AVALIAÇÃO DA TECNOLOGIA DE
INFORMAÇÃO DE CARGAS
CONTEINERIZADAS DOS PORTOS
CATARINENSES POR MEIO DA
METODOLOGIA MULTICRITÉRIO DE
APOIO À DECISÃO-CONSTRUTIVISTA
João Paulo Meirelles
Evandro Moritz Luz
Com o crescente aumento da demanda por serviços portuários há
também a necessidade do uso de sistemas de informação adequados
para otimização e atendimento destes serviços portuários. Nesse
contexto, é necessário saber quais aspectos devem ser considerados no
processo de Avaliação de Desempenho da Tecnologia da Informação
de cargas conteinerizadas para apoiar as decisões de escolha dos
portos catarinenses. Assim, este trabalho tem como objetivo construir
um modelo multicritério construtivista para apoiar as decisões de
logística portuária referentes à Tecnologia da Informação empregada
nos processos de importação e/ou exportação de cargas
conteinerizadas dos portos catarinenses. Para tal, foi utilizado a
Metodologia Multicritério de Apoio à Decisão-Construtivista, afim de
obter como produto final um modelo para apoiar o decisor na escolha
de um porto catarinense para a exportação e/ou importação de
mercadorias, com base na Tecnologia da Informação disponível em
cada porto. Como resultados, foi possível a identificação de três
grandes Áreas de Preocupação, seis Pontos de Vista Fundamentais e
construção de quatro indicadores de desempenho relacionados ao uso
da Tecnologia da Informação em quatro portos catarinenses. Os dados
obtidos no Perfil de Desempenho gerado pelo modelo apontaram que,
segundo a percepção do decisor, não há recomendações a serem feitas,
já que o desempenho dos portos avaliados encontra-se em nível de
excelência e as recomendações são voltadas aos níveis
comprometedores. Entretanto, mesmo que o desempenho dos critérios
avaliados esteja em níveis de excelência, é possível aumentar suas
escalas de avaliação, pois os sistemas de informação empregados em
portos estão em constante aperfeiçoamento, necessitando que seus
níveis de referência sejam atualizados ao longo do tempo. Assim, é
possível que recomendações sejam geradas para que melhorias sejam
alcançadas nos portos Catarinenses, buscando sempre atingir um nível
de excelência que acompanhe os principais portos internacionais que
se interligam na cadeia logística portuária globalizada. Por fim, os
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
2
autores acreditam que o modelo personalizado para a avaliação da
Tecnologia da Informação dos portos catarinenses auxiliará o decisor
nas suas tomadas de decisões referentes à escolha de qual porto é mais
adequado para cada tipo de cliente que busca sua consultoria.
Palavras-chave: Tecnologia da informação, Eficiência Portuária,
Avaliação de desempenho
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
3
1. Introdução
Com o cenário atual de crescente demanda por serviços portuários, aliado à globalização e ao
aumento da conteinerização de cargas, novos padrões de comércio estão surgindo, trazendo
consigo a necessidade do uso de sistemas de informação adequados para otimização e
atendimento de operações portuárias. (STAHLBOCK; VOß, 2008; NGAI et al., 2011;
UNCTAD, 2013). O uso eficiente da Tecnologia de Informação (TI) em Sistemas de
Informação integrados cria vantagens competitivas aos portos, reduzindo o tempo de troca de
informações, os erros ao longo de transcrições múltiplas de dados, os custos e esforços
manuais, facilitando o fluxo de informações em tempo hábil e aprimorando o controle e
qualidade de serviços e tomadas de decisões; aumentando, assim, a eficiência global da cadeia
logística portuária (KIA; SHAYAN; GHOTB, 2000; UNCTAD, 2001). Tal aumento na
eficiência portuária, decorrente do uso de sistemas de informação, é observado no aumento do
volume de cargas movimentado por um mesmo grau de infraestrutura existente no porto (LIU;
JULA; IOANNOU, 2002; GORDON; LEE; LUCAS JR, 2005).
O aumento no volume de cargas movimentadas pelos portos nos últimos anos está
diretamente ligado ao desenvolvimento da conteinerização, que, por sua vez, é acompanhada
da aplicação da tele transmissão informatizada de dados do porto de embarque ao porto de
descarga. Os dados transmitidos são usados para planejar operações de carga e descarga, bem
como para imprimir a documentação de relatório exigida. Portanto, um sistema de controle de
contêiner informatizado, devidamente projetado, mantem precisa e atual as informações em
todas as operações de contêineres, aumentando a eficiência operacional e gerencial do
terminal (KIA; SHAYAN; GHOTB, 2000).
Apesar do consenso de que a TI é fundamental para a sobrevivência e o crescimento de uma
empresa, estudos acerca deste tema ainda estão voltados a especificar os mecanismos
subjacentes que ligam a TI ao desempenho financeiro. Neste contexto, há a necessidade de
examinar a relação entre os recursos de TI e o desempenho da empresa, pois empresas com
sucesso na criação de capacidade de TI superior, possuem desempenho financeiro superior ao
reforçar suas receitas e/ou diminuir seus custos. (BHARADWAJ, 2000).
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
4
Dada a importância da TI no desempenho portuário, surge a seguinte pergunta de pesquisa:
Quais aspectos devem ser considerados no processo de Avaliação de Desempenho (AD) da
Tecnologia da Informação de cargas conteinerizadas para apoiar as decisões de escolha dos
portos catarinenses? Para responder a essa pergunta de pesquisa, este estudo tem como
objetivo construir um modelo multicritério construtivista de AD para apoiar as decisões de
logística portuária para importação e exportação de cargas conteinerizadas dos portos
catarinenses.
Para atender aos objetivos e por se tratar de uma situação complexa, com conflitos de
interesse, em que o decisor não tem os objetivos ou critérios claros, e deseja que eles sejam
construídos em forma específica ao contexto da TI de portos catarinenses, segundos seus
valores e preferência, utilizar-se-á a Metodologia Multicritério de Apoio à Decisão-
Construtivista (MCDA-C). Como produto final há um modelo para apoiar o decisor na
escolha de um porto catarinense para a exportação e/ou importação de mercadorias, com base
na TI disponível em cada porto.
2. Metodologia - Instrumento de Intervenção para Construção do Modelo Multicritério
de Apoio à Decisão-Construtivista (MCDA-C)
A metodologia Multicritério de Apoio à Decisão-Construtivista (MCDA-C) nasce como uma
ramificação do MCDA tradicional, visando apoiar as tomadas de decisões em contextos,
conflitantes e incertos (ENSSLIN; NETO; NORONHA, 2001). A principal vocação da
MCDA-C é o processo de desenvolver o conhecimento do decisor sobre o contexto no qual
está inserido e precisa intervir.
Esse processo de desenvolvimento do conhecimento do decisor é realizado de forma sistêmica
e sistemática em três fases: Estruturação, Avaliação e Recomendações, como é ilustrado na
Figura 3. Neste estudo, apenas as Fases de Estruturação e Recomendações serão realizadas
(LONGARAY et al., 2018).
Figura 3 – Fases do MCDA-C
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
5
Fonte - Ensslin, Dutra & Ensslin (2000)
Na Fase de Estruturação o contexto do problema é estruturado e organizado, possibilitando
identificar, organizar e mensurar ordinalmente as preocupações que o decisor considera
relevante para serem avaliadas no contexto (ENSSLIN, L. et al., 2010).
Para tal, entrevistas semiestruturadas foram realizadas. Por meio destas entrevistas foram
identificados os Elementos Primários de Avaliação (EPA’s), que tratam de características e
propriedades do contexto que o decisor considera importante no processo de avaliação. Para
que seja possível um melhor entendimento dos EPA’s, estes são transformados em conceitos
orientados para a ação, identificando seus dois polos: polo presente, que é a direção de
preferência que o decisor almeja alcançar nesta dimensão; e o polo oposto psicológico, que é
a consequência mínima aceitável e que o decisor deseja minimizar (ENSSLIN; NETO;
NORONHA, 2001).
Os conceitos construídos para cada EPA são agrupados de acordo com a preocupação
estratégica que eles representam, formando os mapas cognitivos (ENSSLIN et al., 2010;
LONGARAY et al., 2018). A partir dos mapas, uma Estrutura Hierárquica de Valor é
construída que evidenciará os Pontos de Vista Fundamentais (PVF’s), que por serem muito
abrangentes, são decompostos até que seja possível a obtenção dos Pontos de Vista
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
6
Elementares (PVE’s). Os PVE’s representam propriedades (objetivos) do contexto que podem
ser mensurados de forma objetiva e não ambígua. Assim, é possível construir os descritores
(escalas ordinais) para mensurar qualitativamente os objetivos (ENSSLIN, L. et al., 2010).
Para cada escala ordinal construída o decisor identifica os Níveis de Referência: Nível Bom (a
partir de onde o desempenho é considerado como Excelente) e o Nível Neutro (o qual abaixo
dele o desempenho é considerado como Comprometedor). Entre estes dois níveis o
desempenho é considerado Competitivo, ou seja, dentro das expectativas do decisor
(ENSSLIN; NETO; NORONHA, 2001). Com base nestes indicadores (objetivos +
descritores), é possível traçar o Perfil de Desempenho de cada porto.
Com base no conhecimento qualitativo promovido pela Fase de Estruturação, passa-se para
Fase de Recomendações onde ações de melhorias são desenvolvidas e sugeridas para que o
porto melhore seu desempenho naqueles indicadores cujo desempenho é comprometedor.
Sendo assim, ambas as Fases promovem informações que auxiliam na gestão (ENSSLIN, L.
et al., 2010).
3. Revisão de Literatura
A aplicação de tecnologias de informação inovadoras e sistemas de informação são
necessários para facilitar a comunicação em tempo real, processamento de dados,
planejamento, e apoio à decisão referentes à cadeia logística portuária (HEILIG; VOß,
2017b). Neste contexto, a TI empregada na cadeia logística portuária é considerada essencial
para facilitar a integração desta cadeia. Dentre estas tecnologias empregadas estão os sistemas
de produção computadorizados, sistemas de informação integrados e intercâmbio eletrônico
integrado de dados.
Kia, Shayan e Ghotb (2000) investigaram a importância da tecnologia da informação e seu
papel na melhoria dos sistemas operacionais de manuseio de carga. Eles usaram um modelo
de simulação para comparar a produtividade de um terminal de contêiner equipado com
dispositivos eletrônicos com outro terminal sem tais dispositivos. Dentre estes dispositivos
estão a (i) Tecnologia Micro-ondas, empregada para rastrear a colocação e retirada de
contêineres, registrando dados relevantes contidos em etiquetas (tags) instalados nos
contêineres; (ii) Tecnologia de Etiquetas (tagging) no transporte de carga ferroviária,
fornecendo informações relevantes sobre o conteúdo dos contêineres carregados em trens e
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
7
destinatários; (iii) Leitor de Código de Barra, este sistema é capaz de fornecer informações
rápidas exigidas pela alfândega quando os navios estão no berço. Ele opera de forma mais
eficaz em um ambiente controlado e com superfície exposta, particularmente quando
quantidades relativamente pequenas de dados precisam ser capturadas; (iv) RFID (Radio-
Frequency Identification), sistema desenvolvido para identificação automática e em tempo
real de contêineres, principalmente em ambientes que sofrem intempéries naturais, pois possui
uma ótima faixa de transmissão para ambientes portuários, tornando mais ágil o
gerenciamento de carga (CHO et al., 2006; SHI; TAO; VOß, 2011); e (v) Tecnologia de
Reconhecimento de Voz, fornece comunicações entre os operadores de guindastes e
trabalhadores do cais. Este sistema pode ser usado de forma autônoma ou pode ser integrado
com outras tecnologias nas comunicações durante a carga e descarga de um navio. Outro
importante tecnologia empregada é o sistema de reconhecimento de caracteres ópticos (OCR),
que permite um reconhecimento automático de caracteres alfanuméricos e manuscritos em
documentos digitalizados ou imagens (HEILIG; VOß, 2017a).
Os avanços recentes nos diversos componentes das tecnologias de informação e automação
tornaram tecnicamente possível o desenvolvimento de terminais totalmente automatizados.
Tais avanços permitiram que terminais de contêineres automáticos se tornassem potenciais
candidatos a melhorar seus desempenhos, afim de enfrentar os desafios do futuro no
transporte marítimo (LIU; JULA; IOANNOU, 2002).
Uns dos principais desafios da AD de sistemas de informação portuários é a falta de métrica
de desempenho que captura o processo de digitalização em andamento, e, assim, oriente seus
esforços para melhorias. As estruturas de desempenho portuário usadas amplamente na
indústria consistem em um conjunto de Indicadores Chave de Desempenho (KPIs).
Geralmente, a performance de um porto é caracterizada por sua capacidade de movimentação
de carga, tendo como principal medida a movimentação anual de contêineres (CULLINANE;
WANG, 2010)). Além deste KPI, outros indicadores chave são citados na literatura como
infraestrutura física, mão-de-obra e capital. O capital inclui ativos portuários como
guindastes, porteineres para navios, straddle carriers e os diversos tipos de trucks usados no
manuseio de contêineres (CULLINANE; WANG, 2010). Apesar da conhecida importância
destes KPIs na AD portuário, eles não possuem uma métrica que capture o desempenho do
processo de digitalização da informação nos diversos elos da cadeia logística (JAGER; LIN,
2016).
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
8
Neste cenário, indicadores de desempenho são cruciais para ilustrar até que ponto portos têm
alcançado seus objetivos, bem como em que áreas precisam melhorar suas performances.
Alguns importantes (KPIs) de sistemas de informação empregados em portos são
identificados na literatura, como, por exemplo, o nível de compartilhamento de informações
entre os diversos atores portuários. O compartilhamento de informações, neste caso, refere-se
a uma atividade que leva à visibilidade de eventos, objetos e planos relevantes além das
fronteiras da empresa para apoiar decisões relacionadas ao desempenho organizacional
(JAGER; LIN, 2016).
Cho et al. (2006) avaliaram o desempenho de um sistema chamado ‘tag eletrônico de
tecnologia da informação portuária’, composto de um pequeno tag, um selo de container
eletrônico inteligente e sistema RTLS (Sistema de Localização em Tempo Real). Foram
avaliados o padrão de conformidade com a certificação ISO, a conservação de energia para
estender a vida dos tags pelo maior tempo possível, taxa de identificação correta na presença
de várias etiquetas e o tempo de resposta dos tags o mais rápido possível. Os resultados
mostraram que o número de contêineres processados no porto aumentou dramaticamente,
levando a gestão portuária considerar este método eficiente para o processamento dos
contêineres.
Huynh e Walton (2011) exploraram opções para reduzir custos e melhorar a qualidade do
serviço em terminais de contêineres por meio de sistemas de agendamento de entrada de carga
no porto. Eles avaliaram estratégias de agendamento de entrada de caminhões no porto,
observando o efeito de limitar as chegadas de caminhões na utilização do guindaste de pátio,
o desempenho de diferentes tipos de guindastes e os principais fatores que afetam o
desempenho das regras de agendamento de entrada de caminhões. Os autores buscaram
identificar a eficácia de diferentes regras de agendamento na minimização do tempo ocioso de
guindastes e tempo de espera dos caminhões. Os resultados mostraram que existe um
benefício claro no uso de sistemas de agendamento.
Jager & Lin (2016) selecionaram KPIs operacionais para avaliar um conjunto de portos do
mediterânio. Os KPIs selecionados para avaliar o nível tecnológico foram: número de
tecnologias de informação e comunicação que portos oferecem aos usuários; sistemas
colaborativos logísticos e sistemas B2B. Assim, foi criado um único Indicador de
Compartilhamento de Informação (ISI), incorporado ao quadro geral de avaliação de
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
9
desempenho do e porta definido como a proporção do valor real para o valor máximo das
métricas compartilhadas e de nível. Desta maneira, o ISI expõe o nível de compartilhamento
de informações a todos os atores envolvidos e às autoridades relevantes.
4. Resultados
4.1 Fase de Estruturação
4.1.1 Contextualização, Subsistema de Atores e Rótulo
Os portos catarinenses estão presentes de forma significativa no cenário brasileiro em volume
de movimentação de cargas pelo transporte marítimo. De acordo com a Antaq (2017), do total
de aproximadamente 1 bilhão em toneladas de cargas movimentadas pelos portos em 16
estados brasileiros em 2016, Santa Catarina ocupou a oitava posição em movimentação de
cargas, com um total aproximado de 41,5 de toneladas em seus portos.
Os portos catarinenses de Imbituba, Itajaí, Portonave e Itapoá movimentaram contêineres em
unidade de TEUs (equivalente a um contêiner de 20 pés) cerca de 20% do total movimentado
no Brasil, em 2016, representando de forma significativa Santa Catarina. (Antaq, 2017). A
eficiência da Tecnologia da Informação empregada em cada do estado influencia na escolha
do porto para exportação e/ou importação de mercadorias.
Diante desse cenário, fez-se a identificação de quem receberia o modelo de Apoio à Decisão,
quem seriam os atores com poder de interferência no processo e aqueles com interesse nas
decisões a serem tomadas. O decisor em questão é um especialista/consultor na área de
logística portuária que participa ativamente de todo o processo; os intervenientes são os
componentes da Câmara de Transporte e Logística da FIESC, que influenciam o decisor, mas
não participam diretamente no processo de construção do modelo; os facilitadores são os
autores do artigo que buscam seguir a metodologia e integrar todas as atividades
desenvolvidas; e, os agidos são as empresas importadoras e exportadoras, os portos, os
operadores logísticos, os clientes e a hinterlândia na qual o porto está inserido.
Com base nisso, por meio de um processo interativo entre facilitador e decisor, foi elaborado
um Rótulo que representasse o mais claramente possível as principais preocupações do
decisor em relação ao problema. O Rótulo do estudo de caso foi definido como: “Avaliação
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
10
de Desempenho da Tecnologia da Informação da Logística de Cargas Conteinerizadas para
Apoiar as Decisões de Escolha dos Portos Catarinenses”.
4.1.2 Elementos Primários de Avaliação e Conceitos
Seguindo a Fase de Estruturação, foram identificados os EPAs que o decisor julgou
importantes, bem como seus conceitos contendo o polo presente e o polo oposto psicológico.
O Quadro 2 mostra EPAs do total de 105 EPAS de diversas áreas obtidos durante as
entrevistas, com seus conceitos, onde as reticências (...) devem ser lidas como "ao invés de" e
correspondem ao oposto psicológico.
Quadro 1 - EPAs e conceitos construídos
Fonte: Autores
4.1.3 Mapas Meios Fins e Árvore de Ponto de Vista Elementares
Com o conhecimento gerado com a identificação dos EPAs, foi possível agrupá-los em
grandes áreas de preocupação: Eficiência Portuária, Hinterlândia Portuária e Custos da Cadeia
Logística Portuária. Neste trabalho, apenas a grande área de Eficiência Portuária foi abordada.
Dentro dessa área, foram identificados os candidatos a Pontos de Vista Fundamentais (PVFs).
Foram listados seis PVFs: Disponibilidade de Atendimento, Infraestrutura Física,
Infraestrutura de Equipamentos, Tecnologia de Informação, Eficiência Operacional e
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
11
Eficiência Gerencial. A Figura 4 apresenta o mapa cognitivo com os Clusters associados às
preocupações do decisor para o PVF abordado neste estudo ‘Tecnologia de Informação’ e
seus respectivos conceitos.
Figura 4 - Mapa cognitivo com clusters do PVF – tecnologia da informação
Fonte: Autores
O agrupamento dos Clusters possibilitou a construção da Estrutura Hierárquica de Valores
com os Pontos de Vista Elementares, como mostra a Figura 5.
Figura 5 - Estrutura hierárquica de valor do PVF – Tecnologia da Informação
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
12
Fonte: Autores
Com a construção da EHV, foi possível a identificação os aspectos mais importantes para
apoiar o contexto. Com isso, foram construídos os descritores com suas escalas ordinais,
possibilitando a mensuração do desempenho do(s) porto(s) em cada PVE. Foram também
estabelecidos os níveis de referência Bom e Neutro. Os descritores estão ilustrados na Figura
6.
Figura 6 - Descritores construídos para o PVF – Tecnologia de Informação
Fonte - Autores
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
13
Com os descritores e suas escalas ordinais construídos, pode-se traçar um Perfil de
Desempenho atual (status quo) dos portos de Imbituba, Itajaí, Portonave e Itapoá. Esse perfil
contém dados da própria experiência do decisor e outros disponibilizados por cada porto em
questão. A Figura 7 ilustra o perfil de desempenho desses quatro portos. Como pode ser
observado, foram construídos cinco indicadores representando aspectos relevantes referentes
à PVF – Tecnologia da Informação.
Figura 7 - Indicadores e Perfil de Desempenho de Tecnologia da Informação dos portos de Itajaí, Imbituba,
Portonave e Itapoá.
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
14
Fonte - Autores
4.2 Fase de Recomendações
Os dados obtidos no Perfil de Desempenho apontaram que, segundo a percepção do decisor,
não há recomendações a serem feitas, já que o desempenho dos portos avaliados encontra-se
em nível de excelência e as recomendações são voltadas aos níveis comprometedores.
Entretanto, apesar de neste momento não haver recomendações, é necessário que haja uma
constante atualização destas escalas de desempenho, elevando os níveis de referência para
alcançar melhorias. Isso torna-se necessário, pois o investimento em tecnologias portuárias
deve ser constante para acompanhar a evolução dos navios, e, principalmente, de outros
portos internacionais que se interligam na cadeia logística portuária globalizada.
5. Conclusões
Diante da necessidade de escolher adequadamente um porto para realizar operações de
logística, é fundamental a adoção de ferramentas e metodologias que auxiliem os gestores
portuários no processo de tomada de decisão. No contexto catarinense, onde há diversas
opções de portos, com diferentes características de desempenho e atendimento aos seus
clientes, torna-se muito importante o processo de escolha do porto mais adequado para
determinados tipos de carga e clientes. Assim, entender quais aspectos devem ser
considerados durante a AD é fundamental para o processo de tomada de decisão. Nesse
sentido, esta pesquisa teve como objetivo construir um modelo multicritério construtivista de
AD, baseado em critérios relacionados ao emprego de tecnologias de informação para apoiar
as decisões de logística portuária para importação e exportação de cargas conteinerizadas dos
portos catarinenses. Para atender ao objetivo, optou-se por construir um modelo de AD
informado pela metodologia MCDA-C capaz de representar as especificidades dos portos
quanto à eficiência operacional da logística, conforme demandadas pelo decisor.
Para a construção do modelo de AD para os quatro portos (Itajaí, Imbituba, Portonave e
Itapoá), foram realizadas entrevistas identificando-se 105 EPAs, agrupados em três grandes
áreas de preocupação, sendo que apenas a área ‘Tecnologia da Informação’ foi abordada nesta
pesquisa. Dentro dessa área, foram identificados seis PVFs, sendo que apenas o PVF-
Eficiência Operacional foi abordado nesta pesquisa. Este continha 7 EPAs, dos 105 elencados
inicialmente.
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
15
Após a construção dos descritores com suas escalas ordinais, pode-se traçar um Perfil de
Desempenho para os cada um dos quatro portos. Assim, pode-se identificar em quais
aspectos/objetivos o(s) porto(s) apresentavam desempenho Excelente, Competitivo ou
Comprometedor. Como as recomendações são voltadas aos indicadores que se encontram em
nível comprometedor, não houve nenhuma proposta de recomendação, já que o Perfil de
Desempenho apontou nível excelente para todos os critérios de avaliação.
A participação do decisor no processo construtivo desse modelo de AD foi de suma
importância, pois possibilitou a construção de conhecimento e proporcionou um ganho efetivo
para suas atividades profissionais, bem como para a comunidade científica como forma de
ampliar os estudos de Avaliação de Desempenho Portuário.
Na percepção dos autores desta pesquisa, a construção do modelo personalizado para a
avaliação da Eficiência Operacional de portos catarinenses auxiliará o decisor nas suas
tomadas de decisões referentes à escolha de qual porto é mais adequado para cada tipo de
cliente que busca sua consultoria. O decisor contará com um modelo de AD fidedigno às suas
necessidades e preocupações, no qual os indicadores presentes nesse modelo refletem
diretamente no desempenho operacional de um porto, de acordo com as convicções do
decisor.
Esse modelo de AD conta com algumas limitações, dentre elas, citam-se: o número de portos
avaliados, pois apenas quatro portos catarinenses foram avaliados; a construção do modelo e
identificação do desempenho dos portos catarinenses quanto à Eficiência Operacional; a
construção do modelo multicritério construtivista para os portos que operam com cargas
conteinerizadas.
Dessa maneira, algumas oportunidades para futuras pesquisas foram identificadas. O
desenvolvimento da Fase de Avaliação, tanto para esse modelo quanto para modelos contendo
os demais PVFs identificados, seria de grande importância para a avaliação global da área de
preocupação “Eficiência Portuária”, além de que as recomendações de melhorias poderiam se
basear tanto em dados qualitativos quanto quantitativos. Outra possibilidade de futuras
pesquisas seria a construção do modelo multicritério construtivista para os demais PVFs:
Disponibilidade de Atendimento, Infraestrutura Física, Infraestrutura de Equipamentos,
Eficiência Operacional e Eficiência Gerencial.
Reforça-se também que, mesmo que o desempenho dos critérios avaliados esteja em níveis de
excelência, é possível aumentar suas escalas de avaliação, pois os sistemas de informação
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
16
empregados em portos estão em constante aperfeiçoamento, necessitando que seus níveis de
referência sejam atualizados ao longo do tempo. Assim, é possível que recomendações sejam
geradas para que melhorias sejam alcançadas nos portos Catarinenses, buscando sempre
atingir um nível de excelência que acompanhe os principais portos internacionais que se
interligam na cadeia logística portuária globalizada.
Por fim, foi possível concluir que não houve nos pontos avaliados dos portos Catarinenses,
encontrando-se competitivos de forma geral, contribuindo de forma significativa para o
desenvolvimento da economia regional de Santa Catarina.
REFERÊNCIAS
BHARADWAJ, A. S. A resource-based perspective on information technology capability and firm performance:
an empirical investigation. MIS quarterly, p. 169-196, 2000. ISSN 0276-7783.
CHO, H.; CHOI, H.; LEE, W.; JUNG, Y.; BAEK, Y. LITeTag: design and implementation of an RFID system
for IT-based port logistics. Journal of Communications, v. 1, n. 4, p. 48-57, 2006.
CULLINANE, K.; WANG, T. The efficiency analysis of container port production using DEA panel data
approaches. OR spectrum, v. 32, n. 3, p. 717-738, 2010. ISSN 0171-6468.
ENSSLIN; GIFFHORN, E.; ENSSLIN, S. R.; PETRI, S. M.; VIANNA, W. B. Avaliação do desempenho de
empresas terceirizadas com o uso da metodologia multicritério de apoio à decisão-construtivista. Pesquisa
Operacional, v. 30, n. 1, p. 125-152, 2010. ISSN 0101-7438.
ENSSLIN, L.; DUTRA, A.; ENSSLIN, S. R. MCDA: a constructivist approach to the management of human
resources at a governmental agency. International transactions in operational Research, v. 7, n. 1, p. 79-100,
2000. ISSN 0969-6016.
ENSSLIN, L.; NETO, G. M.; NORONHA, S. M. Apoio à decisão: metodologias para estruturação de
problemas e avaliação multicritério de alternativas. Insular, 2001. ISBN 8574740934.
HEILIG, L.; VOß, S. Information systems in seaports: a categorization and overview. Information Technology
and Management, v. 18, n. 3, p. 179-201, 2017a. ISSN 1385-951X.
HEILIG, L.; VOß, S. Inter-terminal transportation: an annotated bibliography and research agenda. Flexible
Services and Manufacturing Journal, v. 29, n. 1, p. 35-63, 2017b. ISSN 1936-6582.
HUYNH, N.; WALTON, C. M. Improving efficiency of drayage operations at seaport container terminals
through the use of an appointment system. In: (Ed.). Handbook of terminal planning: Springer, 2011. p.323-
344.
JAGER, B.; LIN, N. The changing nature of cargo container handling needs information sharing as a key
performance indicator. Logistics, Informatics and Service Sciences (LISS), 2016 International Conference on,
2016, IEEE. p.1-9.
KIA, M.; SHAYAN, E.; GHOTB, F. The importance of information technology in port terminal operations.
International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, v. 30, n. 3/4, p. 331-344, 2000.
ISSN 0960-0035.
XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”
Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .
17
LIU, C.-I.; JULA, H.; IOANNOU, P. A. Design, simulation, and evaluation of automated container terminals.
IEEE Transactions on intelligent transportation systems, v. 3, n. 1, p. 12-26, 2002. ISSN 1524-9050.
LONGARAY, A.; ENSSLIN, L.; ENSSLIN, S.; ALVES, G.; DUTRA, A.; MUNHOZ, P. Using MCDA to
evaluate the performance of the logistics process in public hospitals: the case of a Brazilian teaching hospital.
International Transactions in Operational Research, v. 25, n. 1, p. 133-156, 2018. ISSN 1475-3995.
NGAI, E.; LI, C.-L.; CHENG, T.; LUN, Y. V.; LAI, K.-H.; CAO, J.; LEE, M. Design and development of an
intelligent context-aware decision support system for real-time monitoring of container terminal operations.
International Journal of Production Research, v. 49, n. 12, p. 3501-3526, 2011. ISSN 0020-7543.
SHI, X.; TAO, D.; VOß, S. RFID technology and its application to port-based container logistics. Journal of
Organizational Computing and Electronic Commerce, v. 21, n. 4, p. 332-347, 2011. ISSN 1091-9392.
STAHLBOCK, R.; VOß, S. Operations research at container terminals: a literature update. OR spectrum, v. 30,
n. 1, p. 1-52, 2008. ISSN 0171-6468.
UNCTAD. Study on the use of information technology in small ports. UNCTAD. New York-NY. 2001
UNCTAD. Division on Technology and Logistics: ACTIVITY REPORT. UNCTAD. New York-NY. 2013