Universidade Cândido Mendes
Pró-Reitoria de Planejamento e desenvolvimento
Diretoria de Projetos Especiais
Instituto de Pesquisas Sócio-Pedagógicas
Curso de Pós-Graduação em Supervisão Escolar
COMO AVALIAR RESPEITANDO A
SINGULARIDADE DO EDUCANDO
Por
Elaine Domingues da Silva Freitas
PROFESSOR ORIENTADOR
MARCO ANTONIO CHAVES
2002
Universidade Cândido Mendes
Pró-Reitoria de Planejamento e desenvolvimento
Diretoria de Projetos Especiais
Instituto de Pesquisas Sócio-Pedagógicas
Curso de Pós-Graduação em Supervisão Escolar
COMO AVALIAR RESPEITANDO A
SINGULARIDADE DO EDUCANDO
Por
Elaine Domingues da Silva Freitas
Trabalho monográfico apresentado
como requisito parcial para obtenção
do Grau de Especialista em Supervisão
Escolar
2002
AGRADECIMENTOS
Ao concluir este trabalho, não posso deixar de agradecer a todos os
professores que me ajudaram a crescer e a reavivar a paixão pela
educação, e em especial:
Ao Álvaro, meu marido, pela paciência, apoio e incentivo.
Ao Igor, meu filho, que muitas vezes privou-se da minha presença em
momentos importantes do seu crescimento e de suas descobertas de pré-
adolescente.
Aos meus sogros e tia que muito colaboraram na orientação e
acompanhamento do meu filho e marido durante minha ausência.
A minha mãe e irmãs, que tanto me incentivaram.
Ao meu pai, que mesmo falecido me iluminou e protegeu lá de cima.
Ao Professor Marco Antonio, meu orientador, que me guiou com tanta
competência, paciência e incentivo.
E a Deus, pela infinita bondade e amor, pois com Ele tudo é possível.
Dedico esse trabalho
ao meu marido e ao meu filho Igor
que tanto colaboraram com seu
carinho e compreensão
RESUMO
Questionando a idéia de que as capacidades intelectuais de
um indivíduo não possam ser captadas numa única avaliação; Gardner
sugere uma abordagem de avaliação que procura ativamente identificar o
que é possivelmente único num indivíduo quanto a suas inclinações e
capacidades numa série de áreas do conhecimento. De acordo com Gardner
o indivíduo possui sete inteligências: Lógico-matemática, Lingüística,
Espacial, Físico-cinestésica, Interpessoal, Intrapessoal e Musical. Para esse
aprofundamento do conhecimento do educando é essencial que a parte
afetiva seja somada à orientação do seu desenvolvimento.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................... 01
CAPÍTULO I .......................................................................... 02
“A teoria das Inteligências Múltiplas e suas implicações para a Educação”.
CAPÍTULO II ......................................................................... 07
“O desafio da avaliação na perspectiva das Inteligências Múltiplas”.
CAPÍTULO III ....................................................................... 16
“A relação da afetividade com a inteligência no desenvolvimento da
criança”.
CONCLUSÃO ........................................................................ 21
BIBLIOGRAFIA .................................................................. 23
ANEXOS ............................................................................... 24
INTRODUÇÃO
Todas as pessoas normais são inteligentes, mas apresentam
inteligências ”diferentes”, e os que se saem melhor são sempre os que
sabem usar sua capacidade de aprendizagem e suas inteligências diferentes
melhor do que os outros.
Em síntese, é inteligente quem aprende a aprender, e para
isso acontecer com maior facilidade é preciso entrar na compreensão das
coisas, escolhendo o melhor caminho, esse caminho difere de acordo com a
singularidade de cada um.
Para a escolha desse caminho é necessário o conhecimento
do ser e o acompanhamento afetivo do seu desenvolvimento.
Eu como mãe e professora acho complicado esse método
tradicional de avaliar , por isso acho fundamental conhecer a singularidade
de cada um para entender suas capacidades e aprender a avaliar o aluno
compreendendo-o como um todo e valorizar outras formas de
demonstração de competências além dos tradicionais eixos lingüístico e
lógico-matemático.
“Para que as diversas inteligências sejam desenvolvidas, a
criança tem de ser mais que uma mera executora de tarefas. É preciso que
ela seja levada a resolver problemas”.
Howard Gardner
CAPÍTULO I
A TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS E
SUAS IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO
O significado de inteligência tem sido, ao longo do tempo,
motivo de estudo de psicólogos, filósofos, neurologistas, pedagogos e
pesquisadores da ciência cognitiva.
Durante muito tempo, a concepção hegemônica de
inteligência foi, e talvez ainda seja, a de uma grandeza passível de medição.
Por essa ótica, a inteligência pode ser quantificada através de testes
especialmente preparados para isso. Baseados em questões de caráter
lógico-matemático e lingüístico, tais testes mediriam o quociente de
inteligência, o conhecido QI, de um indivíduo e determinariam sua
capacidade intelectual.
Desde os primeiros testes idealizados em 1908 por Binet até
hoje, algumas versões desse tipo de instrumento foram sendo elaboradas e
utilizadas com diferentes finalidades, entre elas, justificar fracassos
escolares, comportamentos sociais.
A idéia original dos trabalhos de Binet e seus colaboradores
não foi testar a inteligência, mas identificar alunos que tinham problemas
para aprender e ajuda-los a melhorar, sem atribuir a eles um rótulo e lhes
impor limites, qualquer que fosse a causa do mau desempenho escolar.
No entanto, quando as notícias dos primeiros testes de
inteligência chegaram à comunidade científica, especialmente nos Estados
Unidos, alguns psicólogos e educadores vislumbraram nos testes um
enorme potencial para avaliar e comparar pessoas, e não demorou muito
para que se manifestasse entre eles e na sociedade como um todo, o
entusiasmo pela testagem da inteligência.
Gould em seu livro A falsa medida do homem, afirma que
as intenções de alguns pesquisadores ao usar os testes eram boas, mas que
na maioria das vezes eles foram usados de maneira estigmatizante, para
rotular e posicionar pessoas e fazer julgamentos sobre suas limitações.
O uso dos testes de QI caminhou junto com a crença de que
as forças intelectuais eram herdadas e de que a inteligência seria uma
capacidade singular e inviolável, uma propriedade especial dos seres
humanos. Nessa perspectiva, cada indivíduo nasceria com uma
determinada quantidade de inteligência, o que permitiria a elaboração de
testes para qualificar e classificar pessoas em termos de seu intelecto.
Ao longo do tempo, especialmente a partir da década de 80,
críticas aos testes de inteligência têm sido freqüentes e defendem que , na
tentativa de isolar fatores culturais afim de atingir o que possa haver de
congênito em matéria de inteligência os testes quase sempre se resumem a
medir aptidões lingüísticas e lógico-matemáticas, deixando de fora do seu
campo de interesse uma série de outras habilidades que também podem
constituir-se em manifestações de inteligência.
Para pesquisadores como Minsky, Gardner e Gould, há
evidências persuasivas da existência de diversas competências intelectuais
humanas que indicam haver mais na inteligência do que respostas curtas
para perguntas curtas. Consideram que a inteligência não pode ser
conceitualizada à parte do contexto em que o indivíduo vive, o que indica a
compreensão de que a inteligência existe também, numa medida
significativa, fora do corpo físico do indivíduo.
Howard Gardner e uma equipe de pesquisadores da
Universidade de Harvard entram no cenário dos estudos sobre a
inteligência assumindo uma posição de que há evidências da existência de
diversas competências intelectuais humanas as quais chamam
genericamente “inteligências”. Nos diversos projetos de pesquisa que têm
desenvolvido, a idéia central é de que as manifestações da inteligência são
múltiplas e compõem um amplo espectro de competências.
Gardner afirma que sua teoria está baseada numa “visão
pluralista da mente”, que reconhece muitas facetas diferentes e separadas
da cognição, e que as pessoas têm forças cognitivas diferenciadas e estilos
cognitivos contrastantes. Segundo Gardner (1994), numa visão tradicional,
a inteligência é definida operacionalmente como a capacidade de responder
a itens em testes de inteligência, é um atributo ou faculdade inata do
indivíduo.
Para Gardner, não faz sentido pensar em inteligência, ou
inteligências, no abstrato, como entidades biológicas, como o estômago, ou
mesmo apenas como entidade psicológica, como emoção ou temperamento.
Ele diz que, na melhor das hipóteses, as inteligências são potenciais ou
inclinações que são realizadas, ou não, dependendo do contexto cultural e
social em que são encontradas.
A teoria das Inteligências Múltiplas pode ser vista como
tendo três princípios fundamentais. O primeiro deles seria que a
inteligência não é algo simples que pode ser visto de forma unitária ou
como incluindo múltiplas habilidades. Ao contrário, existem múltiplas
inteligências cada uma distinta da outra.
O segundo ponto fundamental da teoria das Inteligências
Múltiplas seria o fato de as inteligências serem independentes umas das
outras, isto é, uma habilidade pessoal avaliada sob uma inteligência não
garante, na teoria, ser previsível o resultado da avaliação da mesma pessoa
sob outra competência.
O terceiro ponto fundamental na teoria das Inteligências
Múltiplas trata da interação entre as competências. Isto é, as inteligências
interagem e, apesar da distinção que Gardner estabelece entre elas, nada
seria feito, ou nenhum problema se resolveria, se as pretendidas distinções
e a independência significassem que as inteligências não pudessem
trabalhar juntas.
Ao ler os trabalhos de Gardner nota-se que seu núcleo
central não está no número de competências que podem ser associada à
inteligência mas sim, fundamentalmente, no caráter múltiplo que a
inteligência apresenta e na possibilidade de se poder olhar para as
manifestações da inteligência, não mais sob a perspectiva de uma grandeza
a ser medida ou como um conjunto de habilidades isoladas, mas como uma
teia de relações que se tece entre todas as dimensões que se estabelecem
nas possibilidades de manifestação da inteligência.
As implicações sociais e educacionais que uma teoria
como essa traz são muito ricas pois estão relacionadas com a formação de
um novo cidadão, mais feliz, mais competente, com mais capacidade de
trabalhar em grupo, mais equilibrado emocionalmente.
CAPÍTULO II
O DESAFIO DA AVALIAÇÃO NA PERSPECTIVA DAS
MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS
Pesquisando sobre o Seminário Internacional de Avaliação
da Educação, realizado em outubro de 1995 no Rio de Janeiro através do
patrocínio do MEC/SEDIAE/INEP/SAEB / Fundação Cesgranrio /
Academia Brasileira de Educação / Academia Internacional de Educação,
teve-se a grande oportunidade de conhecer o parecer da Ilustríssima
Educadora Mara Krechevsky , diretora de Pesquisas do Projeto ATLAS da
Harvard University, EUA que é um anagrama de Authentic Teaching,
Learning and Assessment for All Students (autêntico ensino, aprendizagem
e avaliação para todos os alunos) e que participou do projeto SPECTRUM,
o qual desenvolveu avaliações baseadas na Teoria das Múltiplas
Inteligências de Howard Gardner.
Ela descreve a Teoria das Múltiplas Inteligências com uma
metáfora, a metáfora é uma câmera “O que a Teoria das Múltiplas
Inteligências nos oferece são novas lentes através das quais podemos olhar,
não apenas para os alunos enquanto trabalham, mas também para a
educação que lhes damos”.
A primeira lente da Teoria das Múltiplas Inteligências é uma
grande angular. Quando se olha para as escolas e as crianças através de
uma lente mais aberta do que a que se usava anteriormente, pode-se
encontrar algumas surpresas.
Mais alunos podem ser considerados inteligentes não
apenas em linguagem e matemática , mas também no modo de fazerem
esculturas com o barro, como movimentam seu corpo seguindo a música ou
pela maneira como se importam uns com os outros.
A segunda lente é a teleobjetiva, que permite focalizar
aquelas qualidades em que as crianças são melhores, e aprender sobre elas,
para se melhorar suas qualidades artísticas ou habilidades interpessoais.
Isso significaria construir a instrução dessa criança com um conhecimento
mais amplo e mais profundo do seu perfil de inteligência.
Ao elaborar a Teoria das Múltiplas Inteligências, Gardner
examinou vários grupos de conhecimentos. Basicamente ele se ateve à
pesquisa sobre o desenvolvimento de diferentes capacidades em crianças
normais. Ele examinou a perda dessas capacidades quando há danos
cerebrais.
Observou a existência de pessoas especiais como crianças
prodígios ou com habilidades artísticas.Estudou as habilidades individuais
encontradas em diferentes culturas. Estudou pistas da história da evolução e
dados dos testes psicométricos ou psicológicos.
A Teoria das Múltiplas Inteligências sustenta que as
habilidades para se compor uma sonata, construir um computador ou uma
ponte, organizar uma campanha política, requerem algum tipo de
inteligência, mas não necessariamente o mesmo tipo de inteligência.
Baseado nestes resultados e em toda essa evidência, Gardner identificou
sete faculdades mentais ou inteligências. Estas são as sete inteligências e
exemplos de pessoas que têm muito delas.
A primeira é a lingüística. Os poetas têm muita inteligência
lingüística. Depois, lógico-matemática, musical, espacial, cinestésica
corporal e as duas inteligências sociais: interpessoal e intrapessoal. Muitas
dessas habilidades incluídas na Teoria das Múltiplas Inteligências foram
tradicionalmente referidas como talentos ou dons. Para alguns, chamar
esses talentos de inteligência é desnecessário e confuso.
Desse ponto de vista, as inteligências podem ser rotuladas
de talentos mas, nesse caso, deve-se chamar também a lógica e a linguagem
de talentos. O problema não é rotular, mas isolar estas duas habilidades
como de algum modo mais importantes que outras. Ao pensar que, embora
se esteja acostumado a usar o termo inteligência para abranger uma gama
muito grande de habilidades, esta mudança lingüística é necessária para
ajudar a reconhecer os diversos campos que são valorizados pelas
sociedades de todo mundo.
O uso mais amplo do termo inteligência levou algumas
pessoas a perguntarem por que sete? Por que não setenta ou setecentos?
Não há nada mágico com o número sete. Com o passar do tempo, pode-se
constatar que esta visão deixou de lado certas inteligências ou incluiu
outras que não devia. Também são mencionadas inteligências para cozinhar
ou a espiritual . O importante é que introduzimos critérios que investidores
independentes podem usar para debater e determinar o que é inteligência.
Gardner escreveu um artigo em que usa esse critério para identificar uma
oitava inteligência, a naturalista, alguém que é sensível ao mundo natural
em volta do ser, como, por exemplo, um jardineiro ou um fazendeiro.
Descrevendo agora rapidamente cada uma das inteligências.
A Lingüística, que é virtualmente universal. Somente alguns poucos
indivíduos são totalmente deficientes em linguagem. Um exemplo desta
inteligência é Virginia Woolf. Gardner divide a linguagem em pelo menos
quatro importantes capacidades ou operações: primeiro as propriedades do
som e tonalidade da linguagem; segundo é a gramática ou sintaxe; terceiro
os significados da palavra ou os aspectos lógicos e os usos pragmáticos da
linguagem; e claro, existem as formas orais e escritas da linguagem, sendo
algumas pessoas mais sensíveis a uma forma do que a outra. A inteligência
lingüística é representada pelas palavras. Como exemplo temos os
escritores poetas, jornalistas, advogados, etc.Jorge Amado é alguém que
provavelmente tem muita inteligência lingüística. Em crianças pequenas
encontramo-la naquelas que gostam de brincar com palavras, fazendo rimas
e contando histórias elaboradas.
Uma segunda inteligência é a Lógico-matemática, se refere
a pessoas boas em lógica, matemática e ciências. Pode-se encontrar essa
inteligência em crianças que estão sempre prestando atenção ao padrão das
coisas e às relações entre os números. Um exemplo é Einstein.
Uma terceira inteligência é a Musical, esta é mais do que
competência, envolve a capacidade de pensar em termos musicais,
reconhecer temas, ver como eles são transformados, seguir estes temas no
decorrer de trabalhos e, mais ainda, produzir músicas. Um exemplo é
Stravinsky.
Uma quarta inteligência é a Espacial, abrange a habilidade
de relacionar padrões, perceber similaridades nas formas e conceituar
relações espaciais. Inclui a capacidade de visualização no espaço
tridimensional como na construção de modelos. Um exemplo é Pablo
Picasso.
Uma quinta inteligência é o movimento corporal, esta é a
mais difícil de ser aceita como uma inteligência. Refere-se à habilidade de
se usar o corpo todo, ou partes dele, para resolver problemas ou moldar
produtos. Encontramo-la em crianças que são atletas precoces ou naquelas
que se movimentam expressiva e ritmicamente com a música. Um exemplo
é Pelé.
Finalmente existem as duas inteligências pessoais ou
sociais. Inteligência Interpessoal que inclui a habilidade de compreender as
outras pessoas, como trabalham, o as motiva, como trabalhar
eficientemente com elas. Os terapeutas, professores, líderes políticos,
atores, todos usam essa habilidade para entenderem e reagirem às
indicações emocionais das pessoas em sua volta.
A sétima inteligência é a intrapessoal, é um tipo de
habilidade de se fazer analogia. Significa dimensionar suas próprias
qualidades de trabalho efetivo e eficaz, a partir de um conhecimento
apurado de si próprio, ou seja, saber seus limites, quais suas aspirações e
qual a capacidade de usar este conhecimento para ser eficiente no mundo.
Um exemplo é Sigmund Freud.
Atualmente, Gardner admite a existência de uma oitava
inteligência, a Naturalista, que seria a capacidade de reconhecer objetos na
natureza, e discute outras, a Existencial ou Espiritual e até mesmo uma
Moral, sem no entanto, adiciona-las às sete originais.
Estas então são as sete inteligências. Pense nelas pelo menos
como sete habilidades que o ser como espécie evolui para expressá-las e
têm desenvolvido através dos anos. Quase todos têm parcelas expressivas
de todas elas, mas se diferenciam na sua configuração ou no perfil de
nossos pontos fortes e fracos. Também nunca se encontra uma inteligência
isolada. Cada tarefa ou função envolve uma combinação de inteligências,
sendo o principal desafio da educação entender as diferenças nos perfis
intelectuais das crianças, formando uma idéia de como desenvolve-los.
Depois da base teórica da lente angular, o enfoque de
algumas particularidades. A teoria de Gardner visava seus colegas
psicólogos mas, nos Estados Unidos, foram os educadores que mais se
interessaram por sua teoria. Quatro anos após o desenvolvimento desta
teoria, um grupo de professores de escolas públicas fundaram sua própria
escola baseada na Teoria das Múltiplas Inteligências e agora existem
centenas de escolas nos Estados Unidos, e algumas no estrangeiro, que
usam esta teoria. A teoria está mudando o modo de se avaliar crianças na
escola.
Exemplificando o Projeto SPECTRUM.. Este projeto
começou em 1984 como uma abordagem alternativa para a avaliação de
crianças na educação infantil. A meta do projeto nessa fase era identificar
um número maior de aptidões que as crianças pudessem ter, usando a
Teoria das Múltiplas Inteligências, como uma base para trabalhar com
professores e especialistas e assim criar quinze diferentes avaliações e sete
diferentes disciplinas. Por exemplo: em linguagem examinavam a narrativa
descritiva e inventiva; em música olhavam a produção, o canto e a
habilidade de ouvir; em movimento corporal procuravam movimentos
criativos e atléticos.
Trabalhavam numa sala de educação infantil e um
pesquisador do SPECTRUM ministrava as atividades para as crianças que,
no entanto, pareciam como uma outra atividade qualquer da sala de aula.
No fim do ano faziam um histórico com sugestões para os pais de como
usar estas informações. Os resultados desta fase mostraram que as crianças
bem pequenas, como de quatro anos, têm perfis intelectuais distintos.
Na fase seguinte do projeto, desenvolveram, numa escola de
Boston, um programa de educação no qual pessoas da comunidade vinham
para a sala de aula trabalhar com as crianças e partilhar suas habilidades.
Tiveram guardas florestais, poetas, um baterista, etc.
Alguns aspectos desta avaliação; primeiro e mais
importante, em contraste com muitas abordagens educacionais orientadas
principalmente para aquelas crianças sujeitas ao fracasso escolar,
SPECTRUM tenta identificar as habilidades e usar esta informação para
criar um programa educacional.dar às crianças experiência nas áreas em
que são mais fortes não é apenas um modo de aumentar sua auto-estima,
mas também sugere maneiras de se atingir áreas em que não são tão boas.
Segundo, SPECTRUM tentou traçar a linha que divide
aprendizagem da avaliação reunindo informações sobre a criança em seu
próprio ambiente. Rejeitaram-se, então, os testes de inteligência
tradicionais, em que se retira a criança do seu ambiente e que são
administrados por pessoas que não lhes são familiares. Também não
achamos que exista algo como um potencial puro.
Terceiro, SPECTRUM tentou usar medidas chamadas de
esferas de inteligência. Ao invés de lhes dar todas as habilidades através da
visão da linguagem e da lógica, como a maioria dos testes que usam lápis e
papel, SPECTRUM tentou materiais relacionados à disciplina. Por
exemplo, numa área de mecânica davam às crianças uma máquina simples,
um objeto mecânico, para desmontar e montar, ao invés de dar-lhes formas
para serem copiadas, além de blocos para montar, ou fazer perguntas sobre
o funcionamento das máquinas.
Quarto, SPECTRUM tentou encaixar ou situar suas
avaliações em papéis ou atividades significativas, usando a noção dos
papéis do adulto na sociedade achavam relevantes e que tivessem
significado para uma criança de nível educação. Em linguagem faziam as
crianças usarem tópicos simples ou falarem sobre suas experiências em vez
de faze-las repetirem uma série de frases ou definirem palavras.
Finalmente, a fim de entender em profundidade o modo
como a criança aborda uma tarefa, ficou claro que não era bastante se ater
apenas aos componentes cognitivos mas, também, ao seu estilo, isto é, se
ela era perseverante, confiante. Algumas crianças têm um estilo que
simplifica o trabalho nas áreas que estão trabalhando. Outras têm estilos
que estão mais em conformidade com o que se espera, podendo ainda
perseverantes, reflexivas e se auto-corrigirem somente nas áreas em que
são mais hábeis.
CAPÍTULO III
A RELAÇÃO DA AFETIVIDADE COM A
INTELIGÊNCIA NO DESENVOLVIMENTO DA
CRIANÇA
Segundo Jean Piaget (1962)
É incontestável que o afeto desempenha um papel essencial
no funcionamento da inteligência.
Sem afeto não haveria interesse, nem necessidade, nem
motivação; e conseqüentemente, perguntas ou problemas nunca seriam
colocados e não haveria inteligência. A afetividade é uma condição
necessária na constituição da inteligência mas, na minha opinião, não é
suficiente.
Pode-se considerar de duas maneiras diferentes as relações
entre afetividade e inteligência. A verdadeira essência da inteligência é a
formação progressiva das estruturas operacionais e pré-operacionais.
Na relação entre inteligência e afeto, pode-se postular que o
afeto faz ou pode causar a formação de estruturas cognitivas.Muitos autores
tem apresentado tal tese.
Charles Odier em seu estudo das relações entre psicanálise e
estudos em psicologia infantil. Odier sustentou que o esquema do objeto
permanente (as descobertas que o bebe faz sobre a permanência do objeto
quando ele desaparece do seu campo visual) é causado por sentimento, por
relações objetais.
Ou seja, isto é devido às relações efetivas da criança com o
objeto ou pessoa envolvida. Em outras palavras, as relações afetivas com o
objeto-mãe, ou outras pessoas, são responsáveis pela formação da
estruturas cognitivas.
O psicólogo francês Wallon acha que a emoção é fonte do
conhecimento. Um estudioso de Wallon, Malrieux, chega até a dizer que a
estimativa de distância, ou a percepção de distância, é devida ao desejo de
alcançar objetos distantes, e não à própria distância dos objetos.
Uma segunda interpretação é que o afeto explica a
aceleração ou retardamento da formação das estruturas; aceleração no caso
de interesse e necessidade, retardamento quando a situação afetiva é
obstáculo para o desenvolvimento intelectual, como no excelente estudo de
Spitz sobre hospitalidade. Nessa interpretação, a afetividade explica a
aceleração ou retardamento, mas não a causa da formação da estrutura.
Embora uma condição necessária, a afetividade não é condição suficiente
na formação da estrutura, que na cognição, é autônoma.
O importante é que ao pensar em afetividade, não é somente
mudar a teoria, o importante é a consciência da importância da afetividade
no desenvolvimento do ser e no caminho do conhecimento de suas
singularidades.
Vive-se hoje momentos de transformações , há uma série de
propostas educacionais, e não podendo se excluir delas, mas se faz
necessário o questionamento, pois não basta o acúmulo de idéias na cabeça,
mas a colocação de algumas dessas idéias junto com a realidade do nosso
dia a dia.
Segundo Pino (mimeo)
Os fenômenos referem-se às experiências subjetivas, que
revelam a forma como cada sujeito “é afetado pelos acontecimentos da
vida ou, melhor, pelo sentido que tais acontecimentos têm para ele”.
Portanto, “os fenômenos afetivos representam a maneira como repercutem
na natureza sensível do ser humano, produzindo nele um elenco de reações
matizadas que definem seu modo de ser no mundo”.
Dentre esses acontecimentos, as atitudes e as reações dos
seus semelhantes a seu respeito são, sem sombra de dúvida, os mais
importantes. São as relações sociais com efeito, as que marcam a vida
humana, conferindo ao conjunto da realidade que forma seu contexto um
sentido afetivo.
Segundo Vygotsky (1994)
A aprendizagem ocorre a partir de um intenso processo de
interação social, através do qual o indivíduo vai internalizando os
instrumentos culturais. Dessa forma, pode-se supor que as experiências
vivenciadas com outras pessoas é que vão determinar a qualidade do objeto
internalizado e que tais experiências acumuladas, constitui a história de
vida de cada um, é que vão possibilitar a um novo significado individual do
produto internalizado. Portanto, a ação de conhecer é obra da atuação do
elemento mediador (Pino, 1997).
Entendendo o professor como um dos mediadores em sala
de aula, as interações entre ele e os alunos não se limitam apenas aos
aspectos cognitivos; a afetividade é uma dimensão sempre presente nos
processos interativos. Nesse sentido, as interações próprias da sala de aula
dão carregadas de afetividade, seguramente, esta carga afetiva vai exercer
uma influência na aprendizagem. A intervenção pedagógica, centrada
principalmente na interação professor – aluno, é determinante na
construção de todo e qualquer conhecimento, incluindo o relacionado com
a escrita e a leitura.
A criança em idade escolar está em intenso progresso no
campo intelectual sendo que, segundo Wallon (1968), a afetividade
possibilita tal avanço, pois são os motivos, necessidades, desejos que
dirigem o interesse da criança para o conhecimento e conquista do mundo
exterior; é, pois, importante observar e descrever como o professor utiliza-
se dos aspectos afetivos para promover o avanço cognitivo, já que a
elaboração cognitiva funda-se na relação com o outro (Smolka, 1995). Tal
relação é permeada pela afetividade, uma vez que “conforme o tom com
que fala, o olhar que lança, o gesto que esboça, a fala adquire um valor
determinado para o conjunto de alunos e, certamente, uma ressonância
particular para alguns deles” (Cunha, 1988).
A conquista do espírito do educando tem de ser objeto de
uma luta constante do professor. Essa conquista não se obtém somente pelo
saber, mas, também, pelo sabor do afeto, do riso, da firmeza serena, da
narração de amenidades e, às vezes, até mesmo, a título de bom exemplo,
de um pouco de autobiografia.
“O grande professor é, sobretudo, o que mora na alma do
aluno. É aquele que fica na sala mesmo após ir embora dela com o toque
do sinal”. João Pessoa de Albuquerque,
diretor do colégio Anglo-Americano
CONCLUSÃO
Portanto tudo que se assimila “a frio” se assimila mal, seja
o estudo, o trabalho, o amor. Logo, o professor precisa conquistar a
confiança do educando, e é através da afetividade que ele vai provocar a
sua sensibilidade e mobilizar seus sentimentos, respeitando suas diferenças
e capacidades durante o processo de orientação do seu desenvolvimento.
A conquista do espírito do educando tem de ser objeto de
uma luta constante do professor. Essa conquista não se obtém somente pelo
saber, mas, também, pelo sabor do afeto. Para que o processo de ensino se
efetue com êxito, eficácia e duração, é absolutamente necessário que
professor e educando se localizem no mesmo espaço psicológico, que
ambos se sintam se “toquem”, se entendam. Para que essa proximidade se
efetue é preciso que o professor conheça, antes de mais nada, o processo de
desenvolvimento físico, mental, e afetivo do educando, descobrindo assim
suas habilidades, suas inteligências.
As escolas, de maneira geral, ainda estão engatinhando no
uso das Inteligências Múltiplas. Afinal existe uma distância enorme entre a
teoria científica a prática em sala de aula. O maior problema dos
educadores é que muitos deles ficam preocupados demais em classificar as
crianças. Mais importante do que essa classificação é constatar que todas as
crianças têm inteligências e que todas essas inteligências precisam e podem
ser desenvolvidas.
É preciso se conscientizar que avaliar o educando no
processo global diferenciando suas habilidades, muda radicalmente o
paradigma da avaliação. A avaliação das Inteligências Múltiplas se
preocupa com o esforço pessoal, com a bagagem hereditária, ou seja com a
realidade do educando dentro de um contexto cultural e social.
Realmente, é fascinante observar as idéias filosóficas ou
científicas que ao longo dos tempos vão-se transformando em idéias
educacionais e as práticas que delas decorrem.
Por isso tudo se acredita que não há tema mais apaixonante
que o da educação. Talvez porque por meio dele se possa, de certo modo,
mudar e antecipar o futuro.
“Aprender é um ato de comunicação com o mundo, com o objeto de
conhecimento, com o outro. A aprendizagem está diretamente relacionada ao aspecto
afetivo, e ao sentimento de prazer, quando podemos concluir que o sujeito é uma
totalidade de afetividade e cognição”
Professora Maria Antonia D. Quintes
BIBLIOGRAFIA:
1) Estrutura da Mente : Howard Gardner 2) Afetividade e vida de relação.Campinas, Faculdade de Educação,
UNICAMP.( Mimeo). 3) A Grande Jogada : Celso Antunes 4) Ensaios : Thereza Penna Firme 5) WALLON,H. A evolução psicológica da criança, 1968
6) Palestra sobre Inteligências Múltiplas : Celso Antunes
7) Revista Nova Escola edição abril 1997 8) Jornal da Escola Agora edição outubro 1999
9) Artigo: A Teoria das Inteligências Múltiplas e a formação do
cidadão: Kátia Cristina Stocco Smole
10) A Pedagogia do Amor : Nilsom Guedes de Freitas
11) CUNHA,M.I. A prática pedagógica do bom professor, UNICAMP, Campinas, 1988. 12) SMOLKA,ªL.B.&GÓES,M.C.(org.). A linguagem e o outro no estudo escolas: Vygotsky e a construção do conhecimento, 1995.