Fileira da Carne
Avaliação de Ciclo de Vida da carne de frango, de
porco e de novilho
Relatório Técnico
Setembro 2014
Ficha Técnica
Ficha técnica
Coordenação da fileira
Luís Arroja, Universidade de Aveiro & CESAM
Equipas Técnica
Frango
Sara Belo, Universidade de Aveiro
Ana Cláudia Dias, Universidade de Aveiro & CESAM
Luís Arroja, Universidade de Aveiro & CESAM
Carne de porco
Sara Belo, Universidade de Aveiro
Ana Cláudia Dias, Universidade de Aveiro & CESAM
Luís Arroja, Universidade de Aveiro & CESAM
Luís Pinto de Andrade, Instituto Politécnico de Castelo Branco & CERNAS
João Rodrigues, Instituto Politécnico de Castelo Branco & CERNAS
António Ferreira, Instituto Politécnico de Coimbra & CERNAS
Rosário Costa, Instituto Politécnico de Coimbra & CERNAS
Carne de novilho
Sara Belo, Universidade de Aveiro
Ana Cláudia Dias, Universidade de Aveiro & CESAM
Luís Arroja, Universidade de Aveiro & CESAM
Manuel Feliciano, Instituto Politécnico de Bragança & CIMO
Fernando sousa, Instituto Politécnico de Bragança & CIMO
José Carlos Almeida, Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro & CITAB
Henrique Trindade, Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro & CITAB
Abreviaturas e Acrónimos
i
Abreviaturas e Acrónimos AC – Alterações Climáticas
ACV – Avaliação de Ciclo de Vida
AICV – Análise de Inventário de Ciclo de Vida
AT – Acidificação Terrestre
CO – Monóxido de Carbono
CO2 – Dióxido de Carbono
CN – Cabeças normais
EAD – Eutrofização de Água Doce
EM – Eutrofização Marinha
GEE – Gases com Efeito de Estufa
ICV – Inventário de Ciclo de Vida
ISO – Interational Standart Organization
EU – União Europeia
INE – Instituto Nacional de Estatística
MPB – Modo de produção biológico
MS – Matéria seca
N – Azoto
NH3 – Amoníaco
NO3- – Nitrato
NOX – Óxidos de Azoto
Abreviaturas e Acrónimos
ii
NO2 – Dióxido de azoto
COVNM – Compostos Orgânicos Voláteis Não Metânicos
P – Fósforo
PO43- – Fosfato
EPS – Poliestireno expandido
PEBD – Polietileno de baixa densidade
SO2 – Dióxido de Enxofre
SST – Sólidos Suspensos Totais
UF – Unidade Funcional
Índice
iii
Índice
ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS i
1 INTRODUÇÃO 1
1.1 ENQUADRAMENTO 1
1.2 OBJECTIVO DO ESTUDO 1
1.3 ESTRUTURA DO RELATÓRIO 3
2 CARACTERIZAÇÃO DA FILEIRA DA CARNE EM PORTUGAL 4
2.1 EVOLUÇÃO DO SECTOR DA CARNE DE FRANGO 4
2.1.1 PRODUÇÃO DE FRANGO 4
2.1.2 ABATES APROVADOS PARA CONSUMO 4
2.1.3 BALANÇO DE APROVISIONAMENTO 5
2.1.4 BALANÇA COMERCIAL 6
2.1.5 CARACTERIZAÇÃO DAS ESTRUTURAS E SISTEMAS DE PRODUÇÃO DAS EXPLORAÇÕES 6
2.2 EVOLUÇÃO DO SECTOR DA CARNE DE PORCO 7
2.2.1 PRODUÇÃO DE CARNE DE PORCO 7
2.2.2 EFETIVO SUÍNO 7
2.2.3 ABATES APROVADOS PARA CONSUMO 8
2.2.4 BALANÇO DE APROVISIONAMENTO 9
2.2.5 BALANÇA COMERCIAL 10
2.2.6 CARACTERIZAÇÃO DAS ESTRUTURAS E SISTEMAS DE PRODUÇÃO DAS EXPLORAÇÕES 10
2.3 EVOLUÇÃO DO SECTOR DA CARNE DE BOVINO 11
2.3.1 PRODUÇÃO DE CARNE DE BOVINO 12
2.3.2 EFETIVO BOVINO 12
2.3.3 ABATES APROVADOS PARA CONSUMO 13
2.3.4 BALANÇO DE APROVISIONAMENTO 14
2.3.5 BALANÇA COMERCIAL 15
2.3.6 CARACTERIZAÇÃO DAS ESTRUTURAS E SISTEMAS DE PRODUÇÃO DAS EXPLORAÇÕES 15
2.3.7 ESTRUTURAS E SISTEMAS DE PRODUÇÃO NO CONTEXTO REGIONAL 17
3 METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA (ACV) 18
4 ACV DO FRANGO 22
4.1 DEFINIÇÃO DO OBJECTIVO E ÂMBITO 22
4.1.1 OBJETIVO 22
4.1.2 UNIDADE FUNCIONAL 22
4.1.3 DESCRIÇÃO DO SISTEMA DE PRODUTO E FRONTEIRAS DO SISTEMA 22
4.1.4 ALOCAÇÃO 25
4.1.5 METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DE IMPACTES 25
4.2 ANÁLISE DE INVENTÁRIO DE CICLO DE VIDA 25
4.3 AVALIAÇÃO DOS IMPACTES AMBIENTAIS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 29
4.3.1 PRODUÇÃO DE ALIMENTOS CONCENTRADOS 30
Índice
iv
4.3.2 PRODUÇÃO ANIMAL (AVIÁRIO) 30
4.3.3 ABATE DOS ANIMAIS (MATADOURO) 31
4.4 CONCLUSÕES 32
5 ACV DA CARNE DE PORCO 34
5.1 DEFINIÇÃO DE OBJECTIVO E ÂMBITO 34
5.1.1 OBJETIVO 34
5.1.2 UNIDADE FUNCIONAL 34
5.1.3 DESCRIÇÃO DO SISTEMA DE PRODUTO E FRONTEIRAS DO SISTEMA 34
5.1.4 ALOCAÇÃO 39
5.1.5 METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DE IMPACTES 39
5.2 ANÁLISE DE INVENTÁRIO DE CICLO DE VIDA 40
5.3 AVALIAÇÃO DOS IMPACTES AMBIENTAIS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 44
5.3.1 PRODUÇÃO DE ALIMENTOS COMPOSTOS 45
5.3.2 PRODUÇÃO ANIMAL (EXPLORAÇÃO SUÍNA) 46
5.3.3 ABATE DOS ANIMAIS (MATADOURO) 47
5.4 CONCLUSÕES 48
6 ACV DA CARNE DE BOVINO 49
6.1 DEFINIÇÃO DO OBJECTIVO E DO ÂMBITO 49
6.1.1 OBJETIVO 49
6.1.2 UNIDADE FUNCIONAL 49
6.1.3 DESCRIÇÃO DO SISTEMA PRODUTO E FRONTEIRAS DO SISTEMA 49
6.1.4 ALOCAÇÃO 65
6.1.5 METODOLOGIA DE ACV 66
6.2 ANÁLISE DE INVENTÁRIO DE CICLO DE VIDA 67
6.2.1 CENÁRIO A 71
6.2.2 CENÁRIO B 74
6.2.3 CENÁRIO C 77
6.2.4 CENÁRIO D 79
6.3 AVALIAÇÃO DOS IMPACTES AMBIENTAIS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 79
6.3.1 CENÁRIO A 79
6.3.2 CENÁRIO B 83
6.3.3 CENÁRIO C 85
6.3.4 CENÁRIO D 88
6.4 CONCLUSÕES 90
REFERÊNCIAS 92
ANEXO A 95
Índice
v
Índice de Tabelas
Capítulo 2
Tabela 2.1 - Evolução da produção nacional de carne (Fonte: INE, 2014) __________________________________ 4
Tabela 2.2 - Evolução do nº de cabeças de aves abatidas em Portugal (Fonte: INE, 2014) _____________________ 5
Tabela 2.3 - Evolução do total de aves abatidas em Portugal em 2012, 2012 e 2013, em toneladas (Fonte: INE, 2014)
___________________________________________________________________________________________ 5
Tabela 2.4 - Balanço de aprovisionamento da carne de aves em Portugal (Fonte: INE, 2014) __________________ 6
Tabela 2.5 - Evolução da balança comercial no sector da carne de aves em Portugal (INE, 2014) _______________ 6
Tabela 2.6 - Evolução da balança comercial no sector da carne de aves em valor ___________________________ 6
Tabela 2.7 - Evolução da produção nacional de carne de porco entre o período de 2009 e 2013 (Fonte: INE, 2014) _ 7
Tabela 2.8 - Evolução do efectivo nacional de suínos entre o período de 2009 e 2013 (Fonte: INE, 2014) _________ 8
Tabela 2.9 - Evolução do número de suínos abatidos para consumo entre o período de 2009 e 2013 (Fonte: INE,
2014) ______________________________________________________________________________________ 9
Tabela 2.10 - Evolução da balança de aprovisionamento da carne suína entre o período de 2009 e 2013 (Fonte: INE,
2014) ______________________________________________________________________________________ 9
Tabela 2.11 - Evolução da balança de comercial da carne suína (€) entre o período de 2009 e 2013 (Fonte: INE, 2014)
__________________________________________________________________________________________ 10
Tabela 2.12 - Evolução da produção nacional de carne de bovino (Fonte: INE, 2014) ________________________ 12
Tabela 2.13 - Evolução do efectivo nacional de bovinos (Fonte: INE, 2014) ________________________________ 12
Tabela 2.14 - Evolução do nº de cabeças de bovino abatido e aprovadas para consumo (Fonte: INE, 2014) ______ 14
Tabela 2.15 - Evolução das cabeças de bovino abatidas e aprovadas para consumo, em toneladas (Fonte: INE, 2014)
__________________________________________________________________________________________ 14
Tabela 2.16 - Evolução da balança de aprovisionamento da carne bovina (Fonte: INE, 2014) _________________ 14
Tabela 2.17 - Evolução da balança de comercial da carne bovina (€) (Fonte: INE, 2014) _____________________ 15
Capítulo 4
Tabela 4.1 - ICV do subsistema alimentos concentrados (SC), expresso pela UF. ____________________________ 26
Tabela 4.2 - ICV do subsistema produção de frango de aviário (SFA), expresso pela UF. _____________________ 27
Tabela 4.3 - ICV do subsistema abate e embalamento (SM), expresso pela UF. _____________________________ 28
Tabela 4.4 - Resultados da avaliação de impactes associados ao sistema produção de frango de, expressos pela UF.
__________________________________________________________________________________________ 29
Capítulo 5
Tabela 5.1 - Composição dos alimentos concentrados usados para as diferentes fases de vida (porcas reprodutoras,
varrascos, suínos desmamados e em engorda). _____________________________________________________ 36
Tabela 5.2 - Principais parâmetros característicos da exploração _______________________________________ 37
Tabela 5.3 - ICV do subsistema produção de alimento concentrado (SC), expresso por UF. ____________________ 41
Tabela 5.4 - ICV do subsistema produção animal (SS), expresso por UF. __________________________________ 41
Tabela 5.5 - ICV do subsistema abate (SM), expresso por UF. ___________________________________________ 42
Tabela 5.6 - Principais características do chorume de suíno produzido e gerido na exploração suína e emissões
resultantes da gestão, armazenamento e aplicação do chorume (por kg de chorume produzido).______________ 43
Tabela 5.7 - Resultados da avaliação de impactes por kg de carne (peso de carcaça) associada ao sistema produção
de carne de porco industrial (sistema intensivo). ____________________________________________________ 44
Capítulo 6
Tabela 6.1 - Principais parâmetros característicos da exploração considerada no subsistema SC_Ext_Conv. _________ 52
Tabela 6.2 - Principais parâmetros característicos da exploração considerada no subsistema SE-Int1. ____________ 57
Tabela 6.3 - Alimentação fornecida aos animais, considerada no SE-Int1. __________________________________ 57
Tabela 6.4 - Principais parâmetros característicos da exploração considerada no subsistema SC_Ext_Bio. __________ 59
Tabela 6.5 - Principais parâmetros característicos da exploração considerada no subsistema SE-Int2. ____________ 61
Tabela 6.6 - Principais parâmetros característicos da exploração considerada no subsistema SC_SI. _____________ 63
Tabela 6.7 - Alimentação fornecida aos animais, considerada no SC-SI. ___________________________________ 64
Tabela 6.8 - Fatores de alocação ________________________________________________________________ 66
Tabela 6.9 - ICV da produção de alimentos concentrados do CA, expresso por 1000 kg de concentrado. _________ 71
Tabela 6.10 - ICV do subsistema SC_Ext do CA, expresso pela UF. _________________________________________ 72
Tabela 6.11 - ICV do subsistema SE_Ext do CA, expresso pela UF. _________________________________________ 72
Índice
vi
Tabela 6.12 - ICV do subsistema SM do CA, CB, CC e CD, expresso pela UF. _________________________________ 73
Tabela 6.13 - Perfil de transporte associado ao SM. __________________________________________________ 74
Tabela 6.14 - ICV da produção de alimentos concentrados do SE_Int1 do CB, expresso por 1000 kg de concentrado. _ 74
Tabela 6.15 - ICV da produção de silagens de milho e azevém do SE_Int1 do CB, expresso por 1 hectare de cultivo. __ 75
Tabela 6.16 - ICV do subsistema SE_Int1 do CB, expresso pela UF. ________________________________________ 76
Tabela 6.17 - ICV da produção de alimentos concentrados do CC, expresso por 1000 kg de concentrado. ________ 77
Tabela 6.18 - ICV do subsistema SC_Bio do CC, expresso pela UF. _________________________________________ 78
Tabela 6.19 - ICV do subsistema SE_Int2 do CC, expresso pela UF. ________________________________________ 78
Tabela 6.20 - ICV do subsistema SC_SI do CD, expresso por UF. __________________________________________ 79
Tabela 6.21 - Resultados da avaliação de impactes por kg de carne (peso de carcaça) associada ao sistema produção
de carne de bovino (CA). _______________________________________________________________________ 80
Tabela 6.22 - Resultados da avaliação de impactes por kg de carne de bovino (peso de carcaça) associado ao
subsistema SM. ______________________________________________________________________________ 82
Tabela 6.23 - Resultados da avaliação de impactes por kg de carne de bovino (peso de carcaça) associada ao sistema
produção de carne de bovino (CB). _______________________________________________________________ 84
Tabela 6.24 - Resultados da avaliação de impactes por kg de carne de bovino (peso de carcaça) associada ao sistema
produção de carne de bovino (CC). _______________________________________________________________ 86
Tabela 6.25 - Resultados da avaliação de impactes por kg de carne de bovino (peso de carcaça) associada ao sistema
produção de carne de bovino (CD). _______________________________________________________________ 88
Índice de Figuras
Capítulo 1
Figura 1.1 - Ciclo de vida da carne e fronteiras dos sistemas em estudo. __________________________________ 2
Capítulo 2
Figura 2.1 – Evolução do efectivo bovino por categoria, por nº de cabeças (Fonte: GPP, 2014). _______________ 13
Figura 2.2 - Estrutura de produção do sector nacional da produção de carne de bovinos (Fonte: GPP, 2007) _____ 16
Capítulo 3
Figura 3.1 - Fases de desenvolvimento metodológico de uma avaliação de ciclo de vida, segundo as normas ISO (ISO,
2006). _____________________________________________________________________________________ 18
Capítulo 4
Figura 4.1 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos associados ao ciclo de vida da carne de frango. ___ 22
Figura 4.2 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de
frango. ____________________________________________________________________________________ 29
Figura 4.3 - Contribuição relativa (em %) dos processos/actividades envolvidos no subsistema produção de alimentos
compostos (SC).______________________________________________________________________________ 30
Figura 4.4 - Contribuição relativa (em %) dos processos/actividades envolvidos no subsistema produção de frango de
aviário (SFA). ________________________________________________________________________________ 31
Figura 4.5 - Contribuição relativa (em %) dos processos/actividades envolvidos no subsistema abate e embalamento
do frango (SM). ______________________________________________________________________________ 32
Capítulo 5
Figura 5.1 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos associados ao ciclo de vida da carne de porco. ____ 35
Figura 5.2 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de porco.
__________________________________________________________________________________________ 44
Figura 5.3 - Contribuição relativa (em %) dos processos/actividades envolvidos no subsistema produção de alimentos
compostos (SC).______________________________________________________________________________ 45
Figura 5.4 - Contribuição relativa (em %) dos processos/actividades envolvidos no subsistema produção animal (S2).
__________________________________________________________________________________________ 46
Figura 5.5 - Contribuição relativa (em %) dos processos/actividades envolvidos no subsistema abate dos animais
(S2). ______________________________________________________________________________________ 47
Capítulo 6
Figura 6.1 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos associados ao ciclo de vida da carne de novilho,
considerados no CA. __________________________________________________________________________ 51
Índice
vii
Figura 6.2 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos associados ao ciclo de vida da carne de novilho,
considerados no CB. __________________________________________________________________________ 55
Figura 6.3 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos associados ao ciclo de vida da carne de novilho,
considerados no CC. __________________________________________________________________________ 58
Figura 6.4 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos associados ao ciclo de vida da carne de novilho,
considerados no CB. __________________________________________________________________________ 63
Figura 6.5 - Visão geral das principais emissões de poluentes ao nível da unidade produtiva de bovinos. ________ 69
Figura 6.6 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de
bovino (CA). _________________________________________________________________________________ 80
Figura 6.7 - Contribuição relativa (em %) dos processos envolvidos no subsistema SC_Ext do CA e CB. _____________ 81
Figura 6.8 - Contribuição relativa (em %) dos processos envolvidos no subsistema SE_Ext do CA. ________________ 81
Figura 6.9 - Contribuição relativa (em %) dos processos envolvidos no subsistema SM, no matadouro 1. _________ 83
Figura 6.10 - Contribuição relativa (em %) dos processos envolvidos no subsistema SM, no matadouro 2. ________ 83
Figura 6.11 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de
bovino (CB). _________________________________________________________________________________ 84
Figura 6.12 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no subsistema SE_Int1 no CB. _____________ 85
Figura 6.13 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de
bovino (CC). _________________________________________________________________________________ 86
Figura 6.14 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no subsistema SC_Ext_Bio no CC. ___________ 87
Figura 6.15 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no subsistema SE_Int2 no CC. ____________ 88
Figura 6.16 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de
bovino (CD)._________________________________________________________________________________ 89
Figura 6.17 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no subsistema SC_Ext_Bio no CD. ___________ 90
Introdução
1
1 Introdução
1.1 Enquadramento
O projeto ECODEEP - EcoEficiência e a EcoGestão no sector AgroIndustrial - tem como
objetivo aumentar a competitividade, sustentabilidade e inovação no sector
agroalimentar através do desenvolvimento de metodologias inovadoras com base no
conceito de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV), contribuindo para a redução/minimização
das incidências ambientais, a otimização da gestão dos recursos naturais enquanto
matérias-primas e a adoção das melhores técnicas e práticas ambientais nas empresas
que constituem o universo das diferentes fileiras de atividade do sector agroalimentar.
Na prossecução deste objectivo, o projeto ECODEEP contribuirá de forma indelével para
o aumento da competitividade das diferentes fileiras da indústria agroalimentar, pela
identificação de oportunidades de racionalização de consumos de matérias-primas e de
energia e da minimização da produção de resíduos, efluentes e emissões.
O presente relatório visa descrever o trabalho desenvolvido durante o projeto
supracitado, no âmbito do da fileira da carne.
1.2 Objectivo do estudo
O objetivo principal do presente estudo é obter o perfil ambiental da fileira da carne,
recorrendo à avaliação de ciclo de vida (ACV). A ACV é uma ferramenta de gestão
ambiental que pode ser amplamente utilizada para avaliar os potenciais impactos
ambientais causados por produtos, processos ou serviços durante todo o seu ciclo de
vida. Esta ferramenta tem vindo a ser amplamente aplicada na comunidade científica,
em indústrias, e organizações que pretendem avaliar o impacto das suas atividades na
perspectiva de ciclo de vida, nomeadamente na produção pecuária.
Neste estudo são avaliados os produtos de carne com maior importância em Portugal,
em termos produtivos, nomeadamente o frango, a carne de porco e a carne de novilho.
Assim, para o desenvolvimento deste trabalho são caracterizadas as principais fases de
produção aliadas à fileira da carne em Portugal e quantificados e avaliados os potenciais
impactes ambientais associados ao ciclo de vida dos produtos.
Introdução
2
Por fim, são também objetivos deste estudo, identificar os hotspots ambientais dos
sistemas, isto é, identificar as fases ou processos de produção mais críticas, que
representam uma maior contribuição no impacte ambiental total do produto; e por fim,
tendo em consideração os resultados obtidos, identificar possíveis oportunidades de
melhoria no desempenho da produção dos diversos tipos de carne, numa perspectiva
de ciclo de vida, visando o apoio a futuras decisões e melhorando projectos futuros.
O ciclo de vida da carne (figura 1.1) pode ser descrito, de uma forma geral, por cinco
fases: a montante existe a produção dos alimentos fornecidos aos animais
(nomeadamente a produção de alimentos concentrados e alimentos forrageiros) e a
produção primária ou produção animal (composta por explorações agrícolas que
produzem os animais até estarem prontos para abate); numa fase intermédia, a
transformação (constituída por centros de abate dos animais e possivelmente unidades
empresariais que transformam a carcaça numa grande variedade de produtos cárnicos
embalados) e a distribuição (composta pelos retalhistas que vendem os produtos de
carne aos consumidores) e a jusante o consumo dos produtos (que inclui a permanência
dos produtos na casa dos consumidores e o respectivo destino final). No entanto, tendo
por base os objectivos principais deste projeto foram excluídas das fronteiras dos
sistemas avaliados as fases de distribuição e consumo.
Figura 1.1 - Ciclo de vida da carne e fronteiras dos sistemas em estudo.
Introdução
3
1.3 Estrutura do relatório
A estrutura do presente relatório é dividida em seis capítulos. Após a descrição do
enquadramento e principais objectivos do estudo (capítulo 1), é caracterizada a fileira
da carne em Portugal, particularmente os sectores da carne de frango, de porco e de
bovino. Este capítulo (capítulo 2) é focado na evolução de cada um destes sectores,
baseado em valores estatísticos, nomeadamente, no que diz respeito aos valores de
produção animal, efetivo animal, abates aprovados, balança de aprovisionamento,
balança comercial e por fim uma breve caracterização das explorações.
No capítulo 3 é descrita a metodologia de ACV, sendo abordadas de forma sucinta as
actividades inerentes a cada fase implícita a esta metodologia.
Por fim, os capítulos 4, 5 e 6 apresentam os estudos de ciclo de vida elaborados para a
carne de frango, carne de porco e carne de bovinos, respetivamente. Cada capítulo é
dividido nas secções: definição do objetivo e do âmbito, análise de inventário de ciclo
de vida, avaliação dos impactes ambientais e interpretação dos resultados e conclusões.
Metodologia de ACV
4
2 Caracterização da fileira da carne em Portugal
Sendo objectivo deste estudo obter o perfil ambiental da produção de carne em
Portugal, é importante conhecer a representatividade desta fileira a nível nacional, bem
como as estruturas e sistemas de maior importância. Neste sentido, nas seguintes
secções são descritos sumariamente estes aspectos.
2.1 Evolução do sector da carne de frango
O subsector da produção de carne de aves em Portugal representa 18,2 % do valor da
produção animal, com uma média anual de 497 Meuros no período 2011-2013, o que
constituiu cerca de 7,7 % do total nacional de produção agrícola nesse período. Neste
triénio, o sector da carne de aves registou um acréscimo de 5,7 %.
2.1.1 Produção de frango
O sector das aves em Portugal representa cerca de 40% do valor da produção animal,
em 2013. O total de carne de aves produzida em 2013 atingiu as 334 mil toneladas,
sendo a carne de frango o principal subsector (tabela 2.1). A produção de frangos de
carne (que corresponderam a 82% do total de animais de capoeira) teve um volume
superior em 0,8% ao de 2012, com uma produção de 273 mil toneladas (270 mil
toneladas em 2012) (INE,2014).
Tabela 2.1 - Evolução da produção nacional de carne (Fonte: INE, 2014)
Produção de carne de aves (t)
2011 2012 2013
Produção total de carne (peso limpo) 875.155 850.284 821.528
Aves 333.864 334.088 334.056
Frangos de carne 270.206 270.320 272.533
2.1.2 Abates aprovados para consumo
O número de cabeças de aves abatidas aprovadas para consumo teve uma ligeira
diminuição de 1,3 % em 2013 quando comparado com o ano de 2011, sendo esse valor
mais baixo, 0,7 % no que se refere aos frangos de carne (tabela 2.2).
Metodologia de ACV
5
Tabela 2.2 - Evolução do nº de cabeças de aves abatidas em Portugal (Fonte: INE, 2014)
Número de cabeças de aves abatidas
2011 2012 2013
Portugal Total de aves 197.136.867 195.525.692 194.474.519
Frangos de carne 176.681.984 175.531.019 175.455.498
Continente Total de aves 191.091.529 189.786.842 188.583.486
Frangos de carne 170.737.168 169.886.196 169.665.021
Açores Total de aves 3.645.032 3.403.290 3.565.180
Frangos de carne 3.609.987 3.367.910 3.528.527
Madeira Total de aves 2.400.306 2.335.560 2.325.853
Frangos de carne 2.334.829 2.276.913 2.261.950
Em termos de volume em toneladas (tabela 2.3), verifica-se que o houve um aumento
de 0,8 % no que diz respeito aos frangos de carne.
Tabela 2.3 - Evolução do total de aves abatidas em Portugal em 2012, 2012 e 2013, em toneladas (Fonte: INE, 2014)
Total de aves abatidas (t)
2011 2012 2013
Portugal Total de aves 292.169 292.051 291.768
Frangos de carne 237.322 237.432 239.352
Continente Total de aves 283.286 283.295 282.507
Frangos de carne 228.668 228.884 230.321
Açores Total de aves 4.592 4.454 4.726
Frangos de carne 4.530 4.391 4.666
Madeira Total de aves 4.291 4.302 4.536
Frangos de carne 4.124 4.157 4.364
2.1.3 Balanço de aprovisionamento
Da análise do balanço de aprovisionamento da carne de aves (tabela 2.4), verifica-se
que o consumo nacional aumentou ao longo dos anos analisados. O consumo da carne
de frango está estável, com um ligeiro aumento, tendo passado de 22,4Kg/habitante
em 2012 para 22,6 kg/habitante em 2013. De referir ainda que, no que respeita ao
consumo de carne de aves, a carne de frango é a que apresenta um maior consumo,
encontrando-se, em 2009, nos 26,6 kg/habitante/ano, no total de 34,2
Kg/habitante/ano de carne de aves, representando assim, uma das taxas mais elevadas
da União Europeia.
Metodologia de ACV
6
Tabela 2.4 - Balanço de aprovisionamento da carne de aves em Portugal (Fonte: INE, 2014)
Balanço de aprovisionamento da carne de Aves
2010 2011 2012
Produção indígena bruta (*1000t) 335 336 337
Utilização interna total (*1000t) 375 376 384
Capitação (kg/habitante.ano) 35,5 35,8 36,5
Grau de aprovisionamento (%) 89,3 89,4 87,8
2.1.4 Balança Comercial
A balança comercial do sector da carne de aves, tabela 2.5 e 2.6, apresentou-se
deficitária no período de 2012 a 2013. A análise inclui animais vivos, carnes e miudezas
de aves e o seu défice em 2013 foi de -92.876.999 euros.
Tabela 2.5 - Evolução da balança comercial no sector da carne de aves em Portugal (INE, 2014)
Balança comercial no sector da carne aves em volume (t)
2012 2013
Importação 49.699 56.418 Exportação 25.477 26.588
Tabela 2.6 - Evolução da balança comercial no sector da carne de aves em valor
Balança comercial no sector da carne de aves em valor (€)
2012 2013
Importação 120.474.001 138.537.000
Exportação 44.227.001 45.660.002
Ao nível da transformação industrial note-se que este subsector, com o CAE n.º 1012 –
Abate de Aves (produção de carne) gerou, em 2009,489 Meuros, o que representa
cerca de 5% do total referente à Industria Alimentar e Bebidas e 28% no que se refere à
rubrica Abate de Animais e preparação e conservação de carne e produtos à base de
carne.
2.1.5 Caracterização das estruturas e sistemas de produção das explorações
Segundo um Inquérito à Estrutura das Explorações Agrícolas, em 2009, existiam em
Portugal aproximadamente 161 mil explorações de aves, as quais possuíam 35 352 mil
animais, sendo que os frangos de carne (20.254 mil animais) constituíam cerca de 60%
das aves, seguidos das galinhas poedeiras e reprodutoras (11.978 mil animais), as quais
representavam 34% do efectivo total (INE, 2011). De referir ainda que as explorações
Metodologia de ACV
7
de carne de aves centram-se, na sua quase totalidade (84%), nas regiões da Beira
Litoral, Ribatejo e Oeste, predominando, no entanto, na Beira Litoral.
2.2 Evolução do sector da carne de porco
O subsector da produção de carne de porco em Portugal representa 22,9 % do valor da
produção animal, com uma média anual de 624 Meuros no período 2011-2013, o que
constituiu cerca de 9,6 % do total nacional de produção agrícola nesse período. Neste
triénio, o sector da carne de porco registou um acréscimo de 16,8 %.
2.2.1 Produção de carne de porco
Em 2013 a produção de carne de porco representou, o peso de 47 % do volume total de
carnes produzidas em Portugal (tabela 2.7). Nesse ano, a sua produção (carne e
toucinho) totalizou 384.182 toneladas, registando pelo segundo ano consecutivo uma
diminuição de 4,6% da produção, face ao ano anterior (em 2012 o decréscimo foi de
5,6%) (tabela 2.7). No entanto, quando avaliada numa escala temporal maior, averigua-
se que a produção de carne de porco aumentou cerca de 200% nos últimos 20 anos
(3tres3, 2014). A diminuição da produção nos últimos anos resulta em parte da
adaptação das explorações às novas normas de bem-estar animal, que em muitos casos
obrigou a uma diminuição do número de porcas em reprodução, o que
consequentemente se reflectiu no número de porcos produzidos. Por outro lado,
continua a verificar-se o encerramento de pequenas explorações independentes, que
não apresentam dimensão nem viabilidade.
Tabela 2.7 – Evolução da produção nacional de carne de porco entre o período de 2009 e 2013 (Fonte: INE, 2014)
Produção de carne de porco (t)
2009 2010 2011 2012 2013
Produção de carne Total (peso Limpo) 875.396 882.374 878.137 850.284 821.528
De suínos 395.970 407.808 406.814 366.414 384.182
Carne 257.380 265.076 264.430 249.718 238.169
Toucinho 138.590 142.732 142.384 134.464 128.245
2.2.2 Efetivo suíno
Como pode ser observado na tabela 2.8, em 2013 o efetivo total nacional manteve-se
relativamente estável em relação ao ano anterior (redução de 0,5 %). Especificamente
Metodologia de ACV
8
nas regiões autónomas dos Açores e Madeira observou-se o maior decréscimo de
efectivo suíno (81 %). No entanto, estas regiões já representavam uma parte pouco
significativa do efectivo suíno nacional. Em 2013, a produção de suínos continua a
representar uma maior expressão no Alentejo, representando 43 % do efectivo, assim
como no Centro, com 41% do efectivo. No entanto, no último ano verificou-se um
crescimento de 11,7% no número de suínos no Norte (INE, 2014).
Analisando o efectivo total de suínos numa escala temporal maior, verificou-se o
decréscimo de 42.4000 suínos entre 1997 a 2013 (3tre3, 2014). Neste período, o maior
decréscimo ocorreu no efectivo de porcas em reprodução, com um decréscimo
aproximado de 33 % (3tre3, 2014). Embora o número de suínos tenha diminuído
consideravelmente nos últimos 20 anos, com o desaparecimento de 18 % do efectivo
total de suínos, a produção nacional de carne de porco aumentou bastante neste
período (ver subsecção 2.1.1), resultado do aumento de produtividade do sector.
Tabela 2.8 – Evolução do efectivo nacional de suínos entre o período de 2009 e 2013 (Fonte: INE, 2014)
Efetivo nacional suíno (*1000 cabeças)
2009 2010 2011 2012 2013
Portugal 2.325 1.917 1.985 2.024 2.014
Continente 2.257 1.858 1.932 1.977 1.980
Região Autónoma dos Açores 53 42 36 33 30
Região Autónoma da Madeira 15 17 16 14 4
2.2.3 Abates aprovados para consumo
Ao nível do número de cabeças de suíno abatidas para consumo (tabela 2.9), tem-se
verificado um decréscimo progressivo desde 2011, ocorrendo uma redução de 13 %
neste período. Só no último ano foi observada uma redução de 7%. Contudo, quando
comparados os suínos abatidos, em termos de volume, revela-se um decréscimo
ligeiramente menor, de 383.787 toneladas de suíno abatido em 2011, face às 345.673
toneladas resultantes no ano 2013.
Metodologia de ACV
9
Tabela 2.9 - Evolução do número de suínos abatidos para consumo entre o período de 2009 e 2013 (Fonte: INE,
2014)
Suínos abatidos aprovados para consumo (cabeças)
2009 2010 2011 2012 2013
Portugal 5.290.892 5.965.601 5.887.915 5.541.933 5.177.263
Continente 5.834.574 5.879.132 5.798.185 5.462.404 5.110.692
Região Autónoma dos Açores 63.584 66.570 66.106 68.596 65.191
Região Autónoma da Madeira 22.734 19.899 23.624 10.933 1.380
2.2.4 Balanço de aprovisionamento
Analisando a tabela 2.10, que mostra o balanço de aprovisionamento da carne de porco
nos últimos 5 anos, conclui-se que o consumo nacional tem vindo a baixar neste
período analisado. Em 2013 registou-se um consumo per capita anual de 42,8 kg de
carne de porco, que representa uma redução de 11 % face ao ano 2009. Esta evolução
no comportamento dos consumidores nacionais poderá estar associada ao menor
poder de compra dos consumidores, mas também com o aparecimento e crescimento
de substitutos alternativos à carne.
Tabela 2.10 - Evolução da balança de aprovisionamento da carne suína entre o período de 2009 e 2013 (Fonte: INE,
2014)
Balança de Aprovisionamento da Carne Suína (*1000 t)
2009 2010 2011 2012 2013
Produção indígena bruta 318 331 322 315 289
Utilização interna total 508 490 475 455 450
Capitação (kg/hab.ano) 47,8 46,1 44,6 43,3 42,8
Grau de autoaprovisionamento (%) 62,8 67,6 67,8 69,2 64,2
Relativamente ao autoaprovisionamento, tem-se assistido a um aumento progressivo
deste valor entre os anos 2009 e 2012, representando um aumento de 10%. No
entanto, em 2013 registou-se uma redução no grau de autoaprovisionamento (redução
de 7 %) face ao ano anterior, atingindo os 64,2 %. Neste sentido, a restante carne de
porco consumida em Portugal (aproximadamente 36 %) é importada, tendo como
principais países de origem Espanha, França e Alemanha (GPP, 2014). Assim, poderá
concluir-se que a tendência para a redução da dependência de carne de porco
proveniente do exterior tem tendido a reduzir-se (2009-2012), não pelo aumento da
produção, que se tem mantido relativamente estável (ver subsecção 2.1.1), mas pela
redução do consumo de carne de porco ao nível nacional. Ainda assim, no ano 2013
Metodologia de ACV
10
Portugal foi o 5º maior consumidor de carne de porco dos estados membros da UE,
ultrapassado pela Áustria, Alemanha, Espanha e Polónia (Eurostat, 2014).
2.2.5 Balança Comercial
A balança comercial da carne de porco (tabela 2.11) apresentou-se muito deficitária no
período em análise, o qual se traduziu, no ano 2013, no valor de -207.629.000 milhões
de euros. Quer ao nível das importações, quer das exportações, em 2013 verificou-se
um aumento destes valores, face ao ano anterior (aumento de 14 % e 14 %,
respectivamente). No entanto, no mercado internacional, houve dificuldades nas
exportações de carne de porco da UE para a Rússia, devido ao embargo que este país
aplicou a alguns fornecedores Europeus, que tiveram de escoar a sua produção no
interior da EU (INE, 2014).
Tabela 2.11 - Evolução da balança de comercial da carne suína (€) entre o período de 2009 e 2013 (Fonte: INE, 2014)
2.2.6 Caracterização das estruturas e sistemas de produção das explorações
Segundos os dados indicados no último recenseamento agrícola (2009), o efectivo suíno
contabilizou 1 913 mil cabeças, distribuídas em cerca de 50 mil explorações agrícolas.
Cerca de 45% do efectivo nacional concentrava-se em 6% de explorações localizadas no
Ribatejo e Oeste, onde se incluíam as maiores suiniculturas. Contrariamente ao que
acontecia na Beira Litoral, a segunda maior região produtora, onde predominavam as
explorações de pequena dimensão, com 21% do efectivo nacional dispersado por 39%
das unidades produtivas. Entre 1999 e 2009 observou-se uma quebra de 21% do
efectivo suíno, que ocorreu em todas as regiões excepto no Alentejo, a única região que
aumentou o efetivo ligeiramente (+1,6%) na década em análise. Esta tendência
continuou até à actualidade, dado que em 2013, a região do Alentejo foi a que registou
um maior efectivo suíno (43% do efectivo total), seguida da região Centro, com 41 % do
efectivo.
Balança comercial da Carne de porco - Valor (€)
2009 2010 2011 2012 2013
Importação 397.018.764 213.233.763 401.307.053 258.578.000 294.686.000
Exportação 71.362.134 61.167.425 71.120.571 70.422.000 87.057.000
Metodologia de ACV
11
Entre 1999 e 2009 registou-se um decréscimo generalizado do número de explorações
(-62%), que determinou o aumento significativo do número médio de suínos por
exploração, que passou de 18,2 para 38,2 cabeças. De referir que, em 2009, no Ribatejo
e Oeste, a dimensão média do efectivo, passou de 97,6 para 264,0 cabeças, e no
Alentejo, foram registadas 182,9 cabeças por exploração.
Relativamente à postura face ao mercado e tipo de maneio animal existe uma
significativa variabilidade no sector suinícola nacional. Uma parte do sector é baseado
em regime de exploração tradicional e/ou em regime de complementaridade da
exploração agrícola, que assentam em autoconsumo doméstico ou numa actividade
complementar, não especializada, de acréscimo de rendimento à exploração. Porém, o
tipo de sistema de maior representatividade e maior importância no sector, tanto ao
nível estrutural como económico, é o sistema de produção industrial, cuja produção é
especializada e totalmente dirigida para o mercado. Em 2009, ¾ das explorações tinha
apenas 1 ou 2 suínos, mas contabilizavam apenas 3% do efectivo (INE, 2009). Por
oposição, 90% dos suínos concentravam-se em 1% das suiniculturas, altamente
intensivas, com 200 ou mais cabeças (INE,2009).
Na produção de carne de porco em sistemas industriais, predominam as explorações
em ciclo fechado ou completo, porém também existem explorações especializadas em
porcas reprodutoras ou especializadas só no acabamento dos suínos (segmentação de
ciclo). Nos últimos anos, tem-se verificado também o crescimento do número de
explorações em sistemas de produção em regime extensivo, associados à utilização de
raças autóctones.
2.3 Evolução do sector da carne de bovino
O subsector da produção de carne de bovino em Portugal representa 17,0 % do valor da
produção animal, com uma média anual de 462 Meuros no período 2011-2013, o que
constituiu cerca de 7,1% do total nacional de produção agrícola nesse período. Neste
triénio, o sector da carne de bovino registou um decréscimo de 12,5 %.
O subsector da produção de carne de bovino em Portugal representa 17,0 % do valor da
produção animal, com uma média anual de 462 Meuros no período 2011-2013, o que
Metodologia de ACV
12
constituiu cerca de 7,1% do total nacional de produção agrícola nesse período. Neste
triénio, o sector da carne de bovino registou um decréscimo de 12,5 %.
2.3.1 Produção de carne de bovino
Em 2013 a produção de carne de bovino não ultrapassou as 84 mil toneladas, o que
reflete um decréscimo de 9,7% em relação a 2012 (tabela 2.12). Especificamente na
carne de vitelo observou-se uma diminuição ainda mais acentuada, de 11,3% em
relação ao ano anterior. Algumas das razões para este decréscimo estão relacionadas
com a diminuição de nascimentos em 2012, consequência do ano de seca e da falta de
pastagens, como também associadas ao aumento de saída do país animais vivos com
menos de 12 meses (vitelos e vitelões) (INE, 2014).
Tabela 2.12 – Evolução da produção nacional de carne de bovino (Fonte: INE, 2014)
Produção de carne de bovino (t)
2011 2012 2013
De bovinos 96.003 92.988 84.011
Adultos 73.046 68.703 62.479
Vitelos 22.957 24.285 21.532
2.3.2 Efetivo bovino
Na região Norte e Alentejo existe a maior expressão de bovinos, representando, no ano
2013, 22 % e 44 % do efectivo total, respectivamente (tabela 2.13). Em 2013 o efectivo
nacional de bovinos registou um ligeiro decréscimo de 3 % face ao ano anterior. De
destacar que o Algarve foi a única região do país que aumentou o efectivo, passando de
9.000 para 10.000 cabeças.
Tabela 2.13 - Evolução do efectivo nacional de bovinos (Fonte: INE, 2014)
Efetivo bovino (*1000 cabeças)
2012 2013
Portugal 1.498 1.471
Continente 1.220 1.202
Norte 327 320
Centro 188 184
Lisboa 55 53
Alentejo 639 636
Algarve 9 10
Açores 273 265
Madeira 5 4
Metodologia de ACV
13
Analisando a evolução do efectivo bovino por categoria (figura 2.1), verifica-se um
crescimento significativo do efectivo reprodutor aleitante em consequência das
sucessivas reformas da PAC, que associadas a uma situação de mercado favorável,
vêem desde o ano 2000 incentivando fortemente este subsector da produção bovina
(GPP, 2007). Pelo contrário, verifica-se uma tendência negativa no efetivo de vacas
leiteiras. O efetivo de vacas aleitantes representava, no ano de 2010, 65% do total das
685 mil vacas exploradas. Do efectivo de vacas aleitantes, 18 % são de raças autóctones
portuguesas (81 mil vacas adultas), entre as 15 raças existentes Portugal (DGV, 2009).
Por outro lado, ainda relativo à categoria de bovino, regista-se o acréscimo de efetivo
de vitelos, com idade inferior a 1 ano, e a decréscimo dos novilhos com idade
compreendida entre 1 e 2 anos, causada pelo aumento do abate de vitelos não
recriados (carne de vitela e vitelão).
Figura 2.1 – Evolução do efectivo bovino por categoria, por nº de cabeças (Fonte: GPP, 2014).
2.3.3 Abates aprovados para consumo
Pela análise da tabela 2.14 verifica-se que em 2013 foram abatidos e aprovados para
consumo 364.581 bovinos em Portugal, dos quais 36% eram vitelos e os restantes 64%
animais adultos (INE, 2014). Desde 2011 registou-se um decréscimo de 12 %
(414.857cabeças em 2011). Quando comparados os bovinos abatidos, em termos de
volume (tabela 2.15), revela-se um decréscimo muito semelhante (12%) atingindo as
84.011 toneladas de bovino abatido em 2013, face 96.004 às toneladas resultantes no
ano 2011.
Metodologia de ACV
14
Tabela 2.14 - Evolução do nº de cabeças de bovino abatido e aprovadas para consumo (Fonte: INE, 2014)
Cabeças de bovino abatido aprovadas para consumo (cabeças)
2011 2012 2013
Bovinos Total 414.857 408.694 364.581 Vitelos 144.733 151.767 132.932 Novilhos 140.908 129.971 118.493 Bois 2.451 1.883 2.093 Vacas 71.265 73.752 66.013 Novilhas 55.500 51.321 45.050
Tabela 2.15 - Evolução das cabeças de bovino abatidas e aprovadas para consumo, em toneladas (Fonte: INE, 2014)
Cabeças de bovino abatidas aprovadas para consumo (t)
2011 2012 2013
Bovinos Total 96.004 92.988 84.011 Vitelos 22.958 24.285 21.532 Novilhos 41.595 37.782 34.905 Bois 837 640 615 Vacas 18.419 19.235 17.265 Novilhas 12.195 11.046 9.693
2.3.4 Balanço de aprovisionamento
Em Portugal não se produz a quantidade de carne de bovino suficiente de forma a
acompanhar o crescente consumo nacional, pelo que a dependência da oferta externa
é cada vez mais acentuada. Desta forma, e face ao aumento do consumo e diminuição
da produção nos últimos quatro anos, o grau de auto-aprovisionamento tem decrescido
também, tendo atingindo um valor em 2013 de 50,8%, sendo registado um
agravamento de 6,8% em relação ao ano anterior (56,8 % em 2012), o que levou a um
aumento das importações (INE, 2014). Face a estes resultados registados, o saldo da
balança comercial é, no geral, acentuadamente negativo (GPP, 2012).
Tabela 2.16 - Evolução da balança de aprovisionamento da carne bovina (Fonte: INE, 2014)
Balança de Aprovisionamento da Carne Bovina (*1000 t)
2011 2012 2013
Produção indígena bruta (*1000t) 99 100 90
Utilização interna (total) (*1000t) 191 176 177
Capitação (kg/hab.ano) 18,1 16,7 16,8
Grau de autoaprovisionamento (%) 51,8 56,8 50,8
Metodologia de ACV
15
2.3.5 Balança Comercial
A balança comercial da carne de bovino (tabela 2.17) apresentou-se muito deficitária, a
qual se traduziu, no ano 2013, no valor de -359,798 milhões de euros. No período em
análise, registou-se um aumento nas importações e diminuição das exportações. Como
referido na subsecção anterior, o ligeiro decréscimo da produção animal e aumento do
consumo de carne de bovino levou ao aumento das importações ocorridas em 2013.
Tabela 2.17 - Evolução da balança de comercial da carne bovina (€) (Fonte: INE, 2014)
Balança comercial da Carne de Bovino (fresca, refrigerada ou congelada) - Valor (*1000 €)
2012 2013
Importação 350.710 382.701
Exportação 27.558 22.903
2.3.6 Caracterização das estruturas e sistemas de produção das explorações
De acordo com último recenseamento agrícola (2009), existiam em Portugal 305266
explorações agrícolas, sendo que 16% (48843 explorações) possuíam bovinos (INE,
2011). Destas, existiam 8123 explorações com orientação técnico económica para a
produção de leite, 16135 para a produção de carne e 999 mistas (INE, 2011).
Segundo o GPP (2007), a figura 2.2 representa a estrutura produtiva do sector nacional
de carne bovina, sendo esta realizada por duas vias principais. Uma baseia-se em
explorações de vacas aleitantes e outra em explorações de vacas leiteiras. As
explorações de vacas aleitantes destinam-se unicamente à produção de carne,
enviando para abate os animais de refugo, as novilhas e novilhos de substituição que
são preteridos por baixa fertilidade, lesão, ou outros motivos, e os animais jovens ainda
vitelos ou novilhos. Os vitelos nascidos podem seguir diretamente para abate ao
desmame ou ser recriados e engordados. Portanto, fruto da diversidade de sistemas de
produção, existem muitas diferenças nos animais abatidos, nomeadamente ao nível da
raça, idade ou peso.
Metodologia de ACV
16
Figura 2.2 - Estrutura de produção do sector nacional da produção de carne de bovinos (Fonte: GPP, 2007)
Assim, o sector primário de produção de bovinos compreende, em geral, três fases:
cria, recria e engorda. A primeira fase do processo de produção de carne, a cria, é
efetuada em unidades de produção de leite ou carne. A sua actividade foca-se na
produção de vitelos e inclui actividades como o maneio reprodutivo, a gestão de
nascimentos, o aleitamento dos vitelos ou o seu desmame. Nas unidades de produção
de leite os vitelos são retirados das mães prematuramente e enviados para unidades de
recria, onde são alimentados com leite de substituição até cerca dos quatro meses,
enquanto nas unidades de produção de carne, geralmente, o aleitamento é feito na
pastagem, até idades mais tardias (5 ou 6 meses). A recria é uma fase intermédia, onde
os animais se encontram numa fase de crescimento que os prepara para o acabamento
nas engordas. Os animais estão, em geral, alojados em viteleiros individuais ou
colectivos onde são sujeitos a transição alimentar, com adaptação a alimento
concentrado e forrageiro (mais comum para os vitelos de leite). A engorda é a fase final
da produção primária, sendo a sua finalidade promover o crescimento dos animais em
curto espaço de tempo e a baixos custos. Nos sistemas intensivos os animais são
alimentados com alimentos concentrados ricos em energia e alimentos forrageiros. Nos
Metodologia de ACV
17
sistemas extensivos os animais têm acesso a pastagem, podendo ou não ser
suplementados com alimento concentrado ou forrageiro.
2.3.7 Estruturas e sistemas de produção no contexto regional
Tendo por base tipo de produto comercializado identificam-se, no território
continental, duas orientações produtivas dominantes. A Região Norte e Centro Litoral é
orientada para a produção da categoria vitela(o) com base em vacas aleitantes (92% da
produção) e o Interior Centro e Região Sul, orientado para a produção de novilhos (88%
da produção).
Na Região Norte, a generalidade das explorações vende os vitelos para abate à idade de
desmame, que ocorre por volta dos 6 a 8 meses. No litoral Norte e Centro um número
significativo de produtores, no caso dos machos, após o desmame, que ocorre entre os
6/7 meses de idade, efetua um acabamento com duração de 3 a 4 meses, abatendo-os
entre os 10 e 12 meses. As explorações da Região Norte e do Litoral Centro, só recriam
as fêmeas de substituição, sendo as restantes abatidas ao desmame. Nestas regiões, os
partos ocorrem durante todo o ano pese embora se observe uma maior ocorrência de
partos na Primavera. As vacas recolhem todos os dias ao alojamento onde permanece o
vitelo até à idade de desmame. No Inverno, na Região Norte interior de montanha, é
comum as vacas permanecerem estabuladas por dois a três meses (Janeiro, Fevereiro e
Março), sendo que no período restante do ano, saem a pastorear todos os dias.
No interior Centro e Sul do país os desmames ocorrem entre os 6 e 7 meses de idade,
os machos, fazem recria a que se segue um período de acabamento sendo abatidos
entre os 16 e 24 meses. A generalidade das fêmeas são recriadas para reprodução.
Dependendo da época de desmame e do contexto da exploração a recria pode realizar-
se em pastoreio ou em feedlot. Nestas regiões, as vacas permanecem na pastagem
durante o ano inteiro, sendo pouco usual que recolham a alojamento. Os partos
ocorrem na pastagem, distribuídos pelo ano inteiro com maior número de ocorrências
no início do Outono ou no início na Primavera. Desta forma, os vitelos desmamados no
início da Primavera, caso a exploração disponha de pastagem suficiente, é comum
efetuarem o período de recria em pastoreio. Nos restantes casos a recria e acabamento
ocorre em feedlot.
Metodologia de ACV
18
3 Metodologia de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV)
A Avaliação de Ciclo de vida (ACV) é reconhecida como um dos métodos desenvolvidos
mais importantes para avaliar o impacte ambiental de produtos, podendo ser usada
como ferramenta de suporte na gestão ambiental. A ISO 14040:2006 define ACV como
uma “compilação e avaliação de entradas e saídas e potenciais impactes ambientais de
um sistema de produto ao longo do seu ciclo de vida, isto é, a ACV fornece modelos de
processos quantitativos, que permitem avaliar processos produtivos e analisar opções
para inovação, bem como melhorar a compreensão de sistemas complexos. Esta
ferramenta permite identificar processos e áreas onde alterações de processo
resultantes de investigação e desenvolvimento podem contribuir significativamente
para a redução dos impactes ambientais.
As fases de desenvolvimento metodológico de uma ACV (ISO 14040:2006), encontram-
se representadas na figura 3.1, seguida de uma descrição mais pormenorizada de cada
uma destas fases.
Figura 3.1 - Fases de desenvolvimento metodológico de uma avaliação de ciclo de vida, segundo
as normas ISO (ISO, 2006).
Um estudo de ACV inicia-se com uma descrição explícita do objetivo e do âmbito do
estudo. Quanto ao objetivo, este deve indicar claramente a aplicação e as razões para
desenvolver o estudo, o público a que é dirigido, e se os resultados irão ser utilizados
para fins comparativos (ISO 14040:2006). Em relação ao âmbito devem ser definidos,
fundamentalmente:
Metodologia de ACV
19
A unidade funcional que é uma unidade quantitativa que corresponde ao fluxo
de referência pelo qual todos os fluxos de entrada e saída do inventário de ciclo
de vida estão relacionados.
A função do sistema em estudo, que define as suas características de
funcionamento. De realçar que um sistema pode ter diferentes funções e por
essa razão nos estudos comparativos de ACV é utilizado o conceito de “funcional
equivalente”, definido como uma representação das características técnicas e
funcionais do produto. Por exemplo, num estudo comparativo de produtos
alimentares, nomeadamente carne e peixe, poderia ser considerado que a
principal função destes alimentos é o fornecimento de proteínas, e portanto
poder-se-iam comparar os resultados utilizando o teor proteico dos alimentos
como unidade funcional, por exemplo, “kg de proteínas ingeríveis”.
O sistema, que incluí o conjunto de processos unitários e subsistemas
considerados no estudo, bem como os fluxos de matéria e energia que
interligam os processos, permitindo a produção do produto ou serviço que se
pretende estudar.
As fronteiras do sistema, que delimitam os processos unitários que são incluídos
na análise. É necessário estabelecer as fronteiras do sistema em consonância
com os objectivos do estudo, uma vez que se torna desnecessário incluir
processos que não irão variar significativamente as conclusões do estudo. Desta
forma, são importantes a consideração de resultados preliminares e/ou
resultados de estudos semelhantes quando da elaboração do estudo. Neste
contexto podem também ser adotadas diferentes abordagens. Com efeito, um
estudo clássico de ACV inclui todo o ciclo de vida do produto ou serviço, ou seja,
dentro das fronteiras do sistema estão incluídos todos os processos desde a
exploração dos recursos até à gestão dos resíduos. Neste caso o estudo é
designado como estudo do berço-até-à-cova (gradle-to-grave). No entanto, por
vezes apenas uma parte do ciclo de vida do produto ou serviço é de interesse,
normalmente incluindo o ciclo de vida desde a exploração dos recursos até ao
final do processo de produção, isto é, não incluindo as fases de distribuição,
utilização e deposição final. Nesta situação o estudo é denominado de estudo do
berço-até-ao-portão (gradle-to-gate).
Metodologia de ACV
20
A alocação é o método usado para distribuir as cargas ambientais de um
processo quando vários produtos ou funções partilham esse mesmo processo. A
alocação pode ser baseada em vários critérios (por exemplo, mássico,
económico e energético), devendo analisar-se qual o mais adequado para o
processo em questão. Por exemplo a alocação económica é baseada no valor
económico dos produtos produzidos pelo processo em análise, reflectido no seu
preço de primeira venda. Este critério é usualmente usado em relação a
produtos alimentares.
A metodologia aplicada e as categorias de impactes avaliadas no estudo. Cada
método difere nas categorias de impacte que considera, nas metodologias de
cálculo, bem como nos fatores de emissão associados.
Noutra fase distinta, no inventário de ciclo de vida (ICV), é incluída a obtenção de dados
e procedimentos de cálculo para quantificar as entradas e saídas relevantes em cada
um dos processos unitários constituintes do sistema em estudo. Assim, é realizado um
balanço a todos os fluxos elementares que saem e entram no sistema ao longo de todo
o ciclo de vida do produto convertendo-os na unidade funcional seleccionada. Os fluxos
contabilizados podem ser fluxos materiais (por exemplo recursos naturais, matérias-
primas e produtos), fluxos energéticos (por exemplo electricidade e combustíveis) ou
emissões para a atmosfera, água e solo.
Após o desenvolvimento do inventário, segue-se a avaliação de inventário de ciclo de
vida (AICV), que visa compreender e avaliar a magnitude e a importância dos impactos
ambientais potenciais de um sistema de produto ao longo do seu ciclo de (ISO
14040:2006). Nesta fase, os resultados do ICV são agrupados e avaliados de acordo com
as categorias de impacte ambiental seleccionadas na fase anterior. São fases
obrigatórias da AICV a classificação e a caracterização:
Na classificação os dados de inventário são imputados a categorias de impacte
específicas (por exemplo, alterações climáticas e acidificação terrestre),
seguindo o método previamente seleccionado (por exemplo, ReCiPe ou CML).
Na fase de caracterização, procede-se a uma avaliação dos fluxos contabilizados,
segundo a sua relevância sob o ambiente. Os dados de inventários já agrupados
por categorias de impacte ambiental são convertidos nas unidades dos
Metodologia de ACV
21
indicadores (por exemplo kg CO2equivalentes) de cada categoria de impacte
ambiental, pela utilização de fatores de caracterização definidos pelo método
selecionado. O resultado da caracterização descreve o perfil ambiental do
sistema, composto pelo conjunto de indicadores correspondentes a cada
categoria de impacte ambiental considerada.
Opcionalmente, após à caracterização pode proceder-se à normalização e ponderação.
A fase de interpretação é um processo interactivo que deve ser executado durante toda
a avaliação, na qual devem ser incluídos, entre outros, a identificação de questões
significativas com base nos resultados, a avaliação de integridade, a verificação de
sensibilidade, assim como limitações, conclusões e recomendações.
Entre as metodologias de impacte mais utilizadas em ACV, destacam-se as
metodologias designadas de CML 2001 (Guinée et al., 2001), Ecoindicator (Goedkoop e
Spriensma, 2001) ou ReCiPe 2008 (Goedkoop et al., 2009).
Para facilitar a aplicação da ACV têm sido desenvolvidos nas últimas décadas programas
informáticos que ajudam o analista a fazer o inventário do ciclo de vida, calcular os
resultados da avaliação de impactes e interpretar os resultados. As ferramentas mais
conhecidas são o GaBi (PE International, Alemanha) e o SimaPro (Pré-Consultants,
Países Baixos), ambos softwares de caracter geral, que podem ser utilizadas para avaliar
qualquer produto.
ACV da carne de porco
22
4 ACV do frango
4.1 Definição do objectivo e âmbito
4.1.1 Objetivo
O presente estudo visa avaliar os impactes ambientais potenciais associados à produção
de carne de frango em Portugal.
4.1.2 Unidade Funcional
Para desenvolver o processo de ACV foi adotada a unidade funcional de 1 frango (1,2
kg) inteiro e embalado, à saída do matadouro.
4.1.3 Descrição do sistema de produto e fronteiras do sistema
No presente estudo, as fronteiras do sistema de produto foram consideradas numa
perspetiva do berço-à-porta do matadouro (“cradle-to-gate”). Na figura 4.1 é
apresentado o digrama representativo da cadeia produtiva de frango e das fronteiras
do sistema sob análise. O sistema é dividido em 3 subsistemas principais: produção de
alimentos concentrado (SC) na fábrica; produção de frango de aviário (SFA) e abate do
frango e embalamento (SM), no matadouro.
Figura 4.1 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos associados ao ciclo de vida da carne de frango.
ACV da carne de porco
23
Subsistema produção de alimentos concentrados (SC): Este subsistema envolve todas as
atividades relacionadas com a produção da alimentação dos frangos. A produção de
alimentos concentrados envolve a produção de diferentes matérias-primas
(principalmente cereais: milho, trigo, bagaço e óleo de soja) que são armazenados em
diferentes silos. Primeiro as matérias-primas são sujeitas ao processo de moagem onde
se verifica uma redução do seu tamanho, seguindo-se a sua dosagem, pesagem e
mistura das diferentes matérias-primas. Em seguida, o produto é granulado utilizando o
vapor produzido nas caldeiras e é armazenado em silos ou sacos a granel para ser
entregue à porta do aviário. Os fungicidas são também necessários para manter as
condições de desinfecção, sendo a sua produção também incluída dentro das fronteiras
do sistema. Contudo, outras matérias-primas, tais como concentrado de proteínas e
fosfato monocálcico, foram excluídas do sistema de produto por falta de informação.
Na produção de alimentos, é consumida uma grande quantidade de água da rede
pública para actividades de limpeza e de produção de vapor. As águas residuais
produzidas são tratadas numa ETAR e o seu tratamento foi incluído como parte do
processo de produção de alimentação. Na ETAR as águas residuais são submetidas a um
pré-tratamento, homogeneização e decantação. É importante ter em atenção que as
águas geradas na produção de vapor podem conter resíduos de fuelóleo e que por essa
razão devem passar por uma dupla decantação antes de serem enviadas para a ETAR.
Subsistema produção de frango de aviário (SFA): este subsistema engloba todas as
atividades desenvolvidas na exploração avícola (aviário) relacionadas com a produção
animal. O processo inicia-se na recepção dos pintos do dia à porta do aviário. Depois
são sujeitos a um período de 34 dias de engorda, sendo alimentados durante esse
período com um rácio de 85 g de comida dia-1 frango-1. Os frangos são alojados em
camas de aves compostas normalmente por uma mistura de serrim, cascas e aparas de
madeira. A produção destes materiais não foi considerada dentro das fronteiras do
sistema, uma vez que são resíduos de outros processos industriais. Durante o período
de crescimento são administrados vacinas e antibióticos. A produção e uso destes
produtos farmacêuticos foram excluídos da avaliação por falta de informação.
ACV da carne de porco
24
As actividades de limpeza no aviário envolvem não só água mas também químicos. A
produção destes agentes de limpeza (detergentes e desinfectantes) não foi considerada
dentro da fronteira do sistema em concordância com outros estudos (Castanheira et al.,
2010; Hospido et al., 2003) que afirmam que as cargas ambientais derivadas da
produção destas substâncias, não representam uma percentagem significativa do perfil
ambiental global de todo o sistema. As águas residuais geradas pelas actividades de
limpeza e pelos usos relacionados com a exploração são tratadas numa pequena ETAR,
localizada na exploração avícola.
Subsistema Abate do frango e embalamento (SM): Este subsistema considera todo o
processo que decorre no matadouro. Este inicia-se pela receção dos frangos para abate,
seguida do abate dos frangos com choque elétrico, escalda e remoção das penas e
vísceras. Depois os frangos limpos são enviados para um túnel de arrefecimento e
classificados por peso, e de seguida embalados. A produção dos materiais de
embalagem e a sua distribuição no matadouro foram consideradas dentro das
fronteiras do sistema.
Os resíduos orgânicos deste subsistema como penas, cabeças, pés e vísceras são
enviados para um tanque com um separador de líquidos e sólidos. Os resíduos líquidos
com alto teor de matéria orgânica são enviados para a ETAR, enquanto os resíduos
sólidos ficam armazenados. O destino da maioria destes resíduos sólidos é a produção
de alimentos para animais. Estas atividades de tratamento dos subprodutos resultantes
do matadouro foram excluídas das fronteiras do sistema.
No matadouro é utilizada uma grande de água da rede pública para diferentes
actividades (limpeza e produção). Mais uma vez a produção dos agentes de limpeza
utilizados foi considerada fora das fronteiras do sistema, por falta de dados. As águas
residuais produzidas são tratadas na ETAR do matadouro.
É importante mencionar que no desenvolvimento deste estudo não foi incluída a
produção/manutenção de bens de capital, tais como veículos, maquinaria,
equipamentos, instalações, etc.
ACV da carne de porco
25
4.1.4 Alocação
Em estudos de ACV de processos multifuncionais é muitas vezes necessário recorrer à
alocação, sendo que a seleção do critério usado poderá ter fortes efeitos nos
resultados. Neste estudo, não foi necessário proceder a alocação. No aviário (SFA) o
único produto é o frango industrial. Os resíduos resultantes das camas e estrume não
produzem nenhuma receita para os produtores e a sua eliminação tem de ser paga.
Em relação ao matadouro (SM), o principal produto é o frango industrial embalado,
pronto para consumo. Os resíduos orgânicos produzidos no matadouro são geralmente
processados para a produção de alimentos para animais. Contudo, em Portugal este
tipo de resíduos não tem valor comercial apesar da sua utilização como matéria-prima
de alimentação animal.
4.1.5 Metodologia de avaliação de impactes
Entre as etapas definidas na fase de análise de inventário de ciclo de vida (AICV) da
metodologia de ACV, apenas a etapa de classificação e caracterização foram realizadas
neste estudo. As etapas de normalização e ponderação não foram efectuadas, dado que
estas são opcionais e não forneceriam informação robusta adicional para os objetivos
estabelecidos neste estudo. A quantificação dos impactes ambientais foi obtida
segundo os factores de caracterização admitidos na metodologia de avaliação de
impactes midpoint ReCiPe 2008 (Goedkopp et al., 2009), sendo seleccionadas as
seguintes categorias de impacte ambiental: alterações climáticas (AC), eutrofização de
água doce (EAD), eutrofização marinha (EM) e acidificação terrestre (AT). O software
GaBi 6,0 foi utilizado para a implementação computacional dos inventários (PE
International, 2014).
4.2 Análise de Inventário de Ciclo de Vida
Em estudos de ACV é importante considerar dados reais e validados que permitam a
obtenção de resultados ambientais representativos. Neste estudo, os dados de
inventários dos subsistemas considerados (SC, SFA e SM) são dados primários, recolhidos
através de inquéritos e entrevistas a uma fábrica de concentrados, exploração avícola e
matadouro, representativos da produção de carne de frango em Portugal. Todos os
dados primários obtidos dizem respeito ao ano 2010. Estes dados primários foram
ACV da carne de porco
26
completados com dados secundários obtidos das bases de dados ecoinvent (Althlaus et
al., 2009) e GaBi (PE International, 2014). As tabelas 4.1, 4.2 e 4.3 apresentam
detalhadamente a quantificação dos dados de inventário calculados em função da
unidade funcional (1 frango embalado – 1,2 kg), para os subsistemas SC, SFA e SM,
respetivamente.
Tabela 4.1 – Inventário de ciclo de vida do subsistema alimentos concentrados (SC), expresso pela UF.
Fluxo Unidade Quantidade
Entradas Matérias-primas Bagaço de soja kg 1,04 Trigo kg 0,68 Milho kg 0,68 Óleo de soja kg 0,15 Fungicidas g 0,19 Outros kg 0,33 Energia Eletricidade da rede nacional KWh 0,18 Fuelóleo g 14,20 Água da rede kg 0,54 Água de poço kg 0,04 Saídas Produto Alimento concentrado frangos kg 2,90 Resíduos sólidos Materiais impróprios para consumo ou processamento g 5,50 Óleos lubrificantes usados mg 38 Embalagens de cartão g 4,90 Embalagens de plástico mg 21 Embalagens de madeira g 4,90 Embalagens contendo resíduos de substâncias perigosas mg 21 Metais ferrosos g 0,49 Vidro mg 49 Lâmpadas fluorescentes mg 2,10 Emissões para o ar CO2 kg 0,044 CH4 mg 1,712 N2O mg 0,342 NOx g 0,293 CO g 0,038 SOx g 0,027 NMVOC g 0,014 Emissões para a água CBO g 0,012 CQO g 0,026
No SC (tabela 4.1) os dados obtidos por inquerito foram os consumos e matérias primas,
fungicidas, água e energia, assim como a produção dos diversos tipos de alimentos
concentrados, de resíduos e efluentes. Os dados de segundo plano, tais como a
ACV da carne de porco
27
produção dos ingredientes dos concentrados, fungicidas, de energia eléctrica (mix
energético de Portugal) e de combustível foram obtidos através das bases de dados
ecoinvent (Althaus, et al. 2009) e Gabi (PE International, 2014). As emissões resultantes
da queima do combustível usado na produção de calor foram calculadas com base nas
fórmulas de cálculo e fatores de emissão do “IPCC Guidelines for National Greenhouse
Gas Inventories” (IPCC, 2006) e do “EMEP/EEA air pollutant emission inventory
guidebook” (EMEP/EEA, 2013).
Tabela 4.2 - Inventário de ciclo de vida do subsistema produção de frango de aviário (SFA), expresso pela UF.
Fluxos de entrada Valor Unidade Fluxos de saída Valor Unidade
Materiais Produto Alimentos concentrados 2,90 kg Frango industrial 1,70 kg Água 3,51 kg Resíduos sólidos Energia RSU 1,10 g Eletricidade 0,11 kWh Metais 4,50 g Biomassa (lascas de madeira) 2,25.10-3 m3 Subprodutos animal 5,25 g Emissões para o ar NH3 21,5 g CO2 fóssil 92,6 mg CH4 4,81 g N2O 0,6 g SO2 0,38 g CO 15,7 g NOX 1,57 g Emissões para a água NO
-3 5,31 g
PO-4 0,12 g
Para o SFA (tabela 4.2) a maioria da informação é de igual modo obtida por inventário,
designadamente o consumo de alimentos concentrados, água e energia, e a produção
de animais, de resíduos sólidos e de camas. As emissões resultantes da queima de
combustível para produção de calor foram calculadas com base fórmulas de cálculo e
fatores de emissão do “IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories” (IPCC,
2006) e do “EMEP/EEA air pollutant emission inventory guidebook” (EMEP/EEA, 2013).
Ainda associado a este subsistema é considerado o maneio e aplicação do estrume
(camas) nos solos agrícolas, que produz de forma direta emissões atmosféricas, que
foram calculadas considerando que 1% total do azoto aplicado no solos é libertado na
forma de N2O (IPCC, 2006). As emissões de NH3 resultantes da volatilização do azoto
foram obtidas pela multiplicação da quantidade de azoto aplicada no solo com a taxa de
volatiliazação correspondente (0,2 kg NH3 _ N por kg N contido no estrume) (IPCC,
ACV da carne de porco
28
2006). As emissões de nitrato (NO3-) e fosfato (PO4
-3) para a água resultantes da
aplicação de estrume nos solos foram calculadas considerando a taxa de 0,3 kg NO3- _N
por kg N contido no estrume (IPCC, 2006) e a taxa de 0.01 kg PO4-3 _P por kg P aplicado
(Rossier, 1998).
Tabela 4.3 - Inventário de ciclo de vida do subsistema abate e embalamento (SM), expresso pela UF.
Fluxos de entrada Valor Unidade Fluxos de saída Valor Unidade
Materiais Produtos
Frango industrial 1,70 kg Frango industrial embalado 1,20 kg
Mat. de embalagem (EPS) 10 g Resíduos sólidos
Mat. de embalagem (PEBD) 6,72 g Frango impróprio para consumo
3,00 g
Água 8,4 kg Resíduos de solventes 10 mg
Energia Óleos 0,44 g
Eletricidade 0,13 KWh Embalagem de plástico 0,81 g
Fuelóleo 0,017
kg Sucata 0,21 g
Lamas 0,18 g
Embalagem de cartão 0,8 g
Óleos e gorduras 48 mg
Subproduto animal 0,50 kg
Emissões para a atmosfera
CO2 55,1 g
CH4 7,51 mg
N2O 0,45 mg
SO2 105 mg
CO 30,1 mg
NOX 75,2 mg
Emissões para a água
P 12,3 mg
CQO 0,71 g
Os dados de inventário do SM foram fornecidos por um matadouro, à exceção das
quantidades de materiais necessários para o embalamento, obtidas de Bengtsson e
Seddon (2013). Os processos de produção de embalagens assim como electricidade e
combustíveis foram obtidos nas bases de dados Ecoinvent (Althlaus et al., 2009) e GaBi
(PE International, 2014). As emissões resultantes da queima de combustível para
produção de calor foram calculadas com base fórmulas de cálculo e fatores de emissão
do “IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories” (IPCC, 2006) e do
“EMEP/EEA air pollutant emission inventory guidebook” (EMEP/EEA, 2013).
ACV da carne de porco
29
4.3 Avaliação dos impactes ambientais e interpretação dos resultados
A tabela 4.4 apresenta o desempenho ambiental da produção de frango para as
categorias de impacte seleccionadas, expressa pela unidade funcional.
Tabela 4.4 - Resultados da avaliação de impactes associados ao sistema produção de frango de, expressos pela UF.
Categoria de impacte ambiental Unidade Valor
Alterações Climáticas (AC) kg CO2 Equivalente 2,481
Eutrofização de água doce (EAD) g P Equivalente 0,955
Eutrofização marinha (EM) kg N Equivalente 0,036
Acidificação Terrestre (AT) kg SO2 Equivalente 0,018
Pela análise da figura 4.2, verifica-se que a produção de alimentos concentrados (SC) é
o subsistema dominante em todas as categorias de impacte avaliadas, cuja contribuição
relativa varia entre 78,5% e 99,7%. Esta constatação, de que a produção da alimentação
animal é o processo que mais contribui para os impactos ambientais associados às
actividades relacionadas com a produção animal é referenciada em vários estudos
(Bengtsson e Seddon, 2013; Castanheira et al., 2010; Hospido et al., 2003, Pelletier,
2008, Williams et al., 2006).
Os restantes subsistemas (SFA e SM) tem uma importância claramente menor, contudo,
para as categorias de impacte AC e AT, estes subsistemas tem alguma relevância. A
produção de frango de aviário (SFA) representa uma contribuição de 14,5 e 6,1% e o
abate e embalamento do frango (SM) uma contribuição de 7,0% e 3,5%, respetivamente
para as referidas categorias. Nas restantes categorias estes subsistemas não têm uma
contribuição relevante.
Figura 4.2 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de frango.
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
Alterações climáticas Eutrofização de águadoce
Eutrofização marinha Acidificação terrestre
Produção de alimentos concentrados (SC) Produção de frango de aviário (SFA)
Abate do frango e embalamento (SM)
ACV da carne de porco
30
4.3.1 Produção de alimentos concentrados
Analisando a produção de alimentos concentrados (SC) em maior detalhe (figura 4.3),
pode constatar-se que a produção dos produtos agrícolas constituintes dos
concentrados (óleo de soja, milho, trigo e bagaço de soja) são os processos com maior
contribuição para os impactes ambientais analisados, especialmente nas categorias de
eutrofização de água doce e marinha, onde a contribuição dos produtos agrícolas é
muito próxima da totalidade do impacte (99,77% e 99,9%, respetivamente). Esta
elevada contribuição é associada à utilização de fertilizantes nas culturas agrícolas
destes produtos. Especificamente o óleo de soja é o componente da alimentação com
maior contribuição em todas as categorias.
Figura 4.3 - Contribuição relativa (em %) dos processos/actividades envolvidos no subsistema produção de alimentos
compostos (SC).
4.3.2 Produção animal (aviário)
Pela análise mais detalhada do SFA, apresentada na figura 4.4, verifica-se que emissões
do aviário, que envolvem principalmente as emissões de NH3, N2O e CH4,
principalmente resultantes da gestão das camas dos animais (maneio, armazenamento
e aplicação nos solos) são as emissões que mais contribuem para o impacte total. Estas
emissões são dominantes nas categorias de impacte AC, EM e AT, contribuindo com
83,3%, 82,0% e 79,7%, respetivamente. Na categoria EAD o processo dominante é a
produção de água, que contribui com 95,8%. A produção de eletricidade que é
consumida no aviário também mostrou ter uma contribuição importante para as
categorias AC e AT, representado 11,4% e 17,8% do impacte, respetivamente. Os
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
Alterações climáticas Eutrofização de águadoce
Eutrofização marinha Acidificação terrestre
Bagaço de soja Trigo Milho Óleo de sojaFungicidas Eletricidade Fuelóleo ÁguaEmissões da fábrica Transportes
ACV da carne de porco
31
restantes processos incluídos (produção de gasóleo e transportes) mostraram não ser
importantes, dados que a sua contribuição não excede os 3% do impacte total em
nenhumas das categorias analisadas.
Figura 4.4 - Contribuição relativa (em %) dos processos/actividades envolvidos no subsistema produção de frango de
aviário (SFA).
4.3.3 Abate dos animais (matadouro)
A contribuição do SM não é muito relevante comparando com o impacte total resultante
da produção de frango inteiro e embalado. Contudo, analisando este subsistema com
maior pormenor (figura 4.5), verifica-se que o consumo de eletricidade, a produção de
materiais de embalagem e as emissões diretas do matadouro são os processos que mais
contribuem para os impactes decorrentes deste subsistema.
As emissões geradas diretamente no matadouro, nomeadamente as emissões de P e
CQO presentes no efluente gerado (emitido para a água), têm uma importante
contribuição para a EM (82,5%). Por outro lado, os poluentes emitidos para a atmosfera
no matadouro, também representam uma importante contribuição, nomeadamente
para as categorias AC (32,0%) e AT (23,0%). Estas emissões resultam da combustão de
fuelóleo para a produção do calor necessário ao processo, designadamente na escada
dos animais após o abate.
O consumo electricidade no matadouro é elevado, sendo a maquinaria de operação,
refrigeração, iluminação, ventilação e operação ETAR, as atividades mais consumidoras.
À exceção da categoria EAD, a produção de electricidade é um hotspot em todas as
categorias analisadas, contribuindo entre 28,0% (nas AC) e 34,7% (na AT).
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
Alterações climáticas Eutrofização de águadoce
Eutrofização marinha Acidificação terrestre
Eletricidade Gasóleo Água Emissões do aviário Transportes
ACV da carne de porco
32
A produção dos materiais de embalagem (EPS e PEBD) apresenta uma contribuição que
varia entre 4,9% (na EAD) e 29,4% (nas AC), dependendo da categoria de impacte.
Figura 4.5 - Contribuição relativa (em %) dos processos/actividades envolvidos no subsistema abate e embalamento
do frango (SM).
4.4 Conclusões
O presente estudo é focado na quantificação dos impactos ambientais associados à
produção de frango de aviário em Portugal, a partir de uma perspectiva do berço-ao-
portão do matadouro, através da metodologia de ACV. Os resultados obtidos neste
estudo permitiram não só obter a estimativa do perfil ambiental por frango embalado
(1,2 kg de peso de carcaça), como também identificar os hotspots ambientais da cadeia
de produção. A problemática da gestão dos chorumes também foi abordada neste
estudo.
Os processos de produção dos alimentos concentrados fornecidos aos animais foram
identificados como os principais contribuintes para o impacte ambiental da carne de
frango. Contudo, na exploração avícola, as emissões diretas da exploração,
essencialmente associadas à gestão das camas dos animais também foram identificadas
como hotspot deste sistema. No que diz respeito ao processo de abate e embalamento
do frango, cuja contribuição é expressivamente menor, a produção de materiais de
embalagem e de energia são os processos que mais contribuem para o desempenho do
perfil ambiental da carne de frango.
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
Alterações climáticas Eutrofização de águadoce
Eutrofização marinha Acidificação terrestre
Material de embalagem (EPS) Material de embalagem (LPDE) EletricidadeFuelóleo Água Emissões do matadouroTransportes
ACV da carne de porco
33
Numerosos estudos relatam que o estabelecimento de mecanismos adequados para
reduzir as emissões de NH3 para a atmosfera, a utilização das camas dos frangos como
fertilizante orgânico e alterações na composição da alimentação das aves poderão
ajudar a reduzir os impactos ambientais da produção de frango. Deste modo, devem ser
realizadas mais pesquisas que abordem e testem estas potenciais melhorias.
ACV da carne de porco
34
5 ACV da carne de porco
5.1 Definição de objectivo e âmbito
5.1.1 Objetivo
O presente estudo visa avaliar os impactes ambientais potenciais associados à produção
de carne de porco em Portugal.
5.1.2 Unidade Funcional
Para desenvolver o processo de ACV foi adotada a UF de 1 kg de carne de porco (peso
de carcaça) à saída do matadouro. Esta unidade funcional permite a comparação dos
resultados com outros produtos cárnicos ou outros sistemas de produção.
5.1.3 Descrição do sistema de produto e fronteiras do sistema
No presente estudo, as fronteiras do sistema de produto foram consideradas numa
perspetiva do berço-ao-portão (“cradle-to-gate”). Assim, todos os processos e
atividades envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de porco foram
considerados até ao abate dos suínos e processamento da carne na forma de carcaça
inteira de porco. Desta forma, as restastes atividades e processos, tais como
embalamento da carne, armazenamento, distribuição, venda a retalho, consumo e
destino final foram excluídas das fronteiras do sistema. O digrama representativo dos
subsistemas analisados e fronteiras do estudo encontra-se apresentado na figura 5.1.
As elevadas taxas de consumo de carne de porco têm levado a alterações nos sistemas
de produção, passando de sistemas tradicionais a sistemas intensivos industriais. Desta
forma, tem sido conseguida uma elevada eficiência na produção, no entanto está
geralmente associada a elevadas cargas ambientais. Neste sentido, este estudo foi
baseado na produção de suínos em sistema intensivo.
A cadeia produtiva da produção de carne de porco foi dividida em três subsistemas
principais: produção de alimentos compostos (SC); produção animal (SS) e abate de
suínos - matadouro (SM). A produção animal geralmente envolve 4 fases ou estágios: a
fase de cobrição e gestação, a fase de maternidade (que inclui o parto e a lactação), a
fase de cria e crescimento, e a fase de recria e engorda.
ACV da carne de porco
35
Figura 5.1 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos associados ao ciclo de vida da carne de porco.
Subsistema produção de alimentos compostos (SC): Este subsistema envolve todas as
atividades relacionadas com a produção da alimentação dos suínos. Neste estudo, a
alimentação é importada de indústrias de alimentação animal, localizadas em Portugal a
uma distância aproximada de 400 km da exploração suína analisada. Dependendo da
fase de vida ou fisiológica dos animais são ministradas diferentes dietas apropriadas à
fase em que se encontram. Os alimentos concentrados são compostos por variados
ingredientes, principalmente cereais, tais como milho, cevada, trigo e soja, mas
também outros componentes, nomeadamente gordura animal e premix, que inclui
minerais, vitaminas e aminoácidos. A tabela 6 apresenta a composição da alimentação
suína (em %) para as diferentes fases de vida dos suínos, designadamente para as
porcas reprodutoras em gestação e lactação, varrascos adultos, suínos em desmame e
suínos em engorda.
ACV da carne de porco
36
Tabela 5.1 – Composição dos alimentos concentrados usados para as diferentes fases de vida (porcas reprodutoras, varrascos, suínos desmamados e em engorda).
Composição dos Alimentos Concentrados (%)
Porcas reprodutoras
(gestação)
Porcas reprodutoras
(lactação)
Varrascos adultos
Suínos (desmame)
Suínos (engorda)
Milho 43.1 28.2 28.2 27.0 50.0
Cevada 5.0 30.1 30.0 21.5 3.0
Trigo 15.0 6.4 6.4 17.5 17.7
Óleo de soja 0.0 0.0 0.0 1.5 0.0
Gordura animal 0.7 0.0 0.0 0.0 0.9
Sêmea de trigo 13.6 7.0 7.0 0.0 0.0
Soja 5.0 13.5 13.4 20.5 19.4
Girassol 7.5 4.0 4.0 0.0 2.2
Colza 5.5 3.0 3.0 0.0 3.0
Melaço de cana de Açucar
1.0 1.0 1.0 0.0 1.0
Outrosa
0.0 0.0 0.0 7.5 0.0
Premixb
3.7 6.9 7.1 4.5 2.9
a
farinha de peixe e bolacha; b
Premix: uma mistura de minerais, vitaminas e aminoácidos.
A produção da maioria dos componentes da alimentação concentrada foi considerada
dentro das fronteiras do sistema, excepto a farinha de peixe e bolacha e o premix, pela
falta de dados. Neste sentido, foram consideradas as atividades agrícolas para a sua
produção, incluindo a produção de gasóleo usado pela maquinaria agrícola e as
emissões da combustão associadas, a produção e aplicação de agro-químicos
(fertilizantes, pesticidas, herbicidas, etc.), as atividades de transporte e outros recursos.
Subsistema produção de suínos (SS): este subsistema engloba todas as atividades
desenvolvidas na exploração suína, considerando todos os suínos em diferentes fases
de vida (as porcas reprodutoras, os varrascos adultos, os suínos desmamados e os
suínos em engorda), incluindo a gestão e armazenamento do chorume e a sua aplicação
no solo agrícola. As principais características da exploração sob avaliação são
apresentadas na tabela 7.
ACV da carne de porco
37
Tabela 5.2 – Principais parâmetros característicos da exploração
Parâmetro Valor Unidade
Peso médio varrascos 250 kg
Peso médio porcas reprodutoras 200 kg
Taxa de substituição anual porcas reprodutoras
35,8 %
Nº de leitões por ninhada 13 suínos
Nº de leitões nascidos vivos por ninhada 12,4 suínos
Nº de ninhadas anuais por porca reprodutora 2 ninhadas
Intervalo médio parto - desmame 28,4 dias
Taxa de mortalidade dos leitões 10 %
Idade média à saída da criação 1,5 meses
Peso médio à saída para abate 105 kg
Idade média à saída para abate 180 days
Rendimento da carcaça 78 %
Os animais são alojados em instalações fechadas e separados em áreas específicas, com
condições apropriadas dependendo da fase de vida. Na fase de cobrição e gestação, as
porcas reprodutoras são inseminadas artificialmente e permanecem alojadas numa
área apropriada durante o período de gestação. As explorações estão atualmente a
passar por um processo de transformação, em que, após o diagnóstico de gravidez as
porcas são alojadas em grupo. Antes da data prevista de parto, as porcas são
transferidas para local próprio (área de maternidade), onde permanecem até ao
desmame dos leitões. Nesta área existem várias salas com jaulas de parto, cada jaula
para cada porca e a sua ninhada. Em média nascem cerca de 13 leitões em cada
ninhada, dos quais aproximadamente 12,4 nascem vivos e 11,7 sobrevivem até ao
desmame. Os leitões são desmamados cerca de 28 dias após o nascimento, altura em
que as porcas reprodutoras regressam para a área de cobrição e gestação e recomeçam
o ciclo de novo. Os leitões desmamados são criados numa área separada, em sistema
de baterias, onde são mantidos em pequenos grupos de 21 leitões por compartimento.
Por fim, após 45 dias de vida os suínos são movidos para o último alojamento (área de
recria/engorda) onde são engordados até atingirem um peso óptimo para envio para
abate. Os suínos engordados são abatidos com uma idade média de 180 dias e um peso
aproximado de 105 kg.
Todo o sistema de produção de suínos envolve consumo de energia. A electricidade é
consumida em todas as áreas de alojamento (gestação, maternidade, cria e engorda)
ACV da carne de porco
38
em processos de iluminação e alimentação. Na área de maternidade e cria é ainda
consumida electricidade em sistemas de aquecimento (lâmpadas Infra Vermelhas) e
ventilação mecânica (termoventilador), respetivamente.
Estas áreas de alojamento são limpas manualmente duas vezes por semana, com
excepção da área de cria, apenas limpa após a saída de cada grupo de animais (uma vez
por ciclo). Na área da maternidade é usada uma pá de arrasto para as atividades de
limpeza e nas restantes áreas um sistema baseado em água com pressão. Deste modo,
os dejectos dos animais são maioritariamente manuseados na forma de chorume. O
chorume é drenado por gravidade e recolhido em local apropriado. Este é submetido a
tanificação e separação sólido-líquido, sendo posteriormente armazenado em lagoas de
sedimentação. Periodicamente o chorume é transportado em tractores com cisterna
até explorações agrícolas existentes nas mediações na exploração suína (num raio de 5
km) e espalhado nos solos.
Subsistema abate de suínos (SM): Este subsistema considera os processos no matadouro,
que incluem a receção dos suínos engordados, o seu abate e processamento para a
produção de carcaça inteira de porco. Neste subsistema os principais aspetos
ambientais estão associados a elevados consumos de calor, electricidade e água. Foi
assumido que os suínos são transportados 200 km da exploração suína até ao
matadouro, por via rodoviária. Neste matadouro, os suínos são abatidos com um peso
aproximado de 105 kg, resultando um peso de carcaça de 81,9 kg. Assim, resultam do
processo subprodutos animais, tais como vísceras, ossos, sangue, entre outros, cujo
destino depende do risco de perigosidade que lhe é associado. O destino da maioria
destes subprodutos resultantes do processo de abate são destinados à produção de
farinhas para a alimentação de animais ou para incineração. Estas atividades de
tratamento dos subprodutos resultantes do matadouro foram excluídas das fronteiras
do sistema. No matadouro existe um pré-tratamento de águas residuais, onde os
efluentes resultantes das atividades do matadouro são tratados. A produção de bens
capitais e infraestruturas foi excluída da avaliação em todos os subsistemas.
ACV da carne de porco
39
5.1.4 Alocação
Em estudos de ACV de processos multifuncionais é muitas vezes necessário recorrer à
alocação, sendo que a seleção do critério usado poderá ter fortes efeitos nos
resultados. Neste estudo, não foi necessário proceder a alocação. Na exploração suína
(SS) o único produto é o suíno engordado para abate. Como já mencionado
anteriormente, o chorume da exploração suína é usado como fertilizante orgânico em
solos agrícolas, em substituição de fertilizantes minerais. A gestão do chorume, o
armazenamento, a distribuição e os processos de espalhamento nos solos são tidos em
consideração, bem como a produção dos correspondentes fertilizantes minerais
evitados. As cargas ambientais derivadas da gestão do chorume foram consideradas
dentro dos limites das fronteiras e atribuídas aos suínos, apesar de este ser aplicado em
solos de outras explorações. Além disso, os impactes associados à aplicação de
fertilizantes minerais nos solos também foram deduzidos ao subsistema. Em relação ao
matadouro (SM), o principal produto é a carne de porco (carcaça inteira) pronta para
entrega aos mercados finais. Relativamente aos subprodutos animais de ambos os
subsistemas foi considerado fora dos limites do sistema a sua posterior valorização,
para produção de calor (incineração) e de alimentos concentrados para animais.
5.1.5 Metodologia de Avaliação de Impactes
Entre os passos definidos na avaliação de impactes de ciclo de vida da metodologia de
ACV normalizada (ISO 14040, 2006), apenas a classificação e normalização foram
considerados neste estudo. Uma vez que este passos são opcionais e tendo em
consideração os objetivos do presente estudo, estes não foram desenvolvidos pois não
acrescentariam informação robusta (ISO 14040, 2006).
Os sistemas de produção animal (neste caso, produção de suínos) envolve emissões
para o ambiente e o consumo de recursos (água, combstíveis fosseis, etc.). Os efeitos
ambientais dessas emissões e consumo de recursos podem ser demonstrados ao nível
de diferentes categorias de impacte, nomedamente, alterações climáticas, eutrofização
de água doce, eutrofização marinha e acidificação terrestre, consideravelmente
afetadas pelas emissões de CO2, CH4, NH3 e N2O. Estas categorias são as categorias que
mais têm sido utilizadas em estudos que consideram sistemas de produção animal
ACV da carne de porco
40
(Basset-Mens and van der Werf, 2005; Beauchemin et al., 2010; Cederberg and Flysjö,
2004; Dalgaard et al., 2007; de Vries et al., 2010; Reckman et al. 2012; González-
García,2013; Williams et al., 2006). Assim, neste estudo foram consideradas e avaliadas
as categorias de impacte supra referidas, utilzando os factores de caracterização da
metodologia ReCipe Midpoint (Goedkopp et al., 2009). Para processar os inventários foi
utilizado o software GaBi v.6.0 (GaBi, 2011).
5.2 Análise de Inventário de Ciclo de Vida
Em estudos de ACV é importante considerar dados reais e validados que permitam a
obtenção de resultados ambientais representativos. Neste estudo, os dados de
inventário dos subsistemas considerados (SC, SS e SM), foram recolhidos através
pesquisa, inquéritos e entrevistas a uma exploração de suínos e matadouro,
representativos da produção de carne de porco em Portugal. Todos os dados primários
obtidos dizem respeito ao ano 2012. As tabelas 5.3, 5.4 e 5.5, apresentam os dados de
inventário, respetivamente para os subsistemas SC, SS e SM, calculados em função da
unidade funcional (1kg de carne de porco – peso de carcaça).
Estes dados primários foram completados com dados secundários obtidos de bases de
dados (ecoinvent, 2007; GaBi, 2011), nomeadamente para a produção dos
componentes dos alimentos compostos (processos agrícolas de produção de milho,
cevada, trigo, soja, colza, girassol e melaço de cana de açucar), a produção de
electricidade (considerada como proveniente da rede nacional portuguesa), a produção
dos fertilizantes minerais evitados, a produção de combustíveis fosseis, como o gás
natural e as atividades de transportes das matérias-primas e auxiliares de cada
processo.
ACV da carne de porco
41
Tabela 5.3 – Inventário de ciclo de vida do subsistema produção de alimento concentrado (SC), expresso por UF.
Fluxos de entrada Valor Unidade Fluxos de saída Valor Unidade
Materiais Produto
Milho 1.29 kg Alimento Concentrado 3,59 kg
Cevada 0.52 kg
Trigo 0.59 kg
Óleo de soja 27.3 g
Gordura animal 12.4 g
Sêmea de trigo 75.0 g
Soja 0.64 kg
Girassol 65.4 g
Colza 63.8 g
Melaço de cana de açucar 17.7 g
Energia
Eletricidade 0.23 Wh
Transportes
Transporte terrestre- camião 0.53 t·km
Transporte marítimo 6.7 t·km
Tabela 5.4 – Inventário de ciclo de vida do subsistema produção animal (SS), expresso por UF.
Fluxos de entrada Valor Unidade Fluxos de saída Valor Unidade
Materiais Produtos
Alimento concentrado 3,59 kg Suíno para abate 1,28 kg
Energia Resíduos
Eletricidade 0,25 kWh Chorume 12,0 kg
Água 18,9 kg Emissões para o ar (gestão do chorume)
Transportes CH4 80,0 g
Dos alimentos - Camião 1,43 t·km N2O 0,79 g
N2 3,02 g
NOx 1,08 g
NH3 14,3 g
Emissões para o ar (gestão dos solos)
N2O 2,28 g
N2 6,21 g
NOx 0,19 g
NH3 15,0 g
Emissões para a água (gestão dos solos)
NO3- 14,2 g
PO4-3
0,73 g
ACV da carne de porco
42
Tabela 5.5 – Inventário de ciclo de vida do subsistema abate (SM), expresso por UF.
Fluxos de entrada Valor Unidade Fluxos de saída Valor Unidade
Materiais Produto
Suínos 1,28 kg Carne de porco (peso carcaça) 1,00 kg
Agentes de limpeza 52,9 mg Resíduos
Energia Água residual não tratada 0,77 kg
Eletricidade (matadouro) 48,9 Wh Subproduto animal (para farinhas) 0,22 kg
Gás natural 0,66 g Emissões para o ar (combustão de gás natural)
Água CO2 1,73 g
Água (rede) 0,20 kg CO 0,77 mg
Água (furo) 0,57 kg CH4 0,03 mg
Transportes N2O 0,003 mg
Terrestre - camião 0,21 t·km NOX 2,16 mg
Transporte - camião 60,1 kg·km NMVOC 0,07 mg
Emissões para a água (tratamento de águas residuais)
CBO 0,10 mg
CQO 0,30 mg
No subsistema produção animal (SS), o maneio e armazenamento de chorume envolve
maioritáriamente emissões atmosfericas de metano (CH4), oxido nitroso (N2O),
amoníaco (NH3) e oxidos de azoto (NOx) (Nguyen et al., 2011; Reckmann et al., 2013),
sendo todas estas emissões calculadas dentro das fronteiras do sistema. As emissões de
CH4 e N2O foram calculadas com base nos fatores de emissão (Tier 2) da metodologia
apresentada pelo IPCC (IPCC, 2006). As restantes emissões de NH3 e NOx foram
consideradas utilizando fatores de emissão reportados em Nguyen et al. (2011). Além
destas, os suínos também emitem CH4 devido à fermentação entérica. Estas emissões
foram também tidas em consideração e calculadas através dos fatores de emissão (Tier
1) do IPCC (IPCC, 2006).
O chorume é transportado por camiões cisterna até outras explorações agrícolas
situadas nas proximidades da exploração suína, onde é espalhado nos solos. Neste
sentido, as emissões resultantes da aplicação do chorume dos solos, designadamente as
emissões de N2O, NH3 e NOX para a atmosfera, bem como as emissões de nitrato (NO3-)
e fosfato (PO43-) para a água, resultantes de lixiviação, também foram consideradas. As
emissões de N2O foram consideradas com base nos factores de emissão (Tier 1) do
método indicado pelo IPCC (IPCC, 2006). As restantes emissões foram calculadas de
acordo com Nguyen et al. (2011). Como já referido, neste estudo foi considerada a
aplicação de fertilizantes minerais evitados, devido à aplicação de fertilizantes orgânicos
(chorumes). Assim, as emissões evitadas, derivadas da aplicação de fertilizantes
ACV da carne de porco
43
minerais, foram calculadas dentro dos limites do subsistema produção animal (S2) de
acordo com Dalgaard et al. (2006), Nguyen et al. (2011) e Reckmann et al. (2013).
Assumiu-se que a taxa de substituição para o azoto (N) é de 0,7 kg de fertilizante
mineral N por kg de azoto existente no chorume de suíno aplicado no solo (Dalgaard et
al, 2006; Nguyen et al, 2011). Relativamente ao fosforo (P) e potássio (K), a taxa de
substituição assumida foi de 97% e 100%, respectivamente (Nguyen et al., 2011). As
emissões calculadas resultantes da gestão, armazenamento e aplicação do chorume e
aplicação de fertilizantes minerais são apresentadas na tabela 9, assim como as
emissões de CH4 decorrentes da fermentação entérica. As características do chorume
produzido são também apresentadas na tabela 5.6.
Tabela 5.6 – Principais características do chorume de suíno produzido e gerido na exploração suína e emissões resultantes da gestão, armazenamento e aplicação do chorume (por kg de chorume produzido).
Composição do chorume Gestão
Armazenamento (interior)
Armazenamento (exterior)
Matéria Seca (MS) – g·kg-1 95 90.3 85.8
N (g·kg-1
) 6.55 5.64 5.42
P (g·kg-1) 0.65
K (g·kg-1) 2.62
Emissões na exploração Armazenamento (interior)
Armazenamento (exterior)
CH4 (fermentação entérica) - mg·kg-1 260
CH4 (gestão do chorume) - mg·kg-1 660
N2O (mg·kg-1) 20.6 44.3
N2 (mg·kg-1) 78.6 169
NOx (mg·kg-1) 28.1 60.4
NH3 (mg·kg-1) 1034 137 Emissões (gestão do chorume) Aplicação no solo Após aplicação
N2O (mg·kg-1) 85.2
N2 (mg·kg-1) 509
NOx (mg·kg-1) 11.6
NH3 (mg·kg-1
) 461 770
NO3- (g·kg-1) 1.16
PO4-3
(mg·kg-1
) 59.8
N2O indiretas (mg·kg-1) 102
Fertilizantes minerais evitados
Fertilizante mineral N (g·kg-1
) 3.79
Fertilizante mineral P (g·kg-1) 0.63
Fertilizante mineral K (g·kg-1) 2.62
Emissões (aplicação de fertilizantes minerais)
N2O (mg·kg-1
) 59.6
NOx (mg·kg-1) 56.9
NH3 (mg·kg-1) 299 a produção media de chorume - 12,02 kg . FU-1; b densidade do chorume - 1029 kg.m-3
ACV da carne de porco
44
5.3 Avaliação dos impactes ambientais e interpretação dos resultados
A tabela 5.7 apresenta o desempenho ambiental da produção de carne de porco para
as categorias de impacte seleccionadas. A figura 5.2 mostra a contribuição de cada
subsistema no impacte ambiental total da produção de carne de porco, para cada
categoria de impacte considerada. Assim, pode ser identificado o subsistema
responsável pela maior contribuição das cargas ambientais. De acordo com os
resultados, o subsistema relacionado com a produção dos alimentos compostos (SC) é a
principal origem das cargas ambientais, quando comparadas as categorias analisadas
neste estudo. A produção animal (SS) é um fator importante para a categoria alterações
climáticas, com uma contribuição de 12% no impacte total do produto. Os resultados
mais detalhados para cada subsistema e para cada categoria ambiental são descritos
nas seções seguintes.
Tabela 5.7 – Resultados da avaliação de impactes por kg de carne (peso de carcaça) associada ao sistema produção de carne de porco industrial (sistema intensivo).
Categoria de impacte Valor Unidade
Alterações Climáticas (AC) 3,335 kg CO2 equivalente
Eutrofização de água doce (EAD) 0,001 kg P equivalente
Eutrofização marinha (EM) 0,041 kg N equivalente
Acidificação Terrestre (AT) 0,023 kg SO2 equivalente
Figura 5.2 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de porco.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
AlteraçõesClimáticas
Eutrofização de águadoce
Eutrofizaçãomarinha
Acidificaçãoterrestre
Produção de alimentos compostos (SC) Produção animal (SS) Abate e Processamento (SM)
ACV da carne de porco
45
5.3.1 Produção de alimentos compostos
No subsistema SC (figura 5.3), a produção dos componentes alimentares, no seu
conjunto, foi identificada como o maior contribuinte para todas as categorias. A
produção destes componentes envolve não só as atividades agrícolas relacionadas com
a produção de soja, cevada, trigo, cana-de-açúcar, colza e girassol, mas também o seu
processamento para produção de açúcar ou óleo, assim como o processamento para a
produção de gordura animal. Como mostra a figura 5.3, foram identificados 4
ingredientes como hotspots ambientais: soja (óleo e farelos), milho, trigo e cevada. A
produção destes ingredientes apresenta uma contribuição para o impacte ambiental da
produção de alimentos compostos, que varia de 85 % a 94 %, dependendo da categoria
de impacte.
Figura 5.3 - Contribuição relativa (em %) dos processos/actividades envolvidos no subsistema produção de alimentos compostos (SC).
A produção de energia eléctrica e as atividades de transporte relacionadas com o
abastecimento dos componentes da alimentação, desde o local de produção até à
fábrica de produção dos alimentos compostos, foram considerados, no entanto
representam contribuições muito pequenas para o perfil ambiental do SC, exceto nas
categorias alterações climáticas e acidificação terrestre, onde as atividades de
transportes contribuem com 4% e 12%, respectivamente.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
AlteraçõesClimáticas
Eutrofização deágua doce
Eutrofizaçãomarinha
Acidificaçãoterrestre
Transportes Colza GirassolTrigo Sêmea de trigo Gordura animalMelaço de cana de açucar Milho CevadaÓeo de soja Soja Eletricidade
ACV da carne de porco
46
5.3.2 Produção Animal (exploração suína)
A figura 5.4 apresenta as contribuições dos processos/atividades considerados, no perfil
ambiental do SS, para cada categoria de impacte avaliada. Pela sua análise, verifica-se
que o SS é um importante fator que influencia a categoria de impacte alterações
climáticas e acidificação terrestre em 12 % e 5%, respetivamente. As contribuições para
as Alterações Climáticas são principalmente relacionadas com as emissões ocorridas na
exploração (maioritariamente CH4) derivadas da fermentação entérica, assim como da
gestão, armazenamento e aplicação do chorume.
Pode também observa-se pela figura 5.4 que as emissões resultantes da gestão e
armazenamento do chorume, incluindo também as emissões de CH4 provenientes da
fermentação entérica, tais como N2O, NH3, NOx e CH4 contribuem negativamente para
as categorias alterações climáticas, eutrofização marinha e acidificação terrestre, com
uma contribuição de 17 %, 30 % e 71 %, respetivamente.
Figura 5.4 - Contribuição relativa (em %) dos processos/actividades envolvidos no subsistema produção animal (S2).
A aplicação do chorume no solo envolve não só as emissões resultantes da aplicação de
chorume no solo, como também as emissões decorrentes da produção e combustão de
gasóleo utilizado pela maquinaria agrícola no espalhamento do chorume e seu no
transporte, desde a exploração suína até aos solos onde é aplicado. A contribuição
deste processo é importante em todas as categorias analisadas, com uma contribuição
-20%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Alterações Climáticas Eutrofização de águadoce
Eutrofização marinha Acidificação terrestre
Produção de eletricidade Consumo de água
Gestão e armazenamento do chorume Aplicação do chorume no solo
fertilizantes minerais evitados
ACV da carne de porco
47
que varia entre 5 % e 67 %, dependendo da categoria. Como anteriormente
mencionado, a utilização do chorume como fertilizante orgânico nos solos agrícolas
evita a produção de quantidades específicas dos minerais N, P e K em que são baseados
os fertilizantes. Essa produção evitada de fertilizantes minerais, como mostra a figura
5.4, é responsável por cargas ambientais positivas (créditos ambientais), contribuindo
para a redução das cargas ambientais.
5.3.3 Abate dos animais (matadouro)
Este subsistema, relacionado com as atividades de abate no matadouro, representa
contribuições pouco significantes em todas as categorias sob avaliação (figura 5.5). As
contribuições mais elevadas contribuem com 2% e 1% para impacte ambiental total da
carne de porco, nas categorias alterações climáticas e acidificação terrestre,
respectivamente.
Figura 5.5 - Contribuição relativa (em %) dos processos/actividades envolvidos no subsistema abate dos animais (S2).
De acordo com as contribuições reportadas nesta figura, as necessidades de
electricidade no matadouro são um fator de importância neste subsistema, com
contribuições que variam entre 3% e 61 % para as categorias analisadas. As atividades
de transporte (transporte dos suínos desde a exploração suína até ao matadouro) são
também bastante notáveis (devido ao consumo de gasóleo e emissões resultantes da
combustão) em todas as categorias de impacte analisadas. O consumo de água da rede
é importante para a categoria eutrofização de água doce, com uma contribuição de 53
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Alterações Climáticas Eutrofização de águadoce
Eutrofização marinha Acidificação terrestre
Transportes Tratamento de efluentes
Produção de agentes de limpeza Consumo de água
Produção e combustão de gás natural Produção de eletricidade
ACV da carne de porco
48
%, assim como a produção de agentes de limpeza, com uma contribuição relativamente
menor (10%). A água residual produzida no matadouro é enviada para uma estação de
tratamento de águas residuais, cujas operações foram consideradas dentro das
fronteiras do sistema. No entanto, este processo apresenta baixas contribuições no
impacte total do sistema avaliado. Por fim, a produção de calor em caldeiras, utilizando
gás natural como combustível, apresenta igualmente uma contribuição pouco
importante para o perfil ambiental das atividades relacionadas com o matadouro
(inferiores a 5%).
5.4 Conclusões
Este estudo aborda os impactos ambientais associados à produção de carne de porco
em Portugal a partir de uma perspectiva do berço-ao-portão do matadouro, utilizando a
metodologia de ACV. Este estudo permite não só a estimativa do perfil ambiental por kg
de peso de carcaça, mas também a identificação dos hotspots ambientais na cadeia de
produção. A problemática da gestão dos chorumes também foi abordada neste estudo.
As atividades relacionadas com a produção de alimentos compostos para suínos foram
identificados como o principal contribuinte para todas as categorias de impacto
analisadas, devido aos consumos de combustíveis fósseis em máquinas agrícolas, bem
como a produção de agrotóxicos e a sua aplicação. As atividades envolvidas na
exploração suína representam a segunda maior influencia, enquanto que as atividades
relacionadas com o matadouro apresentam um efeito muito pouco importante. Na
exploração suína a gestão do chorume produzido (maneio, armazenamento e aplicação
em solos agrícolas) são os principais responsáveis pelos impactes ambientais.
Os resultados deste estudo estão em linha com os outros estudos reportados na
literatura, o que indica que as práticas portuguesas são representativas para as
estratégias europeias. As elevadas cargas ambientais resultantes da produção de
alimentos compostos para a suinicultura destacam a necessidade de mais estratégias de
mitigação focados na sua redução.
ACV da carne de novilho
49
6 ACV da carne de bovino
6.1 Definição do objectivo e do âmbito
6.1.1 Objetivo
O objetivo do estudo visa avaliar os potenciais impactes ambientais associados à
produção de carne bovina produzida em explorações portuguesas, identificar as fases
ou processos com maior contribuição para o perfil ambiental do produto e possíveis
oportunidades de melhoria face aos resultados obtidos.
6.1.2 Unidade Funcional
A unidade funcional adotada é 1 kg de carne bovina (peso de carcaça) à porta do
matadouro.
6.1.3 Descrição do sistema produto e fronteiras do sistema
No desenvolvimento deste estudo foi considerada uma abordagem do berço-à-porta do
matadouro (“cradle-to-gate”), sendo contabilizados todos os fluxos mássicos e
energéticos ambientalmente relevantes envolvidos em toda a cadeia de produção até à
expedição da carcaça de bovino do matadouro.
A ACV elaborada avalia quatro cenários para a produção de carne de novilho, que
consideram alguns dos sistemas de produção mais característicos de Portugal, e se
diferenciam, nomeadamente, pela tipologia dos sistemas de produção, modos de
produção, bem como na gestão da alimentação (qualidade e tipologia de alimentos).
Assim, são avaliados neste projeto os seguintes cenários:
Cenário A (CA) – Criação de vitelos em sistema extensivo (SC_Ext) seguido da recria
e engorda em sistema extensivo (SE_Ext) e o abate dos animais no matadouro
(SM).
Cenário B (CB) - Criação de vitelos em sistema extensivo (SC_Ext) seguido da recria
e engorda em sistema intensivo (SE_Int1) e o abate dos animais no matadouro
(SM).
Cenário C (CC) – Criação de vitelos em sistema extensivo, em modo de produção
biológico (SC_Ext_Bio) seguido da recria e engorda em sistema intensivo (SE-Int2).
ACV da carne de novilho
50
Cenário D (CD) - Criação de vitelos em sistema semi-intensivo (SC_SI) seguido do
abate dos animais no matadouro (SM), à idade de desmame.
A descrição dos subsistemas incluídos nos diferentes cenários considerados é
apresentada de seguida.
Cenário A
O sistema de produção extensiva1 caracteriza-se pelo aproveitamento de recursos
naturais, designadamente pela utilização de raças bovinas autóctones e pastagens
naturais em grandes áreas de terreno. Este tipo de sistema apresenta baixo
encabeçamento e os animais têm ritmos reprodutivos mais baixos, sendo a
produtividade mais baixa consequência do menor controlo animal e alimentar. Todavia,
os produtos deste tipo de sistemas têm uma valorização acrescida resultado da
importância das questões ambientais e de sustentabilidade cada vez mais tidas em
consideração.
O diagrama representativo dos sistemas produtivos incluídos nas fronteiras do sistema
de produção de carne de novilho no CA é apresentado na figura 6.1. Este sistema é
dividido em 3 subsistema, os quais são descritos abaixo.
1 Segundo o Decreto-Lei nº 81/2013 de 14 de Junho, é “produção extensiva a que utiliza o pastoreio no seu processo
produtivo e cujo encabeçamento não ultrapasse 1,4 CN/hectare, podendo este valor ser estendido até 2,8 CN/hectare desde que sejam assegurados dois terços das necessidades alimentares do efetivo em pastoreio, bem como a que desenvolve a atividade pecuária com baixa intensidade produtiva ou com baixa densidade animal, no caso das espécies pecuárias não herbívoras”.
ACV da carne de novilho
51
Figura 6.1 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos associados ao ciclo de vida da carne de novilho,
considerados no CA.
Criação de vitelos em sistema extensivo (SC_Ext): Este subsistema envolve todos os
processos associados à criação de vitelos em sistema extensivo, nomeadamente
relacionados com a produção dos alimentos (pasto, concentrados e forragens/silagens),
maneio dos animais e emissões da exploração. São incluídos todos os animais
reprodutores da exploração, os vitelos desde o nascimento ao seu desmame, bem
como a recria se substituição necessária para a manutenção do efetivo reprodutor.
ACV da carne de novilho
52
A tabela 6.1 apresenta as características principais do sistema produtivo considerado
em SC_Ext.
Tabela 6.1 – Principais parâmetros característicos da exploração considerada no subsistema SC_Ext_Conv.
Caracterização do sistema de produção Unidade Valor
Efetivo animal CN 132,6
Nº de vacas reprodutoras vacas 95
Peso médio vacas kg 750
Nº de touros reprodutores touros 2
Peso médio touros kg 1000
Taxa de fecundidade aparente % 85
Taxa de mortalidade de vacas adultas vacas 1
Taxa de mortalidade nos vitelos entre o nascimento e o desmane (%) % 5
Nº de vacas a substituir anualmente vacas 6
Nº de vitelos (até 6 meses) vitelos 80
Peso médio vitelos (Kg) kg 220
Nº novilhas recriadas para substituição (6 a 28 meses) novilhas 6
Peso médio novilhas (Kg) kg
SAU pasto1 ha 94,7 1 Área calculada com base no Decreto-Lei nº 81/2013 de 14 de Junho, considerando 1,4 CN por hectare.
Os animais encontram-se permanentemente em pastoreio, alimentando-se em
pastagens naturais e de algumas forragens semeadas destinadas ao pastoreio direto.
Contudo, sendo esta alimentação em grande parte do ano muito desequilibrada, os
animais são devidamente acompanhados e são-lhes fornecidas suplementações
(alimentos concentrados) adaptadas à fase de vida de cada animal, quer ao nível da
quantidade fornecida, quer ao nível do valor nutritivo. Esta suplementação permite que
os animais reprodutores melhorarem a sua condição corporal e consequentemente os
índices produtivos e reprodutivos. Os animais jovens também suplementados obtêm
crescimentos mais precoces, permitindo, no caso dos animais destinados à substituição
dos reprodutores, entrarem à reprodução mais cedo e nos animais destinados ao abate
atingir as condições necessárias, com menos idade, maior peso e melhores carcaças. Os
vitelos são desmamados quando estes atingem os seis meses, podendo este período ser
alargado conforme a época do ano, condição corporal das mães, desenvolvimento dos
próprios vitelos e condições climáticas.
Os alimentos concentrados fornecidos aos animais são compostos por variados
ingredientes, principalmente grãos de cereais e (óleo)proteaginosas, tais como milho,
cevada, trigo, girassol e soja, mas também outros componentes, nomeadamente
ACV da carne de novilho
53
aditivos, compostos por minerais, vitaminas, aminoácidos, entre outros. Foram
considerados dentro das fronteiras do sistema os processos de produção de todos os
ingredientes, à excepção das matéria-primas alfarroba, e alguns aditivos,
designadamente, fosfato bicálcico e premix. Estes processos não foram considerados
por falta de informação sofre a sua produção. Porém, importa realçar que representam,
em termos mássicos, menos de 8% da composição de cada concentrado.
Recria e engorda de novilhos em sistema extensivo (SE_Ext): Este subsistema considera a
recria dos vitelos macho desde o desmame até aproximadamente aos 20-21 meses de
idade, quando atingem um peso de 620 kg e são prontos para serem abatidos. Os
animais estão em pastoreio permanente durante esta fase, depositando a urina e fezes
no pasto. Os novilhos recriados alimentam-se de pasto mas são adicionalmente
alimentados com concentrados, silagens e palha. No que diz respeito aos alimentos
concentrados aplica-se a informação fornecida para o SC_Ext.
Abate dos animais (SM): Este subsistema engloba as atividades desenvolvidas no
matadouro desde a receção dos animais vivos até à expedição da carne (carcaça) do
matadouro. O processo de abate inicia-se na receção dos animais no matadouro, que
são estabulados e sujeitos a inspecção sanitária. Os animais conformes seguem para a
linha de abate, onde é feito o atordoamento e logo de seguida a sangria. O sangue
resultante é submetido a um processo de cozedura e enviado para incineração com as
restantes matérias da categoria 12. Após esta etapa segue-se à separação dos membros
e da cabeça e o corte externo, seguindo-se a esfola, a evisceração e separação das
fressuras. De seguida é feita a limpeza e preparação final, com a utilização de água. Em
todas estas etapas são produzidos subprodutos animais não destinados a consumo
humano, cuja categoria (1, 2 ou 3) e respetivos destinos são definidos por regulamentos
europeus2 3. As carcaças tornam a ser inspeccionadas e as consideradas conformes são
cortadas em duas metades e marcadas, quanto à sua salubridade e peso. Finalmente as
2 A classificação das matérias de categoria é estabelecida no REGULAMENTO (CE) N.o 1774/2002 DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 3 de Outubro de 2002 que estabelece regras sanitárias relativas aos subprodutos animais não destinados ao consumo humano. 3 O destino dos subprodutos animais não destinados ao consumo humano é definido no REGULAMENTO (CE) N.o
92/2005 DA COMISSÃO de 19 de Janeiro de 2005 que aplica o Regulamento (CE) n.o 1774/2002 do Parlamento Europeu e do Conselho no que se refere às formas de eliminação ou às utilizações de subprodutos animais e que altera o seu anexo VI no que se refere à transformação em biogás e ao tratamento de gorduras transformadas.
ACV da carne de novilho
54
carcaças são enviadas para o túnel de arrefecimento rápido, seguindo para a câmara de
refrigeração, onde permanecem até à expedição do matadouro. As instalações e
equipamentos do matadouro são limpos manualmente e diariamente com detergentes,
desinfectantes e água com pressão.
Tendo em consideração o processo acima descrito, neste subsistema foram incluídos os
processos de produção de água da rede e de energia (eletricidade e combustíveis),
requeridos para o processo de abate. A produção de agentes químicos de limpeza e de
desinfecção foram excluídos do sistema, por falta de informação sobre a sua produção.
No entanto, o transporte dos químicos desde o fornecedor até à unidade de abate foi
incluído nas fronteiras do sistema. De igual modo foi considerado o transporte dos
animais desde as explorações onde são produzidos até ao matadouro, bem como o
transporte dos subprodutos não destinados a consumo humano (materiais de categoria
1, 2 e 3), do matadouro até aos respectivos destinos (centros de incineração ou
transformação). Por fim, foi ainda incluído nas fronteiras do sistema o tratamento das
águas residuais geradas no processo e as emissões atmosféricas decorrentes da queima
de combustíveis para a produção de calor.
Cenário B
A aplicação de um sistema de produção intensivo numa exploração pecuária tem como
principal interesse a criação rápida e lucrativa do produto final. Para isso recorrem-se a
sistemas em feedlot, em que os animais se encontram confinados.
Em Portugal, é comum a produção de novilhos em sistemas intensivos por duas vias: a
engorda de vitelos provenientes de explorações de vacas aleitantes e a recria e
acabamento de vitelos provenientes de explorações leiteiras, nas quais estes não são o
produto principal, mas podem representar uma parte relevante do rendimento global
das explorações. Contudo, a nível nacional cerca ¾ da recria intensiva de novilhos
provém de explorações orientadas para a produção de carne.
Neste sentido, o sistema produto deste cenário (CB), ilustrado na figura 6.2, é dividido
em três subsistemas: a criação de vitelos até ao desmame (aproximadamente 6 meses)
em sistema extensivo (SC_Ext), seguindo da recria e acabamento dos vitelos machos em
regime intensivo (SE_Int1), numa exploração distinta, situada a aproximadamente 300 km
ACV da carne de novilho
55
de distância e por fim o abate dos animais (SM). Os subsistemas SC-Ext e SM são descritos
no CA, uma vez que são comuns em ambos os cenários.
Figura 6.2 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos associados ao ciclo de vida da carne de novilho,
considerados no CB.
Recria e engorda em sistema intensivo (SE_Int1): Este subsistema incluí todos os processos
necessários à recria e engorda dos vitelos desmamados, desde que saem da exploração
onde são produzidos (incluindo o transporte dos animais entre explorações) até à saída
da exploração de recria e engorda, prontos para abate. O subsistema é dividido em 3
processos (concentrados, silagens e unidade animal), descritos abaixo.
Concentrados: Este processo envolve todas as atividades relacionadas com a produção
dos alimentos concentrados fornecidos aos animais. Nesta fase, os novilhos são
alimentados com concentrados apropriados ao crescimento e acabamento (um período
mais curto antes do abate). Os alimentos concentrados são compostos por variados
ingredientes, principalmente gramíneas e (óleo)proteaginosas, tais como milho, cana-
de açúcar, colza, e soja (nas formas de grão, melaço, bagaço ou cascas) mas também
outros componentes, nomeadamente aditivos, compostos por minerais, vitaminas,
aminoácidos, entre outros. Foram considerados dentro das fronteiras do sistema os
processos de produção de todos os ingredientes, à excepção de alguns aditivos,
designadamente, sabões cálcicos, bicarbonato de sódio, fosfato, nutrinova 824 novilhos
ACV da carne de novilho
56
0,4 e levucell sc 2. Estes processos não foram considerados devido à falta de informação
acerca da sua produção. Porém, importa realçar que representam, em termos mássicos,
aproximadamente 4% da composição de cada concentrado.
O processo de produção de concentrados é realizado pela cooperativa a que a
exploração está associada e inclui a receção e armazenamento dos ingredientes, a
moagem e mistura destes, a transformação em granulado, a secagem e o
armazenamento.
Silagens: Este subsistema inclui todas as operações de produção da silagem utilizada na
alimentação dos animais. Durante o ano, os produtores da exploração de bovinos fazem
duas culturas, cuja colheita conservam na forma de silagem. Na Primavera cultivam o
milho forragem (Zea mays L.), seguido de forragem de azevém (Lolium multiflorum) no
Outono/Inverno. No caso do milho forragem, atingem-se produções na ordem das 65 t
ha-1 de matéria verde (33% Matéria Seca (MS)) e nas forragens de azevém produzem
cerca de 35 t ha-1 de matéria verde (2% MS).
Aos processos de produção de silagem estão associadas as operações de preparação do
solo, que incluem o espalhamento do estrume como fertilizante orgânico (recolhido nas
nitreiras da exploração e transportado em tractores com reboque até aos terrenos
agrícolas). Adicionalmente são também aplicados fertilizantes minerais azotados, de
fundo ou cobertura. É efectuada a sementeira, a aplicação de herbicidas e rega, a
colheita, ensilagem, transporte até ao silo, distribuição e calcamento da silagem. Na
cultura de Outono/Inverno não é realizada a aplicação de herbicida, nem necessária a
irrigação, considerando que a precipitação é suficiente para as necessidades da cultura.
Unidade animal: Este subsistema engloba atividades desenvolvidas na exploração de
recria e engorda de novilhos, que incluem o maneio dos bovinos e a gestão do estrume
(estábulo e armazenamento). A tabela 6.2 apresenta os principais parâmetros
característicos da exploração sob avaliação.
ACV da carne de novilho
57
Tabela 6.2 - Principais parâmetros característicos da exploração considerada no subsistema SE-Int1.
Parâmetros característicos do sistema produtivo Unidade Valor
Efetivo animal CN 88,8
Número de novilhos novilhos 150
Peso médio dos novilhos à entrada da recria kg 220
Idade média dos novilhos à entrada da recria meses 6
Peso médio dos novilhos à saída para matadouro kg 800
Idade média dos novilhos à saída para matadouro meses 15
Taxa de mortalidade dos novilhos durante esta fase % 2
Nitreira sim
Os vitelos entram na fase de recria e acabamento após o desmame (aproximadamente
aos 6 meses de vida, com um peso médio de 220 kg), onde permanecem durante
aproximadamente 15 meses, sendo enviados para abate ao atingirem 800 kg. Durante
este período os novilhos encontram-se confinados, sendo alimentados com forragens
conservadas (fenos e silagens) e alimentos concentrados (tabela 6.3).
Tabela 6.3 - Alimentação fornecida aos animais, considerada no SE-Int1.
Alimentação Unidade Valor
Concentrado - CRESCIMENTO (desmame - 19 meses) kg . dia-1 . cabeça-1 4,5
Concentrado - ACABAMENTO (19 meses - 21 meses) kg . dia-1 . cabeça-1 6,5
Silagem de milho kg . dia-1 . cabeça-1 17,5
Silagem de azevém kg . dia-1 . cabeça-1 2,0
Existe uma produção significativa de estrume (fezes, urina e camas) nas instalações em
que os animais se encontram que é recolhido periodicamente com trator e carregador
frontal e transportado até uma nitreira situada nas imediações das instalações. O
estrume permanece na nitreira, sendo aplicado em Abril e Setembro nas culturas
forrageiras produzidas para a alimentação dos animais, como fertilizante orgânico.
Cenário C
O Modo de Produção Biológico (MPB) é uma forma de produção ecológica focada no
cumprimento dos princípios do equilíbrio natural, e portanto em garantir a
sustentabilidade. O objectivo principal do MPB é optimizar a produção e não a
maximização da produção.
A pecuária biológica é uma actividade de produção animal que se insere numa atividade
agro-pecuária da unidade de produção, como parte integrante da agricultura biológica.
Este é um dos sectores da produção agro-alimentar que tem vindo a ganhar uma
ACV da carne de novilho
58
notoriedade crescente a nível global, e nomeadamente em Portugal. Este crescimento
deve-se às crescentes preocupações ambientais, bem-estar animal, condições de
trabalho dos tratadores e da qualidade e segurança alimentar, facto que faz da
produção animal em modo biológico uma actividade que ganha cada vez mais
seguidores da parte dos consumidores, assim como dos produtores.
Contudo, tendo em consideração as condicionantes implícitas a este tipo de produção,
não é comum em Portugal efetuar a recria de vitelos em MPB. Deste modo, neste
cenário é avaliado um sistema de produção extensivo de vitelos em MPB, seguido de
uma recria/acabamento de alguns dos vitelos em modo de produção convencional.
Assim, o sistema produto deste cenário (CC), ilustrado na figura 6.3, é dividido em três
subsistemas: criação de vitelos em sistema extensivo, em MPB (SC_Ext_Bio) seguido da
recria e engorda em sistema intensivo (SE-Int2) e por fim o abate dos animais (SM). Os
subsistema SM é descrito no CA, uma vez que é comum em todos os cenários analisados.
Figura 6.3 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos associados ao ciclo de vida da carne de novilho,
considerados no CC.
ACV da carne de novilho
59
Criação de vitelos em sistema extensivo, produção em modo biológico (SC_Ext_Bio): Este
subsistema envolve todos os processos associados à criação de vitelos em sistema
extensivo, produzidos em modo biológico, nomeadamente relacionados com a
produção dos alimentos (pasto, concentrados e forragens), maneios dos animais e
emissões da exploração. São incluídos todos os animais reprodutores da exploração, os
vitelos desde o nascimento ao seu desmame, bem como a recria se substituição
necessária para a manutenção do efetivo reprodutor.
A tabela 6.4 apresenta as características principais do sistema produtivo considerado
em SC_Ext_Bio.
Tabela 6.4 - Principais parâmetros característicos da exploração considerada no subsistema SC_Ext_Bio.
Caracterização do sistema de produção Unidade Valor
Efetivo animal CN ?
Nº de vacas reprodutoras vacas 100
Peso médio vacas kg 650
Nº de touros reprodutores touros 2
Peso médio touros kg 900
Taxa de fecundidade aparente % 90
Taxa de mortalidade de vacas adultas vacas 0
Taxa de mortalidade nos vitelos entre o nascimento e o desmane (%) % 2
Nº de vacas a substituir anualmente vacas 9
Nº de vitelos (até 6 meses) vitelos 88
Peso médio vitelos (Kg) kg 180
Nº novilhas recriadas para substituição (6 a 28 meses) novilhas 9
Peso médio novilhas (Kg) kg 380
As vacas encontram-se em pastoreio o ano inteiro. O desmame dos vitelos ocorre entre
os 6 e 8 meses de idade, dependendo do mês de nascimento e, especialmente da
disponibilidade de pastagem durante o ano. Os vitelos que seguem para a recria e
engorda são desmamados mais cedo, por volta dos 5/6 meses, enquanto os vitelos
abatidos ao desmame, são desmamados mais tarde, aproximadamente aos 8 meses.
Realça-se que o modo de produção do efetivo de substituição segue o MPB no que
respeita a práticas de maneio alimentar/sanitário. As novilhas recriadas para
substituição juntam-se às vacas adultas aos 16 /18 meses de idade.
A alimentação, neste modo de produção, destina-se a assegurar uma produção de
qualidade. Assim, sendo desejável que a exploração seja sustentável, os alimentos
deveriam ser preferencialmente produzidos na própria exploração e segundo o Modo
ACV da carne de novilho
60
de Produção Biológico. Contudo, caso este requisito não possa ser cumprido, é
permitida a incorporação de alimentos em fase de conversão ou até produzidos fora da
exploração desde que se respeite as disposições do regulamento do modo de produção
biológico. No presente estudo é analisada uma exploração produz na própria
exploração grande parte dos alimentos para os animais, nomeadamente a pastagem
(prado permanente de regadio à base de trevo subterrâneo coberto de azinho) e
alimentos forrageiros (feno silagem) ou adquire alimentos produzidos localmente,
noutras explorações próximas (designadamente palha). Adicionalmente os animais são
também suplementados com alimentos concentrados que cumprem os requisitos do
regulamento do modo de produção biológico, e de acordo com o plano de gestão da
exploração, para que se possa tirar o melhor partido dos recursos disponíveis.
As vacas em pastoreio permanente são também alimentadas com palha e feno silagem
nos meses julho/agosto e novembro e nos meses de julho a setembro, em alternativa
ao feno silagem é-lhes fornecido 2,5 kg·dia-1·animal-1 de alimento concentrado (tacos).
Os vitelos são suplementados a partir dos 4 meses até ao desmame com 0,5 a 1,5 Kg de
alimento kg·dia-1·animal-1 de alimento concentrado. De 12 em 12 dias fornece aos
animais dois polos de feno silagem e 5 fardos de palha. As novilhas de substituição são
exclusivamente alimentadas com pasto natural.
Os prados são fertilizados com fertilizante azotado (26,5% de P2O5), aceite para a
agricultura biológica, com 100 Kg·ha-1·ano-1.
Neste âmbito, são considerados dentro das fronteiras do sistema os processos de
produção de alimentos concentrados, feno silagem, palha, fertilizante usado nos
prados, gasóleo consumido na gestão da exploração (nomeadamente na distribuição
dos alimentos, maneio animal, fertilização, entre outros) e água.
Os alimentos concentrados fornecidos aos animais são compostos por variados
ingredientes, principalmente grãos de cereais e (óleo)proteaginosas, tais como milho,
cevada, trigo, girassol, luzerna e soja, mas também outros componentes,
nomeadamente polpa de citrinos e outros aditivos, compostos por minerais, vitaminas,
aminoácidos, entre outros. Foram considerados dentro das fronteiras do sistema os
processos de produção de todos os ingredientes, à excepção das matéria-primas polpa
ACV da carne de novilho
61
de citrinos, e alguns aditivos, designadamente, fosfato bicálcico, sepiolita e premix.
Estes processos não foram considerados por falta de informação sofre a sua produção.
Porém, importa realçar que, em termos mássicos, os processos excluídos representam
menos de 7% da composição de cada concentrado.
Recria e engorda em sistema intensivo (SE-Int2): Este subsistema incluí todos os processos
necessários à recria e engorda dos vitelos desmamados (apenas machos), desde o
desmame até à saída da exploração de recria e engorda, para o matadouro, incluindo a
produção dos alimentos, o maneio dos bovinos e a gestão do estrume (estábulo e
armazenamento) e sua aplicação nos solos. A tabela 6.5 apresenta os principais
parâmetros característicos da exploração sob avaliação.
Tabela 6.5 - Principais parâmetros característicos da exploração considerada no subsistema SE-Int2.
Parâmetros característicos do sistema produtivo Unidade Valor
Efetivo animal CN 27
Número de novilhos novilhos 45
Peso médio dos novilhos à entrada da recria kg 200
Idade média dos novilhos à entrada da recria meses 5/6
Peso médio dos novilhos à saída para matadouro kg 250
Idade média dos novilhos à saída para matadouro meses 8
Taxa de mortalidade dos novilhos durante esta fase % 0
Nitreira sim
A recria e acabamento dos vitelos macho ocorre entre o desmame e a venda para abate
(aos 240 dias de vida). Os animais recriados são produzidos em modo convencional e os
animais são mantidos em estabulação livre. Enquanto estão estabulados os animais são
alimentados com palha de trigo e suplementados com concentrados. A palha de trigo é
produzida em explorações locais e adquirida pelo produtor bovino. Esta é fornecida aos
animais de dois em dois dias, estimando-se um consumo de 340 kg por ciclo de
produção. Diariamente são alimentados com 4,5 kg de concentrado·animal-1·dia-1.
O estrume, que se mistura com a palha caída dos comedouros e água da chuva é
recolhido com um trator com frontal (com capacidade aproximada para 0,5 a 0,7
toneladas, dependendo do estado sólido/liquido do estrume) e armazenado numa
estrumeira a céu aberto, situada a cerca de 100m do estábulo. O estrume depois de
curtido é dado a vizinhos e também se utiliza como fertilizante da vinha do proprietário.
ACV da carne de novilho
62
Os alimentos concentrados fornecidos aos animais são compostos por variados
ingredientes, principalmente grãos de cereais e (óleo)proteaginosas, tais como milho,
cevada, trigo, girassol, luzerna e soja, mas também outros componentes,
nomeadamente polpa de citrinos e outros aditivos, compostos por minerais, vitaminas,
aminoácidos, entre outros. Foram considerados dentro das fronteiras do sistema os
processos de produção de todos os ingredientes, à excepção das matéria-primas polpa
de citrinos, e alguns aditivos, designadamente, sepiolita. Estes processos não foram
considerados por falta de informação sofre a sua produção. Porém, importa realçar
que, em termos mássicos, os processos excluídos representam menos de 7% da
composição do concentrado.
Cenário D
As explorações da Região Norte e do Litoral Centro, só recriam as fêmeas de
substituição, sendo as restantes abatidas ao desmame. Nestas regiões, os partos
ocorrem durante todo o ano pese embora se observe uma maior ocorrência de partos
na Primavera. As vacas recolhem todos os dias ao alojamento onde permanece o vitelo
até à idade de desmame. No Inverno, na Região Norte interior de montanha, é comum
as vacas permanecerem estabuladas por dois a três meses (Janeiro, Fevereiro e Março),
sendo que no período restante do ano, saem a pastorear todos os dias.
Neste contexto, neste cenário é avaliada a produção semi-intensiva de novilhos, em que
os vitelos, criados até ao desmame, se encontram sempre estabulados no viteleiro e os
animais reprodutores, assim como os de substituição, se encontram semi-estabulados e
em pastoreio 9 a 10 meses por ano. Na figura 6.4 estão representados os processos
incluídos nas fronteiras deste sistema, sendo este dividido nos subsistemas: Criação de
vitelos em sistema semi-intensivo (SC_SI) e abate dos animais no matadouro (SM). Este
último subsistema é apenas descrito no CA, dado ser comum em todos os cenários.
ACV da carne de novilho
63
Figura 6.4 - Diagrama representativo dos sistemas produtivos associados ao ciclo de vida da carne de novilho,
considerados no CB.
Criação de vitelos em sistema semi-intensivo (SC_SI): Este subsistema abrange as
atividades desenvolvidas na exploração de criação de vitelos em sistema semi-intensivo,
designadamente o maneio alimentar dos animais e a produção dos alimentos, a gestão
do estrume (estábulo e armazenamento) e as emissões que ocorrem na exploração. São
incluídos todos os animais reprodutores da exploração, os vitelos desde o nascimento
ao seu desmame, bem como a recria se substituição necessária para a manutenção do
efetivo reprodutor.
A tabela 6.4 apresenta os principais parâmetros característicos da exploração sob
avaliação.
Tabela 6.6 - Principais parâmetros característicos da exploração considerada no subsistema SC_SI.
Caracterização do sistema de produção Unidade Valor
Efetivo animal CN 65,8
Nº de vacas reprodutoras vacas 45
Peso médio vacas kg 550
Nº de touros reprodutores touros 1
Peso médio touros kg 1000
Taxa de fecundidade aparente % 100
Taxa de mortalidade nos vitelos entre o nascimento e o desmane (%) % 5
Nº de vacas a substituir anualmente vacas 3
Nº de vitelos nascidos vitelos 45
Nº de vitelos desmamados (8,5 meses) vitelos 42
Peso médio vitelos ao desmame (Kg) kg 325
Nº novilhas recriadas para substituição (7 a 18 meses) novilhas 3
Peso médio novilhas (Kg) kg 400
ACV da carne de novilho
64
Nº novilhos recriadas para substituição (7 a 18 meses) novilhas 1
Peso médio novilhas (Kg) kg 600
SAU de pasto1 ha 32
SAU forragem semeada ha 10
SAL centeio ha 6
As vacas, o touro e o novilho pastoreiam de Abril a Novembro/Dezembro e nos meses
de Agosto a Outubro são suplementados com forragem. As novilhas também
pastoreiam, mas são mantidas separadas das vacas até aos 18 meses, altura em que são
cobertas para que os partos ocorram a idade média de 27 meses. Diariamente distribui
nas manjedouras dos aos animais feno de pastagem natural e aveia. Toda a aveia
fornecida aos animais é produzida na própria exploração, bem como a maioria do feno
de pastagem fornecido (cerca de 75%). O restante feno de lameiro é produzido em
explorações vizinhas. Todos os animais, à excepção das vacas são suplementados com
alimentos concentrados. Os concentrados são fornecidos aos touros e novilhos
diariamente, às novilhas são fornecidos apenas entre os 16 e 18 meses de idade (altura
em que são cobertas pelo touro), e aos vitelos desde os 2 meses de idade até ao abate.
A tabela 6.7 apresenta resumidamente a alimentação fornecida aos animais,
considerada no SC-SI.
Tabela 6.7 - Alimentação fornecida aos animais, considerada no SC-SI.
Alimentação Unidade Valor
Vacas reprodutoras kg . ano-1 0
Novilhas kg . ano-1 105
Novilhos kg . ano-1 300
Touros kg . ano-1 550
Vitelos kg . animal desmamado
-1 475
No estábulo e viteleiro é usada palha de centeio nas camas dos animais, sendo esta
produzida na exploração. No verão as vacas, o touro e o novilho não consomem palha
nas camas. Nas restantes estações, e em particular no Inverno, as vacas gastam mais
porque estão muito tempo estabuladas. A cama é refeita diariamente aos vitelos e o
estrume produzido (camas, fezes e urina) é retirado entre o outono e final do inverno (4
a 5 vezes por ano). Neste período as camas são acumuladas sendo colocada cama nas
vacas com intervalos de 1 a três dias dependendo da estação e tempo de permanência
das vacas no estábulo. Quando é retirado o estrume, antes de repor as camas é feita
uma lavagem e utilizado como agente de limpeza a creolina. O estrume é retirado com
ACV da carne de novilho
65
trator com carregador frontal e transportado até à nitreira, onde permanece até ser
utilizado para adubação de fundo em culturas agrícolas. Aproximadamente 20% do
estrume armazenado e aplicado em explorações agrícolas vizinhas, sendo o restante
aplicado nas culturas da própria exploração, usadas para alimentar os animais.
6.1.4 Alocação
A aplicação de ACV a sistemas agrícolas é complexa devido à sua multifuncionalidade,
isto é, do processo produtivo resultam não só o produto principal, como também co-
produtos. E neste caso, da produção de carne de bovino, resultam necessariamente
vitelos, novilhas e vacas de refugo. Não sendo possível expandir o sistema, recorreu-se
à alocação para repartir os impactes ambientais pelos diversos co-produtos. Neste
sentido, foi utilizado o critério económico, baseado nos valores de mercado dos
diferentes tipos de animais que saem dos subsistemas de criação.
A alocação económica é a mais utilizado em estudos de avaliação de ciclo de vida (de
Vries and de Boer, 2009). Além disso, Nguyen et al (2012) elaborou um estudo de ACV
onde analisou o efeito dos diferentes métodos de alocação em sistemas de carne
bovina, nomeadamente a alocação mássica, a económica e a baseada no teor proteico
da carne, concluindo que a alocação económica poderá ser considerada como método
de alocação de referência em sistemas de carne bovina.
No que diz respeito ao processo de abate dos animais (SM) no matadouro, foi de igual
modo necessário recorrer à alocação, dado que os centros de abate analisados recebem
maioritariamente bovinos, mas também outros animais, nomeadamente pequenos
ruminantes e suínos. Neste sentido, foi aplicado o mesmo critério (alocação económica)
para distribuir os impactes ambientais entre as diferentes espécies, considerando o
peso dos animais (peso de carcaça) e respetivo preço à saída do matadouro. Os preços
das carcaças, considerados neste estudo, foram fornecidos pelos matadouros
inquiridos.
Os fatores de alocação utilizados nos diferentes cenários analisados são apresentados
na tabela 6.8, sendo os preços utilizados, retirados das cotações da bolsa de bovinos
(GPP/MAM, 2014) no que diz respeito aos subsistemas de criação de vitelos e obtidos
diretamente por inquérito nos matadouros avaliados.
ACV da carne de novilho
66
Tabela 6.8 – Fatores de alocação.
6.1.5 Metodologia de ACV
Entre as etapas definidas na fase de análise de inventário de ciclo de vida (AICV) da
metodologia de ACV, apenas a etapa de classificação e caracterização foram realizadas
neste estudo. As etapas de normalização e ponderação não foram efectuadas, dado que
estas são opcionais e não forneceriam informação robusta adicional para os objetivos
estabelecidos neste estudo. A quantificação dos impactes ambientais foi obtida
segundo os factores de caracterização admitidos na metodologia de avaliação de
impactes midpoint ReCiPe 2008 (Goedkopp et al., 2009), sendo seleccionadas as
seguintes categorias de impacte ambiental: alterações climáticas (AC), eutrofização de
água doce (EAD), eutrofização marinha (EM) e acidificação terrestre (AT). O software
Fluxos de saída Fluxo mássico Preço Alocação económica
SC_Ext: Criação de vitelos em sistema extensivo
Vitelos desmamados (machos) 1,00 kg pv 4,49 €/kg pc 46,79%
Vitelos desmamados (fêmeas) 0,842 kg pv 4,49 €/kg pc 39,40%
Vacas de refugo 0,538 kg pv 2,70 €/kg pc 13,81%
SC_Ext_Bio: Criação de vitelos em sistema extensivo, em modo produção biológico
Vitelos desmamados (machos) 1,00 kg pv 5,12 €/kg pc 52,65%
Vitelos desmamados (fêmeas) 0,587 kg pv 5,12 €/kg pc 30,89%
Vacas de refugo 0,650 kg pv 2,70 €/kg pc 16,46%
SC_SI: Criação de vitelos em sistema semi-intensivo
Vitelos desmamados 1,875 kg pv 4,49 €/kg pc 93,79%
Vacas de refugo 0,224 kg pv 2,70 €/kg pc 6,21%
SM: Matadouro 1
Bovinos 1 kg pc 4,25 €/kg pc 91,78% Ovinos e caprinos <12 kg 0,0294 kg pc 6 €/kg pc 3,81% Ovinos e caprinos 12 – 18 kg kg pc 6 €/kg pc 0,01% Ovinos e caprinos> 18 kg 0 kg pc 9 €/kg pc 0,00% Suínos <25 kg 0,0077 kg pc 5,75 €/kg pc 0,96% Suínos> 25 kg 0,0708 kg pc 2,25 €/kg pc 3,44% SM: Matadouro 2 Bovinos 1 kg pc 4,5 €/kg pc 87,08% Ovinos <10 kg 0,0261 kg pc 6,5 €/kg pc 3,66% Ovinos> 10 kg 0,0229 kg pc 6,5 €/kg pc 3,21% Caprinos 0,012 kg pc 10 €/kg pc 2,59% Leitões 0,0013 kg pc 6,5 €/kg pc 0,18% Suínos 0,0883 kg pc 2,5 €/kg pc 4,77%
ACV da carne de novilho
67
GaBi 6,0 foi utilizado para a implementação computacional dos inventários (PE
International, 2014).
6.2 Análise de inventário de ciclo de vida
Neste estudo, a informação de primeiro plano (“foreground data”) do ICV da produção
de carne de bovino foi baseada em dados reais recolhidos em explorações de produção
de vitelos e de engorda de bovinos e em centros de abate (matadouros). Os sistemas e
modos de produção das explorações sob avaliação são variados, mas típicos em
Portugal, tendo sido portanto considerados vários cenários para a produção de carne de
bovinos, nomeadamente carne de vitela, vitelão, novilho e vaca.
Os dados de inventário considerados nos diferentes cenários, apresentados ao longo
desta secção, são divididos em diversas tabelas, as quais dizem respeito à produção de
alimentos concentrados e de silagens, aos subsistemas de criação e subsistemas de
engorda incluídos em cada cenário, bem como ao subsistema de abate dos animais no
matadouro. É apenas apresentado uma tabela de inventário para este último
subsistema (abate dos animais), uma vez que o subsistema é comum a todos os
cenários.
No que diz respeito aos dados dos inventários da produção dos alimentos concentrados
(tabelas 6.9, 6.14 e 6.17), as composições das misturas foram definidas por especialistas
em nutrição animal e fornecidas pelas respectivas explorações inquiridas para cada
cenário. Excepcionalmente no SC_SI do CD, na falta de informação sobre a composição da
alimentação concentrada fornecida aos animais, foi considerada a mesma composição
da alimentação concentrada fornecida aos animais do SC_Ext_conv do CA (o concentrado C2
e C3). O consumo de energia (electricidade e nafta) e água incluídos no processo de
produção dos concentrados foram obtidos a partir de Castanheira et al. (2010). Os
processos de produção das matérias-primas foram obtidos da base de dados ecoinvent
(Althaus et al., 2009) e os processos de produção de electricidade e nafta da base de
dados do GaBi (PE International, 2014).
Os dados de inventário da produção da silagem de milho e azevém (tabela 6.15),
consumida no SC_SI do CB, são dados primários, recolhidos por inquérito à exploração
bovina e completados por especialistas em produção bovina. O consumo de gasóleo,
ACV da carne de novilho
68
usado pela maquinaria agrícola nas diversas operações agrícolas inerentes à produção
de silagem (milho e azevém) foi calculado pela estimativa de tempo de utilização de
cada equipamento em cada operação e o respectivo consumo médio de gasóleo (ver
anexo A). Na falta de dados primários para os restantes processos de produção de
alimentos forrageiros (palha, feno silagem, etc), consumidos nos vários subsistemas de
produção de vitelos e engorda de novilhos, são usados dados da base de dados do GaBi
(PE International, 2014) e ecoinvent (Althaus et al., 2009).
No que concerne aos dados de inventário dos subsistemas criação de vitelos e engorda
de novilhos (tabelas 6.10, 6.11, 6.16, 6.18, 6.19 e 6.20), são maioritariamente usados
dados primários. Os fluxos de entrada são dados obtidos por inquérito às explorações,
nomeadamente os consumos dos diferentes tipos de alimentos, de camas, de água, de
fertilizantes e de energia, assim como a produtividade das respectivas explorações
(produção de vitelos, novilhos, vacas de refugo, etc.). As emissões indicadas nestas
tabelas de inventário correspondem às emissões resultantes da queima de
combustíveis fósseis (gasóleo), da fermentação entérica, gestão do estrume e gestão
dos solos. Estas emissões foram calculadas com base fórmulas de cálculo e fatores de
emissão do “IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories” (IPCC, 2006) e do
“EMEP/EEA air pollutant emission inventory guidebook” (EMEP/EEA, 2013), sempre que
possível adaptando às condições de Portugal.
A determinação da quantidade de dejectos produzidos nas explorações, na forma de
estrume, assim como o seu teor em azoto (Ntotal), pentóxido de fósforo (P2O5) e óxido
de potássio (K2O), foram calculados com base nas tabelas apresentadas na Portaria nº
259/2012,de 28 de agosto. As emissões de metano (CH4) foram calculadas de acordo
com o Tier 2 do IPCC, e as restantes com o Tier 1, à exceção das emissões de fosfatos
(PO43-) baseadas modelos de emissão propostos por Nemecek (2007). A figura 6.5
mostra uma visão geral da emissão destes poluentes nas unidades produtivas bovinas.
ACV da carne de novilho
69
Figura 6.5 - Visão geral das principais emissões de poluentes ao nível da unidade produtiva de bovinos.
Uma quantidade significativa das emissões de metano (CH4) que ocorrem nas
explorações resulta da fermentação entérica, um processo biológico que ocorre no
rúmen das vacas. Contudo, são também emitidas quantidades significativas de outros
poluentes, que decorrem da gestão dos estrumes e chorumes gerados pelos animais,
tanto dos estábulos como da nitreira onde são armazenados, e após a sua aplicação no
solo nas culturas agrícolas ou nos pastos, no caso de os animais depositarem
diretamente as fezes e urina no solo durante o pastoreio.
Parte do azoto existente nos estrume, tanto nas fezes como na urina, é emitido na
forma de óxido nitroso (N2O). As emissões diretas de N2O ocorrem quando o N presente
no estrume é nitrificado ou desnitrificado, enquanto as emissões indirectas de N2O
resultam das perdas de N volatilizado sob a forma de amoníaco (NH3) ou lixiviado sob a
forma de nitrato (NO3-). Enquanto os dejetos permanecem nos estábulos, assim como
durante o seu armazenamento, também ocorrem perdas na forma de CH4.
Como já mencionado, os dejetos produzidos nas explorações em que os animais se
encontram permanentemente ou por algum período de tempo estabulados são
aplicados em solos agrícolas, como fertilizante orgânico. Os dejetos produzidos são
aplicados nas áreas de cultivo de alimentos forrageiros existente nas explorações
ACV da carne de novilho
70
bovinas. Contudo, nem sempre as explorações produzem os alimentos forrageiros
fornecidos aos animais e quando produzem, de uma forma geral as explorações não
têm capacidade de incorporação suficiente do estrume nos solos. Isto é, é excedentária
a quantidade de estrume produzido relativamente às necessidades de aplicação ao solo
para a fertilização racional das culturas. Na prática, os dejetos excedentários são
aplicados noutras culturas não relacionadas com a unidade de produção bovina. Por
este facto, as emissões provenientes do espalhamento do estrume nas culturas
forrageiras foram consideradas nos respectivos subsistemas e as emissões decorrentes
da aplicação do estrume excedentário no solo, foram considerados no subsistema de
produção animal. No que diz respeito às emissões provenientes da gestão dos solos das
culturas forrageiras e dos pastos, foram ainda consideradas as emissões para o ar e
água consequentes da aplicação de fertilizantes sintéticos, nomeadamente emissões
diretas e indiretas de N2O e NH3 para o ar e NO3- e fosfato PO4
3- para água.
Por fim, a tabela de inventário do subsistema abate de animais no matadouro (SM),
comum em todos os cenários, foi compilada com dados primários obtidos de dois
centros de abate muito semelhantes (matadouro 1 e 2). Os dados fornecidos incluem,
como entradas do processo, a quantidade de animais vivos (bovinos, pequenos
ruminantes e suínos) recepcionados, o consumo de água, de energia (eletricidade e
combustíveis) e de agentes químicos (detergentes, desinfectantes e pesticidas). Como
saídas do matadouro, foram fornecidos o peso dos animais (peso de carcaça), a
quantidade de subprodutos animais não destinados a consumo humano, diferençados
por categorias. O caudal de águas residuais geradas no processo considerou-se igual ao
consumo de água durante o processo de abate. As emissões atmosféricas apresentadas
na tabela de inventário representam as emissões resultantes da queima de
combustíveis para a produção de calor. Estas emissões foram calculadas com base
fórmulas de cálculo e fatores de emissão do “IPCC Guidelines for National Greenhouse
Gas Inventories” (IPCC, 2006) e do “EMEP/EEA air pollutant emission inventory
guidebook” (EMEP/EEA, 2013). Na tabela 6.13 é apresentado o perfil dos transportes
associados ao SM, cuja informação primária foi obtida por inquérito.
Os dados sobre os processos de produção dos fluxos de entrada incluídos nas tabelas de
inventário apresentadas ao longo desta seção, assim como do processo de tratamento
ACV da carne de novilho
71
de águas residuais geradas no SM, são dados secundários obtidos das bases de dados
ecoinvent (Althaus et al., 2009) e GaBi (PE International, 2014).
É importante mencionar que no desenvolvimento deste estudo não foi incluída a
produção/manutenção de bens de capital, tais como veículos, maquinaria,
equipamentos, instalações, etc.
6.2.1 Cenário A
Tabela 6.9 - ICV da produção de alimentos concentrados do CA, expresso por 1000 kg de concentrado.
Fluxos Unidade SC_Ext SE_Ext
C1 C2 C3
C4
Vacas leiteiras
Vitelos Novilhas de substituição
Engorda novilhos
Entradas Matérias-primas Milho kg 337 546 230 400
Cevada kg 100 100 245 100
Sêmea de trigo kg 180 200 40
Soja 44% kg 265 180 135 40
Alfarroba kg 50 50 50 50
Melaço de cana kg 30 30 40 30
Carbonato de calcio kg 20 16 17 17
Fosfato bicalcio kg 5 5
Sal kg 3 8 8 8
Permix + aditivos kg 10 15 15 15
Girassol 30% kg 50 60 300
Energia Eletricidade kWh 53,5 53,5 53,5 53,5
Nafta kg 3,5 3,5 3,5 3,5
Água kg 6,43 6,43 6,43 6,43
Saídas Produto Concentrado kg 1000 1000 1000 1000
Emissões para o ar CO2 (combustão nafta) kg 114 114 114 114
CH4 (combustão nafta) g 4,6 4,6 4,6 4,6
N2O (combustão nafta) g 0,93 0,93 0,93 0,93
CO (combustão nafta) g 62,3 62,3 62,3 62,3
COVNM (combustão nafta) kg 0,02 0,02 0,02 0,02
NOX (combustão nafta) kg 0,16 0,16 0,16 0,16
ACV da carne de novilho
72
Tabela 6.10 - ICV do subsistema SC_Ext do CA, expresso pela UF.
Fluxos de entrada Unidade Valor Fluxos de saída Unidade Valor
Alimentação Produtos
Palha (trigo) kg 1,75 Vitelos desmamados, macho (6 meses) kg 0,638
Feno silagem (AVEX) kg 2,86 Vitelos desmamados, fêmea (6 meses) kg 0,537
Feno (aveia) kg 1,14 Vacas de refugo kg 0,343
Concentrado C1 kg 0,687 Emissões para o ar
Concentrado C2 kg 0,458 CH4 (ferm. entérica, gest. estrume) kg 0,450
Concentrado C3 kg 0,135 N2O (gestão dos solos_pasto) kg 0,030
Fertilizantes (pasto) NH3 (gestão dos solos_pasto) kg 0,040
P2O5 kg 0,130 NOX (gestão dos solos_pasto) kg 0,006
CaO kg 0,072 CO2 (maquinaria agrícola) kg 1,10
SO3 kg 0,195 CH4 (maquinaria agrícola) g 0,062
Água m3 0,158 N2O (maquinaria agrícola) g 0,425
Energia CO (maquinaria agrícola) g 0,163
Gasóleo kg 0,345 NH3 (maquinaria agrícola) g 0,000
Transportes pkm 0,168 NMVOC (maquinaria agrícola) g 0,050
NOx (maquinaria agrícola) g 0,521
Emissões para a água
PO43- (gestão dos solos_pasto) kg 0,002
NO3- (gestão dos solos_pasto) kg 0,406
Tabela 6.11 - ICV do subsistema SE_Ext do CA, expresso pela UF.
Fluxos de entrada Unidade Valor Fluxos de saída Unidade Valor
Vitelos desmamados kg 0,638 Produtos Alimentação
Novilhos para abate (17 meses) kg 1,750
Palha (trigo) kg 1,16
Emissões para o ar Concentrado C4 kg 3,04
CH4 (ferm. entérica, gest. estrume) kg 0,175
Fertilizantes (pasto)
N2O (gestão dos solos_pasto) kg 0,006
P2O5 kg 0,022
NH3 (gestão dos solos_pasto) kg 0,008
CaO kg 0,012
NOX (gestão dos solos_pasto) kg 0,001
SO3 kg 0,034
CO2 (maquinaria agrícola) kg 0,058
Água L 0,041
CH4 (maquinaria agrícola) g 0,003
Energia
N2O (maquinaria agrícola) g 0,022 Gasóleo (maquinaria agrícola) kg 0,018
CO (maquinaria agrícola) g 0,009
Electricidade kWh 0,002
NH3 (maquinaria agrícola) mg 0,006
NMVOC (maquinaria agrícola) g 0,003
NOX (maquinaria agrícola) g 0,027
Emissões para a água
PO4
3- (gestão dos solos_pasto) g 0,247
NO3
- (gestão dos solos_pasto) kg 0,039
ACV da carne de novilho
73
Tabela 6.12 - ICV do subsistema SM do CA, CB, CC e CD, expresso pela UF.
Fluxos Unidade Valor
Matadouro 1 Matadouro 2
Entradas Matérias primas
Bovinos kg (pv) 1,739 1,754 Ovinos e caprinos <12 kg kg (pv) 0,0439 0,0401 Ovinos e caprinos 12 a 18 kg kg (pv) 0,0002 0,0416 Ovinos e caprinos >18 kg g (pv) 0,0475 19,94 Suínos <25 kg kg (pv) 0,0098 0,0017 Suínos >25 kg kg (pv) 0,0908 0,1132 Energia
Eletricidade kWh 0,0884 0,1706 Pellets dm3 0,0750 Gás natural m
3 0,0290
Água m3 0,0048 0,0100
Agentes químicos DUF 30 g 0,3259 Quimiserve 22 g 0,3259 Sabonete mãos g 0,3259 Quimapol 75 g 0,3259 Pesticidas g 0,0010 Clorin M Líquido g 0,2201 Clorin Esp g 1,440 Quimisam 12 g 0,2401 Quinapol Bio g 0,2001 Outros Luvas latex g 0,1200 Saídas Produtos
Bovinos kg (pc) 1,000 1,000 Ovinos e caprinos <12 kg kg (pc) 0,0294 0,0261 Ovinos e caprinos 12 a 18 kg kg (pc) 0,0001 0,0229 Ovinos e caprinos> 18 kg kg (pc) 0,0000 0,0120 Suínos <25 kg kg (pc) 0,0077 0,0013 Suínos >25 kg kg (pc) 0,0708 0,0883 Resíduos
Águas residuais (para ETAR) m3 0,0048 0,0100 Matérias de cat. 1 e 2 (para incineração) kg 0,1445 0,2328 Matérias cat.3 (para transformação) kg 0,1521 0,1519 Luvas latex (para reciclagem) kg 0,0000 0,0001 Emissões para o ar
CO2 g 98,35 64,34 CH4 g 0,0263 0,0011 N2O g 0,0035 0,0001 NOx g 0,1317 0,0803 CO g 1,401 0,0287 NMVOC g 0,1286 0,0029
ACV da carne de novilho
74
Tabela 6.13 – Perfil de transporte associado ao SM.
Transportes Tipo de veículo Distância Retorno
Matadouro 1 Bovinos Pesado 16-32 ton EURO5 100 Km Vazio Ligeiro 100 Km Vazio Ovinos e caprinos Ligeiro 100 Km Vazio Suínos Ligeiro 100 Km Vazio Agentes químicos Ligeiro 35 km Vazio Matérias de cat.1,2 e 3 Pesado 3,5-16 ton EURO4 240 km Vazio
Matadouro 2 Bovinos Pesado 16-32 ton EURO4 50 Km Vazio Ligeiro 50 Km Vazio Ovinos e caprinos Ligeiro 50 Km Vazio Suínos Ligeiro com reboque 50 Km Vazio Agentes químicos Ligeiro 3 km Vazio Matérias de cat.1,2 e 3 Pesado 3,5-16 ton EURO4 221 km Vazio
6.2.2 Cenário B
Tabela 6.14 - ICV da produção de alimentos concentrados do SE_Int1 do CB, expresso por 1000 kg de concentrado.
Fluxos SE_Int1
C5 C6 Unidade Crescimento de novilhos Engorda de novilhos
Entradas Matérias-primas Milho kg 466,35 600 Bagaço de colza Kg 199,98 131,1 Casca de soja Kg 117,48 107,7 Bagaço de soja Kg 69,99 70 Corn gluten feed Kg 48,3 - Sabão cálcico Kg 21,7 19 Melaço de cana kg 20 20 Carbonato de cálcio Kg 15 15 Bicarbonato de sódio Kg 10 10 Ureia Kg 8 7 Fosfato dicálcico 26/18,5 Kg 7 6 Óxido de magnésio Kg 6 5 Sal Kg 5 5 Nutrinova 824 novilhos 04% Kg 5 4 Levucell sc 2 Kg 0,2 0,2 Energia Eletricidade kWh 53,5 53,5 Nafta kg 3,5 3,5 Água kg 6,43 6,43
Saídas
Concentrado kg 1000 1000 Emissões para o ar CO2 (consumo de combustível) kg 114 114 CH4 (consumo de combustível) g 4,6 4,6 N2O (consumo de combustível) g 0,93 0,93 CO (consumo de combustível) g 62,3 62,3 COVNM (consumo de combustível) kg 0,02 0,02 NOX (consumo de combustível) kg 0,16 0,16
ACV da carne de novilho
75
Tabela 6.15 - ICV da produção de silagens de milho e azevém do SE_Int1 do CB, expresso por 1 hectare de cultivo.
Fluxos Unidade Milho Azevém
Entradas Sementes
1 85000 100
Estrume t 35 35 Adubação de fundo - Fertilizante mineral (N) kg 150 Adubação de cobertura - Fertilizante mineral (N) kg 40,5 Adubação de cobertura - Fertilizante mineral (CaO) kg 5,25 Adubação de cobertura - Fertilizante mineral (MgO) kg 5,25 Herbicida - sulcotriona g 0,45 Herbicida - nicossulfurão g 0,05 Herbicida - tebutilazina g 0,75 Eletricidade para irrigação kWh 528 Gasóleo (operações de maquinaria agrícola) kg 126,5 101 Água para rega m3 2500 Saídas Rendimento da colheira t 60,0 35 Emissões para o ar CO2 (combustão nafta) kg 403 323,2 CH4 (combustão nafta) g 22,6 18,10 N2O (combustão nafta) g 155,5 124,8 CO (combustão nafta) g 1383,5 1109,70 NH3 (combustão nafta) g 1,012 0,812 NMVOC (combustão nafta) g 425,7 341,46 NOX (combustão nafta) g 4432 3554,9 NH3 (gestão dos solos) kg 54,6 25,2 N2O diretas (gestão dos solos) kg 4,73 2,624 N2O indiretas (gestão dos solos) kg 1,77 0,9164 Emissões para a água NO3
- (gestão dos solos) kg 399,9 221,8 PO4
3- (gestão dos solos) kg 2,171 4,82
1 Unidade que quantifica as sementes: de milho – nº de sementes; de azevém: kg de sementes.
ACV da carne de novilho
76
Tabela 6.16 - ICV do subsistema SE_Int1 do CB, expresso pela UF.
Fluxos de entrada Unidade Valor Fluxos de saída Unidade Valor
Vitelos desmamados
kg 0,491 Produtos
Alimentação Novilhos (21 meses) kg 1,75 Silagem (milho) kg 17,2 Emissões para o ar Feno (aveia) kg 1,97 CH4 (ferm. entérica, gest. estrume) g 88,9 Concentrado - C5 kg 3,84 N2O (gestão do estrume) g 0,779 Concentrado - C6 kg 0,853 NH3 (gestão do estrume) g 14,8 Camas N2O (gestão dos solos) g 0,343 Serrim kg 3,01 NH3 (gestão dos solos) g 2,25 Agentes químicos NOX (gestão dos solos) g 0,072 NaClO g 2,23 CO2 (maquinaria agrícola) g 50,3 CaO g 0,930 CH4 (maquinaria agrícola) mg 2,82 Energia N2O (maquinaria agrícola) mg 19,4 Eletricidade kWh 0,038 CO (maquinaria agrícola) mg 7,43 Gasóleo kg 0,015 NH3 (maquinaria agrícola) mg 0,01 NMVOC (maquinaria agrícola) mg 2,29 NOX (maquinaria agrícola) mg 23,79 Emissões para a água PO4
3- (gestão dos solos) g 0,036 NO3
- (gestão dos solos) g 8,220
ACV da carne de novilho
77
6.2.3 Cenário C
Tabela 6.17 - ICV da produção de alimentos concentrados do CC, expresso por 1000 kg de concentrado.
Fluxos Unidade SC_Ext_Bio SE_Int2
C7 C8 C9
Vacas Vitelos Engorda novilhos
Entradas
Matérias-primas
Trigo kg 120 150 100
Sêmea de trigo granulado kg 200 160 370
Girassol 30% kg 574 60 200
Polpa de citrinos kg 40 50
Milho kg 401
Cevada kg 100 232
Soja 44% kg 50
Luzerna 13% kg 30
Carbonato de cálcio kg 35 20 20
Fosfato bicálcico kg 1,5
Sal kg 6 6 8
Sepiola kg 25 20 20
Premix kg 1,5
Energia
Eletricidade kWh 53,5 53,5 53,5
Nafta kg 3,5 3,5 3,5
Água kg 6,43 6,43 6,43
Saídas
Produto
Concentrado kg 1000 1000 1000
Emissões para o ar
CO2 (consumo de combustível) kg 114 114 114
CH4 (consumo de combustível) g 4,6 4,6 4,6
N2O (consumo de combustível) g 0,93 0,93 0,93
CO (consumo de combustível) g 62,3 62,3 62,3
COVNM (consumo de combustível) kg 0,02 0,02 0,02
NOX (consumo de combustível) kg 0,16 0,16 0,16
ACV da carne de novilho
78
Tabela 6.18 - ICV do subsistema SC_Bio do CC, expresso pela UF.
Fluxos de entrada Unidade Valor Fluxos de saída Unidade Valor
Alimentação Produtos Palha (trigo) kg 1,80 Vitelos desmamados, macho (5 meses) kg 1,40 Feno silagem kg 0,747 Vitelos desmamados, fêmea (7 meses) kg 0,821 Concentrado C7 kg 3,42 Vacas de refugo kg 0,910 Concentrado C8 kg 0,622 Emissões para o ar Fertilizantes (pasto) CH4 (ferm. entérica, gest. estrume) kg 0,933 P2O5 kg 0,310 N2O (gestão dos solos_pasto) kg 0,067 CaO kg 0,328 NH3 (gestão dos solos_pasto) kg 0,082 Água m3 0,330 NOX (gestão dos solos_pasto) kg 0,014 Energia CO2 (maquinaria agrícola) kg 3,25 Gasóleo kg 1,020 CH4 (maquinaria agrícola) g 0,182
N2O (maquinaria agrícola) g 1,25
CO (maquinaria agrícola) g 0,480
NH3 (maquinaria agrícola) mg 0,351 NMVOC (maquinaria agrícola) g 0,148
NOx (maquinaria agrícola) g 1,54
Emissões para a água
PO43- (gestão dos solos_pasto) g 4,63
NO3- (gestão dos solos_pasto) kg 2,51
Tabela 6.19 - ICV do subsistema SE_Int2 do CC, expresso pela UF.
Fluxos de entrada Unidade Valor Fluxos de saída Unidade Valor
Vitelos desmamados, macho (5 meses) kg kg
Produtos
Alimentação
Novilhos acabados (8 meses) kg 1,75
Palha (trigo) kg kg Emissões para o ar
Concentrado C9 kg kg CH4 (ferm. entérica, gest. estrume) g 48,01
Água m3 m3 N2O (gestão do chorume) g 0,701
Energia NH3 (gestão do chorume) g 14,34
Gasóleo g g N2O (gestão dos solos) g 1,90
NH3 (gestão dos solos) g 2,87
NOx (gestão dos solos) g 0,399
CO2 (maquinaria agrícola) g 13,06
CH4 (maquinaria agrícola) mg 0,731
N2O (maquinaria agrícola) mg 5,04
CO (maquinaria agrícola) mg 1,93
NH3 (maquinaria agrícola) mg 0,001
NMVOC (maquinaria agrícola) mg 0,001
NOX (maquinaria agrícola) g 0,006
Emissões para a água
PO43-
(gestão dos solos) g 0,078
NO3- (gestão dos solos) g 70,9
ACV da carne de novilho
79
6.2.4 Cenário D
Tabela 6.20 - ICV do subsistema SC_SI do CD, expresso por UF.
Fluxos de entrada Unidade Valor Fluxos de entrada Unidade Valor
Alimentação Produtos
Forragem (sogro) kg 6,96 Vacas de refugo kg pv 0,224
Feno (pasto natural) kg 17,4 Vitelos desmamados, macho (8,5 meses) kg pv 1,75
Feno de aveia kg 6,22 Vitelos desmamados, fêmea (8,5meses) kg pv 0,857
Concentrado C1 kg 2,64 Emissões para o ar
Concentrado C3 kg 0,10 CH4 (ferm. entérica, gest. estrume) kg 0,408
Palha (centeio) kg 1,49 N2O (gestão do estrume) kg 0,003
Água m3 0,062 NH3 (gestão do estrume) kg 0,054
Energia N2O (gestão dos solos_pastos) kg 0,013
Electricidade kWh 0,002 NH3 (gestão dos solos_pastos) kg 0,029
Gasóleo kg 0,076 NOX (gestão dos solos_pastos) kg 0,003
Fertilizantes (pasto) N2O (gestão dos solos_solos agrícolas) kg 0,010
P2O5 kg 0,143 NH3 (gestão dos solos_solos agrícolas) kg 0,022
CaO g 0,040 NOX (gestão dos solos_solos agrícolas) kg 0,002
CO2 (maquinaria agrícola) kg 0,292
NMVOC (maquinaria agrícola) kg 0,000
NOX (maquinaria agrícola) kg 0,003
CO (maquinaria agrícola) kg 0,001
Emissões para a água
PO43- (gestão dos solos_pastos) kg 0,001
NO3- (gestão dos solos_pastos) kg 0,174
PO43- (gestão dos solos_agrícolas) g 0,001
NO3- (gestão dos solos_agrícolas) kg 0,137
6.3 Avaliação dos impactes ambientais e interpretação dos resultados
Nesta secção são apresentados e discutidos os resultados da avaliação de impacte da
produção de carne de bovino, para as categorias seleccionadas. As tabelas e gráficos
apresentados nas subsecções seguintes ilustram desempenho ambiental da produção
de carne de bovino em cada cenário, evidenciando a contribuição absoluta e relativa de
cada um dos subsistemas e processos envolvidos nos sistemas de produto analisados.
6.3.1 Cenário A
A tabela 6.21 apresenta o desempenho ambiental da produção de carne de novilho,
considerado no cenário A, para as categorias de impacte seleccionadas. Pela figura 6.6,
que apresenta a contribuição relativa de cada subsistema, pode identificar-se a criação
de vitelos (SC_Ext) como o subsistema responsável pela maior contribuição das cargas
ambientais em todas as categorias analisadas (variando entre 37% e 56%), à exceção da
ACV da carne de novilho
80
categoria EM, para a qual a recria e engorda de novilhos (SE_Ext) contribui com
aproximadamente 83% das cargas ambientais. O abate dos animais (SM) apenas
apresenta uma contribuição notória para a categoria EAD, representando para esta
categoria aproximadamente 12% dos impactes, não excedendo nas restantes 4 % do
impacte total.
Tabela 6.21 - Resultados da avaliação de impactes por kg de carne (peso de carcaça) associada ao sistema produção de carne de bovino (CA).
Unidade SC_Ext SE_Ext SM Total
Alterações Climáticas (AC) kg CO2 equivalente 10,6 9,19 0,829 20,597 Eutrofização de água doce (EAD) g P equivalente 0,493 0,680 0,153 1,327 Eutrofização marinha (EM) g N equivalente 8,48 43,35 0,474 52,309 Acidificação Terrestre (AT) kg SO2 equivalente 0,056 0,041 0,002 0,099
Figura 6.6 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de bovino (CA).
Analisando mais detalhadamente cada subsistema, verifica-se que os hotspots da
produção animal nas explorações (SC_Ext e SE_Ext) são a produção de alimentos
concentrados, a fermentação entérica emitida pelos animais e a gestão dos solos. A
contribuição da produção dos alimentos concentrados varia entre 5% e 97% para o
SC_Ext e entre 30% e 94% para o SE_Ext. Esta contribuição deve-se essencialmente à
utilização de fertilizantes na produção dos produtos agrícolas usados como matérias-
primas dos concentrados. A fermentação entérica (CH4 entérico) contribui
aproximadamente com 50% dos impactes na categoria AC em ambos os subsistemas.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
AlteraçõesClimáticas
Eutrofização de águadoce
Eutrofizaçãomarinha
Acidificaçãoterrestre
Criação de vitelos em sistema extensivo (SC_Ext)
Recria e engorda de novilhos em sistema extensivo (SE_Ext)
Abate dos animais (SM)
ACV da carne de novilho
81
No que concerne às contribuições da gestão dos solos, cujas emissões resultam da
deposição direta das fezes e urina dos animais durante o pastoreio, bem como da
aplicação de fertilizantes sintéticos nos pastos, observa-se uma contribuição que varia
entre 22% e 85% para o SC_Ext e entre 2% e 51% para o SE_Ext.
Figura 6.7 - Contribuição relativa (em %) dos processos envolvidos no subsistema SC_Ext do CA e CB.
Figura 6.8 - Contribuição relativa (em %) dos processos envolvidos no subsistema SE_Ext do CA.
Na quantificação dos impactes ambientais resultantes do subsistema abate dos animais
(SM) foram considerados dados de dois centros de abate, bastante idênticos tanto ao
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
AlteraçõesClimáticas
Eutrofização de águadoce
Eutrofizaçãomarinha
Acidificaçãoterrestre
Alimentos concentrados Feno silagemPalha (trigo) FertilizantesMaquinaria agrícola Fermentação entérica e gestão do estrumeGestão do solos (pasto) Transportes
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
AlteraçõesClimáticas
Eutrofização de águadoce
Eutrofizaçãomarinha
Acidificaçãoterrestre
Alimentos concentrados Palha de trigo
Fertilizantes Maquinaria agrícola
Eletricidade Fermentação entérica e gestão do estrume
Gestão dos solos (pasto) Transportes
ACV da carne de novilho
82
nível de processo como ao nível de escala de produção. A tabela 6.22 apresenta os
resultados do impacte ambiental do processo de abate dos animais, expresso pela
unidade funcional (1 kg pc de carne de bovino). No cálculo do impacte ambiental do
ciclo de vida da carne de bovino, apresentado anteriormente foi considerado o valor
médio dos dois matadouros analisados.
Tabela 6.22 - Resultados da avaliação de impactes por kg de carne de bovino (peso de carcaça) associado ao subsistema SM.
Categoria de impacte Unidade Matadouro 1 Matadouro 2 Média
Alterações climáticas kg CO2 equivalente 0,934 0,725 0,829
Eutrofização de água doce g P equivalente 0,204 0,103 0,153
Eutrofização marinha g N equivalente 0,531 0,417 0,474
Acidificação terrestre kg SO2 equivalente 0,003 0,002 0,002
As figuras 6.9 e 6.10 apresentam a contribuição dos processos envolvido no subsistema
abate dos animais (SM) para o matadouro 1 e 2, respetivamente. Pelas análises destas
figuras verifica-se que a maiores diferenças, em termos de contribuição relativa, estão
associadas à emissão de gases com efeito de estufa resultantes da produção de calor,
sendo a contribuição menor no matadouro 1 que consome pellets, que no matadouro 2
que consome gás natural. Pode também observa-se uma diferença notória no impacte
dos transportes considerados no subsistema, essencialmente o transporte dos animais
vivos até ao matadouro. Nos dois matadouros em análise, a contribuição dos
transportes é dominante em todas as categorias ambientais, à exceção da categoria
EM, para a qual o tratamento das águas residuais geradas no processo de abate é
ACV da carne de novilho
83
dominante.
Figura 6.9 - Contribuição relativa (em %) dos processos envolvidos no subsistema SM, no matadouro 1.
Figura 6.10 – Contribuição relativa (em %) dos processos envolvidos no subsistema SM, no matadouro 2.
6.3.2 Cenário B
Os resultados da avaliação de impactes da produção de 1 kg de carne de novilho (peso
de carcaça), pelo sistema do cenário B, são apresentados na tabela 6.23 e as
contribuições relativas dos subsistemas considerados, na figura 6.11. De acordo com as
contribuições reportadas nesta figura, a recria e engorda de novilhos em sistema
intensivo (SE_Int1) é o subsistema mais importante no impacte total da carne, variando
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
AlteraçõesClimáticas
Eutrofização de águadoce
Eutrofizaçãomarinha
Acidificaçãoterrestre
Transportes Tratamento de águas residuais
Produção de calor (pellets) Água
Eletricidade
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
AlteraçõesClimáticas
Eutrofização de águadoce
Eutrofizaçãomarinha
Acidificaçãoterrestre
Transportes Tratamento de águas residuaispesticidas luvas (latex)Produção de calor (gás natural) Água
ACV da carne de novilho
84
entre 41% e 87%. Contudo o subsistema de criação de vitelos também apresenta uma
contribuição notória, em particular na categoria AC (55%). O subsistema abate dos
animais (SM) apresenta uma contribuição reduzida (menor que 8%)
Tabela 6.23 - Resultados da avaliação de impactes por kg de carne de bovino (peso de carcaça) associada ao sistema produção de carne de bovino (CB).
Categorial Ambiental Unidade SC_Ext SE_Int1 SM Total
Alterações Climáticas (AC) kg CO2 equivalente 10,6 7,83 0,829 19,26
Eutrofização de água doce (EAD) g P equivalente 0,493 1,26 0,153 1,91
Eutrofização marinha (EM) g N equivalente 8,48 62,8 0,474 71,79
Acidificação Terrestre (AT) kg SO2 equivalente 0,056 0,115 0,002 0,17
Figura 6.11 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de
bovino (CB).
Uma vez que os subsistemas SC_Ext e SM são comuns ao cenário A, nesta subseção é
apenas analisado com maior detalhe o subsistema SE_Int1, apresentado na figura 6.12.
Pela análise da figura, observa-se que os processos que mais contribuem para o impacte
abiental da recria e engorda de novilhos são a produção da alimentação (alimentos
concentrados e silagem de milho) e a fermentação entérica e gestão do chorume. Estes
três processos juntos dominam o impacte total deste subsistema, sendo responsáveis
por 92% a 95% do impacte total, dependendo da categoria de impacte. O impacte
ambiental resultante da produção de alimentos concentrados é dominante nas
categorias de impacte AT, EAD e ME, contribuindo aproximadamente com 53%, 60% e
76% para o ipacte total, respectivamente. Em todas as categorias de impacte, esta
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
AlteraçõesClimáticas
Eutrofização de águadoce
Eutrofizaçãomarinha
Acidificaçãoterrestre
Criação de vitelos em sistema extensivo (SC_Ext)
Recria e engorda em sistema intensivo (SE_Int1)
Abate dos animais (SM)
ACV da carne de novilho
85
contribuição deve-se essencialmente à aplicação de fertilizantes que originam a
libertação de de N2O, NOx e NH3 para a atmosfera e a escorrencia e lixiviação de PO43- e
NO3- para as massas de água, bem como devido aos consumos de combustíveis fósseis
em máquinas agrícolas. Na produção de silagem de milho, cuja contribuição varia entre
13% e 35%, além desta mesma razão, acrescem as emissões decorrentes da aplicação
de estrume, produzido na exploração bovina, nos solos das culturas de milho. A
fermentação entérica e gestão do chorume (estábulo e armazenamento) apresenta
uma contribuição notória nas categorias AC (29%), essencialmente devido às emissões
de CH4 entérico, seguido das emissões de N2O liertado no estábulo e durante o
armazenamento do estrume. O NH3 libertado do estrume também apresenta uma
contribuição importante para a categoria AT (32%).
Figura 6.12 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no subsistema SE_Int1 no CB.
6.3.3 Cenário C
A tabela 6.24 apresenta o desempenho ambiental da produção de carne de novilho,
considerado no cenário C, para as categorias de impacte seleccionadas.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
AlteraçõesClimáticas
Eutrofização de águadoce
Eutrofizaçãomarinha
Acidificaçãoterrestre
Alimentos concentrados Silagem de milhoSilagem de azevém EletricidadeAgentes químicos Fermentação entérica e gestão do estrumeGestão dos solos (aplicação de estrume no solo) Trasportes
ACV da carne de novilho
86
Tabela 6.24 - Resultados da avaliação de impactes por kg de carne de bovino (peso de carcaça) associada ao sistema produção de carne de bovino (CC).
Unidade SC_Ext_Bio SE_Int2 SM Total
Alterações Climáticas (AC) kg CO2 equivalente 13,9 4,51 0,829 19,280
Eutrofização de água doce (EAD) g P equivalente 0,730 0,487 0,153 1,371
Eutrofização marinha (EM) g N equivalente 5,145 71,8 0,474 77,463
Acidificação Terrestre (AT) kg SO2 equivalente 0,066 0,056 0,002 0,124
Pela análise da figura 6.13, verifica-se que a criação de vitelos (SC_EXT_Bio) é o subsistema
dominante em todas as categorias de impacte avaliadas (variando entre 53% e 72%), à
exceção da EM (7%), seguida da contribuição da recria e engorda dos vitelos
desmamados (SE_Int2), cuja contribuição para o impacte total varia entre 23% e 93%. O
subsistema SM, tal como nos cenários analisados anteriormente, apresenta uma
contribuição pouco importante em ralação ao impacte total da produção de carne de
bovino.
Figura 6.13 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de bovino (CC).
Quando analisadas as contribuições dos processos envolvidos no subsistema de criação
de vitelos em sistema extensivo e modo de produção biológico (SC_EXT_Bio), apresentadas
na figura 6.14, verifica-se que a produção dos alimentos concentrados, a fermentação
entérica emitida pelos animais e a gestão dos solos do pasto, isto é, as emissões
decorrentes da deposição das fezes e urina durante o pastoreio, bem como as emissões
resultantes da aplicação de fertilizantes nos pastos, representam uma grande influência
no impacte ambiental deste subsistema. Na categoria AC, a fermentação entérica é
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
AlteraçõesClimáticas
Eutrofização de águadoce
Eutrofizaçãomarinha
Acidificaçãoterrestre
Criação de vitelos em sistema extensivo, produção em modo biológico (SC_Ext_Bio)
Recria e engorda em sistema intensivo (SE-Int2)
Abate dos animais (SM)
ACV da carne de novilho
87
responsável por quase metade (aproximadamente 46%) dos impactes, seguido da
gestão dos solos (pasto), responsável por aproximadamente 37% do impacte, devido às
emissões de N2O para a atmosfera. A gestão dos solos do pasto também representa
uma contribuição notória para a categoria AT (88%), principalmente devido às emissões
de NH3 para a atmosfera; bem como para a categoria EAD, resultado da lixiviação e
escorrências de PO43-, consequência da deposição das fezes e aplicação de fertilizantes
fosfatados nos solos. A produção de alimentos concentrados contribui
significativamente para as categorias EAD e EM (27% e 64%), devido às emissões para
as massas de água, essencialmente consequentes da utilização de fertilizantes azotados
e fosfatados nas culturas agrícolas das matérias-primas dos alimentos concentrados.
Figura 6.14 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no subsistema SC_Ext_Bio no CC.
Dos processos envolvidos no subsistema recria e engorda em sistema intensivo (SE-Int2),
cuja contribuição se encontra apresentada na figura 6.15, observa-se que a produção
de alimentos concentrados é dominante nas categorias AC, EAD e EM, contribuído com
47%, 89% e 86% para o impacte total, respetivamente. Esta contribuição deve-se
essencialmente à produção e aplicação de fertilizantes nas culturas agrícolas dos
componentes da alimentação concentrada, mas também aos consumos de
combustíveis fósseis em máquinas agrícolas nessas culturas. De destacar a importância
da fermentação entérica e gestão do estrume (no estábulo e durante o
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
AlteraçõesClimáticas
Eutrofização de águadoce
Eutrofizaçãomarinha
Acidificaçãoterrestre
Alimentação concentrada Feno silagemPalha (trigo) FertilizantesMaquinaria agrícola Fermentação entérica e gestão do estrumeGestão dos solos (pasto) Transportes
ACV da carne de novilho
88
armazenamento), que contribui com aproximadamente 63% e 36% para as categorias
AT e AC, respetivamente.
Figura 6.15 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no subsistema SE_Int2 no CC.
6.3.4 Cenário D
A tabela 6.25 apresenta o desempenho ambiental da produção de carne de novilho,
considerado no cenário D, para as categorias de impacte seleccionadas. Pela figura 6.16,
que apresenta a contribuição relativa de cada subsistema, pode identificar-se a criação
de vitelos (SC_Ext) como subsistema dominante, já que a sua contribuição é superior a
96% em todas as categorias analisadas.
Tabela 6.25 - Resultados da avaliação de impactes por kg de carne de bovino (peso de carcaça) associada ao sistema produção de carne de bovino (CD).
Unidade SC_SI SM Total
Alterações Climáticas (AC) kg CO2 equivalente 21,4 0,829 22,2
Eutrofização de água doce (EAD) g P equivalente 3,78 0,153 3,93
Eutrofização marinha (EM) g N equivalente 50,7 0,474 51,2
Acidificação Terrestre (AT) kg SO2 equivalente 0,120 0,002 0,122
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
AlteraçõesClimáticas
Eutrofização de águadoce
Eutrofizaçãomarinha
Acidificaçãoterrestre
Alimentação concentrada Palha (trigo)
Maquinaria agrícola Fermentação entérica e gestão do estrume
Gestão dos solos (aplicação de estrume no solo) Transportes
ACV da carne de novilho
89
Figura 6.16 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no ciclo de vida da produção de carne de bovino (CD).
Pela figura 6.17, pode observar-se que que a produção de alimentos para os animais,
(tanto alimentos concentrados como forrageiros), as emissões da fermentação entérica
e as emissões decorrentes da deposição dos dejetos e urina nos pastos e da aplicação
do estrume produzido nos estábulos em solos agrícolas são os processos que
apresentam maior responsabilidade pelo impacte ambiental deste subsistema. Na
categoria AC, o CH4 e N2O emitido na fermentação entérica e na gestão do estrume no
estábulo são responsáveis por aproximadamente metade dos impactes desta categoria,
seguido das emissões N2O decorrentes da deposição das fezes e urina no pasto
(aproximadamente 13%) e das emissões resultantes da produção de alimentos
concentrados. Nas categorias EAD e EM, a produção de alimentos forrageiros domina
os impactes destas categorias (79% e 60%, respetivamente), principalmente devido à
produção e aplicação de fertilizantes nos solos das culturas. Finalmente na categoria AT,
a gestão dos solos (pastos e outros solos agrícolas onde é depositado o estrume) são os
processos que mais contribuem para o impacte desta categoria, essencialmente devido
às emissões de NH3.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
AlteraçõesClimáticas
Eutrofização de águadoce
Eutrofizaçãomarinha
Acidificaçãoterrestre
Criação de vitelos em sistema semi-intensivo (SC_SI)
Abate dos animais (SM)
ACV da carne de novilho
90
Figura 6.17 - Contribuição relativa (em %) dos subsistemas envolvidos no subsistema SC_Ext_Bio no CD.
6.4 Conclusões
Este estudo aborda os impactos ambientais associados à produção de carne de bovino
em Portugal a partir de uma perspectiva do berço-ao-portão do matadouro, utilizando a
metodologia de ACV. Neste âmbito, foram avaliados 4 cenários, que representam
diferentes sistemas e modos de produção. Este estudo permite não só a estimativa do
perfil ambiental por kg de carne de bovino (peso de carcaça), mas também a
identificação dos hotspots ambientais na cadeia de produção. A problemática da gestão
dos chorumes também foi abordada neste estudo.
As atividades envolvidas nas explorações bovinas, tanto de criação de vitelos, como de
recria e engorda de novilhos dominam o impacte total da produção de carne de bovino.
As atividades relacionadas com o matadouro apresentam um efeito muito pouco
importante.
Na produção animal, as atividades relacionadas com a produção de alimentos
compostos para os animais e a gestão do estrume produzido (maneio, armazenamento
e aplicação em solos agrícolas) são os principais responsáveis pelos impactes
ambientais. O impacte resultante da produção de alimentos deve-se essencialmente à
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
AlteraçõesClimáticas
Eutrofização de águadoce
Eutrofizaçãomarinha
Acidificaçãoterrestre
Alimentos concentrados Feno (aveia)Forragem (sorgo) Feno (pasto natural)Fertilizantes EletricidadeÁgua Maquinaria agrícolaFermentação entérica e gestão do estrume Gestão dos solos (pasto)Gestão dos solos (aplicação de estrume) Transportes
ACV da carne de novilho
91
produção de fertilizantes e a sua aplicação, mas também aos consumos de combustíveis
fósseis em máquinas agrícolas.
As variações de impacte entre cenários devem-se a muitos fatores. Nos sistemas com
uma alimentação à base de alimentos concentrados (produção intensiva), os animais
crescem mais depressa do que nos sistemas de pastoreio (produção extensiva). A dieta
em si pode afectar o consumo e as digestibilidades dos nutrientes e, como
consequência imediata, o desempenho dos animais, bem como a composição corporal
e a composição da carcaça (Fortin et al., 1980). Se por um lado o elevado consumo de
forragem pelos animais no pasto origina mais emissões de metano como resultado da
fermentação entérica e além disso o crescimento é mais lento, por outro lado é
importante considerar que os recursos usados para alimentar os amimais em produção
intensiva são consideravelmente maiores do que os animais produzidos de forma
extensiva.
Os resultados obtidos neste estudo estão dentro da gama de valores estimados noutros
estudos de ACV de carne de bovino: 17,8 – 27,3 kg CO2 eq/ kg de carne de bovino (peso
de carcaça) (Beauchemin et al., 2010; Pelletier et al., 2010; Rivera et al., 2014; Nguyen
et al., 2010; Williams et al., 2006). As elevadas cargas ambientais resultantes da
produção de carne de bovinos destacam a necessidade de mais estratégias de
mitigação focados nos hotspots identificados.
Anexo A
92
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Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural.
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Anexo A
94
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Anexo A
95
Anexo A
A tabela apresentada neste anexo indica os Consumo de gasóleo, usado pela maquinaria agrícola nas diversas operações agrícolas inerentes à
produção de silagem. Estes consumos incluem, para além das operações efectuadas nos terrenos de cultivo, a recolha do estrume e o seu
transporte desde a exploração até aos terrenos agrícolas onde é feito o espalhamento, bem como o transporte das silagens colhidas nos
terrenos agrícolas até aos silos da exploração. A definição das operações agrícolas e a descrição das características das maquinarias usadas foram
recolhidas na exploração avaliada, o tempo de utilização das máquinas em cada operação foi definida por especialistas em culturas forrageiras; o
consumo médio de gasóleo de cada maquinaria obtido a partir de Albino (2009).
Anexo A
96
Operações Agrícolas Caraterísticas da maquinaria agrícola Tempo de operação/ ano
Consumo do equipamento
Consumo de gasóleo/ano
Produção de silagem de milho (1 hectare) TOTAL 151 L
Preparação do solo Distribuição de estrume
1 Tractor de 75 CV + reboque + distribuidor de adubo 10 h/ha 7,00 L/h 70 L
Gradagem Tractor de 120 CV + charrua de aivecas 3,0 h/ha 10,8 L/h 32 L Adubação de fundo Tractor de 75 CV + distribuidor de adubo 0,5 h/ha 7,00 L/h 4 L Sementeira Semeio do milho Tractor 120 CV + Semeador de milho 0,5 h/ha 10,8 L/h 5 L Aplicação de herbicidas Pulverização de herbicidas Tractor 75 CV + Pulverizador 1,5 h/ha 7,00 L/h 10 L Colheita e ensilagem Corte da cultura Máquina automotriz (320 cv) 0,5 h/ha 25,2 L/h 13 L Transporte da forragem p/silo Trator 75 cv 1,5 h/ha 7,00 L/h 11 L Distribuição no silo e calcamento Trator 75 cv 0,5 h/ha 7,00 L/h 4 L
Produção de silagem de azevém (1 hectare) TOTAL 121 L
Preparação do solo Distribuição de chorume Tractor de 75 CV + reboque + distribuidor de chorume 10 h/ha 7 L/h 70 L Gradagem Tractor de 120 CV + grade de discos 1,25 h/ha Vibrocolutor Tractor de 75 CV + vibrocolutor 1 h/ha 10,8 L/h 11 L Cilindro Tractor de 75 CV + cilindro 1 h/ha 10,8 L/h 11 L Sementeira Semeio Tractor 120 cv + Semeador pneumático Deutz 1,25 h/ha 10,8 L/h 14 L Adubação de cobertura Tractor de 75 CV + distribuidor de fertilizante 0,5 h/ha 7 L/h 4 L Colheita e ensilagem Corte da cultura Máquina automotriz (320 cv) 0,5 h/ha 25,2 L/h 13 L Transporte da forragem para silo Tractor 75 cv 1,5 h/ha 7 L/h 11 L Distribuição no silo e calcamento Tractor 75 cv 0,5 h/ha 7 L/h 4 L
1 Inclui as operações de enchimento da cisterna, transporte do chorume até à cultura e espalhamento do chorume