Download - Caminho Aguas
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REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
PRESIDENTE Luiz Incio Lula da Silva
MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE
MINISTRA Marina Silva
AGNCIA NACIONAL DE GUAS ANA
DIRETORIA COLEGIADA
Jos Machado (Diretor-presidente)
Benedito Braga
Oscar de Moraes Cordeiro Netto
Bruno Pagnoccheschi
Dalvino Troccoli Franca
SUPERINTENDNCIA DE APOIO GESTO DE RECURSOS HDRICOS
Rodrigo Flecha Ferreira Alves (Superintendente)
EQUIPE DO PROJETO NA ANA
Victor Alexandre Bittencourt Sucupira (Coordenao geral)
Jos Edil Benedito
Celina Maria Lopes Ferreira
Herbert Otto Roger Schubart
Luis Gustavo Miranda Mello
Matheus Marinho de Faria
FUNDAO ROBERTO MARINHO
PRESIDENTE Jos Roberto Marinho
SECRETRIO GERAL Hugo Barreto
SUPERINTENDENTE EXECUTIVO Nelson Savioli
GERENTE GERAL DE PATRIMNIO E MEIO AMBIENTE Lucia Basto
COORDENADORA DE MEIO AMBIENTE Marcia Panno
GERENTE GERAL DE EDUCAO E IMPLEMENTAO Vilma Guimares
GERENTE DE IMPLEMENTAO Maria Elisa Mostardeiro
COORDENADOR DE IMPLEMENTAO PEDAGGICA Ricardo Pontes
APOIO
Comit da Bacia do rio Paraba do Sul, Comit da Bacia do rio So Francisco,
Comit da Bacia do rio Doce, Comit da Bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundia,
Governo do Estado do Rio de Janeiro, Governo do Estado de Minas Gerais,
Governo do Estado do Alagoas, Governo do Estado da Bahia,
Governo do Estado de So Paulo, Governo do Estado de Pernambuco,
Governo do Estado de Sergipe, Governo do Estado do Esprito Santo.
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RIO DE JANEIRO | DEZEMBRO DE 2006
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APRESENTAO
O KIT CAMINHO DAS GUAS
PRINCIPAIS CONCEITOS EM EDUCAO AMBIENTAL
O PLANETA DAS GUAS
OS MLTIPLOS USOS DA GUA
GESTO INADEQUADA DAS GUAS E EVENTOS CRTICOS
PRTICAS SUSTENTVEIS NAS BACIAS HIDROGRFICAS
INSTRUMENTOS DE GESTO DE RECURSOS HDRICOS
ATIVIDADES
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CADERNO 1
> SUMRIO
A BACIA HIDROGRFICA DO RIO PARABA DO SUL
A BACIA HIDROGRFICA DO RIO DOCE
A BACIA HIDROGRFICA DO RIO SO FRANCISCO
AS BACIAS HIDROGRFICAS DOS RIOS PIRACICABA, CAPIVARI E JUNDIA
ATIVIDADES
REFERNCIAS
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CADERNO 2
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APRESENTAO
O Projeto Caminho das guas uma parceria entre a Fundao Roberto Marinho (FRM) e a
Agncia Nacional de guas (ANA) para o desenvolvimento de atividades educativas ligadas
temtica da gua. Este projeto une a expertise da ANA, no que diz respeito a atividades volta-
das para a conservao e o consumo responsvel de gua, e a da Fundao Roberto Marinho,
quanto disseminao de contedos educativos por intermdio de programas televisivos e
kits para aes presenciais de educao.
Seguindo os novos Parmetros Curriculares Nacionais (PNC), o Caminho das guas oferece
ao professor alguns instrumentos didticos para a iniciao dos alunos do segundo segmento
do ensino fundamental nos procedimentos da pesquisa cientca observao, experimen-
tao e registro e mostrar, com exemplos concretos que podero ser adaptados realidade
local, como planejar atividades educativas de alcance social na escola e na comunidade.
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O KIT CAMINHO DAS GUAS
A estratgia central do projeto consiste na concepo e aplicao de materiais educativos (kit)
que sero distribudos em escolas da rede pblica nas regies das bacias hidrogrcas dos rios
Paraba do Sul, So Francisco, Doce e Piracicaba, Capivari e Jundia, transmitindo ao pblico-
alvo os subsdios bsicos para a gesto descentralizada e participativa dos recursos hdricos
e contribuindo para a produo e veiculao de sries de programas televisivos para a grade
nacional do Canal Futura. Procura-se atuar tambm no que se refere ao uso sistemtico desses
programas como parte do material educativo em aes presenciais. Est prevista a construo
de um site na internet disponibilizando todos os contedos de forma sistemtica.
O kit Caminho das guas composto de diversos produtos: programas televisivos, cadernos
de orientao para o professor, mapa das regies hidrogrcas, CD de msicas e um CD-ROM
com jogo RPG. O kit busca auxiliar a implementao da Educao Ambiental dentro da prtica
educativa.
PROGRAMAS TELEVISIVOS
>> O DVD 1 contm sete programas (quatro Globo Ecologia, dois Globo Cincia, um Sala de
Notcias Debate) e uma srie de interprogramas (De Olho no Ambiente) inditos, produzidos
pela Fundao Roberto Marinho e pelo Canal Futura. O DVD 2 contm alguns programas
j existentes que tambm foram incorporados ao kit a m de compor a temtica a ser
trabalhada.
CADERNOS DE ORIENTAO
>> Caderno do Professor 1: expe os objetivos, conceitos e contedos bsicos para o desen- volvimento do trabalho, metodologias e atividades de sensibilizao.
>> Caderno do Professor 2: desenvolvimento dos contedos especcos de cada bacia
hidrogrca.
MAPA DAS REGIES HIDROGRFICAS DO BRASIL
CD DE MSICAS
O CD traz as canes de Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Augusto Jatob, Guilherme Arantes
e de outros compositores, ligadas temtica da gua ou ao meio ambiente. Elas serviro de
apoio ao professor em algumas das atividades propostas no Caderno do Professor.
CD-ROM
Neste CD est disponibilizado todo o contedo do Projeto, alm de um jogo educativo, RPG,
com aventuras contendo os principais temas relacionados gua.
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PRINCIPAIS CONCEITOS EM EDUCAO AMBIENTAL
Nesta parte, propomos a construo de alguns conceitos que fundamentam o material do kit
Caminho das guas: Ambiente, Impactos Ambientais, Desenvolvimento Sustentvel e Educa-
o Ambiental.
Muitos desses conceitos vm sendo utilizados em vrios contextos, incorporando muitas
idias, s vezes at antagnicas. Como diz um antigo provrbio: quando uma coisa repetida
exausto, provavelmente no quer dizer coisa alguma. Assim, importante buscar, constan-
te e dinamicamente, explicitar e atualizar estes conceitos.
interessante que, antes de prosseguir com a leitura, os conceitos sejam bem debatidos. En-
tendendo que esse um processo dinmico e, muitas vezes, particular, o material no preten-
de fornecer conceitos fechados, mas sim alguns elementos que podem ser usados na constru-
o coletiva das idias em questo.
Esperamos que o material reunido neste kit, ao ganhar vida pelas mos dos professores, ajude
no processo de construo de uma viso ampla e crtica da realidade ambiental de cada regio,
na perspectiva de estimular reexes e aes sobre os problemas e as potencialidades locais.
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AMBIENTE
O conhecimento sistemtico sobre o meio ambiente ainda est em construo e, por ser um
processo dinmico, provvel que nunca se venha a ter um conceito denitivo. De acordo com
os Parmetros Curriculares Nacionais (PCN): muitos estudiosos da rea ambiental consideram
que a idia para a qual se vem dando o nome de meio ambiente no congura um conceito que
interesse ou possa ser estabelecido de modo rgido e denitivo. mais relevante estabelec-lo
como uma representao social, isto , uma viso que evolui no tempo e depende do grupo
social em que utilizado. So estas representaes, bem como suas modicaes ao longo do
tempo, que importam: nelas que se busca intervir quando se trabalha com meio ambiente.
Visando uma prtica pedaggica contextualizada sobre ambiente, importante conhecer as con-
cepes ou as representaes coletivas dos grupos de atores sociais que causam ou atuam com
problemas ambientais, sabendo que estas so dinmicas e se modicam rapidamente. Nesse
sentido importante identicar as representaes individual e social sobre ambiente, para que
se possa conhecer e reetir sobre os conitos entre ser humano sociedade natureza.mergu
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A dissociao entre o que humano e o que natural se tornou corriqueira, sendo mostra-
da dos lmes mdia cotidiana. De fato, em pesquisa de opinio realizada sobre O que o
brasileiro pensa do meio ambiente e do consumo sustentvel, apenas 30% dos entrevistados
apontaram que homens e mulheres so parte do meio ambiente. Outros elementos pou-
co identicados como integrantes do meio ambiente foram ndios (25%), cidades (18%) e
favelas (16%). Os itens mais facilmente identicados foram matas (73%), rios (72%), gua
(70%) e animais (59%). Alm disso, para 67% dos brasileiros entrevistados a natureza sa-
grada e o homem no deve interferir nela.
Uma proposta de anlise das representaes sociais da relao ser humano sociedade
natureza divide as vises em Naturalistas, Antropocntricas e Globalizantes (que aqui
chamaremos de Sistmica). Mais importante para nossa proposta aqui percebermos as
prticas pedaggicas associadas a cada uma dessas representaes.
>> NATURALISTA> Considera meio ambiente como sinnimo de natureza (intocada) e de harmonia.
> O ambiente engloba os aspectos fsicos e biolgicos, mas exclui o ser humano deste contexto. O ser humano um observador externo.
Exemplo de discursoCaracteriza-se por dois subgrupos:> Espacial: lugar onde os seres vivos habitam.
> Elementos circundantes: conjunto de elementos biticos (seres vivos) e abiticos (ar, gua e solo).
Prtica pedaggica> Assume uma pedagogia tradicional;
> Resume-se transmisso de conhecimentos sobre a natureza (meio bitico e abitico);
> O ser humano enquadra-se como depredador;
> nfase na metodologia: observao da natureza (conservada ou depredada) in loco.
>> ANTROPOCNTRICA> Evidencia a utilidade dos recursos naturais para a sobrevivncia do ser humano (viso utilitarista).
> Reconhece a interdependncia entre elementos biticos e abiticos e a ao transformadora do ser humano sobre os sistemas naturais, alterando o equilbrio ecolgico.
Exemplo de discurso> tudo que nos cerca: os animais, os vegetais, a gua, o solo, o ar, enm, tudo o que possibilita a nossa sobrevivncia.
> o meio onde vivemos, aproveitando todos os recursos que temos para sobreviver.
Prtica pedaggica> Assume uma pedagogia tradicional;
> Objetiva a conscientizao dos alunos quanto preservao dos recursos que utilizam e dos quais dependem para sua sobrevivncia;
> No estudo da problemtica ambiental d prioridade aos aspectos polticos, sociais e econmicos, em funo do ser humano.
>> SISTMICA> Evidencia as relaes recprocas entre natureza e sociedade.
> Caracteriza-se por destacar as interaes complexas entre os aspectos sociais e naturais, como tambm os aspectos, polticos, econmicos, loscos e culturais.
> O ser humano compreendido enquanto ser social, vivendo em comunidades.
Exemplo de discurso> O meio ambiente a nossa casa, o nosso bairro, a cidade, o pas, o planeta, os animais, as plantas, a famlia, a sociedade, as relaes entre todos os seres vivos e tudo o que nos cerca.
Prtica pedaggica> Assume uma tendncia inovadora ou de inovao;
> Transmisso de conhecimentos sobre a complexidade do meio natural;
> Viso do ser humano como elemento constitutivo do meio ambiente enquanto ser social, vivendo em comunidades;
> Objetiva a sensibilizao dos alunos sobre a necessidade de se preservar as interaes existentes tanto no meio natural como no meio social e tambm entre eles;
> Inclui temas e atividades que no fazem parte da rotina pedaggica, desenvolvendo contedos que no fazem parte do programa ocial (estudos de caso sobre a poluio de rios, problemas com o lixo, e reciclagem, discusses sobre a pobreza, misria, sade);
> Adota uma perspectiva de abordagem interdisciplinar.
ANLISE DAS REPRESENTAES SOCIAIS DA RELAO SER HUMANO- SOCIEDADE NATUREZA
PRINCIPAIS CONCEITOS EM EDUCAO AMBIENTAL CAMINHO DAS GUAS
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claro que no necessariamente um educador que apresenta um discurso que se enquadra
em uma categoria de representao social sobre o ambiente, realizar uma prtica pedaggi-
ca como a descrita, mas interessante observar e reetir como atuamos, buscando prticas
cada vez mais inovadoras, estimulantes e crticas.
IMPACTOS AMBIENTAIS
A viso tradicional de impacto ambiental o classica como uma alterao no meio ambiente,
resultante das atividades humanas e que afeta o funcionamento dos sistemas. Exemplos des-
ses impactos so freqentemente registrados e vm sendo debatidos, como a poluio do
solo, gua e ar; a extino de espcies; o aquecimento global; o efeito estufa; o desmatamento;
as queimadas etc. e seus efeitos sobre a sade humana e os ecossistemas.
Mas ser que s isso? Se os impactos ambientais so s os causados pelo ser humano, no
estamos reforando a separao do ser humano da natureza? O que dizer de um raio que cai
numa propriedade causando um incndio? Isso causa um impacto ambiental? E o que dizer
dos efeitos dos fenmenos naturais como tempestades, terremotos, furaces etc. sobre o
funcionamento dos ecossistemas? Deveriam ser considerados impactos ambientais?
2
Vista de uma queimada em rea de Caatinga
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Alm disso, alguns impactos, que primeira vista parecem exclusivamente naturais, po-
dem tambm ser originados ou intensicados por aes humanas. Por exemplo, as alteraes
no ciclo hidrolgico, vericadas nas ltimas dcadas causadas pela urbanizao, pelo des-
matamento, pelas queimadas e pelo aumento da quantidade de partculas no ar aumenta-
ram a possibilidade de ocorrncia de chuvas mais intensas em algumas regies.
As cidades, que no estavam preparadas para esses eventos, viram o aumento das inundaes
e, como s foram pensadas aes para resolver o problema (e no as suas causas), isto gerou,
e gera, prejuzos econmicos e sociais.
Mostra-se assim, mais uma vez, a inter-relao entre as aes humanas e o ambiente, refor-
ando o sentimento de pertencimento do ser humano neste planeta. Ao mesmo tempo, re-
fora tambm sua responsabilidade ambiental (em seu sentido mais amplo), j que a nica
espcie capaz de ter conscincia do que seus atos podem provocar sobre o planeta.
Impacto ambiental causado pela ocupao popular s margens da Represa Billings. So Bernardo do Campo, So Paulo
PRINCIPAIS CONCEITOS EM EDUCAO AMBIENTAL CAMINHO DAS GUAS
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>> POBREZA E DEGRADAO AMBIENTAL
Para avanarmos na construo do conceito de impactos ambientais, devemos lembrar que
este deve ser construdo levando-se em conta a concepo de ambiente. Se partirmos do
princpio de que o ambiente inclui o ser humano, ento tudo o que diz respeito a ele deve ser
considerado. Sendo assim, tudo o que causa dano sua condio de vida deveria ser classi-
cado como um impacto.
Nesta concepo, o que dizer das degradaes sociais? No deveramos considerar que toda
forma de dano social uma forma de agresso ao ambiente? A pobreza, a fome, a excluso
social, a violncia, as guerras no seriam elas, por si ss, formas de degradao ambiental?
Vista geral de uma favela beira de um crrego. Bairro So Miguel, So Paulo
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL
O conceito de desenvolvimento sustentvel deriva do entendimento de que o ser humano
capaz de aes que depredam o meio ambiente. difcil dizer quando o ser humano se deu
conta dessa capacidade, pois a abundncia de recursos naturais dava a falsa impresso de que
seriam innitos.
No entanto, na dcada de 1960, algumas discusses poltico-cientcas comearam a chamar a
ateno para o fato de que os recursos poderiam no ser innitos e algumas aes humanas ti-
nham efeito negativo direto sobre o funcionamento dos ecossistemas.
Uma das primeiras evidncias incontestveis desses efeitos se deu quando da publicao do
livro Primavera silenciosa, denunciando os impactos deletrios de pesticidas organoclorados
(DDT, entre outros) sobre a fauna e ora de um bosque nos Estados Unidos, em 1962.
Dois anos antes, especialistas de diversas reas haviam se reunido na Itlia para uma srie de
reunies num evento que cou conhecido como Clube de Roma. O Clube de Roma publicou
um estudo chamado Limites do crescimento no qual se dizia que o desenvolvimento cient-
co e tecnolgico empregado na poca estava em confronto com o que o ambiente poderia
suportar.
Nessa poca, aparece e ganha importncia a Ecologia, campo do conhecimento que analisa
e discute a relao entre as espcies e o ambiente. Numerosos exemplos de degradao am-
biental so registrados e cada vez mais esse assunto ca em evidncia. No esforo de tentar
implementar uma ao coordenada para tentar corrigir tais problemas, em 1987 a Comisso
Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento da ONU produziu um documento Nosso futu-
ro comum reunindo delegaes de vrios pases. Ali, se dene desenvolvimento sustentvel
como aquele que atende s necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de
as geraes futuras atenderem s suas prprias necessidades.
Vamos reetir um pouco sobre isto. certo que as pessoas tm necessidades, mas tambm
tm valores e apreciam a liberdade de decidir qual valor atribuir s coisas e de que maneira
preservar esses valores. Por isso, ver os seres humanos apenas em termos de suas necessi-
dades pode nos dar uma viso um tanto insuciente da humanidade.
Um exemplo para entendermos melhor: imaginemos algum que considere que deveramos
fazer o possvel para preservar uma espcie ameaada de extino, digamos, a coruja-pin-
tada. No haveria contradio se a mesma pessoa declarasse que os nossos padres de vida
so independentes da presena ou da ausncia de corujas-pintadas, mas que acredita que
no deveramos permitir sua extino por razes que pouco tm a ver com a necessidade de
manuteno dos atuais e futuros padres de vida dos seres humanos (por exemplo, por seus
valores ticos, estticos, ligados afetividade, ao sagrado etc.).
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PRINCIPAIS CONCEITOS EM EDUCAO AMBIENTAL CAMINHO DAS GUAS
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Assim, a idia de liberdades sustentveis pode ser no s conceitualmente importante (como
parte de uma abordagem geral que trate do desenvolvimento como liberdade), como pode
gerar mudanas polticas relevantes. E isso depende da participao individual na formao
dessa nova concepo coletiva.
>> O PAPEL DA ECOCIDADANIA NO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL
possvel enunciar que h duas grandes tendncias no campo do desenvolvimento susten-
tvel, e ambas compreendem que a proposio de solues se soma importncia de preser-
vao da biodiversidade, conservao dos recursos naturais, desenvolvimento local e diminui-
o das desigualdades sociais. A primeira se prope a atingir esses objetivos por meio de
novas tecnologias, polticas compensatrias, tratados internacionais de cooperao, estmulo
ao ecoturismo, certicao verde de mercados alternativos, entre outros. J a segunda prev
a incluso social, a participao na tomada de decises e a promoo de mudanas culturais
nos padres de felicidade e desenvolvimento.
A primeira, parece-nos, exprime uma viso fragmentada quanto percepo da complexidade
de fatores que levam a impasses na resoluo desses problemas e limita-se a propor solues
dentro da lgica de mercado. J a segunda pretende uma compreenso da totalidade das
causas da no-sustentabilidade, mas se limita formulao de propostas localizadas, pois a
exigncia da participao de todos a torna artesanal e pouco aplicvel no curto prazo.
Se, para alm da lgica de mercado atual que continua enriquecendo alguns e mantendo
muitos na misria , desejamos a construo de sociedades nas quais os conceitos de liber-
dade, justia, eqidade, tica, capacitao bsica e paridade governem o acesso e o uso dos
servios dos ecossistemas, fundamental que haja polticas pblicas e instituies compro-
metidas com a incluso e a participao. Alm disso, a construo de uma cidadania plena
incluindo-se a a tica ambiental (ecocidadania) passa a ser fundamental para esse novo
modelo de desenvolvimento. A relevncia da cidadania e da participao social no apenas
instrumental. Elas so parte integrante daquilo que temos motivo para preservar.
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EDUCAO AMBIENTAL
No pretendemos oferecer aqui uma denio nica de Educao Ambiental (EA). Em primei-
ro lugar porque seria extremamente difcil cobrir todas as facetas que ela adquiriu nos lti-
mos anos. Alm disso, no consideramos a EA como um cdigo de condutas, pois ela nasce e
se concretiza por meio da prtica discursiva.
Do histrico de aes da EA, trs vertentes podem ser identicadas: positivista, construtivista e
crtica. Os positivistas buscam enfatizar informaes ecolgicas em detrimento dos processos mergu
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Participao coletiva na limpeza de um terreno em Porto Alegre, RS
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PRINCIPAIS CONCEITOS EM EDUCAO AMBIENTAL CAMINHO DAS GUAS
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de ensino-aprendizagem, buscando a mudana de comportamentos individuais. Os cons-
trutivistas ampliam os espaos da EA trazendo a preocupao pedaggica e o cuidado na
aprendizagem. A afetividade e a corporeidade somam-se dimenso informativa, buscando
elos sociais e ecolgicos mais amplos. Por sua vez, os que realizam uma educao ambiental
crtica preocupam-se com a participao e o empoderamento dos grupos sociais, privile-
giando a emancipao e autonomia numa perspectiva mais poltica, sem contudo, negli-
genciar as informaes ecolgicas e a construo dos conhecimentos. A EA pode ser con-
siderada uma prxis educativa e social que contribui para a tentativa de implementao de
uma sociedade mais igualitria e que considera o ambiente segundo uma concepo de
incluso do ser humano em todos os processos, sendo losocamente indistinto do que se
denomina natural.
>> ALGUMAS APRENDIZAGENS: NOVAS FORMAS DE AGIR E PENSAR
Desse processo de aprendizagem, uma das lies que aprendemos que para conseguirmos
conquistar nossos objetivos, precisamos aprender a trabalhar em conjunto, ou melhor, em
rede. Para um projeto funcionar, sempre melhor contar com um grupo e as redes so grupos
de grupos, onde cada experincia passa a ter um signicado especial no somente no local
onde se desenvolve, mas para todos os integrantes dessa rede.
O ambientalismo um movimento social e tambm uma atividade poltica e a educao deve
desempenhar o papel de conviver com diferentes pontos de vista. Partindo desse princpio, a
formao de uma rede deve obedecer a sete requisitos:
1. Possuir uma arqueologia virtual interna que favorea uma radiograa do indivduo, de seus
desejos e valores, de suas potencialidades para a contribuio da coletividade;
2. Permitir a explicitao das dvidas e das incertezas, de modo a possibilitar o inesperado e
a sada de um enclausuramento terico controlado, para que se consiga trazer a limitao de
cada rea do conhecimento;
3. Estimular o dilogo, o reconhecimento de que se vive em grupo, e de que nossas verdades
no so necessariamente as mesmas e que a diversidade deve ser respeitada;
4. Estabelecer um pacto tico, que no busque nivelar as identidades, mas que fundamental-
mente consiga fazer a interlocuo entre as tenses e os conitos;
5. Agir local e globalmente, permitindo uma viso mais globalista e complexa do pensamento,
sem perder as caractersticas regionais e particularidades de cada local;
6. Cobrar e atuar para uma reviso das polticas pblicas e de sua efetividade, facilitando o
dilogo e a construo permanente de estratgias; e
7. Criar um processo de avaliao participativa que permita sempre a vericao da importn-
cia da rede e sua funo social.
As redes, inicialmente propostas por organizaes no governamentais, as ONGs, visando a
democracia e a soberania participativa, tinham como estratgia o fortalecimento de posies
atravs da universalizao dos problemas locais. Atualmente, agregam todos os setores enga-
jados em EA, inclusive os organismos governamentais.
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A Educao Ambiental deve ser vista como parte inerente do movimento social contempor-
neo de rediscusso da relao sociedade-natureza e de construo de uma cidadania ecolgi-
ca e planetria. Devemos evitar a reproduo do discurso que preconiza que a Educao a
soluo para tudo. A Educao, e a Ambiental por extenso, so elementos inseridos em um
contexto maior, que produz e reproduz as relaes da sociedade, e estas, para serem trans-
formadas, dependem de uma educao crtica e de modicaes nos planos poltico, social,
econmico e cultural. A educao um dos mais nobres veculos de mudana, a conquista de
um direito inalienvel do ser humano, mas no age isoladamente.
Tendo isso em vista, no basta que cada um faa a sua parte. Os problemas so complexos e
no derivam direta, ou exclusivamente, do indivduo. Com isso no estamos dizendo que no
importante a atuao individual, pelo contrrio. preciso que faamos nossa parte indi-
vidualmente, mas que tambm atuemos coletivamente nos mecanismos de organizao e de
incentivo s relaes produtivas do Estado, alterando-as quando necessrio.
A liberdade humana no atributo exclusivo da vontade individual. Para sermos livres e po-
dermos manifestar nossas potencialidades pessoais, preciso assegurar as bases materiais
que permitam a livre manifestao humana e para tal precisamos contar com uma sociedade
civil organizada, forte e justa.
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PRINCIPAIS CONCEITOS EM EDUCAO AMBIENTAL CAMINHO DAS GUAS
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O planeta das guasParte 1
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incontestvel: vivemos no planeta das guas! Pelo que se sabe, s o planeta Terra tem gua
em abundncia. Estamos falando da gua que ocupa cerca de 70% da superfcie terrestre.
Porm, de toda essa gua, 97,5% so de gua salgada, no sendo utilizveis para agricultura,
uso industrial ou consumo humano. Dos 2,5% de gua doce existentes, 1,7% est na forma de
geleiras e calotas polares, cerca de 0,75% de GUA SUBTERRNEA e menos de 0,01% de
GUA SUPERFICIAL.
Todos os dias ouvimos notcias alarmantes sobre o risco de escassez de gua doce no planeta.
Apesar de tal coisa dar a impresso de que a gua est acabando, a quantidade de gua do
planeta praticamente a mesma h 2 bilhes de anos. Na verdade, o que est diminuindo
a quantidade de gua boa para consumo. Os usos da gua pelo ser humano so dia a dia
mais diversos e, embora as sociedades humanas dependam dela para a sobrevivncia e para
o desenvolvimento econmico esto gradativamente consumindo mais e poluindo as guas
superciais e subterrneas. Como conseqncia, a disponibilidade da gua de boa qualidade
vem diminuindo e causando problemas em diversas regies do nosso planeta.
>>> GUA SUBTERRNEASo os chamados lenis freticos ou aqferos, as maiores reservas de gua doce dos continentes.
>>> GUA SUPERFICIALSo os rios, lagos e reservatrios.
Para se ter uma idia, h cerca de dez vezes mais gua na forma de vapor na atmosfera do que sob a forma de guas superciais.
Transporte de pessoas no rio Itiber, Baa de Paranagu, PR
24
-
Alm disso, o total global de gua retirada de rios, aqferos e outras fontes aumentou nove
vezes, enquanto o uso por pessoa dobrou e a populao cresceu trs vezes. Em 1950, as re-
servas mundiais representavam 16,8 mil m3/pessoa; atualmente esta reserva reduziu-se para
7,3 mil m3/pessoa e espera-se que venha a se reduzir para 4,8 mil m3/pessoa nos prximos 25
anos, como resultado do aumento da populao, da industrializao e da agricultura.
Cerca de 12% da gua disponvel no mundo esto no Brasil, distribudos principalmente na re-
gio Norte do pas. O gigantesco rio Amazonas, que maior do que os nove maiores rios do
mundo somados, responsvel por grande parte deste percentual de guas doces superciais.
Por outro lado, cerca de 10% do territrio brasileiro encontram-se em uma regio semi-rida,
com pequena disponibilidade hdrica devido combinao da irregularidade e da concentra-
o das chuvas em um curto perodo de tempo e grande evaporao causada pelas altas
temperaturas.
MAPA DE PRECIPITAO MDIA ANUAL (por mm)
3300
3000
2700
2400
2100
1800
1500
1200
900
600
300
O PLANETA DAS GUAS CAMINHO DAS GUAS
25
-
O CICLO DA GUA
Independentemente de onde a gua se encontre, ela natural e continuamente reciclada fa-
zendo parte de um movimento ininterrupto: o ciclo da gua ou ciclo hidrolgico.
O calor do sol promove o aquecimento das guas dos rios, lagos e oceanos e estes, juntamente
com a transpirao de plantas e animais, passam do estado lquido ao gasoso. Ao EVAPO-
RAR, esse vapor quente, mais leve que o ar, vai subindo s camadas mais altas da atmosfera.
Como nas camadas superiores da atmosfera a temperatura mais baixa do que nas camadas
inferiores, o vapor dgua, ao encontrar uma temperatura menor, esfria e se torna lquido no-
vamente (CONDENSAO), formando as nuvens. Quando as nuvens esto cheias de gotculas
de gua, ocorre a PRECIPITAO.
O CICLO DA GUA
26
-
A precipitao no ocorre apenas sob a forma de chuva. Em regies frias, a gua pode se pre-
cipitar como neve ou granizo. Entretanto, nem toda gua precipitada chega ao solo. Parte dela
evapora no caminho, voltando atmosfera para reiniciar o ciclo.
Parte da gua precipitada, quando chega ao solo, se INFILTRA, enchendo os espaos porosos
que existem entre as partculas que o compem. A gua inltrada pode car retida em cama-
das do solo mais prximas superfcie, nos lenis freticos, ou car acumulada nas camadas
mais profundas do solo, nos chamados aqferos. Estas guas que se inltraram nos solos
podem voltar superfcie, formando as nascentes dos rios.
As guas precipitadas que no se inltraram nos solos escoam pelas superfcies at as partes
mais baixas dos terrenos, formando os rios e lagos.
A precipitao no ocorre apenas sob a forma de chuva. Em regies frias, a gua pode se precipitar como neve ou granizo
Precipitao em forma de chuva na praia de Boa Viagem. Recife, PE
O PLANETA DAS GUAS CAMINHO DAS GUAS
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-
A BACIA HIDROGRFICA
As guas provenientes das chuvas e das nascentes vo, por gravidade, sendo levadas para as
partes mais baixas do terreno. Com a ao erosiva da gua, geralmente este declive vai aumen-
tando, drenando as guas de outros lugares prximos e formando pequenos crregos ou lagos.
No caso das guas correntes, as guas dos crregos vo se encontrando pelo declive do ter-
reno, formando os rios. Os rios se encontram, aumentam seu volume, at desaguarem nos
mares e oceanos (a chamada foz do rio).
No caso das guas correntes, as guas dos crregos vo se encontrando pelo declive do terreno, formando os rios
Vista geral do rio Cuiab na poca da cheia (Pantanal). Pocon, MT
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-
Este sistema, das nascentes at a foz de um rio ou a rea de drenagem de um lago, chamado
de bacia hidrogrca.
Mas, como delimitamos uma bacia hidrogrca?
A bacia hidrogrca uma rea limitada por pontos mais altos do relevo, os chamados diviso-
res de guas morros, serras ou montanhas. Uma bacia hidrogrca, em geral, possui muitas
nascentes, mas uma sada nica, o rio principal, responsvel pelo seu escoamento.
FORMAO DAS BACIAS HIDROGRFICAS
O PLANETA DAS GUAS CAMINHO DAS GUAS
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-
Os mltiplos usos da guaParte 2
-
A gua pode ser utilizada de diversas maneiras. Como uma substncia indispensvel para a
vida, seus usos principais so para a sobrevivncia das populaes humanas e o equilbrio dos
ecossistemas, incluindo-se a todas as plantas, animais e microorganismos.
A Lei 9.433 de 1997, chamada de Lei das guas, estabelece que a gesto dos recursos hdricos
deve proporcionar os usos mltiplos da gua em bacias hidrogrcas brasileiras. Alguns usos
da gua so: abastecimento para uso domstico, DESSEDENTAO de animais e conserva-
o ambiental. Outros usos da gua tambm procuram atender s necessidades dos seres
humanos, como a gua para agricultura (irrigao), para aumentar e garantir a produo de
alimentos, para a indstria, produo de energia eltrica atravs das hidreltricas e navegao
para transporte de produtos e pessoas. Em caso de escassez de gua, o consumo humano e a
dessedentao de animais so considerados prioritrios pela lei brasileira.
>>> DESSEDENTAOTermo utilizado para denir o consumo de guas pelos animais.
USOS MLTIPLOS DA GUA
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-
Os usos que consomem a gua so chamados USOS CONSUNTIVOS, ou seja, so os que redu-
zem o volume da gua de rios, lagos e de gua subterrnea. Por exemplo, so usos consuntivos
o abastecimento humano, a dessedentao de animais, a irrigao e o uso industrial.
H tambm os usos que no consomem diretamente a gua. Estes so chamados USOS NO
CONSUNTIVOS. So eles: os usos para lazer, navegao e gerao de energia.
USOS CONSUNTIVOS DA GUA
>> ABASTECIMENTO DE GUA PARA CONSUMO HUMANO
O sistema de abastecimento de gua para consumo humano constitudo de trs compo-
nentes: MANANCIAL ou fonte de gua, estao de tratamento de gua e rede de distribuio
na cidade.
Cerca de 35% da populao brasileira so abastecidos pelos mananciais subterrneos, geral-
mente em cidades pequenas. Porm, o uso mais freqente o dos mananciais superciais,
pela maior facilidade de obteno da gua.
Nas cidades, em geral, a gua que vem dos mananciais canalizada para uma Estao de Tra-
tamento de gua (ETA), onde so retiradas as impurezas da gua para garantir padres ade-
quados ao uso humano. A partir da ETA, a gua distribuda na cidade por meio de uma rede
subterrnea de condutos de gua. Dependendo do tamanho da populao, podero existir v-
rias ETAs alimentando diferentes redes. Prximo s ETAs existem reservatrios que permitem
armazenar gua tratada e regularizar o atendimento da demanda da cidade, demanda esta
que varia ao longo do dia e dos dias da semana.
A cobertura da populao com gua tratada no Brasil de 92,4%, com maior proporo nas
reas urbanas. O servio realizado por empresas municipais, estaduais ou privadas. No Bra-
sil, 82% da populao atendida por servios estaduais e o restante atendido por empresas
municipais e privadas.
>>> MANANCIALO termo manancial de guas est associado a fontes de gua utilizadas para atender ao consumo humano. Podem ser superciais, como em rios, lagos e reservatrios, ou subterrneos, isto , guas encontradas no subsolo.
USOS DA GUA NO BRASIL
OS MLTIPLOS USOS DA GUA CAMINHO DAS GUAS
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O CUSTO DA GUA
Em municpios brasileiros com mananciais bem conservados, com matas ciliares e com pouco ou nenhum grau de contaminao agrcola, o custo do tratamento da gua de R$ 0,80 por cada mil m3 (ou um milho de litros).
J para as guas de mananciais deteriorados, com alta concentrao de matria orgnica e contaminao qumica e/ou agrcola, o custo do tratamento chega a R$ 40 por mil m3.
Vista geral do reservatrio de Salespolis, SP
Mata Ciliar num trecho do rio So Francisco. Piaabucu, AL
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Um grave problema no Brasil a grande perda de gua na rede, da ordem de 40%, causada
pela falta de manuteno das tubulaes e pela prtica criminosa de roubo de gua da rede
(os chamados gatos). Isto gera desperdcio e compromete a qualidade da gua que chega
ao consumidor. Alm disso, com o aumento do consumo, novas fontes de gua devem ser
utilizadas, aumentando os impactos ambientais e os custos para o consumidor que paga
suas contas.
PROCESSO DE CAPTAO, ARMAZENAMENTO E DISTRIBUIO DE GUA PARA AS RESIDNCIAS
Um grave problema no Brasil a grande perda de gua na rede, da ordem de 40%, causada pela falta de manuteno das tubulaes e pela prtica criminosa de roubo de gua da rede
OS MLTIPLOS USOS DA GUA CAMINHO DAS GUAS
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>> IRRIGAO
A irrigao utilizada na agricultura para suprir de gua a plantao, sendo a garantia da
produtividade agrcola, independente da pluviosidade de um determinado ano. Em todo o
mundo (e tambm no Brasil), a agricultura a atividade que demanda a maior quantidade de
gua, cando em nveis prximos a 70% do uso da gua.
Para se ter uma idia, um hectare de irrigao de arroz por inundao pode consumir o equi-
valente ao consumo de 800 pessoas na cidade. As tecnologias modernas em irrigao podem
reduzir o consumo da gua em 50% com relao aos mtodos tradicionais.
Os mtodos mais comuns de irrigao so por inundao e por asperso, quando a gua chega
por condutos e depois distribuda por jatos de gua ou por gotejamento, em que os sistemas de
captao e distribuio levam apenas a quantidade de gua necessria para manter saudvel a
plantao.
A irrigao por inundao e por asperso tm m relao custo/benefcio, uma vez que os gas-
tos com energia so altos a gua deve ser captada e bombeada e geram inecincia, pois
ambos os mtodos desperdiam muita gua por evaporao. J o mtodo por gotejamento,
embora tenha custos mais altos de implementao, uma alternativa mais vivel no longo
prazo, alm de ser menos danoso para os rios e audes por demandar menos gua. Porm, h
que se considerar que nem todo cultivo permite a utilizao de sistemas de gotejamento.
No Brasil, boa parte da agricultura no utiliza sistemas de irrigao. Dos mais de 70 milhes
de hectares cultivados, cerca de 3,5 milhes so irrigados. No entanto, a irrigao feita, em
grande parte, segundo os mtodos menos ecientes: 53% por inundao e 38% por asperso.
Apenas uma pequena parcela das plantaes no Brasil utiliza irrigao por gotejamento. Com
o aumento das fronteiras agrcolas, sobretudo no chamado ARCO DO DESMATAMENTO na
regio de transio Cerrado/Amaznia, a tendncia o aumento da demanda por gua. As
estimativas so de que, at 2050, a rea irrigada no Brasil chegue a 24 milhes de hectares.
>>> ARCO DO DESMATAMENTOrea de expanso agrcola no Brasil, onde extensas reas vm sendo desmatadas para novas plantaes, sobretudo de soja. Vai de Rondnia ao Maranho, passando pelos estados do Mato Grosso, Tocantins e Par.
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>> ABASTECIMENTO ANIMAL
O abastecimento animal corresponde a cerca de 5% do consumo de gua no pas e impor-
tante sobretudo na rea rural onde se concentra a maior parte dos rebanhos.
No Brasil, como a maioria dos rebanhos de gado no connada, no existem sistemas de
coleta e distribuio e os animais utilizam a gua de rios ou audes. J no caso das grandes
criaes de porcos e frango, o abastecimento constante e necessita de instalaes especiais.
Cerca de 93% do consumo animal so devidos ao rebanho bovino, sendo que os maiores reba-
nhos esto na regio Centro-Oeste.
Para engordar 1 quilo, uma vaca necessita de 10 a 14 kg de gros.
Uma vaca leiteira necessita beber cerca de 4 litros de gua por dia para produzir um litro de leite.
ARCO DO DESMATAMENTO
Arco do desenvolvimento sustentvel
Antropismo
Limites dos estados
Limite Amaznia Legal
rea de extrema importncia
rea de muito alta importncia
Novas reas identicadas pelos grupos regionais
OS MLTIPLOS USOS DA GUA CAMINHO DAS GUAS
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A questo que as criaes animais no consomem apenas gua para beber. A produo de
carne e derivados requer gua de outras formas indiretas. Atualmente, no mundo todo, cerca
de dois teros da rea plantada (equivalente a 1 bilho de hectares) destina-se produo de
rao animal. S o gado consome metade desses gros.
>> USO INDUSTRIAL
A rede de abastecimento de gua das cidades atende s residncias, ao comrcio e s inds-
trias. O setor industrial um dos que mais consome gua. Algumas indstrias so to seden-
tas que possuem sistema de abastecimento prprio.
Quase todas as indstrias necessitam de gua que pode ser utilizada no sistema de limpe-
za, para refrigerao ou no processo produtivo. O consumo de gua alto em muitos casos.
Por exemplo, para a produo de 1 quilo de papel so necessrios de 30 a 200 litros de gua.
O DESAFIO DA IRRIGAO NO TERRITRIO BRASILEIRO
A regio semi-rida brasileira tem um grande desao no que se refere sustentabilidade: a perda de gua por evapotranspirao chega a 3.500 mm anuais para uma precipitao da ordem de 250 a 600 mm.
Estados como o Cear tm 60% do seu territrio com formao cristalina, onde o aqfero praticamente no existe. Em muitas regies, como no serto pernambucano, a gua do subsolo salobra, o que inviabiliza seu uso sem dessalinizador, equipamento muito dispendioso. Este j um problema real em uma rea de 15 mil hectares nessa regio. S na bacia do rio So Francisco h cerca de 2.000 hectares salinizados. Nas reas mais distantes de rios e lagos perenes, a agricultura passa a ser um exerccio de persistncia e de alto custo.
Nas regies Sul e Sudeste, o uso da irrigao ainda depende de reduo de custos para a maioria das culturas, exceo do arroz por inundao no Sul. Grande parte do setor agrcola prefere assumir os riscos quanto s estiagens prolongadas, que ocorrem somente em alguns anos, do que investir em irrigao. Alm disso, h srios conitos no que diz respeito ao uso da gua para agricultura ou para o abastecimento humano, principalmente quando a demanda muito alta como na irrigao de arroz por inundao. A soluo desse tipo de conito passa pelo aumento da ecincia dos sistemas de irrigao e pelo gerenciamento adequado dos euentes agrcolas quanto contaminao.
Vista da estao de tratamento de esgotos (ETE) de Barueri, SP
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O consumo tambm alto na produo de bebidas e alimentos (para 1 litro de cerveja so
necessrios de 4 a 12 litros de gua; para a produo de 1 quilo de leite em p ou de queijo so
necessrios de 3 a 5 litros de gua).
O principal impacto dessas atividades a reduo da quantidade de gua dos rios e lagos, pela
captao, e a piora da qualidade da gua em funo do lanamento de euentes parcialmente
tratados ou no tratados.
Atualmente existe uma prtica importante de REUSO da gua industrial visando reduzir esses
impactos. O reuso da gua na indstria busca reduzir o consumo de gua, diminuir o retorno
de EFLUENTES para o sistema uvial e diminuir os custos nais do uso e tratamento da gua.
>>> EFLUENTE o rejeito lquido gerado pelas residncias (esgotos domsticos) ou indstrias (euente industrial).
>>> REUSOPrtica moderna para racionalizar o consumo de guas. Como o nome diz, a reutilizao das guas por um empreendimento ou residncia (por exemplo, guas usadas no processo produtivo podem ser reusadas para resfriar caldeiras; guas usadas aps o banho podem ser usadas no vaso sanitrio).
RACIONALIZAO DO USO DA GUA
Existem vrias medidas de racionalizao do uso da gua que integram os principais usos consuntivos. Estas medidas podem atuar sobre o consumo, sobre as perdas no sistema de distribuio e no reuso.
O consumo pode ser reduzido utilizando-se equipamentos adequados e lanando-se mo da educao. Um exemplo de que possvel economizar atravs da racionalizao do uso ocorreu na cidade de Nova York, no incio da dcada de 1990. A cidade teve uma crise de abastecimento de gua e necessitava de mais 340 milhes de litros de gua a cada dia, cerca de 7% do uso total da cidade. A alternativa era gastar US$ 1 bilho para bombear gua do rio Hudson, aumentando os impactos ambientais a esse ecossistema, mas a cidade optou pela reduo da demanda.
Em 1994, foi iniciado um programa de racionalizao, com investimento de US$ 295 milhes, para substituir 1/3 de todas as instalaes dos banheiros da cidade. Todos os vasos sanitrios que consumiam cerca de 20 litros por descarga, foram substitudos por outros de 6 litros. Em 1997, quando o programa terminou 1,33 milho de dispositivos foram substitudos em 110.000 edifcios com 29% de reduo de consumo de gua por edifcio, reduzindo o consumo em cerca de 300.000 m3 por dia.
A racionalizao nas perdas na distribuio envolve o uso de tecnologia, de materiais adequados e manuteno das redes existentes. J est claro para os gestores que os custos com a preveno de problemas so muito mais baixos do que os custos para resolver o problema depois que se instalou.
Quanto ao reuso, este pode ser indireto, quando a gua j usada uma ou mais vezes em casas ou indstrias descarregada nas guas superciais ou subterrneas e utilizada novamente; ou direto, quando o uso planejado e deliberado de esgotos tratados praticado na irrigao ou uso industrial; e ainda h a reciclagem interna, que o reuso de gua internamente em instalaes industriais, para econo-mizar gua e controlar a poluio.
OS MLTIPLOS USOS DA GUA CAMINHO DAS GUAS
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-
USOS NO CONSUNTIVOS DA GUA
>> ENERGIA ELTRICA
A energia eltrica pode ser produzida por meio da dinmica da gua, quando esta movimenta
as turbinas de uma hidreltrica. A energia produzida medida em MWh e depende de duas
variveis: a vazo de gua do rio e a diferena de nvel entre o nvel da gua no reservatrio
e no rio depois da barragem. A construo de barragens importante para regular o nvel de
gua para a hidreltrica, garantindo a gerao de energia mesmo em pocas mais secas.
A energia eltrica distribuda pelas regies do Brasil graas s linhas de transmisso, que
saem das usinas hidreltricas e chegam aos centros consumidores de energia, a longas
distncias.
>>> MWhMegawattshora; Mega equivale a 1 milho, e Watts uma unidade de medida de energia.
Para se ter uma idia de sua amplitude, o consumo mdio per capita por ano no Brasil de 1,55 MWh (ou 1.550 kWh = Quilowattshora)
Usina hidreltrica de Trs Marias, MG
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A GERAO DE ENERGIA E AS LINHAS DE TRANSMISSO
A Usina Hidreltrica de Itaipu Binacional a maior do mundo em capacidade de gerao de energia eltrica. Construda no rio Paran, na fronteira entre Brasil e Paraguai, gera 89,1 milhes MWh, cerca de 25% da energia consumida em todo o Brasil.
Embora a usina se localize, na parte brasileira, na cidade de Foz do Iguau, no Paran, a energia no abastece esta cidade e sim enviada por quilmetros e quilmetros, por meio das linhas de transmisso, principalmente para abastecer So Paulo e Rio de Janeiro, os maiores centros urbanos brasileiros e, portanto, maiores consumidores de energia do pas.
A crise no fornecimento de energia ocorrida em 2001 no Brasil foi causada pela conjugao de um perodo crtico de chuva na regio Sudeste e de um mau planejamento do setor energtico, que no teve investimen-tos sucientes para a construo de novas linhas de transmisso. Naquele momento, a regio Sul estava com os reservatrios cheios, enquanto a regio Sudeste estava passando por um perodo longo de estiagem. Ou seja, havia possibilidade de gerao de energia, mas no havia linhas de transmisso para levar a energia para onde a demanda era mais alta.
PROCESSO DE GERAO DE ENERGIA HIDRELTRICA
OS MLTIPLOS USOS DA GUA CAMINHO DAS GUAS
41
-
O Brasil muito dependente das hidreltricas, j que em mdia 84% da gerao de energia
eltrica vm dessas fontes. O pas um dos maiores produtores de energia hidreltrica, com
10% da produo mundial. Porm, o sistema est no limite de atendimento da demanda. Os
investimentos no setor, desde 1985, foram insucientes, tornando o sistema vulnervel s va-
riaes climticas anuais (secas e cheias).
Se bem planejada, a hidreletricidade uma das formas menos impactantes de gerao de
energia. No entanto, a construo de grandes hidreltricas no deixa de gerar impactos am-
bientais e sociais, principalmente em funo dos alagamento de grandes reas de cobertura
vegetal e pela necessidade, muitas vezes, de deslocamento de grande nmero de pessoas.
Alm disso, apesar de no ser considerado um uso consuntivo, pode-se ter, em regies ridas
e semi-ridas, a reduo de at 25% da gua pela evaporao ocorrida no reservatrio. Ou seja,
mesmo no havendo consumo direto, a gerao de energia por hidreltricas pode reduzir a
quantidade de gua dos rios.
O Brasil muito dependente das hidreltricas, j que 84% da gerao de energia vm dessas fontes
Vertedouro da Usina Hidreltrica de Itaipu. Foz do Iguau, PR
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Mas no so apenas as grandes hidreltricas que produzem energia. No Brasil, cada vez mais
freqente a construo de pequenas centrais hidreltricas para o atendimento de demandas
especcas. Outra estratgia a de diversicar as fontes de gerao de energia, de forma a
tornar os pases menos vulnerveis a problemas associados ao abastecimento por uma fonte
de energia eltrica preponderante.
Represa Tapacur. So Loureno da Mata, PE
OS MLTIPLOS USOS DA GUA CAMINHO DAS GUAS
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-
>> NAVEGAO
O transporte de pessoas ou de cargas feito nas chamadas hidrovias, caminhos navegveis
dos rios de mdio a grande porte. O potencial das hidrovias no Brasil enorme, mas o pas
nunca deu prioridade a este tipo de transporte, preferindo as rodovias.
Atualmente, a navegao nos rios ainda limitada, concentrando-se, sobretudo, nos da regio
Norte, onde h grandes rios navegveis (Amazonas e seus auentes) e a rede de estradas e
ferrovias precria.
Vista de uma chata, Hidrovia Tiet-Paran. Nova Avanhandava, SP
Detalhe de pesca artesanal realizada em Santo Amaro do Maranho, MA
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O crescimento da produo agrcola brasileira, que passou de 120 milhes de toneladas de
gros (representando 8% da produo mundial), um dos maiores impulsionadores do uso
das hidrovias no Brasil. A grande produo, principalmente de soja dos estados da regio Cen-
tro-Oeste, vem sendo exportada pelo rio Madeira, passando ao rio Amazonas e da para o
oceano Atlntico e seus portos de destino mundo afora.
>> PESCA E AQICULTURA
A AQICULTURA cresceu muito nos ltimos 15 anos no Brasil, atingindo uma produo de
quase 270 mil toneladas em 2004. Ainda assim, existe um grande potencial de crescimento
para o setor. A sustentabilidade e o potencial de gerao de renda e incluso social da ati-
vidade dependem, dentre outros fatores, do acesso gua com qualidade adequada para o
crescimento e posterior mercado de consumo dos organismos cultivados.
A carcinicultura (produo de camaro em cativeiro) vem sendo muito utilizada nas zonas
costeiras das regies Norte e Nordeste. Essa atividade vem recebendo investimentos, pois tem
sido uma boa alternativa de emprego e renda principalmente para pequenas comunidades ri-
beirinhas e litorneas. No entanto, os impactos ambientais dessas atividades so preocupan-
tes, em funo da destruio de ecossistemas como os manguezais, da grande quantidade de
nutrientes lanados na gua, do aumento de sedimentos nos corpos de gua e da poluio
gentica, causada por cruzamentos entre as espcies cultivadas e nativas.
Os dados sobre a pesca no Brasil apontam mais de 1 milho de toneladas de pescado por ano,
percentual que abastece o mercado nacional e rende 400 mil dlares/ano em exportaes. A
grande maioria do pescado retirada do oceano Atlntico, mas h uma parcela retirada dos rios,
principalmente nas regies Norte (rio Amazonas e auentes) e Centro-Oeste (Pantanal e rios).
A falta de linhas de nanciamento para as comunidades pesqueiras ribeirinhas reduz a pesca
artesanal nos rios, que sofre tambm com a degradao dos cursos de gua, assoreamento e
uso excessivo e descoordenado de gua por outros grandes usurios.
>>> AQICULTURA o cultivo de organismos aquticos como peixes, crustceos e moluscos, para consumo humano.
OS MLTIPLOS USOS DA GUA CAMINHO DAS GUAS
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Vista geral da Represa do Camorim. Parque Estadual da Pedra Branca, RJ
Importante remanescente do Bioma Mata Atlntica
>> CONSERVAO DA FAUNA E FLORA
A manuteno das orestas e de outros tipos de vegetao originais propicia a conservao
da biodiversidade, alm de alternativas econmicas de explorao sustentvel dos recursos
naturais. Em uma bacia hidrogrca, a cobertura orestal contribui de modo decisivo para
regularizar a quantidade de gua dos cursos dgua, para aumentar a capacidade de armaze-
namento de gua nas microbacias, reduzir a eroso, diminuir os impactos das inundaes e
manter a qualidade da gua e a vida aqutica.
O Plano Nacional de Recursos Hdricos ressalta trs conceitos essenciais para o desenvolvi-
mento de polticas relacionadas com a conservao da biodiversidade no Brasil: Bioma, Ecor-
regio e Biorregio.
> Bioma um conjunto de vida (vegetais, animais e microorganismos) constitudo pelo agru-
pamento de tipos de vegetao contguos e identicveis regionalmente, com condies
geoclimticas similares e histria compartilhada de mudanas, resultando em diversidade
biolgica prpria. O bioma consiste na unidade biolgica de maior extenso geogrca, com-
preendendo vrios ecossistemas em diferentes estgios de evoluo e tendo como elemento
de unio o tipo de vegetao dominante. Com base nessas caractersticas so denidos seis
biomas no Brasil: Amaznia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlntica, Pantanal e Pampa.
Vegetao de Caatinga, outro importante bioma brasileiro, em Petrolina, PE
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> Ecorregio conjunto de comunidades naturais que compartilham a maioria das espcies,
com dinmicas, processos ecolgicos e condies ambientais similares, mas que so geogra-
camente distintas das demais ecorregies. Em 2003, o Brasil deniu 25 ecorregies aquticas,
compreendendo as principais bacias hidrogrcas do pas por suas caractersticas peculiares.
> Biorregio unidade territorial de planejamento, incluindo os sistemas ecolgicos e as po-
pulaes humanas residentes. So extensas o bastante para manter a integridade das comu-
nidades biolgicas, hbitats e ecossistemas, e pequenas o suciente para serem facilmente
reconhecidas pela sociedade que nelas viver. A Biorregio um espao geogrco identicado
por comunidades locais, agncias governamentais e entidades cientcas interessadas em ga-
rantir a sustentabilidade de seu processo de desenvolvimento, o que inclui fragmentos de um
ou vrios ecossistemas e caracteriza-se por sua cultura humana e sua histria.
Geralmente, para a denio dessas categorias levam-se em considerao sobretudo as for-
maes vegetais. Por isso, em cada uma delas h ecossistemas aquticos bastante diferencia-
dos, como lagos, rios, vrzeas, lagoas costeiras, brejos e banhados, que comportam parte da
rica biodiversidade brasileira.
mergu
lhem
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rg.b
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A manuteno das orestas e de outros tipos de vegetao originais propicia a conservao da biodiversidade, alm de alternativas econmicas de explorao sustentvel dos recursos naturais
BIOMAS BRASILEIROS
Regies hidrogrcas
Bioma Amaznia
Bioma Cerrado
Bioma Caatinga
Bioma Pantanal
Bioma Mata Atlntica
Bioma Pampa
OS MLTIPLOS USOS DA GUA CAMINHO DAS GUAS
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-
BIORREGIES BRASILEIRAS
ECORREGIES AQUTICAS BRASILEIRAS
Amaznia
Norte da Amaznia
Central da Amaznia
Sul do Amazonas
Centro da Amaznia
Costa
Central Mata Atlntica
Serra do Mar
Amaznia
Cerrado
Caatinga
Pampa
Mata Atlntica
Pantanal
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Os dados sobre a fauna aqutica brasileira indicam a importncia desses ecossistemas para a
biodiversidade mundial. Na bacia amaznica, os rios de guas claras, brancas e pretas e suas
plancies de inundao abrigam cerca de 1.300 espcies de peixes (30% das espcies de peixes
de rios do mundo), sendo a maior parte ENDMICA. A diversidade de peixes no Cerrado e no
Pantanal tambm alta: estima-se que existam cerca de 780 espcies nesses biomas. E at
na Caatinga, onde predomina o clima semi-rido e h vrios rios que secam em uma parte do
ano, encontram-se 185 espcies de peixes, das quais 57% so endmicas.
A conservao da fauna e ora fundamental para a manuteno dos processos ecolgicos
que ocorrem nos ambientes aquticos. Alm disso, tanto a fauna quanto a ora aqutica
constituem uma fonte imprescindvel de alimento e outros recursos para os seres humanos.
A conservao desta biodiversidade depende da garantia de gua em quantidade e qualidade
adequadas para seu crescimento e manuteno.
Apesar da reconhecida importncia da conservao de fauna e ora aquticas, ainda h pou-
cas pesquisas sendo desenvolvidas no Brasil e ainda menor a aplicao dos conhecimentos
gerados nessas pesquisas pelos gestores pblicos e privados.
>>> ESPCIE ENDMICAAquela restrita a um local ou regio.
Matrinchs (Brycon matrinchao). So Jos do Rio Claro, MT
OS MLTIPLOS USOS DA GUA CAMINHO DAS GUAS
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>> TURISMO E LAZER
Em sintonia com as tendncias internacionais, a indstria do turismo tem crescido no Brasil e
est direta ou indiretamente relacionada aos recursos hdricos. As Cataratas do Iguau, os Len-
is Maranhenses, o rio Amazonas, o Pantanal, o rio So Francisco e os diversos reservatrios
apresentam grande potencial turstico e de lazer em funo de suas guas, seja pela beleza ou
para a prtica de esportes aquticos. As praias e esturios do litoral do Nordeste e do Sudeste
completam esse potencial.
Segundo informaes contidas no Plano Nacional de Recursos Hdricos, o turismo das guas
apresenta, no Brasil, um crescimento mediano, principalmente em funo da falta de infra-
estrutura, das desigualdades sociais e da pobreza.
Vista geral das Cataratas do Parque Nacional do Iguau. Foz do Iguau, PR
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Paisagem dos Lenis Maranhenses, MA
Rio So Francisco, Juazeiro, BA
OS MLTIPLOS USOS DA GUA CAMINHO DAS GUAS
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Gesto inadequada das guas e eventos crticos
Parte 3
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A m gesto no uso das guas tem gerado grandes conseqncias para a qualidade e a quan-
tidade da gua, para a fauna e ora aquticas e para o funcionamento dos ecossistemas, alm
de gerar graves efeitos sobre a sade humana.
Alguns dos principais impactos so o desmatamento das matas ribeirinhas, a minerao (que
altera fsica e quimicamente os ecossistemas aquticos), a extino de espcies locais e a in-
troduo de espcies exticas (que alteram o equilbrio natural dos ecossistemas) e o lana-
mento de rejeitos resultantes de atividades agrcolas (fertilizantes e agrotxicos), industriais
e domsticos.
Estes impactos podem gerar conseqncias diretas e indiretas sobre os ecossistemas aquti-
cos. Por exemplo, o assoreamento (soterramento de lagos e rios) gerado pelo uso inadequado
do solo e pelo emprego de prticas agrcolas antiquadas. A eutrozao (aumento da quan-
tidade de nutrientes nas guas, seja de origem natural ou cultural) pode produzir a prolifera-
o indesejada de algas, cianobactrias e plantas aquticas, alm do aumento de doenas de
veiculao hdrica.
CIANOBACTRIAS OU CIANOFCEAS
Nos ltimos 15 anos tm ocorrido, praticamente em todo o mundo, problemas que afetam lagos e reservatrios e se constituem em alto risco sade humana: so as chamadas oraes de cianobactrias ou cianofceas.
Estes organismos, tambm conhecidos popularmente como algas azuis, so muito semelhantes s bactrias (so procariontes), mas fazem fotossntese, produzindo oxignio. Existem em praticamente todos os ambientes de gua doce e, por si ss, no constituem um problema.
A alta concentrao de nutrientes (eutrozao) em ambientes aquticos pode proporcionar a proliferao de cianobactrias (orao). Tais organismos, ao morrer, liberam toxinas que podem atacar o fgado (hepatotoxinas) ou o sistema nervoso (neurotoxinas) de seres humanos e outros animais. Ou seja, o problema ocorre quando h a morte de muitas dessas algas, liberando as toxinas na gua.
A principal causa da proliferao dessas algas a entrada de esgotos e fertilizantes de origem agrcola, mas tambm elas podem ser provenientes de reservatrios aparentemente protegidos de poluio.
A maior tragdia no Brasil ocorreu na cidade de Caruaru, PE, em fevereiro de 1996, quando a contaminao vitimou cerca de cem pacientes de uma clnica de hemodilise e o sangue foi contaminado por gua com a presena de cianobactrias.
Hoje, o controle das algas nos reservatrios de abastecimento, com a remoo das cianobactrias nas esta-es de tratamento de gua um srio desao.
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RELAO ENTRE GUA E SADE HUMANA
A relao entre gua e sade vem se tornando cada vez mais complexa com o crescimento
demogrco, a ocupao desordenada e a aglomerao populacional em grandes cidades e
no entorno dos corpos dgua.
Nos ltimos cem anos, a populao mundial triplicou, enquanto o consumo de gua cou seis
vezes maior. Essa incrvel demanda faz com que novas fontes de gua sejam exploradas con-
tinuamente e que 1,3 bilho de pessoas no mundo no tenham acesso gua potvel.
No Brasil no tem sido diferente. Em 1940, a populao brasileira era de 40 milhes de habi-
tantes, dos quais 12,8 milhes viviam em ncleos urbanos, enquanto a maioria da populao
vivia na zona rural. Sessenta anos depois, a populao brasileira aumentou 4,5 vezes e a rela-
o inverteu-se: em 2000, mais de 80% da populao brasileira viviam nas cidades.
O fato de existirem mais pessoas requer mais gua, o que pressiona os recursos hdricos prxi-
mos. Alm disso, esta expanso no planejada muitas vezes ocorre em reas de mananciais
de abastecimento humano, produzindo euentes que so lanados sem tratamento nos rios
e crregos, inviabilizando o uso destas guas.
DADOS DA FALTA DE SANEAMENTO E TRATAMENTO DE RESDUOS SLIDOS NO BRASIL
Mais de 80% dos esgotos no Brasil so lanados sem tratamento em rios, lagos e no mar;60 milhes de brasileiros no tm acesso a saneamento bsico;3,4 milhes de residncias no tm gua encanada, o que atinge 15 milhes de brasileiros;1/3 dos municpios com menos de 20.000 habitantes no tem gua tratada;16 milhes no possuem coleta de lixo;64% dos municpios brasileiros depositam o lixo coletado em lixes a cu aberto.
Exemplo de poluio por proliferao de algas txicas em Americana, SP
GESTO INADEQUADA DAS GUAS E EVENTOS CRTICOS CAMINHO DAS GUAS
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Como cerca da metade da populao mundial no tem acesso a tratamento de esgotos do-
msticos, a falta de saneamento , sem dvida, o principal problema a ser enfrentado, so-
bretudo nos pases em desenvolvimento. Nesses pases, as doenas relacionadas com a gua
respondem por 90% de todas as doenas infecciosas que acometem a populao, e pelo me-
nos 4 milhes de pessoas morrem a cada ano por doenas de veiculao hdrica.
PRINCIPAIS DOENAS VEICULADAS PELA GUA
Os principais agentes causadores das doenas veiculadas pela gua so os protozorios
(amebase e giardase), as bactrias (leptospirose, clera, febres tifide e paratifide) e os
vrus (hepatite infecciosa). Outras so transmitidas diretamente por organismos VETORES
ou indiretamente atravs de HOSPEDEIROS que se desenvolvem na gua e cujos agentes
PATOGNICOS podem viver ou no na gua (como a esquistossomose causada pelo verme
Schistosoma mansoni que se aloja no corpo do hospedeiro intermedirio, o caramujo do gne-
ro Biomphalaria; a malria, causada pelo protozorio do gnero Plasmodium que transmiti-
do pela picada do vetor, o mosquito do gnero Anopheles; e a dengue causada pelo vrus que
transmitido pela picada do vetor, o mosquito do gnero Aedes).
>>> VETOROrganismo que inocula o agente patognico, em geral por meio de picada. Os vetores mais comuns so os insetos que se alimentam de sangue.
Nos casos citados no texto, trata-se da larva do vetor que vive na gua. O agente patognico transmitido quando o inseto pica algum infectado e em seguida pica outra pessoa ou animais.
>>> HOSPEDEIROEnquanto esto infectados, os seres humanos so hospedeiros de diversos parasitas (vrus, bactrias etc.). O mesmo ocorre com os animais.
>>> AGENTE PATOGNICO o ser vivo que causa uma doena nas pessoas ou animais.
Esgoto a cu aberto. Vila Jacu, SP
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Alm das doenas citadas, a gua pode provocar alteraes na sade, caso no possua alguns
minerais na dose necessria. O bcio ou papo se adquire quando a gua utilizada no tem
iodo. O ndice de cries dentrias pode ser reduzido com a adio do or na gua. Tambm
pode ocorrer intoxicao se a gua utilizada contiver algum produto txico, como, por exem-
plo, o arsnico.
Para evitar tais problemas, a gua destinada ao consumo deve ser sempre convenientemente
tratada. Alm disso, deve-se evitar qualquer contato com focos de gua poluda. O problema
maior para a populao menos favorecida, que vive s margens dos crregos, rios e canais
poludos na periferia das cidades.
Todos so co-responsveis por sua boa sade. Assim, preciso tomar alguns cuidados para
proteg-la: lavar a caixa dagua a cada seis meses, no deixar acumular gua em latas, vidros
e pneus e evitar usar gua de crregos (mas se tiver que us-la, tentar ferv-la e/ou coloc-la
em um ltro antes de beb-la). Os cuidados com a higiene pessoal e com a limpeza da casa
tambm so fundamentais para reduzir o risco de adoecimento.
EVENTOS CRTICOS
Os chamados eventos crticos, inundaes e secas, podem ocasionar problemas em larga es-
cala para as populaes humanas e os ecossistemas. As inundaes costumam ocorrer por
efeito de fortes chuvas que, por sua vez, causam o aumento dos rios, ou como consequncia
da urbanizao nas cidades, que acarreta a impermeabilizao do solo. As secas acontecem
quando h perodos longos sem precipitao. Esses eventos tendem a ocorrer naturalmente
em uma regio, mas a ao humana pode aumentar sua freqncia e/ou intensic-los.
O desmatamento de grandes extenses de orestas, por exemplo, desregula o clima da regio,
aumentando as secas e/ou inundaes.
INVESTIR EM SANEAMENTO
O retorno social bvio: para cada real investido em saneamento bsico economiza-se quatro reais em gastos com a sade e a populao vive melhor.
GESTO INADEQUADA DAS GUAS E EVENTOS CRTICOS CAMINHO DAS GUAS
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>> SECAS
No semi-rido brasileiro, as irregularidades dos ciclos anuais das chuvas e estiagens, associa-
das pluviosidade mdia anual abaixo de 800 mm e grande evaporao por causa das altas
temperaturas, fazem com que muitos crregos e rios sequem nas estiagens mais prolonga-
das. Isso gera srios impactos econmicos e sociais s populaes que habitam a regio.
Embora a maior incidncia de secas ocorra no Nordeste, isso no exclusividade dali. Eventos
similares tm sido cada vez mais comuns no Sul do pas nos ltimos anos, assim como houve
uma forte estiagem na regio Amaznica no segundo semestre de 2005.
Deserticao. Manoel Viana, RS
Transporte de gua. Umirim, CE
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Outro dado importante foi fornecido pela Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico, revelando
que 19% dos 9.848 distritos brasileiros abastecidos, de Norte a Sul do pas, tm que racionar
gua em algum momento do ano, seja pela seca/estiagem ou devido ao alto nvel de poluio
dos corpos dgua.
Embora a maior incidncia de secas ocorra no Nordeste, isso no exclusividade desta regio. Eventos similares tm sido cada vez mais comuns no Sul do pas nos ltimos anos
GRFICOS DE PLUVIOSIDADE EM DIFERENTES REGIES BRASILEIRAS
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GESTO INADEQUADA DAS GUAS E EVENTOS CRTICOS CAMINHO DAS GUAS
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>> INUNDAES
Principalmente nas cidades, onde h maiores densidades populacionais e alto nvel de imper-
meabilizao dos solos, as enchentes so problemas graves. Como no h como prever com
grande antecedncia a quantidade de chuvas e seus efeitos sobre ao aumento do volume dos
rios, as populaes esto, de alguma forma, sujeitas a estes riscos.
A forma encontrada de minimizar os danos potenciais causados pelas inundaes tem sido o
uso de estatsticas de vazes do passado, como indicador para se calcular a probabilidade da
mesma ocorrncia no futuro. Com base nesses dados, os gestores das cidades podem buscar
formas de prevenir maiores danos. No entanto, as cidades geralmente no esto preparadas
para chuvas fora deste padro normal histrico.
Vista geral dos danos causados por enchentes, PR
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Nas cidades, onde h maiores densidades populacionais e alto nvel de impermeabilizao dos solos, as enchentes so problemas graves
Enchente na cidade. Unio da Vitria, PR
Rua alagada aps a chuva. So Paulo, SP
GESTO INADEQUADA DAS GUAS E EVENTOS CRTICOS CAMINHO DAS GUAS
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Prticas sustentveis nas bacias hidrogrcas
Parte 4
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O caminho para um desenvolvimento sustentvel est no aprimoramento de aes que per-
mitam utilizar o sistema aqutico e sua bacia sem prejudicar a sociedade ou os ecossistemas
existentes.
No incio do sculo XXI, a Organizao das Naes Unidas (ONU) deniu as metas do milnio
visando a reduo da pobreza, e tem na gua e saneamento um dos focos principais. Estas
metas foram consolidadas na Rio+10, e discutidas na 3a Conferncia Mundial da gua em Kyo-
to, em 2003, e na 4a Conferncia Mundial da gua do Mxico, em maro de 2006.
Em sntese, essas metas, no mbito da gua, estabelecem que se deva procurar reduzir pela
metade o nmero de pessoas sem gua potvel e saneamento bsico at 2015. Alguns dos
principais desaos esto na implementao de prticas sustentveis para os meios urbano e
rural, para a gerao de energia e navegao.
A Dcada Brasileira da gua foi iniciada em 2005, em consonncia com iniciativas das Naes Unidas. O objetivo da iniciativa chamar a ateno para a importncia da gua e sua relao com questes como sade e desenvolvimento sustentvel.
Exemplo de preservao da Mata Ciliar no rio Pelotas, RS/SC
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PRTICAS SUSTENTVEIS PARA O AMBIENTE URBANO
As prticas sustentveis para o ambiente urbano envolvem: (a) racionalizao do uso da gua,
reduzindo as perdas e diminuindo os volumes dos euentes, por exemplo, atravs do reuso da
gua; (b) tratamento dos euentes domsticos e industriais; (c) preservao dos mecanismos
naturais de escoamento, inltrao e conservao dos rios urbanos; (d) recuperao de reas
degradadas, sempre que possvel; (e) Gesto integrada da bacia hidrogrca urbana. Estas
prticas so essenciais para evitar os problemas atuais e futuros.
O principal problema brasileiro no que se refere s prticas sustentveis para o ambiente ur-
bano a falta de tratamento de esgotos domsticos e industriais. Esse tratamento envolve a
coleta nas casas e indstrias, tratamento adequado e a disposio nal nos rios. Atualmente
apenas 50,4% do total do esgoto gerado so coletados e deste total apenas 25,4% so trata-
dos, ou seja, menos de 15% do esgoto gerado so tratados. H, portanto, necessidade de mais
investimentos, em carter emergencial, neste setor.
Para a reduo das enchentes nas reas urbanas necessria a realizao de novos loteamen-
tos, preservando as condies naturais de escoamento do solo. Utilizando-se planos de inl-
trao, pavimentos permeveis ou mesmo armazenando a gua que cai sobre reas imper-
meveis (possibilitando, inclusive, seu reuso), pode-se reduzir a quantidade de reteno de
guas, evitando inundaes e a eroso do solo.
Estao de tratamento de esgoto. Barueri, SP
PRTICA SUSTENTVEL NAS BACIAS HIDROGRFICAS CAMINHO DAS GUAS
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A gesto integrada da bacia urbana essencial para planejar o uso do solo em consonncia
com o abastecimento, o esgoto sanitrio, a drenagem urbana, os resduos slido e os sedimen-
tos, conferindo as condies de sustentabilidade ao ambiente urbano.
PRTICAS SUSTENTVEIS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL
A sustentabilidade do desenvolvimento rural depende, entre outros fatores, da disponibili-
dade de gua e da conservao ambiental. Na regio do semi-rido a tendncia que o uso
agrcola prximo aos grandes mananciais seja voltado para produtos de maior rentabilidade
e, nas reas com pouca disponibilidade hdrica, para agricultura de subsistncia. A fruticultura
e a cafeicultura, em algumas regies, tm mostrado rentabilidade que torna vivel o inves-
timento, principalmente graas ao nmero de safras em um mesmo ano. Por outro lado, es-
ses empreendimentos exigem uma precisa regularizao da gua durante perodos longos, j
que o plantio permanente. A sustentabilidade deste processo no longo prazo depender do
aprimoramento tecnolgico. Nas reas agrcolas onde h riscos de longas estiagens, a prpria
irrigao se torna um processo dispendioso e arriscado.
Uma medida para suprir as necessidades de abastecimento domstico das famlias durante
o perodo seco o emprego de cisternas rurais. H no pas uma grande mobilizao para
alcanar a meta de construo de um milho de cisternas na zona rural do Nordeste. im-
portante ressaltar, porm, que necessrio educar e treinar a populao para reduzir a con-
taminao dessa gua, mantendo-se limpos os telhados, calhas e a cisternas e clorando a
gua adequadamente.
Na ltima dcada, em outras regies, sobretudo no Sul do Brasil, a adoo das prticas de
PLANTIO DIRETO melhorou a sustentabilidade ambiental de reas agrcolas, com consider-
vel aumento no nvel dos aqferos, em funo da maior inltrao da gua, alm da reduo
da eroso do solo.
>>> PLANTIO DIRETO a tcnica de fazer a plantao sobre o que restou do plantio da safra anterior. Assim, o solo no ca descoberto, sujeito ao dos ventos e chuvas, reduzindo a eroso. O plantio direto melhora ainda a umidade do solo, que se torna mais frtil, requisitando menos aplicaes de fertilizantes.
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Aes que visam a conservao ambiental na regio rural so a preservao da extenso mni-
ma de 30m de matas ciliares em cada margem de rio, o atendimento ao percentual mnimo
de reserva orestal legal e o no-plantio nas reas de grande declividade para evitar excessiva
eroso do solo. Para tal, o agricultor deve ser capacitado pelas agncias de apoio e pesquisa
para as atividades agrcolas e estimulado pelas agncias ambientais.
Os grandes desaos envolvem o controle da ocupao dos limites da fronteira Cerrado/
Amaznia. As freqentes queimadas transformam reas de orestas em pasto e/ou de plan-
tio, havendo o risco de deserticao. Aes dos governos estaduais e federal devem ser in-
cisivas nessas regies, de forma a coibir prticas ilegais de ocupao, sem o respeito rea
mxima de plantio.
As freqentes queimadas transformam reas de orestas em pasto e/ou de plantio, havendo o risco de deserticao
Exemplo de poluio por queimadas na Floresta Amaznica
PRTICA SUSTENTVEL NAS BACIAS HIDROGRFICAS CAMINHO DAS GUAS
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PRTICAS SUSTENTVEIS PARA A GERAO DE ENERGIA HIDRELTRICA
A construo de barragens tem sido um tema de debate no Brasil, devido aos impactos sociais
e ambientais que pode gerar. O principal impacto social se d com a retirada de pessoas da
rea de inundao do lago que ser formado pela barragem. A barragem tem inuncia rio
acima e rio abaixo, pois pode haver modicao da qualidade da gua (em ambos os trechos),
deposio de sedimentos no lago e eroso no trecho abaixo do lago. Alm disso, pode alterar
a variao do regime de vazes do rio, com conseqncias sobre a fauna e ora aquticas. Os
peixes migratrios, por exemplo, tm diculdades em subir o rio para a desova, o que oca-
siona, em boa parte das vezes, a extino local dessas espcies.
Porm, o pas hoje necessita de investimento da ordem de US$ 3 a 5 bilhes em energia, por
ano, para satisfazer uma demanda de crescimento anual de 2 a 4%. A energia gerada por hi-
dreltricas ainda parece ser uma alternativa vivel, j que h tecnologia nacional avanada e
ainda considerada uma forma de energia limpa.
Quando uma barragem construda, esses efeitos so avaliados e procura-se minimizar seus
danos, mas no possvel evit-los completamente. Portanto, sempre devemos pesar os da-
nos e os benefcios desses empreendimentos. A construo das barragens tem sido ques-
tionada, j que podem ser de grande porte e, portanto, com maiores impactos ambientais
e sociais.
Outro problema que a avaliao ambiental dos impactos dos projetos tem sido realizada
caso a caso, no considerando a bacia hidrogrca como um todo. Assim, h grandes rios no
Brasil que se transformaram quase em um conjunto de lagos, pois mal terminam os efeitos
de uma barragem sobre o rio e j h outra construda em seguida.
Um exemplo dos efeitos nocivos das barragens que nos ltimos 15 anos os sedimentos na
foz do rio So Francisco reduziram-se para 10% do que havia antes. Como conseqncia, o mar
Usina Hidreltrica de Xing.Canind do So Francisco (Divisa SE/AL)
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erodiu a costa em cerca de 500 m, levando a uma considervel reduo do nmero de peixes
que dependiam dos nutrientes trazidos pelo rio, afetando assim, a sustentabilidade da ativi-
dade dos pescadores.
Para evitar problemas dessa natureza, deve-se buscar a construo de barragens em que se-
jam minimizados os impactos sociais e ambientais. Devem-se construir barragens que te-
nham como perspectiva o desenvolvimento sustentvel da regio e da bacia hidrogrca em
que se encontram. O investimento em outras fontes de energia renovvel, como a energia
elica (fornecida pelos ventos) ou solar, alm do desenvolvimento de biocombustveis e do
biogs, gerados a partir de leos vegetais e da decomposio de matria orgnica, tambm
contribuem para a soluo desses problemas.
PRTICAS SUSTENTVEIS PARA A NAVEGAO
A navegao tem menor impacto ambiental que uma hidreltrica, por exemplo, mas se forem
necessrias obras hidrulicas como canalizao e barragens o impacto pode ser signicativo.
Alm disso, h que considerar os acidentes dos barcos capazes de contaminar os rios.
No rio Paraguai existe uma grande controvrsia no desenvolvimento da Hidrovia Paran-Para-
guai, no trecho que atravessa o Pantanal. A hidrovia previa obras sobre o leito que poderiam
alterar a capacidade de escoamento do rio e a sustentabilidade das reas de banhado. O rio
Paraguai, no trecho do Pantanal, possui alguns estrangulamentos geolgicos que fazem com
uma parcela da gua do rio transborde, inundando a vrzea e formando o que conhecemos
como Pantanal. Caso haja aumento da capacidade de escoamento, com a reduo dos estran-
gulamentos, o volume de gua de inundao diminuir e o Pantanal poder se transformar
em Cerrado, j que a precipitao no Pantanal menor do que a evaporao total.
Vista area do Pantanal na poca da cheia.Pocon, MT
PRTICA SUSTENTVEL NAS BACIAS HIDROGRFICAS CAMINHO DAS GUAS
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Instrumentos de gesto de recursos hdricos
Parte 5
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Em consonncia com a implementao de atividades de preveno e mitigao dos problemas
ambientais e sociais relacionados ao manejo inadequado dos recursos naturais, a legislao
brasileira, capitaneada pela Lei das guas (Lei 9.433, de 1997) e legislaes complementares,
passou a prever instrumentos de gesto para os recursos hdricos.
A Lei das guas, que instituiu a Poltica Nacional de Recursos Hdricos e criou o Sistema Na-
cional de Gerenciamento de Recursos Hdricos, modicou o panorama da gesto de recursos
hdricos no Brasil por seus fundamentos slidos, incentivando os principais instrumentos uti-
lizados em outros pases do mundo.
Em situaes de escassez, o uso prioritrio dos recursos hdricos o consumo humano e a dessedentao de animais
Nascente preservada no rio Sucuri. Bonito, MS
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Para que a gesto acontea, o primeiro aspecto a ser denido DE QUEM A GUA? A Lei das
guas responde, em seu primeiro fundamento: 1. a gua um bem de domnio pblico. Ora, as-
sim, todos somos responsveis pelo uso sustentvel deste recurso limitado. Em outras palavras,
devemos aliar todos os usos de forma a evitar causar danos irreversveis para o ecossistema ou
as populaes que habitem na rea da bacia hidrogrca. Veja que a importncia da gua est
prevista no segundo e no quarto fundamentos da Lei das guas e que o terceiro fundamento
prev quais usos so prioritrios: 2. a gua um recurso natural limitado, dotado de valor
econmico; 3. em situaes de escassez, o uso prioritrio dos recursos hdricos o consu-
mo humano e a dessedentao de animais; 4. a gesto dos recursos hdricos deve sempre
proporcionar o uso mltiplo das guas.
Escola Rural Municipal. Jaba, MG
Gaivotinha do Pantanal. Pocon, MT
INSTRUMENTOS DE GESTO DE RECURSOS HDRICOS CAMINHO DAS GUAS
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Dessa forma, todos os projetos a serem implementados em uma regio devem respeitar os
limites da bacia hidrogrca, pois de acordo com o quinto fundamento da Lei das guas:
5. a bacia hidrogrca a unidade territorial para implementao da Poltica Nacional de Re-
cursos Hdricos e atuao do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos.
Ento, contextualizando a primeira questo, temos: de quem a gua de uma bacia hidrogr-
ca?. Se a gua um bem de domnio pblico, em teoria, todas as pessoas que moram na rea
de uma bacia hidrogrca deveriam ser consultadas sobre cada empreendimento que fosse l
se instalar. Mas, isso seria impossvel!
Assim, a Lei das guas, em seu sexto fundamento, prope um processo inovador para a cons-
truo do planejamento hdrico e para execuo das tarefas de gesto das guas, incluindo
a participao de representantes dos principais interessados na gesto das guas em uma
bacia hidrogrca: 6. a gesto dos recursos hdricos deve ser descentralizada e contar com a
participao do Poder Pblico, dos usurios e das co