccedilatildeo agrave induacutestria cultural e da
lsquoobsessatildeorsquo dos situacionaistas com o lsquoespetaacuteculorsquo o manifesto prega que a produccedilatildeo da
cultura pop no seacuteculo passado foi um processo socialista coletivo aberto mutante e
constantemente entrelaccedilado por inuacutemeras subculturas graccedilas agrave esfuziante habilidade das
multidotildees na reapropriaccedilatildeo ou ldquode-propriaccedilatildeordquo dessa cultura via pirataria de CDs violaccedilatildeo
de DVDs troca de arquivos em rede etc ldquoAs instituiccedilotildees da propriedade intelectual estatildeo
caindo aos pedaccedilos as pessoas estatildeo detonando-as Eacute um maravilhoso processo popular e
estaacute mais proacuteximo do socialismo do que a China jamais esteverdquo (WU MING 1 2002 p7-8)
Surge enfim a questatildeo da remuneraccedilatildeo dos autores O trabalho intelectual eacute um serviccedilo
pesado Exige um alto investimento em estudo em tempo e evidentemente deve ser
remunerado Assim a pergunda natural eacute o copyright natildeo eacute essencial para a sobrevivecircncia do
autor
Se um sujeito natildeo tem dinheiro para comprar qualquer um dos livros editados pela Wu
Ming Foundation pode tranquumlilamente fotocopiaacute-lo digitalizaacute-lo em scanner ou entatildeo a
soluccedilatildeo mais cocircmoda fazer o download gratuito da obra integral no site oficial
wwwwumingfoundationorg em um computador puacuteblico em alguma universidade ou
biblioteca As reproduccedilotildees que natildeo visam lucro satildeo automaticamente autorizadas Mas se um
editor estrangeiro quer comercializar uma de suas obras em outro paiacutes neste caso a utilizaccedilatildeo
evidentemente visa lucro e portanto essa empresa deve pagar por isso
Na verdade o Wu Ming apenas admitiu uma evidecircncia expliacutecita ningueacutem deixa de copiar
uma obra porque no rodapeacute haacute uma frase que diz lsquotodos os direitos satildeo reservados e
protegidos pela Lei 5988 de 141273 Nenhuma parte deste livro sem autorizaccedilatildeo preacutevia
por escrito da editora poderaacute ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios
empregados etchelliprsquo Quando o copyright foi introduzido9 concomitante ao desenvolvimento
da imprensa haacute trecircs seacuteculos natildeo havia possibilidade de lsquocoacutepia privadarsquo ou lsquoreproduccedilatildeo sem
fins de lucrorsquo porque soacute empresaacuterios editores tinham acesso agraves maacutequinas tipograacuteficas
Portanto em suas origens o copyright natildeo era percebido como lsquoanti-socialrsquo mas era uma
arma de um empresaacuterio contra o outro natildeo de um empresaacuterio contra o puacuteblico Mas com a
revoluccedilatildeo da informaacutetica e das comunicaccedilotildees o puacuteblico tem acesso agraves tecnologias de
9 A primeila lei de copyright surgiu na Inglaterra em 1710 mas foi desenvolvida a seguir nos EUA
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reproduccedilatildeo Dessa forma o copyright tornou-se na visatildeo do Wu Ming ldquouma arma que
dispara na multidatildeordquo10 (WU MING 1 2003) ndash mas sem muito efeito poderiacuteamos acrescentar
Nesse contexto observando sua proacutepria experiecircncia editorial esse coletivo literaacuterio
percebeu um fenocircmeno curioso e aparentemente paradoxal natildeo haacute relaccedilatildeo direta entre
ldquocoacutepias oficiais natildeo vendidasrdquo e ldquocoacutepias pirateadasrdquo Em outras palavras as coacutepias natildeo
influenciam na vendagem das obras ldquoEm realidade editorialmente quanto mais uma obra
circula mais venderdquo Ou seja quanto mais democratizada maiores os lucros O exemplo
paradigmaacutetico eacute a obra Q de Luther Blisset editado por eles que vendeu mais de 2 milhotildees
de coacutepias apesar de ndash ou melhor justamente devido ao copyleft O sujeito copia o livro seja
porque natildeo tem dinheiro seja porque natildeo quer comprar lsquono escurorsquo e gosta do que leu
Decide indicar ou mesmo dar de presente a algueacutem mas natildeo quer dar uma coacutepia qualquer
Pronto compra o livro A pessoa presenteada tambeacutem gosta e passa a indicar ou presentear
outras com o mesmo livro Uma coacutepia dois ou trecircs livros vendidos Simples assim
Para o Wu Ming se a maioria dos editores natildeo perceberam essa dinacircmica foi mais por
questatildeo ideoloacutegica que mercadoloacutegica ldquoA editoraccedilatildeo natildeo estaacute em risco de extinccedilatildeo como a
induacutestria fonograacutefica a loacutegica eacute outra outros os suportes outros os circuitos outro o modo de
fruiccedilatildeo e sobretudo a editoraccedilatildeo natildeo perdeu ainda a cabeccedila natildeo reagiu com retaliaccedilotildees em
massa denuacutencias e processos agrave grande revoluccedilatildeo tecnoloacutegica que democratiza o acesso aos
meios de reproduccedilatildeordquo (WU MING 2003)
A estrateacutegia da induacutestria
Seraacute que estamos mesmo prestes a assistir ao desmoronamento da induacutestria cultural Seraacute
que os legisladores precisaratildeo reescrever todas as regras de direitos autorais para responder ao
novo momento tecnoloacutegico-cultural do seacuteculo XXI Shapiro e Varian (1999 p103)
argumentam que natildeo Na verdade eles defendem que muitos princiacutepios claacutessicos da economia
ainda satildeo perfeitamente vaacutelidos para essas situaccedilotildees ldquoO que mudou eacute que a Internet e a
tecnologia da informaccedilatildeo em geral oferecem oportunidades e desafios novos para a aplicaccedilatildeo
desses princiacutepiosrdquo Assim acreditam que os donos de propriedade intelectual seratildeo
naturalmente capazes de superar as lsquoameaccedilasrsquo da reproduccedilatildeo digital atraveacutes de estrateacutegias
semelhantes as quais superaram os desafios provocados pela tecnologia no passado ldquoAs
10 A Disney chegou a levar vaacuterias creches americanas aos tribunais por exibirem desenhos animados em viacutedeo sem licenccedila formal Na deacutecada de 90 a empresa ameaccedilou processar trecircs creches da Floacuterida que haviam pintado personagens da Disney em suas paredes (SHAPIRO VARIAN 1999 p109)
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novas oportunidades oferecidas pela reproduccedilatildeo digital excedem em muito os problemasrdquo
(SHAPIRO VARIAN 1999 p104)
Todas as facilidades da tecnologia digital satildeo elencadas para dar suporte ao otimismo dos
autores sobretudo os baixos custos de reproduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo ldquoNatildeo lute contra os custos
de distribuiccedilatildeo mais baixosrdquo aconselham ldquotire vantagem delesrdquo Para isso eacute preciso que
negociantes saibam lidar com o que os economistas chamam de ldquobem da experiecircnciardquo
O objeto de consumo eacute chamado de ldquobem da experiecircnciardquo (idem p18) quando os
fregueses precisam experimentar o produto antes de atribuir-lhes valor Qualquer novidade no
mercado eacute potencialmente um bem da experiecircncia e os publicitaacuterios contam com meacutetodos
claacutessicos de propaganda nesses casos promoccedilatildeo atraveacutes de reduccedilatildeo comparativa de preccedilo
depoimentos de famosos e anocircnimos e a infaliacutevel distribuiccedilatildeo de amostras graacutetis de pequenas
quantidades do produto a ser anunciado Eis mais uma pista Voltaremos a ela adiante
A induacutestria da informaccedilatildeo tecircm tambeacutem seus meacutetodos claacutessicos para fazer com que os
consumidores comprem o bem simboacutelico antes de ter certeza se o que estatildeo adquirindo vale o
preccedilo que pagam antecipadamente Primeiramente da mesma forma que em supermercados eacute
possiacutevel bebericar gratuitamente uma nova marca de iogurte em promoccedilotildees de lanccedilamento
existem formas de experimentar o ldquogostinhordquo do produto cultural Eacute possiacutevel ler as manchetes
de capa do jornal o trailer do filme etc Evidentemente isso eacute apenas uma parte da histoacuteria
Os produtos de sucesso superam o problema do ldquobem da experiecircnciardquo por meio da promoccedilatildeo
de sua ldquomarcardquo e sua ldquoreputaccedilatildeordquo Mas natildeo pretendemos entrar nessa discussatildeo pois natildeo cabe
na abordagem que restringe este artigo
Pois bem as grandes lojas de livros tornaram o ato de folhear mais confortaacutevel oferecendo
poltronas aacutereas abertas e cafeacutes porque haacute tempos jaacute sabem que essa estrateacutegia empresarial
impulsiona a venda de livros Ao lsquooferecerem gratuitamentersquo parte de seu produto elas
acabam ganhando muito mais dinheiro Nessa perspectiva a Internet eacute vista por Shapiro e
Varian (1999 p106) como ldquoum modo maravilhoso de oferecer amostras graacutetis do conteuacutedo
da informaccedilatildeordquo E enquanto especialistas discutem a maneira mais adequada de propaganda
na Web Shapiro e varian satildeo categoacutericos a Internet eacute ideal para ldquoinfomerciais11rdquo ou seja
estrateacutegia que fisga o leitor atraveacutes do oferecimento do proacuteprio conteuacutedo Mas a duacutevida eacute
como vatildeo ganhar dinheiro se simplesmente doarem seu produto A resposta dos autores eacute
11 ldquoComerciais de longa duraccedilatildeo que aleacutem de explicar em detalhes as caracteriacuterticas (hellip) do produto transmitem ainda depoimentos de usuaacuterios e outras informaccedilotildees pertinentes ao bem ou serviccedilo anunciadordquo (SHAPIRO VARIAN 1999 p106)
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doe somente parte de seu produto Eacute o princiacutepio claacutessico da amostra graacutetis mas com a
vantagem do insignificante custo de distribuiccedilatildeo ldquoO truque eacute dividir seu produto em
componentes dos quais alguns vocecirc daacute outros vocecirc vende As partes doadas satildeo os anuacutencios
ndash os infomerciais ndash das partes que vocecirc venderdquo
Os autores partem de um princiacutepio ergonocircmico para fundamentar suas hipoacuteteses hoje e
provavelmente por um bom tempo ningueacutem consegue ler um livro ou ateacute mesmo um artigo
de revista muito extenso com os olhos fixos em um monitor Eacute simplesmente muito
cansativo Segundo Shapiro e Varian pesquisas mostram que os usuaacuterios da web em geral
lecircem apenas duas telas de conteuacutedo antes de clicarem para sair Dessa forma o deconforto
associado agrave leitura direta em monitores sugere que a empresa pode colocar grandes
quantidades de conteuacutedo on-line sem que isso prejudique as vendas de coacutepias impressas12
Eacute claro que se a versatildeo na Web for faacutecil de imprimir podemos supor que o usuaacuterios
estaratildeo tentados a fazecirc-lo Mas haacute uma estrateacutegia muito simples para tornar a impressatildeo
caseira um ato trabalhoso e desconfortaacutevel ldquoA melhor coisa a fazerrdquo escrevem ldquoeacute tornar a
versatildeo on-line faacutecil de folherar ndash muitas telas curtas muitos links ndash mas difiacutecil de imprimir
em sua totalidaderdquo
Natildeo eacute difiacutecil perceber que ateacute esse momento com palavras e propoacutesitos diferentes
Shapiro e Varian disseram as mesmas coisas que o coletivo Wu Ming em relaccedilatildeo ao negoacutecio
editorial As divergecircncias satildeo ideoloacutegicas pois os primeiros admitem como um verdadeiro
problema o ldquocontrabando de bitsrdquoe a ldquopirataria digitalrdquo dizendo ldquoTudo de que se precisa eacute
que haja vontade poliacutetica para defender os direitos de propriedade intelectualrdquo (idem p114)
Mas na verdade os autores consideram que os proprietaacuterios dos conteuacutedos satildeo
excessivamente conservadores a respeito de gestatildeo de suas propriedades intelectuais Eles
observam que tradicionalmente toda nova tecnologia de reproduccedilatildeo produz previsotildees
catastroacuteficas no mercado Para eles a histoacuteria da veiculaccedilatildeo dos filmes em viacutedeo eacute um caso
exemplar
Hollywood ficou petrificada com o advento dos gravadores de videocassete O setor de
televisatildeo deu entrada em processos para impedir a coacutepia domeacutestica de programas de TV e a
Disney tentou distinguir as compras dos alugueacuteis de viacutedeo por meio de arranjos de
licenciamento Todas essas tentativas fracassaram Ironicamente Hollywood ganha hoje mais
com os viacutedeos do que com as apresentaccedilotildees em cinemas na maioria das produccedilotildees O mercado
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de vendas e de aluguel de viacutedeos antes tatildeo temido tornou-se uma imensa fonte de receita para
Hollywood (SHAPIRO VARIAN 1999 p17)
As proacuteprias bibliotecas satildeo um exemplo de uma inovaccedilatildeo que primeiro pareceu ameaccedilar o
setor editorial mas acabou por ampliaacute-lo imensamente (idem p115) A loacutegica eacute simples o
acesso agrave obras gratuitas forma o gosto de leitores que mais tarde compraratildeo livros Shapiro e
Varian percebem que perante os desafios da era digital haacute uma tendecircncia natural para que os
produtores se preocupem demais em lsquoprotegerrsquo sua propriedade intelectual Mas para eles o
importante eacute lsquomaximizarrsquo o valor da propriedade intelectual natildeo protegecirc-la pela pura
proteccedilatildeo ldquoSe vocecirc perde um pouco de sua propriedade quando a vende ou aluga esses eacute
apenas um dos custos de fazer negoacutecios juntamente com a depreciaccedilatildeo as perdas de estoque
e a obsolecircnciardquo
Ao mesmo tempo sabenos que existem muitos outros recursos para motivar a compra do
consumidor mesmo quando se tratam de bens culturais Moles (1974) ensina que o
mecanismo baacutesico da publicidade consiste em acrescentar um valor psicoloacutegico ao valor
propriamente utilitaacuterio do produto explorando portanto as emoccedilotildees secundaacuterias do
consumidor A publicidade alimenta artificialmente um desejo e sobretudo atraveacutes da
repeticcedilatildeo pelos meios de comunicaccedilatildeo primeiro convence que essa vontade eacute uma
necessidade essencial e depois promete satisfazecirc-la atraveacutes dos valores associados ao objeto
de consumo Na verdade natildeo satildeo vendidos produtos mas status social estilos sensaccedilotildees
impressotildees Isso quer dizer que os anuacutencios publicitaacuterios natildeo oferecem sabonetes mas
possibilidade de beleza natildeo anunciam automoacuteveis mas o prazer da velocidade e de poder
natildeo querem vender cigarro mas sentimento de juventude e de liberdade Em outras palavras
a publicidade complica a vida para oferecer a possibilidade de resolvecirc-la por meio do
consumo Assim podemos dizer que o mercado da cultura tambeacutem vive da venda de status
de prestiacutegio intelectual e natildeo apenas de conhecimento Basta pensar em quantos livros
compramos por lsquoimpulsorsquo mesmo sabendo que talvez nunca o leremos Ou quantos CDs
adquirimos para ouviacute-los algumas poucas vezes e guardaacute-los na estante Ou quantas fitas de
viacutedeo ou DVDs de filmes que jaacute vimos noacutes compramos para guardar mas nunca assistimos
porque estamos sempre alugando outros filmes
12 ldquoA Nacional Academy os Science Press pocircs on-line mais de mil de seus livros e descobriu que a disponibilidade das versotildees eletrocircnicas impulsionou as vendas de coacutepias impressas em duas a trecircs vezesrdquo (idem p107)
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Mas haacute um outro movimento juriacutedico contemporacircneo que parece ter o potencial de
provocar uma discussatildeo sobretudo filosoacutefica na economia da cultura no capitalismo do seacuteculo
XXI O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio
Vargas no Rio de Janeiro cujo objetivo eacute estudar implicaccedilotildees juriacutedicas sociais e culturais do
avanccedilo da tecnologia da informaccedilatildeo vem desenvolvendo estudos importantes nas aacutereas de
propriedade intelectual software livre governanccedila da web e privacidade na Internet O CTS eacute
o oacutergatildeo responsaacutevel pela direccedilatildeo no Brasil do projeto Creative Commons uma iniciativa
criada por Lawrence Lessig na Universidade de Stanford (EUA) O CTS adaptou as licenccedilas
do Creative Commons para o ordenamento juriacutedico brasileiro e fez com que o Brasil se
tornasse pioneiro no desenvolvimento de licenccedilas CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL
atualmente utilizadas pelo governo para o licenciamento de software livre
Uma das principais caracteriacutesticas do direito autoral claacutessico eacute que ele funciona como um
grande NAtildeO Isto quer dizer que para utilizar qualquer conteuacutedo eacute necessaacuterio pedir permissatildeo ao seu autor ou titular de direitos No sistema juriacutedico da propriedade intelectual adotado no Brasil ateacute mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jaacute nascem com todos os direitos reservados
Apesar disto muitos autores e titulares de direitos natildeo se importam que outras pessoas tenham acesso aos seus trabalhos Um muacutesico um videomaker ou uma escritora podem desejar justamente o contraacuterio o amplo acesso agraves suas obras ou eventualmente que seus trabalho sejam reinterpretandos reconstruiacutedos e recriados por outras pessoas
Assim o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitos possa dizer ao mundo que ele natildeo se opotildee agrave utilizaccedilatildeo de sua obra no que diz respeito agrave distribuiccedilatildeo coacutepia e outros tipos de uso
O Creative Commons eacute um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativas disponiacuteveis ao puacuteblico permitindo criar outras obras sobre elas compartilhando-as Isso eacute feito atraveacutes do desenvolvimento e disponibilizaccedilatildeo de licenccedilas juriacutedicas que permitem o acesso agraves obras pelo puacuteblico sob condiccedilotildees mais flexiacuteveis (FGV 2005)
Existem uma seacuterie de modalidades de licenccedila e cada uma delas concede direitos e deveres
especiacuteficos Haacute licenccedilas que por exemplo permitem a divulgaccedilatildeo da obra mas proiacutebem o uso
comercial Outras permitem a utilizaccedilatildeo da obra em outros trabalhos Haacute tambeacutem licenccedilas
que permitem o sampleamento remixagem colagem e outras formas criativas de
reconstruccedilatildeo da obra permitindo uma enorme explosatildeo de possibilidades criativas Dessa
forma a riacutegida locuccedilatildeo todos os direitos reservados eacute substituiacuteda por alguns direitos
reservados propondo assim uma universalidade de bens intelectuais criativos acessiacuteveis a
todos que eacute condiccedilatildeo fundamental para qualquer inovaccedilatildeo cultural e tecnoloacutegica (idem
2005) Assim as novas formas de apropriaccedilatildeo cultural na sociedade da informaccedilatildeo jaacute
comeccedilam a organizar respaldo juriacutedico atraveacutes de movimentos internacionais de
questionamento agrave pertinecircncia das velhas regulaccedilotildees autorais frente agraves exponenciais
possibilidades dos intercacircmbios mediatizados
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Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
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Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
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Do universo da informaacutetica o copyleft invadiu outras aacutereas do conhecimento Em artigo
publicado na revista Nature o proacuteprio Richard Stallman defende que a ciecircncia deve deixar o
copyright de lado
Deveria ser naturalmente oacutebvio que a literatura cientiacutefica existe para disseminar o
conhecimento cientiacutefico e que as publicaccedilotildees cientiacuteficas existem para facilitar o processo (hellip)
[Entretanto] muitos editores de publicaccedilotildees parecem acreditar que o propoacutesito da literatura
cientiacutefica eacute permitir a eles publicar perioacutedicos para nada mais do que angariar assinaturas de
cientistas e estudantes Tal pensamento eacute conhecido como lsquoconfusatildeo dos meios com os finsrsquo
(STALLMAN 2001)6
Para Stallman o copyright foi estabelecido para satisfazer demandas de proteccedilatildeo proacuteprias
das publicaccedilotildees impressas mas natildeo tem mais sentido na era da comunicaccedilatildeo eletrocircnica
(voltaremos a essa argumentaccedilatildeo adiante) A pergunta que faz eacute ldquoquais regras garantiriam a
maacutexima disseminaccedilatildeo de artigos cientiacuteficos e conhecimento na Webrdquo Ele defende que
textos cientiacuteficos deveriam ser distribuiacutedos livremente com acesso aberto para todos E nas
paacuteginas da Internet todos deveriam ter o direito de ldquoespelharrdquo artigos isto eacute republicaacute-los
literalmente em seus proacuteprios sites com as devidas referecircncias
Editores de perioacutedicos costumam reclamar que a infra-estrutura on-line requer cariacutessimos
servidores de alta potecircncia e entatildeo precisam cobrar taxas de acesso para pagar os custos Para
Stallman este lsquoproblemarsquo eacute uma consequumlecircncia da proacutepria lsquosoluccedilatildeorsquo que os editores adotam
ldquoDecirc a todo mundo a liberdade de espelhar e bibliotecas ao redor do planeta vatildeo instalar sites
espelho para responder agrave demandardquo Essa distribuiccedilatildeo descentralizada certamente reduziria as
necessidades individuais de expandir a largura da banda da rede para responder ao traacutefego
possibilitaria portanto acesso mais raacutepido aleacutem da vantagem de proteger os trabalhos
acadecircmicos contra perdas acidentais
Mas como financiar as publicaccedilotildees O custo da ediccedilatildeo (mesmo no caso de impressos
atreveriacuteamos a acrescentar) poderia ser recuperado sugere Stallman atraveacutes de uma taxa por
paacutegina cobrada dos autores que por sua vez poderiam passar os custos para os financiadores
da pesquisa O autor ocasional que natildeo eacute afiliado a uma instituiccedilatildeo e que natildeo tem nenhum
oacutergatildeo financiador seria eximido de pagar as taxas e os custos computados a outros autores
ligados agrave instituiccedilotildees de fomento agrave pesquisa
6 Traduccedilatildeo livre
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ldquoA Constituiccedilatildeo Americana diz que o copyright existe lsquopara promover o progresso da
ciecircnciarsquo Quando o copyright impede o progresso da ciecircncia a Ciecircncia precisa deixar o
copyright de ladordquo conclui Stallman (2001)
Copyright e maremoto
Da ciecircncia o conceito passou a referir-se a fenocircmenos da cultura
Atualmente existe um amplo movimento de protesto e transformaccedilatildeo social em grande
parte do planeta Ele possui um potencial enorme mas ainda natildeo estaacute completamente
consciente disso Embora sua origem seja antiga soacute se manifestou recentemente aparecendo
em vaacuterias ocasiotildees sob os refletores da miacutedia poreacutem trabalhando dia a dia longe deles Eacute
formado por multidotildees e singularidades por retiacuteculas capilares no territoacuterio Cavalga as mais
recentes inovaccedilotildees tecnoloacutegicas As definiccedilotildees cunhadas por seus adversaacuterios ficam-lhe
pequenas Logo seraacute impossiacutevel paraacute-lo e a repressatildeo nada poderaacute contra ele
Eacute aquilo que o poder econocircmico chama ldquopiratariardquo (WU MING 1 2002 p3)7
Esta eacute a introduccedilatildeo do manifesto Copyright e maremoto do coletivo literaacuterio italiano Wu
Ming (que significa em chinecircs Natildeo-famoso ou Anocircnimo) O texto argumenta que durante
milecircnios a civilizaccedilatildeo humana prescindiu do copyright do mesmo modo que prescindiu de
ldquooutros falsos axiomas parecidos como a lsquocentralidade do mercadorsquo ou o lsquocrescimento
ilimitadorsquordquo Afirma que se a propriedade intelectual tivesse surgido na antiguumlidade a
humanidade natildeo teria a Biacuteblia o Coratildeo Gilgamesh o Mahabarata a Iliacuteada a Odisseacuteia e todas
as narrativas surgidas de um amplo e feacutertil processo de mistura combinaccedilatildeo re-escritura e
transformaccedilatildeo ndash ou seja tudo aquilo que muitos chamam de plaacutegio
O manifesto celebra o fato de que a cada dia na era digital milhotildees de pessoas violam e
rechaccedilam continuamente o copyright Essa subversatildeo eacute feita quando copiamos muacutesica em
formato MP3 na Internet quando distribuiacutemos informaccedilatildeo pela rede e quando reproduzimos
livremente conteuacutedos que nos interessam usufruindo de tecnologias que suprimem a distinccedilatildeo
entre original e coacutepia ldquoNatildeo estamos falando da lsquopiratariarsquo gerida pelo crime organizado
divisatildeo extralegal do capitalismo natildeo menos deslocada e ofegante do que a legal pela
extensatildeo da lsquopiratariarsquo autogestionada e de massasrdquo prossegue o manifesto Para Wu Ming 1
a democratizaccedilatildeo geral do acesso agraves artes tem a ver com o rompimento de barreiras sociais
ldquo(hellip) devo fornecer algum dado sobre o preccedilo dos CDsrdquo (idem p4)
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Assim entusiasticamente argumenta que esse processo estaacute mudando o aspecto da
induacutestria cultural mundial ao inaugurar uma nova fase da cultura onde leis mais duras jamais
seratildeo suficientes para deter uma dinacircmica social jaacute iniciada e envolvente Essa movimentaccedilatildeo
estaria rumando a um ponto em que seriam superadas todas legislaccedilotildees sobre propriedade
intelectual para que fossem totalmente reescritas
O copyleft eacute entatildeo saudado como uma inovaccedilatildeo juriacutedica vinda de baixo que superou a
lsquopiratariarsquo ao enfatizar a forccedila construtiva (pars construens) do movimento real Para o
manifesto com aquela estrateacutegia do copyleft (explicitada neste artigo na discussatildeo sobre o
GNU) as leis vigentes do copyright8 estatildeo sendo pervertidas em relaccedilatildeo a sua funccedilatildeo original
e em vez de oferecer obstaacuteculos se converte em garantia de livre circulaccedilatildeo
Para servir de exemplo praacutetico todos os livros editados pelo coletivo Wu Ming contam
com a seguinte locuccedilatildeo ldquoPermitida a reproduccedilatildeo parcial ou total da obra e sua difusatildeo por via
telemaacutetica para uso pessoal dos leitores sob condiccedilatildeo de que natildeo seja com fins comerciaisrdquo
(idem p6) Rogeacuterio de Campos diretor editorial da Conrad editora da coleccedilatildeo Baderna
afirmou em entrevista agrave Folha de S Paulo que soacute conseguiu negociar os direitos de
reproduccedilatildeo do romance Q do autor Luther Blisset (pseudocircnimo de autores coletivos ligados
ao Wu Ming) depois de admitir uma claacuteusula que obriga a editora a ldquoprocessar qualquer um
que impeccedila a livre reproduccedilatildeo da obrardquo (ASSIS 2002)
As leis vigentes sobre o copyright ainda ignoram completamente o recurso ao copyleft De
acordo com o texto do manifesto em diversos encontros com deputados italianos os
produtores de software livre foram comparados pura e simplesmente aos ldquopiratasrdquo Isso faz
lembrar uma declaraccedilatildeo Richard Stallman em entrevista agrave Folha de S Paulo ldquoNatildeo faz sentido
sermos comparados a pessoas que atacavam navios e matam soacute porque compartilhamos
informaccedilatildeo puacuteblica com o vizinhordquo (MAISONNAVE LOUZANO 2000)
A segunda parte do livreto Copyright e maremoto conta com trechos de uma entrevista
feita com o grupo Neste pequeno diaacutelogo eles expotildeem com paixatildeo e fuacuteria seus atrevimentos
culturais sem receio de exageros retoacutericos entusiasmados ldquoSim noacutes afirmamos que a cultura
popular ocidental do seacuteculo XX (hellip) estava muitas vezes mais proacutexima do socialismo do que
os regimes lsquosocialistasrsquo orientais do seacuteculo XX conseguiram estarrdquo Para eles a seacuterie de
imagens de Mao Tse Tung serigrafadas por Andy Warhol foi mais importante para os
fundamentos da Revoluccedilatildeo do que os retratos oficiais do Grande Timoneiro agitados em
7 Esse manifesto foi escrito por Roberto Bui que publicamente identifica-se como Wu Ming 1 8 As atuais leis de copyright foram padronizadas na Convenccedilatildeo de Berna em 1971
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manifestaccedilotildees maoiacutestas ldquoO socialismo deve ser baseado na natureza coletiva da produccedilatildeo
capitalistardquo Ao contraacuterio do pessimismo de Adorno em relaccedilatildeo agrave induacutestria cultural e da
lsquoobsessatildeorsquo dos situacionaistas com o lsquoespetaacuteculorsquo o manifesto prega que a produccedilatildeo da
cultura pop no seacuteculo passado foi um processo socialista coletivo aberto mutante e
constantemente entrelaccedilado por inuacutemeras subculturas graccedilas agrave esfuziante habilidade das
multidotildees na reapropriaccedilatildeo ou ldquode-propriaccedilatildeordquo dessa cultura via pirataria de CDs violaccedilatildeo
de DVDs troca de arquivos em rede etc ldquoAs instituiccedilotildees da propriedade intelectual estatildeo
caindo aos pedaccedilos as pessoas estatildeo detonando-as Eacute um maravilhoso processo popular e
estaacute mais proacuteximo do socialismo do que a China jamais esteverdquo (WU MING 1 2002 p7-8)
Surge enfim a questatildeo da remuneraccedilatildeo dos autores O trabalho intelectual eacute um serviccedilo
pesado Exige um alto investimento em estudo em tempo e evidentemente deve ser
remunerado Assim a pergunda natural eacute o copyright natildeo eacute essencial para a sobrevivecircncia do
autor
Se um sujeito natildeo tem dinheiro para comprar qualquer um dos livros editados pela Wu
Ming Foundation pode tranquumlilamente fotocopiaacute-lo digitalizaacute-lo em scanner ou entatildeo a
soluccedilatildeo mais cocircmoda fazer o download gratuito da obra integral no site oficial
wwwwumingfoundationorg em um computador puacuteblico em alguma universidade ou
biblioteca As reproduccedilotildees que natildeo visam lucro satildeo automaticamente autorizadas Mas se um
editor estrangeiro quer comercializar uma de suas obras em outro paiacutes neste caso a utilizaccedilatildeo
evidentemente visa lucro e portanto essa empresa deve pagar por isso
Na verdade o Wu Ming apenas admitiu uma evidecircncia expliacutecita ningueacutem deixa de copiar
uma obra porque no rodapeacute haacute uma frase que diz lsquotodos os direitos satildeo reservados e
protegidos pela Lei 5988 de 141273 Nenhuma parte deste livro sem autorizaccedilatildeo preacutevia
por escrito da editora poderaacute ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios
empregados etchelliprsquo Quando o copyright foi introduzido9 concomitante ao desenvolvimento
da imprensa haacute trecircs seacuteculos natildeo havia possibilidade de lsquocoacutepia privadarsquo ou lsquoreproduccedilatildeo sem
fins de lucrorsquo porque soacute empresaacuterios editores tinham acesso agraves maacutequinas tipograacuteficas
Portanto em suas origens o copyright natildeo era percebido como lsquoanti-socialrsquo mas era uma
arma de um empresaacuterio contra o outro natildeo de um empresaacuterio contra o puacuteblico Mas com a
revoluccedilatildeo da informaacutetica e das comunicaccedilotildees o puacuteblico tem acesso agraves tecnologias de
9 A primeila lei de copyright surgiu na Inglaterra em 1710 mas foi desenvolvida a seguir nos EUA
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reproduccedilatildeo Dessa forma o copyright tornou-se na visatildeo do Wu Ming ldquouma arma que
dispara na multidatildeordquo10 (WU MING 1 2003) ndash mas sem muito efeito poderiacuteamos acrescentar
Nesse contexto observando sua proacutepria experiecircncia editorial esse coletivo literaacuterio
percebeu um fenocircmeno curioso e aparentemente paradoxal natildeo haacute relaccedilatildeo direta entre
ldquocoacutepias oficiais natildeo vendidasrdquo e ldquocoacutepias pirateadasrdquo Em outras palavras as coacutepias natildeo
influenciam na vendagem das obras ldquoEm realidade editorialmente quanto mais uma obra
circula mais venderdquo Ou seja quanto mais democratizada maiores os lucros O exemplo
paradigmaacutetico eacute a obra Q de Luther Blisset editado por eles que vendeu mais de 2 milhotildees
de coacutepias apesar de ndash ou melhor justamente devido ao copyleft O sujeito copia o livro seja
porque natildeo tem dinheiro seja porque natildeo quer comprar lsquono escurorsquo e gosta do que leu
Decide indicar ou mesmo dar de presente a algueacutem mas natildeo quer dar uma coacutepia qualquer
Pronto compra o livro A pessoa presenteada tambeacutem gosta e passa a indicar ou presentear
outras com o mesmo livro Uma coacutepia dois ou trecircs livros vendidos Simples assim
Para o Wu Ming se a maioria dos editores natildeo perceberam essa dinacircmica foi mais por
questatildeo ideoloacutegica que mercadoloacutegica ldquoA editoraccedilatildeo natildeo estaacute em risco de extinccedilatildeo como a
induacutestria fonograacutefica a loacutegica eacute outra outros os suportes outros os circuitos outro o modo de
fruiccedilatildeo e sobretudo a editoraccedilatildeo natildeo perdeu ainda a cabeccedila natildeo reagiu com retaliaccedilotildees em
massa denuacutencias e processos agrave grande revoluccedilatildeo tecnoloacutegica que democratiza o acesso aos
meios de reproduccedilatildeordquo (WU MING 2003)
A estrateacutegia da induacutestria
Seraacute que estamos mesmo prestes a assistir ao desmoronamento da induacutestria cultural Seraacute
que os legisladores precisaratildeo reescrever todas as regras de direitos autorais para responder ao
novo momento tecnoloacutegico-cultural do seacuteculo XXI Shapiro e Varian (1999 p103)
argumentam que natildeo Na verdade eles defendem que muitos princiacutepios claacutessicos da economia
ainda satildeo perfeitamente vaacutelidos para essas situaccedilotildees ldquoO que mudou eacute que a Internet e a
tecnologia da informaccedilatildeo em geral oferecem oportunidades e desafios novos para a aplicaccedilatildeo
desses princiacutepiosrdquo Assim acreditam que os donos de propriedade intelectual seratildeo
naturalmente capazes de superar as lsquoameaccedilasrsquo da reproduccedilatildeo digital atraveacutes de estrateacutegias
semelhantes as quais superaram os desafios provocados pela tecnologia no passado ldquoAs
10 A Disney chegou a levar vaacuterias creches americanas aos tribunais por exibirem desenhos animados em viacutedeo sem licenccedila formal Na deacutecada de 90 a empresa ameaccedilou processar trecircs creches da Floacuterida que haviam pintado personagens da Disney em suas paredes (SHAPIRO VARIAN 1999 p109)
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novas oportunidades oferecidas pela reproduccedilatildeo digital excedem em muito os problemasrdquo
(SHAPIRO VARIAN 1999 p104)
Todas as facilidades da tecnologia digital satildeo elencadas para dar suporte ao otimismo dos
autores sobretudo os baixos custos de reproduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo ldquoNatildeo lute contra os custos
de distribuiccedilatildeo mais baixosrdquo aconselham ldquotire vantagem delesrdquo Para isso eacute preciso que
negociantes saibam lidar com o que os economistas chamam de ldquobem da experiecircnciardquo
O objeto de consumo eacute chamado de ldquobem da experiecircnciardquo (idem p18) quando os
fregueses precisam experimentar o produto antes de atribuir-lhes valor Qualquer novidade no
mercado eacute potencialmente um bem da experiecircncia e os publicitaacuterios contam com meacutetodos
claacutessicos de propaganda nesses casos promoccedilatildeo atraveacutes de reduccedilatildeo comparativa de preccedilo
depoimentos de famosos e anocircnimos e a infaliacutevel distribuiccedilatildeo de amostras graacutetis de pequenas
quantidades do produto a ser anunciado Eis mais uma pista Voltaremos a ela adiante
A induacutestria da informaccedilatildeo tecircm tambeacutem seus meacutetodos claacutessicos para fazer com que os
consumidores comprem o bem simboacutelico antes de ter certeza se o que estatildeo adquirindo vale o
preccedilo que pagam antecipadamente Primeiramente da mesma forma que em supermercados eacute
possiacutevel bebericar gratuitamente uma nova marca de iogurte em promoccedilotildees de lanccedilamento
existem formas de experimentar o ldquogostinhordquo do produto cultural Eacute possiacutevel ler as manchetes
de capa do jornal o trailer do filme etc Evidentemente isso eacute apenas uma parte da histoacuteria
Os produtos de sucesso superam o problema do ldquobem da experiecircnciardquo por meio da promoccedilatildeo
de sua ldquomarcardquo e sua ldquoreputaccedilatildeordquo Mas natildeo pretendemos entrar nessa discussatildeo pois natildeo cabe
na abordagem que restringe este artigo
Pois bem as grandes lojas de livros tornaram o ato de folhear mais confortaacutevel oferecendo
poltronas aacutereas abertas e cafeacutes porque haacute tempos jaacute sabem que essa estrateacutegia empresarial
impulsiona a venda de livros Ao lsquooferecerem gratuitamentersquo parte de seu produto elas
acabam ganhando muito mais dinheiro Nessa perspectiva a Internet eacute vista por Shapiro e
Varian (1999 p106) como ldquoum modo maravilhoso de oferecer amostras graacutetis do conteuacutedo
da informaccedilatildeordquo E enquanto especialistas discutem a maneira mais adequada de propaganda
na Web Shapiro e varian satildeo categoacutericos a Internet eacute ideal para ldquoinfomerciais11rdquo ou seja
estrateacutegia que fisga o leitor atraveacutes do oferecimento do proacuteprio conteuacutedo Mas a duacutevida eacute
como vatildeo ganhar dinheiro se simplesmente doarem seu produto A resposta dos autores eacute
11 ldquoComerciais de longa duraccedilatildeo que aleacutem de explicar em detalhes as caracteriacuterticas (hellip) do produto transmitem ainda depoimentos de usuaacuterios e outras informaccedilotildees pertinentes ao bem ou serviccedilo anunciadordquo (SHAPIRO VARIAN 1999 p106)
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doe somente parte de seu produto Eacute o princiacutepio claacutessico da amostra graacutetis mas com a
vantagem do insignificante custo de distribuiccedilatildeo ldquoO truque eacute dividir seu produto em
componentes dos quais alguns vocecirc daacute outros vocecirc vende As partes doadas satildeo os anuacutencios
ndash os infomerciais ndash das partes que vocecirc venderdquo
Os autores partem de um princiacutepio ergonocircmico para fundamentar suas hipoacuteteses hoje e
provavelmente por um bom tempo ningueacutem consegue ler um livro ou ateacute mesmo um artigo
de revista muito extenso com os olhos fixos em um monitor Eacute simplesmente muito
cansativo Segundo Shapiro e Varian pesquisas mostram que os usuaacuterios da web em geral
lecircem apenas duas telas de conteuacutedo antes de clicarem para sair Dessa forma o deconforto
associado agrave leitura direta em monitores sugere que a empresa pode colocar grandes
quantidades de conteuacutedo on-line sem que isso prejudique as vendas de coacutepias impressas12
Eacute claro que se a versatildeo na Web for faacutecil de imprimir podemos supor que o usuaacuterios
estaratildeo tentados a fazecirc-lo Mas haacute uma estrateacutegia muito simples para tornar a impressatildeo
caseira um ato trabalhoso e desconfortaacutevel ldquoA melhor coisa a fazerrdquo escrevem ldquoeacute tornar a
versatildeo on-line faacutecil de folherar ndash muitas telas curtas muitos links ndash mas difiacutecil de imprimir
em sua totalidaderdquo
Natildeo eacute difiacutecil perceber que ateacute esse momento com palavras e propoacutesitos diferentes
Shapiro e Varian disseram as mesmas coisas que o coletivo Wu Ming em relaccedilatildeo ao negoacutecio
editorial As divergecircncias satildeo ideoloacutegicas pois os primeiros admitem como um verdadeiro
problema o ldquocontrabando de bitsrdquoe a ldquopirataria digitalrdquo dizendo ldquoTudo de que se precisa eacute
que haja vontade poliacutetica para defender os direitos de propriedade intelectualrdquo (idem p114)
Mas na verdade os autores consideram que os proprietaacuterios dos conteuacutedos satildeo
excessivamente conservadores a respeito de gestatildeo de suas propriedades intelectuais Eles
observam que tradicionalmente toda nova tecnologia de reproduccedilatildeo produz previsotildees
catastroacuteficas no mercado Para eles a histoacuteria da veiculaccedilatildeo dos filmes em viacutedeo eacute um caso
exemplar
Hollywood ficou petrificada com o advento dos gravadores de videocassete O setor de
televisatildeo deu entrada em processos para impedir a coacutepia domeacutestica de programas de TV e a
Disney tentou distinguir as compras dos alugueacuteis de viacutedeo por meio de arranjos de
licenciamento Todas essas tentativas fracassaram Ironicamente Hollywood ganha hoje mais
com os viacutedeos do que com as apresentaccedilotildees em cinemas na maioria das produccedilotildees O mercado
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de vendas e de aluguel de viacutedeos antes tatildeo temido tornou-se uma imensa fonte de receita para
Hollywood (SHAPIRO VARIAN 1999 p17)
As proacuteprias bibliotecas satildeo um exemplo de uma inovaccedilatildeo que primeiro pareceu ameaccedilar o
setor editorial mas acabou por ampliaacute-lo imensamente (idem p115) A loacutegica eacute simples o
acesso agrave obras gratuitas forma o gosto de leitores que mais tarde compraratildeo livros Shapiro e
Varian percebem que perante os desafios da era digital haacute uma tendecircncia natural para que os
produtores se preocupem demais em lsquoprotegerrsquo sua propriedade intelectual Mas para eles o
importante eacute lsquomaximizarrsquo o valor da propriedade intelectual natildeo protegecirc-la pela pura
proteccedilatildeo ldquoSe vocecirc perde um pouco de sua propriedade quando a vende ou aluga esses eacute
apenas um dos custos de fazer negoacutecios juntamente com a depreciaccedilatildeo as perdas de estoque
e a obsolecircnciardquo
Ao mesmo tempo sabenos que existem muitos outros recursos para motivar a compra do
consumidor mesmo quando se tratam de bens culturais Moles (1974) ensina que o
mecanismo baacutesico da publicidade consiste em acrescentar um valor psicoloacutegico ao valor
propriamente utilitaacuterio do produto explorando portanto as emoccedilotildees secundaacuterias do
consumidor A publicidade alimenta artificialmente um desejo e sobretudo atraveacutes da
repeticcedilatildeo pelos meios de comunicaccedilatildeo primeiro convence que essa vontade eacute uma
necessidade essencial e depois promete satisfazecirc-la atraveacutes dos valores associados ao objeto
de consumo Na verdade natildeo satildeo vendidos produtos mas status social estilos sensaccedilotildees
impressotildees Isso quer dizer que os anuacutencios publicitaacuterios natildeo oferecem sabonetes mas
possibilidade de beleza natildeo anunciam automoacuteveis mas o prazer da velocidade e de poder
natildeo querem vender cigarro mas sentimento de juventude e de liberdade Em outras palavras
a publicidade complica a vida para oferecer a possibilidade de resolvecirc-la por meio do
consumo Assim podemos dizer que o mercado da cultura tambeacutem vive da venda de status
de prestiacutegio intelectual e natildeo apenas de conhecimento Basta pensar em quantos livros
compramos por lsquoimpulsorsquo mesmo sabendo que talvez nunca o leremos Ou quantos CDs
adquirimos para ouviacute-los algumas poucas vezes e guardaacute-los na estante Ou quantas fitas de
viacutedeo ou DVDs de filmes que jaacute vimos noacutes compramos para guardar mas nunca assistimos
porque estamos sempre alugando outros filmes
12 ldquoA Nacional Academy os Science Press pocircs on-line mais de mil de seus livros e descobriu que a disponibilidade das versotildees eletrocircnicas impulsionou as vendas de coacutepias impressas em duas a trecircs vezesrdquo (idem p107)
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Mas haacute um outro movimento juriacutedico contemporacircneo que parece ter o potencial de
provocar uma discussatildeo sobretudo filosoacutefica na economia da cultura no capitalismo do seacuteculo
XXI O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio
Vargas no Rio de Janeiro cujo objetivo eacute estudar implicaccedilotildees juriacutedicas sociais e culturais do
avanccedilo da tecnologia da informaccedilatildeo vem desenvolvendo estudos importantes nas aacutereas de
propriedade intelectual software livre governanccedila da web e privacidade na Internet O CTS eacute
o oacutergatildeo responsaacutevel pela direccedilatildeo no Brasil do projeto Creative Commons uma iniciativa
criada por Lawrence Lessig na Universidade de Stanford (EUA) O CTS adaptou as licenccedilas
do Creative Commons para o ordenamento juriacutedico brasileiro e fez com que o Brasil se
tornasse pioneiro no desenvolvimento de licenccedilas CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL
atualmente utilizadas pelo governo para o licenciamento de software livre
Uma das principais caracteriacutesticas do direito autoral claacutessico eacute que ele funciona como um
grande NAtildeO Isto quer dizer que para utilizar qualquer conteuacutedo eacute necessaacuterio pedir permissatildeo ao seu autor ou titular de direitos No sistema juriacutedico da propriedade intelectual adotado no Brasil ateacute mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jaacute nascem com todos os direitos reservados
Apesar disto muitos autores e titulares de direitos natildeo se importam que outras pessoas tenham acesso aos seus trabalhos Um muacutesico um videomaker ou uma escritora podem desejar justamente o contraacuterio o amplo acesso agraves suas obras ou eventualmente que seus trabalho sejam reinterpretandos reconstruiacutedos e recriados por outras pessoas
Assim o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitos possa dizer ao mundo que ele natildeo se opotildee agrave utilizaccedilatildeo de sua obra no que diz respeito agrave distribuiccedilatildeo coacutepia e outros tipos de uso
O Creative Commons eacute um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativas disponiacuteveis ao puacuteblico permitindo criar outras obras sobre elas compartilhando-as Isso eacute feito atraveacutes do desenvolvimento e disponibilizaccedilatildeo de licenccedilas juriacutedicas que permitem o acesso agraves obras pelo puacuteblico sob condiccedilotildees mais flexiacuteveis (FGV 2005)
Existem uma seacuterie de modalidades de licenccedila e cada uma delas concede direitos e deveres
especiacuteficos Haacute licenccedilas que por exemplo permitem a divulgaccedilatildeo da obra mas proiacutebem o uso
comercial Outras permitem a utilizaccedilatildeo da obra em outros trabalhos Haacute tambeacutem licenccedilas
que permitem o sampleamento remixagem colagem e outras formas criativas de
reconstruccedilatildeo da obra permitindo uma enorme explosatildeo de possibilidades criativas Dessa
forma a riacutegida locuccedilatildeo todos os direitos reservados eacute substituiacuteda por alguns direitos
reservados propondo assim uma universalidade de bens intelectuais criativos acessiacuteveis a
todos que eacute condiccedilatildeo fundamental para qualquer inovaccedilatildeo cultural e tecnoloacutegica (idem
2005) Assim as novas formas de apropriaccedilatildeo cultural na sociedade da informaccedilatildeo jaacute
comeccedilam a organizar respaldo juriacutedico atraveacutes de movimentos internacionais de
questionamento agrave pertinecircncia das velhas regulaccedilotildees autorais frente agraves exponenciais
possibilidades dos intercacircmbios mediatizados
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Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
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Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
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ldquoA Constituiccedilatildeo Americana diz que o copyright existe lsquopara promover o progresso da
ciecircnciarsquo Quando o copyright impede o progresso da ciecircncia a Ciecircncia precisa deixar o
copyright de ladordquo conclui Stallman (2001)
Copyright e maremoto
Da ciecircncia o conceito passou a referir-se a fenocircmenos da cultura
Atualmente existe um amplo movimento de protesto e transformaccedilatildeo social em grande
parte do planeta Ele possui um potencial enorme mas ainda natildeo estaacute completamente
consciente disso Embora sua origem seja antiga soacute se manifestou recentemente aparecendo
em vaacuterias ocasiotildees sob os refletores da miacutedia poreacutem trabalhando dia a dia longe deles Eacute
formado por multidotildees e singularidades por retiacuteculas capilares no territoacuterio Cavalga as mais
recentes inovaccedilotildees tecnoloacutegicas As definiccedilotildees cunhadas por seus adversaacuterios ficam-lhe
pequenas Logo seraacute impossiacutevel paraacute-lo e a repressatildeo nada poderaacute contra ele
Eacute aquilo que o poder econocircmico chama ldquopiratariardquo (WU MING 1 2002 p3)7
Esta eacute a introduccedilatildeo do manifesto Copyright e maremoto do coletivo literaacuterio italiano Wu
Ming (que significa em chinecircs Natildeo-famoso ou Anocircnimo) O texto argumenta que durante
milecircnios a civilizaccedilatildeo humana prescindiu do copyright do mesmo modo que prescindiu de
ldquooutros falsos axiomas parecidos como a lsquocentralidade do mercadorsquo ou o lsquocrescimento
ilimitadorsquordquo Afirma que se a propriedade intelectual tivesse surgido na antiguumlidade a
humanidade natildeo teria a Biacuteblia o Coratildeo Gilgamesh o Mahabarata a Iliacuteada a Odisseacuteia e todas
as narrativas surgidas de um amplo e feacutertil processo de mistura combinaccedilatildeo re-escritura e
transformaccedilatildeo ndash ou seja tudo aquilo que muitos chamam de plaacutegio
O manifesto celebra o fato de que a cada dia na era digital milhotildees de pessoas violam e
rechaccedilam continuamente o copyright Essa subversatildeo eacute feita quando copiamos muacutesica em
formato MP3 na Internet quando distribuiacutemos informaccedilatildeo pela rede e quando reproduzimos
livremente conteuacutedos que nos interessam usufruindo de tecnologias que suprimem a distinccedilatildeo
entre original e coacutepia ldquoNatildeo estamos falando da lsquopiratariarsquo gerida pelo crime organizado
divisatildeo extralegal do capitalismo natildeo menos deslocada e ofegante do que a legal pela
extensatildeo da lsquopiratariarsquo autogestionada e de massasrdquo prossegue o manifesto Para Wu Ming 1
a democratizaccedilatildeo geral do acesso agraves artes tem a ver com o rompimento de barreiras sociais
ldquo(hellip) devo fornecer algum dado sobre o preccedilo dos CDsrdquo (idem p4)
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Assim entusiasticamente argumenta que esse processo estaacute mudando o aspecto da
induacutestria cultural mundial ao inaugurar uma nova fase da cultura onde leis mais duras jamais
seratildeo suficientes para deter uma dinacircmica social jaacute iniciada e envolvente Essa movimentaccedilatildeo
estaria rumando a um ponto em que seriam superadas todas legislaccedilotildees sobre propriedade
intelectual para que fossem totalmente reescritas
O copyleft eacute entatildeo saudado como uma inovaccedilatildeo juriacutedica vinda de baixo que superou a
lsquopiratariarsquo ao enfatizar a forccedila construtiva (pars construens) do movimento real Para o
manifesto com aquela estrateacutegia do copyleft (explicitada neste artigo na discussatildeo sobre o
GNU) as leis vigentes do copyright8 estatildeo sendo pervertidas em relaccedilatildeo a sua funccedilatildeo original
e em vez de oferecer obstaacuteculos se converte em garantia de livre circulaccedilatildeo
Para servir de exemplo praacutetico todos os livros editados pelo coletivo Wu Ming contam
com a seguinte locuccedilatildeo ldquoPermitida a reproduccedilatildeo parcial ou total da obra e sua difusatildeo por via
telemaacutetica para uso pessoal dos leitores sob condiccedilatildeo de que natildeo seja com fins comerciaisrdquo
(idem p6) Rogeacuterio de Campos diretor editorial da Conrad editora da coleccedilatildeo Baderna
afirmou em entrevista agrave Folha de S Paulo que soacute conseguiu negociar os direitos de
reproduccedilatildeo do romance Q do autor Luther Blisset (pseudocircnimo de autores coletivos ligados
ao Wu Ming) depois de admitir uma claacuteusula que obriga a editora a ldquoprocessar qualquer um
que impeccedila a livre reproduccedilatildeo da obrardquo (ASSIS 2002)
As leis vigentes sobre o copyright ainda ignoram completamente o recurso ao copyleft De
acordo com o texto do manifesto em diversos encontros com deputados italianos os
produtores de software livre foram comparados pura e simplesmente aos ldquopiratasrdquo Isso faz
lembrar uma declaraccedilatildeo Richard Stallman em entrevista agrave Folha de S Paulo ldquoNatildeo faz sentido
sermos comparados a pessoas que atacavam navios e matam soacute porque compartilhamos
informaccedilatildeo puacuteblica com o vizinhordquo (MAISONNAVE LOUZANO 2000)
A segunda parte do livreto Copyright e maremoto conta com trechos de uma entrevista
feita com o grupo Neste pequeno diaacutelogo eles expotildeem com paixatildeo e fuacuteria seus atrevimentos
culturais sem receio de exageros retoacutericos entusiasmados ldquoSim noacutes afirmamos que a cultura
popular ocidental do seacuteculo XX (hellip) estava muitas vezes mais proacutexima do socialismo do que
os regimes lsquosocialistasrsquo orientais do seacuteculo XX conseguiram estarrdquo Para eles a seacuterie de
imagens de Mao Tse Tung serigrafadas por Andy Warhol foi mais importante para os
fundamentos da Revoluccedilatildeo do que os retratos oficiais do Grande Timoneiro agitados em
7 Esse manifesto foi escrito por Roberto Bui que publicamente identifica-se como Wu Ming 1 8 As atuais leis de copyright foram padronizadas na Convenccedilatildeo de Berna em 1971
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manifestaccedilotildees maoiacutestas ldquoO socialismo deve ser baseado na natureza coletiva da produccedilatildeo
capitalistardquo Ao contraacuterio do pessimismo de Adorno em relaccedilatildeo agrave induacutestria cultural e da
lsquoobsessatildeorsquo dos situacionaistas com o lsquoespetaacuteculorsquo o manifesto prega que a produccedilatildeo da
cultura pop no seacuteculo passado foi um processo socialista coletivo aberto mutante e
constantemente entrelaccedilado por inuacutemeras subculturas graccedilas agrave esfuziante habilidade das
multidotildees na reapropriaccedilatildeo ou ldquode-propriaccedilatildeordquo dessa cultura via pirataria de CDs violaccedilatildeo
de DVDs troca de arquivos em rede etc ldquoAs instituiccedilotildees da propriedade intelectual estatildeo
caindo aos pedaccedilos as pessoas estatildeo detonando-as Eacute um maravilhoso processo popular e
estaacute mais proacuteximo do socialismo do que a China jamais esteverdquo (WU MING 1 2002 p7-8)
Surge enfim a questatildeo da remuneraccedilatildeo dos autores O trabalho intelectual eacute um serviccedilo
pesado Exige um alto investimento em estudo em tempo e evidentemente deve ser
remunerado Assim a pergunda natural eacute o copyright natildeo eacute essencial para a sobrevivecircncia do
autor
Se um sujeito natildeo tem dinheiro para comprar qualquer um dos livros editados pela Wu
Ming Foundation pode tranquumlilamente fotocopiaacute-lo digitalizaacute-lo em scanner ou entatildeo a
soluccedilatildeo mais cocircmoda fazer o download gratuito da obra integral no site oficial
wwwwumingfoundationorg em um computador puacuteblico em alguma universidade ou
biblioteca As reproduccedilotildees que natildeo visam lucro satildeo automaticamente autorizadas Mas se um
editor estrangeiro quer comercializar uma de suas obras em outro paiacutes neste caso a utilizaccedilatildeo
evidentemente visa lucro e portanto essa empresa deve pagar por isso
Na verdade o Wu Ming apenas admitiu uma evidecircncia expliacutecita ningueacutem deixa de copiar
uma obra porque no rodapeacute haacute uma frase que diz lsquotodos os direitos satildeo reservados e
protegidos pela Lei 5988 de 141273 Nenhuma parte deste livro sem autorizaccedilatildeo preacutevia
por escrito da editora poderaacute ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios
empregados etchelliprsquo Quando o copyright foi introduzido9 concomitante ao desenvolvimento
da imprensa haacute trecircs seacuteculos natildeo havia possibilidade de lsquocoacutepia privadarsquo ou lsquoreproduccedilatildeo sem
fins de lucrorsquo porque soacute empresaacuterios editores tinham acesso agraves maacutequinas tipograacuteficas
Portanto em suas origens o copyright natildeo era percebido como lsquoanti-socialrsquo mas era uma
arma de um empresaacuterio contra o outro natildeo de um empresaacuterio contra o puacuteblico Mas com a
revoluccedilatildeo da informaacutetica e das comunicaccedilotildees o puacuteblico tem acesso agraves tecnologias de
9 A primeila lei de copyright surgiu na Inglaterra em 1710 mas foi desenvolvida a seguir nos EUA
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reproduccedilatildeo Dessa forma o copyright tornou-se na visatildeo do Wu Ming ldquouma arma que
dispara na multidatildeordquo10 (WU MING 1 2003) ndash mas sem muito efeito poderiacuteamos acrescentar
Nesse contexto observando sua proacutepria experiecircncia editorial esse coletivo literaacuterio
percebeu um fenocircmeno curioso e aparentemente paradoxal natildeo haacute relaccedilatildeo direta entre
ldquocoacutepias oficiais natildeo vendidasrdquo e ldquocoacutepias pirateadasrdquo Em outras palavras as coacutepias natildeo
influenciam na vendagem das obras ldquoEm realidade editorialmente quanto mais uma obra
circula mais venderdquo Ou seja quanto mais democratizada maiores os lucros O exemplo
paradigmaacutetico eacute a obra Q de Luther Blisset editado por eles que vendeu mais de 2 milhotildees
de coacutepias apesar de ndash ou melhor justamente devido ao copyleft O sujeito copia o livro seja
porque natildeo tem dinheiro seja porque natildeo quer comprar lsquono escurorsquo e gosta do que leu
Decide indicar ou mesmo dar de presente a algueacutem mas natildeo quer dar uma coacutepia qualquer
Pronto compra o livro A pessoa presenteada tambeacutem gosta e passa a indicar ou presentear
outras com o mesmo livro Uma coacutepia dois ou trecircs livros vendidos Simples assim
Para o Wu Ming se a maioria dos editores natildeo perceberam essa dinacircmica foi mais por
questatildeo ideoloacutegica que mercadoloacutegica ldquoA editoraccedilatildeo natildeo estaacute em risco de extinccedilatildeo como a
induacutestria fonograacutefica a loacutegica eacute outra outros os suportes outros os circuitos outro o modo de
fruiccedilatildeo e sobretudo a editoraccedilatildeo natildeo perdeu ainda a cabeccedila natildeo reagiu com retaliaccedilotildees em
massa denuacutencias e processos agrave grande revoluccedilatildeo tecnoloacutegica que democratiza o acesso aos
meios de reproduccedilatildeordquo (WU MING 2003)
A estrateacutegia da induacutestria
Seraacute que estamos mesmo prestes a assistir ao desmoronamento da induacutestria cultural Seraacute
que os legisladores precisaratildeo reescrever todas as regras de direitos autorais para responder ao
novo momento tecnoloacutegico-cultural do seacuteculo XXI Shapiro e Varian (1999 p103)
argumentam que natildeo Na verdade eles defendem que muitos princiacutepios claacutessicos da economia
ainda satildeo perfeitamente vaacutelidos para essas situaccedilotildees ldquoO que mudou eacute que a Internet e a
tecnologia da informaccedilatildeo em geral oferecem oportunidades e desafios novos para a aplicaccedilatildeo
desses princiacutepiosrdquo Assim acreditam que os donos de propriedade intelectual seratildeo
naturalmente capazes de superar as lsquoameaccedilasrsquo da reproduccedilatildeo digital atraveacutes de estrateacutegias
semelhantes as quais superaram os desafios provocados pela tecnologia no passado ldquoAs
10 A Disney chegou a levar vaacuterias creches americanas aos tribunais por exibirem desenhos animados em viacutedeo sem licenccedila formal Na deacutecada de 90 a empresa ameaccedilou processar trecircs creches da Floacuterida que haviam pintado personagens da Disney em suas paredes (SHAPIRO VARIAN 1999 p109)
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novas oportunidades oferecidas pela reproduccedilatildeo digital excedem em muito os problemasrdquo
(SHAPIRO VARIAN 1999 p104)
Todas as facilidades da tecnologia digital satildeo elencadas para dar suporte ao otimismo dos
autores sobretudo os baixos custos de reproduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo ldquoNatildeo lute contra os custos
de distribuiccedilatildeo mais baixosrdquo aconselham ldquotire vantagem delesrdquo Para isso eacute preciso que
negociantes saibam lidar com o que os economistas chamam de ldquobem da experiecircnciardquo
O objeto de consumo eacute chamado de ldquobem da experiecircnciardquo (idem p18) quando os
fregueses precisam experimentar o produto antes de atribuir-lhes valor Qualquer novidade no
mercado eacute potencialmente um bem da experiecircncia e os publicitaacuterios contam com meacutetodos
claacutessicos de propaganda nesses casos promoccedilatildeo atraveacutes de reduccedilatildeo comparativa de preccedilo
depoimentos de famosos e anocircnimos e a infaliacutevel distribuiccedilatildeo de amostras graacutetis de pequenas
quantidades do produto a ser anunciado Eis mais uma pista Voltaremos a ela adiante
A induacutestria da informaccedilatildeo tecircm tambeacutem seus meacutetodos claacutessicos para fazer com que os
consumidores comprem o bem simboacutelico antes de ter certeza se o que estatildeo adquirindo vale o
preccedilo que pagam antecipadamente Primeiramente da mesma forma que em supermercados eacute
possiacutevel bebericar gratuitamente uma nova marca de iogurte em promoccedilotildees de lanccedilamento
existem formas de experimentar o ldquogostinhordquo do produto cultural Eacute possiacutevel ler as manchetes
de capa do jornal o trailer do filme etc Evidentemente isso eacute apenas uma parte da histoacuteria
Os produtos de sucesso superam o problema do ldquobem da experiecircnciardquo por meio da promoccedilatildeo
de sua ldquomarcardquo e sua ldquoreputaccedilatildeordquo Mas natildeo pretendemos entrar nessa discussatildeo pois natildeo cabe
na abordagem que restringe este artigo
Pois bem as grandes lojas de livros tornaram o ato de folhear mais confortaacutevel oferecendo
poltronas aacutereas abertas e cafeacutes porque haacute tempos jaacute sabem que essa estrateacutegia empresarial
impulsiona a venda de livros Ao lsquooferecerem gratuitamentersquo parte de seu produto elas
acabam ganhando muito mais dinheiro Nessa perspectiva a Internet eacute vista por Shapiro e
Varian (1999 p106) como ldquoum modo maravilhoso de oferecer amostras graacutetis do conteuacutedo
da informaccedilatildeordquo E enquanto especialistas discutem a maneira mais adequada de propaganda
na Web Shapiro e varian satildeo categoacutericos a Internet eacute ideal para ldquoinfomerciais11rdquo ou seja
estrateacutegia que fisga o leitor atraveacutes do oferecimento do proacuteprio conteuacutedo Mas a duacutevida eacute
como vatildeo ganhar dinheiro se simplesmente doarem seu produto A resposta dos autores eacute
11 ldquoComerciais de longa duraccedilatildeo que aleacutem de explicar em detalhes as caracteriacuterticas (hellip) do produto transmitem ainda depoimentos de usuaacuterios e outras informaccedilotildees pertinentes ao bem ou serviccedilo anunciadordquo (SHAPIRO VARIAN 1999 p106)
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doe somente parte de seu produto Eacute o princiacutepio claacutessico da amostra graacutetis mas com a
vantagem do insignificante custo de distribuiccedilatildeo ldquoO truque eacute dividir seu produto em
componentes dos quais alguns vocecirc daacute outros vocecirc vende As partes doadas satildeo os anuacutencios
ndash os infomerciais ndash das partes que vocecirc venderdquo
Os autores partem de um princiacutepio ergonocircmico para fundamentar suas hipoacuteteses hoje e
provavelmente por um bom tempo ningueacutem consegue ler um livro ou ateacute mesmo um artigo
de revista muito extenso com os olhos fixos em um monitor Eacute simplesmente muito
cansativo Segundo Shapiro e Varian pesquisas mostram que os usuaacuterios da web em geral
lecircem apenas duas telas de conteuacutedo antes de clicarem para sair Dessa forma o deconforto
associado agrave leitura direta em monitores sugere que a empresa pode colocar grandes
quantidades de conteuacutedo on-line sem que isso prejudique as vendas de coacutepias impressas12
Eacute claro que se a versatildeo na Web for faacutecil de imprimir podemos supor que o usuaacuterios
estaratildeo tentados a fazecirc-lo Mas haacute uma estrateacutegia muito simples para tornar a impressatildeo
caseira um ato trabalhoso e desconfortaacutevel ldquoA melhor coisa a fazerrdquo escrevem ldquoeacute tornar a
versatildeo on-line faacutecil de folherar ndash muitas telas curtas muitos links ndash mas difiacutecil de imprimir
em sua totalidaderdquo
Natildeo eacute difiacutecil perceber que ateacute esse momento com palavras e propoacutesitos diferentes
Shapiro e Varian disseram as mesmas coisas que o coletivo Wu Ming em relaccedilatildeo ao negoacutecio
editorial As divergecircncias satildeo ideoloacutegicas pois os primeiros admitem como um verdadeiro
problema o ldquocontrabando de bitsrdquoe a ldquopirataria digitalrdquo dizendo ldquoTudo de que se precisa eacute
que haja vontade poliacutetica para defender os direitos de propriedade intelectualrdquo (idem p114)
Mas na verdade os autores consideram que os proprietaacuterios dos conteuacutedos satildeo
excessivamente conservadores a respeito de gestatildeo de suas propriedades intelectuais Eles
observam que tradicionalmente toda nova tecnologia de reproduccedilatildeo produz previsotildees
catastroacuteficas no mercado Para eles a histoacuteria da veiculaccedilatildeo dos filmes em viacutedeo eacute um caso
exemplar
Hollywood ficou petrificada com o advento dos gravadores de videocassete O setor de
televisatildeo deu entrada em processos para impedir a coacutepia domeacutestica de programas de TV e a
Disney tentou distinguir as compras dos alugueacuteis de viacutedeo por meio de arranjos de
licenciamento Todas essas tentativas fracassaram Ironicamente Hollywood ganha hoje mais
com os viacutedeos do que com as apresentaccedilotildees em cinemas na maioria das produccedilotildees O mercado
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de vendas e de aluguel de viacutedeos antes tatildeo temido tornou-se uma imensa fonte de receita para
Hollywood (SHAPIRO VARIAN 1999 p17)
As proacuteprias bibliotecas satildeo um exemplo de uma inovaccedilatildeo que primeiro pareceu ameaccedilar o
setor editorial mas acabou por ampliaacute-lo imensamente (idem p115) A loacutegica eacute simples o
acesso agrave obras gratuitas forma o gosto de leitores que mais tarde compraratildeo livros Shapiro e
Varian percebem que perante os desafios da era digital haacute uma tendecircncia natural para que os
produtores se preocupem demais em lsquoprotegerrsquo sua propriedade intelectual Mas para eles o
importante eacute lsquomaximizarrsquo o valor da propriedade intelectual natildeo protegecirc-la pela pura
proteccedilatildeo ldquoSe vocecirc perde um pouco de sua propriedade quando a vende ou aluga esses eacute
apenas um dos custos de fazer negoacutecios juntamente com a depreciaccedilatildeo as perdas de estoque
e a obsolecircnciardquo
Ao mesmo tempo sabenos que existem muitos outros recursos para motivar a compra do
consumidor mesmo quando se tratam de bens culturais Moles (1974) ensina que o
mecanismo baacutesico da publicidade consiste em acrescentar um valor psicoloacutegico ao valor
propriamente utilitaacuterio do produto explorando portanto as emoccedilotildees secundaacuterias do
consumidor A publicidade alimenta artificialmente um desejo e sobretudo atraveacutes da
repeticcedilatildeo pelos meios de comunicaccedilatildeo primeiro convence que essa vontade eacute uma
necessidade essencial e depois promete satisfazecirc-la atraveacutes dos valores associados ao objeto
de consumo Na verdade natildeo satildeo vendidos produtos mas status social estilos sensaccedilotildees
impressotildees Isso quer dizer que os anuacutencios publicitaacuterios natildeo oferecem sabonetes mas
possibilidade de beleza natildeo anunciam automoacuteveis mas o prazer da velocidade e de poder
natildeo querem vender cigarro mas sentimento de juventude e de liberdade Em outras palavras
a publicidade complica a vida para oferecer a possibilidade de resolvecirc-la por meio do
consumo Assim podemos dizer que o mercado da cultura tambeacutem vive da venda de status
de prestiacutegio intelectual e natildeo apenas de conhecimento Basta pensar em quantos livros
compramos por lsquoimpulsorsquo mesmo sabendo que talvez nunca o leremos Ou quantos CDs
adquirimos para ouviacute-los algumas poucas vezes e guardaacute-los na estante Ou quantas fitas de
viacutedeo ou DVDs de filmes que jaacute vimos noacutes compramos para guardar mas nunca assistimos
porque estamos sempre alugando outros filmes
12 ldquoA Nacional Academy os Science Press pocircs on-line mais de mil de seus livros e descobriu que a disponibilidade das versotildees eletrocircnicas impulsionou as vendas de coacutepias impressas em duas a trecircs vezesrdquo (idem p107)
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Mas haacute um outro movimento juriacutedico contemporacircneo que parece ter o potencial de
provocar uma discussatildeo sobretudo filosoacutefica na economia da cultura no capitalismo do seacuteculo
XXI O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio
Vargas no Rio de Janeiro cujo objetivo eacute estudar implicaccedilotildees juriacutedicas sociais e culturais do
avanccedilo da tecnologia da informaccedilatildeo vem desenvolvendo estudos importantes nas aacutereas de
propriedade intelectual software livre governanccedila da web e privacidade na Internet O CTS eacute
o oacutergatildeo responsaacutevel pela direccedilatildeo no Brasil do projeto Creative Commons uma iniciativa
criada por Lawrence Lessig na Universidade de Stanford (EUA) O CTS adaptou as licenccedilas
do Creative Commons para o ordenamento juriacutedico brasileiro e fez com que o Brasil se
tornasse pioneiro no desenvolvimento de licenccedilas CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL
atualmente utilizadas pelo governo para o licenciamento de software livre
Uma das principais caracteriacutesticas do direito autoral claacutessico eacute que ele funciona como um
grande NAtildeO Isto quer dizer que para utilizar qualquer conteuacutedo eacute necessaacuterio pedir permissatildeo ao seu autor ou titular de direitos No sistema juriacutedico da propriedade intelectual adotado no Brasil ateacute mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jaacute nascem com todos os direitos reservados
Apesar disto muitos autores e titulares de direitos natildeo se importam que outras pessoas tenham acesso aos seus trabalhos Um muacutesico um videomaker ou uma escritora podem desejar justamente o contraacuterio o amplo acesso agraves suas obras ou eventualmente que seus trabalho sejam reinterpretandos reconstruiacutedos e recriados por outras pessoas
Assim o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitos possa dizer ao mundo que ele natildeo se opotildee agrave utilizaccedilatildeo de sua obra no que diz respeito agrave distribuiccedilatildeo coacutepia e outros tipos de uso
O Creative Commons eacute um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativas disponiacuteveis ao puacuteblico permitindo criar outras obras sobre elas compartilhando-as Isso eacute feito atraveacutes do desenvolvimento e disponibilizaccedilatildeo de licenccedilas juriacutedicas que permitem o acesso agraves obras pelo puacuteblico sob condiccedilotildees mais flexiacuteveis (FGV 2005)
Existem uma seacuterie de modalidades de licenccedila e cada uma delas concede direitos e deveres
especiacuteficos Haacute licenccedilas que por exemplo permitem a divulgaccedilatildeo da obra mas proiacutebem o uso
comercial Outras permitem a utilizaccedilatildeo da obra em outros trabalhos Haacute tambeacutem licenccedilas
que permitem o sampleamento remixagem colagem e outras formas criativas de
reconstruccedilatildeo da obra permitindo uma enorme explosatildeo de possibilidades criativas Dessa
forma a riacutegida locuccedilatildeo todos os direitos reservados eacute substituiacuteda por alguns direitos
reservados propondo assim uma universalidade de bens intelectuais criativos acessiacuteveis a
todos que eacute condiccedilatildeo fundamental para qualquer inovaccedilatildeo cultural e tecnoloacutegica (idem
2005) Assim as novas formas de apropriaccedilatildeo cultural na sociedade da informaccedilatildeo jaacute
comeccedilam a organizar respaldo juriacutedico atraveacutes de movimentos internacionais de
questionamento agrave pertinecircncia das velhas regulaccedilotildees autorais frente agraves exponenciais
possibilidades dos intercacircmbios mediatizados
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Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
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Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
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Assim entusiasticamente argumenta que esse processo estaacute mudando o aspecto da
induacutestria cultural mundial ao inaugurar uma nova fase da cultura onde leis mais duras jamais
seratildeo suficientes para deter uma dinacircmica social jaacute iniciada e envolvente Essa movimentaccedilatildeo
estaria rumando a um ponto em que seriam superadas todas legislaccedilotildees sobre propriedade
intelectual para que fossem totalmente reescritas
O copyleft eacute entatildeo saudado como uma inovaccedilatildeo juriacutedica vinda de baixo que superou a
lsquopiratariarsquo ao enfatizar a forccedila construtiva (pars construens) do movimento real Para o
manifesto com aquela estrateacutegia do copyleft (explicitada neste artigo na discussatildeo sobre o
GNU) as leis vigentes do copyright8 estatildeo sendo pervertidas em relaccedilatildeo a sua funccedilatildeo original
e em vez de oferecer obstaacuteculos se converte em garantia de livre circulaccedilatildeo
Para servir de exemplo praacutetico todos os livros editados pelo coletivo Wu Ming contam
com a seguinte locuccedilatildeo ldquoPermitida a reproduccedilatildeo parcial ou total da obra e sua difusatildeo por via
telemaacutetica para uso pessoal dos leitores sob condiccedilatildeo de que natildeo seja com fins comerciaisrdquo
(idem p6) Rogeacuterio de Campos diretor editorial da Conrad editora da coleccedilatildeo Baderna
afirmou em entrevista agrave Folha de S Paulo que soacute conseguiu negociar os direitos de
reproduccedilatildeo do romance Q do autor Luther Blisset (pseudocircnimo de autores coletivos ligados
ao Wu Ming) depois de admitir uma claacuteusula que obriga a editora a ldquoprocessar qualquer um
que impeccedila a livre reproduccedilatildeo da obrardquo (ASSIS 2002)
As leis vigentes sobre o copyright ainda ignoram completamente o recurso ao copyleft De
acordo com o texto do manifesto em diversos encontros com deputados italianos os
produtores de software livre foram comparados pura e simplesmente aos ldquopiratasrdquo Isso faz
lembrar uma declaraccedilatildeo Richard Stallman em entrevista agrave Folha de S Paulo ldquoNatildeo faz sentido
sermos comparados a pessoas que atacavam navios e matam soacute porque compartilhamos
informaccedilatildeo puacuteblica com o vizinhordquo (MAISONNAVE LOUZANO 2000)
A segunda parte do livreto Copyright e maremoto conta com trechos de uma entrevista
feita com o grupo Neste pequeno diaacutelogo eles expotildeem com paixatildeo e fuacuteria seus atrevimentos
culturais sem receio de exageros retoacutericos entusiasmados ldquoSim noacutes afirmamos que a cultura
popular ocidental do seacuteculo XX (hellip) estava muitas vezes mais proacutexima do socialismo do que
os regimes lsquosocialistasrsquo orientais do seacuteculo XX conseguiram estarrdquo Para eles a seacuterie de
imagens de Mao Tse Tung serigrafadas por Andy Warhol foi mais importante para os
fundamentos da Revoluccedilatildeo do que os retratos oficiais do Grande Timoneiro agitados em
7 Esse manifesto foi escrito por Roberto Bui que publicamente identifica-se como Wu Ming 1 8 As atuais leis de copyright foram padronizadas na Convenccedilatildeo de Berna em 1971
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manifestaccedilotildees maoiacutestas ldquoO socialismo deve ser baseado na natureza coletiva da produccedilatildeo
capitalistardquo Ao contraacuterio do pessimismo de Adorno em relaccedilatildeo agrave induacutestria cultural e da
lsquoobsessatildeorsquo dos situacionaistas com o lsquoespetaacuteculorsquo o manifesto prega que a produccedilatildeo da
cultura pop no seacuteculo passado foi um processo socialista coletivo aberto mutante e
constantemente entrelaccedilado por inuacutemeras subculturas graccedilas agrave esfuziante habilidade das
multidotildees na reapropriaccedilatildeo ou ldquode-propriaccedilatildeordquo dessa cultura via pirataria de CDs violaccedilatildeo
de DVDs troca de arquivos em rede etc ldquoAs instituiccedilotildees da propriedade intelectual estatildeo
caindo aos pedaccedilos as pessoas estatildeo detonando-as Eacute um maravilhoso processo popular e
estaacute mais proacuteximo do socialismo do que a China jamais esteverdquo (WU MING 1 2002 p7-8)
Surge enfim a questatildeo da remuneraccedilatildeo dos autores O trabalho intelectual eacute um serviccedilo
pesado Exige um alto investimento em estudo em tempo e evidentemente deve ser
remunerado Assim a pergunda natural eacute o copyright natildeo eacute essencial para a sobrevivecircncia do
autor
Se um sujeito natildeo tem dinheiro para comprar qualquer um dos livros editados pela Wu
Ming Foundation pode tranquumlilamente fotocopiaacute-lo digitalizaacute-lo em scanner ou entatildeo a
soluccedilatildeo mais cocircmoda fazer o download gratuito da obra integral no site oficial
wwwwumingfoundationorg em um computador puacuteblico em alguma universidade ou
biblioteca As reproduccedilotildees que natildeo visam lucro satildeo automaticamente autorizadas Mas se um
editor estrangeiro quer comercializar uma de suas obras em outro paiacutes neste caso a utilizaccedilatildeo
evidentemente visa lucro e portanto essa empresa deve pagar por isso
Na verdade o Wu Ming apenas admitiu uma evidecircncia expliacutecita ningueacutem deixa de copiar
uma obra porque no rodapeacute haacute uma frase que diz lsquotodos os direitos satildeo reservados e
protegidos pela Lei 5988 de 141273 Nenhuma parte deste livro sem autorizaccedilatildeo preacutevia
por escrito da editora poderaacute ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios
empregados etchelliprsquo Quando o copyright foi introduzido9 concomitante ao desenvolvimento
da imprensa haacute trecircs seacuteculos natildeo havia possibilidade de lsquocoacutepia privadarsquo ou lsquoreproduccedilatildeo sem
fins de lucrorsquo porque soacute empresaacuterios editores tinham acesso agraves maacutequinas tipograacuteficas
Portanto em suas origens o copyright natildeo era percebido como lsquoanti-socialrsquo mas era uma
arma de um empresaacuterio contra o outro natildeo de um empresaacuterio contra o puacuteblico Mas com a
revoluccedilatildeo da informaacutetica e das comunicaccedilotildees o puacuteblico tem acesso agraves tecnologias de
9 A primeila lei de copyright surgiu na Inglaterra em 1710 mas foi desenvolvida a seguir nos EUA
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reproduccedilatildeo Dessa forma o copyright tornou-se na visatildeo do Wu Ming ldquouma arma que
dispara na multidatildeordquo10 (WU MING 1 2003) ndash mas sem muito efeito poderiacuteamos acrescentar
Nesse contexto observando sua proacutepria experiecircncia editorial esse coletivo literaacuterio
percebeu um fenocircmeno curioso e aparentemente paradoxal natildeo haacute relaccedilatildeo direta entre
ldquocoacutepias oficiais natildeo vendidasrdquo e ldquocoacutepias pirateadasrdquo Em outras palavras as coacutepias natildeo
influenciam na vendagem das obras ldquoEm realidade editorialmente quanto mais uma obra
circula mais venderdquo Ou seja quanto mais democratizada maiores os lucros O exemplo
paradigmaacutetico eacute a obra Q de Luther Blisset editado por eles que vendeu mais de 2 milhotildees
de coacutepias apesar de ndash ou melhor justamente devido ao copyleft O sujeito copia o livro seja
porque natildeo tem dinheiro seja porque natildeo quer comprar lsquono escurorsquo e gosta do que leu
Decide indicar ou mesmo dar de presente a algueacutem mas natildeo quer dar uma coacutepia qualquer
Pronto compra o livro A pessoa presenteada tambeacutem gosta e passa a indicar ou presentear
outras com o mesmo livro Uma coacutepia dois ou trecircs livros vendidos Simples assim
Para o Wu Ming se a maioria dos editores natildeo perceberam essa dinacircmica foi mais por
questatildeo ideoloacutegica que mercadoloacutegica ldquoA editoraccedilatildeo natildeo estaacute em risco de extinccedilatildeo como a
induacutestria fonograacutefica a loacutegica eacute outra outros os suportes outros os circuitos outro o modo de
fruiccedilatildeo e sobretudo a editoraccedilatildeo natildeo perdeu ainda a cabeccedila natildeo reagiu com retaliaccedilotildees em
massa denuacutencias e processos agrave grande revoluccedilatildeo tecnoloacutegica que democratiza o acesso aos
meios de reproduccedilatildeordquo (WU MING 2003)
A estrateacutegia da induacutestria
Seraacute que estamos mesmo prestes a assistir ao desmoronamento da induacutestria cultural Seraacute
que os legisladores precisaratildeo reescrever todas as regras de direitos autorais para responder ao
novo momento tecnoloacutegico-cultural do seacuteculo XXI Shapiro e Varian (1999 p103)
argumentam que natildeo Na verdade eles defendem que muitos princiacutepios claacutessicos da economia
ainda satildeo perfeitamente vaacutelidos para essas situaccedilotildees ldquoO que mudou eacute que a Internet e a
tecnologia da informaccedilatildeo em geral oferecem oportunidades e desafios novos para a aplicaccedilatildeo
desses princiacutepiosrdquo Assim acreditam que os donos de propriedade intelectual seratildeo
naturalmente capazes de superar as lsquoameaccedilasrsquo da reproduccedilatildeo digital atraveacutes de estrateacutegias
semelhantes as quais superaram os desafios provocados pela tecnologia no passado ldquoAs
10 A Disney chegou a levar vaacuterias creches americanas aos tribunais por exibirem desenhos animados em viacutedeo sem licenccedila formal Na deacutecada de 90 a empresa ameaccedilou processar trecircs creches da Floacuterida que haviam pintado personagens da Disney em suas paredes (SHAPIRO VARIAN 1999 p109)
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novas oportunidades oferecidas pela reproduccedilatildeo digital excedem em muito os problemasrdquo
(SHAPIRO VARIAN 1999 p104)
Todas as facilidades da tecnologia digital satildeo elencadas para dar suporte ao otimismo dos
autores sobretudo os baixos custos de reproduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo ldquoNatildeo lute contra os custos
de distribuiccedilatildeo mais baixosrdquo aconselham ldquotire vantagem delesrdquo Para isso eacute preciso que
negociantes saibam lidar com o que os economistas chamam de ldquobem da experiecircnciardquo
O objeto de consumo eacute chamado de ldquobem da experiecircnciardquo (idem p18) quando os
fregueses precisam experimentar o produto antes de atribuir-lhes valor Qualquer novidade no
mercado eacute potencialmente um bem da experiecircncia e os publicitaacuterios contam com meacutetodos
claacutessicos de propaganda nesses casos promoccedilatildeo atraveacutes de reduccedilatildeo comparativa de preccedilo
depoimentos de famosos e anocircnimos e a infaliacutevel distribuiccedilatildeo de amostras graacutetis de pequenas
quantidades do produto a ser anunciado Eis mais uma pista Voltaremos a ela adiante
A induacutestria da informaccedilatildeo tecircm tambeacutem seus meacutetodos claacutessicos para fazer com que os
consumidores comprem o bem simboacutelico antes de ter certeza se o que estatildeo adquirindo vale o
preccedilo que pagam antecipadamente Primeiramente da mesma forma que em supermercados eacute
possiacutevel bebericar gratuitamente uma nova marca de iogurte em promoccedilotildees de lanccedilamento
existem formas de experimentar o ldquogostinhordquo do produto cultural Eacute possiacutevel ler as manchetes
de capa do jornal o trailer do filme etc Evidentemente isso eacute apenas uma parte da histoacuteria
Os produtos de sucesso superam o problema do ldquobem da experiecircnciardquo por meio da promoccedilatildeo
de sua ldquomarcardquo e sua ldquoreputaccedilatildeordquo Mas natildeo pretendemos entrar nessa discussatildeo pois natildeo cabe
na abordagem que restringe este artigo
Pois bem as grandes lojas de livros tornaram o ato de folhear mais confortaacutevel oferecendo
poltronas aacutereas abertas e cafeacutes porque haacute tempos jaacute sabem que essa estrateacutegia empresarial
impulsiona a venda de livros Ao lsquooferecerem gratuitamentersquo parte de seu produto elas
acabam ganhando muito mais dinheiro Nessa perspectiva a Internet eacute vista por Shapiro e
Varian (1999 p106) como ldquoum modo maravilhoso de oferecer amostras graacutetis do conteuacutedo
da informaccedilatildeordquo E enquanto especialistas discutem a maneira mais adequada de propaganda
na Web Shapiro e varian satildeo categoacutericos a Internet eacute ideal para ldquoinfomerciais11rdquo ou seja
estrateacutegia que fisga o leitor atraveacutes do oferecimento do proacuteprio conteuacutedo Mas a duacutevida eacute
como vatildeo ganhar dinheiro se simplesmente doarem seu produto A resposta dos autores eacute
11 ldquoComerciais de longa duraccedilatildeo que aleacutem de explicar em detalhes as caracteriacuterticas (hellip) do produto transmitem ainda depoimentos de usuaacuterios e outras informaccedilotildees pertinentes ao bem ou serviccedilo anunciadordquo (SHAPIRO VARIAN 1999 p106)
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doe somente parte de seu produto Eacute o princiacutepio claacutessico da amostra graacutetis mas com a
vantagem do insignificante custo de distribuiccedilatildeo ldquoO truque eacute dividir seu produto em
componentes dos quais alguns vocecirc daacute outros vocecirc vende As partes doadas satildeo os anuacutencios
ndash os infomerciais ndash das partes que vocecirc venderdquo
Os autores partem de um princiacutepio ergonocircmico para fundamentar suas hipoacuteteses hoje e
provavelmente por um bom tempo ningueacutem consegue ler um livro ou ateacute mesmo um artigo
de revista muito extenso com os olhos fixos em um monitor Eacute simplesmente muito
cansativo Segundo Shapiro e Varian pesquisas mostram que os usuaacuterios da web em geral
lecircem apenas duas telas de conteuacutedo antes de clicarem para sair Dessa forma o deconforto
associado agrave leitura direta em monitores sugere que a empresa pode colocar grandes
quantidades de conteuacutedo on-line sem que isso prejudique as vendas de coacutepias impressas12
Eacute claro que se a versatildeo na Web for faacutecil de imprimir podemos supor que o usuaacuterios
estaratildeo tentados a fazecirc-lo Mas haacute uma estrateacutegia muito simples para tornar a impressatildeo
caseira um ato trabalhoso e desconfortaacutevel ldquoA melhor coisa a fazerrdquo escrevem ldquoeacute tornar a
versatildeo on-line faacutecil de folherar ndash muitas telas curtas muitos links ndash mas difiacutecil de imprimir
em sua totalidaderdquo
Natildeo eacute difiacutecil perceber que ateacute esse momento com palavras e propoacutesitos diferentes
Shapiro e Varian disseram as mesmas coisas que o coletivo Wu Ming em relaccedilatildeo ao negoacutecio
editorial As divergecircncias satildeo ideoloacutegicas pois os primeiros admitem como um verdadeiro
problema o ldquocontrabando de bitsrdquoe a ldquopirataria digitalrdquo dizendo ldquoTudo de que se precisa eacute
que haja vontade poliacutetica para defender os direitos de propriedade intelectualrdquo (idem p114)
Mas na verdade os autores consideram que os proprietaacuterios dos conteuacutedos satildeo
excessivamente conservadores a respeito de gestatildeo de suas propriedades intelectuais Eles
observam que tradicionalmente toda nova tecnologia de reproduccedilatildeo produz previsotildees
catastroacuteficas no mercado Para eles a histoacuteria da veiculaccedilatildeo dos filmes em viacutedeo eacute um caso
exemplar
Hollywood ficou petrificada com o advento dos gravadores de videocassete O setor de
televisatildeo deu entrada em processos para impedir a coacutepia domeacutestica de programas de TV e a
Disney tentou distinguir as compras dos alugueacuteis de viacutedeo por meio de arranjos de
licenciamento Todas essas tentativas fracassaram Ironicamente Hollywood ganha hoje mais
com os viacutedeos do que com as apresentaccedilotildees em cinemas na maioria das produccedilotildees O mercado
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de vendas e de aluguel de viacutedeos antes tatildeo temido tornou-se uma imensa fonte de receita para
Hollywood (SHAPIRO VARIAN 1999 p17)
As proacuteprias bibliotecas satildeo um exemplo de uma inovaccedilatildeo que primeiro pareceu ameaccedilar o
setor editorial mas acabou por ampliaacute-lo imensamente (idem p115) A loacutegica eacute simples o
acesso agrave obras gratuitas forma o gosto de leitores que mais tarde compraratildeo livros Shapiro e
Varian percebem que perante os desafios da era digital haacute uma tendecircncia natural para que os
produtores se preocupem demais em lsquoprotegerrsquo sua propriedade intelectual Mas para eles o
importante eacute lsquomaximizarrsquo o valor da propriedade intelectual natildeo protegecirc-la pela pura
proteccedilatildeo ldquoSe vocecirc perde um pouco de sua propriedade quando a vende ou aluga esses eacute
apenas um dos custos de fazer negoacutecios juntamente com a depreciaccedilatildeo as perdas de estoque
e a obsolecircnciardquo
Ao mesmo tempo sabenos que existem muitos outros recursos para motivar a compra do
consumidor mesmo quando se tratam de bens culturais Moles (1974) ensina que o
mecanismo baacutesico da publicidade consiste em acrescentar um valor psicoloacutegico ao valor
propriamente utilitaacuterio do produto explorando portanto as emoccedilotildees secundaacuterias do
consumidor A publicidade alimenta artificialmente um desejo e sobretudo atraveacutes da
repeticcedilatildeo pelos meios de comunicaccedilatildeo primeiro convence que essa vontade eacute uma
necessidade essencial e depois promete satisfazecirc-la atraveacutes dos valores associados ao objeto
de consumo Na verdade natildeo satildeo vendidos produtos mas status social estilos sensaccedilotildees
impressotildees Isso quer dizer que os anuacutencios publicitaacuterios natildeo oferecem sabonetes mas
possibilidade de beleza natildeo anunciam automoacuteveis mas o prazer da velocidade e de poder
natildeo querem vender cigarro mas sentimento de juventude e de liberdade Em outras palavras
a publicidade complica a vida para oferecer a possibilidade de resolvecirc-la por meio do
consumo Assim podemos dizer que o mercado da cultura tambeacutem vive da venda de status
de prestiacutegio intelectual e natildeo apenas de conhecimento Basta pensar em quantos livros
compramos por lsquoimpulsorsquo mesmo sabendo que talvez nunca o leremos Ou quantos CDs
adquirimos para ouviacute-los algumas poucas vezes e guardaacute-los na estante Ou quantas fitas de
viacutedeo ou DVDs de filmes que jaacute vimos noacutes compramos para guardar mas nunca assistimos
porque estamos sempre alugando outros filmes
12 ldquoA Nacional Academy os Science Press pocircs on-line mais de mil de seus livros e descobriu que a disponibilidade das versotildees eletrocircnicas impulsionou as vendas de coacutepias impressas em duas a trecircs vezesrdquo (idem p107)
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Mas haacute um outro movimento juriacutedico contemporacircneo que parece ter o potencial de
provocar uma discussatildeo sobretudo filosoacutefica na economia da cultura no capitalismo do seacuteculo
XXI O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio
Vargas no Rio de Janeiro cujo objetivo eacute estudar implicaccedilotildees juriacutedicas sociais e culturais do
avanccedilo da tecnologia da informaccedilatildeo vem desenvolvendo estudos importantes nas aacutereas de
propriedade intelectual software livre governanccedila da web e privacidade na Internet O CTS eacute
o oacutergatildeo responsaacutevel pela direccedilatildeo no Brasil do projeto Creative Commons uma iniciativa
criada por Lawrence Lessig na Universidade de Stanford (EUA) O CTS adaptou as licenccedilas
do Creative Commons para o ordenamento juriacutedico brasileiro e fez com que o Brasil se
tornasse pioneiro no desenvolvimento de licenccedilas CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL
atualmente utilizadas pelo governo para o licenciamento de software livre
Uma das principais caracteriacutesticas do direito autoral claacutessico eacute que ele funciona como um
grande NAtildeO Isto quer dizer que para utilizar qualquer conteuacutedo eacute necessaacuterio pedir permissatildeo ao seu autor ou titular de direitos No sistema juriacutedico da propriedade intelectual adotado no Brasil ateacute mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jaacute nascem com todos os direitos reservados
Apesar disto muitos autores e titulares de direitos natildeo se importam que outras pessoas tenham acesso aos seus trabalhos Um muacutesico um videomaker ou uma escritora podem desejar justamente o contraacuterio o amplo acesso agraves suas obras ou eventualmente que seus trabalho sejam reinterpretandos reconstruiacutedos e recriados por outras pessoas
Assim o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitos possa dizer ao mundo que ele natildeo se opotildee agrave utilizaccedilatildeo de sua obra no que diz respeito agrave distribuiccedilatildeo coacutepia e outros tipos de uso
O Creative Commons eacute um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativas disponiacuteveis ao puacuteblico permitindo criar outras obras sobre elas compartilhando-as Isso eacute feito atraveacutes do desenvolvimento e disponibilizaccedilatildeo de licenccedilas juriacutedicas que permitem o acesso agraves obras pelo puacuteblico sob condiccedilotildees mais flexiacuteveis (FGV 2005)
Existem uma seacuterie de modalidades de licenccedila e cada uma delas concede direitos e deveres
especiacuteficos Haacute licenccedilas que por exemplo permitem a divulgaccedilatildeo da obra mas proiacutebem o uso
comercial Outras permitem a utilizaccedilatildeo da obra em outros trabalhos Haacute tambeacutem licenccedilas
que permitem o sampleamento remixagem colagem e outras formas criativas de
reconstruccedilatildeo da obra permitindo uma enorme explosatildeo de possibilidades criativas Dessa
forma a riacutegida locuccedilatildeo todos os direitos reservados eacute substituiacuteda por alguns direitos
reservados propondo assim uma universalidade de bens intelectuais criativos acessiacuteveis a
todos que eacute condiccedilatildeo fundamental para qualquer inovaccedilatildeo cultural e tecnoloacutegica (idem
2005) Assim as novas formas de apropriaccedilatildeo cultural na sociedade da informaccedilatildeo jaacute
comeccedilam a organizar respaldo juriacutedico atraveacutes de movimentos internacionais de
questionamento agrave pertinecircncia das velhas regulaccedilotildees autorais frente agraves exponenciais
possibilidades dos intercacircmbios mediatizados
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Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
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Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
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manifestaccedilotildees maoiacutestas ldquoO socialismo deve ser baseado na natureza coletiva da produccedilatildeo
capitalistardquo Ao contraacuterio do pessimismo de Adorno em relaccedilatildeo agrave induacutestria cultural e da
lsquoobsessatildeorsquo dos situacionaistas com o lsquoespetaacuteculorsquo o manifesto prega que a produccedilatildeo da
cultura pop no seacuteculo passado foi um processo socialista coletivo aberto mutante e
constantemente entrelaccedilado por inuacutemeras subculturas graccedilas agrave esfuziante habilidade das
multidotildees na reapropriaccedilatildeo ou ldquode-propriaccedilatildeordquo dessa cultura via pirataria de CDs violaccedilatildeo
de DVDs troca de arquivos em rede etc ldquoAs instituiccedilotildees da propriedade intelectual estatildeo
caindo aos pedaccedilos as pessoas estatildeo detonando-as Eacute um maravilhoso processo popular e
estaacute mais proacuteximo do socialismo do que a China jamais esteverdquo (WU MING 1 2002 p7-8)
Surge enfim a questatildeo da remuneraccedilatildeo dos autores O trabalho intelectual eacute um serviccedilo
pesado Exige um alto investimento em estudo em tempo e evidentemente deve ser
remunerado Assim a pergunda natural eacute o copyright natildeo eacute essencial para a sobrevivecircncia do
autor
Se um sujeito natildeo tem dinheiro para comprar qualquer um dos livros editados pela Wu
Ming Foundation pode tranquumlilamente fotocopiaacute-lo digitalizaacute-lo em scanner ou entatildeo a
soluccedilatildeo mais cocircmoda fazer o download gratuito da obra integral no site oficial
wwwwumingfoundationorg em um computador puacuteblico em alguma universidade ou
biblioteca As reproduccedilotildees que natildeo visam lucro satildeo automaticamente autorizadas Mas se um
editor estrangeiro quer comercializar uma de suas obras em outro paiacutes neste caso a utilizaccedilatildeo
evidentemente visa lucro e portanto essa empresa deve pagar por isso
Na verdade o Wu Ming apenas admitiu uma evidecircncia expliacutecita ningueacutem deixa de copiar
uma obra porque no rodapeacute haacute uma frase que diz lsquotodos os direitos satildeo reservados e
protegidos pela Lei 5988 de 141273 Nenhuma parte deste livro sem autorizaccedilatildeo preacutevia
por escrito da editora poderaacute ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios
empregados etchelliprsquo Quando o copyright foi introduzido9 concomitante ao desenvolvimento
da imprensa haacute trecircs seacuteculos natildeo havia possibilidade de lsquocoacutepia privadarsquo ou lsquoreproduccedilatildeo sem
fins de lucrorsquo porque soacute empresaacuterios editores tinham acesso agraves maacutequinas tipograacuteficas
Portanto em suas origens o copyright natildeo era percebido como lsquoanti-socialrsquo mas era uma
arma de um empresaacuterio contra o outro natildeo de um empresaacuterio contra o puacuteblico Mas com a
revoluccedilatildeo da informaacutetica e das comunicaccedilotildees o puacuteblico tem acesso agraves tecnologias de
9 A primeila lei de copyright surgiu na Inglaterra em 1710 mas foi desenvolvida a seguir nos EUA
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reproduccedilatildeo Dessa forma o copyright tornou-se na visatildeo do Wu Ming ldquouma arma que
dispara na multidatildeordquo10 (WU MING 1 2003) ndash mas sem muito efeito poderiacuteamos acrescentar
Nesse contexto observando sua proacutepria experiecircncia editorial esse coletivo literaacuterio
percebeu um fenocircmeno curioso e aparentemente paradoxal natildeo haacute relaccedilatildeo direta entre
ldquocoacutepias oficiais natildeo vendidasrdquo e ldquocoacutepias pirateadasrdquo Em outras palavras as coacutepias natildeo
influenciam na vendagem das obras ldquoEm realidade editorialmente quanto mais uma obra
circula mais venderdquo Ou seja quanto mais democratizada maiores os lucros O exemplo
paradigmaacutetico eacute a obra Q de Luther Blisset editado por eles que vendeu mais de 2 milhotildees
de coacutepias apesar de ndash ou melhor justamente devido ao copyleft O sujeito copia o livro seja
porque natildeo tem dinheiro seja porque natildeo quer comprar lsquono escurorsquo e gosta do que leu
Decide indicar ou mesmo dar de presente a algueacutem mas natildeo quer dar uma coacutepia qualquer
Pronto compra o livro A pessoa presenteada tambeacutem gosta e passa a indicar ou presentear
outras com o mesmo livro Uma coacutepia dois ou trecircs livros vendidos Simples assim
Para o Wu Ming se a maioria dos editores natildeo perceberam essa dinacircmica foi mais por
questatildeo ideoloacutegica que mercadoloacutegica ldquoA editoraccedilatildeo natildeo estaacute em risco de extinccedilatildeo como a
induacutestria fonograacutefica a loacutegica eacute outra outros os suportes outros os circuitos outro o modo de
fruiccedilatildeo e sobretudo a editoraccedilatildeo natildeo perdeu ainda a cabeccedila natildeo reagiu com retaliaccedilotildees em
massa denuacutencias e processos agrave grande revoluccedilatildeo tecnoloacutegica que democratiza o acesso aos
meios de reproduccedilatildeordquo (WU MING 2003)
A estrateacutegia da induacutestria
Seraacute que estamos mesmo prestes a assistir ao desmoronamento da induacutestria cultural Seraacute
que os legisladores precisaratildeo reescrever todas as regras de direitos autorais para responder ao
novo momento tecnoloacutegico-cultural do seacuteculo XXI Shapiro e Varian (1999 p103)
argumentam que natildeo Na verdade eles defendem que muitos princiacutepios claacutessicos da economia
ainda satildeo perfeitamente vaacutelidos para essas situaccedilotildees ldquoO que mudou eacute que a Internet e a
tecnologia da informaccedilatildeo em geral oferecem oportunidades e desafios novos para a aplicaccedilatildeo
desses princiacutepiosrdquo Assim acreditam que os donos de propriedade intelectual seratildeo
naturalmente capazes de superar as lsquoameaccedilasrsquo da reproduccedilatildeo digital atraveacutes de estrateacutegias
semelhantes as quais superaram os desafios provocados pela tecnologia no passado ldquoAs
10 A Disney chegou a levar vaacuterias creches americanas aos tribunais por exibirem desenhos animados em viacutedeo sem licenccedila formal Na deacutecada de 90 a empresa ameaccedilou processar trecircs creches da Floacuterida que haviam pintado personagens da Disney em suas paredes (SHAPIRO VARIAN 1999 p109)
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novas oportunidades oferecidas pela reproduccedilatildeo digital excedem em muito os problemasrdquo
(SHAPIRO VARIAN 1999 p104)
Todas as facilidades da tecnologia digital satildeo elencadas para dar suporte ao otimismo dos
autores sobretudo os baixos custos de reproduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo ldquoNatildeo lute contra os custos
de distribuiccedilatildeo mais baixosrdquo aconselham ldquotire vantagem delesrdquo Para isso eacute preciso que
negociantes saibam lidar com o que os economistas chamam de ldquobem da experiecircnciardquo
O objeto de consumo eacute chamado de ldquobem da experiecircnciardquo (idem p18) quando os
fregueses precisam experimentar o produto antes de atribuir-lhes valor Qualquer novidade no
mercado eacute potencialmente um bem da experiecircncia e os publicitaacuterios contam com meacutetodos
claacutessicos de propaganda nesses casos promoccedilatildeo atraveacutes de reduccedilatildeo comparativa de preccedilo
depoimentos de famosos e anocircnimos e a infaliacutevel distribuiccedilatildeo de amostras graacutetis de pequenas
quantidades do produto a ser anunciado Eis mais uma pista Voltaremos a ela adiante
A induacutestria da informaccedilatildeo tecircm tambeacutem seus meacutetodos claacutessicos para fazer com que os
consumidores comprem o bem simboacutelico antes de ter certeza se o que estatildeo adquirindo vale o
preccedilo que pagam antecipadamente Primeiramente da mesma forma que em supermercados eacute
possiacutevel bebericar gratuitamente uma nova marca de iogurte em promoccedilotildees de lanccedilamento
existem formas de experimentar o ldquogostinhordquo do produto cultural Eacute possiacutevel ler as manchetes
de capa do jornal o trailer do filme etc Evidentemente isso eacute apenas uma parte da histoacuteria
Os produtos de sucesso superam o problema do ldquobem da experiecircnciardquo por meio da promoccedilatildeo
de sua ldquomarcardquo e sua ldquoreputaccedilatildeordquo Mas natildeo pretendemos entrar nessa discussatildeo pois natildeo cabe
na abordagem que restringe este artigo
Pois bem as grandes lojas de livros tornaram o ato de folhear mais confortaacutevel oferecendo
poltronas aacutereas abertas e cafeacutes porque haacute tempos jaacute sabem que essa estrateacutegia empresarial
impulsiona a venda de livros Ao lsquooferecerem gratuitamentersquo parte de seu produto elas
acabam ganhando muito mais dinheiro Nessa perspectiva a Internet eacute vista por Shapiro e
Varian (1999 p106) como ldquoum modo maravilhoso de oferecer amostras graacutetis do conteuacutedo
da informaccedilatildeordquo E enquanto especialistas discutem a maneira mais adequada de propaganda
na Web Shapiro e varian satildeo categoacutericos a Internet eacute ideal para ldquoinfomerciais11rdquo ou seja
estrateacutegia que fisga o leitor atraveacutes do oferecimento do proacuteprio conteuacutedo Mas a duacutevida eacute
como vatildeo ganhar dinheiro se simplesmente doarem seu produto A resposta dos autores eacute
11 ldquoComerciais de longa duraccedilatildeo que aleacutem de explicar em detalhes as caracteriacuterticas (hellip) do produto transmitem ainda depoimentos de usuaacuterios e outras informaccedilotildees pertinentes ao bem ou serviccedilo anunciadordquo (SHAPIRO VARIAN 1999 p106)
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
doe somente parte de seu produto Eacute o princiacutepio claacutessico da amostra graacutetis mas com a
vantagem do insignificante custo de distribuiccedilatildeo ldquoO truque eacute dividir seu produto em
componentes dos quais alguns vocecirc daacute outros vocecirc vende As partes doadas satildeo os anuacutencios
ndash os infomerciais ndash das partes que vocecirc venderdquo
Os autores partem de um princiacutepio ergonocircmico para fundamentar suas hipoacuteteses hoje e
provavelmente por um bom tempo ningueacutem consegue ler um livro ou ateacute mesmo um artigo
de revista muito extenso com os olhos fixos em um monitor Eacute simplesmente muito
cansativo Segundo Shapiro e Varian pesquisas mostram que os usuaacuterios da web em geral
lecircem apenas duas telas de conteuacutedo antes de clicarem para sair Dessa forma o deconforto
associado agrave leitura direta em monitores sugere que a empresa pode colocar grandes
quantidades de conteuacutedo on-line sem que isso prejudique as vendas de coacutepias impressas12
Eacute claro que se a versatildeo na Web for faacutecil de imprimir podemos supor que o usuaacuterios
estaratildeo tentados a fazecirc-lo Mas haacute uma estrateacutegia muito simples para tornar a impressatildeo
caseira um ato trabalhoso e desconfortaacutevel ldquoA melhor coisa a fazerrdquo escrevem ldquoeacute tornar a
versatildeo on-line faacutecil de folherar ndash muitas telas curtas muitos links ndash mas difiacutecil de imprimir
em sua totalidaderdquo
Natildeo eacute difiacutecil perceber que ateacute esse momento com palavras e propoacutesitos diferentes
Shapiro e Varian disseram as mesmas coisas que o coletivo Wu Ming em relaccedilatildeo ao negoacutecio
editorial As divergecircncias satildeo ideoloacutegicas pois os primeiros admitem como um verdadeiro
problema o ldquocontrabando de bitsrdquoe a ldquopirataria digitalrdquo dizendo ldquoTudo de que se precisa eacute
que haja vontade poliacutetica para defender os direitos de propriedade intelectualrdquo (idem p114)
Mas na verdade os autores consideram que os proprietaacuterios dos conteuacutedos satildeo
excessivamente conservadores a respeito de gestatildeo de suas propriedades intelectuais Eles
observam que tradicionalmente toda nova tecnologia de reproduccedilatildeo produz previsotildees
catastroacuteficas no mercado Para eles a histoacuteria da veiculaccedilatildeo dos filmes em viacutedeo eacute um caso
exemplar
Hollywood ficou petrificada com o advento dos gravadores de videocassete O setor de
televisatildeo deu entrada em processos para impedir a coacutepia domeacutestica de programas de TV e a
Disney tentou distinguir as compras dos alugueacuteis de viacutedeo por meio de arranjos de
licenciamento Todas essas tentativas fracassaram Ironicamente Hollywood ganha hoje mais
com os viacutedeos do que com as apresentaccedilotildees em cinemas na maioria das produccedilotildees O mercado
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
de vendas e de aluguel de viacutedeos antes tatildeo temido tornou-se uma imensa fonte de receita para
Hollywood (SHAPIRO VARIAN 1999 p17)
As proacuteprias bibliotecas satildeo um exemplo de uma inovaccedilatildeo que primeiro pareceu ameaccedilar o
setor editorial mas acabou por ampliaacute-lo imensamente (idem p115) A loacutegica eacute simples o
acesso agrave obras gratuitas forma o gosto de leitores que mais tarde compraratildeo livros Shapiro e
Varian percebem que perante os desafios da era digital haacute uma tendecircncia natural para que os
produtores se preocupem demais em lsquoprotegerrsquo sua propriedade intelectual Mas para eles o
importante eacute lsquomaximizarrsquo o valor da propriedade intelectual natildeo protegecirc-la pela pura
proteccedilatildeo ldquoSe vocecirc perde um pouco de sua propriedade quando a vende ou aluga esses eacute
apenas um dos custos de fazer negoacutecios juntamente com a depreciaccedilatildeo as perdas de estoque
e a obsolecircnciardquo
Ao mesmo tempo sabenos que existem muitos outros recursos para motivar a compra do
consumidor mesmo quando se tratam de bens culturais Moles (1974) ensina que o
mecanismo baacutesico da publicidade consiste em acrescentar um valor psicoloacutegico ao valor
propriamente utilitaacuterio do produto explorando portanto as emoccedilotildees secundaacuterias do
consumidor A publicidade alimenta artificialmente um desejo e sobretudo atraveacutes da
repeticcedilatildeo pelos meios de comunicaccedilatildeo primeiro convence que essa vontade eacute uma
necessidade essencial e depois promete satisfazecirc-la atraveacutes dos valores associados ao objeto
de consumo Na verdade natildeo satildeo vendidos produtos mas status social estilos sensaccedilotildees
impressotildees Isso quer dizer que os anuacutencios publicitaacuterios natildeo oferecem sabonetes mas
possibilidade de beleza natildeo anunciam automoacuteveis mas o prazer da velocidade e de poder
natildeo querem vender cigarro mas sentimento de juventude e de liberdade Em outras palavras
a publicidade complica a vida para oferecer a possibilidade de resolvecirc-la por meio do
consumo Assim podemos dizer que o mercado da cultura tambeacutem vive da venda de status
de prestiacutegio intelectual e natildeo apenas de conhecimento Basta pensar em quantos livros
compramos por lsquoimpulsorsquo mesmo sabendo que talvez nunca o leremos Ou quantos CDs
adquirimos para ouviacute-los algumas poucas vezes e guardaacute-los na estante Ou quantas fitas de
viacutedeo ou DVDs de filmes que jaacute vimos noacutes compramos para guardar mas nunca assistimos
porque estamos sempre alugando outros filmes
12 ldquoA Nacional Academy os Science Press pocircs on-line mais de mil de seus livros e descobriu que a disponibilidade das versotildees eletrocircnicas impulsionou as vendas de coacutepias impressas em duas a trecircs vezesrdquo (idem p107)
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
Mas haacute um outro movimento juriacutedico contemporacircneo que parece ter o potencial de
provocar uma discussatildeo sobretudo filosoacutefica na economia da cultura no capitalismo do seacuteculo
XXI O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio
Vargas no Rio de Janeiro cujo objetivo eacute estudar implicaccedilotildees juriacutedicas sociais e culturais do
avanccedilo da tecnologia da informaccedilatildeo vem desenvolvendo estudos importantes nas aacutereas de
propriedade intelectual software livre governanccedila da web e privacidade na Internet O CTS eacute
o oacutergatildeo responsaacutevel pela direccedilatildeo no Brasil do projeto Creative Commons uma iniciativa
criada por Lawrence Lessig na Universidade de Stanford (EUA) O CTS adaptou as licenccedilas
do Creative Commons para o ordenamento juriacutedico brasileiro e fez com que o Brasil se
tornasse pioneiro no desenvolvimento de licenccedilas CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL
atualmente utilizadas pelo governo para o licenciamento de software livre
Uma das principais caracteriacutesticas do direito autoral claacutessico eacute que ele funciona como um
grande NAtildeO Isto quer dizer que para utilizar qualquer conteuacutedo eacute necessaacuterio pedir permissatildeo ao seu autor ou titular de direitos No sistema juriacutedico da propriedade intelectual adotado no Brasil ateacute mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jaacute nascem com todos os direitos reservados
Apesar disto muitos autores e titulares de direitos natildeo se importam que outras pessoas tenham acesso aos seus trabalhos Um muacutesico um videomaker ou uma escritora podem desejar justamente o contraacuterio o amplo acesso agraves suas obras ou eventualmente que seus trabalho sejam reinterpretandos reconstruiacutedos e recriados por outras pessoas
Assim o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitos possa dizer ao mundo que ele natildeo se opotildee agrave utilizaccedilatildeo de sua obra no que diz respeito agrave distribuiccedilatildeo coacutepia e outros tipos de uso
O Creative Commons eacute um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativas disponiacuteveis ao puacuteblico permitindo criar outras obras sobre elas compartilhando-as Isso eacute feito atraveacutes do desenvolvimento e disponibilizaccedilatildeo de licenccedilas juriacutedicas que permitem o acesso agraves obras pelo puacuteblico sob condiccedilotildees mais flexiacuteveis (FGV 2005)
Existem uma seacuterie de modalidades de licenccedila e cada uma delas concede direitos e deveres
especiacuteficos Haacute licenccedilas que por exemplo permitem a divulgaccedilatildeo da obra mas proiacutebem o uso
comercial Outras permitem a utilizaccedilatildeo da obra em outros trabalhos Haacute tambeacutem licenccedilas
que permitem o sampleamento remixagem colagem e outras formas criativas de
reconstruccedilatildeo da obra permitindo uma enorme explosatildeo de possibilidades criativas Dessa
forma a riacutegida locuccedilatildeo todos os direitos reservados eacute substituiacuteda por alguns direitos
reservados propondo assim uma universalidade de bens intelectuais criativos acessiacuteveis a
todos que eacute condiccedilatildeo fundamental para qualquer inovaccedilatildeo cultural e tecnoloacutegica (idem
2005) Assim as novas formas de apropriaccedilatildeo cultural na sociedade da informaccedilatildeo jaacute
comeccedilam a organizar respaldo juriacutedico atraveacutes de movimentos internacionais de
questionamento agrave pertinecircncia das velhas regulaccedilotildees autorais frente agraves exponenciais
possibilidades dos intercacircmbios mediatizados
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
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Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
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reproduccedilatildeo Dessa forma o copyright tornou-se na visatildeo do Wu Ming ldquouma arma que
dispara na multidatildeordquo10 (WU MING 1 2003) ndash mas sem muito efeito poderiacuteamos acrescentar
Nesse contexto observando sua proacutepria experiecircncia editorial esse coletivo literaacuterio
percebeu um fenocircmeno curioso e aparentemente paradoxal natildeo haacute relaccedilatildeo direta entre
ldquocoacutepias oficiais natildeo vendidasrdquo e ldquocoacutepias pirateadasrdquo Em outras palavras as coacutepias natildeo
influenciam na vendagem das obras ldquoEm realidade editorialmente quanto mais uma obra
circula mais venderdquo Ou seja quanto mais democratizada maiores os lucros O exemplo
paradigmaacutetico eacute a obra Q de Luther Blisset editado por eles que vendeu mais de 2 milhotildees
de coacutepias apesar de ndash ou melhor justamente devido ao copyleft O sujeito copia o livro seja
porque natildeo tem dinheiro seja porque natildeo quer comprar lsquono escurorsquo e gosta do que leu
Decide indicar ou mesmo dar de presente a algueacutem mas natildeo quer dar uma coacutepia qualquer
Pronto compra o livro A pessoa presenteada tambeacutem gosta e passa a indicar ou presentear
outras com o mesmo livro Uma coacutepia dois ou trecircs livros vendidos Simples assim
Para o Wu Ming se a maioria dos editores natildeo perceberam essa dinacircmica foi mais por
questatildeo ideoloacutegica que mercadoloacutegica ldquoA editoraccedilatildeo natildeo estaacute em risco de extinccedilatildeo como a
induacutestria fonograacutefica a loacutegica eacute outra outros os suportes outros os circuitos outro o modo de
fruiccedilatildeo e sobretudo a editoraccedilatildeo natildeo perdeu ainda a cabeccedila natildeo reagiu com retaliaccedilotildees em
massa denuacutencias e processos agrave grande revoluccedilatildeo tecnoloacutegica que democratiza o acesso aos
meios de reproduccedilatildeordquo (WU MING 2003)
A estrateacutegia da induacutestria
Seraacute que estamos mesmo prestes a assistir ao desmoronamento da induacutestria cultural Seraacute
que os legisladores precisaratildeo reescrever todas as regras de direitos autorais para responder ao
novo momento tecnoloacutegico-cultural do seacuteculo XXI Shapiro e Varian (1999 p103)
argumentam que natildeo Na verdade eles defendem que muitos princiacutepios claacutessicos da economia
ainda satildeo perfeitamente vaacutelidos para essas situaccedilotildees ldquoO que mudou eacute que a Internet e a
tecnologia da informaccedilatildeo em geral oferecem oportunidades e desafios novos para a aplicaccedilatildeo
desses princiacutepiosrdquo Assim acreditam que os donos de propriedade intelectual seratildeo
naturalmente capazes de superar as lsquoameaccedilasrsquo da reproduccedilatildeo digital atraveacutes de estrateacutegias
semelhantes as quais superaram os desafios provocados pela tecnologia no passado ldquoAs
10 A Disney chegou a levar vaacuterias creches americanas aos tribunais por exibirem desenhos animados em viacutedeo sem licenccedila formal Na deacutecada de 90 a empresa ameaccedilou processar trecircs creches da Floacuterida que haviam pintado personagens da Disney em suas paredes (SHAPIRO VARIAN 1999 p109)
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novas oportunidades oferecidas pela reproduccedilatildeo digital excedem em muito os problemasrdquo
(SHAPIRO VARIAN 1999 p104)
Todas as facilidades da tecnologia digital satildeo elencadas para dar suporte ao otimismo dos
autores sobretudo os baixos custos de reproduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo ldquoNatildeo lute contra os custos
de distribuiccedilatildeo mais baixosrdquo aconselham ldquotire vantagem delesrdquo Para isso eacute preciso que
negociantes saibam lidar com o que os economistas chamam de ldquobem da experiecircnciardquo
O objeto de consumo eacute chamado de ldquobem da experiecircnciardquo (idem p18) quando os
fregueses precisam experimentar o produto antes de atribuir-lhes valor Qualquer novidade no
mercado eacute potencialmente um bem da experiecircncia e os publicitaacuterios contam com meacutetodos
claacutessicos de propaganda nesses casos promoccedilatildeo atraveacutes de reduccedilatildeo comparativa de preccedilo
depoimentos de famosos e anocircnimos e a infaliacutevel distribuiccedilatildeo de amostras graacutetis de pequenas
quantidades do produto a ser anunciado Eis mais uma pista Voltaremos a ela adiante
A induacutestria da informaccedilatildeo tecircm tambeacutem seus meacutetodos claacutessicos para fazer com que os
consumidores comprem o bem simboacutelico antes de ter certeza se o que estatildeo adquirindo vale o
preccedilo que pagam antecipadamente Primeiramente da mesma forma que em supermercados eacute
possiacutevel bebericar gratuitamente uma nova marca de iogurte em promoccedilotildees de lanccedilamento
existem formas de experimentar o ldquogostinhordquo do produto cultural Eacute possiacutevel ler as manchetes
de capa do jornal o trailer do filme etc Evidentemente isso eacute apenas uma parte da histoacuteria
Os produtos de sucesso superam o problema do ldquobem da experiecircnciardquo por meio da promoccedilatildeo
de sua ldquomarcardquo e sua ldquoreputaccedilatildeordquo Mas natildeo pretendemos entrar nessa discussatildeo pois natildeo cabe
na abordagem que restringe este artigo
Pois bem as grandes lojas de livros tornaram o ato de folhear mais confortaacutevel oferecendo
poltronas aacutereas abertas e cafeacutes porque haacute tempos jaacute sabem que essa estrateacutegia empresarial
impulsiona a venda de livros Ao lsquooferecerem gratuitamentersquo parte de seu produto elas
acabam ganhando muito mais dinheiro Nessa perspectiva a Internet eacute vista por Shapiro e
Varian (1999 p106) como ldquoum modo maravilhoso de oferecer amostras graacutetis do conteuacutedo
da informaccedilatildeordquo E enquanto especialistas discutem a maneira mais adequada de propaganda
na Web Shapiro e varian satildeo categoacutericos a Internet eacute ideal para ldquoinfomerciais11rdquo ou seja
estrateacutegia que fisga o leitor atraveacutes do oferecimento do proacuteprio conteuacutedo Mas a duacutevida eacute
como vatildeo ganhar dinheiro se simplesmente doarem seu produto A resposta dos autores eacute
11 ldquoComerciais de longa duraccedilatildeo que aleacutem de explicar em detalhes as caracteriacuterticas (hellip) do produto transmitem ainda depoimentos de usuaacuterios e outras informaccedilotildees pertinentes ao bem ou serviccedilo anunciadordquo (SHAPIRO VARIAN 1999 p106)
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doe somente parte de seu produto Eacute o princiacutepio claacutessico da amostra graacutetis mas com a
vantagem do insignificante custo de distribuiccedilatildeo ldquoO truque eacute dividir seu produto em
componentes dos quais alguns vocecirc daacute outros vocecirc vende As partes doadas satildeo os anuacutencios
ndash os infomerciais ndash das partes que vocecirc venderdquo
Os autores partem de um princiacutepio ergonocircmico para fundamentar suas hipoacuteteses hoje e
provavelmente por um bom tempo ningueacutem consegue ler um livro ou ateacute mesmo um artigo
de revista muito extenso com os olhos fixos em um monitor Eacute simplesmente muito
cansativo Segundo Shapiro e Varian pesquisas mostram que os usuaacuterios da web em geral
lecircem apenas duas telas de conteuacutedo antes de clicarem para sair Dessa forma o deconforto
associado agrave leitura direta em monitores sugere que a empresa pode colocar grandes
quantidades de conteuacutedo on-line sem que isso prejudique as vendas de coacutepias impressas12
Eacute claro que se a versatildeo na Web for faacutecil de imprimir podemos supor que o usuaacuterios
estaratildeo tentados a fazecirc-lo Mas haacute uma estrateacutegia muito simples para tornar a impressatildeo
caseira um ato trabalhoso e desconfortaacutevel ldquoA melhor coisa a fazerrdquo escrevem ldquoeacute tornar a
versatildeo on-line faacutecil de folherar ndash muitas telas curtas muitos links ndash mas difiacutecil de imprimir
em sua totalidaderdquo
Natildeo eacute difiacutecil perceber que ateacute esse momento com palavras e propoacutesitos diferentes
Shapiro e Varian disseram as mesmas coisas que o coletivo Wu Ming em relaccedilatildeo ao negoacutecio
editorial As divergecircncias satildeo ideoloacutegicas pois os primeiros admitem como um verdadeiro
problema o ldquocontrabando de bitsrdquoe a ldquopirataria digitalrdquo dizendo ldquoTudo de que se precisa eacute
que haja vontade poliacutetica para defender os direitos de propriedade intelectualrdquo (idem p114)
Mas na verdade os autores consideram que os proprietaacuterios dos conteuacutedos satildeo
excessivamente conservadores a respeito de gestatildeo de suas propriedades intelectuais Eles
observam que tradicionalmente toda nova tecnologia de reproduccedilatildeo produz previsotildees
catastroacuteficas no mercado Para eles a histoacuteria da veiculaccedilatildeo dos filmes em viacutedeo eacute um caso
exemplar
Hollywood ficou petrificada com o advento dos gravadores de videocassete O setor de
televisatildeo deu entrada em processos para impedir a coacutepia domeacutestica de programas de TV e a
Disney tentou distinguir as compras dos alugueacuteis de viacutedeo por meio de arranjos de
licenciamento Todas essas tentativas fracassaram Ironicamente Hollywood ganha hoje mais
com os viacutedeos do que com as apresentaccedilotildees em cinemas na maioria das produccedilotildees O mercado
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de vendas e de aluguel de viacutedeos antes tatildeo temido tornou-se uma imensa fonte de receita para
Hollywood (SHAPIRO VARIAN 1999 p17)
As proacuteprias bibliotecas satildeo um exemplo de uma inovaccedilatildeo que primeiro pareceu ameaccedilar o
setor editorial mas acabou por ampliaacute-lo imensamente (idem p115) A loacutegica eacute simples o
acesso agrave obras gratuitas forma o gosto de leitores que mais tarde compraratildeo livros Shapiro e
Varian percebem que perante os desafios da era digital haacute uma tendecircncia natural para que os
produtores se preocupem demais em lsquoprotegerrsquo sua propriedade intelectual Mas para eles o
importante eacute lsquomaximizarrsquo o valor da propriedade intelectual natildeo protegecirc-la pela pura
proteccedilatildeo ldquoSe vocecirc perde um pouco de sua propriedade quando a vende ou aluga esses eacute
apenas um dos custos de fazer negoacutecios juntamente com a depreciaccedilatildeo as perdas de estoque
e a obsolecircnciardquo
Ao mesmo tempo sabenos que existem muitos outros recursos para motivar a compra do
consumidor mesmo quando se tratam de bens culturais Moles (1974) ensina que o
mecanismo baacutesico da publicidade consiste em acrescentar um valor psicoloacutegico ao valor
propriamente utilitaacuterio do produto explorando portanto as emoccedilotildees secundaacuterias do
consumidor A publicidade alimenta artificialmente um desejo e sobretudo atraveacutes da
repeticcedilatildeo pelos meios de comunicaccedilatildeo primeiro convence que essa vontade eacute uma
necessidade essencial e depois promete satisfazecirc-la atraveacutes dos valores associados ao objeto
de consumo Na verdade natildeo satildeo vendidos produtos mas status social estilos sensaccedilotildees
impressotildees Isso quer dizer que os anuacutencios publicitaacuterios natildeo oferecem sabonetes mas
possibilidade de beleza natildeo anunciam automoacuteveis mas o prazer da velocidade e de poder
natildeo querem vender cigarro mas sentimento de juventude e de liberdade Em outras palavras
a publicidade complica a vida para oferecer a possibilidade de resolvecirc-la por meio do
consumo Assim podemos dizer que o mercado da cultura tambeacutem vive da venda de status
de prestiacutegio intelectual e natildeo apenas de conhecimento Basta pensar em quantos livros
compramos por lsquoimpulsorsquo mesmo sabendo que talvez nunca o leremos Ou quantos CDs
adquirimos para ouviacute-los algumas poucas vezes e guardaacute-los na estante Ou quantas fitas de
viacutedeo ou DVDs de filmes que jaacute vimos noacutes compramos para guardar mas nunca assistimos
porque estamos sempre alugando outros filmes
12 ldquoA Nacional Academy os Science Press pocircs on-line mais de mil de seus livros e descobriu que a disponibilidade das versotildees eletrocircnicas impulsionou as vendas de coacutepias impressas em duas a trecircs vezesrdquo (idem p107)
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
Mas haacute um outro movimento juriacutedico contemporacircneo que parece ter o potencial de
provocar uma discussatildeo sobretudo filosoacutefica na economia da cultura no capitalismo do seacuteculo
XXI O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio
Vargas no Rio de Janeiro cujo objetivo eacute estudar implicaccedilotildees juriacutedicas sociais e culturais do
avanccedilo da tecnologia da informaccedilatildeo vem desenvolvendo estudos importantes nas aacutereas de
propriedade intelectual software livre governanccedila da web e privacidade na Internet O CTS eacute
o oacutergatildeo responsaacutevel pela direccedilatildeo no Brasil do projeto Creative Commons uma iniciativa
criada por Lawrence Lessig na Universidade de Stanford (EUA) O CTS adaptou as licenccedilas
do Creative Commons para o ordenamento juriacutedico brasileiro e fez com que o Brasil se
tornasse pioneiro no desenvolvimento de licenccedilas CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL
atualmente utilizadas pelo governo para o licenciamento de software livre
Uma das principais caracteriacutesticas do direito autoral claacutessico eacute que ele funciona como um
grande NAtildeO Isto quer dizer que para utilizar qualquer conteuacutedo eacute necessaacuterio pedir permissatildeo ao seu autor ou titular de direitos No sistema juriacutedico da propriedade intelectual adotado no Brasil ateacute mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jaacute nascem com todos os direitos reservados
Apesar disto muitos autores e titulares de direitos natildeo se importam que outras pessoas tenham acesso aos seus trabalhos Um muacutesico um videomaker ou uma escritora podem desejar justamente o contraacuterio o amplo acesso agraves suas obras ou eventualmente que seus trabalho sejam reinterpretandos reconstruiacutedos e recriados por outras pessoas
Assim o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitos possa dizer ao mundo que ele natildeo se opotildee agrave utilizaccedilatildeo de sua obra no que diz respeito agrave distribuiccedilatildeo coacutepia e outros tipos de uso
O Creative Commons eacute um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativas disponiacuteveis ao puacuteblico permitindo criar outras obras sobre elas compartilhando-as Isso eacute feito atraveacutes do desenvolvimento e disponibilizaccedilatildeo de licenccedilas juriacutedicas que permitem o acesso agraves obras pelo puacuteblico sob condiccedilotildees mais flexiacuteveis (FGV 2005)
Existem uma seacuterie de modalidades de licenccedila e cada uma delas concede direitos e deveres
especiacuteficos Haacute licenccedilas que por exemplo permitem a divulgaccedilatildeo da obra mas proiacutebem o uso
comercial Outras permitem a utilizaccedilatildeo da obra em outros trabalhos Haacute tambeacutem licenccedilas
que permitem o sampleamento remixagem colagem e outras formas criativas de
reconstruccedilatildeo da obra permitindo uma enorme explosatildeo de possibilidades criativas Dessa
forma a riacutegida locuccedilatildeo todos os direitos reservados eacute substituiacuteda por alguns direitos
reservados propondo assim uma universalidade de bens intelectuais criativos acessiacuteveis a
todos que eacute condiccedilatildeo fundamental para qualquer inovaccedilatildeo cultural e tecnoloacutegica (idem
2005) Assim as novas formas de apropriaccedilatildeo cultural na sociedade da informaccedilatildeo jaacute
comeccedilam a organizar respaldo juriacutedico atraveacutes de movimentos internacionais de
questionamento agrave pertinecircncia das velhas regulaccedilotildees autorais frente agraves exponenciais
possibilidades dos intercacircmbios mediatizados
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
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novas oportunidades oferecidas pela reproduccedilatildeo digital excedem em muito os problemasrdquo
(SHAPIRO VARIAN 1999 p104)
Todas as facilidades da tecnologia digital satildeo elencadas para dar suporte ao otimismo dos
autores sobretudo os baixos custos de reproduccedilatildeo e distribuiccedilatildeo ldquoNatildeo lute contra os custos
de distribuiccedilatildeo mais baixosrdquo aconselham ldquotire vantagem delesrdquo Para isso eacute preciso que
negociantes saibam lidar com o que os economistas chamam de ldquobem da experiecircnciardquo
O objeto de consumo eacute chamado de ldquobem da experiecircnciardquo (idem p18) quando os
fregueses precisam experimentar o produto antes de atribuir-lhes valor Qualquer novidade no
mercado eacute potencialmente um bem da experiecircncia e os publicitaacuterios contam com meacutetodos
claacutessicos de propaganda nesses casos promoccedilatildeo atraveacutes de reduccedilatildeo comparativa de preccedilo
depoimentos de famosos e anocircnimos e a infaliacutevel distribuiccedilatildeo de amostras graacutetis de pequenas
quantidades do produto a ser anunciado Eis mais uma pista Voltaremos a ela adiante
A induacutestria da informaccedilatildeo tecircm tambeacutem seus meacutetodos claacutessicos para fazer com que os
consumidores comprem o bem simboacutelico antes de ter certeza se o que estatildeo adquirindo vale o
preccedilo que pagam antecipadamente Primeiramente da mesma forma que em supermercados eacute
possiacutevel bebericar gratuitamente uma nova marca de iogurte em promoccedilotildees de lanccedilamento
existem formas de experimentar o ldquogostinhordquo do produto cultural Eacute possiacutevel ler as manchetes
de capa do jornal o trailer do filme etc Evidentemente isso eacute apenas uma parte da histoacuteria
Os produtos de sucesso superam o problema do ldquobem da experiecircnciardquo por meio da promoccedilatildeo
de sua ldquomarcardquo e sua ldquoreputaccedilatildeordquo Mas natildeo pretendemos entrar nessa discussatildeo pois natildeo cabe
na abordagem que restringe este artigo
Pois bem as grandes lojas de livros tornaram o ato de folhear mais confortaacutevel oferecendo
poltronas aacutereas abertas e cafeacutes porque haacute tempos jaacute sabem que essa estrateacutegia empresarial
impulsiona a venda de livros Ao lsquooferecerem gratuitamentersquo parte de seu produto elas
acabam ganhando muito mais dinheiro Nessa perspectiva a Internet eacute vista por Shapiro e
Varian (1999 p106) como ldquoum modo maravilhoso de oferecer amostras graacutetis do conteuacutedo
da informaccedilatildeordquo E enquanto especialistas discutem a maneira mais adequada de propaganda
na Web Shapiro e varian satildeo categoacutericos a Internet eacute ideal para ldquoinfomerciais11rdquo ou seja
estrateacutegia que fisga o leitor atraveacutes do oferecimento do proacuteprio conteuacutedo Mas a duacutevida eacute
como vatildeo ganhar dinheiro se simplesmente doarem seu produto A resposta dos autores eacute
11 ldquoComerciais de longa duraccedilatildeo que aleacutem de explicar em detalhes as caracteriacuterticas (hellip) do produto transmitem ainda depoimentos de usuaacuterios e outras informaccedilotildees pertinentes ao bem ou serviccedilo anunciadordquo (SHAPIRO VARIAN 1999 p106)
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doe somente parte de seu produto Eacute o princiacutepio claacutessico da amostra graacutetis mas com a
vantagem do insignificante custo de distribuiccedilatildeo ldquoO truque eacute dividir seu produto em
componentes dos quais alguns vocecirc daacute outros vocecirc vende As partes doadas satildeo os anuacutencios
ndash os infomerciais ndash das partes que vocecirc venderdquo
Os autores partem de um princiacutepio ergonocircmico para fundamentar suas hipoacuteteses hoje e
provavelmente por um bom tempo ningueacutem consegue ler um livro ou ateacute mesmo um artigo
de revista muito extenso com os olhos fixos em um monitor Eacute simplesmente muito
cansativo Segundo Shapiro e Varian pesquisas mostram que os usuaacuterios da web em geral
lecircem apenas duas telas de conteuacutedo antes de clicarem para sair Dessa forma o deconforto
associado agrave leitura direta em monitores sugere que a empresa pode colocar grandes
quantidades de conteuacutedo on-line sem que isso prejudique as vendas de coacutepias impressas12
Eacute claro que se a versatildeo na Web for faacutecil de imprimir podemos supor que o usuaacuterios
estaratildeo tentados a fazecirc-lo Mas haacute uma estrateacutegia muito simples para tornar a impressatildeo
caseira um ato trabalhoso e desconfortaacutevel ldquoA melhor coisa a fazerrdquo escrevem ldquoeacute tornar a
versatildeo on-line faacutecil de folherar ndash muitas telas curtas muitos links ndash mas difiacutecil de imprimir
em sua totalidaderdquo
Natildeo eacute difiacutecil perceber que ateacute esse momento com palavras e propoacutesitos diferentes
Shapiro e Varian disseram as mesmas coisas que o coletivo Wu Ming em relaccedilatildeo ao negoacutecio
editorial As divergecircncias satildeo ideoloacutegicas pois os primeiros admitem como um verdadeiro
problema o ldquocontrabando de bitsrdquoe a ldquopirataria digitalrdquo dizendo ldquoTudo de que se precisa eacute
que haja vontade poliacutetica para defender os direitos de propriedade intelectualrdquo (idem p114)
Mas na verdade os autores consideram que os proprietaacuterios dos conteuacutedos satildeo
excessivamente conservadores a respeito de gestatildeo de suas propriedades intelectuais Eles
observam que tradicionalmente toda nova tecnologia de reproduccedilatildeo produz previsotildees
catastroacuteficas no mercado Para eles a histoacuteria da veiculaccedilatildeo dos filmes em viacutedeo eacute um caso
exemplar
Hollywood ficou petrificada com o advento dos gravadores de videocassete O setor de
televisatildeo deu entrada em processos para impedir a coacutepia domeacutestica de programas de TV e a
Disney tentou distinguir as compras dos alugueacuteis de viacutedeo por meio de arranjos de
licenciamento Todas essas tentativas fracassaram Ironicamente Hollywood ganha hoje mais
com os viacutedeos do que com as apresentaccedilotildees em cinemas na maioria das produccedilotildees O mercado
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de vendas e de aluguel de viacutedeos antes tatildeo temido tornou-se uma imensa fonte de receita para
Hollywood (SHAPIRO VARIAN 1999 p17)
As proacuteprias bibliotecas satildeo um exemplo de uma inovaccedilatildeo que primeiro pareceu ameaccedilar o
setor editorial mas acabou por ampliaacute-lo imensamente (idem p115) A loacutegica eacute simples o
acesso agrave obras gratuitas forma o gosto de leitores que mais tarde compraratildeo livros Shapiro e
Varian percebem que perante os desafios da era digital haacute uma tendecircncia natural para que os
produtores se preocupem demais em lsquoprotegerrsquo sua propriedade intelectual Mas para eles o
importante eacute lsquomaximizarrsquo o valor da propriedade intelectual natildeo protegecirc-la pela pura
proteccedilatildeo ldquoSe vocecirc perde um pouco de sua propriedade quando a vende ou aluga esses eacute
apenas um dos custos de fazer negoacutecios juntamente com a depreciaccedilatildeo as perdas de estoque
e a obsolecircnciardquo
Ao mesmo tempo sabenos que existem muitos outros recursos para motivar a compra do
consumidor mesmo quando se tratam de bens culturais Moles (1974) ensina que o
mecanismo baacutesico da publicidade consiste em acrescentar um valor psicoloacutegico ao valor
propriamente utilitaacuterio do produto explorando portanto as emoccedilotildees secundaacuterias do
consumidor A publicidade alimenta artificialmente um desejo e sobretudo atraveacutes da
repeticcedilatildeo pelos meios de comunicaccedilatildeo primeiro convence que essa vontade eacute uma
necessidade essencial e depois promete satisfazecirc-la atraveacutes dos valores associados ao objeto
de consumo Na verdade natildeo satildeo vendidos produtos mas status social estilos sensaccedilotildees
impressotildees Isso quer dizer que os anuacutencios publicitaacuterios natildeo oferecem sabonetes mas
possibilidade de beleza natildeo anunciam automoacuteveis mas o prazer da velocidade e de poder
natildeo querem vender cigarro mas sentimento de juventude e de liberdade Em outras palavras
a publicidade complica a vida para oferecer a possibilidade de resolvecirc-la por meio do
consumo Assim podemos dizer que o mercado da cultura tambeacutem vive da venda de status
de prestiacutegio intelectual e natildeo apenas de conhecimento Basta pensar em quantos livros
compramos por lsquoimpulsorsquo mesmo sabendo que talvez nunca o leremos Ou quantos CDs
adquirimos para ouviacute-los algumas poucas vezes e guardaacute-los na estante Ou quantas fitas de
viacutedeo ou DVDs de filmes que jaacute vimos noacutes compramos para guardar mas nunca assistimos
porque estamos sempre alugando outros filmes
12 ldquoA Nacional Academy os Science Press pocircs on-line mais de mil de seus livros e descobriu que a disponibilidade das versotildees eletrocircnicas impulsionou as vendas de coacutepias impressas em duas a trecircs vezesrdquo (idem p107)
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Mas haacute um outro movimento juriacutedico contemporacircneo que parece ter o potencial de
provocar uma discussatildeo sobretudo filosoacutefica na economia da cultura no capitalismo do seacuteculo
XXI O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio
Vargas no Rio de Janeiro cujo objetivo eacute estudar implicaccedilotildees juriacutedicas sociais e culturais do
avanccedilo da tecnologia da informaccedilatildeo vem desenvolvendo estudos importantes nas aacutereas de
propriedade intelectual software livre governanccedila da web e privacidade na Internet O CTS eacute
o oacutergatildeo responsaacutevel pela direccedilatildeo no Brasil do projeto Creative Commons uma iniciativa
criada por Lawrence Lessig na Universidade de Stanford (EUA) O CTS adaptou as licenccedilas
do Creative Commons para o ordenamento juriacutedico brasileiro e fez com que o Brasil se
tornasse pioneiro no desenvolvimento de licenccedilas CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL
atualmente utilizadas pelo governo para o licenciamento de software livre
Uma das principais caracteriacutesticas do direito autoral claacutessico eacute que ele funciona como um
grande NAtildeO Isto quer dizer que para utilizar qualquer conteuacutedo eacute necessaacuterio pedir permissatildeo ao seu autor ou titular de direitos No sistema juriacutedico da propriedade intelectual adotado no Brasil ateacute mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jaacute nascem com todos os direitos reservados
Apesar disto muitos autores e titulares de direitos natildeo se importam que outras pessoas tenham acesso aos seus trabalhos Um muacutesico um videomaker ou uma escritora podem desejar justamente o contraacuterio o amplo acesso agraves suas obras ou eventualmente que seus trabalho sejam reinterpretandos reconstruiacutedos e recriados por outras pessoas
Assim o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitos possa dizer ao mundo que ele natildeo se opotildee agrave utilizaccedilatildeo de sua obra no que diz respeito agrave distribuiccedilatildeo coacutepia e outros tipos de uso
O Creative Commons eacute um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativas disponiacuteveis ao puacuteblico permitindo criar outras obras sobre elas compartilhando-as Isso eacute feito atraveacutes do desenvolvimento e disponibilizaccedilatildeo de licenccedilas juriacutedicas que permitem o acesso agraves obras pelo puacuteblico sob condiccedilotildees mais flexiacuteveis (FGV 2005)
Existem uma seacuterie de modalidades de licenccedila e cada uma delas concede direitos e deveres
especiacuteficos Haacute licenccedilas que por exemplo permitem a divulgaccedilatildeo da obra mas proiacutebem o uso
comercial Outras permitem a utilizaccedilatildeo da obra em outros trabalhos Haacute tambeacutem licenccedilas
que permitem o sampleamento remixagem colagem e outras formas criativas de
reconstruccedilatildeo da obra permitindo uma enorme explosatildeo de possibilidades criativas Dessa
forma a riacutegida locuccedilatildeo todos os direitos reservados eacute substituiacuteda por alguns direitos
reservados propondo assim uma universalidade de bens intelectuais criativos acessiacuteveis a
todos que eacute condiccedilatildeo fundamental para qualquer inovaccedilatildeo cultural e tecnoloacutegica (idem
2005) Assim as novas formas de apropriaccedilatildeo cultural na sociedade da informaccedilatildeo jaacute
comeccedilam a organizar respaldo juriacutedico atraveacutes de movimentos internacionais de
questionamento agrave pertinecircncia das velhas regulaccedilotildees autorais frente agraves exponenciais
possibilidades dos intercacircmbios mediatizados
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Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
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Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
doe somente parte de seu produto Eacute o princiacutepio claacutessico da amostra graacutetis mas com a
vantagem do insignificante custo de distribuiccedilatildeo ldquoO truque eacute dividir seu produto em
componentes dos quais alguns vocecirc daacute outros vocecirc vende As partes doadas satildeo os anuacutencios
ndash os infomerciais ndash das partes que vocecirc venderdquo
Os autores partem de um princiacutepio ergonocircmico para fundamentar suas hipoacuteteses hoje e
provavelmente por um bom tempo ningueacutem consegue ler um livro ou ateacute mesmo um artigo
de revista muito extenso com os olhos fixos em um monitor Eacute simplesmente muito
cansativo Segundo Shapiro e Varian pesquisas mostram que os usuaacuterios da web em geral
lecircem apenas duas telas de conteuacutedo antes de clicarem para sair Dessa forma o deconforto
associado agrave leitura direta em monitores sugere que a empresa pode colocar grandes
quantidades de conteuacutedo on-line sem que isso prejudique as vendas de coacutepias impressas12
Eacute claro que se a versatildeo na Web for faacutecil de imprimir podemos supor que o usuaacuterios
estaratildeo tentados a fazecirc-lo Mas haacute uma estrateacutegia muito simples para tornar a impressatildeo
caseira um ato trabalhoso e desconfortaacutevel ldquoA melhor coisa a fazerrdquo escrevem ldquoeacute tornar a
versatildeo on-line faacutecil de folherar ndash muitas telas curtas muitos links ndash mas difiacutecil de imprimir
em sua totalidaderdquo
Natildeo eacute difiacutecil perceber que ateacute esse momento com palavras e propoacutesitos diferentes
Shapiro e Varian disseram as mesmas coisas que o coletivo Wu Ming em relaccedilatildeo ao negoacutecio
editorial As divergecircncias satildeo ideoloacutegicas pois os primeiros admitem como um verdadeiro
problema o ldquocontrabando de bitsrdquoe a ldquopirataria digitalrdquo dizendo ldquoTudo de que se precisa eacute
que haja vontade poliacutetica para defender os direitos de propriedade intelectualrdquo (idem p114)
Mas na verdade os autores consideram que os proprietaacuterios dos conteuacutedos satildeo
excessivamente conservadores a respeito de gestatildeo de suas propriedades intelectuais Eles
observam que tradicionalmente toda nova tecnologia de reproduccedilatildeo produz previsotildees
catastroacuteficas no mercado Para eles a histoacuteria da veiculaccedilatildeo dos filmes em viacutedeo eacute um caso
exemplar
Hollywood ficou petrificada com o advento dos gravadores de videocassete O setor de
televisatildeo deu entrada em processos para impedir a coacutepia domeacutestica de programas de TV e a
Disney tentou distinguir as compras dos alugueacuteis de viacutedeo por meio de arranjos de
licenciamento Todas essas tentativas fracassaram Ironicamente Hollywood ganha hoje mais
com os viacutedeos do que com as apresentaccedilotildees em cinemas na maioria das produccedilotildees O mercado
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
de vendas e de aluguel de viacutedeos antes tatildeo temido tornou-se uma imensa fonte de receita para
Hollywood (SHAPIRO VARIAN 1999 p17)
As proacuteprias bibliotecas satildeo um exemplo de uma inovaccedilatildeo que primeiro pareceu ameaccedilar o
setor editorial mas acabou por ampliaacute-lo imensamente (idem p115) A loacutegica eacute simples o
acesso agrave obras gratuitas forma o gosto de leitores que mais tarde compraratildeo livros Shapiro e
Varian percebem que perante os desafios da era digital haacute uma tendecircncia natural para que os
produtores se preocupem demais em lsquoprotegerrsquo sua propriedade intelectual Mas para eles o
importante eacute lsquomaximizarrsquo o valor da propriedade intelectual natildeo protegecirc-la pela pura
proteccedilatildeo ldquoSe vocecirc perde um pouco de sua propriedade quando a vende ou aluga esses eacute
apenas um dos custos de fazer negoacutecios juntamente com a depreciaccedilatildeo as perdas de estoque
e a obsolecircnciardquo
Ao mesmo tempo sabenos que existem muitos outros recursos para motivar a compra do
consumidor mesmo quando se tratam de bens culturais Moles (1974) ensina que o
mecanismo baacutesico da publicidade consiste em acrescentar um valor psicoloacutegico ao valor
propriamente utilitaacuterio do produto explorando portanto as emoccedilotildees secundaacuterias do
consumidor A publicidade alimenta artificialmente um desejo e sobretudo atraveacutes da
repeticcedilatildeo pelos meios de comunicaccedilatildeo primeiro convence que essa vontade eacute uma
necessidade essencial e depois promete satisfazecirc-la atraveacutes dos valores associados ao objeto
de consumo Na verdade natildeo satildeo vendidos produtos mas status social estilos sensaccedilotildees
impressotildees Isso quer dizer que os anuacutencios publicitaacuterios natildeo oferecem sabonetes mas
possibilidade de beleza natildeo anunciam automoacuteveis mas o prazer da velocidade e de poder
natildeo querem vender cigarro mas sentimento de juventude e de liberdade Em outras palavras
a publicidade complica a vida para oferecer a possibilidade de resolvecirc-la por meio do
consumo Assim podemos dizer que o mercado da cultura tambeacutem vive da venda de status
de prestiacutegio intelectual e natildeo apenas de conhecimento Basta pensar em quantos livros
compramos por lsquoimpulsorsquo mesmo sabendo que talvez nunca o leremos Ou quantos CDs
adquirimos para ouviacute-los algumas poucas vezes e guardaacute-los na estante Ou quantas fitas de
viacutedeo ou DVDs de filmes que jaacute vimos noacutes compramos para guardar mas nunca assistimos
porque estamos sempre alugando outros filmes
12 ldquoA Nacional Academy os Science Press pocircs on-line mais de mil de seus livros e descobriu que a disponibilidade das versotildees eletrocircnicas impulsionou as vendas de coacutepias impressas em duas a trecircs vezesrdquo (idem p107)
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
Mas haacute um outro movimento juriacutedico contemporacircneo que parece ter o potencial de
provocar uma discussatildeo sobretudo filosoacutefica na economia da cultura no capitalismo do seacuteculo
XXI O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio
Vargas no Rio de Janeiro cujo objetivo eacute estudar implicaccedilotildees juriacutedicas sociais e culturais do
avanccedilo da tecnologia da informaccedilatildeo vem desenvolvendo estudos importantes nas aacutereas de
propriedade intelectual software livre governanccedila da web e privacidade na Internet O CTS eacute
o oacutergatildeo responsaacutevel pela direccedilatildeo no Brasil do projeto Creative Commons uma iniciativa
criada por Lawrence Lessig na Universidade de Stanford (EUA) O CTS adaptou as licenccedilas
do Creative Commons para o ordenamento juriacutedico brasileiro e fez com que o Brasil se
tornasse pioneiro no desenvolvimento de licenccedilas CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL
atualmente utilizadas pelo governo para o licenciamento de software livre
Uma das principais caracteriacutesticas do direito autoral claacutessico eacute que ele funciona como um
grande NAtildeO Isto quer dizer que para utilizar qualquer conteuacutedo eacute necessaacuterio pedir permissatildeo ao seu autor ou titular de direitos No sistema juriacutedico da propriedade intelectual adotado no Brasil ateacute mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jaacute nascem com todos os direitos reservados
Apesar disto muitos autores e titulares de direitos natildeo se importam que outras pessoas tenham acesso aos seus trabalhos Um muacutesico um videomaker ou uma escritora podem desejar justamente o contraacuterio o amplo acesso agraves suas obras ou eventualmente que seus trabalho sejam reinterpretandos reconstruiacutedos e recriados por outras pessoas
Assim o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitos possa dizer ao mundo que ele natildeo se opotildee agrave utilizaccedilatildeo de sua obra no que diz respeito agrave distribuiccedilatildeo coacutepia e outros tipos de uso
O Creative Commons eacute um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativas disponiacuteveis ao puacuteblico permitindo criar outras obras sobre elas compartilhando-as Isso eacute feito atraveacutes do desenvolvimento e disponibilizaccedilatildeo de licenccedilas juriacutedicas que permitem o acesso agraves obras pelo puacuteblico sob condiccedilotildees mais flexiacuteveis (FGV 2005)
Existem uma seacuterie de modalidades de licenccedila e cada uma delas concede direitos e deveres
especiacuteficos Haacute licenccedilas que por exemplo permitem a divulgaccedilatildeo da obra mas proiacutebem o uso
comercial Outras permitem a utilizaccedilatildeo da obra em outros trabalhos Haacute tambeacutem licenccedilas
que permitem o sampleamento remixagem colagem e outras formas criativas de
reconstruccedilatildeo da obra permitindo uma enorme explosatildeo de possibilidades criativas Dessa
forma a riacutegida locuccedilatildeo todos os direitos reservados eacute substituiacuteda por alguns direitos
reservados propondo assim uma universalidade de bens intelectuais criativos acessiacuteveis a
todos que eacute condiccedilatildeo fundamental para qualquer inovaccedilatildeo cultural e tecnoloacutegica (idem
2005) Assim as novas formas de apropriaccedilatildeo cultural na sociedade da informaccedilatildeo jaacute
comeccedilam a organizar respaldo juriacutedico atraveacutes de movimentos internacionais de
questionamento agrave pertinecircncia das velhas regulaccedilotildees autorais frente agraves exponenciais
possibilidades dos intercacircmbios mediatizados
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
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de vendas e de aluguel de viacutedeos antes tatildeo temido tornou-se uma imensa fonte de receita para
Hollywood (SHAPIRO VARIAN 1999 p17)
As proacuteprias bibliotecas satildeo um exemplo de uma inovaccedilatildeo que primeiro pareceu ameaccedilar o
setor editorial mas acabou por ampliaacute-lo imensamente (idem p115) A loacutegica eacute simples o
acesso agrave obras gratuitas forma o gosto de leitores que mais tarde compraratildeo livros Shapiro e
Varian percebem que perante os desafios da era digital haacute uma tendecircncia natural para que os
produtores se preocupem demais em lsquoprotegerrsquo sua propriedade intelectual Mas para eles o
importante eacute lsquomaximizarrsquo o valor da propriedade intelectual natildeo protegecirc-la pela pura
proteccedilatildeo ldquoSe vocecirc perde um pouco de sua propriedade quando a vende ou aluga esses eacute
apenas um dos custos de fazer negoacutecios juntamente com a depreciaccedilatildeo as perdas de estoque
e a obsolecircnciardquo
Ao mesmo tempo sabenos que existem muitos outros recursos para motivar a compra do
consumidor mesmo quando se tratam de bens culturais Moles (1974) ensina que o
mecanismo baacutesico da publicidade consiste em acrescentar um valor psicoloacutegico ao valor
propriamente utilitaacuterio do produto explorando portanto as emoccedilotildees secundaacuterias do
consumidor A publicidade alimenta artificialmente um desejo e sobretudo atraveacutes da
repeticcedilatildeo pelos meios de comunicaccedilatildeo primeiro convence que essa vontade eacute uma
necessidade essencial e depois promete satisfazecirc-la atraveacutes dos valores associados ao objeto
de consumo Na verdade natildeo satildeo vendidos produtos mas status social estilos sensaccedilotildees
impressotildees Isso quer dizer que os anuacutencios publicitaacuterios natildeo oferecem sabonetes mas
possibilidade de beleza natildeo anunciam automoacuteveis mas o prazer da velocidade e de poder
natildeo querem vender cigarro mas sentimento de juventude e de liberdade Em outras palavras
a publicidade complica a vida para oferecer a possibilidade de resolvecirc-la por meio do
consumo Assim podemos dizer que o mercado da cultura tambeacutem vive da venda de status
de prestiacutegio intelectual e natildeo apenas de conhecimento Basta pensar em quantos livros
compramos por lsquoimpulsorsquo mesmo sabendo que talvez nunca o leremos Ou quantos CDs
adquirimos para ouviacute-los algumas poucas vezes e guardaacute-los na estante Ou quantas fitas de
viacutedeo ou DVDs de filmes que jaacute vimos noacutes compramos para guardar mas nunca assistimos
porque estamos sempre alugando outros filmes
12 ldquoA Nacional Academy os Science Press pocircs on-line mais de mil de seus livros e descobriu que a disponibilidade das versotildees eletrocircnicas impulsionou as vendas de coacutepias impressas em duas a trecircs vezesrdquo (idem p107)
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Mas haacute um outro movimento juriacutedico contemporacircneo que parece ter o potencial de
provocar uma discussatildeo sobretudo filosoacutefica na economia da cultura no capitalismo do seacuteculo
XXI O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio
Vargas no Rio de Janeiro cujo objetivo eacute estudar implicaccedilotildees juriacutedicas sociais e culturais do
avanccedilo da tecnologia da informaccedilatildeo vem desenvolvendo estudos importantes nas aacutereas de
propriedade intelectual software livre governanccedila da web e privacidade na Internet O CTS eacute
o oacutergatildeo responsaacutevel pela direccedilatildeo no Brasil do projeto Creative Commons uma iniciativa
criada por Lawrence Lessig na Universidade de Stanford (EUA) O CTS adaptou as licenccedilas
do Creative Commons para o ordenamento juriacutedico brasileiro e fez com que o Brasil se
tornasse pioneiro no desenvolvimento de licenccedilas CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL
atualmente utilizadas pelo governo para o licenciamento de software livre
Uma das principais caracteriacutesticas do direito autoral claacutessico eacute que ele funciona como um
grande NAtildeO Isto quer dizer que para utilizar qualquer conteuacutedo eacute necessaacuterio pedir permissatildeo ao seu autor ou titular de direitos No sistema juriacutedico da propriedade intelectual adotado no Brasil ateacute mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jaacute nascem com todos os direitos reservados
Apesar disto muitos autores e titulares de direitos natildeo se importam que outras pessoas tenham acesso aos seus trabalhos Um muacutesico um videomaker ou uma escritora podem desejar justamente o contraacuterio o amplo acesso agraves suas obras ou eventualmente que seus trabalho sejam reinterpretandos reconstruiacutedos e recriados por outras pessoas
Assim o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitos possa dizer ao mundo que ele natildeo se opotildee agrave utilizaccedilatildeo de sua obra no que diz respeito agrave distribuiccedilatildeo coacutepia e outros tipos de uso
O Creative Commons eacute um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativas disponiacuteveis ao puacuteblico permitindo criar outras obras sobre elas compartilhando-as Isso eacute feito atraveacutes do desenvolvimento e disponibilizaccedilatildeo de licenccedilas juriacutedicas que permitem o acesso agraves obras pelo puacuteblico sob condiccedilotildees mais flexiacuteveis (FGV 2005)
Existem uma seacuterie de modalidades de licenccedila e cada uma delas concede direitos e deveres
especiacuteficos Haacute licenccedilas que por exemplo permitem a divulgaccedilatildeo da obra mas proiacutebem o uso
comercial Outras permitem a utilizaccedilatildeo da obra em outros trabalhos Haacute tambeacutem licenccedilas
que permitem o sampleamento remixagem colagem e outras formas criativas de
reconstruccedilatildeo da obra permitindo uma enorme explosatildeo de possibilidades criativas Dessa
forma a riacutegida locuccedilatildeo todos os direitos reservados eacute substituiacuteda por alguns direitos
reservados propondo assim uma universalidade de bens intelectuais criativos acessiacuteveis a
todos que eacute condiccedilatildeo fundamental para qualquer inovaccedilatildeo cultural e tecnoloacutegica (idem
2005) Assim as novas formas de apropriaccedilatildeo cultural na sociedade da informaccedilatildeo jaacute
comeccedilam a organizar respaldo juriacutedico atraveacutes de movimentos internacionais de
questionamento agrave pertinecircncia das velhas regulaccedilotildees autorais frente agraves exponenciais
possibilidades dos intercacircmbios mediatizados
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
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Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
Mas haacute um outro movimento juriacutedico contemporacircneo que parece ter o potencial de
provocar uma discussatildeo sobretudo filosoacutefica na economia da cultura no capitalismo do seacuteculo
XXI O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio
Vargas no Rio de Janeiro cujo objetivo eacute estudar implicaccedilotildees juriacutedicas sociais e culturais do
avanccedilo da tecnologia da informaccedilatildeo vem desenvolvendo estudos importantes nas aacutereas de
propriedade intelectual software livre governanccedila da web e privacidade na Internet O CTS eacute
o oacutergatildeo responsaacutevel pela direccedilatildeo no Brasil do projeto Creative Commons uma iniciativa
criada por Lawrence Lessig na Universidade de Stanford (EUA) O CTS adaptou as licenccedilas
do Creative Commons para o ordenamento juriacutedico brasileiro e fez com que o Brasil se
tornasse pioneiro no desenvolvimento de licenccedilas CC-GNU GPL e CC-GNU LGPL
atualmente utilizadas pelo governo para o licenciamento de software livre
Uma das principais caracteriacutesticas do direito autoral claacutessico eacute que ele funciona como um
grande NAtildeO Isto quer dizer que para utilizar qualquer conteuacutedo eacute necessaacuterio pedir permissatildeo ao seu autor ou titular de direitos No sistema juriacutedico da propriedade intelectual adotado no Brasil ateacute mesmo os rabiscos feitos em um guardanapo jaacute nascem com todos os direitos reservados
Apesar disto muitos autores e titulares de direitos natildeo se importam que outras pessoas tenham acesso aos seus trabalhos Um muacutesico um videomaker ou uma escritora podem desejar justamente o contraacuterio o amplo acesso agraves suas obras ou eventualmente que seus trabalho sejam reinterpretandos reconstruiacutedos e recriados por outras pessoas
Assim o Creative Commons gera instrumentos legais para que um autor ou titular de direitos possa dizer ao mundo que ele natildeo se opotildee agrave utilizaccedilatildeo de sua obra no que diz respeito agrave distribuiccedilatildeo coacutepia e outros tipos de uso
O Creative Commons eacute um projeto que tem por objetivo expandir a quantidade de obras criativas disponiacuteveis ao puacuteblico permitindo criar outras obras sobre elas compartilhando-as Isso eacute feito atraveacutes do desenvolvimento e disponibilizaccedilatildeo de licenccedilas juriacutedicas que permitem o acesso agraves obras pelo puacuteblico sob condiccedilotildees mais flexiacuteveis (FGV 2005)
Existem uma seacuterie de modalidades de licenccedila e cada uma delas concede direitos e deveres
especiacuteficos Haacute licenccedilas que por exemplo permitem a divulgaccedilatildeo da obra mas proiacutebem o uso
comercial Outras permitem a utilizaccedilatildeo da obra em outros trabalhos Haacute tambeacutem licenccedilas
que permitem o sampleamento remixagem colagem e outras formas criativas de
reconstruccedilatildeo da obra permitindo uma enorme explosatildeo de possibilidades criativas Dessa
forma a riacutegida locuccedilatildeo todos os direitos reservados eacute substituiacuteda por alguns direitos
reservados propondo assim uma universalidade de bens intelectuais criativos acessiacuteveis a
todos que eacute condiccedilatildeo fundamental para qualquer inovaccedilatildeo cultural e tecnoloacutegica (idem
2005) Assim as novas formas de apropriaccedilatildeo cultural na sociedade da informaccedilatildeo jaacute
comeccedilam a organizar respaldo juriacutedico atraveacutes de movimentos internacionais de
questionamento agrave pertinecircncia das velhas regulaccedilotildees autorais frente agraves exponenciais
possibilidades dos intercacircmbios mediatizados
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
Revista de Economiacutea Poliacutetica de las Tecnologiacuteas de la Informacioacuten y Comunicacioacuten wwwepticcombr Vol VIII n 2 mayo ndash ago 2006
Consideraccedilotildees finais
As convergecircncias expostas entre o pensamento anarquista de ativistas como Richard
Stallman o coletivo Wu Ming e o raciociacutenio empresarial de economistas como Shapiro e
Varian sugerem que grande parte da preocupaccedilatildeo da induacutestria em relaccedilatildeo agrave propriedade
intelectual se daacute mais por questotildees ideoloacutegicas (o lsquoindiscutiacutevelrsquo direito agrave propriedade
individual) do que mercadoloacutegicas Parece que a democratizaccedilatildeo do conhecimento em si eacute
vista pelos empresaacuterios como um prejuiacutezo natildeo eacute admissiacutevel que algueacutem usufrua do bem
cultural sem pagar por ele Impedir essa lsquoaberraccedilatildeorsquo deve consumir mais esforccedilos do que
aqueles orientados para desenvolver estrateacutegias de lucro que assumam e apropriem-se das
peculiaridades desse cenaacuterio Satildeo como velhos negociantes avarentos que perdem bons
negoacutecios mas natildeo abrem matildeo do que consideram lsquosua legiacutetima propriedadersquo
Ao discutir essa problemaacutetica Dantas (2003) concorda que ldquoa apropriaccedilatildeo privada da
informaccedilatildeordquo eacute o principal problema ldquoeconocircmico social e poliacuteticordquo a ser enfrentado nas
sociedades capitalistas do seacuteculo 21 Eacute impossiacutevel negar que a Internet e as tecnologias de
reproduccedilatildeo causaram enorme impacto nas empresas que negociam conteuacutedo Mas analisados
os antecedentes histoacutericos considerando que a induacutestria de entretenimento sempre se mostrou
temerosa quando surgiram novas tecnologias mas foi sempre eficiente natildeo apenas para
vencer as crises mas sobretudo para direcionar as tecnologias a seu favor percebe-se que o
mercado tende a aprender a domar essas lsquoinsubordinaccedilotildeesrsquo para tirar proveito das teacutecnicas de
guerrilha cultural sob o custo de uma democratizaccedilatildeo relativa da informaccedilatildeo Esse processo eacute
mercadologicamente apresentado sob o roacutetulo de lsquoinfomerciaisrsquo ou amostras graacutetis de
informaccedilatildeo calcado no pressuposto de que quanto mais a informaccedilatildeo circula mais vende e
cujo objetivo eacute seduzir o consumidor e persudiacute-lo agrave compra
Portanto a utopia da lsquopane no sistemarsquo vislumbrada pelos entusiastas do copyleft
dificilmente tem condiccedilotildees de se concretizar No entanto o copyleft pode se tornar um
lsquoupgradersquo (uma versatildeo melhorada) do copyright ao evocar o sentido histoacuterico da proteccedilatildeo
intelectual e servir de instrumento legal da induacutestria da informaccedilatildeo contra eventuais
concorrecircncias desleais e natildeo da induacutestria contra o puacuteblico Por fim defendemos a
necessidade de maior compreensatildeo sobre conceito de copyleft (que eacute diferente de lsquodomiacutenio
puacuteblicorsquo) e a inclusatildeo de discussotildees sobre o tema nas convenccedilotildees de direitos autorais
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Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003
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Referecircncias ASSIS Diego Caos organizado agraves veacutesperas do Foacuterum Social Mundial em Porto Alegre chega ao Brasil coleccedilatildeo de livros que refletem o pensamento da ldquoesquerda anticapitalistardquo Folha de S Paulo Satildeo Paulo 30 jan 2003 Ilustrada Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspilustradfq3001200206htmgt Acesso em 27 fev 2004 BENGTSSON Jarl Educaccedilatildeo para a economia do conhecimento novos desafios In Foacuterum Nacional Rio de Janeiro 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwinaeorgbrpubliep5CEP0023pdfgt Acesso em 28 nov 2003 CASTELLS Manuel A sociedade em rede a era da informaccedilatildeo economia sociedade e cultura 4 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999 DANTAS Marcos Informaccedilatildeo e trabalho no capitalismo contemporacircneo Lua Nova [online] 2003 n60 p05-44 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-64452003000300002amplng=ptampnrm=isogt DRUCKER Peter Ferdinand Sociedade poacutes-capitalista 6 ed Satildeo Paulo Pioneira 1997 FUNDACcedilAtildeO Getuacutelio Vargas (FGV) Escola de Direito Centro de Tecnologia e Sociedade Projeto Creative Commons Disponiacutevel em httpwwwdireitoriofgvbrctsprojetoshtml Acesso em 26 dez 2005) GNU project Boston USA Free Software Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwgnuorggt Acesso em 26 fev 2004 LARAIA Roque de barros Cultura um conceito antropoloacutegico 14 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar 2001 MAIZONNAVE Fabiano LOUZANO Paula Coacutedigos livres o pesquisador e hacker Richard Stallman eleito o segundo maior ldquoheroacutei da Internetrdquo numa enquete da revista ldquoForbesrdquo defende coacutedigos abertos na rede Folha de S Paulo Satildeo Paulo 5 mar 2000 Mais Disponiacutevel em lthttpwww1folhauolcombrfspmaisfs0503200004htmgt Acesso em 27 fev 2004 MOLES Abraham A O cartaz Satildeo Paulo Perspectiva 1974 SHAPIRO Carl VARIAN Hal R A economia da informaccedilatildeo como os princiacutepios econocircmicos se aplicam agrave era da Internet 5 ed Rio de Janeiro Campus 1999 STALLMAN Richard Science must lsquopush copyright asidersquo Nature Web debates London England Nature Publishing Group 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwnaturecomnaturedebatese-accessArticlesstallmanhtmlgt Acesso em 26 fev 2004 Traduccedilatildeo livre WU MING ndash the oficial site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomgt Acesso em 28 fev 2004 WU MING 1 O copyleft explicado agraves crianccedilas para tirar de campo alguns equiacutevocos Wu Ming ndash The Oficial Site Bolonha Itaacutelia Wu Ming Foundation 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwwumingfoundationcomitalianoouttakesparacriancashtmlgt Acesso em 28 fev 2004 Traduzido por eBooksCultcombr ___________ Copyright e maremoto Satildeo Paulo Coletivo Baderna 2002 Traduzido por Leo Viniacutecius Disponiacutevel em lthttpwwwbadernaorgpdfdownloadwuming_finalpdfgt Acesso em 26 nov 2003