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Consumidores x Cidadãos

Atitudes que transformam consumidores em cidadãos

diante da mídia

São Leopoldo, 10 de abril de 2002

Debate na Unisinos

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Inércia

• Cotidianamente surgem informações que evidenciam as crescentes determinações da mídia sobre a cultura, a política e a economia.

• Tais informações, veiculadas diluídas nos meios de comunicação, não decorrem em alterações qualitativas da relação dos indivíduos com a mídia.

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Exemplo 1: Consumo de TV

• Pesquisas realizadas pelo departamento de Estudos da Mídia da Universidade de Rutgers (EUA) revelam que o intenso consumo de TV apresenta semelhanças com a dependência de álcool e drogas, gerando síndromes de dependência.

• No Brasil , conforme o Ibope, assiste-se em média quatro horas de TV por dia.

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Exemplo 1: Consumo de TV

• O psicólogo Robert Kubey, da Universidade de Rutgers, revela que “estudos com eletroencefalograma mostram menos estimulação mental quando se vê TV do que quando se está lendo”.

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Exemplo 2: TV e violência• Pesquisa bancada pela Universidade Columbia

(EUA) e pelo Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova Iorque acompanhou os hábitos de consumo de TV de 707 crianças e adolescentes por 17 anos, de 1985 a 2000, relacionando-os com violência e atitudes agressivas.

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Exemplo 2: TV e violência

• O estudo conclui que o maior consumo de TV na infância e na adolescência estimula a violência e predispõe os adultos ao envolvimento em conflitos, pancadarias e atos criminosos.

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Exemplo 2: TV e violência

• Foi encontrada uma correlação entre o número médio de horas de TV assistida na infância e na adolescência e o percentual de indivíduos da amostra envolvidos com a prática de violência na vida adulta:– Menos de uma hora: 5,7%– De uma a três horas: 22,5%– Mais de três horas: 28,8%

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Exemplo 2: TV e violência

• A Associação Americana de Psicologia identifica que uma hora média de programa mostra de três a cinco atos violentos.

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Exemplo 3: Álcool na TV

• Pesquisa realizada pela Escola de Medicina de Darmouth (EUA) revela que adolescentes expostos à publicidade de bebida alcoólica na TV têm três vezes mais possibilidade de consumo deste produto do que os não expostos.

• O programa Big Brother Brasil, da Rede Globo, disponibilizava bebida alcóolica para os participantes, para que estes aparecessem mais “soltos” diante das câmeras

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Exemplo 3: Álcool na TV

• O programa Big Brother Brasil (BBB), da Rede Globo, disponibilizava bebida alcóolica para os participantes, para que estes aparecessem mais “soltos” diante das câmeras.

• Uma das participantes tomou cinco doses de tequila, dançou, vomitou e circulou nua até cair e teve de ser atendida por um médico.

• 21,8% do público do BBB é composto por crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos.

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Tecnologias e SistemasContemporâneos de Mídia

Tecnologias e Sistemas da área das comunicações que estão revolucionando os

processos sociais, com impacto sobre a Cultura, a Política e a Economia

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Sistemas e Tecnologias

• Convergência tecnológica

– Criação de infra-estruturas de comunicação amparadas na integração de equipamentos e serviços de informática, telecomunicações e mídia eletrônica.

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Sistemas e Tecnologias• Incremento da portabilidade e da

miniaturização de equipamentos– Maior disseminação e presença de equipamentos e

sistemas de comunicação no cotidiano dos indivíduos, assim ampliando as possibilidades de comunicação.

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Sistemas e Tecnologias• Crescimento exponencial do volume de

informação que pode ser armazenado e processado pelos equipamentos– Gigabytes (1 millhão de kb) já é o padrão de

microcomputadores.

– Servidores já atingem Terabytes (1 bilhão de kb): aproximadamente 740 mil livros de 200 páginas.

– Viabilização técnica do conceito de computador inteiro em um único chip.

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Sistemas e Tecnologias

• Agilização dos meios e formas de distribuição das informações– Superação das fronteiras geográficas e de tempo,

permitindo que conteúdos sejam distribuídos a baixo custo, em escala planetária e em tempo real

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Sistemas e Tecnologias• Surgimento de novos suportes técnicos

– Inovações mesmo para formas consolidadas de expressão, como o jornalismo impresso e a literatura.

– Exemplos: livro eletrônico e tinta eletrônica (e-ink).

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Sistemas e Tecnologias

• Advento de meios que permitem aferir audiências e reações do público em tempo real– Registro, por amostragem, de reações da audiência

diante de programas, em tempo real.

– No futuro, registro e aferição de reações e manifestações do público, em escala de massas, no curso do processo de comunicação.

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Sistemas e Tecnologias• Intensificação da capacidade de produzir

impressões sensoriais

– Geração de forte sensação de realidade, graças às condições técnicas de manipulação de efeitos audiovisuais digitalizados.

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Sistemas e Tecnologias• Intensificação da capacidade de produzir

impressões sensoriais

– Experimentações com geração de efeitos sobre os cinco sentidos humanos, a partir da estimulação direta de áreas cerebrais.

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Decorrências

Decorrências Culturais, Políticas e Econômicas das Novas Tecnologias e

Sistemas de Comunicação

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Decorrências Econômicas• Formação de conglomerados

internacionais de mídia– Associação crescente das

empresas da área das comunicações ao capital financeiro

– Desenvolvimento de sistemas mundiais integrando diversos ramos da área das comunicações.

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Decorrências Econômicas

• Intensificação do inter-relacionamento entre os diversos sistemas de comunicação e “áreas de negócio” emergentes

– Integração de capital e de operações entre os segmentos de mídia, de telecomunicações, da indústria fonográfica, do mercado editorial, da indústria do entretenimento e do setor de esportes.

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Decorrências Políticas

• Ampliação da capacidade da mídia condicionar agendas e cenários políticos.

– Vigorosos processos e poderosos instrumentos de legitimação de posições políticas.

– Acentuação dos desequilíbrios na distribuição do poder.

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Decorrências Políticas• Fortalecimento da tendência de estetização e de

espetacularização da política – As instituições políticas e

mesmo os mais diversos agentes políticos são impelidos a se submeter à lógica imposta pela mídia, ao seu ritmo, à sua linguagem, à sua estética, à sua legitimação e às suas formas de expressão.

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Decorrências Culturais

• Hipervalorização da forma em relação ao conteúdo – Constatação dramática: predominam na mídia linguagens

sequer compreendidas pela maioria do público.– Indivíduos, de um modo geral, não conseguem portar-se

nem como sujeitos, nem como cidadãos diante da mídia.– Instituições da sociedade civil não demonstram perceber

decorrências estratégicas deste fenômeno.

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Decorrências Culturais• Hipertrofia dos impactos sensoriais e emocionais

em relação aos estímulos à reflexão

– A mídia adota um ritmo vertiginoso, amparado na fugacidade, na superficialidade, na sedução e na exacerbação dos apelos emocionais e sensoriais que operam assustadores processos de desumanização.

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Decorrências Culturais• Exacerbação da submissão dos conteúdos a

interesses econômicos– Desmedida busca de audiência e

de apelo ao público, mesmo nas formas segmentadas de comunicação.

– Exploração das fragilidades humanas, evocação de perversões e mesquinharias, operação a partir do fascínio pela violência, ativação de reações primitivas apelando-se à morbidez e aos traços esquizo-paranóides dos indivíduos.

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Decorrências Culturais

• Diluição dos gêneros– Perda de referência das características técnicas e

estéticas dos gêneros típicos da comunicação forjados durante décadas, com o desnorteamento do público quanto à relação entre a forma e o conteúdo.

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Decorrências Culturais

• Diluição dos gêneros

– Fenômeno verificado, por exemplo, no jornalismo: cada vez mais produzido com técnicas típicas da produção de ficção, com sua estetização, dramatização e espetacularização e a sua conseqüente despotencialização como forma de conhecimento.

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Decorrências Culturais

• Descaracterização das fronteiras entre a publicidade e os conteúdos editoriais e artísticos– Pesquisas constatam que a maior parte do público

apresenta dificuldades para distinguir a publicidade do restante da programação, na televisão.

– Crescente condicionamento da forma e do conteúdo publicitário sobre o editorial.

– Fortalecimento das produções voltadas especificamente para a geração de negócios.

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Decorrências Culturais• Aumento do fosso que separa os indivíduos (e seus

respectivos segmentos sociais) com acesso e sem acesso à informação

– Contraposição entre os que dispõem de fontes virtualmente ilimitadas de informação e outros que sequer dispõem de alimentação adequada e ensino básico, gerando-se um abismo na qualificação e na integração social.

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Decorrências Culturais• Aumento do fosso que separa os indivíduos (e

seus respectivos segmentos sociais) com acesso e sem acesso à informação

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Diagnóstico Síntese

A democratização da comunicação como base para a afirmação da cidadania e o

desenvolvimento do país

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Potencialidades não apropriadas

• Novos Sistemas e Tecnologias– Convergência tecnológica

– Miniaturização, portabilidade

– Volume de informação processável e armazenável

– Agilização das formas e meios de distribuição de informações

– Aferição de audiências e reações em tempo real

– Intensificação da capacidade de produzir impressões sensoriais

• Potencialidades geradas e apropriadas quase que exclusivamente pelo mercado

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Potencialidades não apropriadas

• Concentração da Mídia no Brasil

Veículos ligados às seis redes privadas nacionais de TV aberta

TV VHF TV UHFRádio

AMRádio

FMRádio

OT Jornal TotalTotal deVeículos

294 15 122 184 2 50 667

Fonte: Relatório Epcom - 2002

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Potencialidades não apropriadas

• Concentração da Mídia no Brasil

Faturamento das redes privadas de TV aberta

Globo SBT Band RecordRedeTV! CNT` Outras

FaturamentoUS$

1,59 bi 600 mi 300 mi 240 mi 150 mi 60 mi 60 mi

Participação 53% 20% 19% 8% 4% 2% 2%Fonte: Empresas e Folha de São Paulo – Base 2000

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Potencialidades não apropriadas

• Concentração da Mídia no Brasil

Participação da Globo em dois Segmentos dos Mercados de TV por Assinatura

Tipo de Serviço Empresasda Globo

Total deAssinantes do

MercadoAssinantesda Globo

Percentual daGlobo

TV a Cabo NET eAfiliadas

2.000.100 1.344.000 64%

DTH – Satélite Sky 1.174.000 615.000 52%

Total dosServiços

Total dasEmpresas

3.274.000 1.959.000 55%

Fonte: PayTV e ABTA – Base 3o Trimestre de 2001

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Potencialidades não apropriadas

• Persistem inócuas e inaplicadas as seguintes disposições da Constituição Federal:– Artigo 220, § 3.º, inciso II (meios legais para a

defesa da pessoa e da família de programas e programações)

– Artigo 220, § 5.º (coibição do monopólio e do oligopólio)

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Potencialidades não apropriadas

• Persistem inócuas e inaplicadas as seguintes disposições da Constituição Federal:– Princípios do Artigo 221 (preferência a

finalidades, promoção da cultura, regionalização da produção, respeito a valores)

– Artigo 224 (Conselho de Comunicação Social)

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Potencialidades não apropriadas

• O Congresso há dez anos está desrespeitando a Lei 8389/91, que determinou a composição e instalação do Conselho de Comunicação Social até março de 1992.

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Potencialidades não apropriadas

• A maior parte dos grandes grupos de mídia do país, utilizando artifícios que não resistem à menor análise, exorbitam os limites legais de propriedade de emissoras de televisão e de rádio.

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Potencialidades não apropriadas• Extraordinária

potencialidade emancipatória da humanidade propiciada pelos meios e sistemas contemporâneos de comunicação

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Potencialidades não apropriadas

• Inéditas condições de promoção da autonomia intelectual dos indivíduos

• O gigantismo dos meios, paradoxalmente, cria a possibilidade real de se controlá-los globalmente (Adelmo Genro Filho)

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Apropriação das Potencialidades

• Dilema contemporâneo: Sociedade Inteligente X Mundo das Corporações

• Necessidade de exercício de autonomia da sociedade civil em relação ao Estado e ao mercado (setor privado)

• Capacitação da sociedade civil para lidar com inteligência e para dotar-se de senso estratégico

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Apropriação das Potencialidades

• Capacitação da sociedade civil para lidar de igual para igual com o Estado e o setor privado

• Busca da articulação de meios, em geral só alcançáveis pelo Estado e pelo setor privado, para a afirmação de autonomia estratégica

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Resposta do Fórum• Propostas do Fórum Nacional pela

Democratização da Comunicação– Controle Público

– Reestruturação do mercado e dos sistemas de comunicação

– Capacitação da sociedade e dos cidadãos para o conhecimento e a ação em relação à mídia

– Construção da cultura como finalidade da luta pela democratização da comunicação

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As lições da luta do Fórum

• Inexistência de modelo no mundo

• Projeto estratégico não se esgota em nenhum objetivo específico de um programa

• Os objetivos estratégicos se alcançam de muitas formas

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As lições da luta do Fórum

• O elemento essencial é a disputa do controle e da democratização do conteúdo

• O índice de democratização é o índice de representação da pluralidade

• Luta pela democratização é esforço sem fim previsível: é uma atitude permanente da sociedade e dos cidadãos

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As grandes disputas hoje

• Abertura das empresas de mídia ao capital estrangeiro

• Instalação do Conselho de Comunicação Social

• Nova legislação da comunicação social eletrônica

• Implantação da TV digital

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Democratização da comunicação

• Para os profissionais dos diversos segmentos da área da comunicação, uma imposição ética: ter consciência do efeito social da sua atividade

• Para os cidadãos, um desafio político e cultural: transformação da sociedade e dos indivíduos, de objetos em sujeitos em relação à mídia

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Democratização da comunicação

• Sabemos o que fazer, o quê e como enfrentar

• Sem democratizar a comunicação não há democracia na sociedade

• Nosso desafio é aumentar a representação da pluralidade na mídia e despertar nos cidadãos a possibilidade do exercício da autonomia intelectual

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Democratização da comunicação

• Em síntese, a luta pela democratização da comunicação inicia com um esforço para transformar os indivíduos de consumidores em cidadãos diante da mídia


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