CENA ABERTA: UMA EXPERIÊNCIA COM A SÉTIMA ARTE
Adriano Freitas Silva1 (Universidade Federal de Goiás/Campus de Jataí)
Cena Aberta é o grupo de estudos, pesquisa e extensão em Cinema do
Curso de História da Universidade Federal de Goiás – Campus de Jataí, que desde
2006, ano de criação do curso no Campus, estuda o cinema enquanto "agente da
história, documento historiográfico e nova linguagem para o ensino da História" e tem
por compromisso desenvolver ensino, pesquisa e extensão, fomentando reflexões
interdisciplinares entre os vários campos do saber e promover intercâmbio intelectual
com outras universidades e com pesquisadores que atuem nesta área do
conhecimento, além de atender a demandas de profissionais do ensino fundamental e
médio, dinamizando metodologias e temáticas ligadas ao ensino de História. Para tal
procura entender a relação entre Cinema e História e desenvolve projetos que vão
desde as discussões sobre o tema a realização de eventos, e cursos de formação a
professores das redes estadual, municipal e ao publico leigo.
Ensino e Pesquisa:
As relações do cinema com a história remontam ao próprio nascimento do
cinema. Apenas um ano após a famosa projeção dos irmãos Lumière, historiadores se
manifestavam a respeito do "valor histórico da fascinante nova máquina que podia
projetar imagens em movimento". No entanto, apesar da evidência de que, por
vivermos num mundo submergido em imagens de todo tipo, as novas gerações estão
conhecendo a história muito mais através do cinema e da televisão do que através dos
livros, os estudos sobre o assunto ainda não adquiriram a importância devida nos
meios acadêmicos.
Esse tipo de pesquisa também enfrenta dificuldades na formulação efetiva de
uma estrutura teórica e metodológica. No Brasil, o atraso nessa área ainda é maior,
1 Aluno de graduação do Curso de História da Universidade Federal de Goiás/Campus Jataí; atual vice coordenador do Projeto Cena Aberta nos Bairros e-mail: [email protected]
pois foi somente a partir da década de 90 que o cinema consolidou-se como um
campo de trabalho para os pesquisadores brasileiros da área de Ciências Humanas.
O conhecimento sobre cinema, diferentemente dos outros tipos de
conhecimento, não está disputando com o entretenimento, as emoções, a satisfação
de desejos ou, simplesmente, o desfrutar do espectador. Pelo contrário, seu estudo
contribui a tornar mais intensa a experiência como espectador.
O projeto Cena Aberta quer ser uma contribuição à dupla perspectiva de
aprender e desfrutar. Seu propósito é ajudar os participantes a conhecer, refletir,
estabelecer relações e sugerir filmes, ou seja, apresentar tudo aquilo que é
indispensável saber sobre cinema.
Além disso, tem o objetivo de examinar as relações entre cinema e História,
visando a contribuir para a consolidação teórica e metodológica de uma área de
pesquisa já incorporada nas atividades exercidas em sala de aula e nos trabalhos
acadêmicos. Ao longo do tempo, serão debatidas as relações de natureza
historiográfica, teórica e metodológica que envolveu o estudo das relações entre as
duas áreas.
Os participantes serão incentivados ainda a utilizar o filme como um recurso
didático para o ensino de História. O conteúdo programático irá proporcionar
instrumentos de leitura e análise crítica do material audiovisual. Desenvolverá ainda
um método de análise fílmica que permita englobar os diferentes gêneros,
considerando suas semelhanças e diferenças, além de linguagens cinematográficas
(filmes ficcionais, filmes de reconstituição histórica, documentários e cinejornais) como
fontes e agentes da História.
A idéia é discutir desde a análise interna, que inclui gêneros, linguagens e
estilos, até aspectos externos, como a recuperação do contexto histórico e as relações
entre a indústria cinematográfica, cineastas e o Estado.
Extensão.
Por entendermos que o ensino superior repousa sobre o tripé: ensino,
pesquisa e extensão é que não abriremos mão, neste projeto, da extensão. Ela se
dará em dois momentos particulares:
1 – no contato com o público externo à universidade através da exibição de
filmes uma vez por mês.
A exibição que ocorrerá em um sábado será em horário compatível com o
público. Cada exibição será seguida de um debate, com especialista, sobre o tema do
filme.
O tema do filme será decidido pelos pesquisadores do Cena Aberta e
também, serão eles quem convidarão um pesquisador externo para mediar o debate
que se seguirá a exibição.
2 – Nos cursos de formação que serão destinados a toda a comunidade e
principalmente aos professores das redes municipal e estadual de ensino.
2.1 – Os cursos serão semestrais e terão sempre a duração de 50 horas
aulas compreendidas entre acompanhamento da exibição dos filmes mensal e o
debate que o seguirá, atividades em sala de aula e de pesquisas.
O objetivo dos cursos é incentivar o uso do cinema, não só como fonte para
estudos acadêmicos, mas também como fomentador de discussões e
questionamentos a serem desenvolvidos em sala de aula. Os filmes, entretanto, não
são sugeridos como um substituto de aulas, mas como um instrumento pedagógico.
A função didática da relação cinema-história se consubstancia na utilização
de um novo método aplicado ao ensino: o uso da linguagem cinematográfica como
instrumento auxiliar de formação histórica, com a finalidade de integrar, orientar e
estimular a capacidade de análise dos estudantes. Do ponto de vista didático, trata-se
de utilizar películas já existentes como fontes para a discussão de temas históricos, de
analisar o cinema como agente da história e como documento e, mais ainda, de
preparar estudantes para a pesquisa.
Sem dúvida alguma, a resistência para enxergar no filme, histórico ou não,
um instrumento didático da maior eficácia é ainda grande. Isto ocorre por várias razões
que encontram no imobilismo conservador das instituições acadêmicas um terreno
fértil. A escola e a universidade acompanham, com dificuldade, a revolução
tecnológica processada durante a contemporaneidade.
CINEMA NA PERIFERIA: A inclusão dos bairros no Cena Aberta
Com uma população estimada de 85.491 habitantes, Jataí situa-se no
sudoeste de Goiás, a 327 km da capital estadual, Goiânia, e tem uma excelente infra-
estrutura na área de educação. Possui duas unidades federais de ensino superior, a
UFG Universidade Federal de Goiás que oferece dezoito cursos, o IFET Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (antigo CEFET) que oferece quatro cursos
superiores e três tecnólogos, e uma unidade estadual de ensino superior a UEG
Universidade Estadual de Goiás que oferece atualmente dois cursos na modalidade de
Tecnologia: Tecnologia de Alimentos e Tecnologia em Logística, porem sua vida
cultural é considerada pobre apesar de possuir dois museus e dos centros de cultura.
Em 2007 a única sala de cinema da cidade foi fechada para dar lugar a mais
uma igreja evangélica, fazendo coro com o que ocorre em praticamente todas as
cidades brasileiras. A população de baixa renda que só tinha acesso à sétima arte
através das exibições na tela grande passou a ser alijada deste meio de
entretenimento. Foi após ouvir muitas pessoas que iam até a UFG assistir aos
sábados as exibições de filmes disserem que “seria muito bom que se tivessem filme
no bairro bem pertinho de casa” que os membros do Cena Aberta optaram por
criarem a extensão do projeto e levarem a atividade às comunidades mais carentes do
município.
A primeira comunidade visitada com o Projeto foi um condomínio para idosos e
o filme escolhido foi Tapete vermelho que conta a estória de um homem que parte em
viagem com sua esposa e filho para cumprir uma promessa: mostrar ao filho um filme
de Mazzaropi em uma sala de cinema. Com Matheus Nachtergaele no papel principal
o filme de 2006 encantou a platéia e mostrou que o caminho do projeto era as fitas de
temáticas populares e nesta esteira vieram em 2008 mais 3 apresentações.
O cine na periferia teve, no seu início, promessa de parceria do poder publico,
mas não passou de promessa e por 2008 ser um ano eleitoral os integrantes do
Projeto acharam por bem não se aproximarem muito da Administração para que não
houvesse má utilização da atividade já que o Projeto se destinava a uma camada da
população, ou melhor do eleitorado.
Os outros filmes que foram para as escolas, associações de moradores e
quaisquer outros lugares onde a tela grande podia ser armada foram: A dona da
História que conta a história de Carolina (Marieta Severo) que aos 55 anos de idade,
passa por uma crise pessoal. O casamento não vai bem, alguns sonhos da juventude
não se realizaram e ela amarga o fato de não ter experimentado tudo que gostaria na
vida. Revisitando seu passado, na década de 70 ela era uma jovem estudante (Débora
Falabella) que se encantou pelo militante de esquerda Luís Cláudio (Rodrigo Santoro).
A paixão fulminante terminou num pedido de casamento, e depois vieram os quatro
filhos e o fantasma da rotina. Fazendo um balanço de sua vida, Carolina tenta
desvendar o que teria sido dela se tivesse tomado outros caminhos. Enquanto isso, o
marido (Antonio Fagundes) tenta vender o apartamento da família para conhecer
Cuba. Num encontro com o passado, ela se torna A Dona da História e imagina
quantas possibilidades foram abertas e deixadas de lado para ela na euforia dos 18 e
no desespero dos 55 anos de idade; Domesticas que fala de um Brasil notado por
poucos. Um Brasil formado por pessoas que, apesar de morar dentro de sua casa e
fazer parte de seu dia-a-dia, é como se não estivesse lá. Cinco das integrantes deste
Brasil são mostradas em Domésticas - O Filme: Cida, Roxane, Quitéria, Raimunda e
Créo. Uma quer se casar, a outra é casada, mas sonha com um marido melhor. Uma
sonha em ser artista de novela e outra acredita que tem por missão na Terra servir a
Deus e à sua patroa. Todas têm sonhos distintos, mas vivem a mesma realidade:
trabalhar com empregada doméstica; O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias
veio trazer a tona muitas memórias adormecidas: memórias da copa de setenta e da
ditadura militar. 1970. O Brasil sofria o auge do regime militar sob o governo do
general Emilio Garrastazu Médici. Em junho, mesmo com a situação política
conturbada pela qual o país passava a seleção de Pelé, Tostão e Rivelino, conquistou
o tricampeonato do mundo de futebol no México. Foi também neste mesmo ano que
os pais do garoto Mauro “saíram de férias”. Pelo menos é esse o pontapé inicial do
filme “O ano em que meus pais saíram de férias”, segundo longa do diretor Cao
Hamburger que foi lançado em 2006; Bicho de sete cabeças veio trazer a história de
Seu Wilson (Othon Bastos) e seu filho Neto (Rodrigo Santoro), os quais possuíam um
relacionamento difícil, com um vazio entre eles aumentando cada vez mais. Neste
filme, Seu Wilson desprezava o mundo de Neto e este não suportava a presença do
pai. A situação entre os dois atingiu seu limite e Neto foi enviado para um manicômio,
onde suportou as agruras de um sistema que lentamente devorou suas presas; Wall-E
nos trouxe toda a problemática da poluição da terra, uma vez que devido a toda a
poluição a humanidade deixou o planeta e passou a viver em uma gigantesca nave. O
plano era que o retiro durasse alguns anos, com robôs sendo deixados para limpar o
planeta. Wall-E foi o último destes robôs, que se manteve em funcionamento, graças
ao auto-conserto de suas peças. Sua vida consistia em compactar o lixo existente no
planeta, e colecionar objetos curiosos que encontrava ao realizar seu trabalho. Porém,
um dia surgiu repentinamente uma nave, que trouxe um novo e moderno robô: Eva, a
qual Wall-E se apaixonou.
Para o mês de setembro - dias 19 e 26 de setembro de 2009 - foram previstas
exibições de filmes no Conjunto Habitacional Mauro Bento. Os filmes escolhidos
foram: O segredo dos animais e A língua das mariposas.
A grande dificuldade do Projeto nos bairros fica por conta da falta de
equipamento, pois não temos equipamentos de som e tudo o mais. Até o momento
todas as atividades foram realizadas com equipamentos tomados de empréstimo ou
da própria UFG ou da Secretaria Municipal de Educação. Isto confere ao projeto certa
precariedade.
Desenvolvimento e metodologia:
A pesquisa, ensino e extensão concernentes a este projeto se darão em fluxo
contínuo não sofrendo interrupção de continuidade com a saída de alunos por término
do Curso de História. O projeto sofrerá uma continua renovação com a formatura e
ingresso de novos alunos no Curso de História.
O trabalho de pesquisa, ensino e extensão se darão sempre, em primeiro
lugar no âmbito mais restrito dos pesquisadores envolvidos, com a escolha de temas,
bibliografias e filmes que se liguem aos temas e com exaustivo estudo dos mesmos.
Só após é que se dará a exibição do filme seguido de debate e os cursos de formação
de professores.
O trabalho de formação de quadros para as redes publica e privada de
ensino se dará com a participação do interessado na exibição e debate dos filmes e
em aulas que discutirão a relação cinema / ensino de História e cinema / educação.
Como forma de realizarmos um trabalho de mão dupla, com o ensino
fundamental e médio, iremos propor e construir materiais didáticos como catálogos de
filmes que poderão ser usados em sala de aula. As sugestões deverão respeitar: série,
faixa etária e temática. Os filmes, neste caso, farão interfase com a disciplina História.
Também, iremos publicar a cada período de dois anos um livro com debates
acadêmicos sobre o uso do cinema no ensino em geral e de História em particular.
Todos estes produtos serão exaustivamente debatidos com seus usuários antes de
serem colocados em uso. O conhecimento é, também, um produto de consumo que
deve ter sua garantia atestada antes de ser colocado em circulação para ser
consumido por todos.
Resumo Cena Aberta 2008
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