Download - aula 1 Avançada
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 1/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 1
AULA PRIMEIRA
([email protected]/msn: [email protected])
Olá amigos,
Sejam muito bem-vindos ao nosso curso de Direito Penal. Não se
esqueçam de me enviar todas as dúvidas pelo Facebook (grupo: LÚCIO VALENTE –
DIREITO PENAL). As sugestões e críticas também serão sempre bem recebidas.
É muito importante que você obedeça a técnica de estudo apresentada
para este curso:
Técnica de estudo:
1º Faça uma primeira leitura da aula, buscando apenas um primeiro
contato com os tópicos. Nesse momento, sublinhe apenas palavras e termos
desconhecidos.
Tempo estimado: 30 min.
2º Faça nova leitura da aula. Nesse momento, o aluno deve
compreender cada ponto (perceba que divido minha aula em pontos, sendo que cada
um traz uma ideia central). Descubra o significado dos termos desconhecidos.
Tempo estimado: 2 horas.
3º Faça um resumo com as ideias centrais de cada ponto com palavras-
chave ou na forma de perguntas e respostas (ex.: Ponto 10: O que é conduta? R: é a
ação ou omissão humana consciente e voluntária voltada para uma finalidade).
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 2/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 2
Tempo estimado: 1 hora.
4º Memorize as palavras-chave ou as respostas.
Tempo estimado: 1 a 2 horas.
Obs.: peça pra alguém lhe “tomar” a aula ou finja que está ensinando
para alguém o que aprendeu (seu cachorro pode ser um ótimo aprendiz!).
5ª Estude as questões. Não as use como forma de teste. Leia cada uma
buscando as respostas no texto da aula ou nos comentários respectivos.
Tempo: 1h30min
6º Antes da aula seguinte, revise a aula estudada.
Tempo: 10 minutos.
7º Faça revisões semanais de todas as aulas já estudadas. Para isso,
releia seu resumo e só volte ao texto da aula quando precisar recordar determinados
pontos.
Obs.: divida o estudo da aula em, pelo menos, dois dias (ex.: 1º dia:
leitura e resumo; 2º dia: memorização e questões).
Antes de iniciarmos a primeira aula, solicito ao aluno que relembre
comigo a estrutura do crime apresentada na aula zero (demonstrativa).
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 3/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 3
Perceba que estamos estudando o fato típico. Dentro do fato típico
estamos estudando a conduta. Já estudamos que a conduta é a “ação ou omissão,
humana, consciente, voluntária e com finalidade”. Já estudamos (1) ação e omissão
{própria e imprópria}; (2) praticada por ser humano; (3) consciente; (4) voluntária; (5)
finalística.
Veja o gráfico:
1. Formas de conduta típica – Dolo e Culpa
O estudo do dolo e da culpa no âmbito da conduta é uma conveniência
didática. Na verdade, o dolo e a culpa são realidades típicas, leia-se, são elementos
pertencentes ao tipo penal e não à conduta. De fato, podemos afirmar que José agiu
fato típico
CONDUTA: (1) ação e omissão
{própria e imprópria}; (2) praticada
por ser humano; (3) consciente; (4)
voluntária; (5) finalística.
resultado
nexo causal
tipicidade
ilicitude
estado de
necessidade
legítimadefesa
estrito
cumprimento
do dever legal
exercício
regular do
direito
culpabilidade
imputabilidade
potencialconsciência
da ilicitude
exigibilidade
de conduta
diversa
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 4/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 4
com dolo ao matar João, mas não poderíamos dizer que José agiu com dolo ao beber
água para matar a sede. Claro, porque “matar a sede” não é algo previsto como uma
conduta típica, mas “matar alguém” sim.
A conduta penalmente relevante deve ser necessariamente típica, diga-
se, deve encontrar adequação a determinado tipo penal. Esse fenômeno somente podeocorrer com a existência de dolo ou culpa descritos nos tipos penais.
A conduta de disparar arma de fogo, como exemplo, pode ou não ter
relevância típica. Se tal ação ocorrer em um stand de tiros, durante treinamento militar,
será apenas mais uma conduta humana. Caso essa conduta ocorra em via pública (ex.:
pessoa que efetua disparo de arma de fogo para o alto) encontrará adequação a um tipo
descrito no Estatuto do Desarmamento. Nesse caso, a conduta dolosa está descrita no
tipo penal, trazendo relevância para o estudo do dolo.
Dessa forma, a abordagem que faço da conduta é do ponto de vista
jurídico-penal. Não falo aqui de qualquer conduta, mas somente daquela com
relevância típica. E conduta com relevância típica significa que ela está relacionada a
determinado tipo penal. De tal modo, não nos interessa a conduta de “pular”, mas nos
interessa muito a conduta de quem pula por sobre alguém causando-lhe lesões
corporais. Essa última é conduta com relevância típica.
É que os finalistas dividem o tipo penal em duas partes: a objetiva e a
subjetiva. A primeira conteria os aspectos objetivos do tipo (conduta, resultado
material, nexo causal etc.). A parte subjetiva do tipo estaria relacionada com a
representação anímica do agente (dolo e outros eventuais requisitos subjetivos). Pelo
princípio da congruência, a adequação típica (tipicidade) depende do encontro dessas
duas partes perfeitamente ajustadas.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 5/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 5
Essa concepção importa em demonstrar que a existência ou não do dolo
pode levar a adequação da conduta para tipos penais distintos. Existem tipos que
possuem apenas a forma dolosa (como no delito de dano); há outros que admitem
apenas a conduta culposa (ex.: homicídio culposo na direção de veículo automotor); há
outros, ainda, que admitem as duas formas (como no homicídio comum doloso e
culposo).
Se José, por exemplo, atropela dolosamente João desejando-lhe a morte,
não poderá ter cometido um delito de trânsito, uma vez que o tipo respectivo não
admite a forma dolosa. A adequação ocorrerá, deste modo, ao tipo do art. 121 do
Código Penal. Veja a seguinte questão:
( CESPE - 2011 - PC-ES - Delegado de Polícia ) É admissível a
denominação de crime de trânsito para a conduta de dano cometida com dolo, a
exemplo daquele que, intencionalmente, utiliza o seu veículo para a prática de um
crime.
Resposta: errado.
Feitas essas observações, prefiro manter o estudo do dolo e da culpa na
conduta (típica), por ser didaticamente mais adequado.1
Muito bem. Como eu já tive a oportunidade de explicar, a conduta pode
ser praticada por um fazer (ação) ou um não fazer (omissão). Ocorre que determinada
1 O professor Cleber Masson (Direito Penal Esquematizado, 4ª Edição, Ed, Método, pg. 263) assiminicia seu estudo de dolo: “ O dolo, no conceito finalista de conduta, integra a conduta. Pode, assim, serconceituado como elemento subjetivo do tipo. É implícito e inerente a todo crime doloso.” (grifei)
Como expliquei, o dolo pertence ao tipo e, por consequencia, à conduta típica dolosa (conduta descritano tipo penal doloso).
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 6/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 6
conduta típica ativa ou omissiva pode ainda ser classificada como dolosa ou culposa. É
isso que vamos ver a partir de agora.
2. O Dolo: O Código Penal prevê o conceito de dolo em seu artigo 18,
da seguinte maneira:
“Diz-se o crime: I - doloso, quando o agente quis o resultado (dolo
direto) ou assumiu o risco de produzi-lo (dolo eventual)”. Art. 18 do CPB.
Como se vê, a lei previu apenas duas hipóteses de “dolo”: o direto e o
eventual.
3. Há no conceito de dolo dado pelo artigo 18 do CPB duas teorias
que o explicam: a teoria da vontade (querer o resultado) e a teoria do assentimento ou
da aceitação (assumir o risco de produzir o resultado). Portanto, é doloso tanto quem,
por exemplo, quer matar, como quem, mesmo não querendo, assume o risco de
produzir o resultado morte.
TEORIAS DO DOLO
TEORIA DA VONTADE
(DOLO DIRETO)
Querer o resultado
TEORIA DOASSENTIMENTO
(DOLO EVENTUAL)
Aceitação do resultado
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 7/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 7
Segundo a redação do artigo 18, I, do Código Penal (“Diz-se o crime: I –
doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”), é possível
concluir que foi adotada (Delegado de Polícia/NCE-UFRJ/PCDF/2005):
a) a teoria do assentimento;
b) a teoria da representação;
c) as teorias do assentimento e da representação;
d) as teorias do assentimento e da vontade;
e) as teorias da representação e da vontade.
RESPOSTA: D
Vamos iniciar o estudo a partir dessa classificação feita pela lei. Após,
veremos classificações para o dolo dadas pela doutrina e que, por isso, são comuns em
provas. Só gostaria de ressaltar que, basicamente, o dolo ou é direto ou é eventual.
Qualquer outra classificação de dolo é meramente doutrinária.
Preparado? Então, vamos lá!
4. Dolo direto (o sujeito quer o resultado)
Sábado, dia 24 de dezembro, véspera de Natal. Imagine-se tentando
estacionar seu veículo no Park Shopping. Dá stress só de pensar, não é mesmo?
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 8/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 8
Um velho senhor chega com seu carro para comprar o presente do neto.
Após rodar por mais de uma hora a procura por uma vaga, eis que surge uma luz de ré. É
um carro saindo e liberando uma vaga.
Aquele senhor espera o carro sair com seta ligada, indicando que vai
estacionar naquele local. Quando vai parar seu carro, outro sujeito acelera e coloca ocarro na vaga que ele estava esperando.
- Amigo, me desculpe, mas eu estava esperando essa vaga!
- “Qualé” tio, o mundo é dos “eshhpertoshh”! Procura outra vaga!
Então, o rapaz sai caminhando rindo do velho senhor.
Aquele senhor que nunca antes havia praticado qualquer crime em sua
vida, acelera o carro e atropela o rapaz. Após, engata a marcha ré e o atropelanovamente. Por fim, engata a primeira marcha e o atropela pela terceira vez para ter
certeza que o matou.
Aquele senhor quis matar a vítima?
Bom, se ele não quis, eu não sei mais o que é querer!
Como o diz o povão: “ele quis DE COM FORÇA!”
Esse é, portanto, o Dolo Direto. No caso, o agente dirigiu sua vontadefinal para o resultado criminoso. Diga-se, ele quis o resultado criminoso. DOLO DIRETO
SIGNIFICA QUERER O RESULTADO DESCRITO NO TIPO.
5. Como se vê, o dolo direto exige dois elementos para sua
configuração:
a. Um elemento intelectual: conhecimento atual das circunstâncias
de fato do tipo penal (ex.: José sabe que “mata alguém”). O desconhecimento atual de
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 9/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 9
circunstâncias fáticas (leia-se do fato concreto) leva ao denominado “erro de tipo”, que
afasta o dolo (ex.: José, ao matar alguém, pensa que mata uma onça).
b. Um elemento volitivo: representado por “querer”
incondicionalmente o resultado descrito no tipo penal (Ex.: José efetua disparo contra
João, sabendo tratar-se de uma pessoa (elemento intelectual) e pretendendo ceifar sua
vida (elemento volitivo)).Obs.: a vontade de ser capaz de causar fisicamente o resultado real,
permitindo definir o resultado típico como “obra do autor”. Assim, se José envia João
para um passeio de barco querendo sua morte, mas não se envolve em nenhum ato que
leve a esse resultado, o naufrágio causado por uma forte e inesperada tempestade não
pode ser atribuído a José. O resultado, como se vê, é obra do acaso e não da conduta do
autor, que não poderá responder pela morte. Nesse ponto, podemos dizer que José
“desejou” a morte de João, o que não é suficiente para caracterizar o dolo.
A “teoria da imputação objetiva”, como veremos, pretende explicar
essa não imputação com critérios diferentes. Voltaremos ao tema em momento
oportuno.
Quais são os elementos do dolo direto?
Diferencie “desejo” de causar o resultado de “vontade” dirigida ao
resultado.
6. Nesse querer do dolo direto, estão implícitas duas situações: o
resultado e o meio para esse resultado. Desse raciocínio nascem dois tipos de dolosdiretos, o dolo direto de primeiro grau e o dolo direto de segundo grau. Vamos lá,
então:
7. O dolo direto pode ser subdividido em:
DOLO DIRETO DE PRIMEIRO GRAU: a vontade abrange o resultado
típico como fim em si;
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 10/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 10
DOLO DIRETO DE SEGUNDO GRAU (OU DE CONSEQUÊNCIAS
NECESSÁRIAS): o resultado típico é uma consequência necessária dos meios eleitos
(escolhidos) para o cometimento do crime.
Para Hans Welzel, idealizador da teoria finalista da ação, a vontade final
do agente abarca também os efeitos concomitantes da conduta. A explicação seria a deque quando o ser humano age, ele calcula, em certa medida, os efeitos colaterais de seu
ato.
O exemplo seria aquele em que o sujeito quer matar o presidente que
está em um avião. Para isso, coloca uma bomba no avião e acaba matando, além do
presidente, outras pessoas que ali estavam. Ao eleger como ação final a morte da vítima
por explosão da aeronave, considerou segura ou, no mínimo, contou como certa, a
morte das outras vítimas. O resultado é, assim, resultado do seu “querer” final.
Observe!
O Dolo direto de primeiro grau existe em relação à morte do presidente.
O Dolo direto de segundo grau existe em relação às outras pessoas que
morrerão, porquanto era uma consequência necessária da conduta, dentro do que foi
planejado.
Igualmente, no caso do assassínio de irmãos xifópagos (siameses). Dentro
do querer matar um dos irmãos, o autor, automaticamente, “quer” indiretamente amorte do outro, sendo essa uma consequência necessária de seu ato.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 11/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 11
Outro exemplo de dolo direto de 2º grau:
O agente quer afundar seu barco para receber o seguro, o que
configuraria fraude para recebimento de seguro (Art. 171, inciso V, do CPB). Ele tem
certeza que quando fizer isso vai acabar matando seu funcionário que pilota a
embarcação. Bom, se ao afundar o barco ele teve certeza que ia matar o funcionário,
ele de certa forma também QUIS a morte do rapaz.
Dolo direto de primeiro grau em relação à fraude e dolo direto de
segundo grau em relação à morte.
8. Mas, Valente, o dolo direto de segundo grau é muito parecido com
o dolo eventual (quando o agente aceita ou assume o risco)!
Sim, é verdade! Mas no dolo direto de segundo grau ele tem certeza que
a consequência necessária para a finalidade dela ocorrerá. Já no dolo eventual, o
resultado pode “eventualmente ocorrer”.
DOLO DIRETO
O AGENTE QUER ORESULTADO CRIMINOSO
DOLO DIRETO DEPRIMEIRO GRAU = A
VONTADE SE REALIZACOM A PRODUÇÃO DO
RESULTADO FINAL
DOLO DIRETO DESEGUNDO GRAU = SÃO
AS CONSEQUÊNCIASNECESSÁRIAS DA AÇÃO
DO AGENTE
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 12/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 12
POR EXEMPLO, SE ACELERO O MEU CARRO A 160 KM/H EM ÁREA
ESCOLAR E SOU INTERPELADO PELO CARONA QUE DIZ: “VALENTE, DESSE JEITO VOCÊ
VAI ACABAR MATANDO UMA CRIANÇA QUE EVENTUALMENTE ATRAVESSE A RUA”. SE
MINHA RESPOSTA FOR: “DANE-SE! SE OCORRER, TANTO PIOR PRA ELA!” ESTOU AGINDO
COM DOLO EVENTUAL, OU SEJA, PODE SER QUE OCORRA OU NÃO.
Bom, para que você compreenda isso melhor, vamos ao estudo do dolo
eventual.
9. Dolo indireto (eventual) - (não quer o resultado, mas aceitacorrer o risco.)
Caso dos mendigos Russos (Löffler): Durante a Revolução Russa
(Revolução Socialista de Lênin, 1917), mendigos mutilavam seus filhos para aumentar a
compaixão pública. Ao fazê-lo o pedinte toma como possível a morte do filho, mas isso
não o detém de praticar o ato – dolo eventual, portanto.
DOLO DIRETO DE 1ºGRAU X DOLO EVENTUAL
DOLO DIRETO DE 1ºGRAU = É UMACONSEQUÊNCIA CERTADA MINHA FINALIDADE
(GRANDE GRAU DECERTEZA)
DOLO EVENTUAL = PODESER QUE OCORRA OU
NÃO (APENASPOSSIBILIDADE)
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 13/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 13
Perceba que o mendigo não quer que a criança morra, até porque seria
pior para conseguir esmolas, já que a cena de uma criança sempre toca as pessoas. Mas,
no caso concreto, se você perguntasse ao mendigo: “Você não vê que esta criança pode
pegar uma infecção em meio a tanta sujeira?” Ele pode responder: “Bom, se morrer,
pior pra ela. Seja como for, não paro a minha conduta. Ou seja, DANE-SE!”
Outro exemplo seria do médico que não possui especialidade em cirurgia,
mas resolve, mesmo assim, submeter um paciente a cirurgia de lipoaspiração. O médico
tem consciência que pode levar o paciente à morte, mas isso não impede de prosseguir,
uma vez que receberá um bom dinheiro pela cirurgia. O médico pensa com ele mesmo:
-“Bom, querer matar eu não quero, mas se a paciente morrer tanto pior
para ela! Dane-se!”
Nas duas situações o agente aceita a produção do resultado. Diga-se,percebe que é possível a ocorrência do resultado gravoso e assume o risco de produzir
esse mesmo resultado.
Como se vê, no dolo eventual, o agente prevê a possibilidade do
resultado criminoso, mas não o quer diretamente. Em verdade, pode ser que o
resultado criminoso seja até desinteressante para o agente (no caso do mendigo russo,
perder a criança poderia significar menos esmolas), porém a previsão da ocorrência do
resultado não impede que o agente prossiga em sua conduta. É como se dissesse para si
mesmo: “haja o que houver, ocorra o que ocorrer, não paro minha conduta”.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 14/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 14
(Analista – MPU – 2007) João, dirigindo um automóvel, com pressa de
chegar ao seu destino, avançou com o veículo contra uma multidão, consciente do
risco de ocasionar a morte de um ou mais pedestres, mas sem se importar com essa
possibilidade, João agiu com
a) culpa
b) dolo indireto
c) culpa consciente
d) dolo eventual
Resposta: D
( FCC - 2010 - TRE-AL - Analista Judiciário-adaptada ) Há dolo eventual
quando o agente, embora prevendo o resultado, não quer que ele ocorra nem assume
o risco de produzi-lo.
Resposta: Errado
10. Neste momento, preciso falar uma coisa importante: o
posicionamento dos tribunais, em maioria, é de que o dolo direto e o dolo eventual são
DOLOEVENTUAL
PREVISÃO DORESULTADO +ACEITAÇÃO
DESSERESULTADOPREVISTO
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 15/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 15
equiparados pela lei. Quero dizer, tudo que cabe para o dolo direto, cabe para o dolo
eventual.
Diz o Ministro Francisco Campos na Exposição de Motivos do Código de
1940:
“Segundo o preceito do art. 15, I, o dolo existe não só quando o agente
quer diretamente o resultado (effetus sceleris), como assume o risco de produzi-lo. O
dolo eventual é, assim, plenamente equiparado ao dolo direto. É inegável que arriscar-
se conscientemente a produzir um evento vale tanto quanto querê-lo.” Assim, a lei
equiparou o dolo direto ao eventual, não sendo correto dizer que um é mais grave do
que o outro.”
Valente, qual a importância disso?
Isso é importante para você acertar questões como a seguinte:
( CESPE - 2010 - DPU - Defensor Público ) Em se tratando de homicídio, é
incompatível o domínio de violenta emoção com o dolo eventual.
Antes de qualquer coisa, lembre-se que a assertiva está se referindo a
uma causa de diminuição de pena existente no homicídio que é: “ praticar o fato sob
domínio de violenta emoção, logo após a injusta provocação da vítima” (Art. 121, § 1º,
CPB).
Realmente, é difícil pensar nessa causa de diminuição com dolo eventual.
Mas, pense na situação do sujeito que tem seu inimigo em frente a seu carro,
impedindo a passagem e, ao mesmo tempo, xingando a vítima de “corno” na presença
dos filhos deste. O motorista acelera o carro, dominado por violenta emoção provocada
por ato injusto da vítima, assumindo o risco de matá-la. Ao praticar tal conduta, acaba
por causar sua morte.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 16/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 16
Eu disse que: “TUDO QUE CABE PARA O DOLO DIRETO, CABE PARA O
EVENTUAL.” Então não tenha dúvida de marcar a questão como ERRADA. Ou seja, é
plenamente compatível o dolo eventual como “domínio de violenta emoção”.
Outra pergunta: cabe tentativa em dolo eventual?
A doutrina se divide, mas marque na prova como te ensinei: TUDO QUE
CABE PARA O DOLO DIREITO, CABE PARA O EVENTUAL. A resposta é sim, portanto.
Dica: sempre que o cespe afirmar que “cabe determinada situação para
o dolo eventual”, como nos exemplos acima, a resposta será CORRETA.
11. Posição divergente: o STF, no entanto, entende ser incompatível o
dolo eventual com a qualificadora do homicídio consistente em praticar o fato com
recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido.
INFORMATIVO Nº 618
TÍTULO
Dolo eventual e qualificadora: incompatibilidade
TUDO QUE COUBERPARA O DOLO DIRETO,
CABERÁ PARA O DOLOEVENTUAL
Cabe tentativa emdolo eventual
O dolo eventual écompatível com
qualquer qualificadorado homicídio
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 17/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 17
ARTIGO
São incompatíveis o dolo eventual e a qualificadora prevista no inciso IV do § 2º do
art. 121 do CP (“§ 2º Se o homicídio é cometido: ... IV - à traição, de emboscada ou
mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do
ofendido”). Com base nesse entendimento, a 2ª Turma deferiu habeas corpus
impetrado em favor de condenado à pena de reclusão em regime integralmente
fechado pela prática de homicídio qualificado descrito no artigo referido. Na espécie, o
paciente fora pronunciado por dirigir veículo, em alta velocidade, e, ao avançar sobre a
calçada, atropelara casal de transeuntes, evadindo-se sem prestar socorro às vítimas.
Concluiu-se pela ausência do dolo específico, imprescindível à configuração da citada
qualificadora e, em conseqüência, determinou-se sua exclusão da sentença
condenatória. Precedente citado: HC 86163/SP (DJU de 3.2.2006). HC 95136/PR, rel.
Min. Joaquim Barbosa, 1º.3.2011. (HC-95136)
O dolo eventual, como falei, é em tudo equiparável ao dolo direto.
Recentemente, por exemplo, ocorreu um fato em Porto Alegre que todos irão se
lembrar. Um motorista avançou sobre ciclistas que faziam protesto em uma via pública
da capital gaúcha (Veja o vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=8Z2V4BNcLgo&feature=related).
Não tenho dúvidas em afirmar que o agente agiu com dolo eventual e
deverá, portanto, responder por tentativa de homicídio qualificado pelo recurso que
impossibilitou a defesa do ofendido. Não vejo, dessa forma, qualquer incompatibilidade
entre os institutos e penso estar muito bem acompanhado pelo STJ. Senão, vejamos
julgado recente:
Consoante já se manifestou esta Corte Superior de Justiça, a qualificadora
prevista no inciso IV do § 2.º do art. 121 do Código Penal é, em princípio, compatível
com o dolo eventual, tendo em vista que o agente, embora prevendo o resultado morte,
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 18/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 18
pode, dadas as circunstâncias do caso concreto, anuir com a sua possível ocorrência,
utilizando-se de meio que surpreenda a vítima (STJ, HC 120.175/SC, DJe 29/03/2010)
De qualquer sorte, o posicionamento apresentado pela Turma do STF
deverá ser considerado para provas futuras, apesar de não ser jurisprudência
majoritária. O fato é que os examinadores não têm feito diferenciação entre“jurisprudência” (decisão reiterada de um Tribunal dando determinada interpretação a
um instituto jurídico no fato concreto) de “precedente” (decisão ou decisões não
reiteradas de órgão singular ou colegiado de Tribunal).
12. Elementos subjetivos especiais
José, médico ginecologista, é procurado por Maria para realização de
exame clínico. José solicita que Maria se deite em uma cama em posição ginecológica.
Então, após calçar a luva, introduz o dedo indicador na vagina de Maria.
Podemos afirmar, com certeza, que José consciente e voluntariamente
introduziu seu dedo na vagina de Maria. Tem, por conseguinte, conhecimento e vontade
de praticar um crime?
Em princípio, não. Veja que o especial fim de agir de José, suas intenções,
suas tendências internas, suas atitudes psicológicas não foram libidinosas (leia-se, de
caráter sexual).
Podemos afirmar, então, que ao lado do dolo, a lei pode exigir do sujeitoativo determinada atitude psicológica. No estupro, a finalidade de satisfação sexual; no
furto, a intenção especial de se apropriar da coisa; a finalidade de uso pessoal, no crime
de porte de drogas para uso próprio; a tendência de extrapolar os limites de sua
autoridade, no abuso de autoridade; a finalidade de manchar a reputação social da
vítima na calúnia e difamação, e por aí vai.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 19/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 19
13. Esses elementos subjetivos especiais eram antes apelidados de
“dolo específico”. Atualmente, a denominação “elemento subjetivo especial do tipo ou
do injusto” é mais utilizada.
Bom, a identificação dessas características especiais de cada tipo penal é
um trabalho a ser realizado tipo por tipo na parte especial do Código Penal. De qualquerforma, é importante entender o esquema geral de classificação de tais tipos penais. Com
efeito, a doutrina classifica os elementos subjetivos especiais do tipo em:
a. Delitos de intenção (ou de tendência interna
transcendente): ocorre quando o tipo penal descreve um propósito que não precisa se
realizar concretamente, mas que deve ser finalidade do autor. Na extorsão mediante
sequestro (CPB, art. 159), por exemplo, a lei descreve a conduta de quem sequestra
pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição
ou preço do resgate. O sequestrador, nesse caso, deve ter um propósito bem definido:obter o resgate. Ocorre que, mesmo que esse propósito não se cumpra (ex.: a vítima é
encontrada pela polícia antes do pagamento) o crime já se realizou.
Os delitos de intenção são subdividos em:
i. Delitos de resultado cortado: em que o resultado pretendido não
exige ação complementar do autor .
O furto é um exemplo de delito de intenção com resultado cortado. O art.
155 do CPB descreve: subtrair coisa alheia móvel com a finalidade de (para) ter para si
ou para outrem.Assim, temos:
Subtrair coisa alheia móvel : dolo genérico.
Para si ou para outrem: dolo específico (elemento subjetivo especial) é
por isso que não se pune o “furto de uso”, ou seja, aquela situação em que o sujeito
“toma emprestada” a coisa sem autorização do dono. Se não existe finalidade de ficar
definitivamente com a coisa, não existe furto.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 20/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 20
Pois bem, essa finalidade especial não exige uma segunda ação do autor,
bastando que exista a finalidade especial em sua mente.
Outros exemplos de delitos de intenção com resultado cortado: com o fim
de obter (art. 159, CPB – extorsão mediante sequestro); com o fim de transmitir a
outrem moléstia grave de que está contaminado (art. 131, CPB – perigo de contágio demoléstia grave); etc.
ii. Delitos mutilados de dois ou mais atos: em que o resultado
complementar exigiria outras ações por parte do criminoso.
Um sujeito que falsifica cédula de Real, por exemplo, tem alguma
finalidade especial ao praticar o falso (ex.: praticar estelionato). Entretanto, esse
resultado posterior, que não faz parte do tipo de falso, depende de uma ou várias açõesdo sujeito ativo. Por isso, diz-se que o crime foi mutilado em dois ou mais atos.
( CESPE - 2010 - MPE-RO - Promotor de Justiça) No tocante aos delitos de
intenção, assim conceituados por parte da doutrina, há as intenções especiais, que
dão lugar aos atos denominados delitos de resultado cortado, tais como o crime de
extorsão mediante sequestro, e os atos denominados delitos mutilados de dois atos,
tais como o crime de moeda falsa.
Resposta: correto.
b. Delito de tendência intensificada: a ação do autor
está contaminada por uma tendência psicológica que só existe em sua mente. Se
tirarmos uma foto da situação, não poderemos dizer se o fato é criminoso ou não. Na
maioria das vezes, esses fatos passam sem a percepção de qualquer pessoa, pois o dolo
específico só existe no coração do agente.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 21/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 21
Em uma situação real, uma mulher procurou a delegacia para relatar que,
quando esteva internada em determinado hospital, foi examinada por um médico, o
qual apalpou seios. A situação não despertaria qualquer alarde, uma vez que, ao que
parece, o exame clínico seria coerente com a enfermidade da vítima. Entretanto, o
doutor, ao praticar tal conduta, disse para a vítima: “dá até vontade de beijá-los.”
Veja que o aspecto libidinoso é o que permite diferir um simples exame
clínico de um eventual delito sexual.
c. Delitos de expressão: é o que se caracteriza pela
existência de uma desconformidade entre a expressão e a convicção pessoal do autor
(ex.: no falso testemunho, o agente diz que não viu o suspeito (expressão mentirosa),
quando tem convicção de que viu).
PEGANDO O FIO DA MEADA
elementosubjetivo do
injutos
delito deintenção
resultado cortado
mutilados emvários atos
tendênciaintensificada
delitos deexpressão
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 22/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 22
1. A CONDUTA ATIVA OU OMISSIVA PODE SER PRATICADA
DOLOSAMENTE OU CULPOSAMENTE;
2. O DOLO PODE SER DIRETO OU EVENTUAL (INDIRETO);
3. NO DOLO DIRETO O SUJEITO QUER O RESULTADO (TEORIA DA
VONTADE);
4. O DOLO DIRETO PODE SER DE 1º E DE 2º GRAUS;
5. NO DOLO DIRETO DE PRIMEIRO GRAU O AGENTE VISA A UM FIM
DETERMINADO;
6. NO DOLO DIRETO DE SEGUNDO GRAU O AGENTE PRATICA OUTRO
CRIME COMO UMA CONSEQUÊNCIA NECESSÁRIA DENTRO DO PLANEJAMENTO QUE
ELE ARQUITETOU.
7. NO DOLO EVENTUAL O SUJEITO ACEITA PRODUZIR O RESULTADO(TEORIA DO ASSENTIMENTO);
8. TUDO QUE CABE PARA O DOLO DIRETO, CABE PARA O DOLO
EVENTUAL (EXEMPLO: TENTATIVA).
9. O STF ENTENDE NÃO SER COMPATÍVEL DOLO EVENTUAL COM A
QUALIFICADORA DA SUPRESA NO HOMICÍDIO.
10. OS ELEMENTOS SUBJETIVOS ESPECIAIS REPRESENTAM UM ESPECIAL
FIM DEAGIR POR PARTE DO AGENTE.
14. Bom, como eu falei agora a pouco, o Código Penal (art. 18) apenas
classificou o dolo em DIRETO e EVENTUAL. Todavia, existem outras classificações para o
DOLO que devem ser estudadas. Lembro que, de uma forma ou de outra, o dolo será
direto ou eventual.
PARA APROFUNDAR!
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 23/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 23
Outras classificações do dolo:
a. Dolo alternativo: o autor quer, de forma indiferente, um ou outro
resultado ( Ex.: Caio atira em Mévio, pouco importando para matá-lo ou feri-lo).
b. Dolo cumulativo: O agente pretende alcançar dois resultados, emsequência.
O exemplo pode ser o de que o agente deseja espancar a vítima e, só
depois, matá-la. No caso, a lesão ficará absorvida pelo homicídio se for meio para a
realização deste.
c. dolo de ímpeto (ação dolosa sem cogitação, sem premeditação):
impulsivo, não presumido.
Ocorre muitas vezes em discussões de trânsito em que o agente efetuaum disparo na vítima após tomar uma fechada.
d. Dolo específico: (também chamado de elemento subjetivo do tipo ou
delito de tendência) – quando a lei especifica o tipo de crime, “com o fim de, com a
finalidade de, com o intuito de, com a intenção de”.
Exemplo: “Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate” (Extorsão mediante
seqüestro, art. 159 do CPB).
(CESPE_Procurador do MP_TC_GO_2007) No crime de falsificação de
documento público o dolo é específico.
Resposta: Errado
(CESPE_Procurador do MP_TC_GO_2007) Para a configuração do crime
de peculato-desvio, é necessária a presença do dolo genérico e do dolo específico.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 24/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 24
Resposta: Correto.
e. Dolo geral (Ex. o sujeito quer matar por veneno, mas mata enforcado
simulando o suicídio)
No dolo Geral teríamos uma só conduta, dividida em dois ou mais atos: o
agente dispara contra a vítima, que desmaia; ele pensa que a vítima já morreu e joga
seu corpo ao rio para encobrir o crime anterior; descobre-se depois que ela morreu não
pelo disparo, mas sim pelo afogamento. Quis matar e, de fato, matou, respondendo
pelo resultado normalmente. O dolo geral é também denominado “erro sobre o nexo
causal”.
Por que a denominação “dolo geral”?
Porque o dolo do agente o acompanha até o resultado, mesmo que este
não advenha da forma como imaginou inicialmente.
RESUMINDO: QUIS MATAR, MATOU!
Obs.: O dolo geral é tratado pela doutrina como uma forma de erro (erro
sobre o nexo causal). Voltaremos ao assunto em aula específica.
f. Dolo de perigo: em verdade, não é propriamente o dolo que é de
perigo, mas o tipo penal (tipo de perigo concreto ou de perigo abstrato).
Os doutrinadores dividem os TIPOS DE PERIGO em:
(a) perigo abstrato (ex.: omissão de socorro), onde o perigo não precisa
ficar demonstrado, pois ele se presume;
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 25/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 25
(b) perigo concreto (Ex.: Periclitação à vida ou à saúde de outrem), onde o
crime só se consuma com a demonstração efetiva do perigo para pessoa(s)
determinada(s).
Imagine que o sujeito saiba que é portador de uma moléstia venérea, o
que não impede de manter relações sexuais desprotegido com uma moça, sem alertá-la
dessa situação. Bom, no caso, a vítima ficou CONCRETAMENTE em perigo. Mesmo que
não lhe seja transmitida a doença, o agente responde pelo crime de “perigo de contágio
venéreo” (Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a
contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado, art.
130 do CPB). Referido crime é de perigo concreto, tendo de existir demonstração do
efetivo perigo.
Caso a doença seja transmitida à moça, o crime será de LESÕES
CORPORAIS (Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem, ART. 129 do CPB),
uma vez que o PERIGO se transformou em LESÃO.
Diferente seria o caso de alguém andar armado. Não se faz necessário
que fique demonstrado que determinada pessoa ou grupo de pessoas tenha sido
concretamente colocado em perigo com essa conduta. Isso porque se presume que
andar armado ilegalmente seja algo perigoso.
Assim, porte ilegal de arma de fogo (art. 14, Lei 10.826/03) é crime de
perigo abstrato, vez que o perigo se presume.
DOLO DE PERIGO
Abstrato: se
presume
Concreto: não sepresume
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 26/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 26
15. A culpa
Diz-se o crime culposo (ou não intencional) quando o agente não quer o
resultado, nem mesmo assume o risco de produzi-lo, porém, por inobservância do dever
de cuidado e diligência, na forma de imprudência, negligência e imperícia acaba
causando um resultado criminoso.
Em uma noite de sábado, José dirige seu carro para a casa de sua
namorada. Durante o trajeto, utiliza-se de seu celular para enviar uma mensagem detexto para ela, avisando sua chegada. Ao fazer isso, tira o foco da direção e acaba por
atropelar uma velhinha que atravessava a rua em uma faixa de pedestres.
Ao retirar sua atenção da pista para utilizar o celular, José quebrou um
dever de cuidado a que todos os motoristas estão obrigados. Ao atropelar e matar a
velhinha poderá responder pelo resultado, mesmo que não intencional.
OUTRASFORMAS DE
DOLO
Dolo alternativo
Dolo de perigo
Dolo cumulativo
Dolo específico
Dolo geral
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 27/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 27
Pergunto: Existiu vontade (voluntariedade) na conduta de José?
Sim, claro! TODA CONDUTA TEM VOLUNTARIEDADE, lembra-se?
Lembrando os elementos da conduta:
O que ocorre na conduta culposa é que a vontade não é dirigida
(finalisticamente) para algo criminoso. Veja que José, por exemplo, apenas queria
mandar uma mensagem para sua namorada, mas por imprudência acabou causando um
acidente.
Assim, o elemento essencial do injusto culposo não é o resultado em si
(ex.: atropelamento), mas a forma de conduta descuidada que levou ao resultado. Se há
quebra do dever de cuidado, há culpa (ex.: atropelamento por desrespeito às normas de
trânsito). Caso contrário, não há culpa (ex.: não há culpa pelo resultado na conduta do
motorista que atropela alguém que se joga de forma suicida em frente ao veículo).
CONDUTA
AÇÃO OUOMISSÃOHUMANA
CONSCIENTE
VONTADE
FINALIDADE
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 28/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 28
A culpa, portanto, é a quebra de um dever objetivo de cuidado.
Por cuidado objetivo, devemos levar em conta que a vida em sociedade
produz determinados riscos (tráfego de veículos, construções de edifícios, manipulação
de objetos perigosos etc.). Os riscos, basicamente, podem ser permitidos (ex.: tráfego
de veículo com obediência às normas de trânsito), e riscos não tolerados (ex.: cirurgia
médica sem que o profissional tenha sido treinado adequadamente). Os crimes culposos
nascem, justamente, do segundo grupo. Aquele que causa um acidente após imprimir
velocidade acima daquela de segurança da via, poderá responder pelo resultado danoso
(ex.: morte do outro motorista.
Como bem ensina Welzel, com a observância do cuidado objetivo (no
caso, com a observância das regras de trânsito) desaparece o crime culposo. “Se se
produz a lesão de um bem jurídico como consequência de uma ação desse tipo, trata-se
de uma desgraça, mas não de um injusto”.
O princípio que fundamenta os delitos culposos pode ser compreendido
pelo antigo brocardo latino: Quidquid agis, prudenter agas et respice finem (Qualquer
coisa que faças, faze-o com prudência e considere o resultado).
16. Como alguém pode quebrar o dever de cuidado?a. Por Imprudência: é um fazer descuidado
Exemplo: acelerar o veículo acima da velocidade permitida.
b. Por negligência: é um não fazer descuidado;
Exemplo: deixar de fazer a manutenção do veículo.
c. Por Imperícia: é um não saber fazer (falta de habilidade técnica).
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 29/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 29
Exemplo: dirigir o veículo sem ter carteira de habilitação.
17. Classificação de Culpa
Observe uma coisa: o Direito Penal nunca pune qualquer pessoa por
resultados que ocorram extraordinariamente fora da possibilidade de previsão. Quero
dizer que, se o resultado for imprevisível, o agente não se responsabiliza por ele.
Muito bem. Se o resultado é previsível (leia-se, uma pessoa de mediana
inteligência pode prever) pode ocorrer de o sujeito prever ou não esse resultado. Digo,
pode prever ou não prever o previsível.
Dentro desse raciocínio surgem dois tipos de culpa: a culpa consciente
(com previsão) e a culpa inconsciente (sem previsão).
Tenha calma e vamos lá!
18. A culpa pode ser consciente ou inconsciente.
a. Culpa Consciente (com previsão): é aquele que o sujeito prevê o
resultado, mas acredita sinceramente que não ocorrerá.
Lembro que quando eu era criança, meu pai me levou ao circo no dia do
meu aniversário de sete anos. Uma das atrações do circo era o atirador de facas. O
sujeito atirava as facas em direção a uma moça presa a uma roda em movimento.
FORMAS DECULPA
IMPRUDÊNCIA NEGLIGÊNCIA IMPERÍCIA
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 30/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 30
Pense! O sujeito ao atirar facas em direção à moça não tinha intenção de
matá-la, pelo menos é o que se espera. Ele até previu que um erro poderia ser trágico,
mas acredita sinceramente que esse erro não ocorrerá, até porque ele treina esse
número há anos.
Ocorre que o pior acaba por acontecer, por erro no lançamento da faca, oatirador acerta o peito da moça, matando-a.
Eis a culpa consciente! O sujeito acredita, sinceramente, que o resultado
não ocorrerá, mas acaba causando esse resultado por imprudência, negligência ou
imperícia.
19. Qual a diferença entre DOLO EVENTUAL e CULPA CONSCIENTE?
O DOLO EVENTUAL se aproxima da CULPA CONSCIENTE, porém com ela
não se confunde, por que: (a) no DOLO EVENTUAL há conformação com o resultado
(seja como for, dê no que dê, não deixo de agir); ao passo que (b) na CULPA CONSCIENTE
não se conforma com o resultado e acredita não sua não ocorrência. (até pode
acontecer, mas não acredito que aconteça).
(CESPE - 2008 - TCU - Analista de Controle Externo ) Durante um
espetáculo de circo, Andrey, que é atirador de facas, obteve a concordância de Nádia,
que estava na platéia, em participar da sua apresentação. Na hipótese de Andrey,embora prevendo que poderia lesionar Nádia, mas acreditando sinceramente que tal
resultado não viesse a ocorrer, atingir Nádia com uma das facas, ele terá agido com
dolo eventual.
Resposta: errado
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 31/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 31
b. Culpa Inconsciente (sem previsão): O sujeito não prevê um resultado
que lhe seria previsível. Diga-se, não vê o resultado que poderia e deveria prever.
( FCC - 2010 - TRE-AL - Analista Judiciário-adaptada ) Há culpa
inconsciente quando, embora previsível o resultado, o agente não o prevê pordescuido, desatenção ou desinteresse.
Gabarito: correto.
Imagine que o sujeito deixe seu filho de um ano de idade dentro do carro
enquanto vai ao banco pagar contas. Ao fazer isso, o pai não pensou que algo de mal
poderia ocorrer com seu filho. Mas, qualquer pessoa medianamente inteligente poderia
ter previsto que tal ato é de extremo perigo ao infante. Assim, podemos dizer que a
eventual morte da criança era algo PREVISÍVEL para qualquer pessoa normal .
Enfim, o pai não previu algo que seria perfeitamente previsível. Por isso,
deve responder pelo resultado.
Ambas as formas de culpa (previsível e imprevisível) são equiparadas.
Esse estudo é realizado, principalmente, para demonstrar a diferença entre culpa
DOLO EVENTUAL XCULPA CONSCIENTE
DOLO EVENTUAL É ODANE-SE!
CULPA CONSCIENTEÉ O IH, DANOU!
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 32/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 32
consciente (culpa com previsão) e dolo eventual (o agente assume o risco de produzir o
resultado).
Então vamos lá mais uma vez. Qual a diferença entre DOLO EVENTUAL e
CULPA CONSCIENTE?
Dolo eventual – o agente vê o resultado como possível e aceita esse
resultado;
Culpa consciente – o agente vê o resultado como possível, mas acredita
sinceramente que ele não ocorrerá.
(CESPE_Analista Judiciário _Execução de Mandados_TJDFT_2008) Se o
sujeito ativo do delito, ao praticar o crime, não quer diretamente o resultado, mas
assume o risco de produzi-lo, o crime será culposo, na modalidade culpa consciente.
Resposta: errado
(CESPE_PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) A culpa
consciente ocorre quando o agente assume ou aceita o risco de produzir o resultado.
Nesse caso, o agente não quer o resultado, caso contrário, ter-se-ia um crime doloso.
Resposta: errado.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 33/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 33
20. A previsibilidade objetiva (possibilidade de previsão)
Cuidado com uma coisa! Na culpa consciente existe previsão doresultado, enquanto na culpa inconsciente não existe essa previsão. Mas, PREVISÃO é
diferente de PREVISIBILIDADE.
Todo crime exige previsibilidade (a capacidade ou possibilidade de
previsão). Se não há previsibilidade de ocorrer um crime não haverá culpa.
Note que o agente pode PREVER ou não como possível o resultado. Se
não previu o que era previsível, não houve PREVISÃO, mas ainda existe a previsibilidade
(possibilidade de ter previsto).
Hehe, confuso? Vamos lá então!
O filho que, ao ouvir trovões, sai de casa sem proteção contra chuva pode
ter incorrido nas seguintes hipóteses:
CULPA = QUEBRADO DEVER DE
CUIDADO
CULPA CONSCIENTE:CULPA COMPREVISÃO
CULPAINCONSCIENTE:
CULPA SEMPREVISÃO
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 34/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 34
a) Saiu de casa PREVENDO que choveria, mas como o trajeto era curto,
não se molharia. Ocorre que por negligenciar a capa acaba se molhando (molhou-se por
culpa consciente). RESULTADO: VAI TOMAR UM PUXÃO DE ORELHA DA MAMÃE;
b) Apesar de ter ouvido os trovões não previu a chuva, fato que poderia
ser previsto por qualquer pessoa mentalmente normal. Ao sair de casa acaba semolhando (culpa inconsciente ou sem previsão) RESULTADO: VAI TOMAR UM PUXAO DE
ORELHA DA MAMÃE. Observe que não houve PREVISÃO efetiva pelo sujeito, mas o fato
lhe era previsível (houve previsibilidade).
A previsibilidade objetiva toma como parâmetro o “homem médio”, ou
seja, um indivíduo comum, de atenção, diligência e perspicácia normais àgeneralidade das pessoas.
( CESPE - 2010 - TRT - 1ª REGIÃO (RJ) - Juiz) No ordenamento jurídico
brasileiro, de acordo com a doutrina majoritária, a ausência de previsibilidade
subjetiva - a possibilidade de o agente, dadas suas condições peculiares, prever o
resultado - exclui a culpa, uma vez que é seu elemento.
PREVISÃO XPREVISIBILIDADE
Previsibilidade:potencial para
prever
Previsão: a efetivavisualização do
resultado futuro.Requer
previsibilidade
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 35/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 35
Resposta: errado.
Veja um último exemplo sempre citado pelo sempre inspirador Professor
Edson Smaniotto (Desembargador do TJDFT) em exemplo proferido em sala de aula emcurso de pós-graduação em Direito Penal:
"Um pai pediu para que seus dois filhos o auxiliasse na reparação da
cisterna de sua chácara. Os dois filhos entraram na cisterna e sentaram-se em uma
taboa improvisada para que enchessem o balde com os entulhos que entupiam a
cisterna, puxando a corda como sinal para o pai suspender o balde quando este estava
cheio. Em determinado momento, devido o sol ter mudado de posição, o interior da
cisterna ficou muito escuro e os filhos reclamaram da falta de luminosidade ao pai. Este
providenciou um holofote alimentado por um gerador de energia a diesel. Ligou oaparelho, que iluminou por completo a cisterna, com o cuidado de posicioná-lo de
forma que a fumaça emitida tomasse direção oposta à mesma. Os garotos reiniciaram
então a tarefa. O pai, percebendo a demora na emissão do sinal de balde cheio,
resolveu olhar para o fundo do poço e percebeu os dois meninos deitados inertes na
tábua. Estavam mortos. O laudo pericial constatou que devido à combustão incompleta
do combustível, além da água e gás carbônico foi liberado um gás extremamente tóxico,
o monóxido de carbono (CO). Como é um gás invisível e sem cheiro, não foi percebido e
tomou conta do ambiente onde os garotos se encontravam. Uma quantidade
equivalente a 0,4% no ar em volume é letal para o ser humano, em um temporelativamente curto. Esse gás se combina com a hemoglobina do sangue e esta
combinação é extremamente estável. Devido a esta combinação, os glóbulos vermelhos
não podem transportar o oxigênio e o gás carbônico, e os tecidos deixam de receber o
oxigênio. A morte dos garotos ocorreu por asfixia química. Para se ter uma ideia do
potencial tóxico do gás, se um carro ficar ligado em uma garagem fechada de 4 m de
comprimento, 4 m de largura e 2,5 m de altura, tendo, portanto, um volume de 40 000
litros, à temperatura ambiente e a pressão ao nível do mar, durante aproximadamente
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 36/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 36
10 minutos, a quantidade de monóxido de carbono produzido já atingirá a quantidade
letal."
Percebe-se que tal morte não pode ser atribuída ao pai dos garotos, pois
era absolutamente imprevisível o resultado trágico (faltou possibilidade potencial para
previsão).
Já vi nos noticiários várias vezes pessoas morrerem nos Estados Unidos
durante o inverno, pois se trancam dentro dos veículos ligados enquanto acionam o ar
quente. Como o gelo acaba por entupir o escapamento do veículo, o monóxido de
carbono fica em seu interior, matando seus ocupantes.
Últimas informações sobre o crime culposo
21. Compensação e concorrência de culpas
Compensação de culpas – não é admitida no direito penal. Exemplo:
vítima atravessa fora da faixa e motorista não para, pois está em alta velocidade. O
motorista responde pelo resultado, apesar de a vítima também ter sido imprudente.
Lógico que o juiz vai considerar isso no momento do art. 59 do CPB ( dosimetria da
pena).
(CESPE – Procurador de Vitória-ES – 2007) Suponha que o motorista deum veículo, por negligência, deixe de observar a má conservação do sistema de freios
de seu carro e, ao trafegar em via pública, atropele e mate um pedestre que tenha
cruzado a pista em local inadequado. Nessa situação, caso se comprove que o evento
danoso tenha decorrido da falta de freios no veículo atropelador, responderá
culposamente o seu condutor pela morte do pedestre, mesmo diante da imprudência
da vítima.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 37/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 37
Resposta: correto.
CESPE_PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) A
compensação de culpas no direito penal, aceita pela doutrina penal contemporânea e
acolhida pela jurisprudência pátria, diz respeito à possibilidade de compensar a culpada vítima com a culpa do agente da conduta delituosa, de modo a assegurar equilíbrio
na relação penal estabelecida.
Resposta: errado.
22. Concorrência de culpas – é possível em direito penal. Acompensação de culpas é incabível em matéria penal. Não se confunde com a
concorrência de culpas. Suponha-se que dois veículos se choquem num cruzamento,
produzindo ferimentos nos motoristas e provando-se que agiram culposamente. Trata-
se de concorrência de culpas; os dois respondem por crime de lesão corporal culposa.
23. Excepcionalidade do crime culposo - Em respeito ao disposto no
art. 18, inciso II, parágrafo único do Código Penal, salvo os casos expressos em lei,
ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica
dolosamente.
(CESPE_Analista Judiciário _Execução de Mandados_TJDFT_2008)
Excetuadas as exceções legais, o autor de fato previsto como crime só poderá ser
punido se o praticar dolosamente.
Resposta: correto.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 38/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 38
(CESPE_Procurador do MP_TC_GO_2007) Excetuadas as exceções legais,
o autor de fato previsto como crime só poderá ser punido se o praticar dolosamente.
Resposta: correto.
Trata-se do princípio da excepcionalidade do crime culposo, que
determina que o crime culposo só seja punível se houver expressamente determinado
pelo código penal, geralmente através de expressões como: “se o crime é culposo, “no
caso de culpa”.
Essa previsão não existe para o crime de aborto (arts. 124 a 127 do CPB),
por exemplo. Por esse motivo, não se admite a figura do aborto culposo.
24.
Culpa mediata ou indireta: ocorre quando o agente pratica umfato secundário de forma culposa, como no exemplo em que José ameaça João com
uma arma de fogo em via pública (resultado 1) e João, apavorado, atravessa a pista e
acaba por ser atropelado e morto (resultado 2).
25. Culpa imprópria ou culpa por extensão: o estudo da culpa
imprópria deve ser feito na Teoria do Erro em aula específica. Contudo, adianto que
ocorrerá a culpa imprópria quando o agente age com dolo, mas erra na análise de uma
excludente de ilicitude (legítima defesa, por exemplo). A isso se dá o nome de
excludente putativa (legítima defesa putativa, por exemplo). A palavra “putativa”
significa “imaginária”.
O exemplo seria daquele que ataca um inimigo por pensar,
precipitadamente, que estava sendo atacado por este, mas na verdade era uma
aproximação para pedido de desculpas.
Veremos que a culpa imprópria é uma espécie de erro (de tipo ou de
proibição, dependendo do caso).
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 39/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 39
Vamos retornar ao assunto quando falarmos de erro de tipo.
(CESPE_PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) A culpa
imprópria ou culpa por extensão é aquela em que a vontade do sujeito dirige-se a um
ou outro resultado, indiferentemente dos danos que cause à vítima.
Resposta: errado.
PEGANDO O FIO DA MEADA
1. A CULPA É A QUEBRA DO CUIDADO POR IMPRUDÊNCIA, NEGLIGÊNCIA
OU IMPERÍCIA;
2. A CULPA CONSCIENTE OCORRE QUANDO HÁ PREVISÃO DO
RESULTADO;
3. A CULPA INCONSCIENTE OCORRE QUANDO O AGENTE NÃO PREVIU O
QUE DEVERIA TER PREVISTO;
NO CRIME
CULPOSO
NÃO CABECOMPENSAÇÃO DE
CULPAS
CABECONCORRÊNCIA DE
CULPAS
SÓ HAVERÁ CRIMECULPOSO SE A LEI
FOR EXPRESSANESSE SENTIDO
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 40/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 40
4. O DOLO EVENTUAL É O “DANE-SE” E A CULPA CONSCIENTE É O “IH,
DANOU-SE”!
26.
CRIME PRETERDOLOSO (CRIMES AGRAVADOS PELO RESULTADO)
ESPÉCIES DE CRIMES AGRAVADOS PELO RESULTADO
Pode ocorrer, em situações muito específicas, que a lei imponha lei mais
severa na ocorrência de um determinado resultado. Note-se que é necessário esse
resultado mais gravoso advenha de dolo ou culpa.
Nos crimes agravados pelo resultado temos duas etapas a serem
observadas: (a) o fato antecedente: causado por dolo ou culpa; (b) fato consequente:
causado por dolo ou culpa.
São quatro as possibilidades de crimes agravados pelo resultado:
1º Dolo no antecedente e dolo no consequente (dolo + dolo)
CRIMEAGRAVADO PELO
RESULTADO
FATOANTECEDENTE:CAUSADO POR
DOLO OU CULPA
FATOCONSEQUENTE:CAUSADO POR
DOLO OU CULPA
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 41/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 41
Fato antecedente: Desferir um soco (Art. 129 do CPB: Ofender a
integridade corporal ou a saúde de outrem);
Fato consequente: Deixar lesão permanente resultante da agressão (Art.
129, § 2º, inciso IV, do CPB: “se resulta lesão permanente”.
Responderá pela lesão dolosa qualificada pela lesão permanente.
2º Culpa no antecedente e culpa no consequente (culpa + culpa)
Fato antecedente: Causar incêndio culposo ( art. 250, § 2º)
Fato consequente: Causar a morte de alguém devido ao incêndio culposo
causado anteriormente (art. 258)
Responderá por incêndio culposo qualificado pela morte culposa.
3º Culpa no antecedente e dolo no conseqüente (crimes preterculposos)
Fato antecedente: Atropelar alguém culposamente (Lesão Corporal
Culposo no trânsito, art. 303 da Lei 9.503/97);
Fato consequente: Deixar de prestar socorro à vítima atropelada ( Art.
302, inciso III da Lei 9.503/97)
Responde pela lesão culposa no trânsito agravada pela omissão desocorro.
4º Dolo no antecedente e culpa no conseqüente (crime preterdoloso ou
preterintencional)
Fato antecedente: Desferir um soco em alguém com dolo de lesioná-lo
(art. 129 do CPB)
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 42/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 42
Fato consequente: Após o soco, a vítima se desequilibra e acaba por bater
a cabeça no chão e morre de traumatismo craniano (art. 129,§ 3°: “Se resulta morte e as
circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de
produzi-lo. )
Responde por Lesão corporal seguida de morte.
Bom, como se vê, o crime preterdoloso é apenas uma forma de crime
agravado pelo resultado.
CESPE – CONSULTOR LEGISLATIVO DO SENADO/2002) Diz-se que o crime
é doloso, quando o agente quis o resultado; preterdoloso, quando, embora não
querendo o resultado, o agente assumiu o risco de produzi-lo.
Resposta: errado.
CRIMESQUALIFICADOS
PELOS RESULTADO
DOLO+DOLO CULPA+CULPACULPA+DOLO
(PRETERCULPA)DOLO+CULPA
(PRETERDOLO)
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 43/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 43
BIZU DO VALENTE!
TENTATIVA NO CRIME PRETERDOLO: não é possível, já que o resultado
agravador não era desejado, e não se pode tentar produzir um evento que não era
querido.
Exceção: a doutrina tem admitido que no crime de aborto qualificado
pela morte da gestante (art. 127 do CPB), caso o feto sobreviva ao procedimento
abortivo, mas a mãe não, teríamos um caso de tentativa de crime preterdoloso.
Voltarei ao assunto quando falarmos do crime de aborto.
FATO TÍPICO – RESULTADO
fato típico
conduta
RESULTADO
nexo causal
tipicidade
ilicitude
estado denecessidade
legítimadefesa
estritocumprimento
do deverlegal
exercícioregular do
direito
culpabilidade
imputabilidade
potencialconsciência
da ilicitude
exigibilidadede conduta
diversa
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 44/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 44
Lembrando que estamos estudando o crime através de seus elementos.
De acordo com a tabela que coloquei na segunda aula, o crime tem os seguintes
elementos: Fato típico, ilicitude (ou antijuridicidade) e Culpabilidade. Já estudamos
completamente a conduta, a qual pertence ao Fato típico. Vamos ao segundo elementodo Fato Típico, o Resultado.
27. Resultado
A conduta dolosa ou culposa pode levar a um resultado. Às vezes esse
resultado é físico (perceptível pelos sentidos humanos), como a morte no homicídio. É o
que a doutrina denomina de “resultado material”. Outras vezes esse resultado não
existe no mundo físico, porém existe no mundo do direito. É o que os juristas titulam de
“resultado jurídico ou formal”.
Imagine que você seja xingado por alguém. O resultado desse ato
injurioso é ferimento de sua honra subjetiva. Isso não pode ser medido fisicamente.
Ocorre que juridicamente (ou seja, para o Direito) houve um resultado relevante, apesar
de não poder ser medido quão injuriado você foi.
Basicamente, o crime pode ser classificado quanto ao resultado:
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 45/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 45
28. Crimes Materiais
O crime de resultado material é aquele em que o tipo penal (a lei)
descreve um resultado físico (perceptível aos sentidos humanos), e sem esse resultado
não há consumação do crime.
Estava este professor ministrando aula em curso preparatório de Brasília
em um dia de sexta-feira, isso por volta das 22 horas. Nesse momento, outro professor
interrompe minha aula:
- Valente, vem comigo aqui correndo ao estacionamento!
-Poxa, amigo, eu não posso abandonar a turma assim!
-Valente, o negócio é sério, meu!
Percebendo a aflição do colega, resolvi descer para ver o que estava
ocorrendo. Pense se a turma inteira não me seguiu de curiosidade! (hehe)
Quando chegamos ao carro do professor, ele mostra o capô do veículo,
onde havia riscos feitos a prego por uma ex-namorada.
TIPOS DE RESULTADO
CRIME DE RESULTADOMATERIAL
CRIME DE RESULTADOFORMAL
CRIME DE MERACONDUTA
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 46/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 46
Bom, fora as questões particulares, houve sobre o carro do professor um
crime praticado por sua ex-namorada. Você sabe dizer qual?
Isso mesmo. Trata-se do crime de DANO, uma vez que ela danificou o
veículo do tal professor.
Veja o que diz o tipo penal: “Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia”
(Dano, Art. 163 do CPB).
O crime de dano é exemplo de crime material, pois o tipo penal exige o
resultado físico para a consumação.
Outros exemplos de crimes materiais: homicídio (art. 121); Infanticídio
(art. 122); Aborto (Arts. 124 a 127); Furto (art. 155); Roubo (art. 157).
O CRIME DE RESULTADO MATERIAL EXIGE UM RESULTADO FÍSICO PARA
SUA CONSUMAÇÃO.
29. Crimes Formais
No crime formal (de consumação antecipada ou de resultado cortado) os
tipos penais descrevem uma ação e um resultado material possível, mas não o exige
para sua consumação. É o que o ocorre na extorsão mediante sequestro (Art. 159, CPB).
O tipo descreve a seguinte ação: “Sequestrar pessoa com o fim de obter,
para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate”.
Note que o agente sequestra pessoa com uma determinada finalidade –
obter vantagem como condição ou preço do resgate -, mas não há necessidade que o
criminoso, efetivamente, receba o resgate para que se faça consumado o crime em tela
(resultado material). A extorsão mediante sequestro consuma-se com a privação da
liberdade da vítima, independentemente da obtenção da vantagem pelo agente. Nesse
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 47/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 47
caso, um possível resultado material, apesar de não influenciar na adequação típica,
poderá influenciar o juiz na dosimetria da pena (aplicação da pena).
Esses dias eu estava vendo no noticiário que um médico cirurgião de um
hospital conveniado ao SUS estava exigindo dinheiro dos pacientes para realização da
cirurgia. Caso o valor não fosse pago, o paciente perderia a vez na fila. A cirurgia já seriapaga pelo SUS, mas mesmo assim médico faz a sórdida exigência.
Veja o que diz a lei: Exigir, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
vantagem indevida (Concussão, art. 316 do CPB.)
Vamos supor que o paciente (no caso, vítima do crime) negue-se a pagaro valor exigido e comunica o fato à polícia. Você como Delegado o indiciaria pela
Concussão consumada ou tentada?
O caso é de Concussão consumada, por se tratar de crime formal.
Perceba que se o resultado material (naturalístico) ocorrer será mero exaurimento do
crime, leia-se, não poderá ser considerado para aumentar a pena, a menos que seja
descrito na lei como tal.
(Magistratura – TJPI -2007 – adaptada) A consumação dos crimes
formais ocorre com a prática da conduta descrita no núcleo do tipo,
independentemente do resultado naturalístico, que, caso ocorra, será causa de
aumento de pena.
Resposta: errado
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 48/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 48
30. Outros exemplos de crimes formais:
“Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja
notificação é compulsória” (Omissão de notificação de doença, art. 269 do CPB)
Conduta: “deixar de realizar a notificação”.
Resultado material possível, mas não exigido par a consumação: a
efetiva contaminação ou epidemia.
“Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou
de correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação
possa produzir dano a outrem” (Divulgação de Segredo, art. 153 do CPB).
Conduta: “divulgar o segredo”.
Resultado material possível, mas não exigido par a consumação: o
efetivo dano a terceira pessoa.
Crimes de Mera Conduta
Os crimes de mera conduta não descrevem a possibilidade de um
resultado naturalístico, como no crime de Violação de domicílio (art. 150).
Um sujeito faz um churrasco em sua casa e convida Dicró.
Dicró era um cara bacana, mas quando bebia ficava um tanto
inconveniente. Após algumas horas, Dicró começa a paquerar as moças presentes, o que
desagradou seus respectivos companheiros.
O dono da festa determina que Dicró saia de sua casa imediatamente.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 49/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 49
Dicró se nega a sair e deita no chão.
Veja o que diz a lei:
“Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a
vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suasdependências.” (Violação de Domicílio, art. 150 do CPB.)
Conduta: “entrar ou permanecer”.
Resultado material possível: não existe.
Formas especiais de consumação
Crimes instantâneos ou de estado: são aqueles em que a consumação
ocorre em um único momento determinado, sem se prolongar no tempo (ex.: CP, art.
121).
Crimes Permanentes: são aqueles em que a consumação se protrai no
tempo, por vontade do agente (ex.: CP, art. 158). Divide-se em:
a) necessariamente permanentes: o tipo penal exige, necessariamente,
que a consumação típica se alongue no tempo, como no sequestro (CP, art. 148).
b) eventualmente permanentes: são crimes instantâneos que admite
determinada forma de consumação permamente, como no furto de energia elétrica (CP,
art. 155, § 3º).
Crimes instantâneos de efeitos permanentes: o crime é de consumação
instantânea, mas os efeitos do crime costumam perdurar indeterminadamente, como
no homicídio (CP, art. 121).
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 50/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 50
Crimes a prazo: são aqueles em que o tipo penal exige a fluência de
determinado tempo para, somente após, considerar o fato típico, como ocorre na
apropriação indébita previdenciária (“Deixar de repassar à previdência social as
contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo é forma legal ou convencional”, CP,
art. 168-A).
PEGANDO O FIO DA MEADA
1. TODO CONDUTA CAUSA UM RESULTADO;
2. O RESULTADO PODE SER FÍSICO (MATERIAL). NESTE CASO, TEMOS OS
CRIMES MATERIAIS;
3. O RESULTADO PODE SER APENAS JURÍDICO (FORMAL). NESTE CASO
TEMOS OS CRIMES FORMAIS E DE MERA CONDUTA;
4. NOS CRIMES FORMAIS, A LEI DESCREVE UM RESULTADO MATERIAL
POSSÍVEL, MAS NÃO O EXIGE PARA A CONSUMAÇÃO;
5. OS CRIMES DE MERA CONDUTA (OU MERA ATIVIDADE), NÃO EXISTE
UM RESULTADO MATERIAL POSSÍVEL. A CONDUTA JÁ É O RESULTADO;
QUESTÕES COMENTADAS
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 51/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 51
1. (CESPE_Procurador do MP_TC_GO_2007) Excetuadas as exceções
legais, o autor de fato previsto como crime só poderá ser punido se o praticar
dolosamente.
Comentário: Trata-se do princípio da excepcionalidade do crime culposo.
Só haverá a possibilidade de punição por culpa se a lei expressamente trouxer isso por
escrito. Exemplo: No homicídio é possível o crime culposo, porque o art. 121 do Código
Penal traz a hipótese em seu parágrafo terceiro:
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
(...)
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.
Perceba que não existe furto culposo, por exemplo, porquanto o Código
Penal não previu essa hipótese.
GABARITO: CERTO
2. (CESPE_Procurador do MP_TC_GO_2007) Julgue os itens a seguir,
concernentes às espécies de dolo:
No crime de falsificação de documento público o dolo é específico.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 52/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 52
Comentário: O dolo específico ocorre quando o tipo penal traz uma
finalidade específica para que ocorra o crime. Exemplo: Constranger alguém, mediante
violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida
vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa
(Extorsão, art. 158 do Código Penal).
O crime de Extorsão acima exige o “dolo específico” para que ele ocorra,
qual seja o intuito de obter a indevida vantagem econômica.
Quanto ao crime de falsificação de documento, vejamos o que diz a lei:
Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público
verdadeiro (art. 297 do CPB).
Como se vê, não existe dolo específico nesse crime.
GABARITO: ERRADO
3. (CESPE_Procurador do MP_TC_GO_2007) Para a configuração do
crime de peculato-desvio, é necessária a presença do dolo genérico e do dolo específico.
Comentário: O Peculato é um crime contra a Administração Pública
previsto nos arts. 312 do Código Penal.
“Apropriar -se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro
bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo,em proveito próprio ou alheio”
No peculato desvio a conduta consiste em desencaminhar, mudar o
destino do valor público ou particular, de que tem a posse em razão da função pública.
Exemplo: a merendeira desvia os mantimentos que são destinados para a escola para a
casa de um amigo, em seu proveito. Ou o Deputado Federal que tem um assessor lotado
em seu gabinete e o desvia para ser jardineiro de sua casa.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 53/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 53
No peculato desvio exige-se o dolo específico de agir visando proveito
próprio ou alheio.
GABARITO: CERTO
4. (CESPE_JUIZ FEDERAL 2ª REGIÃO_2009) Nos crimes culposos, o tipo
penal é aberto, o que decorre da impossibilidade do legislador de antever todas as
formas de realização culposa; assim, o legislador prevê apenas genericamente a
ocorrência da culpa, sem defini-la, e, no caso concreto, o aplicador deve comparar o
comportamento do sujeito ativo com o que uma pessoa de prudência normal teria, na
mesma situação.
Comentário: O injusto penal culposo é uma modalidade dos TIPOS
PENAIS ABERTOS, pois exige para sua interpretação o exame de elementos exteriores ao
tipo para aferir sua adequação à conduta. Quero dizer, a lei não estabeleceu o que é
imprudência, negligência ou imperícia. Então, deve haver um juízo de valor para que se
chegue aos conceitos necessários.
Exemplo: No crime de ato obsceno, art. 233 do CPB, a norma diz:
“Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público”. Pois muito
bem, para se chegar ao conceito de “ato obsceno”, devemos lançar um juízo de valor
sobre o termo.
Beijar na boca em público é ato obsceno? Fazer sexo em uma encenação
de teatro é ato obsceno? Depende do juízo de valor que se fizer.
Em uma cidade do interior, um casal de namorados foi preso por estarem
se beijando em frente à igreja.
Será que eles teriam sido presos se tivessem em um shopping de uma
grande cidade?
Viu, juízo de valor!
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 54/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 54
GABARITO: CERTO
5. (CESPE_PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) A culpa
consciente ocorre quando o agente assume ou aceita o risco de produzir o resultado.Nesse caso, o agente não quer o resultado, caso contrário, ter-se-ia um crime doloso.
Comentário: Quando o agente assume o risco de produzir o resultado,
esta cometendo um crime com dolo eventual. A culpa consciente é culpa com previsão.
GABARITO: ERRADO
6. CESPE_PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) A culpa
imprópria ou culpa por extensão é aquela em que a vontade do sujeito dirige-se a um ou
outro resultado, indiferentemente dos danos que cause à vítima.
Comentário:
O exemplo é de dolo alternativo, quando o agente quer um ou outro
resultado (quero matar ou ferir).
Culpa imprópria é aquela que reside (ocorre) no erro fático sobre as
descriminantes putativas (putativo = falso, imaginário). Erro que recai no erro de tipo
sobre as justificantes putativas (erro de tipo na cabeça é uma coisa e na realidade é
outro). São casos de culpa imprópria as hipóteses previstas no art. 20, § 1º, 2ª parte (“...
o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo”), e art. 23, parágrafo
único, parte final do Código Penal ( “... responderá pelo excesso doloso e culposo”). A
culpa imprópria será mais bem estudada na aula sobre a TEORIA DO ERRO.
GABARITO: ERRADO.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 55/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 55
7. (CESPE_PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) A
compensação de culpas no direito penal, aceita pela doutrina penal contemporânea e
acolhida pela jurisprudência pátria, diz respeito à possibilidade de compensar a culpa da
vítima com a culpa do agente da conduta delituosa, de modo a assegurar equilíbrio na
relação penal estabelecida.
Comentário: compensação de culpas – não é admitida no direito penal.
Exemplo: vítima atravessa fora da faixa e motorista não pára, pois está em alta
velocidade. O motorista responde pelo resultado. GABARITO: ERRADO
8. (CESPE_PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) A autoria
dos crimes culposos é basicamente atribuída àquele que causou o resultado. Com isso
admite-se a participação culposa em delito doloso, participação dolosa em crime
culposo e participação culposa em fato típico culposo.
Comentário: Coautoria em crime culposo – a jurisprudência admite, mas
não admite participação. Obs. Existe aqui uma grande confusão na doutrina e
jurisprudência, mas a posição do STJ é nesse sentido explicado.
APENAS MEMORIZE: CRIME CULPOSO – NÃO ADMITE PARTICIPAÇÃO, SÓ
COAUTORIA.
Não se preocupe, veremos a diferença entre coautoria e participação na
aula sobre Concurso de Pessoas.
GABARITO: ERRADO
9 - ( FAE - 2008 - TJ-PR - Juiz Substituto) George Shub, conhecido
terrorista, pretendendo matar o Presidente da República de Quiare, planta uma bomba
no veículo em que ele sabe que o político é levado por um motorista e dois seguranças
até uma inauguração de uma obra. A bomba é por ele detonada à distância, durante o
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 56/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 56
trajeto, provocando a morte de todos os ocupantes do veículo. Com relação à morte do
motorista, George Shub agiu com:
a) Dolo direto de primeiro grau
b) Dolo direto de segundo grau
c) Dolo eventual
d) Imprudência consciente
Comentário: Vimos que o dolo direto pode ser classificado como (a) dolo
direto de primeiro grau – refere-se à finalidade; (b) dolo direto de segundo grau –
refere-se aos meios necessários.
Desta forma, George agiu como dolo direto de primeiro grau em relação
ao presidente da República do Quiare; e como dolo direto de segundo grau em relação
ao outros mortos, incluindo o motorista.
GABARITO: Letra “b”
10. (CESPE - 2008 - TCU - Analista de Controle Externo ) Durante um
espetáculo de circo, Andrey, que é atirador de facas, obteve a concordância de Nádia,
que estava na platéia, em participar da sua apresentação. Na hipótese de Andrey,
embora prevendo que poderia lesionar Nádia, mas acreditando sinceramente que tal
resultado não viesse a ocorrer, atingir Nádia com uma das facas, ele terá agido com dolo
eventual.
Comentário: Vimos que na culpa consciente o agente prevê o resultado
como possível, mas acredita sinceramente que esse não irá ocorrer. Andrey, ao acertar
Nádia, fala para si próprio: “Hi! Danou-se!”.
Culpa consciente, portanto.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 57/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 57
GABARITO: ERRADO
11. (Magistratura – TJPI -2007 – adaptada) A consumação dos crimes
formais ocorre com a prática da conduta descrita no núcleo do tipo,
independentemente do resultado naturalístico, que, caso ocorra, será causa de
aumento de pena.
Comentário: De fato, a consumação dos crimes formais é antecipada para
a conduta, mesmo sendo possível a realização de um resultado físico. Caso este último
ocorra, teremos um mero exaurimento do crime, leia-se, um pós- crime impunível.
GABARITO: ERRADO
12. (Analista – MPU – 2007) João, dirigindo um automóvel, com pressa
de chegar ao seu destino, avançou com o veículo contra uma multidão, consciente dorisco de ocasionar a morte de um ou mais pedestres, mas sem se importar com essa
possibilidade, João agiu com
a) culpa
b) dolo indireto
c) culpa consciente
d) dolo eventual
Comentário: João viu o resultado como possível, mas disse a si mesmo:
“para mim tanto faz” (dane-se!). Trata-se de hipótese de dolo eventual.
GABARITO: Letra “d”
13. (CESPE – Procurador de Vitória-ES – 2007) Suponha que o motorista
de um veículo, por negligência, deixe de observar a má conservação do sistema de freios
de seu carro e, ao trafegar em via pública, atropele e mate um pedestre que tenha
cruzado a pista em local inadequado. Nessa situação, caso se comprove que o evento
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 58/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 58
danoso tenha decorrido da falta de freios no veículo atropelador, responderá
culposamente o seu condutor pela morte do pedestre, mesmo diante da imprudência da
vítima.
Comentários: No direito penal brasileiro não se admite a compensação
de culpas, quer dizer, a culpa do autor ser compensada pela culpa da vítima. O que pode
ocorrer é culpa exclusiva da vítima, o que afasta a responsabilidade do autor.
GABARITO: CORRETO
14.( NCE-UFRJ - 2005 - PC-DF - Delegado de Polícia; )
Segundo a redação do artigo 18, I, do Código Penal ("Diz-se o crime: I -
doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo"), é possível
concluir que foi adotada:
a) a teoria do assentimento;
b) a teoria da representação;
c) as teorias do assentimento e da representação;
d) as teorias do assentimento e da vontade;
e) as teorias da representação e da vontade.
Comentário: O conceito de dolo pode ser variável conforme a teoria que
se adote para conceituá-lo. Podem-se citar as seguintes teorias existentes na doutrina:
a) Teoria da Vontade: O agente deve ter vontade e consciência para
causar o resultado final. “Quero matá-lo!”.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 59/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 59
b) Teoria do Consentimento, assentimento ou aprovação: O agente
aceita a possibilidade da ocorrência do resultado. “Não quero matar, mas se morrer
dane-se, não é por isso que vou deixar de agir!”
c) Teoria da Representação: há previsibilidade (capacidade de previsão)
da ocorrência do resultado, mas o agente acredita que ele não ocorrerá. Exemplo seria omédico que, sabendo das dificuldades de determinado procedimento cirúrgico, resolve
realizá-lo, acreditando que o resultado pior não acontecerá por estar seguro de sua
técnica, vindo o paciente a falecer. Na sistemática do CPB, poderá ocorrer aqui um tipo
culposo, caso haja uma quebra do dever objetivo de cuidado por imprudência,
negligência ou imperícia por parte do médico, aliada à não aceitação do resultado mais
gravoso (culpa consciente)
O CPB adotou as duas primeiras teorias para definir o que é dolo. Assim, a
teoria da vontade indica o dolo direto (“quero matar!”), e a teoria do assentimento
representa o dolo indireto ou eventual (se morrer morreu, mas eu não cesso minha
ação haja o que houver, doa a quem doer!). Resposta: letra “D”.
15 - ( FCC - 2010 - TRE-AL - Analista Judiciário-adaptada ) Há dolo
eventual quando o agente, embora prevendo o resultado, não quer que ele ocorra nem
assume o risco de produzi-lo.
Comentário: No dolo eventual o agente assume o risco de produzir o
resultado.
GABARITO: ERRADO
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 60/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 60
16 - ( FCC - 2010 - TRE-AL - Analista Judiciário-adaptada ) Há culpa
inconsciente quando, embora previsível o resultado, o agente não o prevê por descuido,
desatenção ou desinteresse.
Comentário: a culpa consciente é a forma básica de culpa – o agente não
prevê um resultado, que devia e podia prever.
GABARITO: CERTO
17. (CESPE_Analista Judiciário _Execução de Mandados_TJDFT_2008) Se
o sujeito ativo do delito, ao praticar o crime, não quer diretamente o resultado, mas
assume o risco de produzi-lo, o crime será culposo, na modalidade culpa consciente.
Comentário: Depois de alguma prática, fica até boba a questão, não é
mesmo?
GABARITO: ERRADO
18. (CESPE_Analista Judiciário _Execução de Mandados_TJDFT_2008)
Excetuadas as exceções legais, o autor de fato previsto como crime só poderá ser
punido se o praticar dolosamente.
Comentário: só poderá haver punição por crime culposo se a lei
expressamente trouxer a hipótese em seu texto.
GABARITO: C
19. (CESPE_ DPU 2010) Em se tratando de homicídio, é incompatível o
domínio de violenta emoção com o dolo eventual.
Comentário: A assertiva está se referindo a uma causa de diminuição de
pena existente no homicídio que é: “praticar o fato sob domínio de violenta emoção,
logo após a injusta provocação da vítima” (Art. 121, § 1º, CPB).
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 61/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 61
O entendimento da doutrina e da jurisprudência é de equiparar as duas
formas de dolo, assim tudo que se aplica ao dolo direto, tem se aplicado ao dolo
eventual.
GABARITO: ERRADO.
20. (CESPE – CONSULTOR LEGISLATIVO DO SENADO-2002) Diz-se que o crime é doloso,
quando o agente quis o resultado; preterdoloso, quando, embora não querendo o
resultado, o agente assumiu o risco de produzi-lo.
Comentário: O crime preterdoloso é uma forma de crime agravado pelo
resultado em que o agente pratica uma conduta antecedente com dolo, mas causa um
resultado maior do que o desejado a título de culpa
GABARITO: ERRADO
21. ( CESPE - 2010 - MPE-RO - Promotor de Justiça) No tocante aos
delitos de intenção, assim conceituados por parte da doutrina, há as intenções
especiais, que dão lugar aos atos denominados delitos de resultado cortado, tais como
o crime de extorsão mediante sequestro, e os atos denominados delitos mutilados de
dois atos, tais como o crime de moeda falsa.
Comentário: os delitos de intenção, são espécies de crimes com
elementos subjetivos especiais. Os exemplos da questão representam a classificação
apresentada geralmente pela doutrina.
GABARITO: CORRETO
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 62/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 62
22. ( CESPE - 2010 - TRT - 1ª REGIÃO (RJ) - Juiz) Com referência ao dolo eà culpa, assinale a opção correta.
a) Em relação ao dolo, o Código Penal brasileiro adotou a teoria darepresentação, segundo a qual a conduta dolosa é o comportamento de quem temconsciência do fato e de seu significado, e, ao mesmo tempo, a vontade de realizá-lo.
Comentário: o Código adotou a teoria da vontade para o dolo direto e doassentimento para o dolo eventual.
b) A teoria naturalista ou causal da conduta adotava a espécie de dolodenominada natural, que, em vez de constituir elemento da conduta, era consideradorequisito da culpabilidade, com três elementos: consciência, vontade e consciência dailicitude (dolus malus).
Comentário: o dolo “natural” é o adotado pela teoria finalista da ação, aqual entende que o dolo existe mesmo sem a consciência da ilicitude (ex.: Se José mataJoão, estuprador da filha daquele, por acreditar que tem esse direito, terá agido comdolo, mesmo que não haja consciência da ilicitude. No caso, a falta de consciência dailicitude vai interferir na culpabilidade).
c) Considere a seguinte situação hipotética. Um jovem desferiu, comintenção homicida, golpes de faca em seu vizinho, que caiu desacordado. Acreditandoter atingido seu objetivo, enterrou o que supunha ser o cadáver no meio da mata. Aperícia constatou, posteriormente, que o homem falecera em razão de asfixiadecorrente da ausência de ar no local em que foi enterrado. Nessa situação, ocorreu oque a doutrina denomina de aberratio causae, devendo o agente responder pelo delitode homicídio simples consumado, por ter agido com dolo geral.
Comentário: No dolo Geral teríamos uma só conduta, dividida em dois ou
mais atos: o agente dispara contra a vítima, que desmaia; ele pensa que a vítima já
morreu e joga seu corpo ao rio para encobrir o crime anterior; descobre-se depois que
ela morreu não pelo disparo, mas sim pelo afogamento. Quis matar e, de fato, matou,
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 63/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 63
respondendo pelo resultado normalmente. O dolo geral é também denominado “er ro
sobre o nexo causal” (aberratio causae).
Gabarito: correto
d) Considere a seguinte situação hipotética. Paulo, chefe de família,percebeu que alguém entrou pelos fundos, à noite, em sua residência, em local comaltos índices de violência. Pensando tratar-se de assalto, posicionou-se, com a luzapagada, de forma dissimulada, e desferiu golpes de faca no suposto meliante, comintenção de matá-lo, certo de praticar ação perfeitamente lícita, amparada pela legítimadefesa. Verificou-se, posteriormente, que Paulo ceifou a vida de seu filho de doze anosde idade.Nessa situação, Paulo agiu com culpa inconsciente, devendo responder por homicídioculposo.
Comentário: trata-se de exemplo de legítima defesa putativa por erro detipo, a ser tratada em aula específica.
e) No ordenamento jurídico brasileiro, de acordo com a doutrinamajoritária, a ausência de previsibilidade subjetiva - a possibilidade de o agente, dadassuas condições peculiares, prever o resultado - exclui a culpa, uma vez que é seuelemento.
Comentário: no crime culposo, fala-se em previsibilidade objetiva (e não
subjetiva), por levar em consideração o fato concreto sob a ótica de um homem médio.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 64/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 64
1. (CESPE_Procurador do
MP_TC_GO_2007) Excetuadas as
exceções legais, o autor de fato previsto
como crime só poderá ser punido se opraticar dolosamente.
2. (CESPE_Procurador do
MP_TC_GO_2007) Julgue os itens a
seguir, concernentes às espécies de
dolo:
No crime de falsificação
de documento público o dolo é
específico.
3. CESPE_Procurador do
MP_TC_GO_2007) Para a configuração
do crime de peculato-desvio, é
necessária a presença do dolo genérico
e do dolo específico.
4. (CESPE_JUIZ FEDERAL
2ª REGIÃO_2009) Nos crimes culposos,
o tipo penal é aberto, o que decorre da
impossibilidade do legislador de antever
todas as formas de realização culposa;
assim, o legislador prevê apenas
genericamente a ocorrência da culpa,
sem defini-la, e, no caso concreto, o
aplicador deve comparar o
comportamento do sujeito ativo com o
que uma pessoa de prudência normal
teria, na mesma situação.
5. (CESPE_PROCURADOR
ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) Aculpa consciente ocorre quando o
agente assume ou aceita o risco de
produzir o resultado. Nesse caso, o
agente não quer o resultado, caso
contrário, ter-se-ia um crime doloso.
6. CESPE_PROCURADOR
ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) A
culpa imprópria ou culpa por extensão é
aquela em que a vontade do sujeito
dirige-se a um ou outro resultado,
indiferentemente dos danos que cause à
vítima.
7. (CESPE_PROCURADOR
ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) A
compensação de culpas no direito
penal, aceita pela doutrina penal
contemporânea e acolhida pela
jurisprudência pátria, diz respeito à
possibilidade de compensar a culpa da
vítima com a culpa do agente da
conduta delituosa, de modo a assegurar
equilíbrio na relação penal estabelecida.
8. (CESPE_PROCURADOR
ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) A
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 65/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 65
autoria dos crimes culposos é
basicamente atribuída àquele que
causou o resultado. Com isso admite-se
a participação culposa em delito doloso,
participação dolosa em crime culposo e
participação culposa em fato típicoculposo.
9 - ( FAE - 2008 - TJ-PR -
Juiz Substituto) George Shub, conhecido
terrorista, pretendendo matar o
Presidente da República de Quiare,
planta uma bomba no veículo em que
ele sabe que o político é levado por um
motorista e dois seguranças até umainauguração de uma obra. A bomba é
por ele detonada à distância, durante o
trajeto, provocando a morte de todos os
ocupantes do veículo. Com relação à
morte do motorista, George Shub agiu
com:
a) Dolo direto de primeiro
grau
b) Dolo direto de segundo
grau
c) Dolo eventual
d) Imprudência
consciente
10. (CESPE - 2008 - TCU -
Analista de Controle Externo ) Durante
um espetáculo de circo, Andrey, que éatirador de facas, obteve a concordância
de Nádia, que estava na platéia, em
participar da sua apresentação. Na
hipótese de Andrey, embora prevendo
que poderia lesionar Nádia, mas
acreditando sinceramente que tal
resultado não viesse a ocorrer, atingir
Nádia com uma das facas, ele terá agido
com dolo eventual.11. (Magistratura – TJPI -
2007 – adaptada) A consumação dos
crimes formais ocorre com a prática da
conduta descrita no núcleo do tipo,
independentemente do resultado
naturalístico, que, caso ocorra, será
causa de aumento de pena.
12. (Analista – MPU – 2007) João, dirigindo um automóvel,
com pressa de chegar ao seu destino,
avançou com o veículo contra uma
multidão, consciente do risco de
ocasionar a morte de um ou mais
pedestres, mas sem se importar com
essa possibilidade, João agiu com
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 66/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 66
a) culpa
b) dolo indireto
c) culpa consciente
d) dolo eventual
13. (CESPE – Procuradorde Vitória-ES – 2007) Suponha que o
motorista de um veículo, por
negligência, deixe de observar a má
conservação do sistema de freios de seu
carro e, ao trafegar em via pública,
atropele e mate um pedestre que tenha
cruzado a pista em local inadequado.
Nessa situação, caso se comprove que o
evento danoso tenha decorrido da faltade freios no veículo atropelador,
responderá culposamente o seu
condutor pela morte do pedestre,
mesmo diante da imprudência da
vítima.
14.( NCE-UFRJ - 2005 -
PC-DF - Delegado de Polícia; )
Segundo a redação doartigo 18, I, do Código Penal ("Diz-se o
crime: I - doloso, quando o agente quis
o resultado ou assumiu o risco de
produzi-lo"), é possível concluir que foi
adotada:
a) a teoria do
assentimento;
b) a teoria da
representação;
c) as teorias do
assentimento e da representação;
d) as teorias do
assentimento e da vontade;
e) as teorias da
representação e da vontade.
15 - ( FCC - 2010 - TRE-AL
- Analista Judiciário-adaptada ) Há dolo
eventual quando o agente, embora
prevendo o resultado, não quer que ele
ocorra nem assume o risco de produzi-
lo.
16 - ( FCC - 2010 - TRE-AL
- Analista Judiciário-adaptada ) Há
culpa inconsciente quando, embora
previsível o resultado, o agente não o
prevê por descuido, desatenção ou
desinteresse.
17. (CESPE_Analista
Judiciário _Execução de
Mandados_TJDFT_2008) Se o sujeito
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 67/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 67
ativo do delito, ao praticar o crime, não
quer diretamente o resultado, mas
assume o risco de produzi-lo, o crime
será culposo, na modalidade culpa
consciente.
18. (CESPE_Analista
Judiciário _Execução de
Mandados_TJDFT_2008) Excetuadas as
exceções legais, o autor de fato previsto
como crime só poderá ser punido se o
praticar dolosamente.
19. (CESPE_ DPU 2010)
Em se tratando de homicídio, é
incompatível o domínio de violentaemoção com o dolo eventual.
20. (CESPE – CONSULTOR LEGISLATIVO
DO SENADO-2002) Diz-se que o crime é
doloso, quando o agente quis o
resultado; preterdoloso, quando,
embora não querendo o resultado, o
agente assumiu o risco de produzi-lo.
21. ( CESPE - 2010 - MPE-
RO - Promotor de Justiça) No tocante
aos delitos de intenção, assim
conceituados por parte da doutrina, há
as intenções especiais, que dão lugar
aos atos denominados delitos de
resultado cortado, tais como o crime de
extorsão mediante sequestro, e os atos
denominados delitos mutilados de dois
atos, tais como o crime de moeda falsa.
22. (CESPE - 2010 - TRT -1ª REGIÃO (RJ) - Juiz) Com referência
ao dolo e à culpa, assinale a opçãocorreta.
a) Em relação ao dolo, oCódigo Penal brasileiro adotou a teoriada representação, segundo a qual aconduta dolosa é o comportamento dequem tem consciência do fato e de seusignificado, e, ao mesmo tempo, avontade de realizá-lo.
b) A teoria naturalista oucausal da conduta adotava a espécie dedolo denominada natural, que, em vezde constituir elemento da conduta, eraconsiderado requisito da culpabilidade,com três elementos: consciência,vontade e consciência da ilicitude (dolusmalus).
c) Considere a seguinte
situação hipotética. Um jovem desferiu,com intenção homicida, golpes de facaem seu vizinho, que caiu desacordado.Acreditando ter atingido seu objetivo,enterrou o que supunha ser o cadáverno meio da mata. A perícia constatou,posteriormente, que o homem faleceraem razão de asfixia decorrente daausência de ar no local em que foi
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 68/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
Página 68
enterrado. Nessa situação, ocorreu oque a doutrina denominade aberratio causae, devendo o agenteresponder pelo delito de homicídiosimples consumado, por ter agido comdolo geral.
d) Considere a seguintesituação hipotética. Paulo, chefe defamília, percebeu que alguém entroupelos fundos, à noite, em sua residência,em local com altos índices de violência.Pensando tratar-se de assalto,posicionou-se, com a luz apagada, deforma dissimulada, e desferiu golpes defaca no suposto meliante, com intenção
de matá-lo, certo de praticar açãoperfeitamente lícita, amparada pelalegítima defesa. Verificou-se,posteriormente, que Paulo ceifou a vidade seu filho de doze anos de idade.Nessa situação, Paulo agiu com culpainconsciente, devendo responder porhomicídio culposo.
e) No ordenamento
jurídico brasileiro, de acordo com a
doutrina majoritária, a ausência deprevisibilidade subjetiva - apossibilidade de o agente, dadas suascondições peculiares, prever o resultado- exclui a culpa, uma vez que é seuelemento.
8/3/2019 aula 1 Avançada
http://slidepdf.com/reader/full/aula-1-avancada 69/69
CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS
LÚCIO VALENTE
GABARITO
1 -C 2-E 3-C 4-C 5-E
6-E 7-E 8-E 9-letra B 10-E
11-E 12- Letra D 13-C 14- Letra D 15-E
16-C 17-E 18-C 19-C 20 - E
21 - C 22- Letra C