Virgílio Alberto Valente Caseiro
CAUSAS DETERMINANTES, OBJECTIVOS E EVOLUÇÃO
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
1992
Ficha Técnica Composição do texto: Virgílio Alberto Valente Caseiro Reprodução gráfica e brochura: Secção de textos e publicações da
Faculdade de Letras-Universidade de Coimbra Direitos de Autor: Virgílio Alberto Valente Caseiro.
INDICE: Introdução 6
1 - Estruturação 10
1.1 - História 14
1.1.1 - Período de João Arroio 14
1.1.2 - Período da Sebenta 17
1.1.3 - Período de António Joyce 19
1.1,4 - Período de Elias de Aguiar 25
1.1.5 - Período de Raposo Marques 31
1.1.6 - Período de Joel Canhão 42
1.1.7 - Período de Cândido Lima 46
1.1.8 - Período de Artur Carneiro 48
1.1.9 - Período de Virgílio Caseiro 53
1.1.10-Síntese cronológica das Digressões
realizadas ao estrangeiro 58
1.2 - Os Estatutos 61
1.2.1 - Os Estatutos em vigor 66
1.3 - As Direcções Artísticas 79
1.3.1 - João Arroio 79
1.3.2 - António Joyce 82
1.3.3 - Elias de Aguiar 84
1.3.4 - Raposo Marques 88
1.3.5 - Joel Canhão 91
1.3.6 - Cândido Lima 93
1.3.7 - Carlos Brito 95
1.3.8 - Artur Carneiro 97
1.3.9 - Virgílio Caseiro 99
1.4 - O Reportório 101
1.4.1 - Período de João Arroio 101
1.4.2 - Período da Sebenta 102
1.4.3 - Período de António Joyce 102
1.4.4 - Período de Elias de Aguiar 104
1.4.5 - Período de Raposo Marques 105
1.4.6 - Período de Joel Canhão 106
1.4.7 - Período de Cândido Lima 108
1.4.8 - Período de Artur Carneiro 109
1.4.9 - Período de Virgílio Caseiro 111
1.4.10-Reportório-algumas considerações 114
2 - O Orfeon como centro actual de projecção e
formação artística no meio académico e na cidade 119
2.1 - Actividade musical 120
2.2 - Acção educativa 125
2.3 - Inquéritos 131
3 - Conclusões 136
4 - Bibliografia 140
5 - Anexos 144
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INTRODUÇÃO
Ao assumir um papel ímpar de liderança no panorama histórico-académico
nacional, Coimbra tornou-se, por direito próprio, o lugar primeiro da actividade
associativa no país. Não obstante as dificuldades que ao longo dos tempos e dos
regimes lhe foram levantadas, a sua persistência tem sido o garante desta liderança,
bem assim como o vinco de personalização associativa que incontroversamente
mantém.
Muitos são os vectores que ao longo dos anos, e desde a sua formação como
Associação Académica, têm dado o seu melhor contributo para esta personalização; e
de entre estes será justo dar especial relevo ao trabalho desenvolvido pelos
organismos autónomos e pelas secções culturais e desportivas.
A Associação Académica tem, ao momento, nove secções artístico-culturais,
vinte e três secções desportivas e oito organismos autónomos. Nestes últimos se inclui
o Orfeon Académico de Coimbra (O.A.C.) conjuntamente com a Tuna Académica
(T.A.U.C.), Grupo de Etnografia e Folclore (G.E.F.A.C.), Coro Misto da Universidade
de Coimbra (C.M.U.C.), Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra
(T.E.U.C.), Centro de Iniciação ao Teatro da Academia (C.I.T.A.C.), Círculo de Artes
Plásticas (C.A.P.C.) e Organismo de Futebol (A.A.C./O.A.F.).
De todos estes organismos cabe ao Orfeon a honra de ser o mais antigo,
remontando mesmo a sua fundação a tempos anteriores à própria fundação da
Associação Académica.
Isto justifica a importância de que se reveste um trabalho sistemático de recolha
e síntese histórica sobre este organismo. Falar do Orfeon Académico é, em
simultâneo, para além de contar a sua história, dar a conhecer o seu contributo para a
sociedade académica em que sempre esteve inserido, o papel social que
desenvolveu desde os seus primeiros passos, o contributo artístico ímpar que deu à
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cidade, o gosto artístico que estimulou nos seus elementos e mais ainda o contributo
de congregação e espírito académico fraterno com que marcou e marca todos os seus
associados, unindo gerações e universalizando esta verdade, difícil de compreender,
que é o ser ou ter sido estudante em Coimbra.
Por isso se entendeu como essencial a observação do Organismo segundo
várias vertentes, enquadrando-o, tanto quanto possível, no todo que é a cidade, e não
esquecendo as diversas componentes da sua evolução histórica: fundação, percurso
artístico, direcções artísticas, espectáculos, digressões e projectos.
Na segunda parte deste trabalho, o objectivo principal é o de definir a projecção
interventora artística e cultural do organismo na cidade, e, dentro dela, muito
especialmente no meio académico, de tal forma consequente, que ao longo dos
tempos lhe veio a merecer o acumular de títulos sucessivos, que hoje fazem parte da
sua carteira de honra, tais como1:
-Comendador da Ordem Militar de Santiago de Espada
-Grande Oficial da Ordem de Benemerência
-Oficial da Ordem do Império
-Medalha de Honra da cidade de Coimbra
-Sócio de Mérito dos Jardins-Escolas João de Deus
-Benemérito da cidade de Coimbra
-Sócio de Honra da ''Academia Mondiale degli Artisti e Profes-
sionisti'' de Roma
-Membro de Honra do clube ''Ateneo'' da Faculdade de Letras
de Poitiers
-Medalha de Prata de Espinho
-Sócio Benemérito das Creches de Coimbra, da Associação dos
Socorros Mútuos dos Artistas de Coimbra e da Casa dos Pobres de
Coimbra
1- Esta seriação obedece a uma ordem decrescente de valor.
9
-Sócio Honorário do Orfeão Português do Rio de Janeiro e do
Orfeão Portugal do Rio de Janeiro.
Esta dissertação teve em vista não só a apresentação de um trabalho a
submeter à apreciação de um júri, como tese de Mestrado, mas também a exposição,
com um certo pormenor, dos factos que motivaram os primeiros passos do organismo,
do contexto sócio-político e artístico em que se foi desenvolvendo e da sua luta pela
sobrevivência ao longo de mais de um século. Isto implicava, necessariamente, uma
renúncia ao espírito de síntese que deve prevalecer em trabalhos deste género, dado
que, visto na globalidade, nunca este tema foi objecto de um estudo sistemático.
Por outro lado, na hipótese de ele poder vir num dia a ser publicado, muitos dos
factos aqui reunidos terão evidente interesse para um melhor conhecimento da vida do
mais antigo coro universitário da Universidade portuguesa.
Todo este trabalho não teria sido possível sem o apoio e colaboração da
Direcção do O. A. C., que de imediato facultou a absoluta disponibilidade das suas
instalações e facilitou o acesso a todo o seu arquivo e museu.
Também o contributo do Coro dos Antigos Orfeonistas foi precioso, quer
através do acesso a documentos e informações do seu arquivo, quer através de
depoimentos de alguns dos seus antigos membros, cuja idade aconselhou a recolher
como contributo histórico inestimável.
Por último um agradecimento profundo aos orientadores de Mestrado, com
incidência especial para a Professora Doutora Maria Augusta Barbosa, que desde
sempre mostraram uma disponibilidade ímpar, acompanhando o evoluir das
investigações e aconselhando, de forma douta, na optimização dos rumos traçados.
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Estruturação O Orfeon Académico de Coimbra foi fundado em 1880.2
As razões que levaram à sua instituição terão sido, naturalmente, múltiplas; e se
o gosto pelo canto não pode deixar de ser referido, talvez outras razões, como causa
primeira, possam ser evocadas se se atender ao contexto histórico em que apareceu
e a que acontecimentos pretendeu servir.
Projectava-se, nesse ano, comemorar o tricentenário da morte de Camões; e
foi este cenário que optimizou as condições de mobilização dos académicos. Esta
mobilização não terá sido ingénua, mas sim decorrente da situação política vivida no
momento e desenvolvida já desde o ano de 1876, altura em que, por um lado, se
assistiu à fusão de várias expressões de tendência num único partido - o Partido
Progressista, liderado por Anselmo Braamcamp - e por outro se iniciavam, nos seus
primeiros passos, os adeptos do republicanismo socializante. Estes, ainda neste ano
de 1876, e incentivados pela vitória eleitoral dos republicanos franceses, encontram
nesta o apoio moral para a sua constituição, o que vem a acontecer na decorrência de
um banquete realizado em 25 de Março do mesmo ano em atitude de solidariedade
com os seus camaradas.
A sobrevivência deste novo partido foi precária até 1878, data em que,
realizadas eleições para nova legislatura parlamentar, pela primeira vez se
candidataram, em Lisboa e Porto, representantes do Partido Republicano. E se é
verdade que o partido do Governo ganhou as eleições, permitindo a Fontes Pereira de
Melo continuar com o seu projecto de reformas, a vitória da facção republicana em
alguns círculos, colmatada pela eleição de Rodrigues de Freitas no Porto e Elias
Garcia em Lisboa, começou a abrir brechas na estrutura e a dispor de interlocutores
capazes de se fazerem ouvir.
2- Trindade Coelho, ''In illo Tempore'', pág. 43.
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Todas as oportunidades eram bem-vindas para fazer ouvir a voz republicana e é
neste contexto que as comemorações Camonianas acontecem. A memória do poeta,
porque universal, servia insuspeitadamente a qualquer adesão e por outro lado a ideia
da música, e muito concretamente da música coral, assentava como luva na exaltação
da sua memória.
Foi assim que a estas comemorações aderiram os mais prestigiosos
intelectuais da época, sendo injusto não referir nomes como o de Teófilo Braga, Antero
de Quental e Oliveira Martins. Este último entende mesmo as comemorações como o
festejar de um novo Renascimento, o que o leva a reeditar, em 1881, o seu livro
''Camões, os Lusíadas e a Renascença em Portugal'', livro publicado, pela primeira
vez, em 1872.
Quanto a Teófilo Braga ele foi, de facto, o grande impulsionador das
comemorações tri-centenárias e a ele se deve a congregação, em torno de Camões,
dos mais importantes liberais e republicanos do tempo. O seu culto pelo património
moral e espiritual da raça, bem assim como o fortalecimento e ressurgimento do
sentimento pátrio, mereceram-lhe o aplauso da nação viva que o apoiou, conseguindo,
desta forma, a quase globalidade da adesão popular.
A este espírito se ficou a dever o brilhantismo e gigantismo das comemorações
e a partir dele se veio a encontrar uma expressão republicana cada vez mais forte e
consequente.
A perpetuar as comemorações, no largo fronteiriço à Porta Férrea, foi erigido
um monumento a Camões, formado por uma coluna de pedra, suporte de uma palma
de folhas de louro, e por um leão em bronze, na base da coluna. A primeira pedra do
monumento foi lançada a 10 de Junho de 1880 e este veio a ser inaugurado a 8 de
Maio de 1881.3
3- ''A Velha Alta Desconhecida'', Album comemorativo das Bodas de Prata da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra, 1984. Este monumento acabaria por ser removido do seu local inicial aquando das obras de construção da actual Faculdade de letras em 1948. Mais tarde, o leão passou a embelezar os jardins da A.A.C. e, por último, o monumento foi reconstruido no local onde hoje se encontra - traseira da Faculdade de Físico-Química, junto ao edifício do C.A.D.C.
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Monumento a Camões
O O.A.C., ao dar os seus primeiros passos por finais do ano de 1880, aparecia
como mais um elemento de engrandecimento dos festejos e de projecção cultural
daqueles que o haviam promovido, ou seja, a corrente liberal republicana.
Poderá ser esta a descrição sucinta do enquadramento do actual Organismo no
contexto político e social da época.
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HISTÓRIA
Período de João Arroio
1880 - 1882
Como atrás se disse, o espírito das comemorações camonianas esteve, de
perto, ligado à criação do Orfeon. Aliás, os espectáculos dados neste âmbito pelo
organismo constituíram, sem dúvida, o ponto mais alto da sua existência neste curto
período.
O Orfeon de Arroio
Pode indicar-se a data de 29 de Outubro de 80 como a data da criação real da
então Sociedade Choral do Orpheon Académico, sob o patrocínio do estudante de
direito João Marcelino Arroio e tendo como número inicial de participantes cerca de
60. Os ensaios decorriam no Teatro Académico4
4- O Teatro Académico foi fundado em 1838 por José de Serpa. Herdeiro da anterior Nova Academia Dramática, estava situado na antiga Rua Larga, no local onde é actualmente a Biblioteca Geral. Inaugurado em 1839, resistiu com vida até 1888, começando a sua demolição em 1889, para nesse local se edificar um novo teatro. Tal projecto jamais se concretizou.
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O primeiro espectáculo viria a acontecer no mesmo teatro a 7 de Dezembro
deste ano e decorridos tão somente cerca de 40 dias sobre a data da sua
constituição. Neste espectáculo, o número de elementos rondava já os 80. Dizia o
órgão de comunicação da época ''Correspondência de Coimbra'', na sua edição de
10/12/80 que foi <<Memorável para todos a noite de Terça-Feira no Teatro
Académico, debute do Orfeon. Excederam-se todas as esperanças, foi-se
além da pomposidade de todos os reclamos. A casa, a deitar fora, estava
cheia de interrogações.
Seria uma blague? Haveria mistificação? Pois em Coimbra, digna de
se ouvir, poderia formar-se uma Sociedade Coral à semelhança das que
existem pelas Universidades da Alemanha, da França, da Bélgica? A velha
Universidade, toda ela pragmáticas antigas, toda ela tradições estragadas,
arrancaria da vida da sua mocidade uma instituição moderna, fazendo viver
a arte ao lado da ciência, as duas irmãs que, pela associação dos seus
elementos, estão destinadas a dirigir a humanidade na complexidade das
suas manifestações? Perguntava-se assim vagamente. Havia dúvidas.
Esperava-se alguma coisa de feira, de barraca, chinfrinadas.
Mas quem entrou com as suas dúvidas saiu com entusiasmo. Os
aplausos que lá soltaram, convictos, ainda hoje têm eco nas multidões. O
leitor que não assistiu, pergunte a quem ouviu e admirou e aplaudiu.
Pergunte. E saberá que nós fomos verdadeiros quando dissemos - que seria
um acontecimento. É que nós já conhecíamos.
Não há especializações possíveis. Os coros perfeitos. Oitenta vozes sem
uma desafinação, um completo milagre de João Arroio. E ele no meio do
palco tinha muito de profético, humanamente falando. A batuta era uma
varinha de condão. Explorava com ela os tesouros da harmonia. E tanto, que
só desejávamos que os críticos encartados de S. Carlos, desde o sr. Jaime
Batalha Reis ao sr. Inácio Duarte, ouvissem, para fazerem reparos. É que
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queríamos vê-los atrapalhados, constituídos na obrigação de despejarem em
períodos toda a adjectivação da nossa língua abundante.
Magistralmente executados todos os coros: Avé Maria de José Arroio;
Noel de Adam; Coro dos Caçadores de Weber.
A execução maravilhou mais de seiscentas pessoas que enchiam a
casa>>.
Já em Fevereiro de 1881, viria o Orfeon a participar num espectáculo a favor da
Filantrópica, fazendo ouvir música de Wagner,<<o que pela primeira vez se
ousava fazer em Portugal>>5; e, a 6 de Maio do mesmo ano, participava no Sarau
de Gala do Tricentenário das comemorações da morte de Camões, ponto mais alto
dos festejos. Aí encantou a assistência reunida no Pátio da Universidade, fazendo com
que o Orfeon recebesse << uma ovação como não vi outra; e o João Arroio, de
batina e empunhando a batuta, andou em charola mais de duas horas,
levado pela rapaziada como um tufão.>>6 Depois de realizado o sarau das comemorações, o Orfeon participou ainda
num concerto fluvial, cantando dentro de barcas serranas, em cortejo que se deslocou
até à Lapa dos Esteios. Ainda em Maio, a 21, realizou mais um espectáculo público,
no Teatro Académico, a favor das vítimas do terramoto da Ilha de S. Miguel.
Na sequência de problemas de saúde que acometeram João Arroio -''as
bexigas de Arroio, que o não deixaram ir a Lisboa com os rapazes, às festas
Pombalinas; depois uma recaída que o impediu de os levar ao Porto, a um
concerto de caridade a favor de uma escola; depois nova doença que o não
deixou festejar o ponto por aquela forma, como se tinha combinado...- o
Demónio!''7,- a actividade orfeónica esmoreceu por todo o final deste ano de 81. No
5- Trindade Coelho,''In Illo Tempore '', pág. 43 a 46. 6- Ibidem, pág. 43 a 46. 7-Ibidem, pág 44
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entanto, em 1882, embora em espectáculo particular, o Orfeon apresentou-se ainda no
Grémio de Coimbra;''mas aí, espichou de vez o Orfeon! Morreu!''8. Fechou-se, assim, o primeiro período de actividade deste organismo.
Mais tarde, João Arroio foi para Lisboa, onde exerceu funções ministeriais. Em
1911, em espectáculo havido no Teatro de S. Carlos, com o Orfeon já dirigido por
António Joyce, ao interpretarem a obra Morena, chamaram Arroio ao palco, e ele
próprio aí dirigiu a peça, de sua autoria, sendo esta a sua derradeira apresentação
artística em público.
Quanto ao reportório realizado neste período, bem como noutras datas, dar-se-
lhe-á mais adiante, e em capítulo próprio, o realce merecido.
Período da Sebenta
1899 - 1900
Com os festejos de comemoração do Centenário da Sebenta9, reactivou-se o
Orfeon, ou melhor, um orfeon que pudesse abrilhantar os espectáculos. A congregação
dos seus membros compreendeu a urgência lógica do apressado da ideia e funcionou
apenas com carácter pontual para as comemorações. Foi seu animador e director
artístico Luís de Albuquerque Stockler, estudante e artista boémio que, apesar de tudo,
se veio a formar em Direito.
8- Ibidem, pág 44 9- Festas promovidas pela academia, em honra da Sebenta, tentando parodiar o número exagerado de comemorações centenárias realizadas neste final de século - Camões, Caminho Marítimo para a Índia, Marquês de Pombal, Santo António, Infante D. Henrique e Almeida Garret.Foram promotores das comemorações Alberto Costa, ''Pad-Zé'', Alexandre de Albuquerque, João Eloy e D. Vicente da Câmara. Os cartazes e postais foram realizados por Álvaro Viana de Lemos.
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Bilhete Postal comemorativo do Centenário da Sebenta
Este Orfeon da Sebenta viria a apresentar-se em público, durante o Sarau de
Gala, no Teatro Circo10,interpretando o Hino da Sebenta, da autoria de Stockler, com
letra de Mário de Oliveira e em conjunto com o Auto da Sebenta, este da autoria de
Afonso Lopes Vieira.
A ideia de cantar em conjunto ainda persistiu algum tempo, mas, em
assembleia geral de 13 de Novembro de 1900, decidiu-se mesmo pelo encerramento
do Orfeon.11
Período de António Joyce
1908 - 1912
Chegado a Coimbra em 1906, António Joyce, por imperativo de gosto e de
formação musical, desde logo se ligou ao meio artístico, primeiro através da Tuna
Académica, depois, uma vez incompatibilizado com esta, através de reuniões
10- O Teatro Circo viria a designar-se, mais tarde, por Teatro Príncipe Real e ainda, depois, por Teatro Avenida. Este foi demolido em finais da década de 1980 e substituído por galerias comerciais , salas de cinema e teatro. Ficava situado na Avenida Sá da Bandeira. 11- A cópia da acta desta assembleia encontra-se em anexo final.
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musicais feitas na sua casa de Celas e, por fim, dinamizando a criação de um grupo
coral - o novo Orfeon - com a ajuda de alguns amigos, que recrutaram inscrições e
permitiram que os ensaios pudessem começar, à luz dos gasómetros, uma vez cedida
para o efeito, ainda no ano de 1908, a Igreja de S. Bento12.
Ligados a este projecto e desde a primeira hora solidários com ele, há nomes
que o tempo não delapidou e que é justo referir, tais como: Isidro Aranha (também ele
músico ilustre e co-autor de várias obras em parceria com Joyce), Francisco Menano
(exímio tocador de guitarra), Garcia Pulido (poeta), Godofredo Monteiro (um dos
melhores Baixos do seu tempo), Maximino Correia (que viria a ser reitor da
Universidade), Carlos de Figueiredo (ilustre compositor de fados de Coimbra), e
tantos, tantos outros mais.
O Orfeon de Joyce
Os ensaios ocupavam, por naipes, as várias naves da igreja antes que Joyce
lançasse o grito de ensaio geral!''Às sete horas tudo está a postos. Por isso
quem depois das seis e meia passar pelas ruelas da Alta, não se deve
admirar de ouvir, como eu ouvi, perguntar de grupo para grupo: - Ó coiso,
p'ra onde vais?- P'ro Orpheon...
12- A Igreja de S. Bento era contígua ao actual Instituto Botânico, junto aos Arcos do Jardim. Já em ruínas nesta época, viria a ser demolida bastante mais tarde ao abrigo do projecto de reconstrução da cidade universitária.
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É um êxodo em que de todas as esquinas nos surgem estudantes, que
apressados lá vão para a obrigaçãosinha...
...Os ensaiadores esfalfavam-se mas os seus esforços foram coroados
de êxito porque dentro em pouco ouvia-se gritar: - Ensaio geral, ensaio
geral... De todos os pontos começavam a convergir cantores e passados
instantes o estrado estava apinhado''13
A 23 de Janeiro de 1909, reaparecia em público o Orfeon Académico de
Coimbra, em espectáculo realizado no Teatro Príncipe Real em benefício das vítimas
de uma catástrofe no sul de Itália. Fez a apresentação do Orfeon o Dr. Avelino Callixto.
E, segundo um relator da época, '' O espectáculo começou pelo Hino
Académico14, como é de uso em espectáculos organizados pela academia,
tocado pela Tuna... A seguir falou o velho Doutor Calisto... A seguir o Orfeon
cantou a sua primeira música. Aquelas cento e tantas vozes, como uma só,
vibraram uníssono, à mercê dos movimentos rítmicos da batuta. O silencio
na sala, durante as pausas, era absoluto. O encantamento do público, que
acorrera numeroso para o ouvir, era crescente. O entusiasmo, ao terminar o
primeiro trecho, foi indescritível. O teatro ecoou durante muitos segundos
com aplausos. O Joyce foi levado ao colo, em triunfo, e aclamado com
delírio. Poucas vezes se ouviu em Coimbra ovação tamanha.' '15
13- Luiz Gonzaga in ''O Commercio de Vizeu'' de 24/2/910. 14- Hino composto em 1851, com música de Dr. José Cristiano Medeiros e letra de Dr José Sanches da Gama. 15- Fernando Correia, ''Vida Errada'', 1933, págs 78 a 82.
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Interior da Igreja de S. Bento
Foi o início de um ciclo de espectáculos que, ao longo de mais de três anos,
não parou de divulgar a música coral ao serviço da beneficência.
A ideia benemerente presidiu constantemente à actividade do Orfeon e foi por
ela que este iniciou, com um Sarau realizado a 1 de Abril de 1909 no Coliseu dos
Recreios e apresentado pelo Dr. Egas Moniz, a campanha de fundos para a
construção do Jardim de Infância João de Deus16, que viria a ser inaugurado a 1 de
Abril de 1911.
Deste período existe uma publicação do O.A.C. - Memória - elaborada por
Felizardo António Saraiva e José Freire de Mattos, que sumaria a globalidade dos
espectáculos realizados de 1909 a 1912; contém reportório e ainda algumas críticas
publicadas em jornais da época. 16- Construido ao fundo da Alameda do Dr Júlio Henriques, junto ao Seminário Maior, sob projecto do arquitecto Raul Lino.
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Sem se pretender ser exaustivo, há todavia que referir, como pontos altos deste
período orfeónico, os seguintes espectáculos:
- 29/4/09, no Teatro Príncipe Real, 10º aniversário do Centenário da Sebenta.
- 5/3/10, Teatro Aveirense. Execução, em primeira audição, do Amen (Fuga da
Danação de Fausto de Berlioz).
- 6/4/10, Palácio de Cristal no Porto.
- 27/4/10, Teatro de S. Carlos, em Lisboa, em homenagem a Alexandre
Herculano.
- 23/3/11, Teatro Príncipe D. Carlos na Figueira da Foz.
- 25 e 26/3/11, respectivamente Teatro de S. Carlos e Teatro da República em
Lisboa.
- 1/4/11, Teatro Avenida, Sarau de Inauguração do Jardim Escola João de
Deus, com discurso de abertura pelo Dr. Jaime Cortesão, poesias recitadas por João
de Barros e Afonso Lopes Vieira e calorosa ovação a Raul Lino, autor do projecto.
- 7 a 16/4/11, Viagem a Paris, com espectáculos no Trocadero a 9 e a 16.
O Orfeon em Paris em 1911
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-23 e 24 /3/12, Sarau de despedida no Coliseu dos Recreios em Lisboa
- 20/5/12, Teatro Avenida, última actuação do Orfeon de Joyce, depois de ter
feito a sua última viagem à cidade da Guarda, com espectáculo a 9 deste mês.
Com este último espectáculo e com a conclusão da formatura de António Joyce,
o Orfeon entrou em novo interregno de cerca de dois anos.
Fosse o objectivo deste trabalho a abordagem exaustiva de todos os dados
históricos reunidos, e muito mais havia ainda a acrescentar, em datas, locais,
pessoas, direcções e histórias académicas, (sempre envolvidas por um manto de
descrição encantatória, a que é difícil resistir!). Mas a pontualidade de cada uma
destas temáticas e a abordagem que delas já foi feita, por outros autores em outros
locais, deixa razão de ser a esta omissão17. Também o carácter monográfico global
deste trabalho assim aconselha.
Da análise deste período da vida do Orfeon poder-se-á depreender que ele
pertence ainda a uma época em que a direcção artística joga um tal cunho
personalizante que justifica, em pleno, o uso da designação de ''Orfeon de Joyce'', tal
como ela foi usada para o ''Orfeon de João Arroio''. Verifica-se que tudo o que sucede,
embora planificado e desenvolvido por uma equipa directiva, acaba por se diluir na
auréola de comando do seu regente.
Artisticamente, o trabalho realizado neste período é de elevada qualidade (não
esquecendo, contudo, os meios de realização e de comparação competitiva com os
dias de hoje!) e os críticos isso referem:''No tempo de Joyce o Orfeon de Coimbra
só tinha um similar numa Universidade estrangeira: o Orfeon Académico de
Upsala, famoso agrupamento coral.
17- No tocante a descrições exaustivas e circunstanciais da vida orfeónica, deve o leitor remeter-se à leitura das obras indicadas na bibliografia geral, porque estas, enquanto incidentes sobre um só período do Orfeon (por exemplo, Viagem a Paris, Ida à Guarda, etc,), conservam a memória de quem, como e quando deu o melhor do seu contributo ao organismo.
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António Arroio, o maior crítico de há cinquenta anos, disse-nos, um
dia, que o nosso Orfeon não era inferior ao de Upsala.''18
Período de Elias de Aguiar
1914 - 1936
Se é verdade que, com Joyce, o O.A.C. tinha de facto sucumbido, não deixa de
ser verdade também que, fruto dos grandes triunfos artísticos e ''turísticos''
conseguidos, o espírito de associação, embora latente, continuava vivo. Faltava
encontrar alguém que, porque carismaticamente reconhecido, funcionasse como
''pivot'' de congregação. E esse homem, embora contra sua vontade, foi Elias de
Aguiar.
Nunca Elias de Aguiar, com a humildade que lhe era peculiar, teria estado
disponível para despoletar este processo. E foi só graças à ''traiçãozinha'' de alguns
dos seus colegas de República -e muito concretamente de Henrique de Sousa que
afixou na Porta Férrea um edital de inscrições, que rapidamente se encheu, à revelia
de Elias e sem seu conhecimento!- que, reconhecendo o mérito artístico do já então
padre e ao tempo aluno de Teologia, o ''empurraram'' para a cabeça do novo Orfeon.
18- Carta ao O.A.C. do antigo orfeonista Augusto Morna - tenor - e publicada no livro "Bodas de Diamante do Orfeon Académico de Coimbra-1955".
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O Orfeon de Elias de Aguiar
É pela boca de Falcão Machado19que se escuta a descrição de José Saavedra,
ensaiador dos Barítonos:''Recorremos... à traição. Henrique de Sousa foi
encarregado de afixar à Porta Férrea o convite para a inscrição, que foi
rapidamente preenchida com antigos orfeonistas e outros. Calcule-se a
indignação do bom Elias de Aguiar quando teve conhecimento dos <<factos
consumados>>. Teve de se curvar, perante uma eleição tão espontânea. E na
velha igreja de S. Bento, hoje demolida, lá nos reunimos à noite, sob a
direcção paternal do seu regente. Sânzio (do orfeon de Joyce), os manos
Forjazes, António Menano, eu e outros fomos os seus primeiros
ensaiadores.''
Começados os ensaios, a afluência foi enorme e rapidamente se sucedeu a
execução de obras de valor da literatura musical: o Amen de Berlioz, o Hino à Noite de
Beethoven, o Coro dos Soldados de Meyerbeer, as Canções Transmontanas de Pinto
Ribeiro, etc. Em Março de 1915, o Orfeon tinha atingido um nível que lhe permitia
apresentar-se em público. Assim aconteceu em duas audições realizadas a 6 e 7 na
cidade de Aveiro, com a colaboração da Tuna Académica.
19- In''Comemorações das Bodas de Diamante'', Coimbra,1955.
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Animados com o êxito alcançado, organizam uma digressão ao Norte que,
apesar de totalmente planeada, acabou por não se realizar, em virtude de na época ter
rebentado um movimento militar contra a ditadura de Pimenta de Castro. Assim, só em
2 de Junho o Orfeon se apresenta de novo, agora em Coimbra, no Teatro Avenida, em
Sarau presidido pelo Reitor da Universidade, Guilherme Moreira, e com a
colaboração, entre outros, de Afonso Lopes Vieira, Augusto Rosa e Viana da Mota.
Ainda neste ano lectivo e como espectáculo de encerramento, realiza a 15 de
Junho mais um sarau, desta vez de parceria com o pianista Oscar da Silva e o
violinista Réné Bohet.20
Estava assim lançado o percurso do novo Orfeon, se bem que o momento
histórico lhe viesse a reservar períodos de difícil sobrevivência, decorrentes da 1ª
Guerra Mundial que deflagrara na Europa e na qual Portugal acabou por participar.
Este facto impossibilitou frequentemente o decurso das actividades e mais ainda dos
espectáculos, umas vezes por falta de enquadramento propício, outras por falta de
número adequado de vozes.
Em 1919, o Parlamento institucionaliza o Orfeon Académico de Coimbra, ao
firmar a sua existência permanente através da lei nº 861. Também por esta lei é
recriada a Faculdade de Letras e instituída a cadeira de História da Música, ficando
dela responsável o regente do Orfeon Académico.
Em 1923, o Orfeon vai a Espanha. A viagem tem o patrocínio do Ministério dos
Negócios Estrangeiros e do Ministério da Instrução Pública. Para além do organismo,
fazem-se representar a Associação Académica, a Universidade de Coimbra, de
Lisboa e do Porto, o reitor do liceu José Falcão (a quem pertencia a igreja de S.
Bento) e a imprensa diária, num total de cerca de 220 participantes! A digressão inclui
as cidades de Madrid, Salamanca e Valadolid. Contrariamente ao projectado,
Barcelona e Saragoça não são visitadas. Para além dos espectáculos realizam-se
20- De acordo com programa em arquivo no O.A.C.
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também algumas conferências, no elenco das quais participa Vitorino Nemésio, em
Madrid.
Digno de registo nesta digressão é o facto de pela primeira vez, e na sequência
da doença asmática de Elias de Aguiar, ter sido chamado a reger, como última
alternativa, o orfeonista D. José Pais de Almeida e Silva21 que, depois de muito
solicitado e perante a gravidade da situação, acabou por aceitar a incumbência. Esta
situação voltar-se-ia a repetir outras vezes, mais tarde, por razão idêntica.
Em 1923 e por falta de provimento dos vencimentos a que tinha direito como
professor da cadeira de História da Música, que vinha a leccionar desde 1920, por
força da lei nº 861, o Dr. Elias de Aguiar foi obrigado a despedir-se de Coimbra e a
regressar a Vila do Conde, por razões de sobrevivência económica. Os estudantes,
reunidos na Sala dos Capelos e face aos acontecimentos que faziam perigar o Orfeon,
tomaram um conjunto de deliberações tendentes a abreviar a posse real do lugar,
deliberações que se encarregaram de levar ao conhecimento do Governo. Em
simultâneo, deslocaram-se a Vila do Conde para expressar pessoalmente ao regente
o empenho da Academia no seu regresso.
Elias de Aguiar voltou, assim, a Coimbra. Com ele nasceu a ideia de uma nova
digressão por terras de França. Os ensaios recomeçaram motivados por tal aliciante e
a viagem concretizou-se em Junho de 1924. Não foi no entanto Elias de Aguiar que
acompanhou o Orfeon, por impedimentos de saúde, mas sim António Joyce que,
convidado para a regência, se deslocou de novo a Coimbra e garantiu a direcção
artística, não sem que primeiro, contudo, se tenham levantado grandes protestos,
decorrentes da imposição de Joyce de reforçar alguns naipes com elementos
estranhos ao Orfeon, vindos de Lisboa.
A digressão é antecedida por três espectáculos, realizados no Coliseu dos
Recreios de 3 a 5 de Junho, todos dirigidos por Elias de Aguiar. Ficou histórico o
21- Tal como viria a acontecer, mais tarde, com Raposo Marques, D. José Pais foi regente substituto várias vezes durante o período de Elias de Aguiar. D. José Pais, depois de engenheiro, foi regente do Orfeão de Leiria, substituíndo Rui Barral. Este coro, tal como o O.A.C., era exclusivamente masculino, e continua ainda a sê-lo hoje.
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concerto do dia 4, porque aconteceu na consequência da vitória da A.A.C. sobre o
Marítimo, em futebol, e os orfeonistas, bem como os elementos da Orquestra
Pitagórica, não quiseram perder o jogo, nem o prazer da sua comemoração. Desta
feita o sarau começou atrasado, perante a angústia do Dr. Elias de Aguiar.''À hora de
começar ainda eram raros os componentes do Orfeon que se encontravam
no palco. O público começava a impacientar-se e ouviam-se já assobios e
pateada. O Dr. Elias de Aguiar, à medida que iam entrando os orfeonistas,
todos eles <<alegrotes>> pela vitória da Académica, lamentava-se
amargamente pelo estado em que se apresentavam, imaginando o fiasco que
ia ser o espectáculo, com os orfeonistas tão <<desafinados>>. Sobe o pano.
Atrevemo-nos a dizer que, tendo tomado parte em inúmeros espectáculos,
nunca assim ouvimos cantar o Orfeon''22
Para França parte uma embaixada de 163 figuras.
Tendo como ponto alto a realização de um sarau, uma vez mais no Trocadero,
este foi antecedido por uma sessão de homenagem a Camões, realizada na
Sorbonne e contando com a presença de eminentes intelectuais portugueses e
franceses: Afonso Costa e António da Fonseca, o Reitor da Universidade de Paris, o
antigo chefe do Governo Louis Bartou, o ministro da França em Portugal, Bonin, o
poeta e professor Eugénio de Andrade e os artistas Madeleine Roch e Jean Hervé.
No regresso de Paris, efectuaram-se espectáculos em Bordéus e Baionne.
No ano lectivo de 25/26, resolveu o Orfeon homenagear, na sua terra natal, o Dr.
Elias de Aguiar. O Sarau realizou-se no Teatro Afonso Sanches e deixa antever já o
débil estado de saúde do mestre. A esta homenagem seguem-se outras, em 1929,
patrocinadas pelo Orfeão Lusitano do Porto e onde o estudante de direito Raposo
Marques, conhecido entre colegas como o <<Palestrina>>, substituiu Elias de Aguiar,
22- Armando Ribeiro Cardoso, médico em Gouveia, e orfeonista de 20 a 24, em carta enviada ao Orfeon para as comemorações das Bodas de Diamante.
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falando em seu nome. Em Maio do mesmo ano, nos dias -24, 25 e 26-o mestre é
novamente homenageado.
Aos poucos, a disponibilidade de Elias de Aguiar diminui e embora a sua
regência se mantenha até à morte é com certa frequência que o já referido aluno de
direito, Raposo Marques23, o vai substituindo e assegurando, como regente substituto,
a vida artística do Orfeon nos anos que medeiam entre 1928 e 1936.
Durante a regência de Elias de Aguiar e principalmente depois de 1926, longos
são os períodos em que não há notícia de qualquer espectáculo, por razões de saúde
do maestro ou por este se encontrar em Vila do Conde.
Período de Raposo Marques
1936 - 1966
Entregue definitivamente a chefia artística a Raposo Marques, ainda no ano de
1936 o Orfeon fez a sua primeira digressão às ilhas adjacentes, visitando os Açores e
a Madeira. (Seja lícito referir aqui o facto curioso de Raposo Marques festejar o seu
primeiro ano de regência titular, nos Açores, e aqui vir a morrer, depois do último
concerto que realizou, passados 30 anos!). O primeiro concerto foi em S. Miguel,
depois Angra do Heroísmo, Horta e por último uma pequena paragem nas Lages do
Pico, antes de regressar, de novo, a S. Miguel.
A Madeira foi visitada já no regresso, e o velho paquete Lima trouxe de seguida
o Orfeon até Lisboa.
Em 1937, são de sublinhar os três saraus realizados em Lisboa, no Eden,
presidido o primeiro por sua Exª o Presidente da República.
Em 1938, faz-se uma digressão ao Ribatejo. Para divulgar o trabalho orfeónico
é feita uma edição única do jornal ''Orfeon'', organizado por Coriolano Ferreira e
23- Segundo António José Soares, no seu livro Saudades de Coimbra 1917-33, a 1ª vez que <<Palestrina>> substituiu Elias de Aguiar foi em 1926 num dos três espectáculos que o Orfeon realizou no Coliseu dos Recreios em Lisboa.
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Machado Franco. Ainda neste ano o Orfeon vai a Lisboa, ao Coliseu dos Recreios,
participar num sarau conjuntamente com a Tuna Académica. Também começam
então a aparecer referências nos órgãos de comunicação à qualidade e à irreverência
estudantil presente no acto de variedades que fazia parte do espectáculo,
preenchendo a 2ª parte, e cuja tradição se manteve mais ou menos acesa até 1974.
O orfeon de Raposo Marques
Das dezenas de espectáculos e saraus realizados pelo Orfeon ao longo dos
trinta anos de direcção artística de Raposo Marques é evidente que, neste âmbito, se
torna impossível a sua enumeração exaustiva - até porque a esse nível já possui o
organismo, felizmente, um conjunto de publicações de incidência pontual, escritas e
publicadas por antigos orfeonistas e observando o Orfeon, quase sempre, por período
de tempo igual ao da sua permanência nas hostes orfeónicas, (é o caso de ''Em
Terras de Espanha'' de Mário Ramos e Guilhermino de Mattos, ''Coimbra em África''
de António de Almeida Santos, ''Roteiro do Brasil'' do padre Pardinhas e tantos
outros...). Interessa portanto apenas sintetizar o que de essencial aconteceu e como
aconteceu.
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Na sequência da Segunda Guerra Mundial, as restrições necessariamente
impostas em todos os sectores, por certo que viriam também a recair sobre o Orfeon.
E assim foi. As limitações impostas a todas as despesas, não permitia que se
usufruísse das condições mínimas exigidas para deslocações, não só ao estrangeiro,
como também dentro do país ''Pois até as velhas e incómodas carruagens de
terceira, só podiam ser concedidas por deferência a deuses''24. Apesar disso e
como resultado da dinâmica directiva, alguns saraus de beneficência continuaram a
realizar-se.
O Orfeon visitou o norte do país em 39, as Beiras e Lisboa em 40, voltou ao
Norte em 41 e 43, visitou Viseu em 44 e finalmente deslocou-se a Espanha, à Galiza,
em Abril de 45, com espectáculos em Vigo, Santiago de Compostela e Tui, altura em
que foi publicado mais um número do Jornal Orfeon, para acompanhar a digressão.
Há muito que se pensava em fazer uma digressão ao Brasil; e chegou mesmo a
ser nomeada uma comissão que levasse por diante as necessárias negociações.
Contudo, e fruto do contexto, uma vez mais tudo se gorou.
No entanto uma outra ideia se agita para se vir a juntar ao rol brilhante das
viagens já realizadas a França e a Espanha: a possibilidade de uma ida a Angola e
Moçambique. E de facto, em Agosto de 1949, esta vem a realizar-se, depois do
Orfeon, já nesse ano, ter feito uma digressão a Aveiro e Vila Real.
Após espectáculos realizados, como era hábito, no Coliseu dos Recreios (com
a colaboração de João Vilaret) e também na Feira Popular, o Orfeon parte para
Angola, no paquete João Belo, com escala e apresentação na Ilha da Madeira.
Só em Setembro chegam a Angola. Visitaram Luanda, (onde Raposo Marques
foi ovacionado e levado em ombros, lembrando os tempos de Arroio e Joyce, na
descrição de Almeida Santos), Lobito e Benguela. Em seguida partiram para
Lourenço Marques e Beira. Já de regresso visitam a África do Sul, realizando um
espectáculo de estrondoso êxito na cidade do Cabo.
24- Falcão Machado, Comemorações das Bodas de Diamante do O.A.C., 1956.
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Dobrado o Cabo da Boa Esperança, fizeram nova paragem em Moçâmedes,
deslocando-se depois a Sá da Bandeira e Nova Lisboa.
S. Tomé foi o último porto de paragem, já em finais de Outubro. A recepção, em
Lisboa, foi presidida pelo Ministro do Ultramar.
Da aceitação e impacto desta viagem pode citar-se:''Quando se perdeu no
ar a última nota do <<Amen>> - que, como é tradicional, também foi
cantada pelos antigos orfeonistas presentes - Raposo Marques foi erguido
aos ombros dos antigos estudantes e as lágrimas correram pelo palco, onde
também choviam, em indescritível apoteose, palmas e pétalas de rosas''25.
''Sei que não nos pedes contas. Nem o que vou dizer-te é verdadeiramente
dar-te contas. Mas deixa-nos sentir agora um pouco de orgulho de nós
mesmos: cumprimos.''26.
Desta viagem a terras africanas há ainda a referir o facto de para ela ter sido
feita, por Teles de Oliveira, o ensaio de um novo emblema, que depois se tornou
definitivamente o emblema orfeónico e tem acompanhado o organismo até ao
presente.
Até 1949/50 Emblema actual
25- António de Almeida Santos, ''Coimbra em África'', 2ª ed.pág 95. 26- Ibidem, pág. 283.
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Também em 49 são transferidas as instalações académicas da velha Rua
Larga para o Palácio dos Grilos.
Até 1954, a vida orfeónica decorre com a movimentação normal que advém dos
espectáculos e digressões internas, colaborações em saraus académicos e algumas
realizações complementares experimentais como, por exemplo, a iniciação de
emissões de som para todas as instalações académicas, divulgando, diariamente,
boa música coral e orquestral, comunicados, entrevistas, etc. ,tudo isto conseguido
através de altifalantes colocados na sede e assegurado por uma equipa de orfeonistas
convocados para o efeito.
Em 1954 realiza-se mais uma digressão ao estrangeiro, desta vez, e por fim, ao
Brasil, terra de sonho e de tantos anos de esperada visita! O O.A.C. parte para terras
de Santa Cruz em Agosto de 54 e só regressa em meados de Outubro do mesmo ano.
São três meses de agitada vida artística com espectáculos na Madeira e em
Cabo Verde, (pontos de escala do paquete Santa Maria), e depois em Rio de Janeiro,
Santos, S. Paulo. Visita com espectáculo em directo os estúdios da Televisão Record.
Segue depois para Campinas, Ribeirão Preto, S. Carlos, Americana, S. Caetano do
Sul, Belo Horizonte, Ouro Preto, Niterói, Teresópolis e finalmente Baía, -onde não
chegou a apresentar-se-, e Recife, também local de embarque e regresso.
Nesta digressão o Orfeon era composto por cerca de 80 elementos e
acompanhavam-no, também, para além de representantes da Universidade de
Coimbra e do seu reitor, um grupo de fados anexo ao organismo que
complementarizava o espectáculo com a tradicional serenata. Esta prática já se vem a
desenvolver desde os tempos de Joyce, e pelo Orfeon passaram as melhores e mais
conhecidas vozes da canção coimbrã, assim como os mais conceituados guitarristas
e violistas.
Da digressão foi feito o relato escrito pela pena do Padre Manuel Alves
Pardinhas, director orfeónico à época, no livro ''Roteiro do Brasil, memórias e
impressões de viagem do Orfeon Académico de Coimbra''.
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O ano de 1955 foi o ano das comemorações das Bodas de Diamante. Os 75
anos orfeónicos foram comemorados com inusitada pompa, tendo sido para o efeito
nomeada uma comissão de honra e uma comissão executiva.
Os festejos decorreram de 23 de Abril a 1 de Maio e para além das actividades
óbvias e decorrentes (jantares convívios, sessões solenes) é de salientar a realização
de uma exposição evocativa dos 75 anos de vida do Orfeon, realizada no Salão Nobre
da Câmara Municipal com o patrocínio do Museu Académico. Abrilhantaram estes
festejos um Sarau oferecido à Academia, a 27 de Abril, no Pátio da Universidade, um
outro Sarau, este de gala, no dia 29 no Teatro Avenida e finalmente no dia 1 de Maio,
no campo do jogo da péla do Parque de Santa Cruz27, uma homenagem ao Orfeon
Académico de Coimbra, prestada pelos organismos académicos locais e organizada
pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (T.E.U.C.).
Das Comemorações foi editada uma medalha evocativa, tendo numa das faces
o actual emblema do organismo e na outra o emblema anterior. Também foram
editados dois livros com o mesmo nome ''Comemoração das Bodas de Diamante do
O.A.C.'', um deles oriundo da própria Direcção do Orfeon no mesmo ano de 1955 e o
outro da responsabilidade de Manuel Ayres Falcão Machado, membro da Sociedade
de Geografia, no ano de 1956.
No ano de 1956 inicia o Orfeon uma nova actividade de que dá eco toda a
imprensa regional: a realização de cursos de solfejo para os sócios no activo. De
facto, esta preocupação de formação musical complementar não deverá deixar de ser
referida quando aplicada a pessoas que só pretendem cantar, já que, ainda hoje, no
panorama coral nacional é preocupação que a quase ninguém assiste!
E a década de 50 conclui-se dentro de uma prática coral rotineira, preenchida
com os já habituais espectáculos, ora em Coimbra (presença sempre obrigatória nos
saraus da Queima das Fitas), ora pelo norte ou sul de Portugal.
27- Este campo, já referido desde o tempo Crúzio, fica localizado junto à porta poente do Parque e voltado para a actual Praça da República.
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No entanto é ainda nesta década que ganha indiscutido prestígio um grupo
subsidiário do Orfeon e formado por elementos seus, a Orquestra Ligeira, composta
por cinco elementos, e que chega mesmo a actuar isolada do coro, abrilhantando
festas e bailes. A sua qualidade foi reconhecida e levou-a em digressão, sozinha, a
Angola (1963).
As digressões ao estrangeiro continuam, contudo, a acontecer e assim o
Orfeon desloca-se a Espanha, uma vez mais, em 1956, visitando Vigo, Santiago de
Compostela e Pontevedra.
Em 1958 representam Portugal na Exposição Internacional de Bruxelas na
Bélgica, cantando também em Antuérpia.
Em 1960 retornam aos Açores, nas férias da Páscoa, e a digressão passa por
S. Miguel, Terceira e S. Maria. Atendendo aos laços de sangue que prendem a esta
terra o seu regente, os espectáculos têm sempre um enquadramento afectivo muito
especial ''...nem mais nem menos: a apoteose continua coroada de flores e
palmas num misto de enternecimento saudoso e solenidade empolgante, a
que a presença das maiores autoridades da Ilha deu brilho inconfundível
''28. Ainda neste ano o Orfeon retorna, também, a Angola, por onde fica durante os
meses de Agosto e Setembro, revisitando Luanda, Malange, Lobito, Benguela, Nova
Lisboa, Sá da Bandeira, Silva Porto e Moçâmedes. De regresso ao continente pára e
actua na ilha de S. Tomé.
Em 1961 pode entender-se como mais relevante a digressão a terras de
Espanha - Salamanca, Burgos e Madrid - e a participação nas comemorações dos 50
anos do Jardim Escola João de Deus, ao qual o Orfeon se encontrava ligado, pela
importância decisiva que teve na sua fundação.
Chegado 1962, talvez tenha chegado o tempo de maior prestígio e qualidade
artística deste Orfeon de Raposo Marques, perpetuado pela gravação de um disco de
longa duração, editado nos Estados Unidos da América pela casa Monitor e assim
28- No jornal ''A União'' de 23 de Abril de 1960.
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anunciado na imprensa '' Foi ontem posto à venda nos E. U. A. o primeiro
álbum de discos norte americanos gravados pelo Orfeão dos estudantes de
Coimbra, que inclui catorze números executados por um conjunto de
oitenta vozes ''29. Também neste ano O Orfeon faz a publicação de mais um número
do seu jornal ''O Orfeon'', saído a 9/4, e a sua primeira digressão aos Estados Unidos,
actuando em 35 cidades americanas e terminando a digressão com dois memoráveis
concertos, um em Washington, na Catedral da Imaculada Conceição e o outro em
Nova Iorque, no ainda recente Lincoln Center Philharmonic Hall.
A digressão foi um êxito absoluto, tanto artística e cultural como
economicamente, deixando as portas abertas aos promotores americanos, todos eles
profissionais do espectáculo, para uma nova apresentação, que viria a acontecer três
anos mais tarde.
São registos da imprensa da época as seguintes afirmações de cabeçalho:
''Mais um êxito inolvidável do Orfeon de Coimbra ''30; ''Calorosamente
recebido em Boston ''31 ; ''O Orfeon Académico de Coimbra encerrou a sua
digressão de seis semanas pelos E.U.A. com um espectáculo no New
Philharmonic Hall... ...o público pediu bis no fim da primeira parte e o êxito
foi absoluto ''32.
A digressão alongou-se mais que o previsto, por solicitações de novos
espectáculos, tendo sido gravados programas para a televisão. O regresso a Portugal
só se veio a verificar na segunda quinzena de Novembro.
Em 1963 são publicados em Diário da República de 19/9, os Estatutos
definitivos do O.A.C., que congregam, ampliam e oficializam o regulamento interno em
vigor com carácter de estatutos desde 10 de Novembro de 1938, sendo secretário da
Direcção, ao tempo, Machado Franco.
29- Diário de Lisboa de 22 de Junho de 1962. 30- Diário da Manhã de 30 de Outubro de 1962. 31- Diário de Notícias de 16 de Outubro de 1962. 32- Diário Ilustrado de 20 de Novembro de 1962.
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Ainda neste ano o Orfeon é convidado a visitar a Madeira, para na cidade do
Funchal participar nas festas de Fim de Ano.
O ano de 1964 começa com a morte de António Joyce, antigo regente, e todo
um movimento de consternação à sua volta.
Neste ano é editado, em Março, mais um número do jornal ''O Orfeon'' e é
criada uma nova secção cultural musical dentro do organismo que dá pelo nome de
''Club de Jazz do O.A.C.'' e que tem por função divulgar a música de Jazz (mais uma
vez cabe ao Orfeon ser pioneiro nestas áreas), através da sua prática, colóquios, Jam
Sessions, festivais e escola de Jazz.
Com a criação deste club, pela primeira vez se vêm abertas as portas do
Orfeon à população universitária feminina, que a ele ocorre em número razoável,
constatável pelo número de fichas de inscrição ainda existentes nos arquivos da
Direcção.
Em Novembro deste ano são comemorados os 10 anos da Digressão ao
Brasil. Ainda neste mês são transferidos para o Teatro Académico de Gil Vicente os
ensaios parciais e gerais, porque nas novas instalações, à Rua Padre António
Vieira33, não tinham sido previstas as necessárias salas de ensaio34.
Em 1965 o Orfeon volta de novo aos E.U.A., para participar no Iº Festival
Internacional Coral Universitário do ''Lincoln Center for the Performing Arts'' de Nova
Iorque, tal como ficara já previsto desde 1962, mas desta vez sem ter conseguido o
êxito da digressão anterior.
Este período de ouro, sob a batuta de Raposo Marques viria a terminar em
1966, com mais uma digressão aos Açores. No regresso à metrópole, e já no
Aeroporto de S. Maria, a escassos momentos do embarque, Raposo Marques é
acometido de um síncope cardíaca que o vitima e põem assim fim a 30 anos de
dedicação orfeónica, várias vezes reconhecida através de homenagens e distinções. 33- Instalações actuais da Associação Académica de Coimbra desde 1961. 34- Até aqui os ensaios decorriam no Palácio dos Grilos, anterior sede da A.A.C., em salas esconsas e quase ocasionais, algumas vezes, até, nos próprios corredores.
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Com Raposo Marques terminou, talvez, o último período do O.A.C., herdeiro
legítimo da glória académica e de representatividade quase exclusiva da cultura
universitária, já que a partir dele, e nas décadas de 60 e 70, a diversificação
associativa foi um facto e consequentemente a auréola, quase mística, que envolvia o
Orfeon se profanou. Também toda a problemática política-associativa abriu brechas no
prestígio orfeónico, que de forma mais ou menos intensa se têm reflectido na sua
existência até à actualidade.
Seria injusto não referir também que Raposo Marques, porque antigo estudante
de Coimbra e antigo 1º Tenor orfeónico, tinha uma compreensão correcta da
dimensão universitária e sabia gerir, com lucidez, o compromisso constante entre
irreverência académica e qualidade artística, cedendo ora num lado ora noutro, de
forma a manter uma coesão orgânica e espiritual que congregava gerações e
edificava a auréola orfeónica. Foi a sua correcta compreensão da realidade
universitária coimbrã que funcionou como chave de ouro para a perpetuação desse
espírito.
Período de Joel Canhão
1966 - 1973
Com a morte de Raposo Marques é chamado à direcção artística do Orfeon o
Prof. Joel Canhão, na altura maestro do Orfeão Scalabitano, e digno do lugar que lhe
era proposto pelas provas de qualidade e saber artístico demonstrados, para além da
sua sólida formação musical.
Iniciados os ensaios sob a sua batuta, em Novembro de 66, de imediato se
constatou a férrea vontade artística deste regente, impondo um regime apertado de
ensaios, que tinham por objectivo um elevado nível de qualidade.
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Em 19 de Abril de 1967, no Teatro de Gil Vicente, é feita a primeira
apresentação pública sob a sua regência, em sarau que contou na 2ª parte com a
participação do Teatro Universitário do Porto, e com um acto de variedades na 3ª.35
A partir daqui os espectáculos retomam a cadência normal. Já em Agosto de
1967 o Orfeon volta a Angola para um longo périplo que, saindo de Luanda e a ela
regressando, percorre, em cerca de um mês, as cidades de Carmona, Malange,
Negage, Salazar, Nova Lisboa, Sá da Bandeira, Benguela, Lobito e Novo Redondo.
O Orfeon de Joel Canhão
Em 1968, enquanto delegado regional da Pro Arte, o Orfeon organiza alguns
concertos, trazendo a Coimbra nomes importantes do panorama musical nacional.
No mesmo tempo, e sempre com o objectivo de se melhorar a qualidade vocal
exigida pelo seu regente, é contratado Giovanni Voyer, tenor italiano radicado em
Portugal, para orientar sessões de técnica vocal, de presença obrigatória. Durante a
35- Esta estrutura de espectáculo, ressalvada que seja a 2ª parte, era a estrutura mais habitual aos espectáculos do Orfeon, ou seja, uma 1ª parte com 7 ou 8 peças, uma 2ª parte com o mesmo número de obras, quase sempre harmonizações de canções populares portuguesas, e uma 3ª parte de variedades com rábulas, canções, imitações, ilusionismo, noticiário humorístico de carácter local, etc(dependendo um pouco das capacidades criativas momentâneas dos orfeonistas da época) e terminando sempre com uma serenata de Coimbra.
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regência de Joel Canhão foi sempre exigido este tipo de preparação vocal., Após a
sua morte, G. Voyer foi substituído por outros cantores nacionais de mérito
reconhecido como o barítono José Oliveira Lopes e o tenor Fernando Serafim.
Com o chegar do ano de 1969, ventos negros começam a soprar em direcção
ao Orfeon, não por razões artísticas, mas por motivos políticos e de confronto
académico.
A 17 de Abril de 1969, é inaugurado o bloco das Matemáticas, com a presença
do Presidente da República, Almirante Américo Tomaz. E dos incidentes acontecidos
na inauguração, somados à insatisfação, já latente, por anteriores reivindicações não
ouvidas, estoira uma profunda e demorada crise académica, coberta por luto, que
afectou e dividiu os estudantes, em razão da sua participação ou não na greve às
aulas, que entretanto tinha sido decretada.36
A direcção do Orfeon, solidária com o Regime, assume uma posição de
distanciamento académico, expulsa 17 orfeonistas grevistas e toma a defesa dos
pontos de vista governamentais. A partir daqui o Orfeon, conjuntamente com a Tuna e
a Oficina de Teatro, passa a ser um bloco que os estudantes apelidam de fascizante,
em confrontação com a vontade maioritária académica. Estão assim criadas
condições para o seu isolamento e quebra de respeitabilidade.
Em 1970, o Orfeon, a convite do Governo, representa Portugal no Japão, na
Feira Internacional de Osaca, em espectáculo que contou também com a colaboração
de Carlos Paredes.
Na Páscoa de 1971 o Orfeon visita a Suiça, a França e o Luxemburgo e, em
Dezembro do mesmo ano, a Inglaterra, a França e a Holanda.
Em 1972 tem como ponto alto das suas actividades a gravação do 2º disco de
longa duração com o título ''Cantando espalharei por toda a parte...'' e manda ainda
gravar uma medalha em cerâmica, em comemoração dos seus 90 anos de existência.
36- Sobre esta temática consultar Celso Cruzeiro no livro ''Coimbra,1969, a crise académica, o debate das ideias e a prática, ontem e hoje'', Ed. Afrontamento, Coimbra,1989.
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Em 1973 abraça um grande projecto que é a organização do Iº Festival
Internacional de Coros Universitários, convidando para seus directores artísticos o
maestro Fernando Lopes Graça e o Dr. Francisco Faria. Ambos viriam a declinar o
convite, já depois de aceite, por incompatibilidades ideológicas e políticas, cabendo
finalmente a direcção ao jovem maestro Fernando Eldoro.
O esforço que a realização deste festival requerera, acrescido do desgaste
político que o confronto constante determinava e ainda as dificuldades de
entendimento global com a ''irresponsabilidade académica'' decidiram Joel Canhão,
visivelmente exausto, a retirar-se da liderança artística do Orfeon, o que veio a
acontecer em Julho de 1973.
Num balanço rápido destes seis anos de actividade, poder-se-á dizer que eles
foram extraordinariamente ricos no plano da produção artística, fruto do cunho
personalizante incutido por Joel Canhão (um perfeccionista ao tempo não
compreendido), mas obscurecidos pela desidentidade ideológica com a maioria
académica, situação que só o 25 de Abril de 1974 viria a corrigir.
Período de Cândido de Lima
1973 - 1975
Ao tomar posse do lugar de maestro em Outubro de 1973, Cândido Lima
chama a si o encargo de viajar entre o Porto, cidade onde vive, e Coimbra, para
cumprir as suas múltiplas funções profissionais.
Era uma experiência nova, para ele, a desta área de direcção coral; e nela se
embrenha com entusiasmo, procurando enriquecer o reportório do Orfeon com obras
da sua autoria, especialmente escritas para este grupo coral e que de imediato põe
em execução.
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Pela primeira vez nasce, neste organismo, a vontade de se lançar a realizações
de maiores proporções e, neste sentido, Cândido Lima escreve a Missa Medieval,
para ser cantada no dia da Universidade, em 1 de Março de 1974. Por dificuldades
resultantes de atrasos nos ensaios, apenas pôde ser montado o Kyrie e o Sanctus.
O 25 de Abril de 74 apanha o Orfeon a meio deste projecto e não o deixa
concluir, por considerar bem mais urgente a solução de muitas outras situações de
relacionamento, mantidas em conflito desde Abril de 1969.
O Orfeon actual é desmembrado, os seus membros são saneados e é
nomeada uma comissão de gestão, formada por elementos de outros organismos,
com especial participação do C.E.L.U.C. (Coral dos Estudantes de Letras da
Universidade de Coimbra), comissão que tem por objectivo reorganizar o Orfeon,
purgando-o do ''espírito fascista que o emblema''37.
A actividade coral tem que ser toda reorganizada, já que em assembleia geral,
convocada pela comissão, se decidira transformar o Orfeon num grupo coral misto,
abrindo as fileiras à participação feminina, tal como acontecia com o Coral das Letras
e o Coro Misto da Universidade. Transformou-se assim o Orfeon num grupo com
iguais características às dos outros dois que já existiam e que eram mais que
suficientes para dar resposta às solicitações femininas !. Erro histórico, quiçá
irreversível !
Por todo o ano de 1975, o fervor militante não permitiu, praticamente, nada que
não fosse o ajuste de contas inter-universitários e a proclamação desbocada dos
grandes ideais da proletarização dos bens culturais.
A esta dinâmica nem o inteligente Cândido Lima conseguiu resistir, cansado de
tentar conciliar, em termos artísticos, o inconciliável. Pediu a sua demissão ainda em
75, e foi substituído por Manuel Carlos Brito, um musicólogo vindo de Lisboa.
37- Expressão recolhida num dos muitos comunicados divulgados na época e conservados no arquivado do O.A.C.
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O processo revolucionário delapida também as boas intenções deste homem e
obriga-o a resignar no final do ano académico de 75-76.
A actividade musical de todo este período é obviamente, bastante conturbada,
a sua qualidade duvidosa, por falta de tranquilidade para o trabalho artístico, e os
espectáculos são quase todos orientados no sentido de ''dinamização cultural'', e
concretizados pela voz de duas dezenas, mal contadas, de militantes.
Período de Artur Carneiro
1976 - 1982
Com a chegada de Artur Carneiro, vindo de Lisboa, onde cantava no Coro
Gulbenkian, o Orfeon ganhou uma nova dimensão, consequência, por certo, mais da
experiência coral deste novo regente do que propriamente do enquadramento social
da época que continuava pouco propícia à prática tranquila da música coral.
O Orfeon de Artur Carneiro
Os anos de 1976 e 1977 foram ainda de grande dificuldade no recrutamento de
coralistas. As represálias políticas eram ainda pesadas, e a transformação do Orfeon
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em coro misto criava confrontos de identidade orgânica, só não sentida por quem vivia
esta realidade de fora ou a passou apenas a viver após o 25 de Abril.38
A partir da transformação em coro misto e de acordo com os ''ventos
dominantes'', também o ''Amen'' da Danação de Fausto de Berlioz foi abandonado
como obra de congregação de todas as gerações orfeónicas e sempre cantado no
final dos concertos, para dar a vez ao ''Acordai'' de Lopes Graça, obra com palavras
de José Gomes Ferreira. Às gerações ''reaccionárias'' do ''Amen'' sucediam as
gerações ''progressistas'' do ''Acordai''.
Os espectáculos passaram a ter apoio audio-visual, por norma ''slides'', que
ilustravam a realidade social portuguesa e que se combinavam com a música coral,
quase toda ela constituída por canções renascentistas ou cantigas populares
portuguesas harmonizadas, com predomínio exclusivo de Lopes Graça.
Ainda no ano de 1977, o Orfeon deu concertos no Porto, Póvoa do Varzim,
Figueira da Foz, Soure, Mangualde e Covilhã. Para além disso, colaborou na
realização de outros concertos promovidos pela Inatel, Associação Académica e
Alemanha Democrática, (concretamente na ''Semana da RDA'').
Em 1978 colabora nas comemorações do 1º centenário de Afonso Lopes
Vieira, em Leiria; homenageia, a 4 de Maio, Fernando Lopes Graça, no Teatro de Gil
Vicente, estando o compositor presente; organiza o ''1º Ciclo de Música e Arte
Popular'' que traz a Coimbra, para além de Lopes Graça, o Octeto dos Madrigalistas
de Lisboa, a Banda da Armada, o Coral Públia Hortênsia de Lisboa, a Orquestra
Sinfónica Juvenil, o Quarteto Zimarlino, o Coral Phydellius de Torres Novas, a
Orquestra Sinfónica Popular, dirigida por Álvaro Salazar, e ainda conferencistas como
João de Freitas Branco, António Victorino de Almeida e Mário Vieira de Carvalho.
38- É ainda no ano de 1976 que, pela primeira vez, se realiza um convívio de antigos orfeonistas, que pretendem recordar velhos tempos de boémia e analisar a situação do Orfeon decorrente da sua transformação em grupo misto. A reunião foi em Lisboa, no restaurante ''O Peixe'', em Belém. Novos encontros ficaram marcados para o Porto e Coimbra, e deste espírito, congregado com a ocasião propícia - os 100 anos do Orfeon - acabou por nascer o Coro dos Antigos Orfeonistas, em 1980.
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Em 1979, o número dos concertos dados era já considerável. E embora a maior
parte destes coubesse à região de Coimbra, verdade é que o Orfeon se deslocou
também a Braga, Évora, Régua, Vila Real, Chaves e Viana do Castelo.
Com a chegada de 1980, o Orfeon atingiu a época de maior projecção artística
durante este período. São essencialmente três as razões que dão azo a esta
projecção: a digressão realizada à Áustria e Polónia, as comemorações dos 100 anos
do Organismo, e o 1º Encontro Nacional de Coros Amadores, integrado nestas
comemorações.
A digressão decorre de 23 de Março a 7 de Abril e dela diz a imprensa diária:
''O Orfeon Académico de Coimbra fará uma <<tournée>> pela Europa,
dando concertos na Austria, Hungria, Polónia e Checoslováquia. No primeiro
daqueles países, aonde se desloca a convite do adido cultural português
António Victorino de Almeida, o Orfeon actuará em Viena, Salzburgo e
Graz.''39 De facto, nem a Hungria nem a Checoslováquia são visitadas e a Polónia
deixou tristes recordações aos orfeonistas, pela desorganização em que se processou
todo o projecto da viagem.
Em Maio deste mesmo ano o Orfeon desloca-se a Santiago de Compostela,
retribuindo o convite da Tuna Compostelana.
O 1º Encontro de Coros Amadores teve lugar nos dias 28 e 29 de Junho,
integrado nas Comemorações do Centenário do Orfeon. Foi uma realização de
grande projecção, em razão do número de coros que movimentou: 75, presentes, dos
90 inscritos, num total de cerca de 2500 coralistas. O encontro encerrou com um
espectáculo no Pátio da Universidade, com os 75 coros presentes e cantando em
conjunto duas obras - ''Cum facis elemosinem" de D. D. Mélgaz e ''Os Homens que
vão p'rá Guerra'' de Lopes Graça -dirigidas por Artur Carneiro.
Quanto às comemorações centenárias, em si, foram estas centradas nos dias
13 e 14 de Dezembro com o seguinte programa:
39- ''O Diário'' de 23 de Fevereiro de 1980.
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Dia 13: -10h-Concentração na Porta Férrea
-11h-Cumprimentos ao Magnífico Reitor
-12h-Visita ao Jardim Escola João de Deus
-13h-Visita à Câmara Municipal e almoço
-15h-Visita à Casa dos Pobres
-16h-Visita ao Diário de Coimbra
-15h-Actuação para Coimbra nas escadas de
Santiago
-18h30-Visita à A.A.C., seguido de Ensaio Geral
-21h30-Sarau no Teatro Gil Vicente
-24h-Serenata no Jardim da Sereia
Dia 14: -10h-Romagem à campa de Raposo Marques
-11h-Visita ao Asilo Dr. Elísio de Moura
-12h-Missa na Capela da Universidade
-13h-Fotografia na Via Latina
-14h-Almoço de confraternização e despedida
A imprensa nacional noticiou profusamente estas Comemorações.
O sarau, ponto artisticamente mais alto do programa, não desiludiu as
expectativas. Num Gil Vicente repleto, reuniram-se antigos e actuais orfeonistas, num
espectáculo prolongado que, para além do Orfeon Académico de Coimbra, contou
ainda com um acto de Variedades e a colaboração do novo Coro dos Antigos
Orfeonistas do Orfeon Académico de Coimbra, constituído para abrilhantar as
referidas comemorações e que, posteriormente a elas, tem vindo a acumular, no seu
curto passado, os testemunhos de excelentes prestações artísticas.
Noite alta, e em fim de sarau, antigos e actuais orfeonistas uniram-se de novo
ao som do ''Amen'' de Berlioz. Foi a apoteose!
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Para as Comemorações foi feito um ''crachá'' e gravada uma medalha em
bronze, tendo esta de um lado a esfinge de João Arroio e do outro o actual emblema
do Orfeon.
Os dois últimos anos de permanência de Artur Carneiro no Orfeon quase que
podem ser entendidos como o tempo necessário para a desaceleração de todo este
processo comemorativo. A sua disponibilidade diminuiu e o ritmo de trabalho
ressentiu-se na mesma proporção.
Os concertos foram todos realizados à escala nacional. Para além de uma
digressão ao Alentejo, Algarve e Beira Alta em 1981 e de uma participação no 2º
Encontro de coros da região de Coimbra, em 1982, nada mais de significativo
aconteceu.
Ao período de Artur Carneiro compete, por direito, o mérito da realização de um
trabalho especial. As condições sociais, como já foi dito, não eram ainda as ideais e a
mudança para grupo misto obrigou a repensar toda a realidade coral.
A tudo isto vem juntar-se uma certa indisponibilidade dos universitários, mais
voltados para outras linhas de actuação e a abertura, por força dos estatutos, a
pessoas não universitárias, que acorreram ao organismo como forma de promoção e
como porta de acesso ao meio estudantil.
Contudo, durante os seis anos deste período, o reportório foi bastante arejado,
histórica e estilisticamente educativo, as organizações paralelas culturais aconteceram
com frequência e, mais importante que tudo, o Orfeon conseguiu começar a reafirmar
a sua imagem de dignidade académica.
Período de Virgílio Caseiro
1982 -
Com a chegada de Outubro de 1982, o Orfeon deu início a uma nova etapa da
sua história, contratando o maestro Virgílio Caseiro.
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Retomando uma dinâmica de recuperação artística que começara a sentir-se já
em finais da década de 70, foi fácil incutir no Orfeon o desejo de um novo pensamento
musical que respondesse polivalentemente às tarefas que ao organismo eram
solicitadas: representar a Universidade sob o ponto de vista artístico, ter um papel
pedagógico junto dos seus membros e ser um vector coral educativo para as
populações mais carenciadas.
O Orfeon de Virgílio Caseiro
Logo no ano de 1983 foi recuperada a tradição do uso do traje
académico,''Capa e Batina'', passando o Orfeon a actuar, de novo, vestido com as
suas insígnias universitárias. Também neste ano se começou a pensar na idealização
de espectáculos que, radicados no movimento e no apoio audio-visual, modificasse,
por actualização, a mensagem musical, dimensionando-a a vários níveis da
sensorialização, em última análise um espectáculo cénico-musical.
Isto foi realizado e apresentado em público já nesse mesmo ano, mas só no ano
seguinte se pôde atingir a maturação pretendida.
Desde então, e com o aproveitamento dos períodos de férias, tem vindo
sempre a manter-se a vontade do Orfeon de seguir numa linha mais ou menos
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itinerante, como factor de projecção universitária a nível artístico. E assim, ainda nesse
ano de 1983, realizou-se na Páscoa uma digressão a Espanha, à cidade de
Salamanca, depois de, durante as férias de Natal, se ter estado já no Alentejo.
A partir de 1984, começou a grande odisseia europeia do Orfeon. Todos os
anos tem tido lugar uma digressão à Europa, e algumas vezes duas.
Em 1984 o Orfeon visitou a França, onde apresentou o seu espectáculo
encenado. Ainda neste ano, fundou duas secções paralelas e subsidiárias do coro:
uma escola de fado de Coimbra, onde se formassem os cantores e instrumentistas
necessários à serenata de encerramento dos concertos e um grupo de música popular
para complementarização dos mesmos. Estes grupos continuaram em actividade
constante durante toda a década de 80 e permanecem ainda em plena actividade.
O Grupo de Música Popular
Em 1985 iniciam-se os ciclos denominados ''Hora e Meia com a Música'', que
têm por objectivo a realização de conferências e palestras com individualidades de
renome no panorama musical nacional e que se irão prolongar até 1989. Estes ciclos
trazem de novo a Coimbra figuras como Fernando Lopes Graça, António Victorino de
Almeida, Bernardo Sá Machado, João de Freitas Branco, Mário Vieira de Carvalho, e
outros.
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Neste ano o Orfeon volta à Europa. Visita a Espanha - Valência e Sueca -, e,
mais tarde, a França - S. Etienne, Lyon e Saint Dié - e a Alemanha - Frankfurt,
Wiesbaden e Babenhausen.
Em 1986, o Orfeon organiza um curso de direcção coral para não-iniciados,
numa tentativa de colaborar no incremento da qualificação dos novos maestros
regionais.
Na sequência deste espírito, é também criado um Grupo de Câmara Vocal,
formado por 4 elementos por naipe e tendo por objectivo a abordagem de reportório
musical de difícil acesso ou de características estilísticas desaconselhadas à
totalidade do Orfeon. Este grupo manteve-se até à actualidade, com boas
perspectivas de continuação.
A França e o Luxemburgo são os países visitados nas férias da Páscoa deste
ano.
Ainda em 1986, dão-se os primeiros passos no sentido da criação de um coro
de câmara com orfeonistas.
Entretanto, em todos estes anos, os concertos nacionais continuavam a
acontecer, bem como as participações constantes em saraus académicos. As férias
do Natal eram aproveitadas em geral para digressões internas. Nesta quadra, o
Orfeon visitou o Alentejo em 1983, Trás-os-Montes em 1984, de novo o Alentejo em
1985 e o Algarve em 1986.
Em 1987, por entendimento e sensibilização artística, o Orfeon começou a
ensaiar obras de dimensão mais vasta que, por um lado, entusiasmassem os
orfeonistas no sentido de um maior empenhamento e, por outro, lhes trouxessem um
maior benefício de carácter educativo. A primeira obra escolhida ao abrigo deste
critério foi a ''Missa Brevis'' K 259 de Mozart, apresentada a público com
acompanhamento de órgão e pequeno grupo de cordas.
A Itália e a França foram os países contemplados na digressão da Páscoa
deste ano.
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Em 1988, outras realizações ocorreram, marcadas pela sua importância e com
novidade: a gravação de uma cassete com o reportório do Orfeon, destinada a
comercialização; o início dos ensaios do Glória de Vivaldi, para ser executado em
parceria com a Tuna Académica e com a colaboração de solistas profissionais; a
cunhagem de uma nova medalha em bronze e a preparação da 1ª Mostra Internacional
de Coros Universitários.
A digressão da Páscoa teve de novo por objectivo a França, em seguida a
Bélgica e depois a Alemanha Federal.
Um ano mais tarde, a viagem à Holanda, à Suíça e à Alemanha, assinalou o
ponto mais alto da actividade coral deste ano.
Em 1990 entrou em ensaios a ''Missa Beatae Virginae Mariae'' de Filipe de
Magalhães. Também nesta data o Orfeon representou a Academia de Coimbra na
Unesco, em Paris, por ocasião da Abertura das Comemorações dos 700 anos da
Universidade de Coimbra.
Actualmente está a ser trabalhado um novo projecto de realização do Glória de
Vivaldi, desta vez em conjunto com a Nova Filarmonia Portuguesa e a integrar no
sarau de encerramento dos 700 anos da Universidade.
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O Orfeon na actualidade - 1991
Síntese das digressões ao Estrangeiro, Açores, Madeira e Ultramar
realizadas pelo Orfeon Académico de Coimbra desde a sua
constituição
1911- França: Paris
1923- Espanha: Madrid, Salamanca e Valladolid
1924- França: Paris, Bordéus e Baionne
1936- Açores e Madeira
1937- Espanha: Sevilha
1943- Espanha: Galiza
1947- Espanha: Salamanca e Madrid
1949- Espanha: Galiza
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África: Angola, Moçambique e S. Tomé e Príncipe
1953- Marrocos
1954- Espanha: Salamanca
Brasil: Pernanbuco, Rio de Janeiro,Santos,S. Paulo, S.
Caetano, Campinas, Americana, S. Carlos, Ribeirão Preto, Belo Horizonte,
Ouro Preto, Teresópolis, Niterói e S. Salvador da Baía
1958- Bélgica: Bruxelas
1960- Açores e Angola
1961- Espanha
1962- Estados Unidos da América: 35 cidades visitadas
1963- Madeira
1965- Estados Unidos da América: Nova Iorque
1966- Açores
1967- Angola
1969- França: Paris, Poitiers, S. Jean de Luz
1970- Japão: Osaka, Kioto e Tóquio
1971- Luxemburgo
Suíça: Zurique, Lausana, Berna e Basileia
Inglaterra: Oxford e Londres
França: Paris
Holanda: Harlem, Almelo, Arnhein e Haia
1972- África do Sul: Pretória, Durban, Joanesburgo
Rodésia: Blantyre e Salisbury
Malawi
Angola e Moçambique
1980- Espanha: Santiago de Compostela
Áustria: Viena
Polónia: Lodz e Varsóvia
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1983- Espanha: Salamanca
1984- França: Poitiers, Bourges, Cluny, Niort e La Rochelle
1985- França: S. Etienne, Lyon e Saint Dié des Vosges
Alemanha: Babenhausen, Frankfurt, Wiesbaden e Neuss
Espanha: Valência e Sueca
1986- França: Tours e Saint Dié
Luxemburgo
1987- França: Aix-en-Provence
Itália: Massa, Noceto e Parma
1988- França: Montpellier, Nancy e Neuves-Maisons
Bélgica: Bruxelas
Alemanha: Sindelfingen e Bona
1989- Holanda: Amesterdão e Leiden
Suíça: Lausana
Alemanha: Colónia, Bona e Lipstadt
1990- Espanha: Salamanca
França: Paris (Unesco)
1991- Espanha: Santiago de Compostela e La Coruña
França: Aix-en-Provence, Montpellier, Anianne e
Dauphin
Alemanha: Frankfurt e Erbach
Bélgica: Bruxelas, Bruges, Erps-Kwerps e Keerbegen (Europália)
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Os Estatutos
Se é verdade e constatável a existência do Orfeon Académico de Coimbra e o
seu reconhecimento universitário e público desde 1880, também é verdade que,
desde a sua fundação até à actualidade, poucas são as referências concretas à sua
existência legal.
Foi criado de facto e como tal existiu.
Só em 1900 se encontram os primeiros documentos escritos, muito
concretamente duas actas de Assembleias Gerais, datadas de 25 de Maio e 13 de
Novembro, e das quais a última, por bizarria da história, tem como objecto de análise
e decisão o encerramento de actividades e a dissolução do organismo40, proposta
aprovada com 12 votos a favor, 3 contra e 13 abstenções. O património orfeónico
transitou, por decisão desta assembleia, para a responsabilidade da Direcção da
A.A.C.
Acabara assim o Orfeon da Sebenta, por insubstituibilidade do seu director
artístico.
Apesar de recriado o Orfeon em 1908, nada foi encontrado relativamente a este
período que lhe desse suporte legal em termos estatutários, embora em questão de
vida interna seja abundante o material escrito que confirma a sua existência. Há
mesmo um relatório de contas finais, elaborado em 1912 (ano da nova paralisação de
actividades) por Felizardo António Saraiva e José Freire de Mattos.
Também algumas actas de Assembleias Gerais, relativas a este período, se
podem consultar na Direcção do Orfeon.
40- A acta em questão encontra-se nos anexos.
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Contudo só em 1919, pela Lei nº 861, aprovada pelo Parlamento, se regista a
primeira referência oficial à existência do Orfeon, reconhecendo-o como organismo
académico legal com razão de existir permanentemente. O mesmo diploma
restabelece, ainda, a Faculdade de Letras.
Em Novembro de 1936, novo decreto-lei, o nº 27277, incide sobre o Orfeon
Académico, desta vez para conferir ao Reitor da Universidade competência para
contratar um indivíduo da sua confiança, para a regência do Orfeon e da TUNA.
Em Novembro de 1938, é aprovado um projecto de Regulamento Interno,
elaborado por Augusto de Figueiredo Machado Franco e que, quer pela sua redacção,
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quer ainda pela exaustão das situações que contempla, pode ser verdadeiramente
tido como um Projecto de Estatutos, até mesmo porque o seu âmbito é bastante mais
vasto do que aquele que caberia a um regulamento interno. Deste facto tiveram aliás
consciência as direcções vindouras, que em relação ao documento o seguiram como
estatutos, alterando-o e ampliando-o em assembleias gerais sucessivas.
Estatutos de 1938
O presente documento, de uso interno na época, confirma esta afirmação, na
medida em que o riscado do título ''Regulamento Interno'' vem substituído pela palavra
manuscrita ''Estatutos''. Também o seu conteúdo se encontra significativamente
alterado e adendado.
Só em 1963 os Estatutos definitivos são finalmente publicados no Diário do
Governo de 19 de Setembro, oficializando assim a prática estatutária, desde 1938,
corrigida e actualizada agora neste ano de 1963. Por estes Estatutos define-se o
Orfeon Académico de Coimbra como ''uma associação de estudantes
universitários, de índole exclusivamente estética e finalidade filantrópica e
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artística, tem a sua sede na cidade de Coimbra, no edifício das instalações
académicas da Universidade, e rege-se pela lei e pelos presentes
estatutos''41. Ainda relativamente aos Fins e actividades, afirmam os Estatutos:''O
Orfeon é absolutamente independente de qualquer organização, mesmo
académica, podendo, porém, colaborar com qualquer organismo escolar ou
extra-escolar, dentro das finalidades indicadas no art. 1º dos presentes
estatutos e nos termos do art. 17º do decreto-lei nº 44632''42 ... ''Ao Orfeon
compete:
a) Procurar levar a efeito, nos termos do art. 39º, o mínimo de uma
excursão anual dentro ou fora do país;
b) Promover, sempre que as suas disponibilidades financeiras o
permitam, a realização de conferências sobre arte e especialmente sobre
música, para o que serão convidados artistas e críticos dos mais conotados;
c) Realizar, quando isso seja possível, serões de arte.''43
Posteriormente à data de 1963, são vários os contributos de sucessivas
gerações para a elaboração de novos estatutos. Contudo as versões finais jamais se
tornaram ''exteriormente'' oficiais, já que é a publicação de 19/9/63 que continua a ser
considerada como última publicação oficial.
Entre os contributos mais relevantes, serão de registar os novos estatutos
organizados e aprovados em assembleia geral de Fevereiro de 1976 (não publicados
em Diário da República) e onde é contemplada a abertura do organismo a pessoas de
ambos os sexos, que assegurem o funcionamento do novo coro misto. Também daqui
em diante poderão passar a ser orfeonistas, por força do parágrafo único do art. 5º,
elementos não universitários.
Em 1988 é constituída nova comissão, composta pelos estudantes de Direito
Júlio de Matos, Rosa Amélia e Paula Saraiva, para elaboração de outros estatutos. 41- Estatutos, 1ª Parte, artº 1º, "Dos Fins e da Sede" 42- Ibidem, artº 2º. 43- Ibidem, artº 3º "Da Actividade Cultural".
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Apesar da ampla discussão que promoveram em assembleias gerais para o efeito
convocadas, nunca este projecto chegou, contudo, a passar da situação de documento
manuscrito.
Verifica-se, assim, uma vez mais, que os únicos estatutos publicados em Diário
da República são os de 196344, e por isso os verdadeiramente oficiais. No entanto, a
constituição mista do actual Orfeon não os considera e obriga a que as últimas
direcções se tenham vindo a reger pelos estatutos aprovados em Fevereiro de 1976.
De referir também que muitas têm sido as alterações propostas aos estatutos,
ao longo dos anos, umas e outras devidamente registadas em actas de Assembleia
Geral. Porém, o carácter transitório dos membros do organismo faz com que,
passados poucos anos, o conhecimento dessas alterações seja apagado da memória
e o objectivo das actas escritas quase nunca seja respeitado. Portanto, e apesar das
sucessivas alterações estatutárias, é quase sempre o documento de 1976 que acaba
por ditar palavra de lei, porque o único a que normalmente se recorre.
Estatutos do Orfeon Académico
Aprovados em Assembleia Geral de Fevereiro de 197645
TÍTULO I
CAPÍTULO ÚNICO
(Denominação, sede e fins)
Artº 1º
O Orfeon Académico de Coimbra, é um organismo cultural de
estudantes da Universidade de Coimbra, com autonomia artística e
administrativa, cuja finalidade é desenvolver a cultura e a arte popular.
Art.º 2º
44- Estes Estatutos encontram-se fotocopiados no anexo final deste trabalho. 45- Transcrição integral dos Estatutos, em função da importância de que se revestem para a história e a estrutura do Orfeon.
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O Orfeon, para a prossecução dos seus fins, dotar-se-á de estruturas e
meios necessários com vista à concretização de um coro que sirva as ideias
democráticas e progressistas.
Artº 3º
O Orfeon tem a sua sede em Coimbra.
Artº 4º
O Orfeon possui emblema próprio, que só pode ser usado pelos sócios
que alguma vez tenham tido a qualidade de efectivo ou de honorário e que
adiante se reproduz.
TÍTULO II
DOS SÓCIOS
CAPÍTULO I
(Categoria de sócios)
Artº 5º
O Orfeon tem três categorias de sócios: votantes, efectivos e
honorários.
Parágrafo único- Poderão fazer parte do Orfeon não universitários.
Artº 6º
São considerados sócios não votantes todos aqueles que inscritos no
organismo não tenham realizado trabalho efectivo no Orfeon durante pelo
menos três meses ou que não tenham dado provas suficientes da sua
integração nos fins do organismo constantes do artº 1º, mercê do seu
trabalho e ainda os sócios efectivos que tenham abandonado o trabalho há
pelo menos seis meses.
Parágrafo único- Os sócios não votantes podem contudo emitir
livremente as suas opiniões nas Assembleias.
Artº 7º
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São considerados sócios efectivos os sócios que constem do caderno de
votantes.
Parágrafo único- A inscrição como sócio do Orfeon é feita no gabinete
da Direcção, e os sócios só farão parte do grupo coral após o apuramento de
voz feito pelo regente do Orfeon.
Artº 8º
Fazem parte do caderno de votantes:
a) Os sócios efectivos que tenham realizado um trabalho efectivo no
organismo durante pelo menos três meses.
b) Os sócios efectivos que tenham abandonado o trabalho há menos de três
meses.
Parágrafo único- Os critérios de passagem a sócio votante devem ser,
para além do constante no corpo do artigo, a capacidade de cada elemento
dar provas de integração nos fins do organismo constante no artº 1º, mercê
do seu trabalho.
Artº9
Para efeito do constante no artº 7º, o Conselho Directivo deve elaborar
um caderno de votantes a ser submetido à Assembleia Geral, que decidirá.
Parágrafo único- A elaboração do caderno de votantes deve ser feita
sempre que haja necessidade, podendo qualquer sócio chamar a atenção da
Assembleia para os casos que achar convenientes.
Artº 10º
São considerados sócios honorários as pessoas ou colectividades
nacionais ou estrangeiras, nomeadas em Assembleia Geral, que por mérito
próprio ou serviços prestados ao organismo se pretenda distinguir, após a
aprovação destes estatutos.
CAPÍTULO II
(Direitos e Deveres)
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Artº 11º
Só os sócios efectivos são considerados eleitores e só eles podem ser
eleitos para os corpos gerentes.
Artº 12º
É dever de todos os sócios do Orfeon aceitar os cargos para que forem
eleitos se previamente não apresentarem razões justificativas da não
aceitação.
Parágrafo 1º- O pedido de demissão de qualquer cargo será
apresentado à Assembleia Geral ou ao órgão que tiver feito a designação.
A Assembleia ou este órgão examinará os respectivos motivos e
decidirá em conformidade.
Parágrafo 2º- Se o pedido de demissão provir de um elemento do
Conselho Directivo, conservar-se-á o disposto no artº 28.
Artº 13º
É dever de todos os sócios contribuir para o prestígio do Orfeon e
acatar as decisões dos corpos gerentes, no âmbito da sua competência.
CAPÍTULO III
(Penalidades)
Artº 14º
As penalidades aplicadas aos sócios são: repreensão, suspensão dos
direitos de sócio e irradiação.
Parágrafo 1º- Nenhuma destas penalidades será aplicada sem prévia
audiência do sócio visado, salvo no caso da sua manifesta falta de
colaboração.
Parágrafo 2º- Todas as penalidades são da competência exclusiva da
Assembleia Geral, que poderá nomear um instrutor para organizar o
processo.
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Parágrafo 3º- A irradiação só poderá ser decidida por maioria absoluta
dos sócios presentes em Assembleia Magna expressamente convocada para
o efeito.
TÍTULO III
DOS CORPOS GERENTES
Artº 15º
São considerados corpos gerentes a Assembleia Geral e o Conselho
Directivo, cujos membros são eleitos anualmente em Assembleia Geral
Ordinária.
Parágrafo 1º- Os corpos gerentes eleitos só entraram em efectividade
de função entre 1 e 30 de Outubro.
Parágrafo 2º- Estes órgãos poderão ser preenchidos em qualquer
altura, em Assembleia Geral convocada para o efeito, no caso de demissão
ou outra impossibilidade permanente de qualquer dos seus membros.
CAPÍTULO I
DA ASSEMBLEIA GERAL
Artº 16º
A Assembleia Geral reunirá em sessão anual ordinária entre 1 e 30 de
Junho, para eleição dos corpos gerentes.
Artº 17º
A Assembleia Geral funcionará com qualquer número de sócios,
podendo contudo os sócios presentes decidir não realizar a Assembleia, por
não a considerar representativa.
Artº 18º
As decisões da Assembleia Geral são tomadas por maioria simples dos
sócios presentes, sem prejuízo do nº1 do artº22º e do parágrafo 3 do
artº14º.
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Parágrafo único- O direito de voto só pode ser exercido através da
presença do próprio votante.
Artº 19º
A Assembleia Geral será convocada com a antecedência mínima de 48
horas.
Parágrafo único- São formalidades essenciais de convocação a menção
da ordem do dia e a afixação da convocatória no átrio do edifício da sede do
Orfeon, independentemente de qualquer outra publicidade.
Artº 20º
A Assembleia Geral é convocada pelo presidente de Mesa ou na sua
impossibilidade, por qualquer outro elemento da Mesa, a pedido de:
a) Do Conselho Directivo;
b) De pelo menos cinco sócios efectivos;
Parágrafo 1º- A convocatória, a que se deve dar a publicidade
necessária, será assinada pelo presidente da mesa da Assembleia Geral ou
na sua impossibilidade, por qualquer outro elemento da mesa, e indicará a
entidade ou sócios requerentes.
Parágrafo 2º- À ordem do dia poderão ser acrescentados pontos sem
carácter deliberativo por maioria simples. A apresentação desses pontos será
feita no início da reunião, passando a sua discussão para depois do último
ponto da ordem do dia inicial.
À ordem do dia não podem ser retirados pontos sem o consentimento
da entidade requerente.
Artº 21º
No caso de recusa do Presidente, a Assembleia Geral poderá ser
convocada pela entidade ou sócios indicados no artº 20º.
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Parágrafo único-A Assembleia Geral tomará neste caso conhecimento
dos motivos da recusa, decidirá da oportunidade e necessidade do seu
imediato funcionamento para exame da matéria da convocatória.
Artº 22º
Haverá por ano três assembleias gerais ordinárias, respectivamente,
para eleição dos corpos gerentes, para a direcção prestar esclarecimentos
sobre a sua actividade e, finalmente, para apresentação de contas da
gerência, relatório e balanço.
Artº 23º
Compete à Assembleia Geral:
a) Alterar estes estatutos por maioria qualificada de 2/3 de sócios efectivos
do Orfeon, devendo a convocação para essa sessão ser feita com a
antecedência mínima de 8 dias.
b) Proceder às eleições para os corpos gerentes, nos termos destes estatutos
e apreciar os pedidos de demissão de harmonia com o artº 12º.
c) Admitir os sócios honorários nos termos do artº 10º.
d) Apreciar as actuações passíveis de sanções e aplicar as respectivas
penalidades de harmonia com o artº 14º.
e) Discutir e aprovar no início de cada mandato dos corpos gerentes um
plano de actividades a apresentar pelo Conselho Directivo.
f) Discutir e aprovar pelo menos uma vez por ano um relatório de contas a
apresentar pelo Conselho Directivo.
g) Deliberar sobre todos os assuntos relacionados com o organismo.
Parágrafo único- A aprovação pela Assembleia Geral do balanço de
contas da gerência, liberta a Direcção da sua responsabilidade perante o
Orfeon, salvo provando-se que nos balanços, relatórios ou contas houve
omissões ou indicações falsas.
Artº 24º
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A mesa da Assembleia Geral compõe-se de um presidente e dois
secretários.
Artº 25º
Ao presidente da mesa da Assembleia Geral incumbe:
a) Convocar a Assembleia Geral nos termos do artº 20º.
b) Presidir às sessões e dirigir os trabalhos da Assembleia Geral.
c) Ler ou mandar ler por um dos secretários a acta da sessão anterior que
depois de lida submeterá à discussão e aprovação.
d) Conservar em seu poder os livros das actas da Assembleia Geral e demais
documentos que lhe digam respeito, entregando tudo no fim da gerência ao
Conselho Directivo
e) Assinar com os secretários as actas das reuniões.
f) Manter a ordem durante as sessões, expulsando inclusive da sala, após
aprovação da assembleia, aquele que, mercê do seu comportamento
incorrecto ou anti-democrático, se torne prejudicial ao bom funcionamento
da assembleia.
Artº 26º
Aos secretários da mesa da Assembleia Geral compete coadjuvar o
presidente e substituí-lo na sua falta ou impedimento.
Parágrafo 1º- Se nalguma sessão da mesa da Assembleia Geral se
verificar a ausência de todos os componentes da mesa, dirigirão os trabalhos
três sócios eleitos na mesma sessão.
Parágrafo 2º- Na falta de secretários farão as suas vezes os sócios
aprovados pela assembleia.
CAPÍTULO II
DO CONSELHO DIRECTIVO
Artº 27º
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O Conselho Directivo é composto por sete elementos: presidente, vice-
presidente, tesoureiro e quatro vogais, cargos estes escolhidos entre si.
Artº 28º
Nenhuma resolução poderá ser tomada em reunião do Conselho
Directivo sem a presença da maioria dos seus elementos em efectividade de
funções.
Artº 29º
O Conselho Directivo reunirá em sessões ordinárias e sempre que
algum dos seus membros o requeira justificadamente.
Artº 30º
As funções da Direcção findam no acto de posse da que a substitui.
Artº 31º
Depois de eleito nenhum membro do Conselho Directivo poderá pedir
a sua demissão sem fundamento. O pedido de demissão será apresentado
aos restantes membros que, se o aceitarem, comunicarão o caso à
Assembleia Geral.
Em caso de negativa, poderá o requerente apresentar o seu pedido de
demissão à Assembleia Geral.
Artº 32º
As deliberações do Conselho Directivo são tomadas por maioria
simples.
Parágrafo único- O Conselho Directivo é solidariamente responsável
por todas as medidas tomadas.
Artº 33º
Ao Conselho Directivo, como órgão executivo do organismo, compete
nomeadamente:
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a) Representar o Orfeon
b) Executar as decisões da Assembleia Geral
c) Administrar e conservar os bens do Orfeon
d) Submeter à apreciação da Assembleia Geral os projectos de trabalho e
quaisquer assuntos de interesse ou gravidade para o organismo
e) Organizar as viagens e os espectáculos depois de aprovados em
Assembleia Geral
f) Apresentar à Assembleia Geral, para aprovação, o caderno de votantes e o
caderno eleitoral, afixado este último dois dias antes das eleições
g) Elaborar para discussão e aprovação pela Assembleia Geral, no início do
seu mandato, um plano de actividades
h) Elaborar para discussão e aprovação em Assembleia Geral, pelo menos
uma vez por ano, um relatório de contas
i) Colaborar com a Direcção Artística em todas as realizações e assistir-lhe,
facilitando-lhe os meios para o cumprimento da sua missão
j) Organizar as comissões técnicas que se julguem necessárias
Artº 34º
Compete ao presidente do Conselho Directivo coordenar a sua
actividade e orientar as suas reuniões.
Artº 35º
Ao vice-presidente compete nomeadamente substituir o presidente no
seu impedimento, ou quando para tal for delegado.
Artº 36º
Compete ao tesoureiro arrecadar e administrar os dinheiros do Orfeon
e orientar toda a actividade financeira do organismo
Artº 37
Compete aos vogais, juntamente com os restantes membros do
Conselho Directivo, a actividade normal do Conselho Directivo.
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CAPÍTULO III
(Conselho Artístico)
Artº 38º
O Conselho Artístico compõe-se do regente do Orfeon e um ensaiador
de cada naipe.
Artº 39º
Compete ao Conselho Artístico:
a) Fazer o apuramento de vozes, por intermédio do regente.
b) Elaborar o programa das músicas a cantar durante o ano, para apresentar
à Assembleia Geral, que poderá aceitá-lo, recusá-lo ou alterá-lo.
c) Promover ensaios parciais e gerais quando o entender.
d) Submeter a exame, sempre que o entenda e obrigatoriamente antes de
qualquer excursão, todos os orfeonistas, fornecendo seguidamente à
Direcção, para serem afixadas, listas com o resultado dos exames.
e) Marcar faltas aos orfeonistas que não compareçam aos ensaios.
Artº 40º
Aos exames a que se refere a alínea d) do artº anterior assistirá um membro
da Direcção.
TÍTULO IV
CAPÍTULO UNICO
(Do acto Eleitoral)
Artº 41º
O acto eleitoral revestir-se-á no essencial de duas fases:
1ª- Uma assembleia preparatória onde se fixará o dia das eleições, tendo
limite para propositura de listas e demais pormenores relacionados com as
eleições.
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2ª- Eleição em Assembleia Geral Ordinária, a realiza entre 1 e 30 de Junho,
dos corpos gerentes.
TÍTULO V
CAPÍTULO UNICO
(Da actividade artística)
Artº 42º
A Direcção artística de um espectáculo bem como de outra actividades
que lhe sejam afectas, pertence ao maestro, se nada em contrário for
acordado.
Artº 43º
A nomeação do maestro, bem como a escolha das peças a apresentar,
compete à Assembleia Geral.
Artº 44º
À Direcção Artística é-lhe estranha qualquer actividade administrativa.
TÍTULO VI
CAPÍTULO UNICO
(Das viagens e espectáculos)
Artº 45º
Em viagem observar-se-ão as disposições destes estatutos sem
prejuízo do estabelecimento de normas especiais sempre que a natureza das
deslocações assim o exigir.
Artº 46º
Quando em viagem o Orfeon poderá reunir em Assembleia.
Esta Assembleia só pode, porém, conhecer e deliberar sobre assuntos
respeitantes à mesma.
Artº 47º
A chefia do Orfeon em viagem pertencerá ao Conselho Directivo.
TÍTULO VII
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DISPOSIÇÕES FINAIS
Artº 48º
Os casos omissos serão resolvidos de acordo com o espírito destes
estatutos, da lei e dos princípios gerais do Direito.
FIM
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As Direcções Artísticas
Neste capítulo pretende-se esboçar uma síntese biográfica dos diferentes
regentes do O.A.C., e inferir das consequências que a respectiva actuação teve na
história e na evolução artística do Orfeon. Não se dá notícia biográfica de Luís de
Albuquerque Stockler, por ter sido a sua participação meramente pontual e mal
definida em termos de ela se poder entender ou não como regente, do Orfeon.
Também se não fazem referências a D. José Pais de Almeida, por nunca ter chegado
a ser regente titular - substituiu Elias de Aguiar em épocas em que a saúde deste lhe
não permitia estar presente.
São por isso ao todo 9 os regentes que imprimiram o seu perfil artístico ao
Organismo, da fundação à actualidade.
João Arroio46
João Marcelino Arroio, fundador do Orfeon Académico e seu primeiro regente,
era natural do Porto, onde nascera em 1861.
Depois de ter iniciado os seus estudos nesta cidade, veio para Coimbra cursar
Direito, e aqui se licenciou.
Era filho de José Francisco Arroio - compositor e músico, primeiro director do
Teatro S. João, no Porto - e irmão do crítico de arte António Arroio, este também
músico e cantor. Aliás, aquando do espectáculo de estreia do O.A.C., António Arroio
cantou a solo, acompanhado por uma orquestra dirigida por seu irmão João.
Doutorou-se em Direito em 1884 e tomou posse de cátedra em Dezembro de
1985, tendo sido neste mesmo ano eleito deputado por Vila do Conde.
46- Dados biográficos de acordo com documentos existentes e arquivados no O.A.C., publicações periódicas, notas de programas e elementos colhidos na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
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Em 1890, apenas com 29 anos de idade, foi chamado ao Governo para chefiar
a pasta da Marinha e Ultramar e, mais tarde, a do Ministério da Instrução Pública.
Em 1900 voltou ao governo, deste vez sob a presidência de Hintze Ribeiro,
para ocupar a pasta dos Estrangeiros.
Nos últimos anos de Monarquia, João Arroio salientou-se na Câmara como um
dos elementos da oposição.
No na área dos estudos jurídicos publicou: Estudo sobre a sucessão legitimária
- Coimbra, 1884; Duas excepções no Processo Civil Português - Porto, 1884 e
Estudo segundo sobre a sucessão legitimária - Coimbra, 1885.
Como publicações musicais, deixou: Histoire simple, Thème avec variations;
Scherzo, Angoscia e Charmante, obras para piano datadas de 1908; as óperas Amor
de Perdição - sobre o romance de Camilo Castelo Branco e libreto em italiano de
Francisco Braga e representada no Teatro de S. Carlos em 1907, com tal sucesso que
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se voltou a representar em Hamburgo - e Leonor Teles, esta ainda hoje inédita;
compôs também uma cantata, Inês de Castro, igualmente inédita ainda e um Poema
Sinfónico, baseado num ciclo de sonetos publicados em 1918, e que foi tocado em
1913 no Teatro da Trindade.
Em 1917 publicou o drama teatral Paulo e Lena, que teve má aceitação por
parte do público.
Morreu a 15 de Maio de 1930.
Fruto da sua formação musical e do convívio com um meio musical rico, como
era o do Porto nessa época, João Arroio incutiu ao Orfeon uma dinâmica apoteótica,
juntando vozes, instrumentos e solistas, numa abordagem de árias musicais de grande
efeito e aceitação, tais como coros de Weber e Wagner. Era, em última análise, a
exploração da massa coral como expressão de profunda emoção romântica. O
espectáculo de apresentação foi disto exemplo. Vários órgãos da comunicação social
chegam a indicar, para estes primeiros espectáculos, um total de cerca de 250
músicos. Se atendermos ao número de orfeonistas- cerca de 80- sobram-nos 130
elementos como instrumentistas e solistas, número de facto muito elevado.
António Joyce47 De seu nome completo, António Avelino Joyce. Nasceu em Lisboa a 1 de
Dezembro de 1886.
47- Dados biográficos extraídos de notas de programa, da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (até 1946) e dos arquivos do O.A.C.
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Para além de reorganizador do O.A.C. em 1908 e de ser seu coordenador até
1912, altura em que se licencia em Direito, Joyce foi um homem público
extraordinariamente discreto, alternando a sua actividade entre o mundo político e o
administrativo.
Governador Civil de Bragança, a seguir à sua formatura, opta depois pelo
cargo de Secretário dos Governos Civis de Castelo Branco, Porto e Lisboa.
Desempenhava este último cargo quando foi convidado para secretário particular do
Presidente da República, na altura Teixeira Gomes.
Nomeado director da Emissora Nacional, cria nesta a Orquestra Sinfónica
Nacional, convidando Pedro de Freitas Branco para seu primeiro maestro titular.
Possuía, para além da formação jurídica, o Curso Diplomático, os cursos gerais
de Rudimentos Musicais, Harmonia e Violino, e ainda o curso de professor da Cartilha
Maternal. Nem sempre foi pacífica a sua coexistência com o poder político instituído.
Obrigado a emigrar, partiu para Antuérpia, onde viveu algum tempo como director
comercial de uma empresa de que era sócio, conjuntamente com Afonso Costa.
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Foi director da Sociedade de Concertos de Lisboa, membro de honra do
Instituto Britânico do Porto, sócio da Associação dos Jardins-Escolas, da Associação
de Músicos Portugueses e cidadão honorário da Covilhã. Possuía o grau de Cavaleiro
de Santiago da Espada.
Colaborou nos periódicos Século, Capital, Diário de Notícias, Atlântida e ABC.
Publicou os trabalhos: Da influência do Patriarcado na condição jurídica da mulher; O
carácter específico do fenómeno financeiro; Estudo acerca de canções populares na
província da Beira-Baixa; Projecto crítico de modificações ao Código Administrativo
de 1936, e Projecto de reforma da Emissora Nacional.
A sua passagem pelo Orfeon foi, sem margem para dúvida, o ponto mais alto
da sua concretização artística. Devem-se-lhe, para este grupo coral, algumas
harmonizações de temas populares, a 4 vozes iguais.
Morreu em Lisboa a 15 de Janeiro de 1964.
Com António Joyce, o O.A.C. atingiu um elevado nível artístico e conseguiu
seleccionar um longo e difícil reportório, desta vez executado exclusivamente ''a
capella''. O facto de todos os espectáculos terem tido um fim benemerente explícito (a
construção do Jardim-Escola João de Deus), universalizou a sua aceitação e
moralizou, por acréscimo, as suas actuações. O número de elementos era prova disso:
''Eu já o disse: que obra titânica não é juntar duzentos rapazes, disciplina-
los, prende-los e interessa-los numa obra artística, numa epocha como a
nossa ? António Joyce conseguiu isso.' '48. Quanto à qualidade artística basta
referir, como exemplo, o seguinte: ''O Orfeon Académico de Coimbra obteve no
espectáculo de hontem uma nova e ruidosa consagração. Nem um logar
devoluto... Foi uma bela festa o sarau de hontem. As recordações deixadas
não se apagarão tão cedo.''49.
48- Luis Gonzaga no jornal O Comércio de Viseu de 24/2/910 49- excerto do jornal A República de 25/3/912.
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Elias de Aguiar
O padre Dr. Elias de Aguiar nasceu em 1880 em Vila do Conde.
Após ter frequentado o Seminário de Braga, onde se ordenou, matriculou-se em
1906 na Faculdade de Teologia de Coimbra. Terminado este curso inscreveu-se,
como aluno, nas Faculdades de Letras e de Direito da mesma cidade, e nestas se
viria também a licenciar.
Foi professor do Seminário de Coimbra nas cadeira de Moral e Dogmática
Especial, Teologia Fundamental e Filosofia. Foi também professor de História da
Música na Faculdade de Letras.
Assumiu a regência do O.A.C. em 1914, após o interregno de António Joyce,
vindo a apresentar o organismo em público em Março de 1915.
Como regente, acompanhou o Orfeon nas viagens triunfais que este realizou a
Espanha e a França. Em 1932, por razões de saúde, fez a sua última apresentação
artística pública, em sarau realizado no Coliseu dos Recreios de Lisboa.
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Em 24/5/1929 foi-lhe prestada uma homenagem pela Academia de Coimbra, a
que se associou a cidade. Durante o acto, o Governador Civil colocou-lhe as insígnias
da Ordem de Santiago, com que o Governo o havia agraciado.
Parecida homenagem lhe prestou também o povo da sua terra natal, em frente
da porta da sua casa, pelos relevantes serviços prestados a Vila do Conde, tendo-lhe
sido oferecida então uma obra de arte, a perenizar a data.
Os anos consagrados ao O.A.C. podem entender-se como o ponto mais alto de
toda a sua realização artística. Pena foi que os, problemas graves e constantes de
saúde, que sempre o acompanharam, o tivessem impossibilitado de concretizar
muitos projectos e outros tantos espectáculos. A asma e a bronquite dificultaram-lhe o
dia a dia, tendo vindo a ser, inclusive, a causa da sua morte.
Dedicou às coisas da educação e da cultura toda a sua vida, e a maneira
desinteressada como a elas se entregava, criou-lhe mesmo graves problemas de
sobrevivência económica, o que o levou, por mais de uma vez, a refugiar-se na sua
terra natal, abandonando Coimbra.
Da sua maneira de ser e de estar, seja permitido transcrever aqui dois
contemporâneos seus: ''É então que, em 1914, surge, como por milagre, a
figura altamente simpática, culta e bondosa do Dr. Elias de Aguiar...; ...aí
tínhamos nós o ensaio geral, sob a regência do Sumo Pontífice de tudo
aquilo, - o simpático Dr. Elias de Aguiar, o qual, por sofrer de uma bronquite
um tanto assanhada, nos aparecia com o pescoço envolto num cachecol.;
...ao nervosismo de Joyce, opôs-se a serenidade que confunde, à frase
destoante e viva a fustigar uma desafinação, sucedeu um cair de braços em
desencanto, que teve o condão de estabelecer a harmonia nos tons em
conflito de irmandade sonora''50 E ainda:
''Era na igreja antiga de S. Bento,
50- Carta de Jorge Seabra ao Orfeon, em Fevereiro de 1955, incluída no livro de comemoração dos 75 anos desta Instituição.
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-Velha e de velha abandonada, enfim...-
De altos zimbórios, de profundas naves,
Onde zunia o vento,
Onde dormiam as nocturnas aves...
Era na velha igreja que ficava
à beira dum jardim,
Cercada de chorões e buganvílias,
À sombra das olaias e das tílias:
Pois era ali que o Orfeon cantava!...
Acendia-se a luz do acetileno;
Formava no estrado o Orfeon;
De preto, no pescoço, um cachecol,
-Tão apagado e simples de figura,
Mas que ao reger se anima e transfigura
E alumia à roda como um sol...-
Vinha o Dr. Elias de Aguiar,
Que nos lábios premia o Lamiré
Para nos dar o tom...
<<Silêncio, amigos, vamos a cantar!>>
A sua fronte, onde alve javam cãs,
Revestia-se, então, de um ar solene...
E ao levantar o braço
Irrompia qual nuvem pelo espaço
A torrente sonora:
O Ámen, os Titães,
Que aos sentidos me vêm a toda a hora!...' '51
51- Fausto José em carta enviada ao O.A.C., aquando das Bodas de Diamante e a incluir no seu livro intitulado Memórias de Coimbra.
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Elias de Aguiar viria a morrer a 23 de Março de 1936.
Raposo Marques
Raposo Marques era natural da Ilha de S. Miguel, tendo nascido na Ribeira
Grande a 2 de Novembro de 1902.
Depois de concluído o curso dos liceus em Ponta Delgada, em 1923, matricula-
se nesse mesmo ano em Coimbra nas Faculdades de Letras e Direito.
Os invulgares dotes musicais, que desde logo revela, impõem-lhe a alcunha de
<<Palestrina>>, já no seu tempo de caloiro, sobrenome que o acompanhará até ao fim
dos seus dias. Ainda nos primeiros anos de Coimbra, é chamado a substituir Elias de
Aguiar, para dirigir alguns ensaios do Orfeon na velha igreja de S. Bento.
A partir de 1926, é regente substituto do Orfeon, por impossibilidade quase
permanente de saúde do regente titular. Mas só a partir de 11 de Janeiro de 1937,
Raposo Marques desempenha este cargo com carácter efectivo, por proposta do
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Senado Universitário - proposta fundamentada no decreto-lei nº 27277 de Novembro
de 36 que permite ao Reitor da Universidade a contratação de um indivíduo, de
reconhecida competência, para dirigir os dois organismos académicos de maior
prestígio e representatividade universitária, o Orfeon e a Tuna Académica - depois de
ter sido escolhido por unanimidade para tal cargo em Assembleia Geral de orfeonistas
realizada em Outubro último.
Contudo Raposo Marques já regia este grupo coral, de facto e graciosamente,
havia mais de 10 anos.
Desde 1929 passou a ocupar também o lugar de professor provisório do Liceu
Dr. Júlio Henriques de Coimbra - ao tempo, Liceu Normal - cargo que desempenhou,
com interrupção de 1930 a 1936, e que manteve, depois, em simultaneidade com o
exercício das funções de regente orfeónico.
As suas inatas capacidades musicais levaram-no, para além de regente, a ser
também compositor e orquestrador e, como tal, responsável por um grande número de
composições e harmonizações destinadas ao Orfeon ou à Tuna. Poder-se-ão referir,
entre outras: Limoeiro Verde com versos de Antero de Quental; Missa Mater Dei a três
vozes e órgão; O Vos Omnes, para 4 vozes iguais; Balada, para canto e piano; Balada
Açoreana, para 4 vozes iguais; Rapsódias Açoreanas nº1, 2 e 3.
Enquanto regente do Orfeon Académico de Coimbra, acompanhou-o em todas
as digressões e espectáculos realizados no País -continental, insular e ultramarino-e
com ele deu concertos em Espanha, França, Bélgica, Brasil e Estados Unidos da
América do Norte.
Raposo Marques foi agraciado com as condecorações de Cavaleiro da Ordem
de Instrução Pública e Oficial da Ordem de Santiago da Espada. Recebeu a medalha
de Ouro da Cidade de Coimbra, em 1954, antes da sua triunfal viagem ao Brasil. Era
''Maestro honoris causa'' da Academia Mundiale degli Artisti e Professionisti de
Roma'', Sócio de Mérito do Instituto de Coimbra e da Associação dos Jardins- Escola
João de Deus, Sócio de Honra do Orfeão Escalabitano, Sócio Honorário da Casa dos
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Açores no Rio de Janeiro, para além, é evidente, de ser Sócio Honorário do Orfeon
Académico de Coimbra.
Colaborou em várias revistas e jornais diários, estando a sua obra literária
dispersa por diversos periódicos, com principal incidência na imprensa açoreana -
Estrela de Alva de Angra do Heroísmo, Açoreano Oriental, Diário dos Açores, Correio
dos Açores.
O Dr. Raposo Marques pautou essencialmente a sua vida por uma entrega
desinteressada à causa artística universitária, militando por ela, sofrendo por ela e
morrendo nela.
A 4 de Setembro de 1966 faleceu subitamente, em consequência de um ataque
cardíaco, no Aeroporto de Santa Maria, nos Açores, enquanto aguardava embarque
para Lisboa, depois de concluída mais uma digressão ao arquipélago, com visitas a
Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta.
Joel Canhão52
Nasceu em Leiria em1927.
No Conservatório Nacional de Lisboa fez os seus estudos musicais como aluno
de Jorge Croner de Vasconcelos (Contraponto e Fuga) e de José Lúcio Mendes, em
cuja classe obteve o diploma do Curso Superior de Piano. Estudos em regime
particular com o pianista Botelho Leitão e a frequência dos Cursos de Interpretação
dirigidos por Winfried Wolf, enriqueceram a sua formação artística.
52- Dados recolhidos em notas de programas, complementarizados e confirmados pessoalmente pelo Prof. Joel Canhão.
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Paralelamente, concluiu o Estágio de Professores de Canto Coral no Liceu
Pedro Nunes, sob orientação de Luís de Freitas Branco e de Frederico de Freitas.
Bolseiro do Instituto para a Alta Cultura e da Fundação Calouste Gulbenkien,
estudou Direcção Coral com Pierre Kaelin e Educação Musical com Edgar Willems,
na Suíça.
Estudou Canto com Arminda Correia e Giovanni Voyer.
Trabalhou ainda Piano e Harmonia com Fernando Lopes Graça.
Como bolseiro da Universidade de Coimbra, frequentou os Cursos
Internacionais da Costa do Sol, nas classes de Lied, Ópera e Acompanhamento, de
Paul Schillawsky e de Técnica Vocal, de Lisie Egger.
De 1970 a 1974, de novo bolseiro da mesma Universidade e da Fundação
Calouste Gulbenkien, aperfeiçoou-se em Órgão com Sibertin-Blanc, passando desde
então a desempenhar as funções de organista titular da Universidade de Coimbra.
Professor de Canto Coral em vários liceus é, actualmente, docente no
Conservatório de Música de Coimbra, depois de ter desempenhado já os cargos de
docente na Escola do Magistério Infantil de Coimbra, Escola Superior de Educação de
Coimbra e na Universidade de Aveiro. A sua actividade tem decorrido no âmbito da
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renovação das metodologias do ensino da Música e na direcção de coros de
amadores.
Foi maestro e director artístico do Orfeão Scalabitano, Grupo Coral Alfredo Keil,
Orfeon Académico de Coimbra e dirige presentemente o Coro dos Antigos
Orfeonistas do Orfeon Académico de Coimbra. Enquanto maestro destes dois últimos
coros apresentou-se em numerosos concertos no estrangeiro, tendo percorrido alguns
centros na Europa, na Africa, na Ásia e na América, visitando locais como a:
França,Brasil, Japão, África do Sul, Macau, Hong-Kong, Angola, Moçambique, e
outros.
No campo da investigação musicológica, tem o nome ligado à descoberta de
um fragmento do Antifonário do Ofício (provavelmente do séc. XII).
Como publicista deu à estampa vários livros de Educação Musical,
harmonizações de cantos populares portugueses, literatura musical para as crianças,
conferências e discos.
Sob o pseudónimo de Mouro Serpa publicou três livros de poesia, figurando na
antologia do Prémio Almeida Garret do Ateneu Comercial do Porto, organizada por J.
Gaspar Simões, Vitorino Nemésio e Paulo Quintela.
Gravou dois discos LP, o primeiro com o O.A.C., em 1972 e o segundo com os
Antigos Orfeonistas, em 1985.
É Vice-Presidente da Associação Portuguesa dos Amigos do Órgão e sobre
matéria organística tem publicado artigos vários em publicações estrangeiras como
Tesoro Musical Sacro (Espanha), e Organa Europae (França).
Foi galardoado em 1987, pelo Presidente da República, com o grau de Oficial
da Ordem do Infante D. Henrique.
Cândido Lima 53
53- Dados biográficos cedidos pelo próprio, através de notas de programas, complementarizados por diálogo posterior.
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Nasceu na região de Viana do Castelo, e iniciou os estudos gerais e musicais
em Braga. Em 1963 entrou para o Conservatório desta cidade e, um ano depois, era
admitido no Conservatório Nacional de Lisboa. Nestas duas Escolas obteve
respectivamente os diplomas dos Cursos Superiores de Piano e de Composição.
Realizou estudos superiores em Filosofia na Faculdade de Filosofia de Braga,
entre 1968 e 1973.
Doutorou-se em Estética pela Universidade de Paris II/Sorbonne, com uma tese
orientada pelo compositor Iannis Xenakis.
Frequentou cursos internacionais em Portugal, Espanha, Holanda, Alemanha e
França. Seguiu estágios de informática musical nas Universidades de Vincennes,
Paris I-II/Sorbonne (1975-78), no CEMANU (1978) e no IRCAM (1981).
Estudou Direcção de Orquestra com Gilbert Amy e Michel Tabachnik (1977/78)
e foi bolseiro, durante vários anos, da Fundação Gulbenkian, da Secretaria de Estado
da Cultura, além de outras organizações internacionais.
Escreveu obras para orquestra, câmara, canto, coro, teatro, electrónica,
electroacústica e por computador, algumas das quais apresentadas em países dos
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vários continentes. Escreveu ainda numerosos ensaios e tem realizado conferências e
seminários dentro e fora do país.
Dirigiu o Orfeon Académico entre 1973 e 1975.
Colaborador da rádio e da televisão desde 1963, como pianista, compositor,
autor e apresentador, criou para a RTP, de 1979 a 1986, três séries de programas:
''Sons e Mitos'', ''Fronteiras da Música'', ''No ventre da Música'' e ''Evocações''.
Nomeado em 1978 professor de Composição do Conservatório Nacional de
Lisboa, leccionou de 1968 a 1970 e de novo a partir de 1986 no Conservatório de
Música do Porto e noutros Conservatórios do norte do país.
É actualmente professor de Composição na Escola Superior de Música do
Porto e membro do Conselho Científico (Departamento de Música) da Universidade
de Aveiro.
Manuel Carlos Brito54
Nasceu no Porto a 26 de Abril de 1945.
Revelou desde sempre uma acentuada predisposição e interesse pelas coisas
da música, evidente já quando aluno de Macário Santiago Kastner, Maria Teresa
Macedo e Jorge Croner de Vasconcelos, com os quais estudou História da Música,
Piano e Composição.
No Conservatório Nacional terminou o Curso Geral de Composição, Acústica e
História da Música.
54- Notas biográficas de acordo com Curriculum Vitae cedido pelo próprio.
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Em 1961, frequentou os cursos de música gregoriana de Fátima; em 1968, os
cursos de direcção de orquestra do Mozarteum de Salzburgo, orientados por Bruno
Maderna e Herbert von Karajan; e em 1970, o curso de aperfeiçoamento para
professores de Canto Coral, promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Licenciou-se em 1972 em Filologia Germânica na Universidade Clássica de
Lisboa.
De 1976 a 1979 foi bolseiro do British Council e do Instituto Nacional de
Investigação Científica no King's College da Universidade de Londres, onde estudou
com Brian Trowell ( Deão da Faculdade de Música e actual presidente da Royal
Musical Association da Grã-Bretanha), Stanley Boorman ( actual catedrático de música
antiga da Universidade de Nova Iorque), Pierluigi Petrobelli ( actual catedrático de
História da Música da Universidade ''La Sapienza'' de Roma ), e Reinhard Strohm
(actual catedrático de História da Música da Universidade de Yale), orientador da sua
tese de doutoramento.
Em 1977 foi-lhe conferido o grau de Master of Music com base numa tese
intitulada "Villancicos in a Portuguese Monastery - A Study and Parcial Transcription of
Coimbra MM 228, 238 and 240". Em 1986 obteve, na mesma Universidade, o grau de
Doctor of Philosophy, em razão da apresentação de uma tese sobre "Opera in
Portugal in the Eighteenth Century, 1708-1793".
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Após o seu regresso a Portugal, dirigiu o Coro da Basílica da Estrela, da
Juventude Musical Portuguesa e, por fim, o Orfeon Académico de Coimbra, em 1975.
Foi professor de História da Música no Conservatório de Música do Porto
(1979-1982) e no Conservatório Nacional de Lisboa (1982-1986).
Desde Janeiro de 1987 é Professor Adjunto de Estética Musical na Escola
Superior de Música de Lisboa e, desde Novembro do mesmo ano, Assistente
convidado no Departamento de Ciências Musicais da Universidade Nova de Lisboa.
A sua obra escrita está repartida por livros, comunicações, conferências,
edições musicais, obras colectivas, catálogos de exposições, textos de programas
musicais e prefácios.
Artur Carneiro
Artur Carneiro nasceu em 1951 e desde muito cedo começou a estudar música
e piano.
Aos cinco anos fez a sua primeira apresentação pública em audição no
Conservatório Nacional de Música, na classe do professor Campos Coelho.
Aos 15 anos inicia uma nova etapa da sua vida, quando teve as suas primeiras
lições de direcção coral com Michel Corboz, professor do Conservatório de Genebra e
director titular do Coro Gulbenkian.
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Com dezanove anos ingressa no naipe dos Baixos do Coro Gulbenkian, e nele
tem continuado, até hoje, a colaborar.
Paralelamente inicia os seus estudos em Arquitectura na Escola Superior de
Belas Artes de Lisboa, curso que interrompe por causa da sua vocação musical, e que
só muito mais tarde virá a concluir.
Em 1976 é convidado a reger o Orfeon Académico de Coimbra, cargo que
desempenha até Julho de 1982. Regressa então a Lisboa afim de concluir o curso
interrompido e passa também a dirigir um novo agrupamento musical em Torres
Vedras.
Em 1978 diploma-se em Polifonia Espanhola, em Santiago de Compostela.
Estudou Canto sob a orientação de diversos professores, nomeadamente
Juliette Bise e Peter Sefcik e foi convidado a executar, como solista, peças
contemporâneas de compositores como Xenakis, Emanuel Nunes, Jorge Peixinho,
Panderesky, etc.
No âmbito da direcção coral, trabalhou ainda com Hans Hennig, da Academia
de Hanover, Vassil Arnaudof, da Academia de Música Estatal de Sófia, e Guenther
Theuring, da Academia de Música de Viena.
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Em Coimbra foi também responsável pela direcção artística da Tuna
Académica e do Coro Misto da Universidade.
Enquanto maestro do O.A.C., fez digressões à Polónia e à Áustria no ano de
1980 e, neste mesmo ano, assumiu a direcção artística do Iº Encontro Nacional de
Coros Amadores, regendo, no espectáculo final, um coro com cerca de 2500 vozes.
Virgílio Caseiro
Virgílio Caseiro nasceu em Ansião em 1948 e aqui fez os primeiros estudos
liceais.
Concluiu-os de seguida em Coimbra, e aqui entrou na Universidade,
frequentando o curso de Engenharia Mecânica. Em simultâneo, inscreveu-se no Orfeon
e nele actuou como 1º Tenor. Também se inscreveu no G.E.F.A.C. (Grupo de
Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra), logo no ano da sua fundação.
Concluído o serviço militar, optou definitivamente pela carreira musical. Nesse
sentido, terminou em 1978 o Curso Superior de Canto, no Conservatório Regional de
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Música de Coimbra e obteve, em 1988, o grau de licenciatura em Ciências Musicais
na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Tem dado o seu contributo vocal a vários coros para além do O.A.C.,
nomeadamente ao Coral das Letras da Universidade do Porto, ao Grupo de Música
Vocal Contemporânea do Porto e ao Choral Pholifonico de Coimbra, do qual foi
também preparador vocal.
Como maestro, criou e dirigiu desde a sua fundação o Coro de Professores de
Coimbra, coro que abandonou em 1982 para assumir a direcção do Orfeon, que
continua a reger.
Ainda como maestro, criou e dirigiu a Orquestra de Câmara de Coimbra e o
Grupo de Música medieval e renascentista, ''Ars Musicae''.
Actualmente é Professor Adjunto Equiparado da Escola Superior de Educação,
e aqui coordena o Departamento de Educação Musical.
Tem vários artigos publicados em jornais e revistas, é colaborador do Jornal de
Coimbra e das Rádio T.S.F. e 90 FM, onde detém um programa semanal denominado
''Diálogos sobre Música''.
Paralelamente a estas funções, tem vindo a realizar, como maestro, concertos
em Espanha, França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Suíça, Áustria e Itália.
Em todos estes países e, para além deles, nos Estados Unidos da América e
em Angola, tem dado também concertos como cantor solista.
REPORTÓRIO
Levantamento dos diferentes tipos de reportório realizados pelo O.A.C. ao
longo da sua existência e distribuídos por blocos, em função dos seus diferentes
períodos de existência e diferentes direcções artísticas.
Período da formação -João Arroio - 1880 a 1882
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Noel .............................................................Adam
Coro dos Caçadores.....................................Weber
Marcha da Tannhauser.................................Wagner
Morena..(letra de Guerra Junqueiro). Canto da Federação
Académica
(letra de João de Deus). Flores
sobre um Túmulo
(letra de Guilherme Braga)...................João Arroio
Rataplã. (Huguenotes)...................................Meyerbeer
Hino Académico..............................................José Medeiros
Avé Maria
Coro Nupcial da ópera Bianca de
Mauleon...............................José Arroio
Canção da Lousã
Toma Limão Verde
Ó Ana, só tu és Ana.........................................Har. João Arroio
Período do Centenário da Sebenta - 1899 a 1900
Hino da Sebenta.............................................Luis Stockler
Rapsódia.........................................................Autor não
identificado
Serrana...........................................................A. Keil
Algumas outras canções (não identificadas), possivelmente com carácter de
circunstância, se atendermos ao fim a que
se propunha a reorganização orfeónica.
92
92
Período de António Joyce - 1908 a 1912 -
Canções da nossa Terra.................................António Joyce
Canções Portuguesas.....................................A. Joyce-I. Aranha
Serrana............................................................A. Keil
Coral................................................................J. S. Bach
Fuga (da Danação de Fausto).........................Berlioz
Sérenade.........................................................Borodine
Hyne an Die Nacht...........................................Beethoven
Ich Schwing Mein Horn...................................Brahms
Le Chant de Suomi..........................................F. Pacius
Ich Legte Mich am Abend
Iung Ole
Marienlied......................................................Grieg
Notre Père......................................................H. Marechal
Canto Académico
Morena...........................................................João Arroio
Negra Sombra (melodia galega)....................J. Montes
Villanelle........................................................Massenet
Iagdlied.........................................................Mendelssohn
Rataplan (Huguenotes).................................Meyerbeer
Adoramus
In Coena Domini............................................Palestrina
Barcarola
Canções Transmontanas...............................P. Ribeiro
Saltarelle
Les Titans......................................................Saint-Saens
93
93
Die Nacht.......................................................Schubert
Minnesanger.................................................Schumann
Apoteóse de Hans Sachs
(da ópera Mestres Cantores)
Coena Degli Apostoli
Lied der Matrosen
Coro dos Anjos..............................................Wagner
Coro dos Caçadores (Freischutz).................Weber
Aubade..........................................................Wekerlin
Chanson des Forçats
Le Chant du Fer.............................................X. Jeroux
Período de Elias de Aguiar - 1914 a 1935
Amen (Danação de Fausto)..........................Berlioz
Hino à Noite..................................................Beethoven
Coro dos Soldados........................................Meyerbeer
Canções Transmontanas..............................Pinto Ribeiro
Rapsódia Portuguesa...................................Elias de Aguiar
Coral.............................................................J. S. Bach
2 Últimas Rapsódias Portuguesas
Cantares da nossa Terra..............................António Joyce
Titans............................................................Saint-Saens
Coro dos Peregrinos (Tannhauser)..............Wagner
Choeur des Gardes.......................................O. Thomaz
Limoeiro Verde
Rapsódia Açoreana nº1
Rapsódia Açoreana nº2..............................Raposo Marques
94
94
Chant du Fer................................................X. Lerroux
Adoramus....................................................Ruffus
Tenberas
Inparasceve................................................Palestrina
O Vos Omnes................................................Victoria
Hino Nacional
Serrana........................................................A. Keil
Malhão (Beira Baixa)...................................s/autor
L'Enclume....................................................Gounoud
Período de Raposo Marques - 1936 a 1966
O Vosso Galo Comadre.................................Cancioneiro Galego
My Lord, What a Mornin´´............................Espiritual Negro
Preghiera
Adágio...........................................................Beethoven
À Oliveira da Serra........................................Sampayo Ribeiro
O Vos Omnes
Rapsódia Açoreana nº 2 e 3
Amores, Amores
Senhora do Livramento
Limoeiro Verde
Cântico das Fontes
Rapsódia Brasileira
Sonhando
Vira
Serenata Açoreana.......................................Raposo Marques
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Les Martyrs aux Arênes...............................Laurent de Rillé
Rapsódia Portuguesa nº1.............................Elias de Aguiar
Canto Trinfal (fragmento)............................Denefve
Choeur des Gardes-Chasse..........................Ambroise Thomas Aquela
Moça (arranjo).................................L. F. Branco
Coro dos Caçadores (Guarani)......................Carlos Gomes
Coro dos Conjurados....................................Meyerbeer
Canções Portuguesas...................................António Joyce
Hino à Noite..................................................E. Rousselle
L'Enclume
Les Martyres
Coro dos Soldados (Fausto)..........................Gounod
La Nuit...........................................................Rameau
Aleluia (Messias)...........................................Haendel
Melodia de Amor...........................................Rui Coelho
Coro de Introdução ao Hernâni....................Verdi
Rapsódia Transmontana................................Pinto Ribeiro
Gaudeamus Igitur..........................................Hino Académico
Serenade........................................................Schubert-Marques
Amen (Danação de Fausto)............................Berlioz
Marcha (Tannhauser)
Coro dos Peregrinos (Tannhauser)................Wagner
In Parasceve..................................................D. Pedro de Cristo
Ave Maria.......................................................Arcadelt
Paloma del Palomar.......................................Rafael Benedito
Coral (Paixão Segundo S. Mateus).................Bach
96
96
Período de Joel Canhão - 1966 a 1973
In Monte Oliveti.............................................Francisco Martins
O Vos Omnes...................................................Raposo Marques
Trai-trai
Se Eu Quisera Amores
A Roupa do Marinheiro...................................Manuel Faria
O Memoriale Mortis Domini
Ó Rio que Levas Água.....................................M. Sousa Santos
Ó Maria do Cabo da Eira e
Ó Loureiro.......................................................Virgílio Pereira
Nun Danket Alle Gott
Wo Gott der Herr Nicht bei uns Halt..............Bach
Malos Male Perdet.........................................Diogo Dias Melgaz
Alleluia
Go Down (espiritual)......................................Pierre Kaelin
Colchiques......................................................Cockenpot/Kaelin
La Belle si nous Etions..................................Poulenc
Olha a Andorinha
Valverde, Valverde........................................Lopes Graça
Amen (Danação de Fausto)...........................Berlioz
Romântica.....................................................M. Sousa Santos
Líricas Espirituais de Gil Vicente..................Lopes Graça
Ka Ra Ta Chi No Hana....................................Yamada-Hayashi
De Onde Vens, Maria Rita
Digo-Dai
Canção do Vinho
Os Doze Ladrões
97
97
O Coletinho...................................................Joel Canhão
Tristis Est.....................................................Martini
Se do Mal que me Quereis
Porque me não vês Joana
Romerico tu que vienes
A La Villa Voy..............................................Cancioneiro de Elvas It's a me, ó
Lord (espiritual).......................Walter Goodell
Kum Ba Yah (espiritual)..............................Heinz Cammin
Natal............................................................Sampayo Ribeiro Noel des
Hoteliers.......................................Cesar Geoffray
Tenebrae Factae Sunt JudasMercatorPessimus............................D.Pedro de
Cristo
S. João Baptista
Mirandum...................................................Manuel Luis
Sete Anos Andei na Guerra.........................Artur Santos
Período de Cândido Lima - 1973 a 1975
Jesus Meine Zuversicht............................Johann Cruger
Tenebrae Factae Sunt................................D. Pedro de Cristo Regina
Coeli...............................................G. Aichinger
Missa Medieval (Kyrie e Sanctus)............Candido Lima
Au Joli Bois................................................Sermisy
Porque me não vês Joana
Se do Mal que me Quereis
A la Villa Voy..............................................Cancioneiro de Elvas
Ce Moi de May...........................................Jannequin
Silfos ou Gnomos
98
98
Canção da Mãe
Marujinha..................................................Cândido Lima
Período de Manuel Carlos Brito - 1975 a 1976
Ainda não foi encontrada nenhuma referência sobre
reportório.
Período de Artur Carneiro - 1976 a 1982
Secaronme los Pesares...........................P. de Escobar
Dinos Madre del Donsel..........................Triana
Si Abra en este Baldrés
Que es de Ti Desconsolado
Triste España sin Ventura
Fata la Parte...........................................J. del Encina
Alla se Ponga el Sol.................................Ponce
Vous Perdez Temps
Tant que Vivrai........................................C. de Sermisy
Canções Heróicas e
Acordai
Este Nosso Amo de Hoje
O milho da nossa Terra
Canta Camarada Canta
Senhora d'Aires
Canção do Camponês
S. João
99
99
O Ladrão do Negro Melro
Santo Antão
São Horas de Emalar as Trouxas
Ó Meu Amorzinho...................................Lopes Graça
Alta Trinita Beata
Juízio Fuerte
Surrexit de Túmulo
Calabaça
Otro tal Misacantano
Tourdion
Wade in the Water (espiritual)
Por la Puente Joana
Ay Linda Amiga.......................................Anónimo
La Tricotea..............................................Alonso
Va Pensiero (Nabucco)...........................Verdi
Les Ramoneurs.......................................M. Gentilhomme
Señora Aunque no os Miro
Romericotu que Vienes
Venid a Sospirar.....................................Cancioneiro de Elvas
In Monti Oliveti......................................Francisco Martins
Cum Facis Eleimosynam.........................Diogo Dias Melgaz
Canticorum Jubilo..................................Haendel
Heillig ist der Herr..................................Schubert
Gaudeamus Igitur...................................K. Mroszczyk
Ich Pahr Dahin........................................Brahms
Endechas a Bárbara Escrava..................Zeca Afonso
Dindirindin..............................................Anónimo
El Grillo...................................................Josquin des Préz
100
100
Belle qui tiens ma Vie............................T. Arbeau
Os Olhos da Marianita
Vira do Minho.........................................J. Chailley
Trai-Trai..................................................Manuel Faria
La,La,La, je ne l'ose dire........................P. Certon
Choral e
Wie Schon Leuchtet der Morgarstern...J. S. Bach
Luisinha..................................................Sampayo Ribeiro
Período de Virgílio Caseiro - 1982 até ao Presente
Gaudeamus Igitur..................................Anónimo
Ay mi Dios
Miserere Mei
Regina Coeli...........................................D. Pedro de Cristo
Cum Facis Elemosinam..........................Diogo Dias Melgáz
In Monti Olivetti....................................Francisco Martins
A la Villa Voy
Se do Mal que me Quereis
Porque me não vês Joana.....................Cancioneiro de Elvas
La Tricotea.............................................Alonso
Contraponto Bestialle alla Mente.........A. Banchieri
Tant que Vivray......................................C. Sermisy
Heilig.......................................................Schubert
Deep River (espiritual)
Sã qui turo zente pleta
E l'Allegria
Ay Linda Amiga
101
101
Ev'ry Time (espiritual)............................Anónimo
Canticorum Jubilo..................................Haendel
Triste Espanha sin Ventura
Si Abrá.....................................................J. del Encina
Olá, che Bon Eco......................................O. di Lassus
Coro dos Cativos
Senhora Lua
Pezinho...................................................M.Sousa Santos
Trai-Trai
A Roupa do Marinheiro...........................Manuel Faria
Marujinha...............................................Cândido Lima
De Conimbrica (dedicada ao O.A.C.-1991)
Acordai
Oração de Santo António
Mirandum
Encomendação das Almas
Senhora do Amparo
Ser Feliz ou Desgraçado
Não Segueis o Trigo Verde
S. João Alentejano
A Senhora d'Aires....................................Lopes Graça
O Inverno no Algarve..............................Anatólio Falé
Natal de Elvas.........................................Sampayo Ribeiro
Senhora do Livramento
Saias........................................................Virgílio Caseiro
O Coletinho
Digo-Dai...................................................Joel Canhão
Lauda Jerusalem Dominum.....................Estêvão de Brito
102
102
Ya Vienne la Vieja...................................R. Shaw e Parker
El Jubilate................................................Mateo Flecha
Sete Anos.................................................Artur Santos
Cruxifixus................................................A. Lotti
Pater Mi...................................................J. A. Oliveira
Gente Humilde.........................................Jônatas Manzolli
Extracto do 4º and. da 9ª sinfonia.........Beethoven
Yesterday................................................Adelino Martins
Eito Fora..................................................Popular Português
Tristis est Anima Mea.............................Fernando Eldoro
Olhos Azuis..............................................J. Chailley
Não Chores por me deixares..................José Firmino
Herr Jesu Gnadensonne
Nun Danket Alle Gott
Wenn Ich Einmal Soll Scheiden
Unsre Saat
Wie Schon Leuchtet der Morgenstern...J. S. Bach
Amen (Danação de Fausto)....................Berlioz
Summertime...........................................Gershwin
Der Gutzgauch........................................Lorenz Lemlin
Gloria......................................................Vivaldi
Canto di Cori
Missa Brevis k. 259................................Mozart
Missa Beata Virgine Maria.....................Filipe de Magalhães El
Grillo....................................................Josquin des Prèz
Algumas considerações sobre o reportório
103
103
Tendo em linha de conta o número de obras por maestro e o número de anos
de permanência de cada um deles no Organismo, verifica-se que há tendência para
uma média de 6 a 8 obras montadas por ano. Os períodos de produção mais baixa,
fazem, contudo, cair esta tendência sob o ponto de vista estatístico.
0 10 20 30 40 50 60 70
ArroioStockler
JoyceAguiar
MarquesCanhão
LimaBrito
CarneiroCaseiro
REPORTÓRIO
Nº DE OBRAS
104
104
0 5 10 15 20 25 30
ArroioStockler
JoyceAguiar
MarquesCanhão
LimaBrito
CarneiroCaseiro
Anos de Actividade
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
ArroioStockler
JoyceAguiar
MarquesCanhão
LimaBrito
CarneiroCaseiro
Obras/Ano
Se atendermos globalmente ao tempo total de funcionamento do Orfeon - 83
anos reais de actividade - teremos cerca de 3 a 4 obras novas por ano. Mas este
número não tem significado real, já que ele obscurece, por diluição, as épocas de
maior incremento artístico e cultural em favor daquelas em que se sentiu um nítido
atavismo produtivo.
105
105
Por seu lado a enunciação das obras é importante já que da análise destas se
poderão deduzir dados sobre o seu grau de dificuldade, as principais preocupações
artísticas dos vários períodos, e até concluir sobre o papel educativo do Organismo ao
longo dos tempos.
Assim, não deixa de ser representativo o facto de ainda em pleno séc. XIX
aparecer um grupo coral que de imediato se propõe realizar música contemporânea e
dar uma importância relativamente grande a românticos alemães como Wagner,
Weber e Meyerbeer. Obviamente, poder-se-á concluir que ao grupo e ao seu regente
assistia uma forte sensibilização à modernidade, complementarizada pelo contributo
de poetas da mesma época como João de Deus e Guerra Junqueiro.
Chegado o tempo de António Joyce, esta preocupação dinâmica de mensagem
musical nova não esmorece, revelando a tendência actualizante de quem continuava a
presidir aos destinos artísticos do Orfeon. Agora, neste princípio de século, o O. A. C.
dava a conhecer ao público académico, e ao da cidade, reportório (algum dele inédito)
de um grande número de compositores românticos - Berlioz, Brahms, Grieg,
Massenet, etc. - e continuava a ponderar como importante a inclusão de Wagner
(quatro obras).
Com Elias de Aguiar e Raposo Marques, esta tendência mantem-se e o
reportório passa a incluir também algumas obras determinadas pela necessidade e
exigência dos espectáculos e digressões realizados. A música portuguesa
harmonizada ganha dimensão e aumenta em número.
Com Joel Canhão, atinge-se um período de maturação orfeónica e verifica-se
uma tendência para o abandono prioritário dos grandes ''clássicos'' europeus. A
atenção centraliza-se agora nos compositores nacionais. Esta tendência, embora já
presente em Raposo Marques, acentua-se com Joel Canhão. A abertura é agora mais
ampla e o leque de compositores nacionais representados alarga-se.
Depois das passagens meteóricas de Cândido Lima e Carlos Brito, não tendo
qualquer deles residido tempo suficiente para imprimir ao organismo um cunho
106
106
artístico pessoal, é, com Artur Carneiro, verdadeiramente o primeiro regente orfeónico
pós 25 de Abril de 74, que se nota uma tendência para a divulgação do reportório
renascentista, num Orfeon que, fruto das circunstâncias, se encontrava agora
constituido como coro misto, depois de ter existido durante décadas exclusivamente
como coro masculino. Esta alteração das características constituintes do Orfeon é
determinante para a procura de novos reportórios.
Saído que foi Artur Carneiro, entrou no Organismo Virgílio Caseiro, que tem
vindo a assegurar a direcção artística até à actualidade. O reportório ganhou agora
uma dimensão ecléctica, histórica e pedagógica. Tem como objectivo dar uma
panorâmica das várias correntes musicais e actuar como elemento de entrosamento
lúdico-didáctico, sempre condicionado por uma intenção de carácter formativo e de
abertura ao progresso. Começou a notar-se uma certa preocupação com obras de
maior dimensão e folgo técnico mais arrojado.
Pode assim concluir-se que, o Orfeon Académico de Coimbra sempre teve em
vista um objectivo de intervenção cultural na cidade e na população académica a quem
serve, não descurando nunca a sua valência artística, representativa da Universidade
em que está inserido em simultâneo com uma intenção de militância artístico-
pedagógica junto dos académicos. Actua portanto como elemento de transformação e
melhoramento do gosto musical e refinamento estético e estilístico destes.
Os anos têm vindo a demonstrar ser substancial a diferença de opinião e sua
fundamentação artística entre um orfeonista recentemente admitido ( geralmente
atraído por obras de impacto, ainda que de gosto duvidoso) e um outro já experiente,
com vários anos de prática coral muito mais sensibilizado, portanto, para a
especificidade desta música coral (polifonia, contraponto, harmonia) e para o
entendimento e a absorção das suas subtilezas. As dissonâncias e as soluções
harmónicas mais complexas começam a encantá-lo.
107
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O Orfeon como centro actual de projecção e formação artística
no meio académico e na cidade
O Orfeon Académico de Coimbra não pode deixar de considerar os seus 111
anos de história, como um somatório de dedicação contínua e transmitida de geração
em geração, anos manifestados por factos e atitudes beneficentes, aliados sempre à
expressão de uma mensagem musical e educativa, construida, é certo, dentro das
suas paredes físicas, mas projectando-se a todo o meio académico e não-académico,
ou seja, ''futrica''55.
Ao falar de Coimbra e da sua Academia, três ou quatro entidades, para além
da própria Associação Académica, emergem como pontos fortes de união: o Futebol,
os Fados, a Queima das Fitas e também o Orfeon Académico.
Ponto de encontro associativo inegável, este foi, ao longo dos tempos, tribuna
de defesa da causa estudantil e um dos elementos responsáveis pela sua
congregação.56
Por ele passaram centenas de estudantes que mais tarde foram e são
responsáveis por altos cargos políticos, culturais, artísticos, religiosos e
governamentais no país.
Justifica-se, por isso, este olhar retrospectivo que, partindo da sua história, da
sua actividade e do seu reportório, pretende avaliar o contributo efectivo que o
organismo deu à população académica, à cidade e mesmo até ao país.
Como base de apoio, elaboraram-se dois sucintos inquéritos dirigidos a
cidadãos antigos orfeonistas e a cidadãos não orfeonistas, com o objectivo de
55- Na gíria académica de Coimbra todo o indivíduo que não é estudante ou académico é adjectivado de "futrica". 56- A crise de 1969 foi caso único dentro do organismo. O posicionamento, posterior à crise, pró-governamental, não pode deixar de ser entendido como pontual e sem antecedentes, fruto de um contexto de manipulação mais vasto e envolvendo outros organismos. Tal posição foi contrária aos interesses militantes da academia e o próprio Orfeon, na sequência do 25 de Abril de 1974, sofreu o preço de do seu posicionamento, com o desmembramento das suas fileiras e a posterior transformação em coro misto, que se manteve até à actualidade. De referir, contudo, que quer na crise académica de 1907, quer na de 1961/62, o Orfeon sempre esteve ao lado das massas estudantis, lutando pela legitimidade dos seus direitos.
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recolher, tão somente, as respectivas opiniões em relação ao Orfeon Académico de
Coimbra ou ao seu conhecimento. Esses inquéritos incluiram propositadamente a
identificação dos inquiridos, já que a temática não é polémica, e da identificação
podem advir vantagens para um posterior diálogo e análise.
Actividade Musical
Ao ter sido e continuar a ser, de facto, um coro universitário, o Orfeon dá à
música, e dentro desta à música coral, o principal enfoque de actividade, partindo dela
e a ela chegando como razão de ser das suas organizações, concertos e demais
manifestações.
Para a análise da função social e formativa do organismo, três pontos deverão
ser tomados em linha de conta na definição dos vectores de valor. São eles
concretamente: a importância do reportório, o trabalho desenvolvido pela Direcção e a
lucidez artística do regente. Mas, será ainda indispensável não esquecer que a função
actual, artística e cultural deste organismo radica no legado histórico deixado pelas
anteriores gerações, pois que estas, ao condicionarem por tradição o organismo, lhe
dão continuidade, coerência e vínculo personalizante. Este espírito, aliás, é por demais
importante nesta cidade de Coimbra, e disso todos têm a necessária consciência.
É por força deste factor, que se entendeu tentar encontrar primeiro, no passado,
as principais linhas de actuação, para depois elas se relacionarem com o presente e
se inferir então da continuidade ou não dos seus rumos.
Musicalmente, parece indiscutível o carácter positivo da acção exercida pelo
Orfeon ao longo dos tempos e do contributo que ele deu à formação das populações a
quem serviu e serve. São prova disso o prestígio de que o organismo goza, o vigor
das descrições feitas por estudantes das várias épocas, e ainda a análise dos tipos
de reportório que têm sido os seus.
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Quanto ao prestígio, são dele prova quer os diplomas de mérito conquistados e
já anteriormente enumerados, quer a frequência com que era chamado a representar a
Universidade no país e no estrangeiro, quer ainda a assiduidade com que era
convidado como principal elemento das mais variadas manifestações académicas, e
não só.
Quanto às descrições feitas por antigos estudantes, em livros de memórias ou
em relatos em orgãos de imprensa, onde ressalta de imediato o seu envolvimento
afectivo com o Orfeon e a maneira como este o promoveu cultural e esteticamente
(ainda que não pertencendo realmente às suas hostes), são também inúmeras as
provas, e todas elas consensualmente abonatórias57.
Por último, será o reportório o mais transparente juiz do mérito artístico do
Orfeon e do papel que, através daquele, este poderá ter tido. Cabe por isso ao
reportório o privilégio duma atenção preferencial, que demonstre ou não a militância
cultural da sua estruturação.
Nesta linha de acção, não pode deixar de se referir, ter sido o Orfeon o primeiro
grupo a executar em Portugal, logo no ano da sua criação, música do contemporâneo
Wagner. E a música deste compositor jamais deixou de fazer parte do reportório
durante vários dos anos seguintes.
Significativo também foi o facto de o Orfeon ter sempre tentado dar a conhecer
reportório musical internacional, mesmo numa altura em que o gosto pela música coral
não era ainda em Portugal um dado adquirido.
Com o evoluir dos anos, a participação de obras compostas ou harmonizadas
pelo própria mão do regente aumentou, e neste campo foi com Raposo Marques que a
situação atingiu a sua maior dimensão.
Na selecção do reportório, notam-se ainda duas tendências determinantes:
uma, até Raposo Marques, que pretende dar a conhecer obras de grande impacto
57- A este nível, podem ser entendidos vários tipos de relato: o romanceado - servindo como exemplo o deixado por Trindade Coelho ou Fernando Correia; o descritivo - o caso de Almeida Santos ou P. Manuel Pardinhas; o analítico - Falcão Machado ou Celso Cruzeiro; o humorístico - Diamantino Calixto ou Afonso de Sousa.
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coral -coros de óperas- com principal preferência por compositores românticos; outra,
a partir de Joel Canhão, em que se dá maior importância à música renascentista -com
realce para os compositores portugueses- durante a qual se esbate a opção pela
ópera em favor de obras de maior recato estilístico.
Actualmente observa-se uma tendência para um reportório ecléctico, ora de
intenção histórica, ora de sentido pedagógico. Em simultâneo, há a preocupação de
se abordarem obras de maior envergadura do que as que a prática tradicional anterior
aconselhava, tentando levar os orfeonistas a um contacto mais intenso e mais
participativo com a música. São exemplos desta tendência obras como o Glória de
Vivaldi, A Missa Brevis K.259 de Mozart ou a Missa Beatae Virgine Mariae de Filipe
de Magalhães.
O facto de no Orfeon, ao longo do tempo, se ter sempre dado abertura à prática
paralela de actividades musicais complementares à coral, e em si mesmas
enriquecedoras, como é o caso da inicial Orquestra Ligeira, do Grupo de Jazz, do
Grupo de Variedades, do Grupo de Música de Câmara, do Grupo de Música Popular e
do Grupo de Fados, permitiu-lhe organizar concertos com um leque de hipóteses, à
altura de dar o tipo de respostas que um determinado público estaria mais interessado
em escutar.
Este facto e esta estratégia teve como resultado que aos concertos dados pelo
Orfeon Académico nunca faltasse público, e nos relatos feitos é constante a indicação
de que as salas estavam completamente cheias. É que, aos concertos, convergiam
dois tipos de espectadores: os que gostavam de música coral, e por isso a iam ouvir,
e os que, não gostando dela ainda, a suportavam e digeriam à espera do que queriam
ouvir a seguir: o humor revisteiro das Variedades, complementarizado pelo eterno
ponto final dos concertos académicos, a Serenata de Coimbra.
De tudo o que acima fica exposto poder-se-á agora partir para uma melhor
compreensão da actual actividade musical do organismo. Esta pretende ser uma
dádiva musical, sempre renovada, no âmbito de toda uma evolução histórica da
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produção musical, tendo particularmente em vista os valores formativos capazes de
congregar e fortalecer os laços que devem enformar o espírito da família orfeónica,
mantendo-o vivo.
Mas não só a população universitária beneficiou ou beneficia da actividade
musical do Orfeon Académico de Coimbra. A própria cidade muito deve ao
organismo, pelo trabalho cultural, que tem vindo a desenvolver. Coimbra não tem,
ainda hoje, uma resposta de projecção musical profissional patrocinada pelas
entidades oficiais responsáveis - Governo e Autarquia - e tudo, ou quase, o que se fez
no passado e se continua a fazer no presente tem passado pela criatividade e acção
dos organismos académicos, e entre estes do Orfeon.
Assim, e exclusivamente circunscrito agora à actualidade, poder-se-á concluir
que ao Orfeon continua a caber uma quota parte importante no papel de divulgador da
música coral, e que é através dele, quer em saraus académicos, quer em concertos
públicos assiduamente dados, quer ainda em organizações de ciclos de espectáculos,
que a cidade tem acesso à audição de obras corais de vários estílos e épocas58.
Acção Educativa
O objectivo de carácter educativo em matéria de música, que o Orfeon tem
vindo a ter sempre em vista ao longo dos tempos, sugeriu a ideia de se apurar, através
de inquéritos, qual a acção que, neste contexto, o Orfeon exerceu também no futuro
comportamento cultural dos antigos orfeonistas. E neste sentido foram enviadas, a
58- Há que fazer aqui referência a outros grupos de música coral , embora muito mais recentes que o Orfeon, que têm contribuído com igual dedicação para a prossecução deste objectivo, como seja o Coro Misto da Universidade de Coimbra e o extinto Coral de Letras da Universidade de Coimbra. Fora da Universidade, mas solidários com a divulgação da Música Coral, é de referir ainda o Choral Poliphonico de Coimbra, o Coro D. Pedro de Cristo e o Coro dos Professores de Coimbra.
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alguns deles, folhas de perguntas que obtiveram respostas mais ou menos
coincidentes.
Verificou-se assim que há todo um conjunto de factores que, então, como hoje,
contribuiu e contribui para a prossecução do objectivo educativo acima referido. São
eles: o aprender a cantar e o cantar, a convivência com vários tipos de música, o
discernir das suas diferentes correntes e estilos, a identificação com um protocolo
artístico de concerto, o contacto com outras cidades e países e, por sobre tudo isto - e
não com menor relevância- a auto disciplina e a consolidação do valor da fraternidade
social. Enfim, todo um conjunto de vectores que contribuem para uma melhor formação
do homem em sociedade.
Para além da sua actuação prática na convivência do coro, o Orfeon tem vindo
a oferecer, aos seus membros, cursos intensivos de técnica vocal e de dicção, que
não poderão deixar de ser proveitosos na sua futura vida profissional.
Por outro lado, o contacto com os diferentes tipos de linguagem musical
constitui um forte contributo para o alargamento da cultura artística de cada um.
Ao "mexerem" na música por dentro e ao executarem-na em conjunto, os
orfeonistas estão na sua maior parte, e ao cabo de poucos anos de permanência nas
fileiras, à altura de destrinçar épocas e estilos e, consequentemente, de adquirir um
gosto musical mais requintado e mais aberto a todo o género de música, mesmo à
mais complexa. A uma preferência inicial pela simplicidade melódica e harmónica, vai
sucedendo, aos poucos, um alargamento de receptividade estética, que vai até à
aceitação do que fora radicalmente regeitado ao princípio: a música contemporânea.
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Capas de actuais orfeonistas
Um outro factor de aprendizagem é indiscutidamente a auto-disciplina. Através
da prática coral e das realizações musicais colectivas, o espírito de responsabilidade
vai-se desenvolvendo e, mais que isso, vai sendo aprendida a maneira de rentabilizar
a disciplina, coordenando os dados que para ela contribuem e conjugando, com ela, o
habitual espírito de irreverência académica. Por último, a identificação de grupo
que o espírito orfeónico traz consigo, determina uma corrente fraterna duma
durabilidade perene, que ressalta logo que se dialoga com qualquer actual ou antigo
orfeonista. A própria prática de ter ''obrigado'' o Orfeon a manter no reportório uma
obra de ligação (desde 5/3/1910 o Amen da ''Danação de Fausto'' de Berlioz e, a
partir de 1974, o ''Acordai'' de Lopes Graça), prática que possibilita às anteriores
gerações poderem cantar com as actuais, muito contribuíu pelo menos nesse caso
pontual, para a manutenção desta união fraterna. Assim, no final de qualquer concerto,
continua a ser possível chamar ao palco todos os antigos orfeonistas e cantar com
todos em conjunto.
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Desde 1984 que o Orfeon tem em reportório, de novo, o ''Amen'', que executa
em conjunto com o ''Acordai'', respondendo deste modo aos desejos tradicionalistas
das gerações antes e após o 25 de Abril de 1974.
Seja permitido centrar agora de novo a atenção nos inquéritos acima
referenciados, para se dar, em síntese, a imagem da totalidade das respostas
recebidas e que confirmam o que acima foi dito. Inquiridos pelo seguinte modelo, que
os responsabiliza na resposta, pela maneira como se encontrava nominado,
Inquérito
1. Identificação
Nome:_____________________________________Idade:_______
Profissão:_________________
Lugar profissional que ocupa:________________________________
2. Como Orfeonista
Foi orfeonista ?________Que naipe? ________ Quantos anos ? _______
Cantou só no coro ?_______ Participou noutras actividades?__________
Quais ?___________________________________________________
________________________________________________________
3. Na vida actual
O Orfeon traz-lhe ainda recordações ?_____ Quais ?________________
________________________________________________________
________________________________________________________
O Orfeon, pelo que lhe deu artística, social e culturalmente, enriqueceu-o,
ou foi em parte responsável pelo homem que é hoje ?_______________
Enriqueça a resposta, referindo em quê, como e com que consequência
________________________________________________________
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________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
________________________________________________________
4. Ocorrências
Costuma assistir a espectáculos ? _____ Qual a Preferência ? _________
________________________________________________________
Quais os programas de televisão preferidos ? ______________________
______________________ 1º ou 2º Canal ? _____________________
Usando os ordinais 1º a 6º indique a sua preferência nos seguintes
espectáculos: Cinemao Teatroo Músicao Bailadoo Desportoo
Variedadeso
5. Caracterize o Orfeon com uma só palavra, se possível de carácter
afectivo:____________
no bloco 3 ''Na vida actual'', entre um universo de setenta e cinco inquiridos, houve a
recolha de 75 respostas afirmativas à pergunta ''O Orfeon, pelo que lhe deu
artística, social e culturalmente, enriqueceu-o, ou foi em parte responsável
pelo homem que é hoje?''.
E enriquecendo a resposta, encontram-se afirmações que elucidam do valor
educativo deixado no tempo:
''No amor pela Arte Musical, satisfazendo as necessidades interiores e
anseios pela música, camaradagem, amizade, etc.''59
59- Jaime de Sousa Sarmento, médico, 61 anos.
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''No aspecto cultural, na música, no viver em grupo, no espírito de
equipa''60
''Teve grande influência no meu gosto pela música e foi a minha
experiência mais marcante da passagem por Coimbra''61
''Por duas vezes em que quase estive para abandonar o curso e os
estudos, foi no Orfeon que consegui ânimo para abandonar a ideia de
desistir''62
''Desenvolvimento cultural, educação musical, convívio, solidariedade
e até o meu casamento, já que participei no Orfeon pós 74''63
As cinco anteriores mostragens de opinião escolheram-se tão somente pela
variedade de situações profissionais e etárias que proporcionam, e são também uma
síntese do conteúdo que em todas as outras respostas se pode encontrar.
Ainda no bloco ''Ocorrências'' é de referir que, ao ser pedida a seriação das
preferências de espectáculos, com concorrentes tão ''sérios'' como o Desporto e o
Cinema, houve um conjunto de 48 elementos que posicionaram a Música em primeiro
lugar, e nenhum dos inquiridos a coloca abaixo da sua terceira preferência.
De facto, o Orfeon foi elemento interventor e modificador na vida de cada um
dos seus membros, deixando-lhe fios de conduta que os acompanham e condicionam
pelo resto dos seus dias.
Ultrapassando agora o âmbito universitário e caíndo na cidade de Coimbra,
verifica-se não ser também aqui para desprezar a acção educativa que o Orfeon nela
tem vindo a exercer.
Não só pela via musical, mas também por meio de todas as outras actividades
de desenvolvimento cultural - conferências, ciclos, concertos, festivais, cursos, acções
60- João Lemos Mexia, engenheiro, 48 anos. 61- José dos Santos Botelho, juiz de Direito, 49 anos 62- Américo Rocha e Silva, professor do ensino secundário, 58 anos. 63- João Pinheiro, médico, 32 anos.
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de formação, debates - pôde a cidade anónima ter acesso a uma forma complementar
e actualizada de cultura.
Por último, o simples facto de ainda hoje, e não obstante a quantidade brutal de
concorrentes culturais, ser reservado ao Orfeon um posicionamento de preferência
dentro dos organismos culturais da cidade, e de a sua presença ser obrigatória
aquando da organização de qualquer manifestação cultural, pelo contributo qualitativo
e beneficente que está disponível para fornecer, é prova do que a cidade dele espera,
e por outro lado o que a mesma cidade dele continua a pretender.
Não pode deixar de ser referido, também, o facto de várias vezes por ano
chegarem à direcção convites para espectáculos, quer no país quer no estrangeiro; e
se é verdade que em relação aos convites nacionais eles decorrem fruto do
conhecimento do organismo e do conhecimento da sua qualidade artística, muitas
vezes, em relação aos convites vindos de países estrangeiros, eles aparecem tão
somente motivados pelo conhecimento da existência do Orfeon, dada por orgãos
oficiais, - o que é prova do seu reconhecimento e valor - ou pelo relato pessoal de
alguns (e muitos são) que transportam, sem esquecimento, para o estrangeiro,
notícias, relatos e bocados de saudade do seu querido Orfeon.
Os Inquéritos
Apesar de o inquérito realizado não ter sido feito como acima se disse, com
qualquer objectivo de carácter estatístico, nem por isso deixa de ter interesse dar aqui,
sob a forma de quadros, a síntese dos dados recolhidos.
As respostas dadas por antigos orfeonistas e por cidadãos não diferenciados -
grupos que se procurou que estivessem dentro de uma mesma zona profissional e
etária - levaram à conclusão de que é diferente o posicionamento destes dois estratos
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sociais, como consequência de vivências diferentes e de diferentes oportunidades de
prática artística.
Entre os inquiridos, não orfeonistas, só 24 tinham pertencido, na sua juventude,
a algum clube, quase sempre desportivo, e só 8 colaboram na actualidade com clubes
ou associações.
Sim Não0
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Assiste regularmente a espectáculos?
Antigos Orfeonistas
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Outros cidadãos
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Antigos Orfeonistas
Outros cidadãos
Televisão-Programas preferidos
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40Antigos Orfeonistas
Outros cidadãos
Primeira preferência em espectáculos
Os resultados aconselham a poder adiantar que, de facto, o ter pertencido ao
Orfeon Académico de Coimbra deixou um resíduo cultural e educativo que predispôs à
aceitação e convivência, mais ou menos assídua, com a arte e muito particularmente
com a música.
Por isso se nota uma resposta globalmente afirmativa à assistência a
espectáculos, caso que não se passa com o outro universo inquirido, bem assim como
uma preferência nítida pelos concertos musicais, tendo como segunda alternativa o
desporto; no caso dos não orfeonistas já a primeira opção é o desporto e a segunda o
cinema.
Nota-se, também, por parte dos antigos orfeonistas, uma maior predisposição
para os programas televisivos de carácter cultural e em termos gerais sente-se a
tendência para o facto de serem espectadores do pequeno ecrãn menos habituais.
Por último e decorrente do gráfico ''Primeira preferência em espectáculos'' a
música lidera indiscutidamente o gosto, coisa que não acontece já com os ''outros
cidadãos''.
Da comparação genérica dos dois grupos inquiridos, conclui-se que neles
estão criados hábitos, práticas e gostos diferenciados. Muitos factores poderão
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contribuir para tal constatação. Contudo, o verificar-se que pelo menos um dado - ser
orfeonistas - pesa num dos grupos e no outro não, pode e deve alertar os
observadores para uma leitura de causa e efeito que responsabilize, pela positiva, o
papel educativo e valor formativo que coube ao Orfeon Académico de Coimbra.
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Conclusões
Ao delinear este trabalho, teve-se particularmente em conta dar uma visão
sistemática das linhas de evolução seguidas pelo Orfeon, ligando épocas e criando a
continuidade histórica que ao organismo não tinha ainda sido dada.
Daqui ressaltou, por certo, o valor do Orfeon como instituição académica, a nível
citadido, e até mesmo à escala nacional, valor reforçado ainda pela acção que tem
vindo a exercer no país e também no estrangeiro, como elemento representativo da
universidade a que pertence. Hoje, e como consequência de 111 anos de actividade
musical, social e cultural, o Orfeon colhe o prestígio que lhe advem de um longo
posicionamento artístico e académico, e é um dos principais interlocutores culturais da
Universidade de Coimbra.
Outro aspecto que necessita ainda de ser estudado, consiste em se saber até
que ponto as modificações operadas após o 25 de Abril de 1974, transformando o
Orfeon Académico em mais um coro misto da Academia, terão sido benéficas para o
seu prestígio e reconhecimento, ou terão sido e continuam a ser um entrave para a
identidade que a sua constituição, inicialmente apenas masculina, lhe imprimiu desde
a fundação. E é lícito perguntar-se se a transformação operada, muito para além de
trair a própria designação histórica de orfeon, não terá diminuido o campo de manobra
e de aceitação do organismo, sempre possível de contestação por parte dos
tradicionalistas, e diluindo-o na massa vasta dos coros mistos que o país já possui.
Ao Orfeon cabem, neste momento, 94 anos de história como coro masculino e
17 como coro misto. Numa altura e numa Universidade em que a população feminina é
superior em número à masculina, e com tendências para assim continuar, poderá este
factor ser determinante para apreciação, no encontro entre as duas diferentes
correntes e consequentes tomadas de posição, já que é favorável ao actual estado de
coisas.
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Outro fenómeno que tem vindo a interferir na vida orfeónica e a tem vindo
também a modificar subrepticiamente é a modificação das cargas curriculares,
alterando a duração dos cursos universitários, muitos deles reduzidos a 4 anos. Por
outro lado, o espírito de competitividade imposto ao sistema, fazendo das
classificações a porta de saída para o mercado de trabalho, faz sentir também o seu
peso. Como consequência destas duas situações a vida associativa tem-se vindo a
modificar, e a rentabilização do tempo é hoje um factor que não pode escapar a
qualquer estudante, impedindo-o, tantas vezes, de dar o seu contributo a actividades
que, embora desejadas, brigam parcelarmente com o aproveitamento escolar.
O Orfeon sente, obviamente, a força deste enquadramento no actual sistema e
a disponibilidade de dádiva dos seus membros tem vindo a diminuir, chegando-se
mesmo ao ponto de, para lugares directivos - postos antigamente pretendidos e
dignificantes, para além de promotores, - ser difícil encontrar pessoas disponíveis. As
Direcções têm vindo a ser preenchidas, quase sempre, por lista única e, em última
instância, já em Outubro, quando os estatutos prevêm as eleições em Junho. Tal
situação cria condições de descontinuidade que impossibilitam, por vezes, a
elaboração de projectos sérios e inconsequencializam linhas de rumo a médio e longo
prazo.
Positiva é, contudo, a mudança que se tem vindo a fazer sentir na qualidade
musical possível de se atingir. Talvez fruto de uma educação musical mais esclarecida
nas escolas do Ciclo Preparatório, ou de um maior interesse e procura de formação
musical para os mais novos, vão chegando à Universidade jovens cada vez mais
disponíveis para a música e capazes de concretizar projectos musicais mais
arrojados.
Prova do real valor educativo do Orfeon Académico de Coimbra e do peso do
seu prestígio a nível histórico, tradicional e estudantil é, sem margem para dúvidas, a
existência do Coro dos Antigos Orfeonistas do Orfeon Académico de Coimbra. Se o
Orfeon não tivesse sido, e não fosse, nunca este grupo teria tido espaço de existência.
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O Coro dos Antigos Orfeonistas é hoje ponto de encontro das mais díspares
gerações orfeónicas, com oscilações de idade que vão dos vinte e poucos anos até
aos oitenta e muitos, e onde os seus elementos, conscientes do que o ''Pai Orfeon''
lhes deu de positivo para a sua formação e vida, ali vão refrescar saudades e matar a
sede que um dia a dia competitivo e profissionalmente delapidador causou.
A concluir, aqui ficam algumas das palavras que mais repetidamente foram
referidas, precisamente por estes antigos orfeonistas, quando, inquiridos sobre a
imagem que deste organismo lhes ficara, a expressaram através de uma só palavra,
sempre do domínio afectivo: SAUDADE, AMIZADE, FRATERNIDADE, FAMÍLIA,
AMOR.
O Coro dos Antigos Orfeonistas, regido pelo Dr. Francisco Faria.
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