Download - Cap 07 - Choque de Civilizações
1. INTRODUÇÃO
No mundo pós-guerra fria, o contexto histórico-cultural indicou a substituição
das grandes potências mundiais, através da fortificação dos Estados-núcleos das
principais civilizações, em virtude dos polos constituidores de atração e repulsão a
outros países, com alicerce na proximidade cultural. Esse cenário induz a um estudo
pormenorizado nas civilizações ocidental, ortodoxa (fortificação russa), sínica
(fortificação chinesa) e islâmica.
O fundamento maior desse novo paradigma encontra respaldo na
proximidade de todas as civilizações comuns, o que se deve, principalmente, à
identidade cultural, que abrangerá e fundamentará as alianças por segurança,
através de domínios e incorporações. A ordem nasce a partir de tal premissa, sua
fortificação passa, intimamente, pela emergência de Estados-núcleos.
Nesse sentido, em que pese as afirmações proferidas por Boutros Boutros-
Ghali, secretário geral da ONU em 1994, que dissertam sobre a criação de uma
regra de: “manutenção de esfera de influência, no sentido de que a potência regional
predominante não pode prover mais do que 1/3 da força de paz das Nações
Unidas.”, verifica-se, de modo geral, como bem prevê o autor Samuel Huntington,
que tal afirmação não encontra respaldo histórico que permita lhe conferir validade,
afirmando que:
“Um Estado-núcleo pode desempenhar sua função de ordenamento porque os Estados membros o veem como seu parente cultural. Uma civilização é uma família ampliada e, como os membros mais velhos de uma família, os Estados-núcleos proporcionam a seus parentes apoio disciplinar. Na ausência desse laço de parentesco, fica limitada a capacidade de um Estado mais poderoso de resolver conflitos e de impor a ordem na sua região.” (grifamos) (HUNTINGTON, Samuel P. O Choque de Civilizações e a recomposição da ordem mundial; tradução de M.H.C. Côrtes. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2010)
O induzimento a essa “regionalização” pressupõe um Estado-núcleo como
superpotência, através da onipresença nos circuitos de Estados que o comporão,
conferindo uma simbiose cultural e política àquelas civilizações.
2. DEMARCAÇÃO DO OCIDENTE
Com o advento da Guerra-fria, que determinou o modelo econômico,
ideológico e político dos países pró-socialista Stalinista e pró-capitalismo Norte-
americano, houve uma nítida rotura cultural entre esses e aqueles, determinando a
nova demarcação do ocidente. Nesse sentido, invocamos a palavra do autor Samuel
Huntington:
“Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos estavam no centro de um agrupamento grande, variado e multicivilizacional de países que compartilhavam do objetivo de impedir uma maior expansão da União Soviética. Esse agrupamento, conhecido por várias designações como o “Mundo Livre”, o “Ocidente” ou os “Aliados”, incluía muitas das sociedades ocidentais (...)” (HUNTINGTON, Samuel P. O Choque de Civilizações e a recomposição da ordem mundial; tradução de M.H.C. Côrtes. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2010)
A divisão estratégica global era dividida entre os Estados Unidos e o Estado
Soviético, cujas dicotomias ontológicas afloraram nas décadas seguintes à II Guerra
Mundial, culminando e gerando todo o cenário dos conflitos indiretos que
caracterizaram esse momento histórico. Nesse contexto histórico, citamos Francis
Fukuyama, que assim discorre:
“(...) Em outras palavras, os russos eram internados contentes com o hospício, mantidos ali não por grades e camisas de força, mas pelo desejo de segurança, ordem, autoridade e alguns benefícios extras que o regime soviético conseguiu adicionar como grandeza imperial e estatuto de superpotência. O forte Estado soviético parecia realmente muito forte, especialmente na competição global com os Estados Unidos”. (grifamos) (FUKUYAMA, Francis. O fim da história e o último homem. Rio de Janeiro: Rocco, 1992, p. 53)
Veja-se que, muito embora o Estado soviético representasse a liderança
socialista no conflito, e os EUA o lado capitalista, financiador de ditaduras na
América Latina, e representassem, ainda que de modo distorcido, uma noção de
segurança a seus “parceiros”, não o faziam em virtude de identidade cultural, mas
sim por interesses secundários, que não formam a essência de um Estado-núcleo
após a queda do muro de Berlim.
Findo tal conflito, houve a quebra desse paradigma, com a fragmentação
desses agrupamentos, com destaque para o fim do Pacto de Varsóvia, que consistia
na aliança dos países socialistas do leste europeu com Moscou. No lugar da ordem
anterior, houve a aproximação em razão das afinidades histórico-culturais, mesmo
no desmantelamento do Ocidente multicivilizacional, como bem define o autor
Samuel Huntington: “(...) Um processo de demarcação está em curso, envolvendo a
definição dos membros dos organismos internacionais ocidentais”. (p. 261)
O cotejo analítico dessa situação cria dificuldades para definir o que é,
essencialmente, Europa(eu), integrantes potenciais da OTAN, ou da União Europeia.
E, justamente, assim, há a nítida influência religiosa, conforme o enfoque
civilizacional enaltece: “A Europa termina onde o Cristianismo ocidental termina e
começam o Islamismo e a Ortodoxia”.
Nesse sentido há o nítido acerto do autor em relação ao ingresso de Polônia,
República Checa, Eslováquia e Hungria, das repúblicas bálticas de Eslovênia,
Croácia e Malta na União Europeia, obedecendo justamente o critério da cultura
ocidental e com mais desenvolvimento econômico.
Não obstante, o processo de formação da OTAN segue a mesma premissa1,
com ampla maioria de países católicos, e que determina, a priori, os limites da
Europa sob tal viés, que esbarrará nos países cuja religião principal é a ortodoxa e,
de forma ainda mais afastada, até aqueles que adeptos do Islamismo.
Corroborando com o disposto, há a situação da Turquia, cuja religião principal
é a muçulmana2 e, não obstante participar até os dias atuais da OTAN, seu ingresso
na União Europeia é debatido desde a criação de tal bloco econômico, cujas
discussões recaem, principalmente, sobre os aspectos religiosos, tendo em vista sua
religião predominante ser o Islamismo.
No contexto turco, citamos o a autor Arnold. J. Toynebe, que tece
comentários sobre as dificuldades oriundas dos preceitos religiosos no ingresso
junto à União Europeia:
“(...) tornar a Turquia capaz de manter terreno em guerras com potências ocidentais, como a Áustria, ou potências que procuram ocidentalizar-se, como a Rússia, colocando apenas uniformes e armas ocidentais no corpo e nas mãos dos soldados turcos e submetendo seus oficiais a um adestramento militar ocidental. Por um lado, pretendiam conservar todo o resto da vida turca em sua base islâmica tradicional. (...) Essa verdade era a de que qualquer civilização, qualquer modo de vida constitui um todo indivisível, no qual todas as partes não só permanecem unidas, como são ainda, interdependentes.” (grifamos) (TOYNEBEE, Arnold J., O Mundo e o Ocidente, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1955)
Sem embargo, a Grécia é muito bem destacada pelo autor como um Estado
sui generis, pois, em que pese ser membro efetivo da OTAN e da UE, tem
desenvolvido políticas não ocidentais, se aproximando da Rússia, através de sua
1 “(...) Na qualidade de organismo de segurança do Ocidente, a OTAN está, como é apropriado, aberta à admissão de países ocidentais que desejem nela ingressar e que satisfaçam os requisitos básicos em termos de competência militar, democracia política e controle civil das forças armadas”. (p. 267) 2 http://www.tbmm.gov.tr/develop/owa/tbmm_internet.anasayfa
política externa cada vez mais ortodoxa, se remodelando culturalmente a ponto de
vir a ser uma grande aliada da Rússia.
Nessa seara, invocamos a visita do chefe da Igreja Ortodoxa Russa, Cirilo I
de Moscou, à Grécia em junho de 2013, na chamada “visita de paz”, cujo escopo
maior foi justamente a aproximação ainda maior e a consolidação das relações de
amizade entre os povos da Rússia e da Grécia, que ressaltou:
"As relações entre as nossas igrejas têm um caráter especial, o que se deve, em particular, ao fato de que ultimamente a Igreja Ortodoxa Russa tem prestado um importante apoio à Igreja – irmã face à crise econômica que este país enfrenta. Foram recolhidos meios para a realização de diversos programas sociais. Pode-se recordar, aliás, que mesmo no plano histórico, as relações entre a Rússia e a Grécia sempre foram muito estreitas. É evidente que nesta amizade entre os nossos povos, ligados por vínculos históricos, econômicos, e, certamente, pelo turismo, as relações espirituais sempre desempenharam também um papel-chave”. (grifamos)
Desse modo, Huntignton consegue, com maestria, tecer os novos contornos
do Ocidente, demarcando-o, ainda no ano de 1994, cujas previsões se mostram
acertadas e compatíveis com os fatos que a história se encarregou de produzir até
então.
Portanto, percebe-se a alternância das razões que fundamentaram a aliança
de países num cenário anterior à Guerra Fria, com aqueles que (re)surgiram após tal
conflito, com um salto na valorização da identidade cultural como base geral para a
definição de aliados e Estados-núcleos capazes de conduzir e fomentar esses
valores determinantes.
3. RÚSSIA E O SEU EXTERIOR PRÓXIMO
A Rússia emerge no pós Guerra Fria como o Estado-núcleo da civilização
ortodoxa, e como um verdadeiro “tampão” nos Estados islâmicos notadamente
fracos, sendo a maior e mais importante ex-república soviética, seguida da Ucrânia,
dotada de problemas culturais latentes, tendo em vista sua composição cultural dual.
O autor prevê, inserido em tal contexto, a possibilidade - hoje confirmada -,
das relações entre Ucrânia e Rússia debandarem para conflitos armados. Naquele
sentido de proteção ampla de um Estado-núcleo aos seus similares, invocamos tal
situação, latente e atual dos conflitos pela Crimeia, cuja população é, conforme
referendo3, notadamente pró-Rússia, o que encontra fundamento nas declarações
dos moradores de Sebastopol, principal cidade da Criméia, no sentido de que:
Sebastopol e toda a Crimeia têm uma história muito diferente do resto da Ucrânia. Nossa região se envolveu em várias guerras, como a Guerra da Crimeia e a II Guerra Mundial, e temos monumentos em homenagem a essa nossa história em vários lugares da cidade. A Ucrânia quer nos impor a sua cultura, e não aceitar a nossa, ao contrário de Moscou”, diz Valery Bespalko, morador da Crimeia. (grifamos)
E ainda:
Estamos muito mais próximos da Rússia em termos econômicos e geográficos. Uma adesão à Moscou trará mais investimentos e progresso para a região”, diz o marinheiro Alexey Shapovalov, natural de Sebastopol. (grifamos)
Nesse diapasão, temos a “ressuscitação” dos conflitos do início dos anos 90
quanto à Crimeia e, inserido nessa proximidade com o Estado-núcleo, que é a
Rússia, as ponderações do autor encontram fundamento factível, comprovado nas
declarações do governador da Crimeia, Serguei Axionov, que assevera a respeito do
corte de abastecimento de água àquela região:
"A sabotagem da Ucrânia referente à limitação de abastecimento de água para a república, através do canal Norte-Crimeia, só pode ser qualificada como uma ação premeditada contra os habitantes da Crimeia" (Serguei Axionov, Governador interino da Crimeia)
Desse modo, a proximidade cultural, geográfica e econômica da Crimeia
fundamenta a intervenção russa nos assuntos relacionados à sua segurança,
exercendo, explicitamente, seu papel de Estado-núcleo.
Diante da fortificação dos Estados-núcleos, com o exemplo citado acima, há o
nítido movimento de regionalização potencial, em detrimento das potências globais.
4. A GRANDE CHINA E SUA ESPERANÇA DE CO-PROSPERIDADE
Baseada na cultura confuciana, e com o objetivo pós Guerra Fria de defesa a
sua cultura e a retomada de sua potencialidade hegemônica na Ásia Oriental, a
China possui, historicamente, como pilares: a determinação de como se portar,
principalmente nas crescentes ligações econômicas, políticas e diplomáticas com
Hong Kong, Taiwan e Singapura, bem como a determinação da maneira como o
3 95.7% of Crimeans in referendum voted to join Russia preliminary results (http://rt.com/news/crimea-vote-join-russia-210/)
Estado deve intervir em tais relações, resultando na ideologia máxima que configura
o modelo e margem a serem seguidos pelos demais Estados abarcados por ela.
Diante dessa ideologia, a China continental, nuclear, forma uma rede
norteadora de um ideal, como bem assevera o autor da obra em análise:
“O governo chinês vê a china continental como estado núcleo de uma civilização chinesa, uma direção da qual todas as outras comunidades chinesas deveriam se orientar, tendo há muito abandonado seus esforços para promover seus interesses nos exterior através de partidos comunistas locas, o governo atualmente busca posicionar-se como representante da chinesidade em todo o mundo”. (grifamos) (HUNTINGTON, Samuel P. O Choque de Civilizações e a recomposição da ordem mundial; tradução de M.H.C. Côrtes. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.p. 281)
A ideologia que emanou da relação entre os Estados que compõe essa
civilização confuciana deu um grande passo, a partir do momento em que a China-
Núcleo determinou novas linhas econômicas, que resultaram na fixação chinesa
como a super-força dos tigres asiáticos (com exceção da Coréia do Sul). Assim,
contendo a força esperada e a condição de confiança perante terceiros, a China
criou grande oportunidades e teve enorme crescimento internacional.
Atrelada ao viés cultural e tecnológico, desenvolveu com Taiwan, Hong Kong
e Singapura uma união, em prol de atingir os objetivos traçados após sua
redefinição – forçada – nas questões mundiais, culminando num poderio
internacional, conquistado através do crescimento uno, com liderança de seu
Estado-núcleo.
Não obstante na década de 80 tenham ocorridos episódios que afastaram
China e Taiwan, o cenário pós Guerra Fria, contextualizado com os demais
movimentos mundiais, criaram condições e favoreceram a aproximação, mormente
em razão de sua “chinesidade compartilhada”, que perdurou até os acontecimentos
de 1995, com a visita do líder Lee Teng-hui aos EUA. Todavia, Samuel Huntington
bem previu um novo “encontro” entre chineses e taiwaneses, o que se confirmou em
fevereiro último, no encontro diplomático entre líderes dos dois países4, no qual
Wang, chefe do Conselho de Assuntos Continentais de Taiwan, disse: “Meu principal
objetivo durante esta visita ao continente é promover a compreensão mútua entre os
dois lados”.
4 http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/china-e-taiwan-iniciam-dialogo-depois-de-decadas-de-silencio
Destarte, o enredo político de China e Taiwan, em que pese não ser pacífico,
tende a uma aproximação, no mínimo diplomática, em virtude da “chinesidade”
compartilhada, inerente à cultura de ambos os Estados.
5. O ISLÃ: PERCEPÇÃO SEM COESÃO
O cenário proposto até aqui pressupõe a existência de um Estado-núcleo
forte cultural e economicamente capaz de abarcar outros que compartilham de tal
cultura, resultando e auxiliando em sua consolidação, de forma simbiótica.
Ocorre que o Islã não possui um Estado que propicie todas as condições
culturais que o conduzam a ter esse Estado-núcleo, situação que nos remete ao fim
do século X, com o advento real do mundo islâmico, conforme preceitua Albert
Hourani, em seu livro Uma História dos Povos Árabes:
“No fim do século X, passara a existir um mundo islâmico, unido por uma cultura religiosa comum, expressa em língua árabe, e por relações humanas forjadas pelo comércio, a migração e a peregrinação." (grifamos) (HOURANI, Albert. Uma História dos Povos Árabes; tradução de Marcos Santarrita; editora: Companhia das Letras, 1994;
Nessa seara, como bem dita o autor Samuel Huntington, há uma evidente
inversão da estrutura de lealdade em relação ao Ocidente moderno, o que se
explica, em parte, pela evolução histórica do Islã, invocando, novamente, as
palavras de Albert Hourani:
“(…) Três governantes reivindicavam o título de califa, em Bagdá, no Cairo e em Córdoba, e ainda, outros que eram governantes de fato, de Estados independentes. (…) Dificilmente poderia ter sido conseguido sem a força da convicção religiosa, que formaram o grupo dominante efetivo na Arábia Ocidental, e depois, criara uma aliança de interesses entre esse grupo e uma parte em expansão das sociedades sobre as quais governavam (…)"(grifamos) (HOURANI, Albert. Uma História dos Povos Árabes; tradução de Marcos Santarrita; editora: Companhia das Letras, 1994;
As dificuldades da fixação de um Estado-núcleo relativo ao Islã, passa pelo
aspecto fundamental da legislação islâmica, cujos princípios e valores são maiores
que questões geográficas ou políticas, nesse sentido, nos ensina o Dr. Abdurrahman
al-Sheha, em sua obra A Mensagem do Islam:
“A legislação islâmica introduziu princípios básicos e regras gerais nos assuntos políticos que atuam como as bases sobre as quais o Estado Islâmico é construído. O governante do Estado muçulmano executa e aplica os mandamentos de Allah. Allah s.w.t. diz ‘Buscam, então, o julgamento dos tempos da ignorância? E quem melhor que
Allah, em julgamento, para um povo que se convence da verdade? [5:50]’ O governante de um país islâmico é na verdade um deputado para a Ummah, o que o obriga a aplicar o seguinte: [1] Fazer tudo dentro de sua capacidade para aplicar as legislações e leis de Allah, e fornecer meios de vida honráveis e honestos para a nação, para salvaguardar a religião, a segurança, as vidas e a riqueza. O Profeta s.a.w. disse: ‘Nenhum servo de Allah é incumbido de cuidar dos assuntos dos Muçulmanos e falha na sinceridade e verdade nisso, exceto que ele não sinta o cheiro do Paraíso’[al-Bukhari]. (grifamos)
Diante dessas razões, que acabam por induzir a falta de um Estado-núcleo,
acabam proporcionando condições em larga escala para o surgimento de conflitos
internos e externos, que acaba por caracterizar a personalidade islâmica. O livro
Choque de Civilizações, como bem asseverado pelo autor Samuel Huntington,
indica o dever, por parte de um vindouro Estado-núcleo islâmico que contenha:
“(…) os recursos econômicos, o poderio militar, a capacidade organizacional e a identidade e o engajamento islâmicos para provar a liderança política e religiosa Ummah”. (HUNTINGTON, Samuel P. O Choque de Civilizações e a recomposição da ordem mundial; tradução de M.H.C. Côrtes. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2010)
A formação de um Estado-núcleo correspondente ao Islã passa por um
processo diferenciado em relação àqueles já analisados, isso porque as premissas
basilares aqui são constituídas, de um lado, “pela família, o clã e a tribo, e de outro
pelas unidades de cultura, religião e império, numa escala bem maior”. Nesse
sentido, cumpre invocar as palavras do autor:
“Em todo o Islã, o grupo pequeno e a grande fé, a tribo e a ummah foram os principais focos de lealdade e devotamento, e o Estado-nação foi o menos importante.(...) Na condição de movimento revolucionário, o fundamentalismo islâmico rejeita o Estado-nação em favor da unidade do Islã.” (HUNTINGTON, Samuel P. O Choque de Civilizações e a recomposição da ordem mundial; tradução de M.H.C. Côrtes. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.p. 293)
Os preceitos do ummah, em consonância com os pilares do Estado islâmico
acaba por enfraquecê-lo, e constitui verdadeira ameaça às demais civilizações. Os
seis países mencionados como possíveis líderes do Islã enfrentam problemas
financeiros, de segurança, étnicos e demais que conspiram para a manutenção do
cenário atual. A Turquia, segundo o autor, teria força para exercer tal papel, todavia
teria de renunciar à secularidade ditada por Ataturk, necessitando de liderança e
“coragem” para promover tal mudança histórica.
6. CONCLUSÃO
A Guerra Fria constituiu o marco orientador da reforma da ordem mundial, na
qual os Estados-núcleos assumem o papel de potências regionais na condução e
harmonia das civilizações. Desde a demarcação do Ocidente ao Estado islâmico,
inúmeras situações e problemas peculiares a cada uma das regiões do globo, são
trazidos à tona, seja pelas ideologias contrárias, pelos conflitos iminentes, ou pelas
premissas religiosas.
Ocorre que, conforme exemplificado através da elaboração deste parecer, é
grandioso o índice de acerto do autor na consolidação desse novo capítulo histórico,
prevendo situações que se confirmaram e outras em fase de aprimoramento que
tendem a mostrarem-se verídicas e compatíveis com o fabuloso estudo sociológico e
cultural realizado.
7. DEBATE
O debate conterá uma breve passagem por cada uma das divisões propostas
pelo autor, com destaque às condições da nova demarcação do Ocidente, dos
conflitos atuais entre Rússia e Ucrânia e o atual cenário Islâmico, fonte de ameaças
às demais civilizações, como na presente Guerra Civil Síria, cujo número de mortos
extrapola as 190 mil pessoas5.
5 http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140822_siria_mortos_hb
REFERÊNCIAS
AL-SHEHA, Abdurrahman; A Mensagem do Islam
HOURANI, Albert. Uma História dos Povos Árabes; tradução de Marcos Santarrita; editora:
Companhia das Letras, 1994;
FUKUYAMA, Francis. O fim da história e o último homem. Rio de Janeiro: Rocco, 1992, p.
53;
HUNTINGTON, Samuel P. O Choque de Civilizações e a recomposição da ordem mundial;
tradução de M.H.C. Côrtes. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2010;
TOYNEBEE, Arnold J., O Mundo e o Ocidente, São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1955;
http://www.tbmm.gov.tr/develop/owa/tbmm_internet.anasayfa
http://portuguese.ruvr.ru/2013_06_01/visita-do-patriarca-kirill-a-grecia-1458/)
http://rt.com/news/crimea-vote-join-russia-210
http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/china-e-taiwan-iniciam-dialogo-depois-de-decadas-de-
silencio