BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O GÊNERO DISCURSIVO DENTRO DA SALA DE AULA.
A questão norteadora do nosso artigo é tentar compreender o real tratamento do
gênero discursivo dentro da sala de aula. Para isso abordaremos a princípio o conceito
de gênero na visão de alguns estudiosos e em seguida discutiremos sobre como tratar os
gêneros na sala de aula.
Entende-se por gênero discursivo (gênero textual), a partir das idéias de Bakhtin
(1992), toda produção de linguagem (enunciado) oral ou escrita, sendo que cada gênero
discursivo é identificado pelos participantes da situação de comunicação por seu
objetivo comunicativo, suas características linguístico-textuais relativamente estáveis
sua temática, seu estilo, suas condições de produção e circulação. Os inúmeros gêneros
discursivos produzidos por nossa sociedade podem ser agrupados segundo vários
critérios. De acordo Maingueneau (2001) sugere um critério baseado nas diversas
esferas sociais como: literária, jornalística, publicitária, comercial, de divulgação
científica. Em cada uma dessas áreas de atuação são produzidos diversos tipos de
gêneros discursivos orais e escritos. Assim nos reportamos a Marcuschi (2005), as
posições defendidas por Bakhtin (1992) motivaram muitos autores a tratar a língua “em
seus aspectos discursivos e enunciativos, e não em suas peculiaridades formais. Esta
visão segue uma noção de língua como atividade social, histórica e cognitiva. Nesta
perspectiva, os gêneros discursivos devem ser vistos na relação com as práticas sociais,
os aspectos cognitivos, os interesses, as relações de poder, as tecnologias, as atividades
discursivas e no interior da cultura” (Marcuschi, 2005). Os gêneros são tipos
relativamente estáveis de enunciados (Koch, 2005), marcados sócio-historicamente,
visto que estão diretamente relacionados às diferentes situações sociais. A competência
sócio-comunicativa dos falantes/ouvintes leva-os à deteção do que é adequado ou
inadequado em cada uma das práticas sociais, e também à diferenciação dos gêneros de
texto, como anedotas, poemas, conversa telefônica, etc.
Como notamos em Maingueneau (2001) que explica que um gênero do discurso
submete-se a certas condições de êxito, como: ter uma finalidade; ter enunciadores em
parceria; ter lugar e momentos legítimos; e ter uma organização textual, às vezes mais
rígida, e às vezes com características mais básicas, mas sempre dentro de uma
organização. “Gêneros moldam o pensamento que nós formamos e as comunicações
pelas quais interagimos. Gêneros são espaços familiares nos quais nós criamos ações
comunicativas inteligíveis uns com os outros e são guias que usamos para explorar o
não familiar.” (Bazerman, 1997 apud Dionísio, 2005).
GÊNEROS DISCURSIVOS NA SALA DE AULA.
A ação docente sob a perspectiva dos gêneros do discurso é uma questão de
construção de paradigmas que se direcionam a uma compreensão da linguagem como
prática social. Buscar desconstruir a relação dialógica bidirecional entre discurso e
sociedade, tornando os diversos textos, materializados nos diferentes gêneros trazidos
para sala de aula, como um espaço de interpretação, compreensão e descrição dos
efeitos da linguagem em nosso espaço de relações sociais, construção identitária e
representação da realidade. Kleiman fala que devemos focalizar na compreensão no
ensino/aprendizagem de leitura, a relação imbricada entre ação linguística e
situacionalidade, isto é, a relação dos gêneros com suas condições sociais de produção e
sua esfera social de construção e funcionalidade.
Compreendemos que os gêneros discursivos são ferramentas muito importantes
no ensino de língua portuguesa e que se faz totalmente necessário sua utilização dentro
da sala de aula, porém o educador precisa ter cuidados ao trabalhar cada gênero, não
mostrando apenas suas particularidades mais simples, mas colocando o gênero como
uma ferramenta indissociável a sociedade, como ele se apresenta e como é concebido
por todos. Por tanto mostrar os gêneros discursivos apenas como objeto para estudo é
negar a real importância de cada gênero na vida do sujeito, por tanto é imprescindível
levar ao aluno a possibilidade de conhecer a fundo as reais características de cada
gênero, para que os alunos possam entender como se constituem e saber também
interpretá-los.
De acordo com Lopes-Rossi (2002), “cabe ao professor criar condições para que
os alunos possam apropriar-se de características discursivas e linguísticas de gêneros
diversos em condições reais, através de projetos pedagógicos que visem ao
conhecimento, à leitura, à discussão sobre o uso e as funções sociais dos gêneros
escolhidos e, quando pertinente, à sua produção escrita e circulação social”.
Compreender gêneros é, portanto, uma prática de leitura inserida em um
contexto social, é entender que, “nossas atividades são realizadas no mundo social, em
situações concretas, e é por meio da linguagem, nas suas diferentes modalidades, que
realizamos muitas das ações que nos interessam” (Kleiman, 2006, p. 25).
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