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Page 1: Brasileirojá pagou R$ 1 trilhão em impostos

ECONOMIASALVADOR TERÇA-FEIRA 26/10/2010 B5

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Editor-coordenadorFlávio Oliveira

TRIBUTOS O impostômetro mede quanto vocêpagou em 2010 www.atarde.com.br/economia

CARGA TRIBUTÁRIA Até o final do ano,serão desembolsados R$ 1,27 trilhão

Brasileirojá pagouR$ 1 trilhãoem impostosJULIANA BRITO

Hoje, enquanto o contribuin-te brasileiro estiver almoçan-do, o Impostômetro – ferra-menta que contabiliza a ar-recadaçãotributárianacional– vai atingir, pela segundavez, a marca de R$ 1 trilhão. Naprimeira, em 2009, o trilhãofoi atingido 49 dias depois,em 14 de dezembro. Se no anoanterior foram arrecadadosR$ 1, 093 trilhão, em 2010 aestimativa é de novo recorde:R$ 1,27 trilhão. E tem um de-talhe: de acordo com os es-pecialistas em direito tribu-tário, em se tratando de cargatributária não há muito o queo contribuinte possa fazer pa-ra reduzir o seu impacto.

Eventualmente, os gover-nos oferecem descontos paraquem paga o imposto ante-cipadamente e em parcelaúnica, como é o caso do IPVAe do IPTU, ou para quem deviae deseja saldar a dívida. O ad-vogado especialista em direi-to tributário Victor Pereiraalerta que confiar na condes-cendência do estado não éuma boa estratégia. “É impre-visível. Pode chegar um go-verno que conceda esses des-contos, como pode vir um quenão faça”, afirmou.

Para o especialista, o con-tribuinte deve evitar os atra-sos, que implicam na cobran-ça de juros e mora. Outra es-tratégia é reunir todos oscomprovantes fiscais de des-pesas com saúde, educação edependentes para garantir

uma maior restituição do Im-posto de Renda. Victor Pereiraalerta que o jeitinho brasilei-ro está cada vez menos eficazquando se trata de desviar-sedas garras do leão. “O fiscoestá cada vez mais eficienteem fiscalizar a arrecadação”.

EstudoDe acordo com o Instituto

Brasileiro de PlanejamentoTributário (IBPT), o Brasil é opaís com a carga tributáriamais elevada entre os paísesem desenvolvimento daAméricadoSuledoBrics(Bra-sil, Rússia, Índia e China). Umestudo da Fundação Institutode Pesquisas Econômicas (Fi-pe) afirma que uma famíliabrasileira com renda de até

dois salários mínimos podeter 45,8% dela comprometidapor impostos indiretos.

Segundo um estudo doIBPT, em 2010, o brasileirotrabalhou até 28 de maio sópara pagar impostos, totali-zando quatro meses e 28 dias.Na década de 70, o contri-buinte trabalharia apenasdois meses e 16 dias, ou seja,

quase metade do tempo gastoatualmente. Em países em de-senvolvimento como Argen-tina, Chile e México, o núme-ro de dias trabalhados nãocheganemacem.Contribuin-tes de países como a Suécia,Estados Unidos e França tra-balham respectivamente 185,102 e 149 dias para pagar osseus impostos.

Lúcio Távora / Ag. A TARDE

Daniel Abondanza reclama dos encargos que incidem sobre os salários mensais

De acordo com oIBPT, o Brasil éo País com acarga tributáriamais elevadaentre ospaíses emdesenvolvimentoda América doSul e do Brics

“Se fosse nosetor privado,faria queixaao Procon”

O administrador de empresasDaniel Abondanza, assim co-mo a maioria dos brasileiros,sente na pele os efeitos da máadministração da arrecada-ção tributária. O impacto so-bre o salário é a parte quemais incomoda este contri-buinte. “É um dinheiro quefazfalta.Écercade30%doqueganho e não tem jeito: o des-conto vem direto da fonte. Is-so fora o que pago de impostode renda no início do ano”.

Assim como boa parte daclasse média, o administra-dor paga plano de saúde erealizou seus estudos em co-légios privados. A graduaçãoem universidade pública foium dos raros momentos emque usufruiu de educação“gratuita”. Daniel faz coro aosmilhares de contribuintes in-satisfeitos com a “falta de re-torno” de seus impostos. “Sefosse no setor privado, eu fa-ria queixa ao Procon, no mí-nimo. Mas como se trata damáquina pública...”.

Este ano ocontribuintebrasileirotrabalhou até 28de maio só parapagar impostos

Retomadado empregocontribui paraarrecadação

À primeira vista, a arrecada-ção tributária recorde fazpensar em um cenário desa-nimador, mas não é bem esseo quadro. Em boa parte, esseresultado é consequência daboa fase da economia nacio-nal. Se em 2009 o Brasil aindaestava convalescente da criseeconômica do ano anterior,em 2010 mostra-se em plenaforma. “Esse aquecimento ge-ra mais empregos e isso temimpacto positivo na arreca-dação de impostos”, explica aadvogada e vice-presidentedo IBPT Letícia do Amaral.

A tecnologia possui a suaparcela de responsabilidadenessa arrecadação recorde, jáque possibilitou a elaboraçãode técnicas que dificultam asonegação fiscal, além deuma maior troca de informa-ções entre as três esferas go-vernamentais: União, estadose municípios.

O recorde de arrecadaçãode impostos pode, paradoxal-mente, forçar uma reduçãona carga tributária. “Esse ce-nário economico aquecido éfavorável a redução de impos-tos em determinados produ-tos essenciais”, aposta Letíciado Amaral.

Para Victor Pereira, falta in-formação para o brasileiro so-bre quanto ele paga de im-postos. “Nos EUA, o consumi-dor sabe, ao pagar por umproduto, quanto está gastan-do com impostos. No Brasilnão há essa transparência”.

O PESO DOS IMPOSTOSVeja o quanto de impostos está embutido em produtos e serviços. Carga tributária (em %)

Açúcar Aparelhode som

Bacalhauimportado

Bicicleta Caipirinha Calçajeans

Casapopular

Chocolate Gasolina Moto(250 cc)

TV porassinatura

Telefonecelular

VeículoCelta 1.0

32,33 36,8043,78 45,93

76,66

38,5348,30

38,6053,03

64,65

46,12 39,80 37,55

Quais impostos incidem sobre a conta de luz e o litro de gasolina (%)

Conta de luz

FONTE Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário: (IBPT)

ICMS/ISS

PIS

PISCofins

CofinsINSS/FGTS/Terceiros

INSS/FGTS/TerceirosIRPJ

CSLL

Outros

Outros

27,93

17,97

250,93

3,41

4,09

6,65

5,22

4,09

2,89

1,25

3,73

46,04

Gasolina

53,03

ICMS

Editoria de Arte A TARDE

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