Paulo Victorino
CAPÍTULO NOVE
O LEVANTE INTEGRALISTA
ATAQUE AO PALÁCIO GUANABARA
A Intentona Comunista passou a figurar no index das Forças
Armadas, relembrada por décadas a fio e usada como “bicho-
papão” para sugerir a ameaça comunista, latente na vida das
instituições democráticas. Já o Levante Integralista, igualmente
radical, mas em posição simétrica ao comunismo, foi rapidamente
absorvido e esquecido, tanto mais que as ideias propaladas por
Plínio Salgado em muito coincidiam não só com o esquema
montado pelo trio Getúlio-Dutra-Góis para se garantirem no poder,
como representavam, em linhas gerais o pensamento da caserna.
Enquanto que o comunismo era internacional e recebia ordens de
fora, o integralismo era nacionalista e “tupiniquim” e esse enfoque
é que fez toda a diferença.
Putsch é uma palavra da língua alemã, usada para designar golpe de estado.
Foi com esse termo que ficou conhecido o Levante Integralista de 11 de maio de
1938, que tinha como objetivo matar o presidente da República, seus ministros
e auxiliares diretos, implantando no Brasil uma ditadura elitista e corporativista,
à sombra de Deus, mas guardada pela força das armas.
O putsch de 11 de maio não foi o início de uma nova era, mas o epílogo de
um mal-sucedido namoro entre o chefe dos integralistas, Plínio Salgado e o
presidente da República, com falsas juras de uma união que Getúlio Vargas
jamais pretendia realizar.
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Em realidade, o movimento conspiratório que culminou com o ataque ao
Palácio Guanabara não se cingia ao integralismo mas, ao contrário, era uma
frente ampla reunindo várias forças contrárias a Getúlio e que, após o golpe do
Estado Novo, pretendiam vê-lo fora do poder.
Entre os descontentes estavam Otávio Mangabeira, ex-Ministro de
Washington Luís e Euclides Figueiredo, um dos comandantes da Revolução
Constitucionalista de 1932, ambos na prisão.
Insatisfeitos estavam também os candidatos frustrados de uma eleição que
não se realizou. Eram eles Armando de Sales de Oliveira, José Américo de
Almeida e o próprio Plínio Salgado, sem falar no ex-governador gaúcho Flores
da Cunha, que, forçado à renúncia ao governo gaúcho, asilou-se no Uruguai,
esperando uma oportunidade para a refrega.
Adversários eram também o ex-governador de Pernambuco, Carlos de Lima
Cavalcanti, envolvido talvez injustamente no processo da Intentona Comunista
de 1935, e o ex-governador da Bahia, Juraci Magalhães, às turras com o ditador,
assim como o ex-prefeito do Distrito Federal, Pedro Ernesto, também
transformado em réu da Intentona.
Havia, enfim, muita gente que, pelos mais variados motivos, desejava ver
Getúlio longe do governo. Mas, sem sombra de dúvidas, eram os integralistas
que possuíam a estrutura adequada, com uma vasta ramificação dentro das
Forças Armadas e se apresentavam com uma milícia paramilitar supostamente
bem treinada e em condições de realizar o golpe, com pleno sucesso.
Vale, pois, fazer um retrospecto da Ação Integralista Brasileira (AIB), da vida
de seu chefe, Plínio Salgado, e dos acontecimentos que levaram à decisão de
enfrentar o governo constituído, num ato de força em que todas as cartas eram
jogadas de uma só vez.
Quem era Plínio Salgado
Plínio Salgado nasceu em São Bento do Sapucaí, Estado de São Paulo, em
1895 e, dentro da escola modernista, desenvolveu sua carreira de escritor,
publicando, entre outros livros, o romance "O Estrangeiro" e "Literatura e
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Política", este último, um ensaio contra as ideias liberais. Tinha uma concepção
espiritualista conservadora, deixando-se influir pelo pensamento de escritores
como Farias Brito (1862-1917), Jackson de Figueiredo (1891-1928) e Alberto
Torres (1865-1917) e seus livros eram leitura quase que obrigatória nas aulas
colegiais de literatura.
Conforme já tivemos oportunidade de comentar, a partir de 1930 começam a
surgir no Brasil legiões de extrema direita, baseadas no fascismo italiano e no
nazismo, como um fator de polarização ao comunismo, bem-sucedido na
Rússia a partir de 1917 e ameaçando o resto do mundo com seu proselitismo e
ação revolucionária.
É então que Plínio Salgado, conhecido nos meios acadêmicos, mas até
então desconhecido do grande público e ainda novato na política (foi deputado
estadual em 1928, cassado em 1930), começa a organizar seu movimento, tendo
como inspiração, nem Hitler nem Mussolini, mas o ditador português Antônio de
Oliveira Salazar, criador do Estado Novo em Portugal.
Com sua pregação, Plínio consegue reunir em torno de si as correntes mais
conservadoras na política, na religião e nas Forças Armadas.
Em 1931, Plínio Salgado publica o Manifesto da Legião Revolucionária e cria
o jornal A Razão. No ano seguinte, funda a Ação Integralista Brasileira (AIB),
ainda sem grandes adesões. Em sua primeira marcha na cidade de São Paulo,
já no ano de 1933, a AIB não consegue juntar mais que quarenta pessoas, as
quais se achavam já devidamente uniformizadas com a camisa verde, cor que
passou a distinguir a agremiação.
Plínio Salgado era o cérebro e a alma do movimento integralista. Líder
carismático, passou a atrair para si católicos praticantes preocupados com o
desenvolvimento de seitas espúrias, militares saudosos do florianismo e,
sobretudo, estudantes, entusiasmados com as novas ideias, os quais
encontravam, afinal, um elemento de polarização à direita, para combater o
comunismo. Havia espaço no espectro político e o integralismo veio trazer
substância a esse vácuo.
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Encontrando caldo de cultura apropriado, o integralismo se desenvolveu
rápida e espantosamente. Em 1935, ofereceu a Getúlio 100 mil milicianos para
ajudar no combate ao comunismo. No ano seguinte, o movimento integralista já
contava com 600 mil simpatizantes, num Brasil em que a população não chegava
a 40 milhões de almas.
Unindo-se à religião, defendendo ardorosamente o nacionalismo e a
integridade familiar, representados pelo lema Deus, Pátria e Família, estendeu
seus tentáculos por todos setores da atividade brasileira, representando um
poder paralelo que o governo não podia mais ignorar.
Aos que desejavam a moralidade pública, se oferecia a integralidade; aos
militares, o amor incondicional à Pátria; aos religiosos, a presença de Deus em
todos os atos da vida pública; aos empresários, a estabilidade e a garantia à livre
empresa.
O golpe do Estado Novo
Rememoremos como se deu o golpe que implantou o Estado Novo no Brasil,
em 10 de novembro de 1937. Vários meses antes, o jurista Francisco Campos e
o general Góis Monteiro passaram a frequentar com assiduidade o Palácio
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Guanabara, acertando com Getúlio Vargas um novo texto de Constituição para
a implantação de um regime forte, como o eram os regimes de vários países
europeus: Itália, Alemanha, Polônia, Portugal, Espanha e outros.
Para tomar pulso da situação, Vargas entrega ao jovem deputado Negrão de
Lima a missão de percorrer o país e parlamentar com os governadores dos
Estados – menos Bahia e Pernambuco, que lhe eram adversos – sondando-os
sobre a possibilidade de apoio ao golpe palaciano, em troca da garantia de
permanência em seus cargos.
A missão deu bom resultado. Negrão voltou ao Rio no dia 3 de novembro com
apoio maciço dos governadores. Dois dias depois, o Diário Carioca, furando o
sigilo, publicou uma reportagem divulgando a Missão Negrão de Lima, o que
obrigou o governo a um desmentido: Havia, sim, consultas, mas para uma
reforma constitucional, na forma da lei.
Dois meses antes, Plínio Salgado havia sido informado da reforma
constitucional e prometeu seu apoio, em troca de garantias formais de que a
Ação Integralista Brasileira, atuando como partido político, teria posição
destacada no novo governo.
De dentro da AIB surgiu, como se fora de encomenda, o Plano Cohen, um
virtual plano comunista para tomada do poder e, com base nele, o governo
obteve do Congresso autorização para decretar o estado de guerra.
Com o Presidente de mãos estendidas, Plínio julgava encontrar a grande
oportunidade de se tornar um super-ministro, aplicando em efetivo as ideias
difundidas pelo integralismo.
Resultou daí o apoio que emprestou ao governo com a grande demonstração
de 1º de novembro, em frente ao Palácio Guanabara, perante Getúlio e seu staff,
quando 100 mil integralistas, ladeados por duas colunas de fuzileiros navais,
desfilaram, de forma ordeira e disciplinada, como uma bem treinada corporação
militar.
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Esses desfiles continuaram nos dias seguintes pelas ruas do Rio de Janeiro,
com a complacência das autoridades. E note-se que, há um mês, estava em
vigor o estado de guerra, suspendendo, entre outras coisas, o direito de
manifestação. Não valia para os integralistas, é claro.
No dia 8, Armando de Sales Oliveira envia um manifesto aos militares,
alertando para a proximidade de um golpe e concitando-os a defender a ordem.
Em 10 de novembro de 1937, com antecipação de cinco dias, as casas do
Congresso amanhecem cercadas pela polícia. E às 10 horas da manhã é
outorgada a Constituição que implanta no país o novo regime.
A Constituição do Estado
Novo ("Polaca")
A Constituição outorgada por Getúlio Vargas ficou conhecida como Polaca,
por sua inspiração na Constituição da Polônia. Era, todavia, mais que isso, uma
colcha de retalhos, emendando trechos de Constituições totalitárias vigentes em
outros países.
De comum, suprimiam-se as liberdades individuais, colocando o Estado
como poder supremo a dirigir os destinos do povo, com a Nação subjugada a
ele.. A Nação não era mais soberana, mas estava subordinada aos interesses
maiores do Estado.
Não ficou pedra sobre pedra. O novo regime acaba com os partidos políticos,
transformados em sociedades culturais ou beneficentes; fecha a Câmara
Federal, o Senado, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais.
Nomeia interventores nos Estados, subordinados diretamente ao presidente da
República
Os governadores que lhe foram fiéis permanecem nos cargos, agora
renomeados com interventores. O do Rio Grande do Sul já fora obrigado à
renúncia. Foram afastados os de Pernambuco e Bahia.
Cardoso de Melo, em São Paulo, era substituído por Ademar Pereira de
Barros, um jovem e desconhecido político cujo maior feito, até aquele momento,
foi se eleger deputado estadual. Foi o início de uma carreira política bem-
sucedida, cujo alvo supremo, afinal não alcançado, era a presidência da
República.
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Outra medida do Estado Novo recém-criado foi a criação da pena de morte
para os crimes contra o Estado e a ordem pública, vale dizer, para os chamados
crimes políticos.
Os sindicatos são considerados livres, desde que reconhecidos pelo Estado,
e com a sua diretoria aprovada pelo Ministério do Trabalho. Era uma liberdade
de canga, com o surgimento do peleguismo, com uma falsa liderança trabalhista,
na verdade atrelada ao poder central.
Outra arma poderosa apareceu com a criação do DIP-Departamento de
Imprensa e Propaganda, encarregado da censura à imprensa, bem como
responsável, doravante, pela divulgação do noticiário oficial, cultural ou de
notícias que o governo julgasse conveniente publicar.
O DIP organizou um corpo de redação de primeira linha, com jornalistas
altamente treinados, que entregavam aos jornais matéria pronta para publicação.
Ou por comodidade, ou por falta de opção, essa matéria chegou a ocupar mais
da metade do espaço que a imprensa usava para o noticiário.
A decepção dos
integralistas
A notícia da implantação do Estado Novo, nos moldes anunciados, caiu sobre
a cabeça dos integralistas como um balde de água fria. A Ação Integralista
Brasileira, a exemplo dos demais partidos, passava a ser uma simples
associação. Nem Plínio Salgado, nem seus diretos colaboradores participaram
da composição do ministério. Foram usados pelo governo para a consecução de
seus próprios objetivos e depois jogados ao lixo, como peça descartável.
O Estado Novo criou suas próprias bases de sustentação, que dispensavam,
a partir de agora, a ajuda dos camisas verdes. E o fez com militares fiéis ao
regime, reunidos em torno do Chefe do Estado Maior das Forças Armadas,
general Góis Monteiro; com setores rurais dedicados à exportação; com parte
da classe média, simpática a regimes de natureza fascista; com empresários,
aos quais se acenou com créditos subsidiados e outras vantagens; e,
principalmente, montou um aparelho de estado muito bem estruturado, que
desestimulava qualquer reação.
Os integralistas não conseguiram assimilar a derrota. Tão certos estavam de
sua participação destacada no novo regime, que eles haviam até organizado seu
ministério, em torno de Plínio Salgado. O integralismo tinha um governo pronto
e acabado, esperando somente o apelo de Getúlio Vargas para se encaixar no
poder e iniciar o trabalho.
Não bastassem todas essas contrariedades, o governo acrescentou mais
uma, que foi a gota a entornar a água do copo. No dia 3 de dezembro de 1937,
um decreto de Vargas dissolve e coloca fora da lei a Ação Integralista Brasileira,
que passa a viver na clandestinidade, sujeita às sanções da nova legislação, se
insistir em sua atividade política.
Conspiração e ação
Jogados ao ostracismo, os integralistas se unem a outros grupos
descontentes com o governo e passam a conspirar pela queda do novo regime.
Plínio Salgado, em sua residência, em São Paulo, mantém reuniões com civis e
militares fiéis a suas ideias, ou com descontentes com as novas regras do jogo,
prontos a virar a mesa.
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Os meses que se seguem são de confrontos e escaramuças entre
integralistas e forças policiais, mas um plano de maior consistência vinha sendo
traçado por Plinio Salgado, com seus auxiliares diretos e as outras forças fora
do movimento integralista, porém, igualmente em confronto com o poder.
O putsch se daria na madrugada de 11 de maio de 1938. Ficou entendido que
o Chefe (título atribuído a Plínio Salgado) seria preservado, ficando afastado da
rebelião planejada. O comandante geral seria, então, o general João Cândido
Pereira de Castro Junior, tendo como imediato o médico Belmiro Valverde. O
tenente Severo Fournier faria o ataque ao Palácio Guanabara, com um grupo
paramilitar, vestindo a farda dos fuzileiros navais.
O tenente Júlio Nascimento, da Marinha, em plantão no Palácio Guanabara,
segundo a escala nessa data, abriria os portões para a entrada dos rebeldes. Do
alto de uma árvore, um atirador procuraria atingir o Presidente em seus
aposentos.
Outros grupos foram designados para, na mesma hora, prender o ministro da
Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, e o chefe do EMFA, general Góis Monteiro
e outras autoridades militares em suas respectivas residências.
Dois oficiais se apresentariam na prisão onde estavam Otávio Mangabeira e
Euclides Figueiredo, levando ordem de soltura, após o que estes também
assumiriam posições de comando.
Por fim, seriam executados sumariamente ministros e membros destacados
do governo, eliminando a possibilidade de qualquer reação posterior ao golpe
planejado.
É preciso observar que, se de um lado o plano contava com a colaboração
de outros setores descontentes com o governo, por outro, ele causou uma cisão
dentro do próprio integralismo, afastando uma grande parte de adeptos que era
contrária à ação violenta, o que diminuiu o poder de Plínio Salgado.
Em suma, nem todos os que participaram do Levante eram integralistas, mas
nem todos integralistas participaram do Levante. Houve, sim, uma recomposição
de forças em função dos interesses comuns naquele momento específico.
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Nem tudo deu certo
Na teoria é uma coisa, na prática é outra. Na noite de 10 de maio, quase na
virada para o dia 11, a ronda policial estranhou a intensa movimentação nas ruas
e tentou parar um caminhão repleto de fuzileiros, o qual saiu em desabalada
carreira. Foi dado o alarme geral e aconteceram as primeiras prisões de
revoltosos. Falhou, por consequência a tomada da Chefatura de Polícia e a
prisão do Chefe de Polícia, capitão Filinto Müller.
O outro caminhão conseguiu ingressar no Palácio Guanabara, dentro do
planejado, mas um tiro disparado acidentalmente alertou os que se achavam no
prédio, que se prepararam logo para a reação.
Além disso, o plano continha uma omissão que lhes foi fatal. Conforme
previsto, os telefones regulares foram todos cortados, mas os integralistas se
esqueceram de que o governo contava com uma rede telefônica oficial, baseada
no PBX instalado no Palácio do Catete, o qual, pelo trabalho de um telefonista
(era um homem que manejava o PBX) fazia a interligação dos palácios, dos
quartéis, da Chefatura de Polícia e das casas dos ministros.
Em suma, para cessar de todo a comunicação, era preciso tomar de assalto
do Palácio do Catete e dominar o PBX, colocando-o a serviço da rebelião,
detalhe não considerado nas planilhas de ataque. E essa rede telefônica de
segurança, continuou funcionando...
Foi, então, pelo telefone oficial, que o general Góis Monteiro deu alarme à
Chefatura de Polícia e ao forte de Copacabana, quando revoltosos tentaram
arrombar as duas portas de seu apartamento.
Foi por esse telefone, também, que Alzira Vargas conseguiu se comunicar
com o mundo externo, dando conta dos apuros por que passava o palácio
residencial da Guanabara.
A Chefatura de Polícia, pelo mesmo telefone oficial, alertou o ministro da
Guerra, Eurico Gaspar Dutra, que conseguiu sair de casa sem ser visto pelos
homens encarregados de prendê-lo.
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Dutra reuniu, então, doze soldados, colocou-os num caminhão e furou o cerco
ao Guanabara, debaixo de uma saraivada de balas. Dois de seus homens
morreram, Dutra saiu levemente ferido, mas conseguiram entrar no edifício,
enquanto que os rebeldes estavam sendo contidos nos jardins do palácio.
O levante, visto por
Góis Monteiro
Eis a versão dada pelo general Góis Monteiro, então Chefe do Estado Maior
das Forças Armadas, sobre os acontecimentos da madrugada de 11 de maio:
"Cerca da meia-noite, dirigi-me ao meu apartamento, naquele
tempo à rua Júlio de Castilhos, também em Copacabana. Aí
chegando, entrei, por sorte minha, não pelo portão principal do
edifício, mas por uma porta lateral de serviço. Creio que, assim,
não pude ser visto pelos homens que então se encontravam nas
imediações para me espreitarem. Precisamente à uma hora da
madrugada, quando todos já adormecidos em meu apartamento,
inclusive eu, fomos despertados por violentas pancadas nas portas,
tanto na social como na de serviço. (...) Levantei-me sobressaltado
e corri à porta social, mas fui detido por minha mulher que, não só
apagou a luz, como pediu-me para que não a abrisse, pois as
pancadas continuavam cada vez mais fortes.
Fui ao telefone. Estava cortada a linha. Corri à varanda que dava
para a rua e pude ver automóveis e caminhões, com gente armada,
tendo um dos carros, sobre o estribo, granadas de mão, que pude
reconhecer, do alto para baixo, devido à luz clara da lua. Entretanto,
os assaltantes não se lembraram de que eu possuía um telefone
oficial, com o qual pude comunicar-me com a Fortaleza de
Copacabana, o Forte Duque de Caxias e a Polícia, solicitando o
envio urgente de tropas de choque para acudir ao edifício onde me
encontrava bloqueado.
Depois disso, telefonei ao Palácio do Catete, Palácio
Guanabara e Ministério da Guerra, avisando da ocorrência. Vim a
saber, então, que rompera um movimento integralista no Ministério
da Marinha e em outros pontos da cidade, mas meus informantes
não me deram pormenores. Do Palácio Guanabara, a Sra. Alzira
Vargas comunicou-se comigo, dizendo que o palácio estava sendo
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atacado e que ela me falava debaixo de balas. Pedia-me para
acudir, pois a guarda, ou tinha sido dominada, ou se acumpliciara,
estando o Presidente, com sua família, em situação de perigo. Fiz-
lhe ver que o mesmo estava acontecendo comigo, mas que eu já
havia tomado providências para salvar-me e, logo que eu pudesse,
tomaria as demais providências que o caso exigia."
Reação aos ataques
Ainda, segundo a narrativa de Góis Monteiro, as patrulhas do Forte de
Copacabana chegaram e dispersaram os rebelados, liberando o apartamento.
Então ele, já uniformizado, acompanhado de Virgílio de Melo Franco e Adalberto
Aranha, dirigiu-se ao Ministério da Guerra, onde encontrou o general Eurico
Gaspar Dutra e outros comandantes na tarefa de acabar com a rebelião, que
contaminara inclusive uma parte da Marinha.
Góis permaneceu no Ministério, enquanto Dutra seguiu para o campo do
Fluminense F.C., nos fundos do Palácio Guanabara, onde se achavam tropas
legais, aguardando a oportunidade de adentrar no edifício e expulsar os
assaltantes.
Foi nessa ocasião que, como vimos, Dutra e mais doze soldados penetraram
pela portaria dos fundos, e conseguiram chegar ao edifício onde se encontravam
sitiados os demais.
O dia já clareava, cinco horas depois, quando, enfim, as tropas enviadas pela
Chefatura de Polícia conseguiram penetrar no palácio, pondo em fuga o
comandante revoltoso, Severo Fournier, que se homiziou nas montanhas e, mais
tarde, pediu asilo à Embaixada da Itália. Não se sabe por que os dois
contingentes, enviados pelo chefe da Polícia à uma hora da madrugada, levaram
tanto tempo para entrar em ação.
Nesse ponto, a milícia integralista, pelo lado de dentro dos portões do Palácio
Guanabara, já ficara sem comando e sem ação. Os jovens idealistas,
completamente dominados, foram acuados pelas tropas legais até os fundos do
terreno e ali procedeu-se à execução sumária de todos eles, segundo a versão
de Góis. Entre a ética e a força, prevaleceu a última.
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Outra visão do “putch”, de
dentro do Palácio
Os mesmos acontecimentos dessa tormentosa madrugada são narrados por
Alzira Vargas, então com 22 anos, que morava no Guanabara, com seu pai, sua
mãe. sua irmã Jandira e alguns hóspedes ocasionais.
"No silêncio da noite, ecoou um tiro. Nem me mexi. Minha
cabeça estava começando a entrar em contato com o travesseiro
para despedir a ameaça de enxaqueca. Além do mais, não era a
primeira vez que isso acontecia. Um soldado sonolento apoiar-se à
arma e, inadvertidamente, puxar o gatilho, era tão comum. Um
segundo tiro me fez considerar que era muita coincidência: duas
sentinelas distraídas, quase ao mesmo tempo. No entanto, só
decidi renunciar ao meu repouso quando Jandira gritou assustada,
abrindo a janela do quarto. Dois projéteis mais se alojaram, desta
vez na parede, a poucos centímetros do batente de sua janela, em
resposta imediata à sua imprudência.
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(...) No jardim, às escuras, uma porção de homens a paisana
corriam, dando tiros contra as paredes do palácio e jogando ao
chão qualquer coisa explosiva que eu supus serem bombas de
alarme, pois nenhum dano faziam. Creio que a janela de Jandira
foi visada logo porque, mal informados, julgaram ficar nesse ponto
o quarto de Papai.
(...) Com a mais absoluta inconsciência, saí feita uma flecha em
direção à Secretaria. Por ser o caminho mais curto, desprezei o
corredor e passei por dentro dos quartos, que se comunicavam
todos. Papai estava colocando o revolver à cintura, por cima do
pijama e perguntou onde eu ia. Eu também não sabia.
(...) O investigador de plantão, Manuel Pinto da Silva, estava em
baixo, tentando fechar a grade de ferro. Também tinha sido
despertado de surpresa e, de pijama, ainda, empunhava uma
metralhadora. Disse-me: ‘Parece que estão atacando o palácio.
(...)"
Como se deu a invasão
Alzira apresenta sua versão dos acontecimentos, em alguns pontos diferente
da narrativa do general Góis Monteiro:
"A invasão se processara da seguinte maneira: pouco depois da
meia-noite, dois enormes caminhões, cheios de homens
disfarçados com o uniforme de fuzileiros navais, encostaram junto
ao portão principal externo, entrada para a parte residencial. Estava
fechado, como em todas as noites, pois o oficial-de-dia já dera
ordem de recolher.
Dentro da Dondoca, nome pelo qual era conhecido o pequeno
abrigo que serve de primeira portaria, ficava sempre de plantão um
soldado da Guarda Civil para atender ao telefone, abrir o portão
aos moradores noctívagos ou receber alguma mensagem urgente.
Estava no seu posto o perspicaz Josafá, que se tornou conhecido
e popular nessa noite por seu destemor e sagacidade. Desconfiado
daquela chegada extemporânea e da inusitada ordem para abrir o
portão, fechara-o a chave.
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Os dois caminhões deram marcha-à-ré apressadamente e
foram despejar sua carga em frente ao outro portão, igualmente de
ferro, entrada da Casa da Guarda, onde foram fraternalmente
recebidos por seu companheiro de traição, tenente Júlio
Nascimento. Invadiram o jardim com toda tranquilidade, cercaram
o palácio e ocuparam as posições estratégicas.
Dentro da Casa da Guarda, entretanto, uma desagradável
surpresa os esperava. Alguns fiéis, conservadores da tradição de
lealdade do Corpo de Fuzileiros, ofereceram resistência e se
recusaram a acatar as ordens de seu comandante. Travou-se uma
pequena luta, de curta duração, em face da superioridade de
número dos invasores. Foram fuzilados, mortalmente feridos ou
maltratados e aprisionados, aqueles poucos que puderam reagir."
A defesa improvisada
O investigador de plantão a que nos referimos acima foi à procura de um
soldado, amigo seu, para obter detalhes e recebeu voz de prisão. O amigo (muy
amigo) também fazia parte do putsch.
Todos os moradores do palácio, presentes naquele instante, procuraram se
proteger ou organizar a defesa: Getulio, Manuel Antônio (Maneco), Sarmanho,
comandante Isac Cunha e outros atiradores disponíveis.
Alzira pegou também uma arma, que não chegou a usar. Lutero Vargas e
Benjamin Vargas estavam fora do palácio. Os empregados que dormiam no
palácio também receberam armas para a defesa.
Alzira seguiu, rastejando, até o telefone convencional. Estava mudo. Tentou,
em seguida a linha oficial e conseguiu contato com o PBX do Palácio do Catete,
onde se achava de plantão o telefonista Floriano. Por meio dele, falou com o
Chefe de Polícia, Filinto Müller que disse já ter mandado um contingente,
comandado por Cordeiro de Farias, para cuidar do contra-ataque.
Uma hora depois um carro entra sob rajadas de metralhadora. O ocupante
era Benjamim Vargas, irmão de Getúlio, com dois amigos que trocaram
informações sobre a situação. Benja ficou, enquanto os outros dois saíram, sob
uma chuva de balas, em busca de ajuda, pois o reforço anunciado pela Chefatura
não dera, até então, sinal de vida.
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Alzira continuou mantendo contatos pelo telefone oficial. Falou novamente
com a Chefatura, que prometeu mandar mais um contingente. Falou com o
general Góis Monteiro, que se declarou sitiado em seu apartamento, nada
podendo fazer. Falou com o ministro da Justiça, Francisco Campos, que se
declarou solidário com o Presidente, e só.
Localizou, então, Lutero Vargas, que disse estar à busca de reforços para
invadir o palácio. Falou com o Posto da Polícia Militar, no alto do morro, o qual
informou que cruzadores da Marinha estavam participando do levante e
enviando sinais para os revoltosos em terra.
Novas rajadas de metralhadora e outro personagem irrompe das salas do
palácio. Era Júlio Santiago, um amigo da casa, para informar que o ministro da
Guerra, general Dutra, havia conseguido entrar pelo portão dos fundos e
aguardava instruções.
Todos os que tentavam, conseguiam entrar e sair, menos as tropas enviadas
pela Chefatura de Polícia, das quais não se tinha notícias.
A espera angustiante
A madrugada já ia avançada quando o Chefe de Polícia telefona a Alzira
informando que Cordeiro de Farias, com seus homens, se achava acantonado
no campo do Fluminense F.C., atrás do Palácio, aguardando o momento de
entrar.
Travou-se um diálogo exasperante entre os dois: "Que estão esperando? –
protestou Alzira – que subam para nos prender? A maioria já fugiu, o número de
sitiantes no jardim é reduzido. Somente a Casa da Guarda continua em poder
dos atacantes, e nós não dispomos de armas."
À resposta de que as tropas não conseguem sair do Fluminense F.C., ela
replica: "O general Dutra atravessou só. Não é possível que com a tropa não
possam entrar."
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Alzira informou ao Chefe da Polícia o lugar onde se encontravam os
moradores do palácio e combinou de colocá-los todos atrás de uma parede mais
grossa e resistente, para não serem atingidos pelos tiros.
Disse que o palácio tinha uma entrada alternativa entre o campo de futebol e
o jardim do palácio. Minutos depois, Filinto volta a telefonar para dizer que o
portão dessa entrada estava fechado e não havia chave para abri-lo... Alzira
explode: "Pois então, que arrebentem a porta a bala? Não estão armados?"
Finalmente, esse detalhe foi superado. O investigador Aldo Cruschen, que se
achava dentro do palácio, se ofereceu para abrir a porta de comunicação e o fez,
sem ser visto nem molestado.
Cinco horas depois de acionadas, somente cinco horas depois, as tropas
enviadas pela Chefatura de Polícia entravam, triunfalmente, nos jardins do
palácio, quando já grande parte dos revoltosos já havia fugido, inclusive o
tenente Fournier, que comandou o ataque, e o tenente Nascimento, que abrira
os portões, no início do putch, para a entrada dos revoltosos.
Há uma contradição neste ponto. Enquanto Góis afirma que os rebeldes
remanescentes foram sumariamente fuzilados, Alzira descreve sua prisão:
"A resistência foi pequena, os que haviam aguentado
entregaram-se quase que sem combate. Eram, em sua maioria,
jovens quase imberbes e inexperientes, os que não haviam fugido.
Os moços não fogem. A mocidade é que foge deles quando a voz
da experiência começa a se fazer ouvir. Já tinham despido o
simulado fardamento de Fuzileiro Naval e estavam à paisana.
Traziam ao pescoço, como distintivo, um lenço branco, onde estava
escrita a palavra anauê ou avante, não lembro bem."
O desfecho, visto de
dentro do palácio
Testemunha viva da invasão, Alzira conclui a narrativa com sua visão dos
acontecimentos:
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"Não fiquei sabendo nem como nem por que o general Eurico
Gaspar Dutra foi o único membro do governo que conseguiu
atravessar a trincheira integralista. (...) Não entendi, até hoje,
embora os acontecimentos me tenham sido relatados por ele
próprio, como conseguiu se libertar sozinho de seus atacantes, o
general Góis Monteiro. Não sei como, nem por que, o general
Canrobert Pereira da Costa foi raptado em trajes caseiros e
apareceu prisioneiro na Esplanada do Castelo. Ignoro os motivos
que obrigaram as tropas enviadas em nosso socorro gastar mais
de cinco horas para percorrer menos de cem metros.
Gostaria de saber as verdadeiras razões que impediram o
coronel Osvaldo Cordeiro de Farias de abrir uma porta. Muita coisa
ainda está envolta em mistério e não me atrevo a tentar desvendá-
lo. Mesmo dentro do Palácio Guanabara devem ter ocorrido outras
cenas que não presenciei, outros sentimentos que não pressenti,
outros conflitos íntimos que não percebi.
Acompanhei, sim, a luta surda que se processava em meu Pai,
traduzida pelo ritmo inquieto de seus passos, marcando as
perguntas sem resposta, que formulava sozinho. (...) Teria confiado
demais? Valeriam a pena todos os sacrifícios que já havia feito?
Sacrificara sua liberdade de pensar, seus sentimentos pessoais,
suas convicções, para manter unido um país que teimava em se
desunir. Valeria a pena?"
Durante o dia, contrariando a todas as recomendações e desprezando o bom
senso, o presidente Getúlio Vargas sai para dar o habitual expediente no Palácio
do Catete. E o faz a pé, sem seguranças, caminhando entre as pessoas para
mostrar que não temia povo. Ao saber disso, Alzira corre e vai alcançá-lo, alguns
quarteirões adiante:
"Alcancei-o quase na metade da rua Paissandu. Lentamente,
em uma atitude mais do que de coragem, quase que de desafio,
avançava em direção ao Catete. As janelas se encheram de
fisionomias curiosas. Ninguém havia dormido nos arredores do
Guanabara com o ruído das metralhadoras, à espera do
inesperado. Das ruas laterais acorriam pessoas de todas as idades,
que o seguiam. Durante todo o trajeto era saudado com palmas e
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exclamações de júbilo. Imperturbável, retribuía um aceno ou um
sorriso, como se fora um fato comum o Chefe da Nação ficar
cercado, prisioneiro, sem defesa, durante toda a noite, e ainda
estar vivo e de bom humor."
Era o carisma que sustentou Getúlio por tanto tempo no poder, à revelia de
todas as forças que queriam derrubá-lo. Desde a Revolução de 1930 até o
trágico desfecho com o suicídio em 1954, podem ter-lhe faltado, seguidas vezes,
o apoio de políticos e de falsos amigos. O que nunca lhe faltou, durante sua
trajetória, foi o apoio popular.
O destino dos revoltosos
O tenente Severo Fournier, que comandou o ataque ao palácio, conseguiu
escapar e asilou-se na Embaixada da Itália. Após demorados entendimentos, o
governo brasileiro conseguiu a desqualificação de crime político e ele foi
entregue às nossas autoridades para julgamento.
O tenente Nascimento, que abriu os portões do palácio à invasão, não foi
expulso da Marinha. Prosseguiu sua carreira com sucesso e, após o golpe de
1964, ainda conseguiu a patente de Almirante.
O médico Belmiro Valverde, assessor do Chefe, assumiu sozinho toda a
responsabilidade, foi preso, julgado e condenado.
Quanto ao Chefe, Plínio Salgado, este foi preso em 26 de janeiro de 1939 e
enviado ao exílio, em Portugal. Em 1945, voltou ao Brasil, fundou o PRP-Partido
de Representação Popular, mas foi punido pelo eleitorado, pois não conseguiu
eleger nenhum representante à Assembleia Constituinte. Ainda em 1955
concorre à eleição para a presidência da República, ficando entre os últimos
colocados.
A sorte lhe sorriu, finalmente, em 1958, quando se elege deputado federal,
conseguindo reeleger-se depois em 1962, 1966 e 1970.
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Fiel às suas ideias, apoiou o golpe de 1964 e, durante o governo Médici, foi
relator do projeto que reformulava a censura aos meios de comunicação.
Morreu em 7 de dezembro de 1975, num momento em que o Brasil enfrentava
os dias mais negros do autoritarismo, sob a égide do Ato Institucional nº 5. Se
era o que queria, morreu vendo, sob a ditadura militar, a realização de parte de
seus sonhos.
Tratamentos diferenciados
Tanto a intentona comunista de 1935, quanto o putch integralista de 1937,
foram golpes armados, intentados contra as instituições, e executados de forma
traiçoeira e covarde, à revelia da população brasileira, mas um e outro
receberam tratamento diferenciado pelo poder.
A Intentona passou a figurar no index das Forças Armadas, relembrada
durante meio século, e usada para apontar o perigo comunista a ameaçar
permanentemente a vida das instituições democráticas.
Já o Levante integralista, igualmente radical, mas em posição simétrica ao
comunismo, foi rapidamente absorvido e esquecido, tanto mais que as ideias
propaladas por Plínio Salgado, em muito coincidiam, não só com o esquema
montado pelo trio Getúlio-Dutra-Góis para se garantirem no poder, como
representavam, em linhas gerais o pensamento da caserna.
Essa atitude de misericórdia, arbitrária e temerária, possibilitou, ao longo de
nossa história, a tentativa seguida de golpes de direita, culminando com o
atentado ao Riocentro, em 1981, até hoje não explicado suficientemente. Mas
isso é outro assunto, para ser abordado em época oportuna.
Como tentativa de explicação para a tolerância oficial ao integralismo,
podemos admitir o fato de que ele era nacionalista, não se filiando a qualquer
corrente internacional. Ao contrário, o comunismo, tinha sua sede em Moscou, e
de lá foram emanadas as ordens a Luís Carlos Prestes e irradiadas aos
militantes, resultando no plano que levou ao levante frustrado de 1935.
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Foi, também, o comunismo internacional que enviou para o Brasil agentes
estrangeiros, da Alemanha e da Argentina para subverterem a ordem em nosso
território.
Em resumo, o Levante Integralista de 1938, embora subversivo, ficou no
mesmo plano das revoltas de 1922, 1924, da Coluna Prestes, da revolução de
1930 e do Estado Novo em 1938, todas de cunho nacionalista e abominando a
interferência estrangeira em negócios que só diziam respeito ao Brasil.
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