Cinturão Abdominal Lombar
Por serem de caráter repetitivo as atividades laborais acabam causando estresse nos músculos
envolvidos em tais tarefas. Torna-se então inevitável o desencadeamento da dor aguda e
posteriormente crônica. A imposição de posturas que exigem tensões contínuas resultante de
algumas atividades ocupacionais pode desencadear a LBP (LBP, abrev. do inglês low-back pain),
fruto de espasmos musculares com ou sem o agravo da compressão dos nervos espinhais ou ainda
por anormalidades dos discos vertebrais, que podem ter a sua origem na disfunção dos músculos
abdominais, eretores da coluna e posteriores da coxa.
Sabidamente a dor crônica da região lombar (LBP)tem sido uma das principais causas do
absenteísmo-doença. Estima-se que esta queixa seja a doença mais cara da vida adulta
relacionada ao trabalho. Inúmeras tentativas de manejo na posição de execução das atividades
laborais do tipo tarefas de levantamento de carga (TLC) têm sido propostas a fim de minimizar tal
problema.
A órtese ou cinturão abdominal lombar(CAL)DIGITADOR utilizado para proteção dos músculos da
região lombar tem sido alvo de pesquisas a fim de determinar o seu efeito sobre a região lombar
durante ou após a TLC (tarefa de levantamento de carga). Recentemente pesquisas apontaram
que o CAL (Cinturão Abdominal Lombar) DIGITADOR fornece um efeito protetor sobre a região
lombar e assim minimiza o surgimento da dor aguda e posteriormente crônica.Algumas
características fundamentais no cinturão abdominal lombar DIGITADOR possibilitaram este
resultado .O CAL Digitador possui uma placa protetora na região lombar que promove uma
sustentação positiva na região e o material estrutural do cinturão fabricado em lona contribui
significativamente na eficiência do produto promovendo maior sustentação na região abdominal e
lombar,outra característica é sua modelagem eficiente que adapta aos tamanhos dos indivíduos.
Estudos que buscaram identificar as causas da fadiga muscular durante as atividades laborais tem
demonstrado que existe uma clara associação epidemiologia entre as exigências ergonômicas e os
transtornos músculo-esqueléticos e que a fadiga dos músculos extensores da coluna pode
representar um fator de risco para o desenvolvimento da LBP .
Muitos autores propõem REGRAS para o levantamento de cargas, como Sullivan (1989), que
sugere para um levantamento seguro, observar o plano de levantamento, a manutenção da carga
próximo ao corpo, evitar a rotação do tronco enquanto se levanta, flexionar os joelhos.
As regras muitas vezes são de difícil aplicação, pois dependem do tamanho do indivíduo, forma e
posição no espaço e dos hábitos daquele que levanta o peso, seis princípios devem ser
observados: 1) pés planos no solo 2) pernas afastadas numa distância cômoda (aproximadamente
30cm), 3) peso‚ mantido o mais próximo possível do indivíduo; 4), a coluna vertebral‚ mantida na
posição o mais ereta possível; 5) o levantamento ‚ realizado pelos músculos maiores e mais fortes,
em geral os músculos extensores da articulação do joelho; 6) indivíduo voltado para a direção
daquilo que pretende deslocar. Um levantamento seguro de um objeto ao nível do solo, requer
que o trabalhador mantenha a coluna lombar ereta, fletindo os joelhos para abaixar o corpo, e
levantar com os músculos da perna, manter o objeto próximo ao corpo, levantar de maneira lenta
sem solavancos, girar com os pés em vez do tronco e posicionar corretamente pés, queixo, braços
e mãos. Que os objetos sejam levantados suavemente, tenham moderada largura, e que as mãos
estejam mantidas seguras no objeto a ser levantado e que existam favoráveis condições de
temperatura. A capacidade para o levantamento é maior quando as mãos estão próximas ao
joelho e é menor quando a carga está na altura da cintura ao contrário para a altura do joelho ou
ombro. Isto devido a pobre vantagem mecânica dos braços e da coluna lombar no nível da cintura.
Partindo dessa premissa o uso do cinto abdominal lombar DIGITADOR durante a tarefa de
levantamento de carga de mesma intensidade em dias diferentes combinados com REGRAS para o
levantamento de carga seguro, reduz a sobrecarga espinhal e alterando assim a atividade
eletromiográfica (EMG) dos músculos eretores da coluna ou mesmo modificar a resposta da
mesma, resultado este de pesquisas recentes.
Materiais e métodos
Sujeito e procedimentos
Para testar a hipótese neste ensaio, um único sujeito jovem (19 anos), 172 cm de altura, massa
corporal de 65 kg, que não exercia nenhum tido de atividade laboral semelhante à testada nesta
investigação e sem histórico de dores lombares nos últimos 3 meses, foi selecionado e submetido
a seis ensaios (três com o CL [CC] e três sem o CL [SC]) de forma randomizada, com intervalos
mínimo entre os mesmos de 7 e no máximo 10 dias. O critério usado para a determinação do
intervalo mínimo e máximo entre as sessões foi o escore igual a zero determinado pela EVA20.
Eletromiografia
Para o registro da atividade EMG foi utilizado um amplificador de oito canais e conversor
analógico-digital – CAD 12/32 (EMG System do Brasil) com resolução de 12 bits, interfaciado com
um computador e programa de aquisição de dados (AqDados 5.0), com freqüência de amostragem
de 1000 Hz e a largura de faixa determinada com um passa banda de 20 a 500 Hz; eletrodos ativos
diferenciais de superfície (EMG System do Brasil), com pré-amplificação total de 1000 vezes e
eletrodos adesivos (Meditrace). A quantificação do sinal EMG foi feita pelo método da raiz
quadrática média (“root mean square” – RMS)21 em janelas de 5s cada, iniciando-se o
janelamente em 0,5s. Determinado os valores do RMS de cada janela, estes foram normalizados21
pelos valores do sinal obtidos da linha de base. Os eletrodos foram posicionados a 6 cm do espaço
intervertebral de L2-L3 para os músculos iliocostal direito e esquerdo (IL-D e IL-E)19, a 3 cm do
espaço intervertebral de L4-L5 para os músculos Multifidio (MU-D e MU-E)19 e sobre os músculos
longuíssimo do tórax direito (LT-D) e esquerdo (LT-E) no nível da vértebra L1 e 3 cm
lateralmente23. Para garantir a mesma colocação dos eletrodos em todos os ensaios, foram
determinados os pontos motores dos músculos MU, IL e LT utilizando corrente de estimulação
elétrica21. Após essa determinação, os eletrodos foram conectados à pele do sujeito por meio dos
eletrodos adesivos de superfície, com uma distância de centro a centro de 2 cm, e fixados com
esparadrapo transpore. A coleta da EMG foi realizada na posição fundamental, sem o uso do CEL
durante um minuto de maneira ininterrupta antes e imediatamente após a TLC, sempre no
período vespertino compreendido entre as 14 e 16 h, sendo que a TLC foi elaborada a fim de
simular as atividades laborais, guardada as devidas proporções, e principalmente induzir a fadiga
dos músculos investigados.
Tarefa de levantamento de carga
Para esta investigação foi utilizado um cinto lombar elástico no tamanho PP (103 cm x 16-22 cm)
de produção comercial da B&S Equipamentos de Segurança Ltda (SP–Br), com o corpo fabricado
em tecido 100% algodão e o suporte elástico em 77% de poliéster e 23% de elastodieno,
estruturado com duas barbatanas (14 cm x 1,5 cm e 16,5 x 1,5 cm, respectivamente) em nylon
flexível em cada lateral e uma placa de borracha semi-rígida de EVA (12,5 cm x 9 cm) na parte
traseira. Já para a TLC foi elaborada uma caixa em madeira (45 x 40 x 30 cm) de massa igual 50N
com alças vazadas em ambos os lados para a preensão ativa na forma de gancho. A carga da TCL
foi de 30% da massa corporal do sujeito (195N), sendo este trabalho classificado como
moderado24. A caixa para o levantamento foi posicionada no solo imediatamente a frente do
sujeito a uma distância de 60 cm a partir do encontro entre os planos sagital e frontal até a borda
da caixa. O sujeito era orientado a executar o movimento de flexo-extensão da coluna, movendo-
se exclusivamente no plano sagital. A fim de atingir os objetivos desta investigação o esquema de
levantamento foi padronizado de forma que o sujeito realizasse o maior número de repetições até
a exaustão voluntária em cada série. O ritmo de cada ciclo de movimento (excêntrico-concêntrico)
foi aproximadamente de 3 segundo e controlado por comandos verbais. Foi estabelecido um
intervalo de 1 minuto entre cada série onde o sujeito ficava na posição sentado. O final de cada
série de levantamento foi determinado pela exaustão voluntária, incapacidade do sujeito em
realizar a amplitude total sugerida ou ainda por vontade própria do sujeito em não continuar os
levantamentos. Não foi permitido ao sujeito a flexão de cotovelo durante o TLC, devendo o
mesmo mantê-lo em posição neutra.
Análise estatística
Os resultados são apresentados em valores médios ± desvio padrão (X± DP) e adicionalmente o
intervalo de confiança (IC) de ± 95% ou seja, ±1.96. A interação entre os TRATAMENTOS (pré e pós
Fadiga), CONDIÇÕES (CC e SC) e os ENSAIOS (1º, 2º, 3 º) foi averiguada pelo teste ANOVA 3-Way
para medidas repetidas. Os dados se mostraram normais e homogêneos. O índice de significância
adotado para esta investigação foi de 5%.
Resultados
Os valores X ± DP e ± IC da RMSnu para o músculo MUb nas diferentes condições estudadas são
apresentados sumariamente na Tabela 01. O ANOVA 3-Way (2 tratamento, 2 condições e 3
ensaios) evidenciou haver interação (F[4, 130] = 4.5493, p = 0.00180) entre os tratamentos (pré-
fadiga, pós-fadiga) vs condição (sem sinto [SC], com cinto [CC]). Adicionalmente o ANOVA
evidenciou interação (F[2, 65] = 4.5011, p = 0.01476) na condição (sem sinto [SC], com cinto [CC]).
Contudo não houve interação entre no ENSAIO (F[4, 130] = 0.22191, p = 0.92579).
Figura 1. Resposta EMG (RMSnu) pré-fadiga (círculo) e pós-fadiga (quadrado) do multifídeo
durante a TLC e EVA (quadrado negro) nos três
diferente ensaios (CC e SC).* Interação significante entre os tratamentos (pré-fadiga, pós-fadiga)
vs condição (sem sinto [SC], com cinto [CC])
Para o músculo ILb as análises estatísticas dos valores X ± DP e ± IC (TABELA 2) evidenciaram
apenas interação significante (F[1,66] = 5.4829, p = 0,0223) entre os TRATAMENTOS (pré-fadiga,
pós-fadiga), contudo não houve interação para TRATAMENTO vs CONDIÇAO vs ENSAIOS ([F = 2,
66] = 0,78460, p = 0,46051).
Tabela 2. Valores X±DP e ± IC (1,96) do RMSnu verificados entre os TRATAMENTOS (pré e pós-
fadiga), CONDIÇÕES (CC e SC) e ENSAIOS (1º, 2º e 3º) para o músculo iliocosatal
Figura 2. Resposta EMG (RMSnu) pré-fadiga (círculo) e pós-fadiga (quadrado) do Iliocostal durante
a TLC e EVA
(quadrado negro) nos três diferente ensaios (CC e SC). * interação significante entre os
TRATAMENTOS (pré-fadiga, pós-fadiga)
Já para o músculo LTb a análise dos valores X ± DP (TABELA 3) evidenciaram interação significante
(F[1,66] = 21.521, p = 0,00003) entre as condição (sem sinto [SC], com cinto [CC]) e entre os
ENSAIOS vs CONDIÇÃO (F[2,66] = 3.7635, p = 0,02833) e entre os TRATAMENTOS (F[1,66] =
6.62447, p = 0,01231). Entretanto não houve interação significante (F[2,66] = 1,1320, p = 0,32855)
entre TRATAMENTOS vs CONDIÇÕES vs ENSAIOS.
As figuras 1, 2 e 3 ilustram as respostas do RMSnu e suas interações nos três diferentes músculos
investigados (e.g. MU, IL e LT, respectivamente).
Tabela 3. Valores X±DP e ± IC (1,96) do RMSnu verificados entre os TRATAMENTOS (pré e pós-
fadiga),
CONDIÇÕES (CC e SC) e ENSAIOS (1º, 2º e 3º) para o músculo longuíssimo do tórax
Figura 3. Resposta EMG (RMSnu) pré-fadiga (círculo) e pós-fadiga (quadrado) do Longuíssimo do
Tórax durante a TLC e EVA (quadrado negro) nos três diferente
ensaios (CC e SC). * interação significante entre as condição (sem sinto [SC], com cinto [CC]), entre
os **ENSAIOS vs CONDIÇÃO e entre ***TRATAMENTOS
Discussão
O principal achado desta investigação foi ter observado um decréscimo da EMG, aqui verificada
pelo RMS do MU pós-fadiga na condição CC quando comparada a condição SC, sendo que o RMS
do IL e LT apresentou um aumento na mesma condição. Este achado visualizado nas Figuras 1, 2 e
3 (MU, IL e LT, respectivamente) sugere que houve uma alteração no padrão de co-ativação dos IL
e LT na situação com CC em relação a SC. Adicionalmente a dor percebida pós esforço exaustivo,
aqui avaliada pelos escores determinados pela EVA, se mostraram menores na condição CC em
relação a SC. Sabemos que após episódios de dor lombar e mesmo após da regressão da
sintomatologia, a forte evidencias de que ocorra uma rápida atrofia muscular dos eretores da
coluna5,6.
Outro dado importante a ser considerado nesta investigação é que o RMS permaneceu inalterado,
sob a ótica do método estatístico (p = 0.92579), sugerindo que o voluntário apresentava condições
semelhantes nos diferentes ensaios (e.g. 1º…6º ensaio).
Supostamente a cinta lombar aumenta a rigidez do tronco e assim, reduz a exigência de força
muscular, aumentando desta forma à eficácia da pressão abdominal, o que resultaria em
diminuição nas resultantes de força sobre as unidades musculares dorsais, além de restringir a
mobilidade do tronco durante a tarefa de levantamento da carga24. Respaldados nas reflexões de
Chaffin, Anderson, Martin24, é possível especularmos, ainda que de forma simplória, que a
postura típica de levantamento de peso adotada nesta investigação (e.g. flexão-extensão da
coluna sem flexão dos joelhos) para uma carga de 195N (19,5 kg) gera aproximadamente um pico
de força de compressão em L5/S1 de aproximadamente 2600N (aprox. de 260 Kg). Ao assumirmos
que a tensão gerada pelo aperto da cinta elástica é de aproximadamente 90N isto resultaria em
uma tensão aproximada de 37N.m (N. por metro) em um momento de flexão passiva e admitindo-
se que os tecidos moles abdominais saudáveis são perfeitamente capazes de suportar tais
grandezas de força25, para esta investigação a redução nos momentos de flexão e nas forças
estimadas seria entorno de aproximadamente 12%.
Esta redução (e.g. de 12%) já justificaria o decréscimo significante do RMS do MU na condição CC.
Em adição, tem sido reportado que a amplitude da EMG (e.g. RMS) pode refletir tanto a aumento
do padrão de recrutamento das unidades motoras, verificado pelo aumento relativo (e.g.
normalização) ou absoluto da RMS como identificar o início da fadiga eletromigráfica, percebido
pelo decréscimo da RMS em função do tempo em uma função linear significativa19,26-29.
Paradoxalmente, a possível instabilidade decorrente da fadiga muscular em virtude da tarefa
exaustiva agregada a uma redução dos momentos de flexão sobre as estruturas músculo-
articulares da coluna (precisamente entre S1/L5-L4, em virtude do uso do CEL), tenha gerado um
padrão de co-ativação dos músculos acessórios desse momento de força (e.g. IL e LT) o que
poderia resultar a longo e também em curto prazo em aumento da resistência, sem
necessariamente evidenciar um aumento da força e da potência muscular, traduzindo esses
ganhos em uma maior estabilidade e integridade dos músculos responsáveis pela manutenção da
postura da coluna30,31, além da diminuição percebida da dor após o esforço exaustivo com já
demonstrado em outras investigações2,31.
Em um estudo de follow-up Holmström e Morris30 acompanharam 36 trabalhadores da
construção civil (12 usando o CEL e 24 controles) durante 4 meses consecutivos e avaliaram a força
e a endurance da região lombar ao final do 1 e 2 meses e após 2 meses do termino do estudos e
verificaram que o grupo que fez uso do CEL aumentou em 12 e 29% a forca e a endurance
muscular respectivamente contra 13% de endurance do grupo controle e que não houve
decréscimo da força e da endurance dos músculos do tronco durante o período de follow-up.
Mais recentemente, Favolle-Minon e Calmels31 evidenciaram que o uso do CEL por um curto
período de tempo (21 dias) embora não tenha alterado significativamente a força isocinética e
nem isométrica dos extensores do tronco, alterou significativamente (p < 0,033) a endurance
muscular dos extensores do tronco para o grupo que usou o CEL. Adicionalmente os
pesquisadores sugerem que a prescrição individualizada da órtese elástica lombar dependerá do
potencial da força muscular de cada sujeito.
Contrariamente aos achados que apontam os efeitos positivo do uso da órtese lombar30,31,33,34,
Von Poppel35 concluiu após um ensaio clínico randomizado com grupo controle, suporte +
instrução, somente instrução e somente ortese lombar, que embora houvesse uma tendência da
sintomatologia da dor lombar em subgrupo que já apresentava a dor lombar antes do inicio do
estudo, os dados não suportavam a hipótese dos benefícios do CEL nas tarefas ergonômicas. Este
achado se junta outros de igual desfecho1,17,36.
Conclusão
Os achados suportam a hipótese que o cinto elástico lombar possa reduzir a sobrecarga tensional
sobre os músculos eretores da coluna e conferir um efeito protetor agudo, sobretudo sobre o
músculo multifídeo. Adicionalmente, os dados indicam haver uma mudança no padrão de co-
ativação dos músculos iliocostal e longuíssimo do tórax. Contudo há magnitude e os efeitos em
longo prazo desta alteração no padrão de co-ativação muscular devem ser futuramente mais bem
investigados por ensaios clínicos randomizados.
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Denise M.F.Chiaradia
Especialista em ergonomia
Ergonomista certificada ABERGO