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AS REVOLUÇÕES
INDUSTRIAIS
A Divisão Internacional do Trabalho e as trocas desiguais
Atualmente existe uma economia mundial, ou seja, um sistema de relações de produção e de
relações de troca que envolve o mundo todo. Nesse cenário, em que a integração econômica
do mundo se baseia na existência de países industrializados e suas respectivas áreas de
influência, podemos identificar uma Divisão Internacional do Trabalho (DIT). Isso porque a
desigualdade do desenvolvimento das forças produtivas cria uma estrutura na qual alguns
países exportam produtos agrícolas e importam manufaturas, enquanto outros exportam
manufaturas e tecnologia.
Para que haja DIT, são necessárias algumas condições. Além do grau de desenvolvimento
das forças produtivas e dos diferentes níveis da estrutura econômica, a DIT se relaciona com
a diversidade do meio natural e das condições sociais.
A concepção de DIT está associada à teoria das vantagens comparativas, segundo a qual as
trocas comerciais favorecem todos os países participantes. Por isso, seus defensores pregam
o livre-comércio internacional, sem qualquer tipo de protecionismo ou de barreira
alfandegária.
No entanto, a aplicação dessa teoria criaria uma situação na qual os países pobres com base
agrícola jamais sairiam dessa condição. A criação de indústrias seria limitada por uma
concorrência desigual, uma vez que o desenvolvimento das indústrias nos países centrais é
maior. Os países que já haviam se industrializado, como a Inglaterra teria o monopólio
industrial.
Os críticos da teoria das vantagens comparativas argumentam que não foi a competitividade
da Inglaterra que proporcionou, após a Revolução Industrial, seus grandes ganhos
comerciais, mas, sim, o monopólio comercial sobre suas colônias. Segundo eles, nunca
houve livre-comércio. As colônias eram obrigadas a comprar os produtos industrializados
ingleses. Com a abertura dos portos, em 1808, o Brasil também se tornou área de influência
direta da Inglaterra, o que causou uma série de dificuldades para a criação de indústrias
nacionais.
Uma das principais críticas feitas à ideia das vantagens comparativas está relacionada à
deterioração nos termos de troca entre exportadores de produtos primários (produtos
agrícolas e minerais) e exportadores de produtos industrializados ao longo do tempo.
A teoria das vantagens comparativas
Teoria formulada pelo economista inglês David Ricardo, em 1817. Segundo Ricardo, todos os países obteriam vantagens com o
livre-comércio internacional. Cada país teria vantagens maiores ou menores para produzir determinados tipos de mercadoria.
Quanto maior a vantagem, menor o custo de produção. Tais vantagens poderiam ser naturais (como é o caso da agricultura ou
extração mineral) ou adquiridas (como é o caso das indústrias), e estariam ligadas à especialização técnica e à mão de obra
qualificada. Assim, se cada país se especializasse no setor em que apresenta maiores vantagens relativas, isso criaria uma
vantagem geral para todo o sistema de produção mundial, e seria mais proveitoso do que a autossuficiência.
A DIT e a organização do espaço mundial
A DIT marcou a organização do espaço sob o capitalismo. As relações centro-periferia
foram, em grande parte, fundamentadas pela divisão entre os países industriais e os países
primários exportadores. Alguns desses países se tornaram muito especializados em poucos
produtos (ver mapa abaixo). Foi o caso de alguns países africanos - algodão, no Chade;
cacau, na Costa do Marfim; diamantes, na Zâmbia; etc. Essa característica tornou a
economia de tais países muito dependente dos preços internacionais desses produtos, o que
os inseriu na DIT em condições de desvantagem.
A DIT, no entanto, não é inalterável; ela se modifica de acordo com a conjuntura inter-
nacional. As crises do capitalismo levam a reestruturações econômicas e espaciais, poden-
do mudar o papel dos países nessa divisão.
Podemos identificar quatro momentos centrais em relação à DIT.
Na Primeira Revolução Industrial, o papel principal das colônias foi o de fornecedor de
matérias-primas e consumidor dos produtos industrializados.
A Segunda Revolução Industrial marcou um período de redivisão do mundo, pois novas
potências se formaram (Alemanha e EUA) e passaram a partilhar o mundo colonial. A
periferia do sistema capitalista tomou-se área para a exportação dos capitais e atuação dos
monopólios. Essa exportação de capitais permitiu a industrialização de alguns países pe-
riféricos, como o Brasil e a Argentina.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a formação do bloco socialista, uma nova DIT
se apresentou. Novos interesses geopolíticos passaram a prevalecer no conflito entre o
capitalismo e o socialismo, expressando-se sob a forma de ajuda dos EUA e da URSS
(empréstimos, investimentos, melhores condições para o comércio) aos países de seu
bloco. Esse processo criou condições para a industrialização de outros países da periferia
do sistema.
A Terceira Revolução Industrial transformou novas áreas do globo em fornecedoras de
tecnologia, enquanto outras passaram a ser fabricantes de produtos com menor tecnologia.
Surgiu, assim, uma nova DIT: de um lado, fornecedores de matérias- -primas e de
produtos intensivos em mão de obra; de outro, fornecedores de produtos intensivos em
tecnologia.
A Primeira Revolução industrial
A Primeira Revolução Industrial foi um processo de transformações técnicas, econômicas
e sociais ocorrido entre o final do século XVIII e o início do século XIX. Suas principais
características foram o uso do vapor como fonte primordial de energia - no lugar da força
muscular do ser humano, da tração animal e das energias hídrica e eólica - e a produção
mecanizada. Isso possibilitou a substituição das manufaturas pelas fábricas no processo de
produção capitalista.
As Grandes Navegações e o gigantesco incremento do comércio ha-
viam formado um mercado mundial que criou as condições iniciais
para que se desencadeasse a Revolução Industrial. A Inglaterra assumiu
a liderança desse processo, em grande parte devido aos capitais acumulados na fase do seu
capitalismo comercial e ao fato de contar com boas
condições naturais. O minério de ferro e o carvão ofereceram à indústria de máquinas as
matérias-primas e as fontes de energia necessárias ao seu desenvolvimento.
A indústria do algodão deu o tom da mudança. A Inglaterra queria
produzir tecidos mais baratos, principalmente para exportá-los para as
colônias. Até 1770, mais de 90% das exportações britânicas de tecidos
de algodão eram destinadas às colônias, em especial às africanas. A partir da década de
1790, a maior parte do algodão das fábricas inglesas saía do sul dos Estados Unidos, que
ainda usava trabalho escravo.
A Inglaterra e outros países que se industrializaram como a França,
a Bélgica e a Holanda (cujo nome oficial é Reino dos Países Baixos), levaram outras
regiões do mundo a se articular de acordo com seus interesses industriais, tanto na
produção como no consumo. A influência da indústria na produção mundial sofreu uma
expansão geográfica.
Apesar de a indústria britânica ser a melhor do mundo, foram as re-
lações coloniais e a possibilidade de exportação dos tecidos manufaturados em condições
vantajosas que garantiram à Inglaterra a sua superioridade nessa primeira fase da
Revolução Industrial.
Várias características gerais da Primeira Revolução Industrial podem ser
mencionadas. A produção passou a ser realizada em grandes unidades
fabris, com o predomínio de uma intensa divisão do trabalho. Isso criou
condições para o barateamento de preços e a expansão do mercado.
Houve uma separação entre o capital e o trabalho. Na pequena
produção mercantil, as formas artesanais da manufatura eram dominantes, e o produtor, o
comerciante e o proprietário dos meios de produção eram a mesma pessoa. Na estrutura
industrial, o trabalhador não é mais possuidor de meios de produção, sendo
obrigado a vender a sua força de trabalho como mercadoria. Essa é a principal
característica do modo de produção capitalista.
O grande agrupamento de trabalhadores levou a um forte movimento sindicalista, que foi
importante nas lutas dos trabalhadores europeus.
Houve enorme concentração da produção industrial em centros urbanos. Na Grã-
Bretanha, surgiram grandes cidades industriais, como Lancashire, Manchester,
Birmingham e Glasgow, entre outras.
As inovações técnicas eram rapidamente aplicadas a problemas práticos e absorvidas
pelos empresários.
A Segunda Revolução Industrial
Após o intenso crescimento da produção mundial ocorrido com a Primeira Revolução
Industrial, o capitalismo inglês passou por uma fase de crise de superprodução, em meados
do século XIX. Isso levou a Inglaterra a buscar soluções para a retomada da lucratividade.
Entre as soluções encontradas, destacam-se o avanço nos transportes, como a locomotiva e
o navio a vapor, e a expansão geográfica da Revolução Industrial para outros países da
periferia do sistema capitalista.
No final do século XIX, diante de nova crise, o esforço se deu no sentido de criar
tecnologias que levassem a maiores lucros, o que acabou ocasionando a Segunda
Revolução Industrial. Os países que lideraram esse processo foram a Alemanha e os
Estados Unidos.
A característica marcante da Segunda Revolução Industrial foi a apropriação da ciência e
da técnica como maneira de auxiliar o processo de acumulação de capital.
A ciência se transformou em propriedade capitalista. A pesquisa científica influía de tal
modo nos principais setores industriais que os capitalistas perceberam claramente a sua
importância como meio de estimular o aumento dos lucros.
A Alemanha deu início à incorporação da ciência à empresa capitalista, o que se deveu,
em grande parte, a seu alto grau de desenvolvimento científico e à necessidade de superar
o atraso do capitalismo no país. O país foi pioneiro na transformação da Química de pura
pesquisa em um ramo industrial de grande importância, com efeitos sobre o processo de
produção de outros ramos industriais.
Os Estados Unidos e a Alemanha tiveram uma trajetória diferente quanto às inovações. A
diferença fundamental é que nos EUA elas estavam ligadas mais ao empirismo técnico (a
prática dos inventores), ao passo que na Alemanha se estabeleciam mais pelo pensamento
reflexivo relacionado à ciência (a teoria científica).
Destacam-se os avanços em quatro campos fundamentais: eletricidade, aço, petróleo e
motor a explosão.
Algumas das principais características da Segunda Revolução Industrial podem ser vistas a
seguir.
Nesse período, as inovações técnicas passaram a desempenhar um papel central nas
empresas capitalistas. Algumas delas marcaram época e foram responsáveis por grande
parte do dinamismo capitalista, como é o caso da indústria automobilística.
O grande desenvolvimento da indústria levou a produção a concentrar-se em empresas
cada vez maiores. Foram criados trastes, cartéis e holdings. Tais associações
proporcionaram enorme superioridade sobre os concorrentes.
O papel dos bancos e das bolsas de valores tornou-se central no desenvolvimento do
capitalismo, pois essas instituições possibilitaram a fusão entre o capital bancário
(dinheiro de depósitos, etc.) e o capital industrial (máquinas, prédios, etc.). Foi também
nesse período que as exportações de capital adquiriram uma importância central no capita-
lismo, diferentemente do ocorrido durante a Primeira Revolução Industrial, quando as
exportações de mercadorias eram mais importantes.
As grandes empresas monopolistas associadas aos Estados modernos dividiram o mundo
entre si e transformaram essa nova partilha colonial em uma estratégia importante para o
avanço do capitalismo e da lucratividade das empresas. Esse período ficou conhecido
como imperialismo, e foi um dos principais fatores que levaram à Primeira Guerra
Mundial.
Cartel: Associação entre empresas do mesmo ramo de produção com objetivo de dominar o mercado e disciplinar a
concorrência. As partes entram em acordo sobre o preço, que é uniformizado geralmente em nível alto, e quotas de
produção é fixado para as empresas membro. No seu sentido pleno, os cartéis começaram na Alemanha no século XIX e
tiveram seu apogeu no período entre as guerras mundiais. Os cartéis prejudicam a economia por impedir o acesso do
consumidor à livre-concorrência e beneficiar empresas não rentáveis. Tendem a durar pouco devido ao conflito de
interesses.
Holding: Forma de organização de empresas que surge depois de os trustes serem postos na ilegalidade. Consiste no
agrupamento de grandes sociedades anônimas. Sociedade anônima é uma designação dada às empresas que abrem seu
capital e emitem ações que são negociadas em bolsa de valores. Neste caso, a maioria das ações de cada uma delas é
controlada por uma única empresa, a holding. A ação das holdings no mercado é semelhante a dos trustes. Uma holding
geralmente é formada para facilitar o controle das atividades em um setor. Se ela tiver empresas que atuem nos diversos
setores de um mercado como o da produção de eletrodomésticos, por exemplo, abocanha gordas fatias desse mercado e
adquire condições de dominar seu funcionamento.
Truste: Reunião de empresas que perdem seu poder individual e o submetem ao controle de um conselho de trustes.
Surge uma nova empresa com poder maior de influência sobre o mercado. Geralmente tais organizações formam
monopólios. Os trustes surgiram em 1882 nos EUA, e o temor de que adquirissem poder muito grande e impusessem
monopólios muito extensos fez com que logo fossem adotadas leis antitrustes, como a Lei Sherman, aprovada pelos
norte-americanos em 1890.
A Terceira Revolução Industrial
A Terceira Revolução Industrial também ficou conhecida como revolução técnica- -
científica e ocorreu marcadamente na segunda metade do século XX. A crise dos anos
1930 levou o capitalismo a desenvolver novas tecnologias, que foram em grande parte
aplicadas na Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra, elas se transformaram em
tecnologia de uso civil - inovações no setor farmacêutico e químico, o avião a jato e depois
o computador e a internet, entre outras. As inovações na agricultura – fertilizante,
defensiva e máquinas agrícolas - também foram amplamente aplicadas em várias partes do
globo.
Na América Latina, a instalação das empresas multinacionais marcou um período de
desenvolvimentismo, fundamental para a entrada de alguns países como o Brasil e a
Argentina em uma nova DIT.
A característica fundamental do pós-Segunda Guerra na organização do espaço mundial
foi a adoção do modelo fordista. Esse modelo visa a produções em grandes quantidades e
incentiva o consumo, de modo que mais pessoas se tomem consumidoras.
Com a crise dos anos 1970 (marcados pelos choques do petróleo de 1973 e 1979) surgiu
uma nova necessidade de desenvolvimento tecnológico. O Japão tornou-se líder nesse
momento, caracterizado pelo intenso uso de novas tecnologias para aumentar a
lucratividade do capital. Também nesse período houve uma nova expansão geográfica do
capitalismo industrial em direção ao Oriente (Japão, China, “Tigres Asiáticos”). Surgiu
ainda um novo tipo de organização do trabalho, muito mais produtivo, denominado
toyotismo.
Podemos dizer que a Terceira Revolução Industrial está ligada ao desenvolvimento dos
ramos da robótica, da biotecnologia, da indústria aeroespacial e das tecnologias da
informação.
As novas tecnologias permitiram o aumento da produção de alimentos, a melhoria das
condições sanitárias e de saúde, a redução da taxa de mortalidade, etc.
Além disso, a tecnologia possibilita o crescimento econômico ao tomar o trabalho mais
produtivo, aumentando o rendimento das colheitas e da produção industrial, bem como
melhorando a eficiência no setor de serviços.
No entanto, ainda que a criação de novas tecnologias requeira reflexões e formulações
teóricas, ela não resolve todos os problemas da humanidade. Uma das principais questões
é que a produção tecnológica se dá de forma muito desigual no espaço mundial. Existem
países com alto grau de tecnologia que mantêm boas condições de vida e desenvolvi-
mento. Por outro lado, nos países que se inserem de forma submissa na DIT, a tecnologia
gera mais desigualdades internas e externas. O uso de tecnologia importada muitas vezes
pode levar ao desemprego, provocando o aumento da pobreza nesses países.
As novas Tecnologias
Agora fazer as
atividades !!!