Download - Competenciada Justiça Militar
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Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministrio Pblico da Unio
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Ol amigos,
Bom dia,
Boa tarde e
Boa noite!
Nosso objetivo de hoje:
Aula 4:
Competncia da Justia Militar da Unio.
Competncia da Justia Militar da Unio.
Para a correta apresentao da ao penal, necessrio
conhecer as normas definidoras da competncia criminal, j que est
delimita o exerccio da jurisdio penal.
Sobre o tema a obra lapidar mais moderna sobre o assunto,
com certeza, a do professor Renato Brasileiro de Lima, que acabou
por elaborar um tratado a respeito do assunto com o nome
Competncia Criminal.
Com base nas lies exaradas pelo ilustre professor, no estudo
de obras especializadas no assunto e em nosso Processo Penal
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Sistematizado, passamos a expor consideraes otimizadas a respeito
do tema e que reputamos adequadas previso do edital do MPU.
A jurisdio repartida em competncias, com o objetivo de
melhor operacionalizar a administrao da Justia. Segundo a
doutrina, competncia o limite e a medida da jurisdio, uma
delimitao do poder jurisdicional.
Competncia, nesse contexto, a quantidade de poder
conferida por lei a um juiz ou a um tribunal.
Na fixao da competncia criminal devemos observar os
critrios relacionados matria, pessoa, funo e ao territrio.
Avaliando os mencionados critrios precisamos visualizar a seguinte
esquematizao:
Dizer que essas trs regras de competncia (material, pessoal e
funcional) so de cunho absoluto, significa afirmar que elas so
improrrogveis (ou seja, no podemos admitir que um juiz
absolutamente incompetente venha, por qualquer razo, a se tornar
competente); assim, uma vez vulneradas essas regras os atos ento
praticados estaro eivados de nulidade absoluta (insanveis).
A competncia territorial tem natureza relativa, isto , trata-se
de regra de competncia prorrogvel, que conduzir nulidade
relativa (sanvel). Segundo a maioria da doutrina, a competncia
territorial tambm seria conhecida de ofcio pelo juzo, ou seja, no
Processo Penal no s as hipteses de competncia absoluta, mas
tambm as hipteses de competncia relativa seriam conhecidas de
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ofcio pelo juzo. Isso ocorreria por fora do artigo 147 do Cdigo de
Processo Penal Militar, que nos diz que o juiz poder, at a entrega
da prestao jurisdicional, declarar-se incompetente de ofcio. Como
esse dispositivo no estabelece qualquer distino entre competncia
em razo da matria, competncia territorial, competncia por
prerrogativa da funo e competncia funcional, entende-se
(majoritariamente1) que a regra do artigo 147 do CPPM (art. 109 do
CPP) estender-se-ia a toda e qualquer competncia, inclusive
competncia territorial, que tem natureza relativa.
Declarao de incompetncia de ofcio
Art. 147. Em qualquer fase do processo, se o juiz reconhecer a existncia de causa que o torne incompetente, declar-lo- nos autos e os remeter ao juzo competente.
Portanto, essa seria uma grande distino a separar o Processo
Civil do Processo Penal comum e militar, visto que no Processo Civil o
juzo incompetente relativamente, para que se declare incompetente,
carece de provocao das partes, enquanto no Processo Penal no
haveria necessidade dessa provocao, uma vez que ele poderia, de
ofcio, declarar-se incompetente (mesmo que relativamente).
Por conta desse diferencial entre Processo Civil e Penal, h
autores, como GERALDO PRADO e AFRNIO SILVA JARDIM, que
chegam a mencionar que no Processo Penal todas as regras de
competncia seriam absolutas, visto que todas podem ser conhecidas
de ofcio pelo juzo. No entanto, essa assertiva minoritria, pois em
que pese esse ponto de contato entre competncia absoluta e
relativa, outras diferenas subsistiriam a legitimar essa distino.
Essas diferenas seriam:
1Existe entendimento no sentido contrrio e o maior referencial doutrinrio dessa discusso
TOURINHO FILHO. Esse segundo entendimento, aderido por MARCELLUS POLASTRI, j foi abordado pelo Superior Tribunal de Justia, onde se concluiu que a competncia territorial, por ser relativa, tambm no poderia ser conhecida de ofcio pelo juzo (visto que careceria de provocao da parte), ou seja, para o STJ o mesmo raciocnio do Processual Civil deve ser aplicado no Processo Penal.
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As regras de competncia absoluta se mostram
improrrogveis (no convalidveis com o decurso do tempo),
enquanto as de competncia relativa se mostram prorrogveis
(convalidveis com o decurso do tempo);
As regras de competncia absoluta geram nulidade
absoluta do processo, enquanto as de competncia relativa geram
nulidade relativa.
Portanto, uma vez que se manteriam conservadas essas
diferenas, a distino entre competncia absoluta e relativa continua
sendo adequada. E nesse sentido o Supremo Tribunal Federal, nos
diz, categoricamente, que a competncia por preveno (competncia
territorial) tem natureza relativa.
Smula 706 STF- relativa a nulidade decorrente da
inobservncia da competncia penal por preveno.
Outro ponto de destaque o cuidado ao se ler o artigo 508 do
Cdigo de Processo Penal Militar. Este dispositivo afirma que a
incompetncia do juzo anularia somente os atos decisrios. Se
estivermos diante de uma hiptese de incompetncia relativa no
teremos maiores dificuldades porque, como os atos processuais, at
ento praticados, so plenamente sanveis, nada exigiria que eles
viessem a ser ratificados e essa ratificao retroagiria data da
realizao do ato. Porm, se estivermos diante atos de competncia
absoluta deveramos concluir que tais atos estariam eivados de
nulidade absoluta ou seja, esses atos mostrar-se-o
completamente insanveis. Diante disso, sendo o primeiro ato
decisrio praticado pelo juiz no processo o recebimento da inicial,
supondo que seja nulo esse recebimento, sero nulos todos os
demais atos processuais, pois todos os atos processuais
subsequentes tm como premissa o recebimento da denncia.
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Nesse contexto afirma o art. 508 do CPPM (mesma disposio
do artigo 573, pargrafo primeiro do CPP comum):
Anulao dos atos decisrios
Art. 508. A incompetncia do juzo anula smente os atos
decisrios, devendo o processo, quando for declarada a
nulidade, ser remetido ao juiz competente.
Quanto aos atos instrutrios, estes no precisariam ser
desconsiderados, podendo ser aproveitados, porque embora os atos
instrutrios no tenham sido realizados perante um juzo
rigorosamente competente, certo que todos esses atos foram
realizados publicamente, na presena de um juiz (incompetente), de
um promotor (possivelmente sem atribuio), mas na presena
tambm da defesa. Ento, em se tratando de atos instrutrios, no
seria razovel desconsider-los inteiramente, portanto eles podero
ser ratificados.23
Inicialmente vale lembrar o exposto em nossa aula de
apresentao a respeito da estrutura da Justia Militar da Unio com
os respectivos rgos do MPU ali atuantes. Logo, tendo em vista que
o estudo da Competncia da Justia Militar da Unio , por reflexo, o
estudo das atribuies do Ministrio Pblico Militar, devemos
visualizar o seguinte:
2Scarance, Processo Penal constitucional. 3 ed. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2008. p. 65
apud LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal, vol. I, Niteri, RJ: Impetus, 2011, p. 55. 3 CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. No prelo a 1 edio.
Rio de Janeiro: Grupo Gen: Forense, 2013, no prelo, p. 381/390.
Superior Tribunal Militar
Procurador Geral Militar da Unio
Conselho Permanente
Promotor de Justia
Militar da Unio
Juzes Auditores
Promotor de Justia Militar da Unio
Conselho
Especial Promotor de Justia
Militar da Unio
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Registres-se que os Conselhos de Justia (Permanente e
Especial) atuam aps o recebimento da denncia, ou seja, com a
instaurao do processo, pois durante a fase de investigao
preliminar, todas as questes suscitadas jurisdio militar so
decididas elo Juiz-Auditor monocraticamente.
Ao Conselho Permanente incumbe o julgamento dos praas
(militar no detentor de posto de oficial) e dos civis.
Ao Conselho Especial incumbe o julgamento dos Oficias, com
exceo dos Oficiais-Generais que tem seu foro no STM.
Sobre o tema, elucidativo o quadro exposto pelos professores
Cludio Amin Miguel e Nelson Coldibelli4, que sintetizamos da
seguinte forma:
Conselho Especial
de Justia
Conselho Permanente
de Justia
Composio Juiz-Auditor e
Quatro Militares
(de posto elevado ou mais
antigos que o acusado,
desde que haja ao menos
um Oficial-Superior ou
General)
Juiz-Auditor e
Quatro Militares
(sendo um oficial superior e
trs oficiais de posto at
Capito-Tenente ou Capito)
Competncia Processar e Julgar os
Oficias, com exceo dos
Oficiais-Generais.
Processar e Julgar os praas
e os civis.
Durao Constituio para cada
processo.
Constituio a cada
trimestre.
Diante dessa breve introduo, antes de entrarmos na
casustica da competncia criminal militar, devemos expor,
4MIGUEL, Claudio Amin e COLDIBELLI, Nelson. Elementos de Direito Processual Penal Militar. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2011, 3 edio, p. 10.
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comparativamente, as distines entre a Justia Militar da Unio e a
Justia Militar Estadual.
As duas principais distines advm do texto constitucional,
sendo que a primeira se refere competncia em razo da pessoa e
a segundo se relaciona competncia em razo da matria.
Vejamos a primeira: importante memorizar que a Justia
Militar da Unio pode julgar civis e militares que praticarem crimes
militares, enquanto a Justia Militar Estadual s tem competncia
para julgar os militares estaduais nesses delitos.
A segunda distino a seguinte: Enquanto a Justia Militar
da Unio s tem competncia criminal, no podendo julgar causas
civis, a Justia Militar Estadual, alm da competncia criminal,
detm competncia judicial civil para julgar atos disciplinares
militares.
Assim, se um militar das foras armadas quiser discutir um ato
disciplinar, dever acionar a justia federal comum. Pois,
considerando que a justia militar federal no detm essa
competncia e sendo o militar das foras armadas um funcionrio
pblico federal, o rgo competente ser, nos moldes do art. 109 da
CF/88, a Justia Federal comum e no a justia federal especial como
a Justia Militar da Unio.
Visando facilitar o registro, afirmamos que a Justia Militar da
Unio, julga civis, mas no julga causa civis, j a Justia Militar
Estadual, julga causas civis, mas no julga civis.
Para ilustrar essas e as demais distines, colacionamos, de
forma sintetizada, quadro elaborado pelo professor Renato Brasileiro
em seu livro Competncia Criminal, que expe as distines entre a
Justia Militar da Unio e a Justia Militar Estadual.
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Justia Militar da Unio Justia Militar Estadual
- Julga crimes militares - Julga crimes militares
- Julga Civis e Militares - Julga Militares do Estado
- Competncia em razo da matria. - Competncia em razo da matria e da pessoa.
*No tem competncia Civil * Tem competncia civil, acrescentada pela
EC 45/04, onde se conferiu o julgamento para aes judiciais contra atos disciplinares
militares.
rgo Jurisdicional
- Conselho de Justia: > 04 militares oficiais; > Juiz-Auditor (juiz concursado): este possui competncia singular? R.: No. Todos os crimes militares so julgados pelo respectivo conselho, ou seja, o juiz-auditor no possui competncia singular.
- Aqui o Presidente o Oficial de posto mais elevado. Em caso de igualdade de posto ser o oficial mais antigo.
- O conselho pode ser permanente ou especial, Vejamos as diferenas:
# O conselho permanente delibera por 03 meses (sorteia os militares da regio), sendo que tem competncia para julgar crimes cometidos por: Civis, soldados, cabos, sargentos (qualquer militar, menos oficial).
# O conselho de justia especial cabe julgar os crimes cometidos por Oficiais. (artigo 16 da Lei da Organizao da Justia Militar 8457/92).
rgo Jurisdicional
- Conselho de Justia: - Juiz de direito do Juzo Militar Aqui, tanto o juiz militar quanto o conselho podem julgar separadamente. Sendo que compete ao juiz de direito julgar singularmente os crimes militares cometidos: # contra civis; # aes judiciais contra atos disciplinares militares. Ao conselho de justia cabem os
demais.
- Presidente o juiz de direito.
- Ministrio Pblico Militar (ramo do Ministrio Pblico da Unio ao lado do: MPDFT, MPT e MPF).
- Ministrio Pblico Estadual
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MPM: *1 instncia: Promotores de justia militar e Procuradores *2 instncia: Atuam os Sub-procuradores e o Procurador-Geral da Justia Militar da Unio perante o STM, que o rgo de 2 instncia.
MPE: 1 Instncia promotor de justia 2 instncia: depende dos estados, sendo que em 03 (RS, MG e SP) quem exerce o Tribunal de Justia Militar, nos outros o prprio Tribunal de Justia.
Orientao jurdica: Defensoria Pblica da Unio
Orientao jurdica:
Defensoria Pblica Estadual 5
Conforme apontamos na aula de apresentao, o estudo da
competncia depende sobre maneira do conhecimento do crime
militar e de seus critrios de definio.
Assim, abordaremos o tema seguindo a sequncia contida no
art. 9 do Cdigo Penal de modo a vislumbrar a competncia da
Justia Militar da Unio.
Crime Militar
A priori, registramos que para identificar um crime, como crime
militar, no basta que a tipificao daquela conduta conste no Cdigo
Penal Militar, sendo indispensvel a presena de outros elementos,
tais como os previstos em seu artigo 9 que, juntamente com os
elementos do tipo especfico, possibilitaro o enquadramento daquele
ilcito como crime militar.
De acordo com a doutrina clssica, os crimes militares se
classificam em duas modalidades:
1) Crimes propriamente militares, e
2) Crimes impropriamente militares.
Crime propriamente militar aquele cujo bem jurdico
exclusivo da vida militar e estranho vida civil, de que exemplo o
5 BRASILEIRO, Renato. Competncia criminal. Salavador: Juspodivm, 2010, p.
129/130.
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dever militar. Assim, s pode ter como sujeito ativo o militar da ativa.
Alm disso, s previsto na lei penal prpria. O crime propriamente
militar, tambm pode ser chamado de crime puramente militar, crime
meramente militar ou crime essencialmente militar. Exemplos:
Desero (art. 187), embriaguez em servio (202) e dormir em
servio (203) todos do CPM.
Por outro lado, o crime impropriamente militar, tambm
conhecido como crime acidentalmente militar ou crime militar misto,
envolve bem jurdico comum, tutelvel pelas esferas penal comum e
penal militar. Desse modo, qualquer pessoa pode comet-lo, embora
o crime seja considerado militar. Logo, encontra previso no CPM,
mas h previso idntica ou semelhante na lei comum.
Exemplo: militar agride seu colega, praticando leso corporal
(art. 209 do CPM). Crime impropriamente militar, pois tem previso
correspondente do CP comum, art. 129.
O art. 9 estabelece 3 subespcies de crimes impropriamente
militares:
1) os crimes previstos exclusivamente no CPM;
2) os crimes previstos de forma diversa na lei penal comum;
3) os crimes previstos de forma idntica na lei penal comum.
importante perceber que a Justia Militar da Unio pode julgar
os crimes propriamente e impropriamente militares praticados por
militares ou civis; j na Justia Militar Estadual, somente os militares
estaduais so julgados, seja qual for a natureza do crime cometido.
Existe, ainda, uma classificao mais antiga, apresentada por
Clvis Bevilqua:
Segundo o saudoso autor os crimes militares poderiam ser:
- crimes essencialmente militares;
- crimes militares por compreenso normal da funo militar; e
- crimes acidentalmente militares.
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Os crimes essencialmente militares corresponderiam ao que
hoje classificado como crimes propriamente militares, pois
protegem bens jurdicos prprios da vida militar, s encontrando
disposio no COM. So praticados somente por militares da ativa.
Os crimes militares por compreenso normal da funo
militar atualmente seriam os denominados crimes militares
imprprios, ou seja, s se enquadram como crimes militares caso
haja algum vnculo com a funo militar. So crimes praticados por
militares, mas que envolvem bens jurdicos comuns.
Os crimes acidentalmente militares seriam aqueles cujo
bem jurdico tutelado importante para a esfera militar, mas so
praticados por civil contra a instituio militar. Aqui o delito
praticado por civil, mas afeta alguns interesses e bens jurdicos
relevantes para a esfera militar. Portanto, pode-se dizer que so
militares porque esto previstos na lei militar, sendo praticados por
civis, e que atingem as instituies militares. No fundo so crimes
comuns.
O CPM classifica os crimes militares em:
1) Crimes em tempo de paz (art. 9 do CPM), e
2) Crimes em tempo de guerra (art. 10 do CPM).
Sobre o tema eis as seguintes questes:
CESPE 2010 MPE/ES PROMOTOR DE JUSTIA
Os crimes contra a administrao militar so crimes militares
prprios, ou seja, no so perpetrados por civis.
Certo ou Errado
Comentrio: A parte sublinhada est errada.
A afirmao da questo se encontra errada, pois os crimes
contra a administrao militar so considerados crimes
impropriamente militares, pois qualquer pessoa pode comet-lo.
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CESPE 2001 DPU DEFENSOR PBLICO FEDERAL
Considera-se crime propriamente militar o furto praticado no
interior de um quartel por um praa em situao de atividade.
Certo ou Errado
Comentrio: A parte sublinhada est errada.
Mesmo sendo um crime militar, o furto, como encontra previso
na legislao penal comum, um crime impropriamente militar.
STM 2011 ANALISTA JUDICIRIO
Os crimes militares prprios correspondem aos crimes
praticados por militares e previstos no Cdigo Penal Militar.
Certo ou Errado
Comentrio: Crime propriamente militar aquele cujo bem
jurdico exclusivo da vida militar e estranho vida civil, de que
exemplo o dever militar. Assim, s pode ter como sujeito ativo o
militar da ativa. Alm disso, s previsto na lei penal prpria. O
crime propriamente militar, tambm pode ser chamado de crime
puramente militar, crime meramente militar ou crime essencialmente
militar. Exemplos: Desero (art. 187), Embriaguez em servio (202)
e Dormir em servio (203) todos do CPM.
Ademais, lembre-se que para identificar um crime, como crime
militar, no basta que a tipificao daquela conduta conste no Cdigo
Penal Militar, sendo indispensvel a presena de outros elementos,
tais como os previstos em seu artigo 9 que, juntamente com os
elementos do tipo especfico, possibilitaro o enquadramento daquele
ilcito como crime militar.
Assim, percebemos que a afirmao da questo est
incompleta, razo pela qual se deve concluir por sua incorreo.
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Critrios Legais para Definir o Crime Militar
No que tange ao critrio para definir o crime militar, afirma-se
que o legislador militar adotou um critrio processualista para definir
o crime militar, pois considerou aspectos comumente utilizados para
definir competncia (lugar, matria, pessoa).
Os critrios adotados so:
- Ratione Legis;
- Ratione Personae;
- Ratione Loci;
- Ratione Materiae; e
- Ratione Temporis.
O critrio prevalente o da ratione legis. O legislador, para
trazer uma ideia do que seria o crime militar, faz uma soma de
critrios, sendo este preponderante e que sempre estar presente.
Ou seja, o crime militar o que a lei militar assim define.
Sobre o tema j indagou a Cespe:
Concurso DPU 2007
Entre os critrios utilizados para se classificar o crime militar, o
critrio processualista (ratione materiae, ratione personal, ratione
loci, ratione temporis e ratione legis) se imps, com preferncia pelo
critrio ratione materiae, sendo crime militar aquele definido no CPM.
Certo ou Errado
Comentrio: A parte sublinhada est errada, pois o critrio
prevalente o da ratione legis e no o ratione materiae como
afirmou a questo.
Ao critrio da ratione legis se agrega o critrio da ratione
personae, que considera crime militar aquele praticado por militar ou
contra ele.
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Para o critrio da ratione loci, crime militar aquele praticado
em lugar sujeito administrao militar, qualquer que seja o autor.
Segundo o critrio ratione materiae, o crime militar o que
ofende bens jurdicos relacionados a ordem jurdica militar.
O critrio da ratione temporis, afirma que o crime militar se
praticado dentro de determinado perodo, poca ou circunstncia,
como por exemplo, durante operaes militares ou em tempo de
guerra.
Crimes Militares em Tempo de Paz (art. 9 do CPM)
Crimes Tipicamente Militares
O art. 9, inciso I, adota o critrio Ratione Legis.
Art. 9 Consideram-se crimes militares, em tempo de
paz:
I - os crimes de que trata este Cdigo, quando definidos
de modo diverso na lei penal comum, ou nela no previstos,
qualquer que seja o agente, salvo disposio especial
So exemplos de crimes propriamente militares:
1) Desero,
2) Insubmisso (entendimento majoritrio e do STM),
3) Pederastia,
4) Motim e revolta,
5) Reunio ilcita.
Questo importante saber se um crime propriamente militar
pode ser praticado por civil em coautoria.
Embora o tema seja discutido pela doutrina, a resposta mais
segura para uma prova objetiva a seguinte:
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O crime propriamente militar no pode ser praticado por civil,
nem mesmo em coautoria com militar, de acordo com o
entendimento dominante no prprio STM, especialmente em relao
ao crime de revolta.
Sobre o tema indagou a Cespe:
STM 2011 CESPE ANALISTA JUDICIRIO
Considere as seguintes situaes hipotticas.
I - Um agrupamento de militares armados, em concurso com
civis, ocupou estabelecimento militar em desobedincia a ordem
superior.
II - Reunidos, militares agiram contra ordem recebida de
superior, negando-se a cumpri-la, todavia, sem a utilizao de
armamento.
Nesse caso, a situao I configura crime de revolta, sendo que
os civis no ingressam na relao jurdico-penal castrense, nem
mesmo como coautores, e a situao II tipifica o crime de motim,
sendo elemento diferenciador entre as duas situaes a existncia de
armas.
Certo ou Errado
CESPE 2010 DPU DEFENSOR PBLICO
Considere que, em conluio, um servidor pblico civil lotado nas
foras armadas e um militar em servio tenham-se recusado a
obedecer a ordem do superior sobre assunto ou matria de servio.
Nessa situao, somente o militar sujeito ativo do delito de
insubordinao, que considerado crime propriamente militar, o que
exclui o civil, mesmo na qualidade de coautor.
Certo ou Errado
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Diante desse contexto, surge a necessidade de se refletir sobre
qual ser o crime praticado por civil quando o mesmo age juntamente
com o militar, para a prtica de um crime propriamente militar.
Nesse caso, entende-se que o civil ir responder por
Incitamento, Aliciamento ou Apologia (arts. 154 a 156 do CPM).
Vejamos as disposies aplicveis:
Art. 154. Aliciar militar ou assemelhado para a prtica de
qualquer dos crimes previstos no captulo anterior:
Pena - recluso, de dois a quatro anos.
Art. 155. Incitar desobedincia, indisciplina ou prtica de
crime militar:
Pena - recluso, de dois a quatro anos.
Pargrafo nico. Na mesma pena incorre quem introduz, afixa
ou distribui, em lugar sujeito administrao militar, impressos,
manuscritos ou material mimeografado, fotocopiado ou gravado, em
que se contenha incitamento prtica dos atos previstos no artigo.
Art. 156. Fazer apologia de fato que a lei militar considera
crime, ou do autor do mesmo, em lugar sujeito administrao
militar:
Pena - deteno, de seis meses a um ano.
Art. 9, II, do CPM:
Art. 9 Consideram-se crimes militares, em tempo de
paz:
II - os crimes previstos neste Cdigo, embora tambm o
sejam com igual definio na lei penal comum, quando
praticados:
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Adotam-se aqui os critrios Ratione Legis e Ratione Personae.
Tratam-se dos denominados crimes impropriamente militares.
So crimes comuns, previstos na lei penal militar (ratione
legis), sendo enquadrados como crimes militares por seu autor ser
um militar da ativa (ratione personae).
Art. 9, II, alnea a:
Art. 9, II, a) por militar em situao de atividade ou
assemelhado, contra militar na mesma situao ou
assemelhado;
O contexto alnea acima o seguinte: Militar da ativa pratica
crime contra militar tambm da atividade.
Segundo o STM, para que incida essa alnea, basta que os dois
sejam militares, mesmo que no estejam em servio ou em local
administrado pela instituio militar. Tal orientao decorre at
mesmo na natureza da funo militar, que demanda a posio
sempre alerta, conforme se costuma dizer coloquialmente. Assim, o
militar da ativa militar 24 horas por dia.
Nesse sentido decidiu recentemente o STM:
EMBARGOS INFRINGENTES OPOSTOS PELA DEFESA.
HOMICDIO. PREVALNCIA DO VOTO VENCIDO. IMPOSSIBILIDADE.
COMPETNCIA DA JUSTIA MILITAR. EXCLUSO DE ILICITUDE.
LEGTIMA DEFESA. NO COMPROVAO.
- Desnecessria a conjugao da condio funcional com
os demais elementos circundantes do crime, bastando que o
agente e a vtima sejam militares das Foras Armadas para a
fixao da competncia da Justia Castrense, em consonncia
com o art.9,inciso II, alnea a, do CPM.
- Ausncia de provas a permitir a aplicao da excludente de
ilicitude.
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- No restou provada qualquer justificativa que autorizasse os
disparos contra a vtima. Afastada a tese de legtima defesa.
PRELIMINAR DE NO CONHECIMENTO. REJEITADA
UNANIMIDADE.EMBARGOS REJEITADOS. DECISO MAJORITRIA.
(Processo: EMB 169020037010401 DF 0000016-90.2003.7.01.0401.
Relator(a): Maria Elizabeth Guimares Teixeira Rocha. Julgamento:
12/05/2011. Publicao: 27/06/2011 Vol: Veculo: DJE)
Sobre o tema e nessa tica indagou a Cespe:
2004 CESPE DPU DEFENSOR PBLICO FEDERAL
Considera-se crime militar o homicdio praticado por suboficial
da Aeronutica contra cabo da Marinha, mesmo que o fato se d em
momento de folga de ambos os militares, fora da rea militar e com a
utilizao de arma particular.
Certo ou Errado
A questo trata do disposto no seguinte artigo do CPM:
Art. 9, II, a) por militar em situao de atividade ou
assemelhado, contra militar na mesma situao ou
assemelhado;
Cuidado deve ter o candidato caso a questo indague sobre o
posicionamento do STF. Pedimos cuidado, pois o STF, tem alterado
seu entendimento desde o ano de 2011.
Assim, segundo os ltimos informativos do STF a respeito do
tema, se tem considerado que a qualidade de crime militar se afasta
caso, por exemplo, os militares envolvidos desconheam a situao
funcional dos envolvidos.
Sobre o tema vejamos os informativos do STF relacionados ao
tema:
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STF, Informativo 626.
Crime praticado por militar e competncia.
A 1 Turma deferiu habeas corpus para declarar a
incompetncia da justia castrense para apreciar ao penal
instaurada pela suposta prtica do crime de leso corporal grave
(CPM, art. 209, 1). Na espcie, o delito teria sido cometido por
um militar contra outro, sem que os envolvidos conhecessem
a situao funcional de cada qual, alm de no estarem
uniformizados. Entendeu-se que a competncia da justia
militar, conquanto excepcional, no poderia ser fixada apenas
luz de critrio subjetivo, mas tambm por outros elementos
que se lhe justificassem a submisso, assim como a precpua
anlise de existncia de leso, ou no, do bem juridicamente
tutelado. HC 99541/RJ, rel. Min. Luiz Fux, 10.5.2011. (HC-99541)
Percebe-se que o STF tem agregado o critrio ratione materiae
na alnea a para configurar o crime como militar.
Em 2012 o STF se manifestou no informativo 655:
Militar e tribunal do jri
Compete justia comum processar e julgar crime
praticado por militar contra militar quando ambos estiverem
em momento de folga. Com esse entendimento, a 1 Turma, por
maioria, concedeu habeas corpus para extirpar o decreto
condenatrio nos autos de ao penal processada perante a justia
castrense. Na espcie, o paciente, que se encontrava de folga, ao sair
de uma roda de samba em boate, praticara crimes dolosos contra as
vidas de dois civis e um militar. A impetrao sustentava que, em
relao vtima militar, o paciente fora julgado e condenado pela
justia militar e pelo tribunal do jri, o que importaria em bis in idem.
Assinalou-se, no caso, no ser a qualificao do agente a revelar a
competncia da justia castrense e no haver qualquer aspecto a
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atrair a incidncia do art. 9 do CPM quanto definio de crime
militar ... Ressaltou-se a competncia do tribunal do jri para
processar e julgar o militar em relao s vtimas civis e
militar. Vencido o Min. Dias Toffoli, relator, que, no conhecia o writ,
mas com base no art. 9, II, a, do CPM e no CC 7017/RJ (DJU de
14.4.94) , concedia, de ofcio, a ordem para, em relao vtima
militar, fixar a competncia da justia castrense, abolida a deciso do
tribunal do jri. HC 110286/RJ, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o
acrdo Min. Marco Aurlio, 14.2.2012. (HC-110286)
No mesmo informativo, ainda se veiculou outra deciso nesse
sentido:
EMENTA: PROCESSUAL MILITAR. HABEAS CORPUS. HOMICDIO
PRATICADO CONTRA CNJUGE POR MOTIVOS ALHEIOS S FUNES
MILITARES, FORA DE SITUAO DE ATIVIDADE E DE LOCAL SUJEITO
ADMINISTRAO MILITAR. CRIME MILITAR DESCARACTERIZADO
(ART. 9, II, A, DO CPM). COMPETNCIA DO TRIBUNAL DO JRI.
ORDEM CONCEDIDA.
1. A competncia do Tribunal do Jri para o julgamento
dos crimes contra a vida prevalece sobre a da Justia Militar
em se tratando de fato circunscrito ao mbito privado, sem
nexo relevante com as atividades castrenses.
2. A doutrina clssica revela a virtude da sua justeza ao
asseverar que o fro militar no propriamente para os crimes dos
militares, sim para os crimes militares; porque, no militar, h
tambm o homem, o cidado, e os factos delictuosos praticados
nesta qualidade caem sob a alada da (...) comunho civil; o fro
especial s para o crime que elle praticar como soldado, ut miles,
na phrase do jurisconsulto romano. Affrontaria o princpio da
egualdade o arredar-se da justia ordinria o processo e julgamento
de crimes communs para uma jurisdico especial e de excepo.
(Constituio Federal de 1891, comentrios por Joo Barbalho U. C.,
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21
ed. Fac-similar, Braslia: Senado Federal Secretaria de
Documentao e Informao, 1992, p. 343, nota ao art. 77)
3. Os militares, assim como as demais pessoas, tm a sua vida
privada, familiar e conjugal, regidas pelas normas do Direito Comum
(HC n 58.883/RJ, rel. Min. Soares Muoz).
4. Essa necessria congruncia entre a definio legal do
crime militar e as razes da existncia da Justia Militar o
critrio bsico, implcito na Constituio, a impedir a
subtrao arbitrria da Justia comum de delitos que no
tenham conexo com a vida castrense (Recurso Extraordinrio n
122.706, rel. Min. Seplveda Pertence).
5. In casu, embora a paciente e a vtima fossem militares
poca, nenhum deles estava em servio e o crime no foi
praticado em lugar sujeito administrao militar, sendo
certo que o mvel do crime foi a falncia do casamento entre
ambos, bem como o intuito da paciente de substituir penso
alimentcia cessada judicialmente por penso por morte e de
obter indenizao do seguro de vida, o que o suficiente para
afastar a incidncia do art. 9, II, a do CPM.
6. Parecer do Ministrio Pblico Federal pela concesso da
ordem.
7. Habeas corpus concedido para declarar a incompetncia da
Justia Militar. (HC N. 103.812-SP - REDATOR PARA O ACRDO:
MIN. LUIZ FUX)
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22
Art. 9, II, b:
Art. 9, II, b) por militar em situao de atividade ou
assemelhado, em lugar sujeito administrao militar, contra
militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
Aqui o sujeito ativo militar ou assemelhado6 que pratica o
delito contra militar da reserva, reformado, assemelhado ou civil,
dentro de lugar sujeito administrao militar. Assim, no presente
inciso se consideram os critrios ratione legis, ratione personae e
ratione loci.
Sobre a referida alnea j questionou a Cespe:
2010 CESPE DPU DEFENSOR PBLICO FEDERAL
Considere que um militar, no exerccio da funo e dentro de
unidade militar, tenha praticado crime de abuso de autoridade, em
detrimento de um civil. Nessa situao, classifica-se a sua conduta
como crime propriamente militar, porquanto constitui violao de
dever funcional havida em recinto sob administrao militar.
Certo ou Errado
Comentrio: A parte sublinhada esta errada.
Pois o crime de abuso de autoridade no crime militar.
Em razo disso a disposio da Smula 172 do STJ: Compete
Justia Comum processar e julgar militar por crime de abuso de
autoridade, ainda que praticado em servio.
No contexto da presente alnea, se um militar das foras
armadas, em servio de sentinela, mata um civil que invadiu o
quartel, segundo o entendimento do STM, o militar ter praticado
crime militar, nos moldes do que dispe a alnea b.
6 O assemelhado figura superada aps a vigncia do Estatuto dos Militares.
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Tal entendimento se pauta na declarao incidental de
inconstitucionalidade proferida pelo prprio STM em relao ao
nico do art. 9 do CPM. Registre-se que tal declarao se deu antes
do advento da EC 45/2004 que, alterando a redao do art. 125,
4, acabou por redefinir a competncia da Justia Militar Estadual.
CF/88, Art. 125. Os Estados organizaro sua Justia,
observados os princpios estabelecidos nesta Constituio.
...
4 Compete Justia Militar estadual processar e julgar os
militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as aes
judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competncia
do jri quando a vtima for civil, cabendo ao tribunal competente
decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
graduao das praas.
Segundo o pargrafo nico do art. 9 do CPM os crimes dolosos
contra a vida praticados contra civil, so de competncia do Tribunal
do Jri. Concluso que admitida pelo STF, que no declarou a
inconstitucionalidade do referido dispositivo.
Sobre o tema afirma o professor Marcelo Uzeda:
luz do novo texto constitucional, mesmo que no
se entenda revogado o nico do art. 9 do CPM, pode-
se interpret-lo restritivamente, remetendo-se
somente os homicdios dolosos contra a vida de
civis praticados por militares dos Estados ao
tribunal do jri. Todos os demais casos permanecem na
competncia da justia militar. Da poder-se concluir que
o militar das foras armadas que, me situao de
atividade, pratica crime doloso contra a vida de civil
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comete crime militar, sendo a competncia da
Justia Militar da Unio.7
Sobre o tema j questionou a Cespe:
2007 DPU CESPE DEFENSOR PBLICO FEDERAL
Compete justia militar da Unio processar e julgar crime
doloso contra a vida, praticado por militar do Exrcito Brasileiro
contra civil, estando aquele em atividade inerente s funes
institucionais das Foras Armadas.
Certo ou Errado
Comentrio: A afirmao est correta luz do entendimento do
STM.
A situao no pode ser confundida com a seguinte hiptese:
Homicdio doloso cometido por civil contra militar das Foras
Armadas em servio.
Nesse caso, conforme bem aponta Renato Brasileiro: ao
apreciar habeas corpus relativo a homicdio qualificado praticado por
civil contra sentinela em posto de vila militar, concluiu a Suprema
Corte tratar-se de crime militar, haja vista ter sido praticado por civl
contra militar no desempenho de servio de vigilncia (CPM, art. 9,
III, b), estando presentes 4 elementos de conexo militar do fato:
1) A condio funcional da vtima, militar da aeronutica;
2) O exerccio de atividade fundamentalmente militar pela
vtima, servio de vigilncia;
3) O local do crime, vila militar sujeita administrao militar;
e
7UZEDA DE FARIA, Marcelo. Direito Penal Militar. Bahia: Editora Juspodivm, 2012, p. 88.
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4) O mvel do crime, roubo de arma da Fora Area Brasileira
FAB.8
Por fim acrescenta o citado autor outro detalhe: caso a vtima
desse homicdio doloso praticado por civil seja um policial militar em
servio, a competncia ser do Tribunal do Jri, na medida em que a
Justia Militar Estadual no tem competncia para processar e julgar
civis (CF, art. 125, 4).9
Novidade:
Em 2011, a lei 12.432 incluiu exceo no pargrafo nico do
art. 9 do CPM, para tratar do denominado tiro de destruio,
previsto no art. 303 do Cdigo Brasileiro de Aeronutica, dispositivo
que remonta a conhecida Lei do Abate, que ento ser da
competncia do Justia Militar.
Dispe o novo pargrafo nico:
Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a
vida e cometidos contra civil sero da competncia da justia comum,
salvo quando praticados no contexto de ao militar realizada na
forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 -
Cdigo Brasileiro de Aeronutica.
Por sua vez dispe o Cdigo Brasileiro de Aeronutica:
Lei 7565/86, Art. 303. A aeronave poder ser detida por
autoridades aeronuticas, fazendrias ou da Polcia Federal, nos
seguintes casos:
I - se voar no espao areo brasileiro com infrao das
convenes ou atos internacionais, ou das autorizaes para tal fim;
II - se, entrando no espao areo brasileiro, desrespeitar a
obrigatoriedade de pouso em aeroporto internacional;
8 BRASILEIRO, Renato. Competncia criminal. Salavador: Juspodivm, 2010, p.
215/216. 9 BRASILEIRO, Renato. Competncia criminal. Salavador: Juspodivm, 2010, p. 216.
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III - para exame dos certificados e outros documentos
indispensveis;
IV - para verificao de sua carga no caso de restrio legal
(artigo 21) ou de porte proibido de equipamento (pargrafo nico do
artigo 21);
V - para averiguao de ilcito.
1 A autoridade aeronutica poder empregar os meios que
julgar necessrios para compelir a aeronave a efetuar o pouso no
aerdromo que lhe for indicado.
2 Esgotados os meios coercitivos legalmente previstos, a
aeronave ser classificada como hostil, ficando sujeita medida
de destruio, nos casos dos incisos do caput deste artigo e aps
autorizao do Presidente da Repblica ou autoridade por ele
delegada.
Em que pese a polmica a respeito do referido dispositivo, se
houver excesso ou inadequao do tiro de destruio haver crime
militar que ser julgado pela justia castrense federal.
Art. 9, II, alneas c e d:
Art. 9, II, ...
c) por militar em servio ou atuando em razo da funo,
em comisso de natureza militar, ou em formatura, ainda que
fora do lugar sujeito administrao militar contra militar da
reserva, ou reformado, ou civil;
d) por militar durante o perodo de manobras ou
exerccio, contra militar da reserva, ou reformado, ou
assemelhado, ou civil;
Adotam-se aqui os critrios ratione legis, ratione materiae,
ratione temporis e ratione personae.
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27
O crime na alnea c praticado por militar contra civil,
durante a manobra. No entanto, se o militar abandona a manobra, o
crime praticado ser comum.
Exemplo: se, em uma atividade militar, o sujeito pratica um
estupro, o crime ser considerado militar. Se ele usa fardamento,
mas no est vinculado atividade militar, o crime ser comum.
Desse modo, se percebe que os critrios (a pessoa, o tempo, o
local e a matria) so utilizados de forma cumulativa.
Exemplo: Militares da FAB usam o avio do servio para
transportar drogas. O crime de trfico, de competncia da justia
federal comum, pois foi usado material da Unio e a traficncia foge
da finalidade da viagem.
Diante da cumulatividade exigida pela alnea b, perguntou a
Cespe:
2011 FUMARC PMMG OFICIAL DA POLCIA
MILITAR.
O artigo 9 do Cdigo Penal Militar trata das hipteses de
incidncia da Lei Penal Militar em tempo de paz. Analise os
fatos abaixo:
Num final de semana, um Coronel da Ativa Y viaja de frias
para Poos de Caldas/MG e encontra o Tenente da Reserva PMMG X,
que fora seu subordinado e desafeto. Inesperadamente, o Tenente X
agride o Coronel Y na sada do hotel em que estavam hospedados.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) A atitude do Tenente X configura crime militar, mas por se tratar
de oficial da reserva o autor, o processo tramitar na Justia Comum.
b) A atitude do Tenente X configura crime militar, por se tratar de
crime de militar para militar e o processo tramitar na Justia Militar
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c) A atitude do Tenente X no configura crime militar, mas o processo
tramitar na Justia Militar por se tratar de crime de militar para
militar.
d) A atitude do Tenente X no configura crime militar, mas sim crime
comum, e o processo tramitar na Justia Comum.
Gabarito: D
Comentrios: A justificativa se encontra no dispositivo legal
abaixo, pois, s seria crime militar se praticado:
Art. 9, II, alneas c e d:
Art. 9, II, ...
c) por militar em servio ou atuando em razo da funo,
em comisso de natureza militar, ou em formatura, ainda que
fora do lugar sujeito administrao militar contra militar da
reserva, ou reformado, ou civil;
d) por militar durante o perodo de manobras ou
exerccio, contra militar da reserva, ou reformado, ou
assemelhado, ou civil;
Aqui tambm adotam-se os critrios ratione legis, ratione
materiae, ratione temporis e ratione personae.
Assim, o crime na alnea c praticado por militar contra civil,
durante a manobra. No entanto, se o militar abandona a manobra, o
crime praticado ser comum.
Exemplo: se, em uma atividade militar, o sujeito pratica um
estupro, o crime ser considerado militar. Se ele usa fardamento,
mas no est vinculado atividade militar, o crime ser comum.
Desse modo, se percebe que os critrios (a pessoa, o tempo, o
local e a matria) so utilizados de forma cumulativa.
Foi diante da cumulatividade exigida pelas alneas c e d, que a
banca examinadora indagou aos candidatos o questionamento que
teve como acertada a alternativa D, j que o militar, sujeito ativo do
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crime, estava de frias, ou seja, no estava em servio (alnea c) e
nem em perodo de manobras ou exerccio (alnea d).
Art. 9, II, alneas e:
e) por militar em situao de atividade, ou assemelhado,
contra o patrimnio sob a administrao militar, ou a ordem
administrativa militar;
Conforme j se afirmou anteriormente encontra-se superada a
situao do assemelhado, haja vista o advento do Estatuto dos
Militares. Logo, s pode ser sujeito ativo do crime o militar da ativa.
No necessrio que o bem pertena ao patrimnio militar,
sendo suficiente que esteja legalmente sob sua Administrao (STJ
CC 48.014).
Crimes contra a ordem administrativa militar so as infraes
que atingem a organizao, a existncia e as finalidades das Foras
Armadas bem como o prestgio moral da Administrao Militar.
Sobre o tema vale a transcrio da seguinte smula da
jurisprudncia do STJ: Smula: 75, STJ: COMPETE A JUSTIA
COMUM ESTADUAL PROCESSAR E JULGAR O POLICIAL
MILITAR POR CRIME DE PROMOVER OU FACILITAR A FUGA DE
PRESO DE ESTABELECIMENTO PENAL.
Apesar da identidade de redaes os crimes do art. 178 do CPM
(Fuga de preso ou internado) e art. 351 do CP (Fuga de pessoa presa
ou submetida a medida de segurana) se distinguem. Destarte, se o
preso estiver recolhido cadeia pblica, penitenciria ou outro
estabelecimento prisional comum, ter-se- crime comum, previsto no
art. 351 do Cdigo Penal. Por outro lado, se a pessoa estiver
recolhida a estabelecimento penal sob Administrao Militar ou em
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estabelecimento no penal ou prisional (hospital, por exemplo) a
competncia ser da Justia Militar, pois tal crime configurar ofensa
contra a Ordem Administrativa Militar.
Sobre a presente alnea indagou a Cespe:
2011 CESPE MPE/ES PROMOTOR DE JUSTIA
A reunio de dois ou mais militares, com armamento ou
material blico de propriedade militar, para a prtica de violncia
pessoa ou coisa pblica ou particular, em lugar sujeito
administrao militar, constitui crime militar prprio e autnomo. Os
crimes que ocorrem fora do lugar sujeito administrao militar,
contra o patrimnio da administrao pblica civil e a propriedade
particular, constituem delitos de formao de quadrilha ou bando,
apenados na esfera penal castrense.
Certo ou Errado
Comentrio: A parte sublinhada est errada.
A questo envolve o denominado crime de Organizao de
grupo para a prtica de violncia:
Art. 150. Reunirem-se dois ou mais militares ou assemelhados, com
armamento ou material blico, de propriedade militar, praticando violncia
pessoa ou coisa pblica ou particular em lugar sujeito ou no
administrao militar:
Pena - recluso, de quatro a oito anos.
Conforme se verifica, o crime continua sendo militar, mesmo
que seja praticado em lugar no sujeito administrao militar,
desde que pelas mesmas pessoas mencionadas no incio da
afirmao.
Caso os crimes citados ocorram fora do lugar sujeito
administrao militar, contra o patrimnio da administrao pblica
civil e a propriedade particular, e no sejam praticados por
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militares da ativa, a sim podero constituir delitos de formao
de quadrilha ou bando e crimes contra a pessoa e contra o
patrimnio, eventualmente, situao em que sero apenados na
esfera penal comum.
Por fim, importante salientar que apesar da rubrica marginal
(nomen juris) permitir o raciocnio de que o crime seria formal,
semelhana do que ocorre no crime de quadrilha ou bando previsto
no CP comum, onde no necessria a pratica dos eventuais crimes
intencionados pela reunio, no crime de Organizao de grupo para a
prtica de violncia a realizao da violncia contra a pessoa ou coisa
indispensvel sua consumao, tratando-se assim de crime
material.
Art. 9, III:
III os crimes praticados por militar da reserva, ou
reformado, ou por civil, contra as instituies militares,
considerando- se como tais no s os compreendidos no inciso
I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
Trata-se de inciso aplicvel aos civis (militar da reserva, militar
reformado ou civil).
Logo, se o crime do inciso III praticado por civil, o raciocnio
de que esse inciso no se aplica Justia Militar Estadual, pois a
mesma s detm competncia para julgar militares.
O STF e o STJ tm adotado uma interpretao bastante
restritiva em relao aos crimes militares cometidos por civis,
somente se caracterizando o crime como militar em hipteses
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excepcionais, e desde que esteja presente o intuito de atingir de
qualquer modo as Foras Armadas (STF - HC 86.716).10
Contudo o STM ainda detm entendimento literal, no sentido da
inexigibilidade dos requisitos apontados acima (Excepcionalidade e
Inteno de atingir as Foras Armadas).
Art. 9, III, alnea a:
a) contra o patrimnio sob a administrao militar, ou
contra a ordem administrativa militar;
Trata-se de crime militar praticado por civil contra o patrimnio
sob a Administrao Militar, ou contra a ordem administrativa militar.
Exemplo: Estelionato para continuar recebendo a penso
militar. Tal crime est previsto no art. 251 do CPM. O civil responder
pelo art. 251, c/c art. 9, inciso III, alnea a.
Reitere-se que o civil somente responde por esse crime de
estelionato se o crime for praticado em face do patrimnio sob da
administrao militar.
Art. 9, III, alnea b:
b) em lugar sujeito administrao militar contra militar
em situao de atividade ou assemelhado, ou contra
funcionrio de Ministrio Militar ou da Justia Militar, no
exerccio de funo inerente ao seu cargo;
Crime militar praticado por civil em lugar sujeito
Administrao Militar contra militar da ativa.
A parte sublinha se encontra superada, pois tais sujeitos se
submetem ao regime dos servidores civis.
10LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal, vol. I, Niteri, RJ: Impetus, 2011, p. 541.
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No que tange ao juiz-auditor (membro da Justia Militar), deve-
se atentar para a adequao necessria a ser feita tambm no art.
82, II, CPPM. Tal dispositivo no foi recepcionado pela CF, j que o
termo: auditor, se refere ao juiz-auditor que, como um juiz da Unio,
ser julgado perante o respectivo TRF (art. 108, inciso I da CF/88).
mesma concluso se chegar no que se refere ao membro do
Ministrio Pblico Militar (Membros do MPU), que tambm detentor
de foro por prerrogativa de funo.
Art. 9, III, alnea c:
c) contra militar em formatura, ou durante o perodo de
prontido, vigilncia, observao, explorao, exerccio,
acampamento, acantonamento ou manobras;
Acampamento: Trata-se do estacionamento temporrio das
tropas, onde as mesma se abrigam, o que ocorre, naturalmente, em
barracas.
Acantonamento: Trata-se do estacionamento das tropas em
que elas se utilizam de instalaes j existentes.
Formatura: Ato de forma, alinhar ou ordenar a tropa.
Perodo de prontido: Lapso temporal em que a tropa
permanece em sua unidade, em estado de alerta para eventual
deslocamento.
Perodo de vigilncia e observao: Ato ou efeito de vigiar,
espreitar.
Explorao: Procura no cumprimento da misso.
Exerccio: o adestramento de tropa.
Manobra: o adestramento da tropa com deslocamento.11
11 LOUREIRO NETO apud ROSSETTO, Enio Luiz. Cdigo Penal Militar comentado. 1
edio. So Paulo: Editora RT, 2012, p. 125.
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Art. 9, III, alnea d:
d) ainda que fora do lugar sujeito administrao
militar, contra militar em funo de natureza militar, ou no
desempenho de servio de vigilncia, garantia e preservao
da ordem pblica, administrativa ou judiciria, quando
legalmente requisitado para aquele fim, ou em obedincia a
determinao legal superior.
De acordo com a jurisprudncia, essa funo de natureza
militar a que se refere a presente alnea deve estar relacionada s
atribuies primrias das Foras Armadas, delimitadas pelo art. 142
da CF/88.
Art. 9, nico:
Pargrafo nico. Os crimes de que trata este artigo
quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil sero da
competncia da justia comum, salvo quando praticados no
contexto de ao militar realizada na forma do art. 303 da Lei
no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Cdigo Brasileiro de
Aeronutica. (Redao dada pela Lei n 12.432, de 2011)
Sobre o tema, crime contra a vida e competncia da justia
militar, questionou o CESPE no concurso para analista do STM em
2004:
De acordo com a legislao penal militar, os crimes
culposos contra a vida, em tempo de paz, praticados por
militar em servio so considerados crimes militares.
Certo ou Errado
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A afirmao est correta e assim se mantm, pois somente ser
competncia do Tribunal do Jri o crime doloso contra a vida, que,
entretanto, s no ir jri se for praticado nas circunstancias
estabelecidas pela lei 12.432/11, que passaremos a expor nesse
instante.
Em 2011, a lei 12.432 incluiu exceo no pargrafo nico do
art. 9 do CPM, para tratar do denominado tiro de destruio,
previsto no art. 303 do Cdigo Brasileiro de Aeronutica, dispositivo
que remonta a conhecida Lei do Abate, que ento ser da
competncia da Justia Militar da Unio, naturalmente.
Dispe o novo pargrafo nico:
Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a
vida e cometidos contra civil sero da competncia da justia comum,
salvo quando praticados no contexto de ao militar realizada na
forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 -
Cdigo Brasileiro de Aeronutica.
Por sua vez dispe o Cdigo Brasileiro de Aeronutica:
Lei 7565/86, Art. 303. A aeronave poder ser detida por
autoridades aeronuticas, fazendrias ou da Polcia Federal, nos
seguintes casos:
I - se voar no espao areo brasileiro com infrao das
convenes ou atos internacionais, ou das autorizaes para tal fim;
II - se, entrando no espao areo brasileiro, desrespeitar a
obrigatoriedade de pouso em aeroporto internacional;
III - para exame dos certificados e outros documentos
indispensveis;
IV - para verificao de sua carga no caso de restrio legal
(artigo 21) ou de porte proibido de equipamento (pargrafo nico do
artigo 21);
V - para averiguao de ilcito.
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1 A autoridade aeronutica poder empregar os meios que
julgar necessrios para compelir a aeronave a efetuar o pouso no
aerdromo que lhe for indicado.
2 Esgotados os meios coercitivos legalmente previstos, a
aeronave ser classificada como hostil, ficando sujeita medida
de destruio, nos casos dos incisos do caput deste artigo e aps
autorizao do Presidente da Repblica ou autoridade por ele
delegada.
Em que pese a polmica a respeito do referido dispositivo, se
houver excesso ou inadequao do tiro de destruio haver crime
militar que ser julgado pela justia castrense federal.
Por fim, informamos que a temtica relacionada competncia
criminal militar da Unio obteve trs precedentes recentes, que
facilmente podero ser cobrados em provas da Cespe.
Assim, colacionamos os precedentes realando os trechos que
reputamos adequados questes objetivas.
Os dois primeiros sero exposto de forma paralela, pois apesar
de recentes, esboam uma divergncia de fundamentao entre o
STF e o STM a respeito da competncia para julgar delito praticado
por civil contra Fora de Pacificao.
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STF STM
Competncia: policiamento
ostensivo e delito praticado por civil
contra militar
Compete justia federal comum
processar e julgar civil, em tempo
de paz, por delitos alegadamente
cometidos por estes em ambiente
estranho ao da Administrao
castrense e praticados contra
militar das Foras Armadas na
funo de policiamento ostensivo,
que traduz tpica atividade de
segurana pblica. Essa a concluso
da 2 Turma ao conceder habeas corpus
para invalidar procedimento penal
instaurado contra o paciente perante a
justia militar, desde a denncia,
inclusive, sem prejuzo da renovao da
persecutio criminis perante rgo
judicirio competente, contanto que
ainda no consumada a prescrio da
pretenso punitiva do Estado.
Determinou-se, ainda, a remessa dos
aludidos autos ao TRF da 2 Regio para
que, mediante regular distribuio,
fossem encaminhados a uma das varas
criminais competentes. Na espcie,
atribuir-se-ia a civil a suposta prtica de
conduta tipificada como desacato a
militar. Por sua vez, o membro do
Exrcito estaria no contexto de
atividade de policiamento, em
virtude de processo de ocupao e pacificao de comunidades cariocas. Sopesou-se que a
mencionada atividade seria de ndole
eminentemente civil, porquanto
envolveria tpica natureza de
segurana pblica, a afastar o ilcito
penal questionado da esfera da
justia castrense. Pontuou-se que
instauraria por se tratar de agente pblico da Unio a competncia da justia federal comum (CF, art. 109,
IV). Constatou-se que o Supremo, ao
defrontar-se com situao assemelhada,
Justia Militar competente para
julgar crime contra Fora de
Pacificao
O Superior Tribunal Militar confirmou,
por unanimidade, a condenao de civil
a seis meses de deteno por desacato
contra militares da Fora de Pacificao,
durante a ocupao do Complexo da
Penha, no Rio de Janeiro. O Plenrio
reafirmou tambm a competncia
Justia Militar para julgar crimes
em misses de garantia da lei e da
ordem.
De acordo com a denncia, em abril de
2011, trs militares do Exrcito que
serviam no Complexo da Penha foram
acionados para reforar a segurana
durante um tumulto na regio. Aps o
incidente, o civil, que depois admitiu
estar alcoolizado, voltou-se contra os
militares com ameaas e palavras
ofensivas, sendo logo depois contido e
preso em flagrante.
Na primeira instncia, em agosto de
2012, o homem havia sido condenado
por unanimidade a seis meses de
deteno. No recurso julgado pelo STM,
a defesa do acusado pleiteou a
incompetncia da Justia Militar da
Unio para julgar o caso, sob a alegao
de que os militares da Fora de
Pacificao no exercem funo tpica
das Foras Armadas. A defesa tambm
suscitou preliminar de
inconstitucionalidade parcial da Lei dos
Juizados Especiais, em razo de um
artigo que veda a aplicao das penas
alternativas no mbito da Justia Militar
da Unio.
Contrariando a alegao de
incompetncia da Corte no julgamento
do caso, a ministra Maria Elizabeth
Rocha afirmou que os militares da
Fora de Pacificao exercem
funo tipicamente militar,
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Assim, conforme se observa, h fundamentao divergente
sobre a competncia no caso de operaes de pacificao feitas com
o auxlio das foras armadas, razo pela qual orientamos o candidato
observar os termos da questo que eventualmente cobrar o
contedo.
Assim podemos simular algumas afirmaes viveis, haja vista
a atualidade do tema, pois verifique o aluno que os dois precedente
so de 2013. Vejamos:
12 Disponvel em: http://www.stm.jus.br/publicacoes/noticias/noticias-2013/justica-
militar-e-competente-para-julgar-crime-contra-forca-de-pacificacao
no considerara a atividade de
policiamento ostensivo funo de
natureza militar. A par disso,
reconhecera a incompetncia
absoluta da justia castrense para
processar e julgar civis que, em
tempo de paz, tivessem cometido
fatos que, embora em tese
delituosos, no se subsumiriam
descrio abstrata dos elementos
componentes da estrutura jurdica
dos tipos penais castrenses que
definiriam crimes militares em
sentido imprprio. HC 112936/RJ, rel.
Min. Celso de Mello, 5.2.2013. (HC-
112936) (Informativo 694, 2
Turma)
relacionada garantia da lei e da
ordem, conforme previsto no artigo
142 da Constituio Federal.
Segundo a ministra, a Justia Militar
Federal tem como misso proteger
as instituies militares e,
consequentemente, a soberania
estatal em sentido amplo, sendo o
ru civil ou militar.
A relatora tambm rejeitou a hiptese
da inconstitucionalidade parcial da Lei
dos Juizados Especiais. Ela defendeu
que a proibio legal justa e imperiosa uma vez que os crimes militares devem ter tratamento
diferenciado em relao aos ilcitos
penais comuns.
(...)
As palavras proferidas tiveram o condo de ofender a honra funcional
dos agentes militares, declarou a ministra. Ademais a autoria ficou evidenciada de maneira inequvoca, em
que pese a inexistncia de prova
documental, a ocorrncia delitiva
confirmou-se com base nos
testemunhos colhidos em juzo, prova
esta plenamente eficaz em fase da
prpria natureza do delito de desacato.Braslia, 21 de maro de 201312
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Questes inditas:
Segundo entendimento recente do STF, compete justia
federal comum processar e julgar civil, em tempo de paz, por delitos
alegadamente cometidos por estes em ambiente estranho ao da
Administrao castrense e praticados contra militar das Foras
Armadas na funo de policiamento ostensivo, que traduz tpica
atividade de segurana pblica.
Certo
Segundo entendimento recente do STF, a justia castrense
absolutamente incompetente para processar e julgar civis que, em
tempo de paz, tivessem cometido fatos que, embora em tese
delituosos, no se subsumiriam descrio abstrata dos elementos
componentes da estrutura jurdica dos tipos penais castrenses que
definiriam crimes militares em sentido imprprio.
Certo
Segundo entendimento recente do STM, a Justia Militar
competente para julgar crime contra Fora de Pacificao, haja vista
os militares da Fora de Pacificao exercerem funo tipicamente
militar, relacionada garantia da lei e da ordem, conforme previsto
no artigo 142 da Constituio Federal.
Certo
Segundo entendimento recente do STM, a Justia Militar tem
como misso proteger as instituies militares e, consequentemente,
a soberania estatal em sentido amplo, sendo o ru civil ou militar.
Certo
Segundo entendimento recente do STF, os militares da Fora de
Pacificao exercem funo tipicamente militar, relacionada
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garantia da lei e da ordem, conforme previsto no artigo 142 da
Constituio Federal.
Errado
Comentrio: A parte sublinhada est errada, pois conforme
manifestado no informativo 694 do STF: o Supremo, ao defrontar-se
com situao assemelhada, no considerara a atividade de
policiamento ostensivo funo de natureza militar.
STJ:
DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETNCIA PARA JULGAMENTO DE CRIME
COMETIDO POR MILITAR EM SERVIO CONTRA MILITAR REFORMADO.
A Justia Militar competente para julgar crime de homicdio praticado por
militar em servio contra militar reformado. O fato de a vtima do delito ser
militar reformado, por si s, no capaz de afastar a competncia da
Justia especializada. O art. 125, 4, da CF preceitua que compete Justia
Militar estadual processar e julgar os crimes militares dos Estados, nos crimes
militares definidos em lei e as aes judiciais contra os atos disciplinares militares,
ressalvada a competncia do jri quando a vtima for civil. O CPM, por sua vez,
estabelece em seu art. 9 os crimes considerados militares em tempo de paz,
dentre os quais prev a hiptese de crime cometido por militar em servio ou
atuando em razo da funo, em comisso de natureza militar, ou em formatura,
ainda que fora do lugar sujeito administrao militar contra militar da reserva, ou
reformado, ou assemelhado, ou civil (art. 9, II, c, do CPM). Embora os militares
na inatividade sejam considerados civis para fins de aplicao da lei penal
militar, o prprio CPM fixa a competncia da Justia Militar quando o crime
praticado por militar em servio contra outro na inatividade. Vale ressaltar que o
pargrafo nico do art. 9 do CPM, ao dispor que so da competncia da
Justia Comum os crimes nele previstos quando dolosos contra a vida e
cometidos contra civil, no exclui da competncia da Justia Militar o
julgamento dos ilcitos praticados nas circunstncias especiais descritas
nos incisos I, II e III do referido artigo. Precedente citado: REsp 1.203.098-
MG, DJe 1/12/2011. HC 173.131-RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
6/12/2012.
Com base no precedente acima um de nossos alunos
indagou:
O Informativo 514 do STJ revela que no podemos equiparar
civil a militar da reserva ou reformado na condio de vtima do
pargrafo nico do artigo 9 do CPM. Como autor, ainda podemos
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considerar o civil em sentido amplo, abarcando esses militares da
inatividade, certo?
Respondemos da seguinte forma:
Cuidado: O prprio precedente citado menciona: "Embora os
militares na inatividade sejam considerados civis para fins de
aplicao da lei penal militar...".
O cuidado que se deve ter que da mesma forma que um
militar da reserva pode ser considerado civil para fins de afastamento
da norma, o simples fato de ser militar da reserva no suficiente
para atrair a competncia da justia militar, pois como o prprio
precedente citado, devem concorrer uma das hipteses previstas no
art. 9 incisos I, II e III do CPM.
Lembre-se ainda que tal entendimento do STJ, e caber em
questo objetiva se for mencionado: Segundo o entendimento do
STJ...
Grande abrao e Sucesso!
Mantemos-nos disposio!
Prof. Pablo Farias Souza Cruz