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UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARAN
DEPARTAMENTO ACADMICO DE CONSTRUO CIVIL
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA CIVIL
ANNELISE NAIRNE SCHAMNE
AVALIAO DO POTENCIAL DE APLICAO DOS PRECEITOS DA
LOGSTICA REVERSA DE RESDUOS SLIDOS AO SETOR DA
CONSTRUO CIVIL EM CURITIBA, PARAN
DISSERTAO
CURITIBA
2016
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ANNELISE NAIRNE SCHAMNE
AVALIAO DO POTENCIAL DE APLICAO DOS PRECEITOS DA
LOGSTICA REVERSA DE RESDUOS SLIDOS AO SETOR DA
CONSTRUO CIVIL EM CURITIBA, PARAN
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Engenharia Civil da Universidade
Tecnolgica Federal do Paran, como requisito
parcial para obteno do grau de Mestre em
Engenharia Civil. rea de Concentrao: Meio
Ambiente. Linha de pesquisa: Sustentabilidade.
Orientador: Prof. Dr. Andr Nagalli
CURITIBA
2016
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RESUMO
SCHAMNE, Annelise N.. Avaliao do potencial de aplicao dos preceitos da logstica
reversa de resduos slidos ao setor da construo civil em Curitiba, Paran. 2016. 156 f.
Dissertao (Mestrado em Engenharia Civil) Programa de Ps-Graduao em Engenharia
Civil, Universidade Tecnolgica Federal do Paran. Curitiba, 2016.
Apesar da significativa representatividade do setor da construo civil na economia, o
gerenciamento dos resduos slidos gerados pelo setor ainda um desafio na maioria dos
municpios brasileiros. Os resduos da construo civil (RCC) so gerados nas atividades
relacionadas construo, comrcio e indstria de materiais da construo civil. Estes
resduos quando no recebem tratamento e destinao adequados alm de causarem impactos
ambientais, afetam direta ou indiretamente a sade, segurana e o bem estar da populao,
interferindo nas atividades sociais e econmicas e na qualidade dos recursos ambientais.
Neste contexto, a logstica reversa vista como alternativa para gesto adequada dos resduos,
quando bem planejada e executada. A logstica reversa est prevista na Lei no 12.305/2010,
que trata sobre a Poltica Nacional dos Resduos Slidos (PNRS). No entanto, a implantao
da logstica reversa ainda um desafio para alguns setores devido s dificuldades inerentes a
este sistema e a falta de informaes quanto operacionalizao e regulamentao. Tendo em
vista esta dificuldade, este trabalho tem como objetivo avaliar o potencial de aplicao dos
preceitos da logstica reversa ao setor da construo civil na cidade de Curitiba e propor um
modelo conceitual, destacando as responsabilidades dos principais participantes da cadeia
produtiva da construo civil. Na primeira etapa da pesquisa, profissionais da construo civil
foram selecionados para responder, com auxlio da tcnica Delphi, um questionrio,
elaborado com base na reviso da literatura, a fim de selecionar critrios relevantes para
compor o sistema de logstica reversa no setor da construo civil. Na primeira rodada Delphi
os profissionais opinaram sobre a relevncia dos critrios escolhidos para compor o sistema
de logstica reversa e na segunda rodada foi realizada a anlise multicritrio com auxlio do
Processo de Anlise Hierrquica (AHP) a fim de ponderar e hierarquizar os critrios
selecionados. Os resultados foram analisados na ferramenta BPMS AHP Excel e exportados
por meio de grficos. Nesta etapa da pesquisa foi demonstrado que a aplicao do
questionrio Delphi em conjunto com o AHP auxilia a tomada de deciso dos agentes da
cadeia produtiva da construo civil. Os resultados apontam a importncia da relao
colaborativa entre clientes e fornecedores na devoluo materiais e as possveis barreiras que
podem dificultar a operacionalizao do sistema de logstica reversa no setor da construo
civil como a falta de apoio do governo, conscientizao da populao e baixo incentivo para
reutilizao de RCC. Na etapa da idealizao e elaborao do modelo conceitual, com o
auxlio da ferramenta Free Mind, foi possvel destacar o potencial de aplicao dos preceitos
da logstica reversa entre os principais agentes da cadeia produtiva da construo civil em
Curitiba. O modelo proposto auxilia na compreenso do fluxo de materiais no sistema de
logstica reversa e as responsabilidades de cada prestador de servio, na execuo das
atividades relacionadas construo civil, incluindo o gerenciamento dos RCC, alm do
cumprimento da PNRS e minimizao dos impactos ambientais.
Palavras-chave: Resduos de construo e demolio. Sistema de logstica reversa. Processo
de anlise hierrquica.
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ABSTRACT
SCHAMNE, Annelise N.. Evaluation of the potential application of the precepts of solid
waste reverse logistics to the civil construction sector in Curitiba, Paran. 2016. 156 f.
Dissertao (Mestrado em Engenharia Civil) Programa de Ps-Graduao em Engenharia
Civil, Universidade Tecnolgica Federal do Paran. Curitiba, 2016.
Despite the significant representativeness of the construction sector in the economy, the
management of solid waste generated by the sector is still a challenge in most Brazilian
municipalities. Construction and Demoliton Waste (CDW) is generated in activities related to
the construction, trade and construction materials industry. The CDW when not properly
treated and destined besides causing environmental impacts can affect directly or indirectly
the health, safety and welfare of the population, interfering in social and economic activities
and the quality of environmental resources. In this context, reverse logistics is seen as one of
the alternatives for proper waste management, when well planned and executed. Reverse
logistics is provided for in Law 12.305/2010, which deals with the National Policy on Solid
Waste (NPSW). However, the implementation of reverse logistics is still a challenge for some
sectors due to the difficulties inherent in this system and the lack of information regarding
operationalization and regulation. In view of this difficulty, this paper aims to evaluate the
potential of applying the reverse logistics precepts to the civil construction sector in the city of
Curitiba and to propose a conceptual model, highlighting the responsibilities of the main
participants in the civil construction production chain. In the first stage of the research,
professionals of construction industry were selected to answer, with the help of the Delphi
technique, a questionnaire elaborated based on the literature review, in order to select relevant
criteria to compose a reverse logistics system to the civil construction sector. In the first round
of Delphi, the participants decided on the relevance of the criteria chosen to compose the
reverse logistics system and in the second round a multicriteria analysis was carried out with
the aid of Analytic Hierarchy Process (AHP) in order to weight and hierarchize the criteria
selected. The results were analyzed in the BPMS AHP Excel tool and exported through
graphs. In this stage of the research it was demonstrated that the application of Delphi
questionnaire in conjunction with the AHP helps the decision making of the agents of the civil
construction productive chain. The results point out the importance of the collaborative
relationship between customers and suppliers in the return of materials and possible barriers
that may hinder the operation of the reverse logistics system in the construction sector, such
as a lack of government support, population awareness and a low incentive to CDW reuse. In
the stage of idealization and elaboration of the conceptual model, with Free Mind tool, it was
possible to highlight the potential of applying the reverse logistics precepts among the main
agents of the civil construction production chain in Curitiba. The proposed model assists in
understanding the flow of materials in the reverse logistics system and the responsibilities of
each service provider in the execution of activities related to civil construction, including the
management of CDW, besides compliance with NPSW and minimization of environmental
impacts.
Keywords: Construction and demolition waste. Reverse logistics system. Analytic hierarchy
process.
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ANNELISE NAIRNE SCHAMNE
AVALIAO DO POTENCIAL DE APLICAO DOS PRECEITOS DA
LOGSTICA REVERSA DE RESDUOS SLIDOS AO SETOR DA
CONSTRUO CIVIL EM CURITIBA, PARAN
Dissertao aprovada como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre no Programa
de Ps-Graduao em Engenharia Civil, Universidade Tecnolgica Federal do Paran
UTFPR, pela comisso formada pelos professores:
Orientador:
_____________________________________________
Prof. Dr. Andr Nagalli
Departamento Acadmico de Construo Civil, UTFPR Cmpus Curitiba.
Banca:
_____________________________________________
Prof. Dr. Alfredo Iarosisnki Neto
Departamento Acadmico de Construo Civil, UTFPR Cmpus Curitiba.
________________________________________
Prof. Dr. Generoso de Angelis Neto
Departamento de Engenharia Civil, UEM Maring.
Curitiba
2016
O termo de aprovao assinado encontra-se na Coordenao do Curso
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Total de RCC coletados no Brasil e Regies (t/dia) ................................................. 16 Figura 2: Hierarquia do sistema de gerenciamento de resduos ............................................... 17
Figura 3: Destinao dos RCC gerados pelo pequeno gerador ................................................ 23 Figura 4: Caractersticas de gerao de resduos do grande gerador ........................................ 24 Figura 5: Ciclo do sistema de logstica reversa ........................................................................ 28 Figura 6: Ciclo de vida das edificaes .................................................................................... 40 Figura 7: Evoluo da logstica reversa no setor de embalagens de leos lubrificantes ......... 50
Figura 8: Sistema de logstica reversa para leos, lubrificantes e suas embalagens ................ 51 Figura 9: Evoluo dos pontos de coleta de pneus inservveis no Brasil ................................. 58 Figura 10: Evoluo do volume de pneus inservveis coletados e destinados pela Reciclanip 59
Figura 11: Sistema de logstica reversa de pneus ..................................................................... 60 Figura 12: Evoluo da logstica reversa no setor de embalagens de agrotxicos ................... 62 Figura 13: Planejamento de aplicao da tcnica Delphi ......................................................... 86 Figura 14: Estrutura hierrquica de tomada de deciso ............................................................ 87
Figura 15: Matriz de critrios de deciso AHP ........................................................................ 91 Figura 16: Matriz de critrios de deciso AHP - Questo 5 ..................................................... 92
Figura 17: Agentes da cadeia produtiva do setor da construo civil em Curitiba ................ 113 Figura 18: Fluxos diretos e reversos no sistema de logstica reversa do setor da construo
civil ......................................................................................................................................... 114 Figura 19: Modelo de logstica reversa para o setor da construo civil em Curitiba ........... 116
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Classificao dos RCC conforme Resoluo CONAMA no 307/02 ....................... 18
Quadro 2: Fatores geradores de RCC nos canteiros de obras................................................... 19
Quadro 3: Iniciativas para auxiliar o gerenciamento dos RCC durante a obra ........................ 20 Quadro 4: Barreiras para aplicao da logstica reversa na Construo Civil .......................... 74 Quadro 5: Escala fundamental do AHP .................................................................................... 89 Quadro 6: Escala Saaty (1987) Segunda rodada Delphi........................................................ 90 Quadro 7: Exemplo de aplicao do AHP na 2 Rodada Delphi .............................................. 91
Quadro 8: ndice Randmico .................................................................................................... 92 Quadro 9: Critrios excludos da prxima rodada de questionrios ......................................... 97 Quadro 10: Resultado da AHP da Questo 1 ........................................................................... 99
Quadro 11: Resultado da AHP da Questo 2 ......................................................................... 100 Quadro 12: Resultado da AHP da Questo 3 ......................................................................... 101 Quadro 13: Resultado da AHP da Questo 4 ......................................................................... 102 Quadro 14: Resultado da AHP da Questo 5 ......................................................................... 103
Quadro 15: Resultado da AHP da Questo 6 ......................................................................... 104 Quadro 16: Resultado da AHP da Questo 7 ......................................................................... 105
Quadro 17: Resultado da AHP da Questo 8 ......................................................................... 106 Quadro 18: Resultado da AHP da Questo 9 ......................................................................... 107
Quadro 19: Resultado da AHP da Questo 10 ....................................................................... 108 Quadro 20: Resultado da AHP da Questo 11 ....................................................................... 109 Quadro 21: Resultado da AHP da Questo 12 ....................................................................... 110
Quadro 22: Resultado da AHP da Questo 13 ....................................................................... 112
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LISTA DE SIGLAS
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas
ACV Anlise do Ciclo de Vida
AHP Analytic Hierarchy Process - Processo de Anlise Hierrquica
ANP Agncia Nacional do Petrleo
ATT rea de Transbordo e Triagem
CGLR Comit Gestor de Logstica Reversa
CNI Confederao Nacional da ndustria
CSCMP Council of Supply Chain Management Professional
CTF Cadastro Tcnico Federal
DVD Digital Versatile Disc
EEE Eletroeletrnicos
EPI Equipamento de Proteo Individual
EPR Extended Product Responsability
ETRMA European Tyre Rubber Manufactures Association
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
LCD Liquid Crystal Display
LED Light Emitting Diode
MCDA Multi Criteria Decision Analysis
MTR Manifesto de Transporte de Resduos
NBR Norma Brasileira
NWMS National Waste Management Strategy
PEAD Polietileno de Alta Desnsidade
PGRCC Plano de Gerenciamento de Resduos de Construo Civil
PNEA Politica Nacional de Educao Ambiental
PNMA Poltica Nacional de Meio Ambiente
PNRS Poltica Nacional de Resduos Slidos
RCC Resduos de Construo Civil
RCD Resduos de Construo e Demolio
REEE Resduos Eletroeletrnicos
RSU Resduos Slidos Urbanos
SMMA Secretaria Municipal de Meio Ambiente
SMU Secretaria Municipal de Urbanismo
SPSS Statistical Package for Social Science
UE Unio Europeia
UTFPR Universidade Tecnolgica Federal do Paran
VHS Video Home System
WEEE Waste Electrical and Eletronic Equipament
WSTATR Waste Statistic Regulation
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LISTA DE ACRNIMOS
ABILUMI Associao Brasileira de Importadores de Produtos de Iluminao
ABINEE Associao Brasileira da Indstria Eltrica e Eletrnica
ABRAFATI Associao Brasileira dos Fabricantes de Tintas
ABRAMAT Associao Brasileira da Indstria de Materiais de Construo
ABRELPE Associao Brasileira de Empresas de Limpeza Pblica e Resduos
Especiais
ANIP Associao Nacional da Indstria de Pneumticos
CBIC Cmara Brasileira da Indstria da Construo
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
CREA-PR Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paran
FIEP Federao das Indstrias do Estado do Paran
IDHEA Instituto para o Desenvolvimento da Habitao Ecolgica
INPEV Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias
IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada
ISO International Organization for Standardization
ONU Organizao das Naes Unidas
PIB Produto Interno Bruto
PNUMA Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente
SEMA Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hdricos
SIG Sistema de Informao Geogrfica
SINDIRREFINO Sindicato Nacional da Indstria do Rerrefino de leos Minerais
SINDUSCON-PR Sindicato da Indstria da Construo Civil do Paran
STEP Solving the E-Waste Problem
THOR Multicriteria Decision Aiding Hybrid Algorithm
WRAP Waste and Resource Action Programme
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SUMRIO
1 INTRODUO .................................................................................................................. 10
1.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 12
1.1.1 Objetivos especficos ...................................................................................................... 12
1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 12
2 REVISO BIBLIOGRFICA .......................................................................................... 14
2.1 RESDUOS DA CONSTRUO CIVIL ........................................................................... 15
2.1.1 Gesto dos resduos da construo civil em Curitiba...................................................... 21
2.2 LOGSTICA REVERSA .................................................................................................... 26
2.2.1 Logstica reversa no setor da construo civil ................................................................ 32
2.2.2 Logstica reversa no setor de eletroeletrnicos (EEE), pilhas e baterias ........................ 44
2.2.3 Logstica reversa no setor de leos lubrificantes ............................................................ 49
2.2.4 Logstica reversa no setor de lmpadas ........................................................................... 54
2.2.5 Logstica reversa no setor de pneus ................................................................................ 56
2.2.6 Logstica reversa no setor de agrotxicos ....................................................................... 61
2.3 BARREIRAS NA APLICAO DA LOGSTICA REVERSA ....................................... 63
2.3.1 Barreiras na aplicao da logstica reversa no setor da construo civil ........................ 67
2.4 PRECEITOS DA LOGSTICA REVERSA NO SETOR DA CONSTRUO CIVIL ..... 74
2.5 ANLISE DE TOMADA DE DECISO POR MULTICRITRIO .................................. 80
3 METODOLOGIA ............................................................................................................... 83
3.1 CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO ............................................................... 83
3.2 APLICAO DO QUESTIONRIO DELPHI ................................................................. 84
3.3 APLICAO DO PROCESSO DE ANLISE HIERRQUICA (AHP) .......................... 87
3.4 MODELAGEM CONCEITUAL DO SISTEMA DE LOGSTICA REVERSA ................ 93
4 RESULTADOS E DISCUSSES ..................................................................................... 94
4.1 QUESTIONRIO DELPHI 1 RODADA .......................................................................... 94
4.2 QUESTIONRIO DELPHI 2 RODADA ......................................................................... 98
4.3 MODELO DE LOGSTICA REVERSA PARA O SETOR DA CONSTRUO CIVIL 113
5 CONSIDERAES FINAIS E RECOMENDAES ................................................ 117
REFERNCIAS ................................................................................................................... 119
APNDICE A QUESTIONRIO DELPHI 1 RODADA ............................................. 137
APNDICE B QUESTIONRIO DELPHI 2 RODADA ............................................. 145
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1 INTRODUO
Segundo a Cmara Brasileira da Indstria da Construo (CBIC), estima-se que o
valor adicionado pela indstria da construo civil, em 2014, foi de 470,3 bilhes de reais,
representando 8,5% do Produto Interno Produto (PIB) brasileiro. Deste percentual, o
segmento da construo, responsvel pela autogesto, autoconstruo e construtoras que
executam obras ou etapas de obras de engenharia, concentra a maior parcela da renda da
cadeia produtiva da construo (65,2%), seguida pela indstria de materiais (12,2%) e do
comrcio de materiais (9,5%). As outras atividades que compem a cadeia correspondem aos
servios prestados construo civil por outros fornecedores (6,6%), prestao de servios no
prprio setor (4,8%) e mquinas e equipamentos (1,7%). Os trs segmentos com maior
percentual de participao na cadeia produtiva da construo civil determinam o ritmo de
atividade dos demais elos da cadeia da construo e, consequentemente, influenciam no
desenvolvimento do pas alm de impactar as atividades dos demais setores economia
(ABRAMAT, 2007; CBIC, 2015).
Apesar da significativa representatividade do setor da construo civil na economia
brasileira, o gerenciamento dos resduos slidos gerados pelo setor ainda um desafio nos
grandes centros urbanos. Segundo Boscov (2008), aproximadamente 67% dos resduos
slidos urbanos (RSU) gerados no Brasil composto por Resduos da Construo Civil
(RCC). Esta situao decorre da baixa eficincia do processo de gesto dos RCC o que acaba
por propiciar tratamento e disposio inadequados dos resduos. Os RCC tambm so
chamados de Resduos de Construo e Demolio (RCD), sendo esta denominao mais
usual nas referncias internacionais (BOSCOV, 2008; NAGALLI et al., 2013).
Boa parte dos resduos do setor da construo civil vem de perdas de materiais de
construo nos canteiros de obras. Outras fontes geradoras so as demolies e as reformas
que promovem eliminao de diversos componentes desde a fase de execuo at aps a vida
til da edificao. Os resduos desta natureza alm de causarem impactos ambientais, tambm
afetam direta ou indiretamente a sade, segurana e o bem estar da populao, interferindo
nas atividades sociais e econmicas, na biota e na qualidade dos recursos ambientais
(NAGALLI, 2014; ADJEI, 2016).
Desde o surgimento do conceito de desenvolvimento sustentvel e da necessidade de
garantir a preservao dos recursos naturais para as futuras geraes, iniciativas no mundo
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11
todo comearam a ser estabelecidas, com o objetivo de disciplinar o gerenciamento dos
resduos, principalmente dos RCC. A importncia do tratamento e destinao correta destes
tipos de resduos refletida na otimizao da cadeia produtiva e diminuio dos impactos no
ambiente (LU, YUAN, 2011).
Neste contexto, a logstica reversa de resduos slidos vista como uma das
alternativas para o gerenciamento adequado dos resduos, quando bem planejada e executada,
e surge com o objetivo de agregar valor ao resduo gerado ou ento de disp-lo de forma
correta.
Desde que a logstica reversa foi determinada obrigatria, por meio da Lei no 12.305,
de 02 de agosto de 2010, que instituiu a Poltica Nacional dos Resduos Slidos (PNRS),
observada dificuldade por parte do setor produtivo em implantar sistemas de logstica reversa
de qualidade. Concomitantemente no h regulamentao adequada do processo e fiscalizao
suficiente por parte dos rgos ambientais, o que acarreta em prejuzos competitividade das
empresas (BRASIL, 2010b; SOMBRIO et al., 2013; SCHAMNE, NAGALLI, 2016).
No setor da construo civil, as atividades de logstica reversa configuram-se como
iniciativas isoladas e no possuem grau de organizao necessrio para serem reproduzidas e
ampliadas. Por esta razo, recomendvel que o setor da construo civil esteja preparado
para o atendimento da legislao e modelagem dos sistemas de logstica reversa, considerando
uma abordagem sistmica do fluxo reverso, identificando-se os obstculos e dificuldades a
serem transpostos para a consecuo e aplicao s obras civis (BEIRIZ, 2010; SOBOTKA,
CZAJA, 2015).
Os modelos so estruturas interpretativas capazes de identificar as relaes de critrios
em nveis diferentes, mostrando a interdependncia individual ou em grupo (GOVINDAN et
al., 2009). Nos modelos de logstica reversa, especificamente, os critrios e objetivos devem
estar bem definidos para que o modelo auxilie na tomada de deciso na hora do descarte dos
materiais. necessrio que o modelo considere as etapas do processo produtivo e as possveis
alternativas para o fluxo reverso, incluindo desmontagem, reciclagem, reutilizao,
remanufatura e destinao final. A integrao da cadeia de fornecimento com a cadeia reversa
permite um planejamento mais eficiente do modelo de logstica reversa, de forma a encontrar
solues mais sustentveis, teis e rentveis para os participantes da cadeia produtiva do setor
da construo civil (GOMES et al., 2008; TSENG, CHEN, 2016).
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12
1.1 OBJETIVO GERAL
O objetivo geral deste trabalho propor um modelo conceitual para aplicao da
logstica reversa para resduos slidos no setor da construo civil, na cidade de Curitiba.
1.1.1 Objetivos especficos
Os objetivos especficos so:
Obter informaes sobre as prticas de logstica reversa de resduos da construo
civil utilizadas nos segmentos da construo, indstria e comrcio de materiais da
construo civil;
Avaliar o potencial de aplicao dos preceitos da logstica reversa de resduos da
construo civil nos segmentos da construo, indstria e comrcio de materiais da
construo civil;
Selecionar critrios relevantes para o sistema de logstica reversa de resduos da
construo civil, com base na opinio de especialistas, por meio da aplicao do
Questionrio Delphi;
Priorizar os critrios selecionados para compor o sistema de logstica reversa de
resduos da construo civil a partir da aplicao da metodologia de anlise por
multicritrios, Processo de Anlise Hierrquica (AHP);
Estruturar um modelo conceitual de logstica reversa para gesto dos resduos da
construo civil com base no fluxo de materiais na cadeia produtiva da construo
e responsabilidades de cada prestador de servio, na execuo das atividades
relacionadas construo civil.
1.2 JUSTIFICATIVA
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13
Segundo a PNRS, a responsabilidade compartilhada o conjunto de atribuies
individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes,
dos consumidores e dos titulares dos servios pblicos de limpeza urbana e de manejo dos
resduos slidos para minimizar o volume de resduos gerados (BRASIL, 2010b).
No setor da construo civil, a funo dos sistemas de logstica reversa estabelecer
canais de reaproveitamento dos produtos e de RCC, integrando os agentes envolvidos em
torno da questo da responsabilidade compartilhada por todo o ciclo de vida do produto. A
implantao da logstica reversa contribui para melhor gerenciamento dos RCC, colaborando
com o desenvolvimento sustentvel e com a minimizao dos impactos ambientais. A gesto
adequada contribui para reduo da necessidade de grandes reas para destinao final dos
resduos alm de conciliar o desenvolvimento econmico, social e ambiental, garantindo a
preservao dos recursos para geraes futuras, premissa do desenvolvimento sustentvel
(BEIRIZ, 2010).
Com o avano das legislaes ambientais e dos estudos sobre gerenciamento de
resduos slidos, espera-se que o Brasil evolua na aplicao de atividades relacionadas
logstica reversa, propiciando crescimento do fluxo reverso nas cadeias produtivas e, em
consequncia, o desenvolvimento de oportunidades empresariais e profissionais (LEITE,
2009). Segundo Beiriz (2010), o fato de j existirem cadeias produtivas com sistemas de
logstica reversa consolidada e em operao bem como legislao ambiental vigente, a
tendncia que as demais cadeias produtivas, incluindo a construo civil, sejam afetadas
pela preferncia dos clientes por novos requisitos logsticos como a logstica reversa.
No entanto, apesar da importncia e aplicabilidade da logstica reversa, observa-se
dificuldade por parte dos geradores de resduos do setor da construo civil em destinar
corretamente estes resduos ou reutiliz-los em seus prprios processos produtivos, aplicando
o conceito da logstica reversa. Este fato, aliado com o avano da legislao referente aos
resduos slidos, deve ser fator preponderante para que sejam desenvolvidas ferramentas que
auxiliem as empresas a melhorarem os processos de gerenciamento dos resduos na
construo civil e que, ao mesmo tempo, cumpram com a legislao (LEITE, 2009; BEIRIZ,
2010; NUNES et al., 2009).
A utilizao de modelos de logstica reversa, como o modelo proposto nesta pesquisa,
apoia a tomada de deciso dos gestores quanto destinao dos resduos gerados ao longo da
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14
cadeia produtiva da construo civil alm de identificar as oportunidades de negcio
disponveis nos canais reversos. Com a implantao de sistemas de logstica reversa, h
promoo da competitividade entre empresas e da responsabilidade compartilhada pelo
gerenciamento dos resduos, contribuindo na reduo dos impactos negativos causados
sade humana e qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos (LEITE,
2009; NUNES et al., 2009).
Para os pequenos e grandes geradores de RCC na cidade de Curitiba, o modelo
conceitual pode auxiliar no entendimento da logstica reversa e no cumprimento da PNRS.
Para o setor pblico e privado, o modelo coopera no planejamento do sistema de logstica
reversa na cidade, identificando as responsabilidades dos envolvidos na cadeia produtiva do
setor da construo civil e oportunidades de atuao em benefcio do fluxo reverso dos
mateiais. J para a rea acadmica, tanto o modelo quanto o mtodo de anlise de critrios
contribui no desenvolvimento de pesquisas, produtos, metodologias e processos que otimizem
o gerenciamento dos RCC e a implantao e operacionalizao da logstica reversa no setor
da construo civil em Curitiba.
2 REVISO BIBLIOGRFICA
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15
2.1 RESDUOS DA CONSTRUO CIVIL
Segundo a Poltica Nacional dos Resduos Slidos (PNRS), os resduos slidos so
definidos como:
Todo material, substncia, objeto ou bem descartado resultante de atividades
humanas, nos estados slido ou semisslido, bem como gases, lquidos cujas
particularidades tornem invivel o seu lanamento na rede pblica de esgotos e em
corpos dgua. Os resduos slidos resultam de atividades de origem industrial,
domstica, hospitalar, comercial, agrcola e servios de varrio (BRASIL, 2010b,
p.3).
A PNRS foi concebida tendo por fundamento sua operacionalidade a partir da
articulao com outros instrumentos de polticas pblicas como a Poltica Nacional de
Educao Ambiental (PNEA), regulada pela Lei n 9.795/99; Poltica Nacional de Meio
Ambiente (PNMA), regulada pela Lei n 6.938/81 e a Lei de Crimes Ambientais, regulada
anteriormente pela Lei 9.605/98. Na PNRS tambm esto dispostos os princpios, objetivos e
instrumentos bem como as diretrizes relativas gesto integrada e ao gerenciamento dos
resduos slidos, incluindo os perigosos. A PNRS apenas no se aplica aos rejeitos
radioativos, que so regulados por legislao especfica (BRASIL, 1981; BRASIL, 1998;
BRASIL, 1999; BRASIL, 2010b; SANTOS, SANTOS, 2014).
Segundo dados do ltimo Panorama dos Resduos Slidos no Brasil, divulgado pela
Associao Brasileira de Empresas de Limpeza Pblica e Resduos Especiais (ABRELPE), o
total dos RSU gerados no pas em 2015 foi de aproximadamente 79,9 milhes de toneladas, o
que representa um aumento de 1,7% em relao ao ano anterior. J o ndice de cobertura de
coleta atingiu 90,8% do total de resduos gerados no Brasil em 2015 (ABRELPE, 2015).
As alteraes na composio dos RSU so decorrentes da mudana de hbitos de
consumo da populao, do aumento de produtos industrializados e popularizao de novos
tipos de produtos. As novas conquistas no campo cientfico e tecnolgico, que por um lado
favoreceram a populao com praticidade e menor custo, por outro lado aumentaram
gradativamente o consumo dos mesmos, gerando produtos de difcil degradao e de maior
toxicidade. Apesar de o Brasil possuir potencial para ganhos econmicos e ambientais com a
reciclagem, estima-se que o pas perde R$ 8 bilhes por ano quando deixa de reciclar
materiais reciclveis que so encaminhados para aterros e lixes nas cidades brasileiras
(IPEA, 2010; BATISTA et al., 2013).
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16
Segundo ABRELPE (2015), os municpios brasileiros geraram cerca de 45 milhes de
toneladas de RCC em 2015, o que configura um aumento de 1,2% em relao a 2014. Deste
total de RCC gerado em 2015, 123.721 toneladas de RCC foram coletadas por dia e
correspondem s obras sobre responsabilidade dos municpios e o lanado em logradouros
pblicos (Figura 1).
Figura 1: Total de RCC coletados no Brasil e Regies (t/dia)
Fonte: ABRELPE (2015)
A partir da Figura 1, verifica-se que houve aumento na coleta de RCC em todas as
regies do Brasil. Especificamente na regio Sul, em que 1.191 municpios foram avaliados,
somando, aproximadamente, 30 milhes de habitantes, o total de RCC coletado em 2015 foi
de 16.662 toneladas por dia, equivalente a 0,6 quilogramas de RCC coletado por habitante por
dia (ABRELPE, 2015).
As diretrizes, critrios e procedimentos para gesto dos resduos da construo civil
esto estabeleicidas na Resoluo CONAMA no
307, de 05 de Julho de 2002, posteriormente
alterada pelas Resolues CONAMA no
348/04; CONAMA no
431/11; CONAMA no
448/12
e CONAMA no
469/15. Segundo Art 2 da Resoluo CONAMA no
307/02, os resduos da
construo civil so aqueles:
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17
Provenientes de construes, reformas, reparos e demolies de obras de construo
civil, e os resultantes da preparao e da escavao de terrenos, tais como: tijolos,
blocos cermicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas,
madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfltico,
vidros, plsticos, tubulaes, fiao eltrica etc., comumente chamados de entulhos
de obras, calia ou metralha (CONAMA, 2002, p.95).
Na Resoluo CONAMA no
307/02 ainda prescrito que os geradores devero ter
como objetivo prioritrio a no gerao de resduos seguida pela reduo, reutilizao,
reciclagem, tratamento dos resduos slidos e disposio final ambientalmente adequada dos
rejeitos, como ilustrado na Figura 2 (CONAMA, 2002; CONAMA, 2004; CONAMA 2011;
CONAMA, 2012a; CONAMA, 2015).
Figura 2: Hierarquia do sistema de gerenciamento de resduos
Fonte: Adaptado de Nagalli (2014)
Devido diversidade de resduos gerados na construo civil, na Resoluo
CONAMA no
307/02 tambm est prescrita a classificao e as recomendaes para
destinao adequada dos RCC, conforme apresentado no Quadro 1.
Classificao dos RCC
Classe Conceito Destinao
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18
A
Construo, demolio, reformas e reparos de
pavimentao e de outras obras de infraestrutura,
inclusive solos provenientes de terraplanagem; Reutilizao ou reciclagem
na forma de agregados;
Aterro de resduos Classe A.
Construo, demolio, reformas e reparos de edificaes:
componentes cermicos (tijolos, blocos, telhas, placas de
revestimento etc.), argamassa e concreto;
Processo de fabricao e/ou demolio de peas pr-
moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.)
produzidas nos canteiros de obras.
B
Resduos reciclveis para outras destinaes:
Reutilizao, reciclagem;
Armazenamento em reas
temporrias para uso futuro.
Plsticos, papel, papelo;
Metais, vidros, madeiras;
Gesso;
Embalagens vazias de tintas imobilirias.
C Resduos para os quais no foram desenvolvidas
tecnologias ou aplicaes economicamente viveis que
permitam sua reciclagem ou recuperao.
Armazenamento, transporte,
destinao em conformidade
com as normas tcnicas
especficas.
D
Resduos perigosos;
Armazenamento, transporte,
destinao em conformidade
com as normas tcnicas
especficas.
Tintas, solventes, leos;
Materiais contaminados ou prejudiciais sade, oriundos
de demolies, reformas e reparos de clnicas
radiolgicas, instalaes industriais, bem como telhas e
demais objetos e materiais que contenham amianto ou
outros produtos nocivos sade.
Quadro 1: Classificao dos RCC conforme Resoluo CONAMA no 307/02
Fonte: CONAMA (2002); CONAMA (2004); CONAMA (2011); CONAMA (2012a); CONAMA (2015).
No Brasil, boa parte dos processos construtivos essencialmente manual e a execuo
se d praticamente no canteiro de obras, onde gerada a maioria dos RCC que, alm de terem
potencial de degradar o ambiente, tambm ocasionam problemas logsticos e prejuzos
financeiros (NAGALLI, 2014). Por esta razo, Pucci (2006) recomenda que, medida que as
etapas da obra sejam cumpridas, importante dispor de um local adequado para classificao
dos RCC e separao dos materiais pertencentes prpria classe, contribuindo para que o
gerenciamento dos RCC no canteiro de obras seja mais dinmico.
Grande parte dos resduos da indstria da construo civil vem de perdas de materiais
de construo nos canteiros de obras, durante a execuo dos projetos, demolies ou
reformas, e posteriormente durante a utilizao ou aps o trmino da vida til da edificao
(NAGALLI, 2014).
-
19
Nikmehr et al. (2015) identificaram que as principais causas de gerao de resduos de
construo civil na capital do Ir, Teer, que possui, aproximadamente 10 milhes de
habitantes e gera por ano em torno de 23 milhes de toneladas de RCC, esto associadas
falta de conhecimento, conscincia e percepes equivocadas sobre o conceito de resduos e o
valor dos materiais de construo. Os autores acreditam que o poder pblico pode contribuir
diretamente na conscientizao e fiscalizao da indstria da construo civil, por meio da
incluso de programas de treinamento de sustentabilidade em cursos obrigatrios para
determinadas atividades dos profissionais, e para os demais agentes da cadeia produtiva,
contribuindo no gerenciamento dos RCC.
Para Ling e Nguyen (2013), apesar dos diferentes mtodos construtivos utilizados ao
redor do mundo, estudos relacionados gerao de RCC mostram que alguns fatores
geradores no mudam de um local para outro, principalmente entre pases emergentes. No
Quadro 2, esto relacionados os principais fatores de gerao de RCC encontrados na
literatura.
Fatores geradores de RCC nos canteiros de obras
Fator de gerao de RCC Autores
Falta de habilidade e experincia dos
trabalhadores da construo civil Ling e Nguyen (2013), Saez et al. (2013)
Desperdcio de materiais resultante de erros de
compra ou devido falta de planejamento da
utilizao dos materiais durante a obra
Osman et al. (2016), Ajayi et al. (2016), Fadiya
et al. (2014)
Transporte e armazenamento inadequados dos
materiais de construo
Najafpoor et al. (2014), Kourmpanis et al.
(2008), Fadiya et al. (2014)
Demolies frequentes resultante de retrabalhos e
alteraes de projeto
Sobotka e Czaja (2015), Ajayi et al. (2016),
Fadiya et al. (2014), Ameh e Itodo (2013)
Prevalncia de mtodos tradicionais de construo
e demolio
Lu et al. (2011), Saez et al. (2013), Zhang e
Xiao (2015), Kourmpanis et al. (2008)
Embalagem inadequada de materiais e
componentes de construo
Najafpoor et al. (2014), Saez et al. (2013),
Fadiya et al. (2014)
Falta de cultura para reaproveitamento de RCC ou
utilizao de materiais reciclados Ajayi et al. (2016), Zhang e Xiao (2015)
Baixa qualidade dos materiais e componentes
utilizados
Najafpoor et al. (2014), Fadiya et al. (2014),
Ameh e Itodo (2013)
Quadro 2: Fatores geradores de RCC nos canteiros de obras
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20
Com base nos fatores de gerao de RCC apresentados no Quadro 2, possvel
relacionar algumas iniciativas que podem ser adotadas durante a obra com o objetivo de
auxiliar no gerenciamento dos RCC (Quadro 3).
Iniciativas para auxiliar o gerenciamento dos RCC durante a obra
Iniciativas para gerenciamento dos RCC Autores
Dimensionar possveis alteraes de projeto Yuan (2013), Ajayi et al. (2015)
Promover aes preventivas para reduo da
gerao de RCC durante a obra
Beldek et al.(2016), Saez et al. (2013), Ajayi et al.
(2015), Zhang e Xiao (2015)
Investir em tecnologias/metodologias para
gesto dos RCC
Wahi et al. (2016), Lu e Yuan (2012), Dahlbo et
al. (2015), Ajayi et al. (2016), Ajayi et al. (2015)
Criar regras para gesto dos RCC no
canteiro
Sobotka e Czaja (2015), Ajayi et al. (2015)
Adoo de tecnologias de construo com
baixa gerao de RCC
Najafpoor et al. (2014)
Dimensionar impactos para minimizao da
gerao de RCC
Tam e Tam (2006), Saidu e Shakantu (2016),
Begum et al. (2006)
Incentivar a reutilizao e reciclagem de
materiais para manter a cultura de gesto dos
RCC na organizao
Tam (2008), Lu et al. (2011), Ajayi et al. (2015),
Ajayi et al. (2016), Begum et al. (2006), Oyedele
et al. (2014)
Estabelecer pontos de coleta de RCC
prximos aos locais de reaproveitamento
Penteado et al. (2015)
Capacitar os trabalhadores para
gerenciamento dos RCC
Lu et al. (2011), Saez et al. (2013)
Quadro 3: Iniciativas para auxiliar o gerenciamento dos RCC durante a obra
Ameh e Itodo (2013) identificaram que a falta de otimizao na utilizao dos
materiais e gesto ineficiente dos RCC gerados no canteiro de obras pode elevar os gastos
com a obra. Segundo os autores, a gesto dos RCC pode representar de 21 a 30% do custo
total da obra. No Reino Unido, este valor pode representar, aproximadamente, 15% do custo
total da obra, em Hong Kong at 11% e na Holanda, este valor pode chegar a 30% (LU et al.,
2011; AMEH, ITODO, 2013).
Nesta perspectiva, o incentivo otimizao da utilizao dos recursos e o
gerenciamento adequado dos RCC contribui para reduo do custo da obra e melhora a
imagem da empresa perante a preservao do meio ambiente. Segundo Begun et al. (2006), o
valor economizado pode ser investido na promoo da poltica ambiental na empresa e na
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21
conscientizao e treinamento dos empregados, a fim de promover prticas mais sustentveis
no canteiro de obras e prevenir impactos negativos ao ambiente (BEGUN et al., 2006).
Para Yuan (2013), os investimentos realizados durante o projeto auxiliam na
promoo da gesto dos RCC entre os trabalhadores e contribui para melhores resultados no
gerenciamento final da obra, seja no aspecto ambiental, social ou econmico.
Um dos desafios da construo civil a informalidade caracterstica das atividades, o
que dificulta a previso e o gerenciamento dos RCC, principalmente, em relao ao controle
das deposies ilegais e das destinaes incorretas. No mbito social, o baixo grau de
capacitao da mo de obra e do nvel tcnico-gerencial nas empresas construtoras outra
caracterstica que pode contribuir para significativa gerao de RCC (BEIRIZ, 2010).
Portanto, aes motivadoras que valorizem o servio realizado pelos trabalhadores e
que contribuam para a formao profissional, como a aquisio de equipamentos,
desenvolvimento e implementao de planos de gesto de resduos, treinamentos, contratao
de servios de coleta e classificao dos resduos na prpria so vlidos e, consequentemente
reduziro a quantidade de resduos gerados (YUAN, 2013).
2.1.1 Gesto dos resduos da construo civil em Curitiba
Na dcada de 1990, Curitiba recebeu da Organizao das Naes Unidas (ONU), o
ttulo de capital ecolgica. Entre os programas de gesto de resduos slidos implantados, o
Lixo que no lixo foi o programa de coleta seletiva que mais se destacou na poca e ainda
est vigente na capital. O programa tem como base a coleta de resduos reciclveis e a
promoo de campanhas educativas para a seleo dos resduos domsticos. Atualmente a
cidade conta com servios de coleta pblica de resduos domiciliares, coleta de reciclveis
alm de servios para coleta de resduos txicos, vegetais, produtos inservvel de madeira e
entulhos (MIRANDA et al., 2014).
Uma das ferramentas utilizadas no gerenciamento dos resduos o programa ou plano
de gerenciamento de resduos slidos que abrange contedos relacionados ao planejamento,
delimitao e delegao de responsabilidades, prticas, procedimentos, recomendaes
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22
operacionais e recursos necessrios para a gesto dos resduos slidos em um
empreendimento ou atividade (NAGALLI, 2014).
Na construo civil, um dos instrumentos para implementao da gesto dos RCC o
Plano Municipal de Gesto de Resduos da Construo Civil, que deve ser elaborado pelos
Municpios e pelo Distrito Federal, em consonncia com o Plano Municipal de Gesto
Integrada de Resduos Slidos (CONAMA, 2002).
Em Curitiba, o Plano Integrado de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil
regulamentado pelo Decreto no 1.068/04 e tem por objetivo disciplinar o manuseio e
disposio dos resduos produzidos nos canteiros de obras com a participao de toda cadeia
produtiva, incluindo transportadores e reas de destinao final. Este plano integrado
composto pelo Programa de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil, direcionado aos
pequenos geradores e pelo Projeto de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil,
direcionado aos grandes geradores de resduos (CURITIBA, 2004).
O Programa de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil elaborado e
implementado pelo Municpio e nele esto estabelecidas diretrizes tcnicas e procedimentos
para exerccio das responsabilidades dos pequenos geradores. Neste programa, so
considerados pequenos geradores aqueles que produzem at 0,5 m de resduos, em perodo
no inferior a dois meses, que devem ser separados em Classe A e C e dispostos no passeio,
em frente ao local da obra. A coleta e o destino destes materiais so de responsabilidade da
Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA). Caso a opo seja pela contratao de
empresa de transporte de resduos, deve-se providenciar o Manifesto de Transporte de
Resduos (MTR) (CURITIBA, 2004).
Os geradores que geram quantidade mxima de 2,5 m de RCC, em intervalo no
inferior a 2 meses, tambm devem separar os resduos em Classe A e C e encaminh-los aos
locais de recebimento ou transbordo designados pelo municpio (Figura 3).
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23
Figura 3: Destinao dos RCC gerados pelo pequeno gerador
Fonte: Curitiba (2004)
O municpio de Curitiba tambm responsvel pela coleta dos resduos da Classe B na
quantidade de 0,6 m por semana. J os resduos da Classe D, considerados perigosos, so
encaminhados coleta especial de resduos txicos do prprio municpio (CURITIBA, 2004).
Os Projetos de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil so de
responsabilidade dos prprios geradores e tem como objetivo estabelecer os procedimentos
necessrios para o manejo e destinao ambientalmente adequada dos resduos (Figura 4).
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24
Figura 4: Caractersticas de gerao de resduos do grande gerador
Fonte: Curitiba (2004)
Conforme ilustrado na Figura 4, em obras menores que 70 m, com gerao acima de
0,5 m de RCC, o gerador precisa assinar MTR emitido pelo transportador ou no caso de
transporte prprio, os resduos devero ser previamente separados e encaminhados para reas
devidamente licenciadas.
Os geradores cujas obras possuam rea construda superior a 70 m e inferior a 600 m
ou remoo de solo acima de 50 m preenchem um formulrio especfico na Secretaria
Municipal de Urbanismo (SMU) ou na Secretaria Municipal Meio Ambiente (SMMA), na
ocasio da obteno do alvar de construo, reforma, ampliao e demolio ou do
licenciamento ambiental. Por fim, nas obras que excedam 600 m de rea construda ou
demolio acima de 100 m, deve-se apresentar o Projeto de Gerenciamento de Resduos da
Construo Civil (PGRCC) para ser aprovado. Ficam isentos da apresentao deste projeto os
geradores cujas obras sejam inferiores a 600 m de rea construda ou inferiores a 100 m no
caso de demolio (CURITIBA, 2004).
Os incentivos para utilizao de RCC na cidade de Curitiba iniciaram com Decreto n
852/07, em que foi estabelecida obrigatoriedade na utilizao de agregados reciclados
oriundos de resduos slidos da construo civil classe A, em obras e servios de
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25
pavimentao das vias pblicas contratadas pelo municpio. Posteriormente, por meio da
Portaria n 008/12 da Secretaria Municipal de Meio Ambiente foram estabelecidos critrios
de implantao de reas de transbordo e triagem (ATT) no municpio (CURITIBA, 2007;
CURITIBA, 2012).
Segundo Miranda et al. (2014), a gesto dos RCC em Curitiba se caracteriza pela
gesto corretiva e pouco inovadora. Embora o poder pblico tenha investido na implantao
do Plano Integrado de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil, por exemplo, no
houve investimento em projetos de equipamentos urbanos para recebimento de materiais
provenientes dos pequenos geradores, que correspondem parcela significativa dos RCC
gerados no municpio.
O atual modelo de gesto de resduos de Curitiba ineficiente na medida em que no
contempla a gesto preventiva com relao aos pequenos geradores e ainda apresenta diversos
pontos de despejo irregular de RCC, principalmente nos bairros mais afastados e perifricos
ao centro da cidade, o que dificulta a fiscalizao e o gerenciamento dos RCC (MIRANDA et
al., 2014).
Mann (2015) elaborou uma lista de verificao com base nas normas vigentes e
modelos de certificaes ambientais com objetivo de investigar a conformidade tcnica e
legal dos sistemas de gerenciamento de resduos de construo civil em Curitiba. A lista de
verificao foi aplicada a 24 obras e os resultados indicam que, mesmo a gesto de resduos
sendo obrigatria e imprescindvel para obteno do certificado de concluso de obra, a
maioria dos sistemas de gesto adotados falha. Alm da falta de conscientizao e
dificuldade no gerenciamento dos RCC, resultante do baixo ndice de treinamentos (17% das
obras visitadas no realizam qualquer treinamento sobre gerenciamento dos resduos), as
normas vigentes relacionadas gesto dos resduos so pouco conhecidas. No que diz respeito
reutilizao e reciclagem de materiais no canteiro de obras nota-se que ainda so
insuficientes, uma vez que pouco se reutiliza ou se recicla (MANN, 2015).
Assim como a maioria dos municpios brasileiros o gerenciamento dos RCC em
Curitiba ainda um desafio, porm a logstica reversa vem sendo estudada como ferramenta
no gerenciamento dos resduos slidos. Portanto, nos prximos captulos ser explorado
conceito, aplicaes, barreiras e preceitos da logstica reversa em diversos setores da
economia, inclusive no setor da construo civil, com objetivo de melhorar o gerenciamento
dos RCC.
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26
2.2 LOGSTICA REVERSA
Segundo Council of Supply Chain Management Professionals (CSCMP), a logstica
faz parte do gerenciamento da cadeia de abastecimento com o objetivo de planejar, programar
e controlar de maneira eficiente e eficaz o fluxo e o armazenamento de produtos, servios e
informaes entre o ponto de origem e o ponto de consumo. A logstica vista como
ferramenta capaz de aumentar a eficincia organizacional por meio da reduo dos custos
operacionais, viabilizando os processos em toda cadeia de abastecimento. A logstica reversa,
por sua vez, um segmento especializado da logstica voltado para retorno dos materiais ao
ciclo produtivo aps venda e consumo. o caminho inverso da logstica (CSCMP, 2013).
Para Rogers e Tibben-Lembke (1999) e Pucci (2006), a logstica reversa definida
como processo de planejamento, implementao e controle eficiente e eficaz do fluxo de
matria-prima, gerao do produto e embalagens, estoque at produtos acabados, ou
informaes relacionadas desde o ponto de consumo at o ponto de origem com propsito de
recuperar valor ou disp-lo de maneira correta.
Para Leite (2009), a logstica reversa parte do processo da cadeia de suprimentos que
planeja, implementa e controla de forma eficiente e eficaz o fluxo direto e reverso e o estoque
de bens, servios e informaes entre o ponto de origem e o ponto de consumo com o
propsito de atender aos requisitos dos clientes. Na logstica reversa valorizado o retorno
dos produtos da destinao final para o ciclo de negcios, ou para disposio final adequada.
J no Art 3 da PNRS, a logstica reversa definida como:
Instrumento de desenvolvimento econmico e social caracterizado por um conjunto
de aes, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituio dos
resduos slidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em
outros ciclos produtivos, ou outra destinao final ambientalmente adequada
varrio (BRASIL, 2010b, p.3).
Segundo Art. 33 da PNRS ficam obrigados a estruturar e implementar sistemas de
logsitca reversa os participantes da cadeia produtiva dos agrotxicos, pilhas e baterias, pneus,
leos lubrificantes e embalagens, lmpadas fluorescentes, produtos eletroeletrnicos e seus
componentes, dentre outros (BRASIL, 2010b).
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No Decreto n 7.404/10, no qual regulamentada a PNRS, esto definidos os
ministrios e secretarias do governo envolvidas na aplicao da PNRS que devero compor o
Comit Interministerial da Poltica Nacional de Resduos Slidos e o Comit Orientador
(BRASIL, 2010a).
Segundo Leite (2011), o Comit Interministerial (Art. 3) responder pela
implementao da logstica reversa e o Comit Orientador (Art. 33) ter papel consultor na
definio de metodologias, critrios e avaliao dos sistemas de logstica reversa
apresentados. Ambos os comits tero a possibilidade de convidar representantes da
sociedade empresarial e de entidades afins para discutir questes e criar corpos tcnicos
especficos. Desta forma, as empresas alm de cumprirem a lei devem manter registros de
todas as prticas ambientais realizadas, de forma a prestarem contas de suas aes ao poder
pblico e sociedade.
No referido Decreto n 7.404/10 explicitada a preocupao em definir com preciso
os diversos sistemas de implantao e operacionalizao da logstica reversa que podero ser
adotados no pas nos prximos anos pelas cadeias produtivas dos setores empresariais.
Distinguem-se, portanto, no Art. 15, os seguintes instrumentos: os Acordos Setoriais,
Regulamentos Expedidos pelo Poder Pblico e Termos de Compromisso (BRASIL,
2010a; LEITE, 2011).
O Acordo Setorial um ato contratual entre a cadeia produtiva (fabricantes,
importadores, distribuidores ou comerciantes dos produtos e embalagens) que visa
implementao da logstica reversa, sendo a iniciativa da prpria cadeia produtiva ou do
Poder Pblico. Os acordos setoriais so considerados arranjos mais amplos que englobam
uma gama maior de atores e setores da economia. O sistema Regulamento Expedido por
Decreto do Poder Pblico uma iniciativa do governo e os Termos de Compromisso so
acordos especficos que podem ser considerados casos de excees de acordos setoriais
(LEITE, 2011; SANTOS, SANTOS, 2014).
A incluso da logstica reversa na PNRS demonstra a importncia dada
operacionalizao e equacionamento logstico deste retorno, revelando sua complexidade e
tornando-a integrante dos diversos planos de resduos a serem editados pela federao,
estados, municpios e pelas empresas envolvidas na gerao destes resduos (LEITE, 2009).
Segundo Abdulrahman et al. (2014) e Pokharel e Mutha (2009), a logstica reversa vem
se destacando devido ao aumento dos custos dos materiais, a escassez dos recursos naturais e
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28
a percepo das consequncias das alteraes climticas, que levam a uma maior conscincia
global sobre a preservao dos recursos. As empresas que almejam alcanar a sustentabilidade
nos seus negcios passam a investir em prticas de logstica reversa como a reciclagem,
reutilizao e adotam estratgias de gesto dos resduos a fim de ganhar vantagem
competitiva e atender crescentes demandas locais nacionais e internacionais de proteo
ambiental.
O processo de logstica reversa revela-se como oportunidade de desenvolver a
sistematizao dos fluxos de resduos, bens e produtos descartados, seja pelo fim da vida til,
seja por obsolescncia tecnolgica, e reaproveitamento dentro ou fora da cadeia produtiva de
origem. O ciclo do sistema de logstica reversa, conforme apresentado na Figura 5, viabiliza
tcnica e economicamente a promoo da sustentabilidade na cadeia produtiva, minimizando
os impactos ambientais e reduzindo a explorao dos recursos naturais (GUARNIERI et al.,
2013).
Figura 5: Ciclo do sistema de logstica reversa
Fonte: Embalagem sustentvel (2010)
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29
Segundo Leite (2009), para reduzir os custos no processo produtivo necessrio
entender que a vida til do produto comea a ser contabilizada desde a extrao da matria-
prima e fabricao do material at o descarte pelo consumidor. Entretanto, a vida til pode ser
prolongada quando existe possibilidade de aumentar o tempo de utilizao do produto ou
material, seja por meio da reinsero no processo produtivo ou na cadeia de consumo.
Os meios pelos quais os materiais retornam ao ciclo produtivo ou de negcio,
readquirindo valor econmico e ambiental so chamados de canais de distribuio reversos ou
canais reversos, e esto inseridos na cadeia logstica da qual fazem parte fabricantes,
atacadistas, distribuidores, varejistas e consumidores. Os canais reversos auxiliam na
disponibilizao de produtos com rapidez, facilidade no fluxo de informaes e materiais,
fortalecimento do potencial de vendas e na cooperao entre os participantes da cadeia de
suprimentos, reduzindo os custos de forma integrada (GUINDANI, 2014).
Para Leite (2009) e Guindani (2014), a maioria dos retornos dos materiais no sistema
de logstica reversa ocorre aps o consumo ou aps a venda do produto, sendo que:
Logstica Reversa Ps-Consumo
Segundo Cavallazzi e Valente (2010), a logstica reversa de ps-consumo equaciona e
operacionaliza o fluxo fsico e as informaes correspondentes de bens de consumo
descartados pela sociedade, podendo retornar ao ciclo produtivo por meio de canais de
distribuio reversos especficos. O objetivo de negcio desta rea da logstica agregar valor
a um bem, produto ou material que, mesmo sem interesse de uso pelo proprietrio original,
ainda possua condies de utilizao.
O retorno dos materiais ps-consumo exige dos fabricantes e participantes da cadeia
produtiva o comprometimento contnuo com a responsabilidade estendida dos produtos,
conhecida como Extended Product Responsability (EPR). Na EPR as empresas fabricantes de
produtos que agridem o ambiente so responsveis por seu descarte (LEITE, 2009).
Segundo Guindani (2014), na logstica ps-consumo os bens, produtos ou materiais
podem ser classificados, conforme a vida til, em trs categorias:
a) Durveis: produtos com vida til, variando de alguns anos a algumas dcadas,
como por exemplo, automveis, eletrodomsticos, eletroeletrnicos, mquinas e
equipamentos industriais, edifcios de diversas naturezas, aeronaves, construes
civis, barcos, entre outros.
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30
b) Semidurveis: produtos com vida mdia, variando de alguns meses e raramente
superior a dois anos, como baterias de automveis, leos lubrificantes, baterias
de celulares, computadores, notebooks, tablets, entre outros.
c) Descartveis: produtos de curta durao, variando de algumas semanas a seis
meses, como por exemplo, embalagens, materiais para escritrio, suprimentos
para informtica, artigos cirrgicos, pilhas e baterias de equipamentos
eletrnicos, fraldas, jornais e revistas, entre outros.
A maioria dos bens durveis e semidurveis utilizam o canal reverso de desmontagem
e reciclagem industrial, sendo desmontados na etapa de desmanche e seus componentes
reaproveitados ou remanufaturados, retornando ao mercado secundrio ou prpria indstria,
sendo uma parte destinada reciclagem. No caso de descartveis, os produtos retornam por
meio do canal reverso de reciclagem industrial, onde so reaproveitados e se transformam em
matria-prima secundria, voltando ao ciclo produtivo, ou seguem para disposio final em
aterros sanitrios, lixes ou incinerao e recuperao energtica (CAVALLAZZI,
VALENTE, 2010).
A revalorizao dos materiais ps-consumo operacionalizada pela logstica reversa
contribui para soluo do problema da destinao de resduos, garantindo o retorno ao ciclo
produtivo e de negcios, otimizando a utilizao dos recursos e a promoo do
desenvolvimento sustentvel e da competitividade nas empresas (LEITE, 2009).
Logstica Reversa de Ps-Venda
Os bens, produtos ou materiais de ps-venda so aqueles que tiveram pouco ou
nenhum uso e que o retorno se d por meio da prpria cadeia de distribuio. O objetivo do
negcio nesta rea agregar valor a um produto que devolvido por razes comerciais, erro
no processamento dos pedidos, garantia pelo fabricante, defeitos ou falhas de funcionamento,
avarias no transporte, alcance da data de validade, estoques excessivos, devoluo de
consignao, baixa qualidade ou defeitos. Estes ltimos muito comuns na comercializao de
produtos pela internet, onde a taxa de devoluo de produtos, seja por algum defeito ou por
insatisfao do cliente, caracteriza o retorno do produto cadeia de logstica reversa de ps-
venda (LEITE, 2009; CAVALLAZZI, VALENTE, 2010).
Uma caracterstica da logstica reversa de ps-venda equacionar as diversas
possibilidades de coleta destes produtos que, dependendo do canal de distribuio original,
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podero retornar dos consumidores finais para o varejista ou para o fornecedor; do varejista
para o fabricante ou para o distribuidor atacadista; ou da empresa cliente para a empresa
fornecedora, nos casos de canais de distribuio empresariais. Por mais que estes produtos
retornem empresa fabricante de origem, o ideal que eles possam ser destinados a mercados
secundrios de reformas, reciclagem de produtos e dos materiais constituintes, ou mesmo
disposio final adequada (LEITE, 2009; GUINDANI, 2014).
Segundo Leite (2009) e Cavallazzi e Valente (2010), o retorno dos bens, produtos ou
materiais ps-venda pode ocorrer em trs situaes:
a) Retornos comerciais por questes no contratuais: ocorrem, geralmente, por erro
do fornecedor nas vendas diretas, vendas por meio de catlogos de produtos,
comrcio eletrnico e erros na expedio na empresa.
b) Retornos comerciais por questes contratuais: ocorrem quando h acordo prvio
entre as empresas, especificamente relacionado aos prazos, quantidades
negociadas, condies de armazenagem e estocagem, excesso de estoque no
canal de distribuio, mercadorias em consignao, dentre outros.
c) Retornos por garantia/qualidade: ocorrem devido falhas de funcionamento,
defeitos gerais de fabricao e/ou montagem e avarias em embalagens ou mesmo
aqueles que retornam devido ao trmino de validade do produto.
Segundo Guarnieri (2013), entre as vantagens econmicas e financeiras da logstica
reversa ps-consumo e ps-venda destacam-se o ganho obtido por meio da venda dos
materiais descartados ao mercado secundrio e reduo dos custos com destinao, economia
obtida com reutilizao e recondicionamento dos produtos. As vantagens ecolgicas esto
relacionadas reduo do passivo ambiental e consequentemente, dos impactos gerados no
ambiente alm da utilizao responsvel dos recursos, evitando-se desperdcios.
No entanto, grande parte dos empreendedores d maior importncia produtividade e
ao lucro e negligenciam o gerenciamento dos recursos naturais utilizados como matria-prima
nos processos industriais, como tambm o gerenciamento dos resduos produzidos por eles.
Por esta razo, preciso sensibilizar a populao a repensar as atuais atitudes e incentivar
prticas de reciclagem e reutilizao para amenizar a problemtica dos resduos slidos. As
empresas tambm devem aperfeioar seus processos, com oportunidades de reaproveitamento
e reutilizao de insumos ou dos materiais descartados, a fim de reduzir os impactos
ambientais, diminuindo os custos operacionais. Por mais que o objetivo de obter lucro
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prevalea nas empresas, percebe-se que atitudes sustentveis, quando bem elaboradas, podem
ser um diferencial competitivo (LEITE, 2002).
Desta forma, espera-se que com a legislao vigente, os responsveis pela gerao e
gesto dos resduos slidos percebam a importncia e a urgncia na implantao da logstica
reversa em seus processos e promovam a responsabilidade compartilhada entre todos
envolvidos na cadeia produtiva (GUARNIERI et al., 2013).
No Brasil, os setores que esto mais avanados com relao aos sistemas de logstica
reversa so os setores de pneumticos, leos lubrificantes e suas embalagens, e o setor de
agrotxicos. Estes setores possuem acordos setoriais e termos de compromissos firmados e
recebem apoio de entidades que facilitam a operao da logstica reversa no pas.
Nos prximos captulos ser apresentado o panorama da logstica reversa no setor da
construo civil e em outros setores da economia a fim de identificar quais aes vm sendo
realizadas e possveis barreiras que podem dificultar o planejamento, implantao e
operacionalizao dos sistemas de logstica reversa. A anlise do panorama e das barreiras
para aplicao da logstica reversa ir auxiliar na seleo de critrios para compor o
questionrio sobre sistema de logstica reversa na construo civil e na elaborao do modelo
conceitual para gesto dos RCC em Curitiba.
2.2.1 Logstica reversa no setor da construo civil
Quando se fala em logstica reversa no setor da construo civil constata-se que no
basta ter foco apenas nas construtoras. Os impactos do setor comeam antes mesmo da
produo de qualquer material e se estendem durante e aps a vida til do empreendimento.
Segundo o Guia CBIC de Boas Prticas em Sustentabilidade na Indstria da
Construo, CBIC (2012), a cadeia produtiva da construo composta por:
Construtoras, incorporadoras e prestadoras de servios auxiliares da construo,
que realizam obras e edificaes;
Segmentos da indstria que produzem materiais de construo;
Segmentos do comrcio varejista e atacadista;
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Atividades de prestao de servios, tais como servios tcnico-profissionais,
financeiros e seguros.
Portanto, antes de planejar o sistema de logstica reversa para o setor da construo
civil necessrio analisar todos os participantes da cadeia produtiva. No modelo de logstica
reversa, proposto por Sobotka e Czaja (2015), por exemplo, foram destacadas quais iniciativas
poderiam contribuir para o desenvolvimento da logstica reversa no setor da construo e
quais participantes da cadeia produtiva tem mais perfil para investir na iniciativa sugerida.
Para os projetistas, por exemplo, os investimentos recomendados foram: seleo mtodos de
demolio otimizados; utilizao de materiais que possam ser reaproveitados e projetos que
facilitem a desmontagem. J o mestre de obras deve investir em metodologias que contribuam
para estimativa qualitativa e quantitativa da gerao de RCC.
A pesquisa indica os possveis investimentos necessrios para execuo de cada tarefa
e o que deve ser contabilizado, de maneira a auxiliar o investidor participante na escolha da
ao que seja mais benfica do ponto de vista social, econmico e ambiental (SOBOTKA,
CZAJA, 2015).
Beiriz (2010) props um modelo conceitual aplicado logstica reversa no setor da
construo civil, considerando o ciclo de vida til de materiais e insumos alm de indicadores
financeiros para estimar os custos de implantao de usinas de reciclagem e reas de
transbordo e triagem. O modelo contribui para enfrentar os desafios ambientais associados ao
crescimento exponencial da quantidade de resduos gerados pela indstria da construo,
atualmente gerida com mtodos precrios de descarte e gesto.
Yuan (2014), por sua vez, mostra algumas solues que vm sendo adotadas para
melhorar o gerenciamento dos resduos de construo e demolio na cidade de Chongqing,
na China. A pesquisa foi realizada com base em investigao in loco em seis empresas de
construo civil da cidade para verificar o que vem sendo feito e quando aplicvel, introduzir
os conceitos de logstica reversa e dos canais de distribuio reversa. De acordo com o autor,
as indstrias investigadas apresentam as seguintes caractersticas:
Dentro dos canais de distribuio direta, os fluxos de matria-prima envolvem
grandes quantidades de areia, brita, cimento, peas de cermica, ao e outros
materiais;
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A maioria das reas de extrao da matria-prima esto distantes dos canteiros de
obras, e como resultado, os custos de transporte de material influenciam
significativamente os custos finais de construo;
Nos canais de distribuio reversos, os maiores fluxos de materiais secundrios so
os resduos de gesso, concreto, tijolo e cermica.
Segundo Fu e Teng (2014), a China produziu cerca de 8 bilhes de toneladas de RSU
em 2013, sendo 35% deste total resduos da construo civil, equivalente a 5,5 quilos de RCC
gerado por habitante por dia. J na cidade de Chongqing, que tem aproximadamente 18
milhes de habitantes, dos 6 milhes de toneladas de RCC gerados por ano, a maioria
recolhida pelas autoridades pblicas e descartada em lixes ou aterros sanitrios (WU et al.,
2016).
Para minimizar a quantidade de RCC destinada para aterros e lixes Yuan (2014)
recomenda que os centros de reciclagem em Chongqing estejam localizados prximos dos
canteiros de obras e do mercado consumidor dos materiais processados, para que os custos
com transporte sejam reduzidos. Por outro lado, a maioria das reas centrais so geralmente
prximas de regies densamente povoadas, o que pode dificultar a construo de instalaes
de reciclagem (YUAN, 2014).
Segundo o estudo, as empresas de maior porte, com maior nmero de projetos, e que
operam seu prprio centro de reciclagem, esto mais sujeitas fiscalizao devido grande
quantidade de resduos gerados, porm a eficcia do processo de logstica reversa melhor. J
nas empresas menores, o ndice de reciclagem menor pois a reciclagem dos resduos
terceirizada. Esta opo pouco atrativa para os pequenos geradores, pois a maioria dos
centros de reciclagem de resduos so afastados, exigindo gastos com transporte que no
compensam, pelo pequeno volume gerado (YUAN, 2014).
importante frisar que o sucesso dos centros de reciclagem dependem de alguns
fatores como viabilidade destes centros para as autoridades pblicas, o que
depende da continuidade e de volume de produo perto de capacidade planejada de
operao. Deve-se atentar tambm, que a implantao e operao dos centros de reciclagem
de RCC que recebem investimento da iniciativa privada podem no ser viveis, devido
reduo do retorno sobre os investimentos. Como o uso de matria-prima reciclada ainda no
generalizado em Chongqing, os investimentos em centros de reciclagem em larga escala
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devem ser controlados e os gestores municipais devem investir mais em centros de reciclagem
pblicos (FU, TENG, 2014).
A fim de tornar os canais de distribuio reversos viveis e otimizar a reutilizao e
reciclagem dos fluxos e atividades, deve-se definir os objetivos da rede inversa, ajustar o nvel
de integrao ao tipo de rede que se deseja, caracterizar os tipos de RCC e definir o mercado
final para o produto processado, localizar os centros de consolidao, desmontagem e
manufatura e utilizar sistemas de medio e de informao para operaes de canais reversos
(KAYNAK et al., 2014).
O planejamento da rede reversa dos RCC pode ser motivado por aspectos econmicos,
ecolgicos e/ou legais. Os aspectos econmicos incluem a possvel reduo no custo total da
obra quando h planejamento na utilizao dos recursos, insero de matria-prima
secundria e gerenciamento adequado dos resduos, otimizando gastos com coleta, transporte
e destinao dos RCC. Os aspectos ecolgicos so compostos principalmente pela reduo
dos impactos ambientais da extrao, transporte e processamento de recursos naturais alm da
extenso da vida til dos aterros sanitrios. Para os aspectos legais, o mais importante o
cumprimento da legislao e aprimoramento do sistema regulatrio (FU, TENG, 2014;
OYEDELE et al., 2014; SOBOTKA, CZAJA, 2015).
No entanto, os autores ainda afirmam que uma das dificuldades para atingir os
benefcios da logstica reversa aplicada reciclagem dos RCC garantir a homogeneidade da
composio e pureza dos materiais, o que no acontece na maioria das vezes. Como
conseqncia, a reciclagem dos RCC geralmente limitada a reas como obras de
pavimentao, obras de drenagem e de estabilizao de taludes ou margens de rios (FU,
TENG, 2014; OYEDELE et al., 2014).
No estudo de Ding e Xiao (2014) o fluxo de materiais foi utilizado para estimar a
quantidade e composio dos RCC na cidade de Xangai, na China, a fim de avaliar o
potencial de reciclagem dos resduos nesta regio. O mtodo para caracterizar os RSU
utilizado desde a dcada de 1960 nos Estados Unidos e se baseia no clculo da quantidade de
materiais necessrios execuo da atividade, construo de um edifcio, por exemplo, e prev
o montante de RCC na sada. Para isto, no mtodo considerado o tipo de estrutura utilizada
e quais materiais podem vir a gerar RCC durante a construo.
Segundo Ding e Xiao (2014), aproximadamente 13,7 milhes de toneladas de RCC
foram gerados em Xangai em 2012, uma mdia de 2 quilos de RCC gerados por habitante por
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dia, sendo que mais de 80% deste total so resduos de concreto, tijolos e blocos. Do total,
apenas 10% reciclado e o restante disposto em aterros. No estudo revelado que, com as
novas polticas de urbanizao e mudanas nos mtodos construtivos, a maioria das fontes de
gerao de resduos na cidade resultante das atividades de demolio. Entre os obstculos
identificados para a reciclagem de RCC est a falta de conhecimento e confiana dos
empreiteiros e gerentes de construo sobre os produtos reciclados, altos custos de transporte
e baixa taxa de remoo dos resduos na cidade (DING, XIAO, 2014).
Frequentemente as reas utilizadas para descarte ilegal esto localizadas prximo de
reas sob a responsabilidade das autoridades pblicas. Uma estratgia, ento, seria utilizar
estas reas ilegais como depsitos intermedirios de RCC, at que o material seja transportado
para reas maiores, onde possa ser estabelecido um centro de reciclagem ou um aterro de
inertes (DING, XIAO, 2014; FU, TENG, 2014).
Segundo Hradil (2014), na Europa as atividades de construo e demolio
representam por 40 a 50% do total de RSU gerados. A quantidade de RCC estimada em 460
milhes de toneladas por ano, ou seja, 3 quilos por habitante por dia, excluindo os resduos de
escavaes. Consequentemente, a demanda de energia para suprir as necessidades do setor
alta, sendo que a maior parte dela consumida nos trs primeiros estgios do processo de
produo: gerao de recursos, extrao de recursos e fabricao de produtos.
Em 2008, o Parlamento Europeu publicou a verso revisada da diretiva sobre os
resduos, que estabelece medidas para evitar os efeitos negativos da gerao de resduos e
regras gerais para sua gesto. Na diretiva tambm estabelecido que no mnimo 70% dos
RCC (em peso) devem ser preparados para reutilizao, reciclagem ou valorizao at 2020
(HRADIL, 2014).
A situao dos RCC na Unio Europeia (UE) retratada por Cabao (2009) e Schneider
e Philippi Jr. (2004), mostra que h diferenas na gesto dos resduos nos pases em que a
reciclagem de RCC uma prtica comum e em outros onde estas prticas esto no incio ou
so praticamente inexistentes. Na Holanda, Blgica e Dinamarca, por exemplo, a taxa de
reciclagem de RCC chega a 90% para resduos de concreto, cermicas, telhas e tijolos e a
100% para resduos de asfalto. Os fatores que contribuem para promoo da reciclagem
nestes pases so escassez de matria-prima, dificuldade em encontrar terrenos para aterros,
medidas legais e econmicas, como cobranas elevadas para disposio em aterros.
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Na Holanda, desde meados da dcada de 1980 so realizados testes e pesquisas para
proceder aprovao e controle da utilizao do concreto e alvenaria reciclados como
agregados. A partir de 1999, novos padres para a quantidade mxima de substncias
perigosas contidas em materiais de construo foram determinados, com objetivo de
minimizar os impactos ambientais causados pela lixiviao, seja na utilizao do material ou
na reciclagem. As pesquisas no ramo da construo civil contriburam para alteraes na
legislao holandesa ao longo dos anos, em benefcio da gesto adequada dos RCC.
Atualmente, o agregado de concreto, que o constituinte principal dos RCC, deve representar
mais de 95% do total do material e o agregado de alvenaria deve representar mais de 65% do
total do material utilizado (SCHNEIDER, PHILIPPI JR, 2004; CABAO, 2009).
A taxao da matria-prima oriunda das atividades de minerao tambm uma forma
de estimular o uso de materiais provenientes dos RCC. Na Dinamarca a taxa sobre recursos
naturais imposta s pedreiras; na Inglaterra so taxadas areia, cascalho e pedras e na Sucia
as taxas so impostas desde a explorao dos bens minerais por escavao. Ainda na Sucia, o
plano de gesto de resduos deve acompanhar a documentao para demolio da edificao,
o qual deve ser aprovado pelas autoridades e estar descrita a destinao de cada um dos
materiais resultantes (SCHNEIDER, PHILIPPI JR, 2004).
Segundo dados divulgados pela Waste Statistic Regulation (WSTATR), a Blgica
gerou no ano de 2012, aproximadamente, 7 milhes de toneladas de RCC, o equivalente 1,7
quilos por habitante por dia, sendo que 90% dos RCC gerados foram reciclados (EUROPEAN
COMMISSION, 2016). Cabao (2009) ainda destaca que na Blgica foi desenvolvida uma
certificao voluntria para agregados reciclados, baseada em especificaes tcnicas
estabelecidas pelas autoridades, o que contribui para o aumento de RCC reciclados.
Na Dinamarca, a quantidade de RCC gerada por ano estimada em 8 milhes, cerca
de 4 quilos de RCC por habitante por dia. Devido falta de inertes naturais e cobrana de
preos exorbitantes para deposio dos RCC nos poucos aterros em operao na Dinamarca, a
indstria da reciclagem teve que se desenvolver, aumentando o percentual de reciclagem e
alcanando ndices prximos a 90% (CABAO, 2009; EUROPEAN COMMISSION, 2016).
Na Finlndia, a quantidade estimada de RCC de 16 milhes de toneladas por ano,
cerca de 8 quilos por habitante por dia. Na ustria, o total de RCC em 2013 chegou a 8,5
milhes de toneladas, aproximadamente, 3 quilos por habitante por dia. A maioria dos RCC
gerados nestes pases composta por fraes de concreto, cermica e telhas, sendo que,
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aproximadamente, 77% so recuperados e 26% reaproveitados (HRADIL, 2014;
EUROPEAN COMMISSION, 2016).
Irlanda e a Itlia, que produzem, aproximadamente, 2 quilos de RCC por habitante por
dia, possuem baixa taxa de reciclagem de RCC, com 6 e 9%, respectivamente. No entanto,
com avano da legislao e a necessidade de diminuir a produo de resduos e de aumentar a
utilizao de agregados reciclados, a tendncia que a taxa de reciclagem alcance maiores
valores ao longo dos anos (CABAO, 2009; EUROPEAN COMMISSION, 2016).
Na Espanha, em que a quantidade de RCC gerada por ano estimada em 27 milhes
de toneladas, aproximadamente, 1,5 quilo por habitante por dia, a porcentagem de resduos
reutilizados e reciclados no pas j chega a 43% (GANGOLELLS et al., 2014; EUROPEAN
COMMISSION, 2016).
No Reino Unido, a quantidade de RCC gerada por ano estimada em 110 milhes de
toneladas, resultante de construes, demolies e excavaes, o que representa,
aproximadamente, 60% do total de resduos gerados no Reino Unido, cerca de 5 quilos de
RCC por habitante por dia (PAINE, DHIR, 2010; ADJEI, 2016; EUROPEAN
COMMISSION, 2016).
O crescimento da reciclagem dos RCC nos pases europeus foi possvel devido ao
avano da legislao e de polticas de gesto de resduos. As iniciativas para adequao do
gerenciamento dos RCC incluem a triagem obrigatria dos RCC e entrega em unidades de
reciclagem, demolio controlada, taxao da matria-prima oriunda das atividades de
minerao como forma de estimular o uso de materiais provenientes dos RCC, como tambm
a oferta de subsdios financeiros para as unidades de tratamento (OYEDELE et al., 2014;
ADJEI, 2016).
Oyedele et al. (2014) verificaram que o desafio de incentivar a aplicao de materiais
reciclveis nas atividades da construo cicil nem sempre fcil e que muitos fatores
influenciam nesta tomada de deciso. Por mais que haja incentivos reciclagem de RCC em
alguns pases, observa-se pouca preferncia por parte dos projetistas e empreiteiros em aplicar
estes materiais reciclados na prpria obra (PAINE, DHIR, 2010; ADJEI, 2016).
Segundo Ismam e Ismail (2014), uma das solues adotadas pelo governo do Reino
Unido para melhorar as prticas na gesto de resduos foi a criao, em 2000, do Waste and
Resources Action Programme , conhecido como WRAP. Neste modelo foram elencadas oito
reas-chave que representam processos ou stakeholders importantes para compor um sistema
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de gerenciamento de resduos. Em cada uma das reas-chave foram identificadas estratgias
ou iniciativas que poderiam ser adotadas para otimizar a utilizao dos recursos e melhorar a
eficincia da gesto dos resduos, independente do local de aplicao.
Ismam e Ismail (2014) adaptaram o WRAP para o gerenciamento dos RCC e
identificaram quatro medidas que o governo poderia adotar para incentivar e orientar os
stakeholders no gerenciamento dos resduos: regulao, poltica, tecnologia e diretriz.
Segundo os autores, as medidas estabelecidas contribuem para gesto estratgica dos RCC e
atuam como mecanismos de fortalecimento do desempenho do governo no planejamento da
gesto dos resduos.
Com relao s embalagens na Europa, a base para reciclagem de resduos de
embalagem est na diretiva 94/62/EC do Parlamento Europeu e no Conselho Europeu para
Embalagens e Resduos de Embalagem, que regulamenta o uso de embalagens principalmente
no setor agrcola e industrial (PERICOT et al., 2014).
No entanto, Paneque et al. (2008) afirmam que a segregao e recuperao de
embalagens para o setor da construo civil um processo um pouco mais complicado pelo
fato de estarem misturados com outras categorias de RCC. Apesar disso, Llatas (2011) estima
as seguintes categorias e porcentagens de resduos de embalagens que so encontradas nas
construes: 70% de embalagens em madeira, 11% de embalagens de plstico, 5% de
papelo, 5% de metlicas e 1% misturadas.
Pericot et al. (2014) realizaram um estudo na regio do Mediterrneo, em
aproximadamente 1.173 habitaes em construo, ocupando uma rea de 193.150 m2, com o
objetivo de avaliar o padro da gerao de resduos de embalagem predominante nos canteiros
de obras e os principais materiais responsveis pela gerao destas embalagens.
Os resultados indicam que os resduos de madeira predominam nas etapas iniciais da
construo, os resduos de plstico so constantes durante toda obra, e os resduos de papelo
predominam no fim da construo, devido utilizao, em grande quantidade, de
interruptores e tomadas que vem em embalagens de papelo.
Inicialmente, os autores notaram que as medidas de incentivo implementadas pela
empresa de construo para melhoramento da triagem dos resduos no prprio local, como
treinamento em gesto de RCC, no foram satisfatrias e com baixos ndices de segregao.
No entanto, aps a pesquisa, os autores acreditam que compreender o padro de produo de
resduos benfico para adaptar as estratgias de gesto e para entender a natureza especfica
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dos resduos de embalagem em cada estgio da obra, diminuindo desperdcios no canteiro e