CCM � CONSELHO CRISTÃO DE MOÇAMBIQUE
DELEGAÇÃO PROVINCIAL DE INHAMBANE
Estrada Nacional No 1, Bairro Rumbana 3, Cidade de Maxixe
Inhambane
Pesquisa sobre o nível de abastecimento de
água nas Localidades de Dongane,
Nhapadiane, Mocumbi e Mahalamba no
Distrito de Inharrime, Inhambane
ABRIL DE 2010
PESQUISA REALIZADA POR
Armindo F. Tomo Consultor de Planificação Estratégica e Descentralização
E-mail: [email protected]
Telefone: (+258) 84 39 84 402
Fixo: (+258) 293 21 146
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Inhambane
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1
SIGLAS E ACRÓNIMOS
CCD Conselho Consultivo Distrital
CCM Conselho Cristão de Moçambique
DPOPH Direcção Provincial das Obras Públicas e Habitação
GPS Sistema de Posicionamento Geográfico
MT Metical
ONG Organização Não-Governamental
PARPA Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta
PDARI Programa de Desenvolvimento de Água Rural de
Inhamabne
PESOD Plano Económico e Social e Orçamento do Estado
SDPI Serviço Distrital de Planeamento e Infra-estruturas
SDSMAS Serviço Distrital da Saúde, Mulher e Acção Social
2
ÍNDICE
Assunto Pág
I ABSTRACT 3
II BACKGROUND 4
A. Problema da Pesquisa 4
B. Conceitos chave 4-8
C. Actores e informação 8-9
D. Objectivos da Pesquisa 10
E. Caracterização do Distrito de Inharrime 10-11
III QUESTÕES DA PESQUISA 11-12
IV RECOLHA DE DADOS 12-14
V RESULTADOS 14-20
VI INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 20-24
VII CONCLUSÕES 24-26
VIII RECOMENDAÇÕES 26-28
REFERÊNCIAS 29
3
I. ABSTRACT
O relatório que se apresenta é resultado de uma pesquisa sobre o nível de
abastecimento de água nas Localidades de Dongane e Nhanombe no Posto
Administrativo da Sede e Mahalamba e Nhapadiane no Posto Administrativo de
Mocumbi, no Distrito de Inharrime, entre Março e Abril de 2010.
A pesquisa tinha em vista (i) descrever o ponto de situação dos indicadores de
água potável nas regiões seleccionadas durante os últimos 5 anos, (ii)
identificar as práticas localmente usadas de modo a assegurar o actual nível de
acesso à agua e; (iii) identificar as soluções e responsabilidades institucionais
propostas pelas comunidades das regiões em estudo para que haja aumento
da cobertura de água potável.
A pesquisa compreendeu 5 fases principais:
1. Levantamento da informação preliminar que permite melhor focalizar a
área de estudo, os informantes chaves e as relações institucionais
existentes no processo de abastecimento de água rural;
2. Elaboração das questões de estudo orientadas para responder a
situação de abastecimento da água em termos de quantidade, qualidade
e distância percorrida de e para a fonte de água;
3. Recolha de dados através de fichas para dados quantitativos e
entrevistas semi-estruturadas dirigidas principalmente à população
beneficiária nas zonas do estudo
4. Análise de dados em conformidade com os padrões previamente
estabelecidos e;
5. Elaboração e entrega do relatório final da pesquisa com base no formato
acordado com o contratante.
A recolha de dados foi feita mediante consultas de documentos nas instituições
seleccionadas e entrevistas abertas a entidades indicadas no plano de
entrevistas.
4
II. BACKGROUND
A. PROBLEMA DA PESQUISA
A pesquisa do nível de abastecimento de água nas 4 Localidades do Distrito de
Inharrime surge como uma resposta à necessidade que o CCM tem de saber, o
ponto se situação dos indicadores de cobertura de água potável. A resposta a
esta demanda encontra-se fundamentalmente através de comparação entre a
informação obtida nos relatórios das instituições do sector e as observações e
informações dos beneficiários dos serviços de abastecimento de água. O CCM
pretende com o estudo identificar as práticas localmente usadas para
assegurar o actual nível de acesso à água bem como as soluções e
responsabilidades institucionais propostas por aquelas comunidades para que
haja aumento da cobertura de abastecimento de água.
Pretende-se também que os resultados da pesquisa possam ser usados como
instrumento de advocacia no Governo Distrital, no Observatório de
Desenvolvimento da Província de Inhambane bem como em outros fóruns onde
se julgar necessário.
B. CONCEITOS CHAVES
O Conselho Cristão de Moçambique (CCM) é uma organização religiosa que
congrega igrejas cristãs de Moçambique que aceitam os seus estatutos e
trabalham nessa linha de orientação. Para o desenvolvimento da parte
espiritual e material dos seus crentes, das Igrejas membros e das comunidades
em geral, o CCM facilita a realização das actividades dentre outras a
evangelização, emergência, formação para o desenvolvimento comunitário e
governação com vista a reduzir o impacto da pobreza dessas comunidades no
âmbito do PARPA.
Actualmente, esta a implementar em parceria com a MS-Moçambique o
programa de Construção da Democracia Local no qual a presente pesquisa
sobre o nível de abastecimento de água rural está inserida.
Neste contexto e para melhor estabelecer os limites conceptuais nos quais a
pesquisa decorreu, apresenta-se em seguida a discussão dos principais
conceitos adoptados para o trabalho.
5
Abastecimento de água rural em termos de quantidade
A visão do Governo de Moçambique, plasmada na Política Nacional de Águas1
é de que o futuro desejado em relação à água é aquele onde a água esteja
disponível em quantidade e qualidade adequadas para as gerações actuais e
futuras, servindo para o desenvolvimento sustentável, redução da pobreza e
promoção do bem-estar e paz e onde se minimizam os efeitos negativos das
cheias e secas. No que diz respeito ao abastecimento de água em áreas rurais,
os principais objectivos do Governo são nomeadamente alcançar uma
cobertura de 70%, correspondendo a servir cerca de 11 milhões de pessoas
até 2015; garantir a longo prazo acesso universal a um abastecimento de água
seguro e fiável e um aumento do nível mínimo de serviço e; assegurar a
sustentabilidade dos sistemas.
Os tipo de abastecimento de água rural em Moçambique são poços ou furos
equipados com bombas manuais, sistemas de captação de água das chuvas,
nascentes protegidas e, pequenos sistemas de abastecimento de água
servindo pequenos aglomerados populacionais.
Em termos quantitativos, o nível mínimo de serviços é uma fonte equipada com
bomba manual que sirva 500 pessoas com um consumo de 20 litros/pessoa/
dia.
Abastecimento de água rural em termos de qualidade
A qualidade de água refere basicamente às características físicas, químicas e
biológicas que propiciam a sua utilização conforme as necessidades humanas
que, no caso desta pesquisa seria a utilização para as aplicações domésticas
da população. Os padrões frequentemente usados para avaliar a qualidade da
água relacionam-se com o conceito de água potável, saudável ao contacto
humano e para os ecossistemas. Os parâmetros microbiológicos mais usados
na avaliação da qualidade de água para o consumo humano, incluem os níveis
de contaminação por coliformes (Escherichia coli), outras espécies de bactérias
patogénicas (Vibrio cholerae), vírus e protozoários parasitas2.
Em Moçambique, a água destinada para o consumo humano, define-se como:
a) Toda a água no seu estado original ou após tratamento destinada a ser
bebida, a cozinhar, a preparar alimentos ou para outros fins domésticos,
6
independentemente da sua origem e de ser fornecida a partir de um
sistema de abastecimento de água com ou sem fins comerciais e;
b) Toda a água numa empresa da indústria alimentar para o fabrico,
transformação, conservação ou comercialização de produtos destinados
ao consumo humano.
A água potável é aquela que é própria para o consumo humano, pelas suas
qualidades organolépticas, físicas, químicas e biológicas3. A qualidade de água
para o consumo humano é a característica dada pelo conjunto de valores de
parâmetros microbiológicos, organolépticos e físico-químicos fixados que
permitem avaliar se a água é potável ou não. O controlo dessa qualidade é o
conjunto de acções realizadas pela autoridade competente e entidade gestora
dos sistemas de abastecimento de água com vista à manutenção permanente
da sua qualidade em conformidade com as normas legalmente estabelecidas.
Constituem parâmetros de qualidade aplicáveis obrigatoriamente à água
destinada para o consumo humano fornecida por fontes de abastecimento
público sem tratamento, os estabelecidos na tabela que se segue.
7
8
Em termos da frequência da acção de controlo de qualidade de água estão
estabelecidos regimes nomeadamente controlo inicial, controlo de rotina,
controlo periódico e controlo excepcional. Cada um destes regimes de controlo
tem indicados os parâmetros que devem ser verificados mas, para a água
destinada para o consumo humano sem tratamento respeitam-se os coliformes
totais, fecais e Vibrio cholerae para qualquer regime de controlo (inicial, rotina,
periódico e excepcional).
Acesso à água: distância de e para a fonte de captação
No documento final do Plano Estratégico de Água e Saneamento Rural4
apresenta-se que o padrão para a cobertura por abastecimento de água rural
para a população dispersa é, de um furo/poço equipado com uma bomba
manual abastecendo 500 pessoas (cerca de 100 famílias) num raio de 500
metros ou, uma nascente protegida abastecendo 500 pessoas.
C. ACTORES E INFORMAÇÃO
No contexto desta pesquisa são identificados como actores as pessoas ou
entidades, singulares ou colectivas que beneficiam, fornecem serviços,
regulamentam ou comparticipam na implementação de acções conducentes ao
abastecimento de água nas zonas rurais alvo.
Estes actores foram identificados durante a 1ª fase da pesquisa que é o
levantamento da informação preliminar e, foram considerados suficientes para
a informação requerida. Cada um deles, devido as características que o
distinguem dos outros oferece informação de particular interesse para a
pesquisa.
Para facilitar a identificação e caracterização dos actores foi preenchida a ficha
que se segue. Mais importante é salientar que de um modo geral cada um
destes actores tem várias funções e competências mas foram apenas
seleccionadas que têm relevância específica para a pesquisa.
9
Órgão/Organização Pessoas de contacto/referência para
cada actor e audiência
Papel que desempenha/determinante da sua escolha
Direcção Provincial
das Obras Públicas e Habitação de
Inhambane
Departamento de Água e
Saneamento e Departamento de Planificação e Estatística
Tem a função de assistir os Governos
Distritais na planificação de actividades de
Água e Saneamento Rural, na aplicação do
Princípio da Procura e Participação e
Educação Comunitária de Água e
Saneamento Rural
Governo Distrital de Inharrime
Administrador Distrital É o representante da autoridade central da
administração do Estado no Distrito (Art.31
Decreto 11/2005 de 5 de Junho) e compete-lhe zelar pela manutenção dos sistemas de
abastecimento de água, fontanários e
saneamento básico (alínea c do No8 do
Art.39 do mesmo Decreto)
Secretário Permanente Compete-lhe assegurar a coordenação da
execução e controlo das decisões do
Governo Distrital (alínea a do No1 do Artigo 53 do Decreto 11/2005 de 5 Junho)
SDSMAS Tem a função de promover a higiene, o
saneamento do meio e a qualidade de vida (alínea e do N
o1 do Artigo 7 do Decreto 6/2006 de 12 de Abril)
SDPI Tem a função de promover a construção e
gestão de fontes de abastecimento de água
potável (Art.5 do Decreto 6/2006 de 12 de
Abril)
Chefe da Localidade Representante da autoridade central da administração do Estado na Localidade (N
o 1 do Artigo 61 do Decreto 11/05 de 5 de Junho) e compete-lhe promover a higiene e o saneamento do meio (alínea b do Artigo 62
do Decreto 11/05 de 5 de Junho)
Conselho Consultivo da Localidade
Membros das comissões
de planeamento e infra-estruturas
Tem função de sensibilizar a comunidade na gestão das fontes de abastecimento de água
através dos comités de água5
Escola Um professor e uma professora
Deverão ser professores que para além de
serem residentes estão ou estiveram ligados
a questões de abastecimento de água para
a escola ou para a comunidade
ONG, Agências de Cooperação
Representantes Apreciação de outros parceiros sem
identificação com o Governo e com os
beneficiários dos serviços de abastecimento
de água
Dois cabos de terras ou líderes comunitários (dentre os quais uma mulher) em cada Localidade
10
D. OBJECTIVOS DA PESQUISA
De uma forma geral pretende-se analisar a situação actual do nível de
abastecimento de água rural nas Localidades de Nhanombe, Dongane,
Nhapadiane e Mahalamba no Distrito de Inharrime.
Em termos específicos, a pesquisa pretende descrever os indicadores e
critérios de cobertura pelo abastecimento de água rural no País, Província de
Inhambane e Distrito de Inharrime; recolher as percepções dos beneficiários
dos serviços de abastecimento de água rural em relação aos desafios e
sucessos na satisfação das suas necessidades em água e; estabelecer
relações entre os indicadores e critérios nacionais (nível político e estratégico),
resultados alcançados a nível provincial e distrital (nível operacional ou de
implementação) e a percepção dos beneficiários dos serviços de
abastecimento de água rural (nível de utilização/beneficiação). Para reforçar
este último aspecto de formulação de relações, a pesquisa buscará também a
percepção de entidades que não estão directamente no nível de utilização,
como as ONG e parceiros de cooperação internacional e associações de
desenvolvimento comunitário operando no Distrito de Inharrime.
E. CARACTERIZAÇÃO DO DISTRITO DE INHARRIME
O Distrito de Inharrime, situa-se a sul da Província de Inhambane, sendo a
Sede do Distrito a Vila de Inharrime, situada a 94 Kms da capital provincial de
Inhambane e atravessada pela Estrada Nacional No 1.
Limita-se ao Norte com o Distrito de Jangamo, a Sul com o Distrito de Zavala, a
Este com o Oceano Indico e a Oeste com os Distritos de Panda e Homoíne.
Em termos administrativos divide-se em dois Postos Administrativos sendo o
da Sede com três Localidades nomeadamente, Nhanombe, Dongane e
Chacane e o Posto Administrativo de Mocumbí com duas Localidades,
Mahalamba e Nhapadiane6
Tem uma superfície de 2.149 km² e segundo o censo de 2007 uma população
de 97.471 habitantes, e densidade populacional de 45,4 habitantes/km².
11
Registou-se um aumento de 27,4% em relação aos 76.518 habitantes
registados em 19977.
Com base no censo de 1997 foi feita uma estimação para 2005 e resultou na
seguinte distribuição da população por Posto Administrativo: Inharrime-Sede
(Nhanombe, Dongane e Chacane), 67 363 habitantes e Mocumbi (Mahalamba
e Nhapadiane) 26 091 habitantes totalizando 93.454 habitantes8
O relevo do distrito tem duas características, zona de litoral com solos acidentados e zona do interior pouco acidentados e planícies com solos férteis
favoráveis para a agricultura e pecuária
O Distrito de Inharrime possui 5 rios e 7 lagoas nomeadamente Inharrime, Nharave, Nhamitande, Nhaliwawe e Inhassune e as lagoas Dongane, Nhacuecue, Poelela, Nhanjele, Nhalindate, Mavunjane e Sulue
III. QUESTÕES DA PESQUISA
Para responder aos objectivos da pesquisa foram elaboradas questões gerais
ou temas chave para a recolha de informação nos entrevistados. As questões
foram elaboradas de tal forma que permitem recolher informação capaz de
responder directa ou indirectamente aos critérios de avaliação da cobertura de
abastecimento de água rural nomeadamente quantidade, qualidade e distância
de e para a fonte de busca da água. Apresentam-se em seguida as referidas
questões:
1. Quantidade de água/Distância de e para a fonte
a) Onde busca a água (poço, rio, furo, etc.). Quem busca água e em que
período do dia? Quantas vezes vai ao local em cada dia? b) Qual é a quantidade de água que consegue trazer da fonte? Essa água
é suficiente para que actividades? c) O que precisaria para ter mais quantidade de água?
2. Qualidade da água
a) Se tivesse que escolher água para beber qual seria, a actual ou doutro
sítio b) Onde é que os animais bebem água c) Quem faz a limpeza da fonte de onde buscam a água? Com que
frequência? d) Que cor observa-se na água? e) Com que frequência se registam doenças diarreicas nesta zona?
12
3. Gestão das fontes de água
a) Quem construiu a fonte de água? Quando? b) Quem é o chefe da fonte de água c) O que contribuem os utentes da fonte para garantir a boa qualidade e
quantidade da água d) Quais são as tarefas do chefe da fonte
O que acontecerá quando não haver mais água na fonte/ quando
avariar?
Para responder estas questões foi desenhado um procedimento de entrevistas
abertas.
IV. RECOLHA DE DADOS
A recolha de dados obedeceu dois momentos sendo, o primeiro de recolha de informação de base por Povoado através de consulta a documentos oficiais e
entrevistas com os responsáveis das instituições seleccionadas, como mostra a tabela que se segue.
Informação sobre
Nhanombe Dongane Mahalamba Nhapadiane
P1 P2 P3 P1 P2 P3 P1 P2 P3 P1 P2 P3
1 No de habitantes 2 No de agregados
familiares
3 No de fontes de água 4 No de comités de água 5 Rios, riachos e lagos 6 Nascentes de água
doce
7 Nível de lençol freático 8 Incidência de doenças
diarreicas
9 Efectivos de gado bovino
10 Distância da Vila-Sede 11 Transitabilidade das
vias a partir da Sede
12 Cobertura de abastecimento de água
(% e No de fontes)
Quadro de recolha de informação básica. P1= Um dos Povoados da Localidade
Esta informação foi recolhida nas instituições do Estado correspondentes a
nível do Distrito. Assim, a informação sobre 1 e 2 foi recolhida na Secretaria
Distrital; 3, 4, 5, 6, 7, 10, 11 e 12 no Serviço Distrital de Planeamento e Infra-estruturas; 8 no Serviço Distrital de Saúde, Mulher e Acção Social; 9 no Serviço
Distrital das Actividades Económicas. A indicação destas instituições não
impede a consulta em outras instituições e pessoas.
13
Importa referir que cada uma das informações do quadro acima transporta um pressuposto aplicável para avaliar a situação de abastecimento de água em
termos de desafios e factores de sucesso. Assim, as informações 1 até 3
permitem contrastar o número de habitantes, agregados familiares e número de
fontes dado que o padrão de abastecimento de água rural estabelecido pelo
Governo é de 1 fonte para 500 pessoas ou 100 agregados familiares.
A informação 4 sobre o número de comités permite reflectir sobre a
sustentabilidade das fontes no ponto de vista de gestão porque se por exemplo existirem fontes sem comité de gestão é possível prever que seja um furo
avariado ou que avariará e sem possibilidade de reparação.
As informações 5 e 6 referem as fontes de água alternativas aos furos. Em
caso por exemplo de maior concentração destes rios, riachos e nascentes é
possível prever uma fraca aderência da população ao uso dos furos por razões
de hábito.
A informação 7 sobre a profundidade a que se encontra o lençol freático, está
relacionado com a viabilidade da instalação das bombas manuais.
A incidência das doenças diarreicas é um indicador indirecto mas muitas vezes
plausível para avaliar a qualidade da água. A razão é que as doenças
diarreicas são maioritariamente causadas por micro-organismos encontrados em águas impróprias para o consumo humano.
Os efectivos de gado bovino na informação 9 permitem reflectir sobre a
demanda em água na comunidade para o abeberamento de gado mas também
em caso de maiores efectivos de gado e poucas fontes de água pode indicar
que as pessoas e o gado disputam as mesmas fontes e isto pode contribuir para enfraquecer a qualidade de água e constituir risco para a saúde das
pessoas. Esta disputa pode também traduzir-se em uma enorme pressão para
as bombas de água manuais uma vez que foram concebidas para fornecerem água a um determinado número de consumidores e que certamente não inclui
o gado bovino.
A distância da Vila-Sede para os locais onde as fontes se localizam permite reflectir sobre a viabilidade da assistência técnica do Serviço Distrital de
Planeamento e Infra-estruturas ou outras entidades baseadas na Vila. Permite também reflectir sobre a sustentabilidade das bombas manuais na componente
de aquisição das peças sobressalentes porque se a distância for maior até a
deslocação para a aquisição das peças pode ser mais cara que as próprias
peças.
O segundo momento da recolha de dados consistiu na realização de
entrevistas abertas com base nas questões chave arroladas na Secção III. As
14
questões foram colocadas de tal forma que o entrevistado não tinha que fornecer resposta directas mas, apresentar respostas a partir do desenvolvimento da conversa. Isto permitiu buscar com maior profundidade a opinião dos entrevistados sobre os vários aspectos de abastecimento de água
rural. A disposição dos entrevistados nas Localidades está na tabela que se
segue.
Tabela de entrevistados a nível das Localidades
(*) Dependerá do número de Povoados
V. RESULTADOS
Antes de entrar nas informações dos beneficiários, apresenta-se os resultados da informação básica recolhida através das instituições do Estado. Esta informação é importante para sustentar ou questionar as opiniões dos
beneficiários entrevistados, portanto, é uma informação que ajuda a controlar a
qualidade dos dados apesar também ser controlada pela informação dos
beneficiários.
Nas Localidades
Entrevistados No
Membros dos comités de gestão de água (2/3 de mulheres)
em cada Localidade 20
Membros das Comissões de Planeamento e Infra-estruturas nos Conselhos Consultivos das Localidades (2/3 mulheres)
8
Um professor e uma professora de uma escola em cada Localidade (professores residentes)
8
Chefe da Localidade 4 Chefes dos Povoados 12* Dois cabos de terras ou líderes comunitários (dentre os
quais uma mulher) em cada Localidade 8
Dois membros de associações de criadores de gado bovino 8 TOTAL 68
15
Informação sobre
Nhanombe Dongane Mahalamba Nhapadiane
P1 P2 P3 P1 P2 P3 P1 P2 P3 P1 P2 P3
1 No de habitantes Ver as tabelas seguintes 2 No de agregados
familiares Ver as tabelas seguintes
3 No de fontes de água
Ver as tabelas seguintes
4 No de comités de
água Em todas as fontes existem comités de gestão
5 Rios, riachos e lagos
Existem e são as fontes tradicionais de abastecimento
de água através de poços de céu aberto 6 Nascentes de água doce
7 Nível de lençol
freático Até 90 m por isso nem sempre viável para bombas
manuais 8 Incidência de
doenças
diarreicas
Varia consoante as estações do ano e ocorrência das
chuvas
9 Efectivos de gado bovino
Existentes mas que o abeberamento é feito nos rios e
lagoas. São poucos casos de abeberamento em furos de água equipados com bombas manuais
10 Distância da
Vila-Sede Longas no sentido de deslocações para a aquisição de
sobressalentes para a manutenção das bombas
manuais 11 Transitabilidade
das vias a partir da Sede
Não aplicável na análise de abastecimento de água
rural
12 Cobertura de abastecimento de água (% e N
o de fontes) em 2009
52,7% e 142 fontes das quais 108 operacionais e 34 avariadas)
Quadro de recolha de informação básica. P1= Um dos Povoados da Localidade
Os resultados das entrevistas são em seguida apresentados por Localidade de acordo com as questões gerais que formam o guião do entrevistador.
Localidade de Mahalamba
1. Entrevistados
01 Chefe da Localidade 01 Régulo Mocumbi 01 Líder comunitário do 1º escalão do círculo 02 Líderes comunitários do 2º escalão 03 Anciãos 02 Cabos de terra do Povoado de Nhacuaha 02 Chefes das zonas 1 e 2
16
2. Localização e estado das fontes de água
LOCALIDADE DE MAHALAMBA
Povoado N
o de
habitantes
No
Total
de
fontes
Demanda
teórica
total
Operac.
Fontes
por
construir/
reabilitar
Não
operac.
% de
não
operac.
1 Ussaca 1.200 1 2 1 1 0 0 2 Chitava 1.040 1 2 1 1 0 0 3 Mangoro 958 0 2 0 2 0 N/A 4 Chirambo 1.181 0 2 0 2 0 N/A 5 Macita 370 1 1 1 0 0 0 6 Chalauane 550 2 1 1 0 1 1 7 Nhacuaha 2.280 2 5 2 3 0 0 8 Nhatava 924 1 2 1 1 0 0 9 Malene 570 0 1 0 1 0 10 Muenda 300 3 1 3 -2 0 0 11 Manguenhane 320 2 1 2 -1 0 0 12 Cove 1.150 2 2 2 0 0 0 13 Ziquelimão 388 0 1 0 1 0 N/A 14 Gonzane 279 0 1 0 1 0 N/A 15 Chambá 305 1 1 1 0 0 0 16 Nhalivilo 636 3 1 2 -1 1 0 17 Marucula 726 3 1 1 0 2 1 17 Mahalamba 2.353 5 5 3 2 2 0 18 Dombola 948 5 2 5 -3 0 0 TOTAL 16.478 32 33 26 7 6 0 Fonte: Levantamento do consultor, Abril de 2010 através dos chefes das Localidades
3. Respostas em relação à quantidade de água
A maior parte da população busca água nos furos e poços de céu
aberto; As mulheres e crianças buscam a água em média 2 vezes ao dia
Em cada vez busca-se entre 20 a 25 litros de água e não é suficiente
nem para beber, cozinhar e tomar banho; Para reduzir o défice de água a opção seria a construção de mais
furos e cisternas para as pessoas que têm casa de alvenaria e
cobertura de chapas de zinco;
4. Respostas à qualidade de água
A água que actualmente é consumida é preferida em relação à água
das nascentes e lagoas; O abeberamento do gado é feito nos rios, lagoas e nascentes; Os comités de gestão de água coordenam a limpeza semanal das
fontes de água pela comunidade; A água não apresenta qualquer cor que merece atenção mas no
período de transição entre a estação chuvosa e seca registam-se doenças diarreicas.
As doenças diarreicas que se registam não são causadas pela
contaminação da água mas, pela mudança da estação do ano.
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5. Resposta à gestão das fontes de água
A maior parte dos furos de água foi construída pelo Governo Distrital
a partir de 2003; Para chefe de cada fonte de água um chefe é escolhido na
comunidade com base no critério de idoneidade; Os utentes dos furos de água contribuem um valor mensal de 10,00
MT para a aquisição de peças de manutenção e reparação; O chefe da fonte é o coordenador do comité de gestão da água e
assegura a comunicação com a comunidade sobre a fonte.
Localidade de Nhapadiane
1. Entrevistados
01 Chefe da Localidade 01 Régulo Mocumbi 01 Líder comunitário de Nhamitanda 02 Líderes comunitários de Mussana 1º Vogal do CCD
2. Localização e estado das fontes de água
LOCALIDADE DE NHAPADIANE
Povoado N
o de
habitantes
No
Total
de
fontes
Demanda
teórica
total
Operac.
Fontes
por
construir/
reabilitar
Não
operac.
% de
não
operac.
1 Mujoote 1.258 2 3 1 2 1 50 2 Senduza 422 1 1 1 0 0 0 3 Nhapadiane 789 1 2 0 2 1 100 4 Cucua 376 2 1 1 0 1 50 5 Mungongo 225 0 0 0 0 0 N/A 6 Dalala 146 0 0 0 0 0 N/A 7 Chissaca 538 0 1 0 1 0 N/A 8 Machambo 830 0 2 0 2 0 N/A 9 Mavela 748 0 1 0 1 0 N/A 10 Naila 350 0 1 0 1 0 N/A 11 Majongota 1.278 0 3 0 3 0 N/A 12 Boquisso 323 0 1 0 1 0 N/A 13 Mussane 598 0 1 0 1 0 N/A 14 Ancoca 513 0 1 0 1 0 N/A 15 Cuiaia 1.368 0 3 0 3 0 N/A TOTAL 9.762 6 20 3 17 3 50
Fonte: Levantamento do consultor, Abril de 2010 através dos chefes das Localidades
18
3. Respostas em relação à quantidade de água
A maior parte da população busca água nos furos e poços de céu
aberto. Em alguns Povoados buscam água directamente no rio;
As mulheres e crianças buscam a água em média 2 vezes ao dia, saindo as 5h regressam por volta das 13h. O furo não tem
capacidade para abastecer a água para todos; Em cada vez busca-se entre 20 a 25 litros de água e não é suficiente
nem para beber, cozinhar e tomar banho; Para reduzir o défice de água a opção seria a construção de mais
furos, divisão equitativa dos furos por Povoados e nas escolas para
os alunos e professores; A actual água é de preferência em relação a dos rios e lagoas.
4. Respostas à qualidade de água
A água que actualmente é consumida é preferida em relação à água
das nascentes e lagoas; Normalmente o abeberamento do gado é feito nos rios, lagoas e
nascentes mas devido a seca a tendência para o uso da água dos
furos para o gado; A limpeza das fontes de água é feita trimestralmente pela população
sob orientação do comité de gestão da água; A água não apresenta qualquer cor que merece atenção; As doenças diarreicas não são muito frequentes (2 vezes por ano
tem aparecido pessoas com estes problemas) principalmente depois de chuva.
5. Resposta à gestão das fontes de água
Dois furos construídos pelo PDARI, três por Água Rural e dois pelo
SDPI; Em cada fonte já existe um fundo para a manutenção e reparação da
bomba de água. Localidade de Dongane
1. Entrevistados
01 Chefe da Localidade 02 Professoras 02 Anciãos
19
2. Localização e estado das fontes de água
LOCALIDADE DE DONGANE
Povoado N
o de
habitantes
No
Total
de
fontes
Demanda
teórica
total
Operac.
Fontes por
construir/
reabilitar
Não
operac.
% de
não
operac.
1 Cuanguane 2.260 0 5 0 5 0 N/A 2 Macunguela 3.580 3 7 1 6 2 67 3 Cambula 3.885 3 8 1 7 2 67 4 Mafassane 3.610 11 7 9 -2 2 18 5 Nharregula 4.000 6 8 6 2 0 0 6 Doropa 402 0 1 0 1 0 N/A 7 Ngulela 1.956 2 4 2 2 0 0 8 Chichacha 3.500 3 7 1 6 2 67 9 Nhamuessa 2.500 1 5 1 4 0 0 TOTAL 25.693 29 51 21 30 8 28
Fonte: Levantamento do consultor, Abril de 2010 através dos chefes das Localidades
3. Respostas em relação à quantidade de água
Os riachos localizam a cerca de 5 Km e busca-se a água 2 vezes/dia;
A água obtida das fontes é insuficiente para as necessidades
domésticas; Uma opção para aumentar a disponibilidade de água é a montagem
de bombas que funcionam com painéis solares porque não avariam
com facilidade;
4. Respostas à qualidade de água
O gado bebe água muito longe das fontes de água para o consumo humano. O gado vai para os afluentes de Nhakue e Chicongoongue, Rochene e Lago Dongane;
Há vezes que alguns criadores de gado buscam água no furo com
bacias para dar os animais em dias alternados; Quando não chove há diarreias.
5. Resposta à gestão das fontes de água
As fontes foram construídas pelo Governo Distrital; Para manter a fonte os utentes contribuem 10,00 a 20,00 MT ao mês.
Localidade de Nhanombe
1. Entrevistados
Secretário do comité do círculo Chinhembo
Secretário do povoado Nhancolola
Adjunto do líder comunitário Nhancolola
Polícia comunitária de Nhancolola
5 Representantes da comunidade
20
Gestor do furo de água de Nhancolola
Mensageiro
Representante da comunidade
Adjunto secretário do povoado de Nhancolola
2. Localização e estado das fontes de água
LOCALIDADE DE NHANOMBE
Povoado N
o de
habitantes
No
Total
de
fontes
Demanda
teórica
total
Operac.
Fontes
por
construir/
reabilitar
Não
operac.
% de
não
operac.
1 Chinhembo 3.033 1 6 0 6 1 100 2 Ngulela 1.962 0 4 0 4 0 N/A 3 Nhancolola 1.533 1 3 1 2 0 0 4 Nhantumbo 2.664 4 5 4 1 0 0 5 Ucuane 1.715 0 3 0 3 0 N/A 6 Macupulane 4.938 0 10 0 10 0 N/A 7 Chemane 1.775 0 4 0 4 0 N/A 8 Muchipa 2.779 0 6 0 6 0 N/A 9 Sihane 1.614 0 3 0 3 0 N/A 10 Conge 1.628 0 3 0 3 0 N/A 11 Incuane 1.386 0 3 0 3 0 N/A TOTAL 25.027 6 50 5 45 1 17
Bairros da Vila-Sede
1 Nhamiba 2.835 2 6 2 4 0 0 2 Chiticua 1.184 1 2 1 1 0 0 3 Nhancondo 1.974 2 4 1 3 1 50 4 Chelengo 2.486 5 5 4 1 1 20 5 Ucula 830 0 2 0 2 0 N/A TOTAL 9.309 10 19 8 11 2 20 G. TOTAL 34.336 16 69 13 56 3 19
Fonte: Levantamento do consultor, Abril de 2010 através dos chefes das Localidades
As respostas em relação a quantidade, qualidade e gestão das fontes da água
são similares às das outras Localidade e desta forma dispensa-se menção.
VI. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
Todos os dados recolhidos, desde o número de habitantes até as fontes de
água não podem ser considerados exactos e nem oficiais pois não foram
extraídos de uma estatística oficial. Não foram encontrados em Inharrime
documentos oficiais com estes dados sendo que o Serviço Distrital de
Planeamento e Infra-estruturas também apoiou-se de alguns destes dados
para actualizar a sua base de dados. Porém, comparando por exemplo o
21
número de habitantes encontrado para as 4 Localidades (86.269) com a
população de Inharrime através do censo de 2007 (97.471 habitantes) e tendo
em conta que a Localidade de Chacane não foi incluída, pode afirmar-se que
os dados são válidos para efeitos de análise dos níveis de abastecimento de
agua rural.
A população total estimada para as 4 Localidades abrangidas pelo estudo é de
86.269 habitantes. Em termos teóricos esta população representa uma
demanda total de 173 furos de água equipados com bombas manuais. Como
os dados mostram, existem 63 furos operacionais e, então a quantidade de
furos por construir ou reabilitar seria de 110. Estes cálculos tomam como base
o padrão estabelecido pelo Governo indicando um rácio de 1 furo de água
equipado de bomba manual servindo 500 pessoas ou 100 agregados familiares
percorrendo uma distância de 500 metros de e para a fonte.
O número total de fontes construídas (operacionais e não operacionais) nas 4
Localidades é 83. Comparando este número com a demanda calculada com
base na população existente (173 fontes), representa aproximadamente 50%.
Isto significa que metade da população estaria coberta pelo abastecimento de
água através de furos equipados com bombas manuais. Mas esta cobertura
baixa ainda mais porque 20 das 83 fontes estão avariadas e certamente num
estado avançado de degradação tal que a sua reparação é mais cara que a
reposição, avaliando pelas contribuições monetárias mensais que os utentes
fazem para responder à manutenção das bombas manuais. Em quase todos os
comités, as contribuições não vão além de 10,00 MT e tendo em conta que os
acessórios das bombas encontram-se na Vila de Inharrime e mais provável na
Maxixe, poucos comités estão em altura de manter correctamente o
funcionamento de uma bomba.
Outro aspecto é que em nenhum caso existe a possibilidade de a fonte de água
situar-se a 500 metros para mais do que um agregado familiar, quer dizer, o
mais provável é de apenas uma família encontrar-se perto da fonte e as demais
encontrarem-se distantes. Esta situação deve-se ao facto de as famílias
estarem dispersas ao contrário de outros Distritos da Província de Inhambane
22
como Mabote onde em alguns casos as pessoas vivem em aldeias (exemplo:
Aldeia de Chitanga, Mabote).
O Distrito de Inharrime possui rios, lagos e nascentes de água doce que,
poderiam ser mencionados como fontes de água para o consumo humano. E
de facto, foi mencionado que há muitas pessoas que usam a água destas
fontes para o consumo em suas casas. Mas pelo facto de a água destas fontes
ser encontrada em poços de céu aberto, não pode ser considerada como água
potável a não ser que sejam construídos poços melhorados com lajes nesses
locais. Nos poços de céu aberto há maior possibilidade de contaminação da
água por micro-organismos patogénicos e principalmente em tempos de chuva.
No global a percentagem das bombas avariadas é 24% e, é alta tendo em
conta que maior parte dos Povoados têm até 3 furos de água equipadas com
bomba manual. Em muitos casos avariar uma bomba significa não haver mais
nenhuma e retorno ao uso de fontes de água não protegidas. Por exemplo, no
Povoado de Nhapadiane, Localidade do mesmo nome o único furo de água
está avariado e isto significa que 789 pessoas já retornaram ao uso de água
proveniente de riachos ou lagoas, sem nenhuma protecção.
Nos locais onde as bombas manuais são colocadas, a profundidade do lençol
freático é maior. De facto, o lençol freático é menos profundo nas baixas ou nas
margens dos rios e nestes locais as pessoas utilizam a água dos poços de céu
aberto e a adesão aos furos equipados com bombas manuais são seria
massiva. A profundidade maior do lençol freático afecta a capacidade de
sucção das bombas e isto pode contribuir para as avarias observadas. Com a
excepção dos Povoados de Muenda, Manguenhane, Nhalivilo e Dombola na
Localidade de Mahalamba e Mafassane na Localidade de Dongane, onde
teoricamente têm furos de água a mais calculando com base no critério de
número de habitantes, nos restantes Povoados o número de fontes está aquém
das necessidades da população. Isto significa que uma fonte está sujeita à
sobrecarga de utentes e isto pode justificar as avarias observadas nas bombas.
23
No momento da construção de cada furo de água há exames de qualidade que
são realizados para autorizar o consumo da água obtida. Um dos exames é da
salinidade porque muitas vezes nas zonas altas a água tem sido bastante
salobra. Porém, nem sempre são realizados outros testes visando determinar a
situação dos outros indicadores da qualidade de água como por exemplo,
coliformes totais, cor e cheiro.
Embora não seja possível generalizar para todo o Distrito, vale afirmar que há
um número maior de pessoas que não associa a ocorrência de doenças
diarreicas com a qualidade de água consumida. Em muitos casos as pessoas
responderam que tem se verificado casos destas doenças mas devido a
mudança da estação do ano e não com a água consumida. Esta interpretação
pode prejudicar os esforços das campanhas contra a cólera por exemplo e
mesmo para a adesão aos furos de água com bombas manuais em relação aos
poços tradicionais.
Os Povoados estão muito distante da Vila-Sede onde está sedeado o SDPI que
pelo menos até então é a única entidade que pode se pronunciar em relação as
alternativas para a reparação das bombas. Mesmo a Localidade de Nhanombe
que está a 8 Km da Sede não significa que as fontes estão aí, estão nos
Povoados que distam mais do que aquela distância. Não existe um sistema de
comunicação ou monitoria da situação das bombas que pelo menos
assegurasse a informação para o SDPI. Evidentemente que não é papel do
SDPI reparar as bombas mas, tendo a informação pode apoiar os
representantes dos comités de gestão na identificação dos locais onde podem
encontrar sobressalentes e pessoas especializadas na reparação das bombas.
No banco de dados da DPOPH, o Distrito de Inharrime tem uma cobertura de
abastecimento de água rural de 52,7%. Confrontando esta percentagem com
os dados das 4 Localidades abrangidas pelo estudo, pode-se afirmar que é
uma cobertura realística na perspectiva do rácio �1 fonte para 500 pessoas�. É
provável que os furos existentes cubram esta percentagem de população mas
as distâncias que percorrem são longas a ponto de poderem apenas buscar a
24
água no máximo de 2 vezes ao dia trazendo não mais que 40 litros de água
para casa. Esta quantidade não pode alcançar o mínimo de 20 litros/pessoa/dia
estabelecido no padrão de serviços do Governo. Então, as fontes podem existir
mas o acesso à água ainda continua deficiente devido as distâncias percorridas
de e para as fontes. Outro factor é a pressão de utentes sobre as fontes. Este
factor reduz também o acesso à água porque as pessoas permanecem muito
tempo nas filas de espera acabando por buscar água apenas uma vez ao dia.
Embora poucos, há casos em que o critério de número de habitantes parece
não ter sido respeitado, havendo muitos furos para poucos habitantes. Estes
são os casos por exemplo dos Povoados de Nharregula na Localidade de
Dongane e Muenda na Localidade de Mahalamba.
VII. CONCLUSÕES
Das observações feitas e análise da situação, pode-se concluir que:
Com base no número de fontes construídas nas 4 Localidade
abrangidas pelo estudo, é possível afirmar que existe elevado
comprometimento do Governo para oferecer um serviço de
abastecimento de água rural em quantidade e qualidade adequadas
para a população;
A abordagem dos comités de gestão da água nos locais onde há
furos é certa só que para o caso das Localidades da pesquisa
parece não corresponder às expectativas. Isto é visível através do
número de bombas avariadas e abandonadas. Provavelmente nem
todos os utentes se dignam a contribuir ou o valor da contribuição é
reduzido ou os responsáveis pela gestão das contribuições não são
qualificados para tal ou ainda mais os membros do comité de gestão
não tomam as precauções indicadas para a operação e manutenção
da fonte por exemplo, verificação periódica das condições das
borrachas, dentre outros;
25
A comunicação entre os comités de gestão, SDPI e DPOPH é
bastante fraca de tal forma que é possível que um furo esteja
avariado mas o SDPI ainda mantê-lo na estatística como
operacional por falta de informação;
As avarias das bombas são frequentes e tornam qualquer esforço
de melhorar o abastecimento de água inviável. Esta situação parece
dever-se a elevada profundidade do lençol freático,
inoperacionalidade dos comités de gestão, elevados preços dos
acessórios de reparação, fraca disponibilidade desses acessórios
nos mercados próximos e a sobrecarga pelos utentes;
O rácio de �1 fonte para 500 pessoas percorrendo 500 metros para
assegurar 20 litros por pessoa por dia� não é aplicável para as 4
Localidade que foram alvo do estudo e é mais provável que seja
uma situação geral. Quase todos os agregados familiares naquelas
Localidade têm mais do que 5 membros, estão dispersos uns dos
outros, não buscam água não mais do que 2 vezes ao dia e apenas
trazem até 40 litros para todo o agregado familiar;
A distribuição das fontes de água não é consistente com o número
de habitantes. Há casos em que o número de fontes parece
respeitar o número de habitantes mas há outros em que se
distancia;
A qualidade da água abastecida pode ser boa avaliando a partir da
ocorrência de doenças diarreicas mas, exames de qualidade
continuam indispensáveis;
As pessoas contactadas naquelas 4 Localidades não admitem haver
relação causal entre a qualidade da água e a eclosão de doenças
diarreicas. É mais provável que seja um sentimento geral e, a ser
assim, pode comprometer bastante as campanhas de sensibilização
26
sobre o saneamento do meio e higiene com vista à prevenção
destas doenças;
O Governo Distrital através do SDPI não tem controlo total do
ambiente de abastecimento de água rural (número de fontes
operacionais, não operacionais, beneficiários, qualidade e
quantidade da água obtida, distâncias percorridas de e para as
fontes etc.). Esta situação é explicável quando é sabido que os SDPI
são recentes, não têm fundo de funcionamento suficiente para visitar
as Localidade e efectuar levantamentos.
Mesmo com estas dificuldades, da parte da população das 4
Localidades, a água fornecida através dos furos equipados com
bombas manuais é de maior preferência.
VIII. RECOMENDAÇÕES
Perante aos desafios observados no abastecimento de água nas
Localidades da pesquisa, apresenta-se em seguida um conjunto de
recomendações cujo destinatário não está identificado porque são acções
que qualquer entidade seja Governo, ONG, parceiros bilaterais,
associações, singulares que trabalham ou pretendem trabalhar no
fornecimento de água rural, pode realizar ou apoiar a sua realização.
Elaboração de um diagnóstico aprofundado sobre o
abastecimento de água no Distrito de Inharrime: Esta acção
pressupõe a visita e registo (aplicar GPS para as coordenadas) de
todas as fontes de água usadas para o consumo humano (furos,
poços, nascentes etc.), lançamento em um mapa que combina os
dados com a população por cada Povoado do Distrito;
Elaborar um banco de dados digital distrital: embora existe um
banco de dados a nível da DPOPH ainda é viável criar um banco do
27
nível distrital. No Distrito é mais fácil actualizar o banco porque a
comunicação é directa com os utentes das fontes existentes
enquanto na Província a comunicação é intermediada pelos
Governos Distritais;
Adoptar um sistema de monitoria participativa periódica nas
Localidade: Esta acção permitiria que o Governo Distrital pelo
menos 4 vezes ao ano tivesse a informação real sobre o
desempenho das fontes de água bem como a avaliação dos utentes
em termos de satisfação pelos serviços prestados. A monitoria
trimestral do PESOD que foi desenvolvida pela Secretaria Provincial
de Inhambane e testada em todos os Distritos é uma opção neste
sentido;
Fortalecer a capacidade dos comités de gestão de água: Todos
os comités deveriam em primeiro lugar ser constituídos por
elementos das Comissões de Trabalho dos Conselhos Consultivos
das Localidades. Portanto, um comité de gestão da água de um furo
qualquer, por exemplo, seria uma entidade delegada da Comissão
de Planeamento e Infra-estruturas do Conselho Consultivo dessa
Localidade e a esta prestaria contas numa base trimestral. Assim,
quando o Governo Distrital através do Conselho Técnico Distrital
fizer a monitoria trimestral do PESOD encontrará Comissões de
Planeamento e Infra-estruturas com informação actualizada recebida
dos comités de gestão de água das diferentes fontes existentes na
Localidade;
Criar mecanismos que permitem aumentar o acesso aos
acessórios e assistência técnica para os furos de água
equipados com bombas manuais: Uma possibilidade para realizar
esta acção seria que em todas as Localidade fossem identificados
indivíduos, voluntários, idóneos e capazes de serem �provedoras de
28
serviço de manutenção das bombas incluindo o fornecimento de
acessórios�. Estas pessoas seriam treinadas nos estaleiros
existentes, receberiam um kit de ferramentas de reparação e, com
fundos próprios poderiam adquirir uma certa quantidade de
acessórios com stock em suas casas para em caso de avaria de
uma bomba em algum ponto da Localidade sob sua
responsabilidade, usariam os acessórios e seu conhecimento para
efectuar a reparação e seriam pagos através das contribuições
mensais dos utentes. Esta relação de prestação se serviço poderia
ser formalizada através de um contrato entre o provedor de serviço e
os representantes do comité de gestão da água;
Incentivar a construção de poços com lajes ao longo dos rios:
Os furos de água equipados com bombas manuais não cobrem toda
a população. Assim, sabendo que tradicionalmente as pessoas
bebem água dos poços, é recomendável a colocação de manilhas e
lajes para proteger a água da contaminação por micróbios
causadores de doenças, poeiras e outros materiais que degradam a
qualidade da água;
Incentivar a colecta de água pluvial e seu armazenamento em
cisternas de cimento: A água de chuva pode fazer muita diferença
no abastecimento à população das zonas rurais. Em princípio tem
boa qualidade devendo, no entanto, ser tratada com produtos
recomendados.
29
1 Resolução no 46/2007 de 30 de Outubro, Conselho de Ministros, Boletim da República no 43, 5º
Suplemento, I Série, encontrada em forma de texto no http://www.washcost.info/page/575
2 http://en.wikipedia.org/wiki/Water_quality
3 Diploma Ministerial no 180/2004 de 15 de Setembro, Ministério da Saúde, Boletim da República no 37 I
Série
4 Documento final do Plano Estratégico de Água e Saneamento Rural, 16-02-2007, Direcção Nacional de
Águas, encontrado através de http://www.washcost.info/page/575
5 Termos de Referência das Comissões de Trabalho dos Conselhos Consultivos, Secretaria Provincial de
Inhambane, 2009
6 Plano Estratégico de Desenvolvimento do Distrito de Inharrime, Maio de 2004
7 Instituto Nacional de Estatística através de
http://www.ine.gov.mz/censo2007/rp/pop07prov/inhambane/view?searchterm=Inharrime
8 Perfil do Distrito de Inharrime, Ministério da Administração Estatal, Edição de 2005 através de www.undp.org.mz/en/content/download/662/.../Inharrime.pdf. As estimações são da MÉTIER
Consultoria & Desenvolvimento, Lda. (www.metier.co.mz)