UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
BRINCADEIRA É COISA SÉRIA
Maísa de Matos Cabral Alves Barbosa
Matrícula:41273
Curso: EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO
Orientadora: Maria Conceição Maggione Toppe
SILVÂNIA FEVEREIRO / 2009
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
BRINCADEIRA É COISA SÉRIA Maísa de Matos Cabral Alves Barbosa
SILVÂNIA FEVEREIRO / 2009
Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para a obtenção do Grau de Especialista em Educação Infantil e Desenvolvimento
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus em primeiro lugar pela força que tem me
dado, a meu esposo, filha, sogra, pai, mãe, amiga Andréia
Barroso pela paciência e apoio, a equipe do Projeto “A Vez
do Mestre” pela dedicação e empenho.
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia a meu esposo Marco Aurélio, que
tanto colaborou para o aperfeiçoamento desse trabalho.
Também a minha filha Luiza pela companhia nas horas
de estudo e a alegria que trouxe ao nosso lar.
RESUMO
No mundo infantil há a necessidade de se ter espaço para o lúdico, pois
através do brincar a criança poderá vivenciar situações que auxiliam compreender
a realidade, experimentando comportamentos, ações e percepções sem medo de
fracassos ou punições.
O brincar favorece a descoberta, uma vez que auxilia a criança na
concentração, na observação, na percepção, na análise, no estabelecimento e no
teste de hipóteses, fazendo com que descortine o mundo a seu redor e adquira
competências e habilidades, pois o fazer também depende do saber.
É importante lembrar que a capacidade de brincar possibilita às crianças
um espaço para resolução dos problemas que as rodeiam. A literatura
especializada no crescimento e no desenvolvimento infantil considera que o ato de
brincar é mais que a simples satisfação de desejos. O brincar é o fazer em si, um
fazer que requer tempo e espaço próprios; um fazer que constitui de experiências
culturais, que são universais e próprio da saúde porque facilita o crescimento,
conduz aos relacionamentos grupais podendo ser uma forma de comunicação
consigo mesmo e com os outros.
Portanto brincar é a fase mais importante da infância – do desenvolvimento
humano neste período – por ser a auto – ativa representação do interno – a
representação de necessidade e impulsos internos. No ato de brincar o indivíduo
aumenta sua independência, estimula sua sensibilidade visual e auditiva, valoriza
sua cultura popular, desenvolve habilidades motoras, exercita sua imaginação,
sua criatividade, socializa-se, interage, reequilibra-se, recicla suas emoções, sua
necessidade de conhecer e reinventar-se construindo assim o seu conhecimento.
.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada nessa monografia terá enfoque teórico,
fundamentado em bibliografias de autores conceituados como Piaget, Wallon,
Vygotsky, Kishimoto, Maria da Glória Lopes, Marli Pires Santos, Jean Chateau,
Teresa Cristina Rego, Gilles Brougère, Diva Nereida Maranhão, Fanny
Abramovich, dentre outros.
Lev Samenovich Vygotsky nasceu na cidade de Orsha em 17 de novembro
de 1986. Viveu com sua família grande parte de sua vida, ganhou destaque na
psicologia americana a partir da publicação, em 1962, da sua monografia
Pensamento e Linguagem, teve outras publicações importantes. Segundo Teresa
Rego, “Ele foi um pensador complexo e tocou em muitos pontos nevrálgicos da
pedagogia contemporânea”.
Jean Piaget (1896-1980) foi o nome mais influente no campo da educação
durante a segunda metade do século 20, a ponto de quase se tornar sinônimo da
pedagogia. Ele nunca atuou como pedagogo. Foi biólogo e dedicou a vida a
submeter à observação científica rigorosa o processo de aquisição do
conhecimento pelo ser humano, particularmente a criança.
Segundo Lino Macedo, professor do instituto de Psicologia da Universidade
de São Paulo, “A grande contribuição de Piaget foi estudar o raciocínio lógico-
matemático, que é fundamental na escola mas pode ser ensinado, dependendo de
uma estrutura de conhecimento da criança”.
Henri Wallon (1879-1962). Sua teoria pedagógica, diz que o
desenvolvimento intelectual envolve muito mais do que um simples cérebro,
abalou, as convicções numa época em que a memória e erudição eram o máximo
em termos de construção do conhecimento.
Wallon foi o primeiro a levar não só o corpo da criança mas também suas
emoções para dentro da sala de aula.
Adriana Friedmann, Uruguaia de nascimento, cursou a Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo. Defendeu tese de mestrado sob o tema
Jogos Tradicionais na cidade de São Paulo: recuperação e análise da sua função
educacional na Unicamp em 1990. Cont. livro.
Gilles Brougère é Sociólogo, Professor doutor em Ciências Humanas, na
Universidade Paris XIII.
SUMÁRIO
Introdução 09
Capítulo I – A linguagem lúdica 11
Capítulo II – Brincar é importante 17
Capítulo III – Jogos X Aprendizagem 22
Capítulo IV – Literatura infantil 30
Conclusão 34
Bibliografia 38
INTRODUÇÃO A proposta desta monografia é valorizar e incentivar a arte de brincar na
Educação Infantil. Tem como objetivo, estimular o hábito da ludicidade com o
intuito de desenvolver a interação com o outro, o respeito, valores, a leitura e
escrita dentre outros de forma prazerosa em nossos educandos.
Nessa perspectiva, visa sensibilizar o educador, que é imprescindível para
a formação de qualquer criança. Conseqüentemente, divertindo-se a criança
aprende a ouvir e a apreciar, amplia a habilidade de expressar-se, educa a
atenção, exercita a memória e a capacidade criativa, forma o espírito crítico,
desperta o pensamento lógico, desperta para a atitude socializante e para a
apreciação da realidade.
Assim, descobrir a ludicidade na Educação Infantil é algo fenomenal diante
das possibilidades que se pode proporcionar ao desenvolvimento e aprendizagem
de uma criança. A brincadeira torna-se um instrumento de aprendizagem, pois
proporciona desafios de forma lúdica, onde o aprendizado é prazeroso e como
conseqüência, divertido.
O educador deve despertar para a importância de se ter atenção a respeito
do desenvolvimento infantil, com isso, perceber o significado do brincar, incentivar
a brincadeira e enfocar o jogo como um fator de interação social é fundamental
para o desenvolvimento saudável de uma criança.
Portanto, percebe-se que no mundo infantil há a necessidade de se ter
espaço para o lúdico, pois através do brincar a criança poderá vivenciar situações
que auxiliam compreender a realidade, experimentando comportamentos, ações e
percepções sem medo de fracassos ou punições. Dessa forma, a brincadeira pode
se tornar um instrumento de aprendizagem e cabe ao professor proporcionar
situações desafiadoras onde a criança possa demonstrar todo o seu potencial.
O primeiro capítulo aborda a linguagem lúdica, pois tem sido objeto de
estudo de vários autores, devido ser essencial para a compreensão dos sujeitos
em sua história de desenvolvimento e humanização.
Já o segundo capítulo, “Brincar é Importante”, enfatiza a importância da
brincadeira na vida da criança, desde a antiguidade aos dias atuais, sempre
enfocando a brincadeira como um meio de interação, prazer e aprendizagem.
No terceiro capítulo, Jogos X Aprendizagem referem-se ao desenvolvimento
e aprendizagem das crianças com auxílio dos jogos. Através de diversos autores,
fundamenta a necessidade de ter uma visão diferenciada a respeito dessas
atividades em benefício das crianças.
O quarto capítulo “Literatura Infantil”, sugere diversas formas de textos para
se trabalhar com a criança com o intuito de despertar a imaginação, a
sensibilidade e a criatividade. A literatura é prazerosa, não tem a obrigação de
ensinar metodicamente, sua função entre outras, é proporcionar prazer, instruir
sim, mas de uma forma divertida, também estimula o desenvolvimento equilibrado
do intelecto, da imaginação e do senso crítico.
Conseqüentemente, divertindo-se a criança aprende a ouvir e a apreciar a
leitura, a ampliar a habilidade de expressar-se e educa a atenção, exercita a
memória e a capacidade criativa, forma o espírito crítico e cultiva o pensamento
lógico, desperta para a atitude socializante e para a apreciação da realidade.
Sendo assim, a literatura infantil não copia a realidade, mas pode ser
utilizada de diversas maneiras para auxiliar no amadurecimento da criança,
encantando e enriquecendo o espírito infantil.
CAPÍTULO I
A Linguagem Lúdica
A linguagem lúdica tem sido objeto de estudo de diversos autores. Assim,
Negrine salienta que:
A ludicidade – vista então como alguma coisa sem muita importância no processo de desenvolvimento humano – hoje é estudada como algo fundamental no processo, fazendo com que cada vez mais se produzam estudos de cunho científico para entender sua dimensão no comportamento humano e se busquem novas formas de intervenção pedagógica como estratégia favorecedora de todo o processo. (Negrine, apud Santos, 2000, p.18)
Assim , as pesquisas a respeito da linguagem lúdica são essenciais para a
compreensão dos sujeitos em sua história de desenvolvimento e humanização.
As pesquisas sobre a linguagem lúdica têm desempenhado um papel
fundamental para a compreensão dos sujeitos em sua história de
desenvolvimento e humanização. No entanto, é preciso compreender para melhor
entendermos o significado de linguagem e lúdico.
A definição de linguagem segundo o dicionário Aurélio é: O uso da palavra
articulada (na voz) ou escrita como meio de expressão e comunicação entre
pessoas.
Assim, a linguagem nada mais é que um instrumento que nos permite
pensar. Por meio dela expressamos nossas idéias, nossos sentimentos e
passamos adiante todo o saber construído pela humanidade.
A palavra lúdico, tem sua origem na palavra latina “ludus”, que quer dizer
“jogo”. De acordo com a etimologia da palavra,”lúdico” está relacionado com a
ação de jogar. Mas o significado da palavra é bem mais amplo. Em sua evolução
histórica o lúdico deixou de ser um simples sinônimo de jogo e passou a ser
reconhecido como uma atividade espontânea, funcional e prazerosa ao ser
humano, que proporciona a sua integração com o ambiente onde vive.
Segundo Ornelas (2007),
O termo “lúdico”, do latim ludus, embora comumente usada na forma substantivada, é um adjetivo que indica algo que possua a natureza do brincar. O brincar é o conjunto de ações lúdicas desenvolvidas pelo homem, manifestada por meio do jogo ou da brincadeira, com o uso ou não do brinquedo como suporte. Nesse sentido o lúdico abarca as categorias do jogo do brinquedo e da brincadeira e ainda que sejam feitas do mesmo tecido conceitual, são demarcadas por suas especificidades. (Ornelas, 2007)
No entanto, é preciso ficar atento para não confundir ludicidade com
divertimento. Para Luckesi, portanto, atividades lúdicas são aquelas atividades em
que nos envolvemos plenamente, inteiramente, de forma flexível alegre e
saudável. Caso contrário não será lúdico.
A utilização do lúdico como estratégia de aprendizagem é defendida por
pesquisadores de várias áreas do conhecimento, como um meio de expressão e
aprendizado. Entre eles está Piaget (1896 – 1980), Vygotsky (1896 -1934) e
Wallon (1879 -1962).
Para Piaget, “a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades
intelectuais da criança. Essa não é apenas uma forma de desopressão ou
entretenimento para gastar energia, mas estratégias que contribuem e enriquecem
o desenvolvimento intelectual” (Piaget, 1976 p. 33). Suas idéias resultam de
diversas experiências lúdicas realizadas com crianças, das quais o autor conclui
que a ludicidade, assegurada pelo jogo, permite que a criança interprete a
realidade re a si próprio.
Neste sentido, proponho que a escola ofereça um material apropriado a
criança para que, por meio de jogos, ela assimile as realidades intelectuais que,
sem isso, permaneceriam exteriores a sua inteligência.
Assim como Piaget, Vygotsky acredita que o lúdico tem grande influência
no desenvolvimento da criança. De acordo com o autor, na brincadeira “a criança
se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu
comportamento diário, no brinquedo, é como se ela fosse maior que a realidade” (
Vygotsky, 1984, p 117). Por meio das atividades lúdicas em geral ( uso de
brinquedos, jogos e brincadeiras), a criança começa a construir seu mundo real,
através de situações imaginárias, ou seja, ela usa seus conhecimentos da
realidade para recriar um mundo em que pode ser o que ainda não é, e fazer
coisas que ainda não lhe são permitidas. Na perspectiva Vygotskyana, a
brincadeira cria uma zona de desenvolvimento proximal permitindo que a criança
ultrapasse os limites reais de seu desenvolvimento. Em suas palavras,
O mundo da criança é rico e mutável e inclui, permanentemente, jogos de fantasias e realidade. Ao jogar a criança investiga, experimenta e aprende, necessitando completar a sua atividade lúdica, que deve ser respeitada. (Vygotsky, 1984,p.12)
De acordo com as concepções de Vygotsky (1984), portanto, uma prática
pedagógica adequada é aquela que não apenas permite as atividades lúdicas
infantis, mas, principalmente que ajuda as crianças a brincarem, que brinca com
elas e que até mesmo as ensina a brincar.
Assim como Piaget e Vygotsky, Wallon considera as atividades lúdicas
como momentos ricos de aprendizagem, pois permitem que a criança vivencie um
mundo adulto a partir do movimento, das emoções, da noção de si e de suas
idéias. A teoria Walloniana defende a educação como um ser completo que, além
de cognição, é constituída de corpo e emoção. Dessa forma concebe a escola
como um espaço que atenda as necessidades da criança nos planos afetivos,
cognitivos e motor e promova seu desenvolvimento em todos os níveis. Nesse
sentido, mais do que transmitir conteúdos, a escola deve abrir possibilidades para
a criança ser e atuar no mundo para atingir esse objetivo, segundo sua teoria, a
escola precisa unir ciência e arte para ensinar os conteúdos.
Para os autores, é possível observar que a ludicidade é algo muito mais
amplo do que pode parecer no primeiro momento. Um ponto importante que
sobressai nas idéias apresentada é o reconhecimento do quanto a ludicidade é
indispensável ao ser humano em qualquer idade. A partir dessa premissa, é
preciso reconhecer o direito de tosos usufruírem a possibilidade de vivencia do
lúdico, que precisa ser considerada essencial, da mesma forma como casa,
comida,e vestuário (Oliveira, 2004). Exercer plenamente a ludicidade , portanto, é
fundamental para a saúde física, emocional e intelectual do indivíduo.
Nessa perspectiva, sabemos o quanto às atividades lúdicas são
findamentais na vida da criança, embora a sociedade, de uma maneira geral não
reconheça a importância do lúdico e o considere apenas como uma forma de
passar o tempo.
Defender uma prática pedagógica a partir de atividades lúdicas, entretanto
trás mudanças significativas para o trabalho na educação infantil, pois transforma
o espaço escolar em um espaço integrador, dinâmico, que prioriza o
desenvolvimento pleno da criança em todos os seus aspectos. Isso implica a
superação da prática pedagógica centrada nos aspectos cognitivos do processo
ensino-aprendizagem, para promover também o desenvolvimento motor, social e
emocional da criança.
Enfim, como afirma Morais (1997).
Se quisermos formar indivíduos intelectuais e humanamente competentes e bem formados, capazes de aceitar desafios, construir e reconstruir teorias, discutir hipóteses, confrontadas com o real, formar seres em condições de influenciar na construção de uma ciência no futuro ou participar dela, então, necessariamente, o paradigma educacional precisa ser revisto. (Morais, 1997,p.20)
Um importante passo nesse sentido, segundo Macedo, Petty e Passos
(2005) é verificar se as atividades escolares possuem um caráter lúdico. Para isso,
os autores sugerem os seguintes indicadores:
1) O primeiro indicador a ser observado é o prazer funcional. Esse prazer ocorre
quando a atividade envolve alegria e o sofrimento de testar habilidades, transpor
obstáculos, vencer desafios. Segundo os autores a criança não se entrega ao jogo
par ficar mais inteligente ou para ser bem mais bem sucedido no futuro, mas
porque é divertido e desafiador.
2) O segundo ponto que deve ser levado em conta é que a escola ofereça
desafios e surpresas. A sugestão dos autores para que isso ocorra é o trabalho
com situações-problema, pelos desafios que essas situações proporciona.
3) O terceiro indicador é que as atividades propostas sejam possíveis de serem
realizadas. As atividades, na perspectiva do indivíduo, devem ser “necessárias e
possíveis” (2005, p.19), pois caso contrário podem causar frustração.
4) O quarto indicador é as dimensões simbólicas, que precisa ser valorizada pela
escola. Essa dimensão somente se concretiza se a atividade for significativa para
a criança. Desconsiderar essa dimensão pode acarretar desinteresse e
desatenção por não corresponder às expectativas individuais ou grupais dos
sujeitos em situação de aprendizagem.
5) Por último, indicam a expressão construtiva que, conforme afirmam, é a
dimensão que capacita o sujeito a analisar o jogo sob diversos prismas, pois se
refere ao “desafio de considerar algo segundo diversos pontos de vista, dada a
sua natureza relacional e dialética” (2005, p. 21).
Diante dessas afirmações, precisamos resgatar o espaço em que a
linguagem lúdica perdeu na sociedade e para isso, é importante sabermos o
significado do brincar no processo de desenvolvimento e aprendizagem, não
esquecendo do papel do professor nesse processo.
Ao se pensar na evolução do brincar, é necessário recordarmos a
antiguidade, pois o brincar naquela época era uma atividade característica tanto
das crianças como dos adultos, representando para ambos um importante
segmento de vida. Segundo Adriana Friedmann, as crianças participavam das
festividades, lazer e jogos dos adultos, mas tinham, ao mesmo tempo, uma esfera
separada de jogos. Estes, aconteciam em praças públicas, espaços livres, sem a
supervisão do adulto, em grupos de crianças de diferentes idades e sexo. Naquela
época, acontecia uma vida social infantil rica e dinâmica. No entanto,
posteriormente ela perdeu seus vínculos comunitários e seu simbolismo religioso,
tornando-se individual.
A sociedade industrial moderna formatou-se nos processos sociais e
civilizatórios de produção, tendo como fatores importantes à segregação das
crianças em um grupo separado da vida dos adultos, a institucionalização das
crianças e a utilização da atividade lúdica como instrumento. Assim, a infância
tornou-se pedagogizada cujo objetivo básico dos pedagogos dentro das
instituições e das famílias era o de criar o novo homem. A brincadeira, no início
da idade moderna considerada um vício, foi introduzida nas instituições
educacioinais por filantropistas, com o objetivo de tornar esses espaços
prazerosos e também como um meio educacional. No entanto, essas mudanças
foram colocadas de forma agressiva, cujo intuito era torná-la útil na educação, pois
acreditavam nos mesmos princípios que sustentaram a idéia do novo homem e
para conseguirem isso, era necessário treiná-lo. Esse processo agressivo teve
como conseqüência, ainda hoje, a sistemas para a utilização educacional do
brincar.
Friedmann acredita que o problema do crescimento das crianças na
sociedade contemporânea sobrevêm do fato de que o desenvolvimento social, as
interações sociais da criança como do adulto e entre as próprias crianças estão
seriamente ameaçados pelo avanço tecnológico.
Estudos demonstram que a socialização é tão necessária no
desenvolvimento infantil quanto a fatores que satisfazem as necessidades vitais.
As interações favorecem a descoberta e interiorização da criança nos sistemas
culturais e sociais que representam as propriedades determinadas historicamente
pelo homem.
Nessa perspectiva, a brincadeira tem um papel especial e significativo na
criança – adulto e criança – criança, é através dela que as formas de
comportamento são experimentadas e socializadas. Na sociedade infantil, a
atividade lúdica é a forma através da qual essa sensibilidade e esse potencial são
liberados e modelados, o que outorga à mesma um papel importante nas
realizações culturais e sociais.
O sistema que se integra a vida social de uma criança é a brincadeira. Ela
pode ser transmitida, inventada e reinventada, é incorporada espontaneamente
pelas crianças, variando as regras de uma cultura a outra. Dessa forma, as
brincadeiras fazem parte do patrimônio lúdico-cultural, transmitindo valores,
costumes, formas de pensamentos e ensinamentos.
“Para Piaget (1971), quando brinca, a criança assimila o mundo à sua maneira, sem compromisso com a realidade, pois sua interação com o objeto não depende da natureza do objeto, mas da função que a criança lhe atribui”. (Kishimoto, 1999,p.59)
Nesse contexto, a representação da realidade é estimulada pelas
brincadeiras, pois a criança estará vivenciando alguma situação ausente naquele
momento. É através da brincadeira que a criança possibilitará apropriar-se de
conhecimentos que resultarão sua ação sobre o meio em que se encontra. Ainda,
é um canal de comunicação, de prazer e de recreação, uma possibilidade de ação
que domine, ou pelo menos, exerça em função de sua própria iniciativa.
Com as brincadeiras e os jogos a criança adquire experiências, ganhar ou
perder, ser superior ou não, são situações que favorecem a tomada de decisão
diante dos acontecimentos, de forma que o processo de repetir, imitar, representar
e inventar é mais do que um ato de brincar.. Através dele, ela nos revela uma
parte de si mesma, o que é e como pensa, como se vê e aos outros. Além disso, a
capacidade para brincar não é uma tendência inata da criança, mas conseqüência
de suas interações sociais e das condições concretas de sua vida, que a fazem
imergir como um sujeito lúdico.
Segundo Vygotsky, na brincadeira os objetos perdem a sua força
determinada sobre o comportamento da criança, que começa a agir independente
daquilo que vê. A ação numa situação imaginária, ensina a criança a dirigir seu
comportamento não somente pela percepção imediata dos objetos, mas também
pelo significado da situação. Assim, a ação da criança é regrada pelas idéias, pela
representação e não apenas pelos objetos em si e a brincadeira passa a ser
facilitadora do estágio de transição em direção à representação.
Jung dizia,
“... que não cabe ao intelecto a criação do novo, mas ao instinto de diversão que age a partir da necessidade interior. A mente criativa brinca com os objetos que ama.” (Recreação e Artes módulo VIII, p. 3 )
Já Winnicott (1975) afirmava que no brincar, a criança manipula fenômenos
externos a serviço do sonho e veste esses fenômenos escolhidos com significado
e sentimentos oníricos. Diz ele:
“È no brincar e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self)”. (Winnicott, 1975, p. 80)
Para ele, é no brincar que a criança ou o adulto se liberta de todas idéias ou
pensamentos, age sem puder, realiza sonhos e se descobre.
Dessa forma, são fatos universais as brincadeiras e jogos devido sua
linguagem ser compreendida por todas as crianças do mundo e para conhecermos
bem as crianças, devemos conhecer seus brinquedos e brincadeiras, pois brincar
representa um fator de grande importância na socialização da criança, ou seja,
brincando que o ser humano se torna apto a viver numa ordem social e num
mundo culturalmente simbólico. Essa atividade exige concentração durante
grande quantidade de tempo, desenvolve iniciativa, imaginação e interesse. É o
meio mais completo dos processos educativos, pois influencia o intelecto, a parte
emocional e o corpo da criança. Também facilita a expressão do humor que
contribui para libertar a criança interior, ajudando as pessoas a tomar iniciativa,
desenvolver a criatividade, comunicar-se melhor e também aprender mais
facilmente. Ainda, através da brincadeira é possível aliviar a tensão, ter mais
criatividade e rapidez no aprendizado.
È importante lembrar que o ato de brincar favorece o entendimento de
certos princípios da vida, como o da colaboração, cooperação, conhecimento de
regras, convivência e outros.
Moema Quintanilha, revela que para Winnicott (1975), a experiência
da brincadeira e do viver criativo, ocupa espaço potencial existente entre o
indivíduo e o meio ambiente, dependendo da capacidade do indivíduo de confiar
pois conclui:
“Conquanto seja fácil perceber que as crianças brincam por prazer, é muito difícil para as pessoas verem que as crianças brincam para dominar a angústia, controlar idéias ou impulsos que conduzem à angustia se não forem dominados”.(Winnicott, 1966,p.161)
Sendo assim, freqüentemente a angústia é um fator predominante
nas brincadeiras, elas refletem o que a criança ou adulto percebe à sua volta,
como uma prática para exercitar o domínio do aprendizado de suas percepções.
Reconhecer o direito da criança ao brincar implica uma preocupação
com a formação cultural e educacional dos adultos que dela se ocupam, sejam
eles homens ou mulheres, professores ou educadores. Isto porque, a
representação que se tem da criança e de sua atividade lúdica vai resultar na
maneira como o adulto se relaciona com o brincar infantil. O brinquedo é dotado
de fortes valores culturais e por isso permite-nos compreender determinada
sociedade ou cultura.
Flekkoy (1987) e Enerstvedt (1987) argumentam que a brincadeira
tradicional é um espaço onde a criança cria contatos sociais e aprende a viver em
sociedade, resgatando certos valores e sentimentos muito significativos na vida
adulta. As atividades lúdicas permitem à criança desenvolver a negociação,
fazendo regras e resolvendo conflitos.
Nessa perspectiva, a atividade lúdica está presente no desenvolvimento pleno
do indivíduo e se manifesta de alguma forma em todas as culturas. Huizinga
(1993) afirma:
“O lúdico tem como uma de suas maiores características sua separação espacial, em relação à vida cotidiana. É dentro de seu universo próprio que suas regras têm validade. O estado de ‘com ação’, de disposição patética,’de arrebatamento’ estão diretamente ligados à capacidade criadora” (Huizinga, 1996, p. 20)
Nesse sentido, a imaginação pode ser vista como o espaço de sonho por
onde o espírito vaga sem limites. A criança em seus momentos de brincadeira
criativa está relacionando com sua dimensão espiritual.
Enfim, o brincar é a forma de a criança compreender o mundo adulto à sua
volta, trazendo-o para o seu mundo imaginário. A criança que brinca vive em sua
infância, torne-se-á um adulto mais equilibrado físico e emocionalmente, suportará
muito melhor a pressão das responsabilidades adultas e terá maior criatividade
para solucionar os problemas que surgirem.
CAPÍTULO III
Jogos X Aprendizagem
O jogo está presente no cotidiano da criança que desenha, canta,rima
representa, chuta a bola ou pulas corda. Na verdade, para a criança quase toda
atividade é jogo e é por meio do jogo que ela constrói grande parte do seu
conhecimento. Quando isso acontece, a situação ensino- aprendizagem fica
caracterizada pelo aspecto lúdico e prazeroso em que o erro passa a ser aceito
naturalmente de forma espontânea. Por meio do jogo, do fazer, do brincar, do
representar, a criança experimenta “ir além”, ultrapassa seus próprios limites,
adquirindo autonomia na aprendizagem.
Segundo Maia e Nereida Maranhão (p.3), no mundo infantil e no mundo
adulto, o efeito dos brinquedos sobre os processos formativos são essencialmente
os mesmos, guardados, é lógico, as devidas proporções quanto ao grau de
consciência de cada um.
Nessa perspectiva, Vygotsky elucida a respeito do brinquedo e da atividade
lúdica:
“No brinquedo, a criança opera com significados desligados dos objetos e ações aos quais estão habitualmente vinculados; entretanto, uma contribuição muito interessante, uma contradição muito interessante surge, uma vez que no brinquedo, ela inclui, também, ações e objetos reais. Isto caracteriza a natureza de transição da atividade do brinquedo:É um estágio entre as restrições puramente situacionais da primeira infância e o pensamento adulto, que pode ser totalmente desvinculado de situações reais”.(Vygotsky,1984, p.207)
Assim, como todas as atividades lúdicas, o jogo pode ser caracterizado por
transformações, capazes de transformar-se com o contexto, de um grupo para o
outro.
Na educação, os jogos atuam como facilitadores no processo de
aprendizagem e do desenvolvimento infantil, fazendo com que a criança aprenda
de forma descontraída. Através dele, interage com o outro, aprende regras,
vivencia situações de conflito, dentre outros.
Os jogos quando orientados pelos adultos, a criança vai entrando em
contato não só com os objetos, mas também com uma variedade de situações,
ações e modos sociais do mundo adulto, entendendo-os e incorporando-os.
Assim, os jogos de regras, jogados em grupos respeitando normas visando um
objetivo são de suma importância na Educação Infantil, pois além de mostrar
restrições, limites podem representar desafios interessantes e divertidos. Ao
jogarem, nem sempre as crianças vêem como uma competição, a percepção de
que existe um vencedor vem aos poucos e o educador deve intervir apenas
questionando sobre o objetivo do jogo e se todos chegaram a ele. Quando a
criança passa a identificar a vitória ou a derrota, outras questões se colocam.
Segundo Thais Gurgel, introduzir jogos que demandem diferentes
capacidades (domínio do raciocínio matemático, conhecimento do alfabeto,
desenvolvimento motor, dentre outros) é importante pois os pequenos notam que
há aqueles em que vencem com mais facilidade e outros que não dominam tão
bem. Ao perceber a condição de ganhador e perdedor como transitória, fica mais
fácil aceitar a derrota e no caso de vitória não desrespeitar quem perdeu.
Para Gilles Brougére, o jogo supõe regras que, no fundo são
conseqüências da decisão, pois se decide aceitar ou construir as regras para o
jogo. Os jogos de regras preexistentes, como os jogos esportivos (futebol), ou os
jogos de sociedade (xadrez) que não modificamos, não têm muito a ver com a
área da educação infantil.
No mundo da criança há jogos com regras preexistentes, mas que podem
ser modificadas o tempo todo, transformadas, renegociadas pelas crianças; como
os jogos tradicionais mamãe e filhinho, esconde-esconde, pega-pega, passando
pelos jogos de comunicação, jogos esportivos transformados adaptados pelas
crianças. Há também os jogos de bolas de gude nos quais as crianças podem
trocar as regras a partir dos quatro ou cinco anos.
Brougére cita ainda, os jogos motores e os jogos simbólicos, que supõem a
constituição de regras à medida que a criança atribui aos primeiros deveres, de
andar de tal ou tal jeito, de correr até tal ponto. Nos jogos simbólicos, é o fato de
constituir um universo de imitação do mundo real ou ficção, no qual a criança
distribui papéis que são regras. Constrói-se um universo de ficção, no qual
acontece alguma coisa em função das decisões da criança.
Froebel foi o primeiro a colocar o valor educativo do jogo como parte
essencial do trabalho pedagógico ao criar o jardim de infância. Entendeu o jogo
como objeto e ação de brincar, que se caracteriza pela liberdade e
espontaneidade, ou seja, ele já percebia que o brincar tem um fim em si mesmo
quando se caracteriza pela auto-expressão e espontaneidade e é um meio de
ensino quando busca algum resultado.
No entanto, Brougére cita outro critério referente ao jogo, afirma que o jogo
não tem conseqüência. É um critério relativo, que pode ser considerado antes
como uma atividade que minimiza as conseqüências: quando a brincadeira
terminar o mundo não vai ser transformado e sempre pode recomeçar o jogo. O
contrário das atividades escolares, pois ela têm conseqüências. Esta ausência de
conseqüência faz com que o jogo seja um espaço sem riscos, onde se pode
experimentar, inventar, tentar alguma coisa sem risco de ser repreendido pelo
real, porque estamos um pouco fora das lógicas do real, das lógicas escolares,
das lógicas da vida cotidiana.
Assim, do ponto de vista educacional o jogo deve responder a interesses
específicos das crianças; dar oportunidade para que as crianças o transformem,
permitindo a sua participação ativa; possibilitar uma avaliação da atuação das
crianças durante a atividade; possibilitar uma relação com os conteúdos escolares.
Cabe ao educador ao criar o jogo ter em mente os objetivos a serem
atingidos estando atento aos estágios em que as crianças se encontram e ao
tempo duração, cuidando para que proporcione aos alunos o maior número
possível de oportunidades de ação e exploração.
Para Diva N. Maranhão, o momento de introduzir o jogo, também, deve ser
estado cuidadosamente, o educador deverá respeitar a etapa de desenvolvimento
das crianças, pois a introdução de uma atividade que não esteja de acordo com o
desenvolvimento da clientela poderá provocar frustração, trazendo desinteresse
pela mesma.
Maranhão afirma que é importante lembrarmos que:
• A criança no manuseio de jogos passa por diferentes etapas, tais
como a manipulação exploratória, descoberta de regras e criação de
novas regras;
• O educador deve conhecer e dominar cada jogo selecionado antes
de propor ao grupo;
• O papel do educador será o de acompanhar a criança durante a
prática da atividade, mediando as situações, facilitando sua
integração ao ambiente e participando do mesmo como elemento
estimulador em todas oportunidades, cuidando para que tudo esteja
em harmonia;
• É importante que a criança faça suas próprias descobertas através
da manipulação, observação e exploração da atividade proposta,
desta forma ela poderá estabelecer relações e fazer associações
assimilar conceitos e integrá-los à sua personalidade.
Como educadores devemos nos preocupar em desenvolver a criatividade
das crianças, em estimular novas idéias e para isso, é necessário estarmos
conscientes dos objetivos que desejamos atingir e a relação da atividade proposta
com os mesmos.
De acordo com Diva Maranhão:
“Não podemos, também, deixar de nos preocuparmos com as fases do desenvolvimento intelectual de nossos alunos.” (Diva N. Maranhão – módulo VII. Recreação e Artes. Projeto A Vez do Mestre p.8)
Nessa perspectiva Piaget nos revela que a criança se desenvolve de forma
integrada nos aspectos cognitivos, afetivos, físico-motores, morais, lingüísticos e
sociais. Esse processo de desenvolvimento se dá a partir da construção que a
criança faz na sua interação com o meio físico e social. A criança vai conhecendo
o mundo a partir de sua ação sobre ele.
Assim, as interações sociais ocupam um lugar de destaque no
desenvolvimento infantil pois é a partir delas que a criança tem acesso á cultura,
aos valores e conhecimentos universais. A criança tem a oportunidade, através
dessa interação com outras crianças e adultos, de cooperar, de competir, de
praticar e adquirir padrões sociais que irá usar, mais tarde, nos seus encontros
com o mundo e o jogo e as atividades lúdicas favorecem todo esse
desenvolvimento.
Piaget descreve como as brincadeiras evoluem de acordo com a idade.
• Nas crianças menores, até um ano e meio / dois anos, fase em que
aparece a linguagem, a atividade lúdica tem como característica
essencial o exercício: a criança se exercita na sua atividade de
brincar pelo simples prazer de fazer rolar uma bola, produzir sons ou
bater com um martelo, repetindo essas ações e observando seus
efeitos e resultados. Essas brincadeiras se prolongam, muitas
vezes, até a idade adulta, mas com o passar dos anos, diminuem
sua intensidade e importância.
• Entre os dois e os seis / sete anos aproximadamente, a atividade
lúdica adquire o caráter simbólico: a criança representa seu mundo e
o símbolo serve para evocar a realidade. Conversar com boneca,
brincar de médico, imitar bichos se fantasiar são brincadeiras de
grande intensidade afetiva. Assim que as brincadeiras vão se
aproximando mais do real (a partir dos quatro anos), o símbolo
começa a representar a realidade, imitando-a: a criança cria
histórias nas quais há grande preocupação em seguir a seqüência
que ela conhece na sua realidade.
• Por volta dos seis / sete anos, a criança abandona esse
egocentrismo em proveito da aplicação efetiva das regras e do
espírito de cooperação entre os jogadores.
• Entre os sete e os onze / doze anos, pode-se observar uma
coordenação cada vez mais estreita de papeis em florescimento da
socialização, que se desenvolve e subsiste durante toda a vida.
• É a partir dos seis anos que surgem os jogos de regras, que supõem
relações sociais. O jogo de regras caracteriza-se por ser uma
combinação sensório-motora (corrida, jogo de bola, etc.) ou
intelectual (cartas, xadrez), com competição dos indivíduos e
regulamentado por um código.
Os jogos de construção constituem uma espécie de transição entre o jogo
simbólico e o jogo de regras: através eles a criança começa a se inserir no mundo
social e se desenvolver, rumo a níveis mais elevados de cognição: É uma fase de
transição entre fantasia e realidade.
Nessa perspectiva, Lores afirma:
“O jogo para a criança é o exercício, é a preparação para a vida adulta”. “A criança aprende brincando é o exercício que a faz desenvolver suas potencialidades”.(Lores, 2000).
Com auxílio dos jogos e de atividades recreativas, a criança irá trabalhar
valores morais, desenvolver a noção do certo e do errado e a relatividade entre
esses conceitos. O jogo em si possui componentes do cotidiano e o envolvimento
provoca o interesse da criança.
Dessa forma, o jogo tem características próprias, podendo ajudar no campo
da educação infantil e ter um relacionamento mais próximo com a família e ao
mesmo tempo, possibilita às crianças entrar nos costumes na cultura das práticas
de sociabilidade real. O papel da estrutura pré-escolar é enriquecer a experiência
lúdica da criança.
Para Wajskop,
“A definição de brincadeira como atividade social específica é fundamental que garante a interação e construção de conhecimentos da realidade pela criança é que nos permite estabelecer um vínculo com a função pedagógica da pré-escola”. (Wajskop, p.25)
Esta autora acredita que a pré-escola organizada em torno da brincadeira
infantil pode cumprir sua função pedagógica ampliando o repertório vivencial e de
conhecimento da criança em direção à autonomia e à cooperação. Resultado de
relações interindividuais e culturais, a brincadeira pressupõe uma aprendizagem
social.
Dessa forma;
“a garantia de um espaço da brincadeira na pré-escola é a garantia de uma possibilidade de educação da criança voluntária e consciente” (idem. p. 31)
Por tudo isso é importante que a brincadeira seja incorporada no currículo
como um todo e que o adulto seja não só um elemento integrante, mas também
um medidor entre as crianças e o conhecimento dentro da brincadeira.
Embora a brincadeira seja uma atividade livre e espontânea, ela é natural,
mas uma criação da cultura. O aprendizado dela se dá por meio das interações e
do convívio com os outros. Por isso, a importância de prever muito tempo e
espaço para ela. Essa é uma fase de ampliação do universo de informações. O
meio de processar e assimilar tantos assuntos, entender o mundo, brincar de faz-
de-conta.
Enfim, é possível concluir que os jogos e as atividades lúdicas são muito
mais do que atividades de recreação. A criança tem a possibilidade de crescer de
conhecer o mundo e construí-lo, ou seja, de se desenvolver de forma integral, pois
o jogo para a criança é uma forma de exercitar a vida adulta. Brincando, ela
aprende a se desenvolver de forma global. Assim a forma da brincadeira infantil,
pode mudar durante seu desenrolar, mas a essência da brincadeira raramente se
altera.
CAPÍTULO IV
Literatura Infantil
A literatura infantil é a chave mágica que abre as portas da inteligência e
da sensibilidade da criança, para a sua formação integral.
Segundo Ana Lúcia Cipriano, desde os primórdios da humanidade que o
homem descobriu, que qualquer habilidade é um recurso a mais à sua
disposição;mas, só depois que aprendeu criar possibilidades para o seu próprio
conhecimento, ele descobriu e cultivou os seus valores, fazendo admirado e
respeitado. E é a literatura infantil que vai criar essas possibilidades, porque ela é
que é a básica; dela, paradoxalmente, é que vêm todas. Todas as literaturas
nascem da poesia: da infância da literatura, que é o mito, o poético, que embalou
o homem como as histórias embalam crianças. As histórias são para a criança o
que foram as parábolas de Cristo para os cristãos, para os homens: sementes
para germinar e frutificar (CIPRIANO).
Sempre se acreditou que a diferença entre a criança e o adulto se limitasse
a tamanho e se reduzissem os aspectos quantitativos. Hoje, sabemos que a
infância constitui uma fase inicial de evolução e formação com suas implicações
específicas e suas complexidades, em nada comparável com o adulto. E todas as
potencialidades da criança devem ser cuidadosamente cultivadas, com seriedade
e amor.
Sendo a criança criativa, é preciso de matéria-prima sadia e com beleza
para organizar seu “mundo mágico”, seu universo possível, onde ela é a dona
absoluta: constrói e destrói, constrói e cria, realizando-se e realizando tudo o que
ela deseja. A imaginação bem motivada é fonte de libertação, com riqueza. É uma
forma de conquista de liberdade, que produzirá bons frutos, como a terra agreste,
que aduba e enriquece, produz frutos sazonados.
Assim, a aprendizagem escolar deve possibilitar que a criança se aproprie
do conhecimento acumulado pela humanidade. Sabe, também, que a humanidade
criou diferentes formas de expressão. Os textos literários são uma dessas formas.
Para Coutinho,
“Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida autônoma, independente do autor e da experiência da realidade de onde proveio (Coutinho, 1978 p. 9-10)”.
O escritor é assim, um artista, essa linguagem cheia de significados é
importante na Educação Infantil, pois a criança busca a todo instante entender o
mundo que a cerca e nesse sentido, a literatura tem um papel fundamental. Por
meio dela, a criança constrói significados e compreende melhor o que é real. Por
exemplo, através de uma história a criança poderá estabelecer relações entre o
que está escrito e entre aquilo que vê, observa, sente, experimenta...
Assim a literatura infantil, enriquecendo a imaginação da criança, vai
oferecer condições de liberação sadia, ensinando-lhe a libertar-se pelo espírito:
levando-a a usar o raciocínio e cultivar a liberdade.
Nessa perspectiva, Fanny Abramovich afirma ser importante para a
formação de qualquer criança ouvir muitas histórias. (ABRAMOVICH., 1994, p.16).
A imaginação do homem esta fadada a estiolar-se, consumida pelo
cientificismo, pelo tecnicismo e o próprio homem está condenado a morrer de
tédio, consumido pelo esvaziamento do sentido humano.
Há os que condenam os contos fantásticos de fadas. Fantástico também é
que isso aconteça, pois não conseguimos entender como é possível condenar-se
inocência e beleza, uma vez que as inocentes histórias de fadas, mesmo com
algumas implicações negativas, só podem encantar e enriquecer o espírito da
criança. E os argumentos apresentados contra os contos de fadas são tão fracos
de conteúdo, quanto pobres de sensibilidade. Assim entendemos.
Tire-se ao homem a capacidade de sonhar o poder da imaginação criadora
e contemplativa e diga-nos o que resta nele ou, melhor o que fica da criatura
humana?!
Sonhar é preencher vazio, é criar condições terapêuticas para os impactos
da realidade, é libertar-se enfim!
No entanto, a criança não é um leitor passivo. Ele é questionador, curioso e
interage com o texto. Apesar de constituir-se em prática recorrente na escola, a
literatura (o texto) não deve ser usada como pretexto par ensinar determinado
conteúdo pois;
“O texto não é pretexto para nada. Ou melhor, não deve ser. Um texto existe apenas na medida em que se constitui ponto de encontro entre dois sujeitos: o que escreve e o que lê; escritor e leitor, reunidos pelo ato solitário da leitura, contrapartida do igualmente solitário ato da escritura”. (Latojo, 1982 p.52)
Nessa perspectiva, as práticas que envolvam textos literários devem
possibilitar à criança a experiência do leitor real. E o leitor real é aquele que lê e
interage com o texto individualmente.
Dos livros sem texto, somente com ilustrações conseguem contar uma
história. São textos que permitem ler sem saber ler da forma tradicional. Esses
livros são bastante indicados para serem trabalhados na Educação Infantil, para
isso antes é preciso educar o olhar, torná-lo ativo e crítico. Não basta ver por ver.
É ler ao ver. Nesse caso haverá uma interação de linguagens: a idéia será
representada pela ilustração.
Enfim textos como contos, contos de fadas, fábulas, teatro, poesia, histórias
em quadrinhos, parlendas, trava-língua, música, cantigas de roda, lendas, piadas,
adivinhações são indicadas para Educação Infantil lendo, ouvindo, dramatizando,
criando, e recriando estimulam a criatividade, a espontaneidade da criança, que se
transformará em um adulto mais seguro e feliz capaz de enfrentar qualquer
desafio que surgir.
CONCLUSÃO
O ser humano em todas as fases do seu desenvolvimento, está sempre
aprendendo e descobrindo coisas novas através do contato com seus
semelhantes e pelo domínio sobre o meio em que vive. Ele nasce para aprender,
descobrir e apropriar-se dos conhecimentos, desde os mais simples até os mais
complexos e é isso que lhe garante a sobrevivência e a integração na sociedade
como ser crítico, criativo e participativo.
Assim, o homem descobriu, desde os primórdios da humanidade , que
qualquer habilidade é um recurso a mais à sua disposição; mas, só depois que
aprendeu criar possibilidades para o seu próprio conhecimento, ele descobriu e
cultivou os seus valores, fazendo admirado e respeitado. E é a literatura infantil
que vai criar essas possibilidades, porque ela é básica; é a chave mágica que
abre as portas da inteligência e da sensibilidade da criança para sua formação
integral. Enriquece a imaginação da criança de forma lúdica, oferecendo
condições de liberação sadia, ensinando-lhe a libertar-se pelo espírito: levando-a a
usar o raciocínio e cultivar a liberdade.
Dessa forma, descobrir a ludicidade na Educação Infantil é algo
surpreendente diante das possibilidades que se proporciona ao desenvolvimento e
aprendizagem da criança. A brincadeira, o faz-de-conta, serve como instrumentos
de aprendizagem pois oferece desafios de forma lúdica, sendo o aprendizado
prazeroso e divertido.
Por meio da atividade lúdica o homem comunica-se com o mundo, se
expressa e compreende cada vez mais o mundo a sua volta. Na vivência de uma
atividade lúdica o ser humano torna-se pleno, vivenciando, ao mesmo tempo,
sentimento, pensamento e ação. No entanto, a ludicidade não se restringe ao jogo
ou a brincadeira, implica uma maior amplitude, o envolvimento mais profundo do
sujeito, um encontro com ele mesmo e com o outro. A utilização do lúdico na
escola caracteriza-se como um recurso pedagógico riquíssimo, pois oferece à
criança oportunidade de se desenvolver em todos os níveis: físico,motor, social,
afetivo, cognitivo e moral.
Assim, é importante percebermos o significado do brincar para a criança
sendo preciso para isso, que conheçamos o desenvolvimento infantil, pois
somente dessa maneira poderemos oferecer as oportunidades que as crianças
tanto precisam. Elas utilizam a brincadeira como uma ponte do imaginário para o
real, cria hipóteses, explora emoções, troca de papéis e manipulando a realidade
que muitas vezes não consegue perceber, é que ela irá entender as emoções e
vivenciar a realidade. O brinquedo é parte integrante da vida das crianças, pois ao
brincar, organiza seu pensamento, faz uso da linguagem e da criatividade.
Segundo Maria do Rosário,
“O brinquedo é a oportunidade de desenvolvimento. Brincando a criança experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração e da atenção”. (Maria do Rosário Silva Souza).
Nessa perspectiva, o brinquedo estimula a representação da realidade, pois
ela estará vivendo algo ou alguma situação ausente naquele momento. O brincar
é realizado por puro prazer e cria uma atitude alegre em relação à vida e a
aprendizagem. No entanto, mais importante que o brinquedo propriamente dito é o
que ele revela e o como é explorado pela criança.
O brincar é a forma de a criança compreender o mundo adulto à sua volta,
trazendo-o para o seu mundo imaginário. A criança que brinca vive em sua
infância, torne-se-á um adulto mais equilibrado físico e emocionalmente, suportará
muito melhor a pressão das responsabilidades adultas e terá maior criatividade
para solucionar os problemas que surgirem.
Portanto a educação é o mecanismo pelo qual se prepara o indivíduo para
o exercício da cidadania e como educadora tenho uma grande contribuição para
dar nesse sentido, mas para que eu possa desempenhar bem essa função, é
necessária uma preparação, até porque hoje preparar o educando para se tornar
um cidadão exemplar não é fácil, muito pelo contrário é uma tarefa árdua e cheia
de desafios. Por isso, visando tornar-me uma profissional eficiente e apta a
assumir essa tarefa é que cursei essa pós-graduação em Educação Infantil e
Desenvolvimento, pois este curso orienta, instrui e aperfeiçoa.
No decorrer deste período, tive a oportunidade de aprofundar meus
conhecimentos referentes ao desenvolvimento da criança através de jogos
brincadeiras, histórias que si, trabalhadas ludicamente proporcionam uma
aprendizagem mais prazerosa à criança.
Algumas dificuldades encontradas em conciliar trabalho, estudo e família
foram superadas pelo desejo de crescer intelectualmente e profissionalmente.
Dessa forma, este período foi bastante esclarecer e enriquecedor, pois
possibilitou o estudo aprofundado dos termos citados anteriormente, visto que foi
uma análise e reflexão profunda para a escrita destes textos.
Portanto, a educação deve ter uma visão global de seus alunos
proporcionando a construção e o acesso aos conhecimentos socialmente
disponíveis da sociedade. Ao criar desafios para a inteligência da criança, deve-se
levar em consideração seus interesses e suas necessidades, proporcionado
condições favoráveis para que se promova a construção do conhecimento integral
do educando, levando em conta seus interesses, suas necessidades e o prazer de
ser sujeito ativo desta construção.
Frente a todas essas constatações, é possível afirmar, sem dúvida alguma,
que precisamos resgatar o espaço lúdico em nossa sociedade. Sendo
considerado como meio de expressão e aprendizado, ela é indispensável à prática
educativa. Para isso, é importante termos bem claro, a função do brincar no
processo de desenvolvimento e aprendizagem, assim como o papel do professor
nesse processo. Ainda, é possível concluir que os jogos e as atividades lúdicas
são muito mais do que atividades de recreação. A criança tem a possibilidade de
crescer de conhecer o mundo e construí-lo, ou seja, de se desenvolver de forma
integral, pois o jogo para a criança é uma forma de exercitar a vida adulta.
Brincando, ela aprende a se desenvolver de forma global. Assim a forma da
brincadeira infantil, pode mudar durante seu desenrolar, mas a essência da
brincadeira raramente se altera.
Contudo, este foi mais um degrau para o meu aperfeiçoamento profissional,
tenho perspectivas de aprofundar, para cada vez mais oferecer qualidade aos
educandos.
Enfim, brincar é coisa séria!
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