APRESENTAÇÃO
Circular por espaços culturais com históricos distintos de ocupações, em diferentes regiões
da cidade de São Paulo: esta foi a proposta do projeto Mephisto Injustiçado, feita pelo Bando
Trapos da Cooperativa Paulista de Teatro, que além de apresentar o espetáculo, também
visou compartilhar os resultados das vivências realizadas ao longo de quatro anos no bairro
do Campo Limpo, durante sua pesquisa e atividades artísticas, culturais e de gestão no
Espaço Cultural CITA (Cantinho de Integração de Todas as Artes).
Este projeto fortaleceu diretamente a continuidade ao trabalho de difusão teatral realizado
pelo Bando Trapos, ampliando-o para outras regiões de São Paulo, fortalecendo os vínculos
artísticos, afetivos e profissionais com os espaços, grupos parceiros e comunidades
visitadas, proporcionando acesso democrático ao teatro e fomentando o movimento
artístico das regiões da cidade.
Além das apresentações, o Bando Trapos também realizou uma Vivência Corporal em que
compartilhou suas experiências vividas ao longo da pesquisa, treinamento e montagem do
espetáculo.
No total, foram dez mini residências, em 2016, compostas por duas apresentações do
espetáculo Mephisto Injustiçado e uma vivência propondo trocas de experiências vividas ao
longo da pesquisa, treinamentos e processo de montagem do espetáculo, realizados pelos
integrantes do Bando Trapos em dez espaços nas diferentes regiões do município –
momentos em que também se entendeu melhor o contexto de cada grupo e espaço visitado.
Esta experiência impacta diretamente a continuidade da pesquisa do Bando Trapos, visto
que o grupo mescla a pesquisa em torno da máscara, do teatro de rua, palhaço, bufão e
cultura popular no Campo Limpo e todas as influências – inclusive o contato com os
contextos de cada um dos grupos e espaços ocupados neste circuito – são formas de
dialogar e criar reflexões sobre as questões artísticas, sociais e políticas, vivenciadas e
transformadas em teatro.
MEPHISTO INJUSTIÇADO DESAFIA A LÓGICA DE DEUS
Ao anunciar um grande espetáculo, Mephisto, ou Méphis (Welton Silva), seduz
os espectadores com a promessa de que verão um inesperado espetáculo. Sua
verdadeira intenção é selecionar entre os espectadores anônimos um elenco
formado por alguns miseráveis, que segundo ele, são o resultado da lógica de
Deus. Quatro figuras “bufonescas” são selecionadas como suas protagonistas:
Gero (Deco Morais), Flor (Cléia Varges), Mudo (Joka Andrade) e Mary Star (Ton
Moura).
Aos poucos, atores e espectadores vão sendo conduzidos por Méphis a encenar
e viver momentos criados por sua obsessão em exigir que Deus se apresente
pessoalmente e escute a acusação que inocentaria Mephisto de sua injusta
condenação. Como Deus o ignora, Mephisto procura encontrar um modo
inevitável para chamar sua atenção. No caminho ilógico de um Mephisto que
questiona a lógica de Deus, nos perguntamos diversas vezes o que é real, o que
é teatro, o que é demoníaco e o que é divino em todos nós.
PROCESSO DE CRIAÇÃO
Inspirada em diversas versões do Mito de Fausto de Goethe, a partir de cenas
propostas no diálogo entre todos os criadores, integrantes do Bando Trapos,
inicialmente a ideia era de que o resultado fosse um espetáculo de rua, no
entanto, como o grupo trabalha diariamente mantendo estrutural e
artisticamente o Espaço Cultural CITA (Cantinho de Integração de Todas as
Artes) localizado em frente à Praça João Tadeu Priolli, conhecida como Praça
do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, aos poucos os planos mudaram.
Constantemente, o grupo passa por provocações que atingem diretamente suas
ações e seu fazer artístico, inclusive no que diz respeito à formação de público.
“Nossa arte se vincula completamente às nossas vivências no bairro, decidiu-se
então, que o espetáculo aconteceria em um trajeto da Praça do Campo Limpo
até o bosque ao fundo do CITA, numa experiência itinerante, onde o espectador
é convidado a ocupar o Espaço juntamente com os bufões (personagens)
nascidos neste processo”, explica a produtora Dêssa Souza. Os bufões,
inclusive, foram inspirados em transeuntes e pessoas em situação de rua que
circulam pela própria praça.
O Bando Trapos contou com a orientação de diversos artistas pesquisadores de
teatro para gerar Mephisto Injustiçado durante um ano e meio de pesquisas,
montagem e ensaios. O estudo foi feito com o dramaturgo Antônio Rogério
Toscano (professor na Escola de Arte Dramática da Eca), a criação de cena com
a diretora Tiche Vianna, o treinamento de atores com Esio Magalhães, a
construção e manipulação de bonecos com João Araújo, o treinamento em
instrumentos não convencionais com Pax Bittar, voz e canto com Fábio
Pinheiro e a finalização do texto por Dorberto Carvalho.
O estudo do mito de “Fausto” não nos conduziu à montagem de nenhum dos
espetáculos criados na esplêndida dramaturgia de diversos autores. Mais do
que as possíveis histórias, nosso interesse foi, acima de tudo, a figura Fausto e
as questões sobre a existência. Somando isso às vivências de um grupo voltado
para a questão popular, em um bairro da periferia de São Paulo, nos servimos
dos elementos poéticos e grotescos oferecidos por estas dramaturgias para
alcançarmos o que arquetipicamente define o Fausto e assim, construir um
espetáculo alegórico, centrado no jogo entre máscaras ou figuras cênicas, como
um desfile de escola de samba, com diversas alas ou episódios, capazes de
compor uma história centrada basicamente na questão: para qual Mefisto
vendemos nossa alma?
O trabalho em questão se refere à continuidade das pesquisas iniciadas em
2011, através de diversas leituras sobre o mito do “Fausto” e um trabalho de
sala objetivado para o treinamento do ator de rua e no aprendizado da
máscara teatral. O objetivo central da investigação foi encontrar o elemento
comum entre diferentes pontos de vista para chegar ao que arquetipicamente
define este mito.
O espetáculo mostra que os pensamentos mais profundos não precisam ser
dramáticos e sérios e que o riso, ao contrário do que se pensa, pode ser um
“inocente assassino”.
SOBRE O BANDO TRAPOS
Bando Trapos é um coletivo composto por atores, dançarinos e músicos.
Mesclando a pesquisa em torno do universo da máscara com os frequentes
trabalhos de arte-educação realizados por seus integrantes, com a linguagem
do teatro de rua, do bufão e da cultura popular, em especial as manifestações e
a musicalidade afro-brasileira vivenciadas no bairro do Campo Limpo – Zona
Sul da Cidade de São Paulo, utilizando todas estas influências como forma de
diálogo e reflexão sobre as diversas questões sociais, artísticas e políticas
vivenciadas e transformadas em música, poesia e teatro.
O Bando Trapos se forma a partir de projetos da Trupe Artemanha de
investigação teatral, grupo que deu inicio às atividades do Espaço Cultural
CITA – localizado no Campo Limpo – Zona Sul da Cidade de São Paulo. Atuando
desde o ano de 2013, é, portanto, o grupo mais antigo que atua artisticamente e
também gerindo este espaço.
Integram o grupo os artistas Deco Morais, Cléia Varges, Ton Moura, Dêssa
Souza, Welton Silva, Joka Andrade e Daniel Trevo.
A CIRCULAÇÃO
“Mephisto Injustiçado é um acontecimento e pode acontecer em qualquer
lugar, a relação entre as figuras é o que cria o espetáculo.”
Tiche Vianna, orientadora do Mephisto
Injustiçado, em um dos encontros para
manutenção das figuras do espetáculo.
Espaço por espaço, troca por troca
A passagem por cada um dos espaços previstos para a circulação foi única. Da
arquitetura ao público que prestigiou cada apresentação, das adequações
físicas à recepção dos anfitriões, o Bando Trapos registra aqui cada uma das
experiências com a estadia do Mephisto Injustiçado em vários cantos de São
Paulo.
ESPAÇOS PREVISTOS PARA A CIRCULAÇÃO:
30/04 e 1º/05/2016 (sábado e domingo)
O Capão Redondo, zona sul, ainda dentro do Distrito do Campo Limpo, foi a
primeira parada para os primeiros dias da circulação do Mephisto injustiçado,
em 30 de Abril e 1º de Maio de 2016. O local visitado foi a Fábrica de
Criatividade, um espaço privado, com geridos por uma instituição, mas com
vasto histórico de ocupação por coletivos artísticos diversos. Portanto,
mantendo as características de atuação com grupos teatrais e de dança e com
oficinas e apresentações artísticas diversas acontecendo no local
periodicamente.
As apresentações aconteceram no sábado e no domingo à noite, enquanto a
Vivência Corporal aconteceu no domingo à tarde, recebendo aprendizes das
oficinas e o público já frequentador do próprio espaço.
A Fábrica possui uma sala de teatro e uma arquitetura bastante moderna, com
uma escadaria que fica à mostra bem na fachada, atrás de paredes de vidro. Ao
fundo, no primeiro andar, há um quintal imenso. A arquitetura foi tomada pelo
espetáculo de forma muito interessante, pois o prédio possui diversas nuances
de alturas em sua construção. A Cena que mais marcou foi “O Protesto de
Mephisto”, que foi feita em um espaço elevado acima da cena anterior
“Assinatura do Contrato”. A transição de cena foi feita com a retirada, por um
dos atores, de um tecido preto que escondia a arquitetura do espaço, um
detalhe muito simples e com nenhum recurso tecnológico, mas que deu um
efeito muito marcante à encenação.
FÁBRICA DE CRIATIVIDADE CAPÃO REDONDO - ZONA SUL
FOTOS
28 e 29/05/2016 (sábado e domingo)
Em uma região muito parecida com os grandes centros da cidade, Santo Amaro
tem um comércio que ferve e lota suas ruas de compradores durante todo o
dia, mas que fica vazia aos finais de semana à noite, com transeuntes que estão
apenas de passagem. Nos dias 28 e 29 de maio, a visita de Méphis, e seus
escolhidos, foi feita ao Paço Cultural Júlio Guerra ou “Casa Amarela”, que fica na
Praça Floriano Peixoto. O prédio antigo, tombado pelo patrimônio histórico,
em meio a este “centro comercial” em seu momento de descanso, foi o cenário
para que Mephisto Injustiçado mais uma vez colocasse em prática a força do
teatro enquanto engrenagem que modifica os locais por onde passa.
Desta vez, ao invés de iniciar na rua, Méphis sai de uma imensa varanda e de lá
de cima começa a cuspir fogo, seduzindo seu público que está disposto num
grande quintal bem em frente à casa. Nesta construção antiga e imponente,
talvez a “Cena do Banquete” tenha sido a que mais ficou contextualizada. Após
se apresentar e seduzir seus quatro atores escolhidos, Méphis convida a todos
para um magnífico jantar, e ao ser convidado para adentrar àquelas portas
pesadas tão bem torneadas, imagina-se realmente que na sala principal nos
esperaria um verdadeiro banquete. Em seguida, fomos conhecer a área externa
da casa, por uma porta dos fundos. Na cena de assinatura do contrato, que
aconteceu bem próximo à calçada da casa, foi possível ainda seduzir mais uma
família que estava do lado de fora no ponto de ônibus: a jovem mãe, com suas
crianças, provavelmente estaria voltando para casa, mas resolveu assistir ao
espetáculo e retornou conhecendo a casa Amarela de uma outra forma.
Tanto as duas apresentações quanto a Vivência Corporal receberam pessoas já
frequentadoras do Paço Cultural Júlio Guerra, que também é uma Casa de
Cultura.
CASA AMARELA (SANTO AMARO PRAÇA FLORIANO PEIXOTO) - ZONA SUL
FOTOS
OFICINA
25 e 26/06/2016 (sábado e domingo)
Assim como o Espaço Cultural CITA, sede do Bando Trapos, o Barracão do
Coletivo ALMA, localizado na Cohab II, em Itaquera, faz parte do Bloco de
Ocupações Culturais da cidade de São Paulo. Isto significa que se trata de um
espaço público, pertencente à Cohab, que por algum motivo não estava
cumprindo sua função pública, ficou abandonado por determinado tempo, e
vendo sendo resignificado com ações diretas realizadas pelo Coletivo ALMA
que tem utilizado, entre outras ferramentas, o teatro para disseminar a
sustentabilidade, o cuidado e a relação com o meio ambiente. O galpão, que
mantém ao lado de fora uma imensa horta com produtos orgânicos e muita
área verde, era uma cooperativa de catadores, e a luta do grupo que o ocupa
está ligada a essa história.
Nos dias 25 e 26 de Junho, Mephisto Injustiçado teve muitas cenas externas,
semelhante a quando é apresentada no Espaço CITA, e o galpão do ALMA
também foi bastante modificado pelas cenas internas.
Esta foi uma residência bastante marcante para o circuito, pois o Coletivo
ALMA possui muitas semelhanças com o Bando Trapos, fazendo teatro,
remando contra a maré, cuidando de um espaço gigante que também é Ponto
de Cultura. A recepção foi cuidadosa e o Bando Trapos sentiu que somos
muitos e ao mesmo tempo somos um, espalhados pela cidade, fazendo teatro
nas bordas. Na lida diária, cada qual em uma extremidade, acha mais sentido
na continuidade de seus trabalhos ao poder se encontrar, pois estar com os
parceiros fortalece a todos.
BARRACÃO DO GRUPO ALMA ZONA LESTE
FOTOS
OFICINA
GRUPO XIX (ARMAZÉM) ZONA LESTE
30 e 31/07/2016 (sábado e domingo)
O Grupo XIX de Teatro recebeu, nos dias 30 e 31 de julho, o Bando Trapos no
Armazém XIX, mais um dos espaços visitados que pertencem ao poder público
municipal e que vêm sendo gerido por coletivos artísticos. O galpão é tombado
e algumas de suas reformas mínimas não podem ser realizadas sem que seja
um trabalho de restauro, o que dá ao espaço um tom de mistérios.
Especialmente algumas crianças que assistiram à apresentação, em um dos
dias, pensaram um pouco antes de entrar no galpão, pois tinham ouvido dizer
que era “mal assombrado”.
Dentre as histórias que se mostram vivas na arquitetura e nos moradores da
Vila Maria Zélia, Mephisto Injustiçado ocupou jardins, praça e rua. Talvez uma
das cenas mais bem alocadas tenha sido a da “Assinatura do Contrato”, que
ficou entre um círculo formado por árvores gigantes bem no meio da praça em
frente ao Armazém XIX. O grupo também utilizou a Kombi, que costuma
transportar os atores e cenários, em um tipo de trio elétrico, onde as figuras do
espetáculo transitaram entre uma cena e outra.
As cenas do “Teatrinho” – em que Flor aparece dançando com figurinos
encontrados logo no início do espetáculo – do “Banquete” e dos “Aquários”
foram as únicas que ocuparam a parte interna, fazendo com que muitas
pessoas perdessem o medo de entrar ali, e mostrando aos vizinhos o quanto
um espaço cheio de mistérios e histórias pode ser repensado, especialmente na
trama imaginada por Méphis junto aos seus escolhidos Gero, Flor, Mudo e Mary
Star.
FOTOS
27 e 28/08/2016 (sábado e domingo)
Mais um espaço importante para a cidade: também uma propriedade pública
ocupada e gerida por um coletivo teatral, o Teatro Popular União e Olho Vivo,
que é referência de teatro político produzido em São Paulo. Um imenso desafio
para todo o elenco do Bando Trapos, a primeira apresentação no TUOV
aconteceu dias 27 e 28 de agosto, em um evento intitulado Sítio da Cultura
Popular, no mesmo dia em que acontece o tradicional Samba do Bule, que
estava recebendo o Samba da Elis – grupo somente de mulheres.
Após uma tarde ouvindo mulheres guerreiras e compositoras tocar, o desafio
da vez foi se apresentar para um público de aproximadamente 100 pessoas. O
espaço tem uma área externa imensa e um galpão pequeno que precisou ser
dividido para dois espaços cênicos – “Sala do Banquete” e “Sala dos Aquários”.
Praticamente, o Bando Trapos fez teatro de rua!
É sempre bom lembrar a fala de Tiche Vianna: “Mephisto Injustiçado é um
acontecimento, portanto, vamos lá!”.
Foi muitíssimo forte a experiência de itinerar com tantas pessoas pelo espaço –
ainda que muitos não tenham se interessado – igual acontece na rua. A cena
final, por exemplo, acabou sendo uma intervenção, pois pessoas que nem
haviam assistido ao espetáculo participaram e se revoltaram com a morte da
personagem Flor. Por fim, participaram, sem querer, do acontecimento todo
que se deu naquela noite de sábado.
TUOV ZONA OESTE
FOTOS
CICAS BIBLIOTECA MAURO VASCONCELO
ZONA NORTE
24 e 25/09/2016 (sábado e domingo)
Nossa referência na zona norte de espaço para apresentações e parcerias
sempre foi o CICAS - mais um espaço que integra o Bloco de Ocupações
Culturais da cidade de São Paulo. Fomos informados que o espaço está sem
condições de uso por tempo indeterminado, e, um dos grupos que já participou
da gestão dele é o Sarau no Meio do Mundo, que atualmente ocupa com
atividades periódicas a Biblioteca José Mauro Vasconcelos e a praça em frente,
ambas localizadas no bairro Parque Edu Chaves. Aceitamos o desafio, as
apresentações foram dias 24 e 25 de setembro, e talvez tenha sido um dos
locais mais inusitados para se apresentar. A Biblioteca fica exatamente ao lado
de uma catedral católica e os horários de apresentação bateram com o horário
da missa, bastante Mephistofélica a situação. No primeiro dia a apresentação
teve um público bastante grande e interessado, já que fez parte do Sarau no
Meio do Mundo que acontece mensalmente. Já no segundo dia, por se tratar de
um domingo e a população não ter o costume de ir a biblioteca neste dia, nos
precavemos e fomos até uma comunidade próxima, um CDHU. Pernas de pau,
palhaços, figuras diversas fizeram uma intervenção no meio do dia chuvoso
para avisar que mais tarte teria teatro na biblioteca. Foi com certeza uma das
apresentações com maior número de crianças que já realizamos, ao ponto de
Mephis improvisar músicas infantis ao invés das músicas normalmente
cantadas no espetáculo. Foi com certeza um troca muito rica. Com o público e
com o espaço, que foi um tanto desafiador no que diz respeito à arquitetura,
mesmo assim cheio de possibilidades.
FOTOS
CIA PAIDÉIA ZONA SUL
28 e 29/10/2016 (sexta-feira e sábado)
Atipicamente, Bando Trapos se apresentou em uma sexta-feira e sábado, e fizeram a
Vivência Corporal no primeiro dia, antes do espetáculo, dias 28 e 29 de outubro. Isso
criou uma situação bem interessante: se, das outras vezes, o sábado era o tempo de
chegar e criar ou adaptar o espetáculo para o espaço, com a oficina acontecendo no
domingo, desta vez o tempo da sexta foi corrido: chegar, comer, pensar o espaço e se
arrumar para a oficina, com uma apresentação em seguida.
Durante muito tempo, houve debate com a possibilidade de chuva, e a busca por
alternativas para as cenas externas, transferindo para que ocorressem dentro do
espaço. Um detalhe importante: a previsão não indicava que iria chover. A CIA Paidéia
tem uma área ao ar livre bonita, com flores penduradas, os tais "sapatinhos de judeus".
Num dado momento, Bando Trapos assumiu que não choveria, e que, caso chovesse, o
espetáculo seria cancelado - conforme já havia sido dito na comunicação. Assim, a cena
da “Assinatura do Contrato” e “O Protesto de Mephisto” foram efetivamente montadas
na parte externa.
A Paidéia possui um trabalho continuado de difusão e formação teatral, deste modo, o
público para as apresentações e para a Vivência, que em geral é compartilhada com os
integrantes dos grupos anfitriões, foi bom. Os jovens frequentadores do espaço
marcaram presença e enriqueceram a troca. Destes jovens, cheios de expectativas
distintas, havia um de muletas, que participou de tudo - a despeito das dificuldades.
Parece que fazia teatro há pelo menos cinco anos, e foi muito bonito o jeito que o
Bando lidou com as necessidades físicas dele.
Visitamos desde a entrada do espaço ao saguão, para a área lateral conectada à junta
militar - o bosque, para os fundos e, por fim, para o palco de trás, com chão de madeira
e um imenso arsenal de holofotes. Quantidade de luz atribuiu mais qualidade na cena
dos aquários. Ficou lindo! E no final, a morte da Flor surpreendeu a plateia, a ponto de
ela começar a cantar junto com os bufões: "não há paz na injustiça".
FOTOS
FOTOS OFICINA
TENDAL DA LAPA ZONA OESTE
5 e 6/11/2016 (sábado e domingo)
Mais um espaço antigo e cheio de histórias impregnadas em sua arquitetura. O
imenso Tendal da Lapa, hoje Casa de Cultura gerida pela Secretaria Municipal,
recebeu Mephisto Injustiçado em um final de semana bastante chuvoso, no
entanto, isso não impediu que o espetáculo fosse realizado tranquilamente,
dias 5 e 6 de novembro, pois o local possui muitas áreas cobertas e com pé
direito alto. Talvez tenha sido a maior local em termos de extensão ocupado
nesta circulação. Tivemos um público reduzido, porém muito envolvido no
espetáculo em ambos os dias. O Tendal é um tipo de galpão muito bem
dividido, com áreas de convivência em alturas diferentes e uma sala de teatro
gigantesca. É tão grande que muitas áreas ficam isoladas, talvez por não haver
necessidade de uso ou por falta recursos para dar vida a elas.
FOTOS
OFICINA
CDC VENTO LESTE DOLORES BOCA ABERTA E CIA PARLENDAS
ZONA LESTE
19 e 20/11/2016 (sábado e domingo)
Mais um local que integra o Bloco de Ocupações Culturais da cidade de São
Paulo. Bem próximo ao metrô Patriarca, na Zona Leste da cidade, o CDC Vento
Leste abriga entre outros grupos artísticos o Dolores Boca Aberta Mecatrônica
de Artes e a Cia Parlendas, dois grupos teatrais parceiros com estéticas
voltadas para as questões das periferias. O espaço é dividido em dois galpões
envoltos por uma imensa área verde descoberta. Apesar de ser um bairro
bastante silencioso – existe apenas uma praça muito movimentada a alguns
quarteirões.
O público, composto por integrantes dos grupos anfitriões e pessoas que
moram bem próximo ao CDC, foi muito bom nos dois dias de apresentações,
dias 19 e 20 de novembro. Foi possível seguir Mephisto em sua trama,
enquanto os bufões Mary Star, Flor, Mudo e Gero iam descobrindo cada pedaço
do espaço, que possui esculturas grandes em ferro e placas com frases de
poetas e ativistas parceiros das quebradas da Zona Leste.
A cena da “Assinatura do Contrato” foi feita em uma arena arbórea, entre duas
árvores imensas onde o público ficou muito bem posicionado em uma
arquibancada construída com pneus, aproveitando a inclinação do morro que
circunda o fundo do espaço. Já a cena “O Protesto de Mephisto”, geralmente
uma das mais belas pois os atores procuram sempre espaços inusitados e com
alturas diferentes, foi encenada com a Kombi do Bando Trapos junto a um
grande cata-vento de madeira que serve para captar energia do vento. A cena
final também ficou muito bem colocada no quintal central do espaço, próximo
à parede externa de um dos galpões, muito bem grafitada por um artista da
região.
FOTOS
ESPAÇO REDIMUNHO ANHANGABAÚ, CENTRO
3 e 4/12/2016 (sábado e domingo)
O Espaço Redimunho é tão aconchegante, que num primeiro momento
achamos que não caberia o espetáculo. Engano nosso. Uma recepção bem
pequena, no térreo de um prédio antigo no centro da imensa São Paulo, nos faz
crer que vamos entrar em um desses teatros apertadinhos, como alguns da
Praça Roosevelt por exemplo. Ao entrar, visualiza-se um amplo salão que
parece muito mais com um bar, desses gostosos pra se bater papo e ouvir boa
música ao vivo. Nesta primeira área aconteceram as cenas da dança da Flor e a
Cena do Banquete, que conseguimos esconder num cantinho atrás de um
tecido, e que foi revelada no momento oportuno ao público presente e
participante. Logo fomos conduzidos a um porão, muito grande, onde
aconteceu a cena do Contrato, a dança de Mephisto enquanto os Bufões tocam
os aquários e ainda O Protesto de Mephisto - cena que geralmente ocorre em
uma área externa. Este espaço foi com certeza um dos que mais bem
receberam os signos e os anseios de Mephisto. Sua arquitetura tão antiga, tão
imensa e subterrânea, nos fez pensar o quanto essa São Paulo é mesmo maluca
e cheia de mistérios. Em alguns momentos, andando pelo espaço, a impressão
que se tinha é que algum ser desconhecido sairia de uma entrada do porão, ou
simplesmente Margarida de Fausto estaria ali, no banheiro feminino,
endeusando a si mesma no espelho.
FOTOS SHEILA SIGNARIO
ROGERIO GONZAGA
FICHA TÉCNICA
Elenco: Cléia Varges, Deco Morais, Joka Andrade,
Ton Moura e Welton Silva
Ator / Técnico / Contra regra: Daniel Trevo
Produção Executiva: Dêssa Souza
Manutenção/Orientação do espetáculo: Tiche Vianna
Registro Fotográfico: Sheila Signário
Divulgação / Revisão de Textos: Karol Coelho
Diagramação e Projeto Gráfico: Welton Silva
RESUMO DE AÇÕES DO PROJETO:
10 espaços visitados em que o Bando Trapos fez residência de dois dias seguidos;
20 apresentações de Mephisto Injustiçado e 10 Vivências entre grupo anfitrião e
grupo visitante;
Aproximadamente 500 espectadores do espetáculo;
Aproximadamente 60 participantes da Vivência Corporal;
CLIPPING
> 29/04 - Folha de S. Paulo - Guia - Editoria: Teatro - Coluna: Blog Mural - pg. 62
> 30/04 - Folha de S. Paulo - Blog Mural
Link: http://mural.blogfolha.uol.com.br/2016/04/30/peca-teatral-recria-historia-de-
fausto-no-campo-limpo/
> 30/04 - Folha de S. Paulo - Editoria: Foto
Link: http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/43606-mephisto-injusticado
> 01/05 - All Events
Link: http://allevents.in/s%C3%A3o%20lu%C3%ADs/mephisto-injusti%C3%A7ado-
circula-em-s%C3%A3o-paulo/1722173988064415
> 06/07 - Brasil Observer - Editoria: Conectando - pg. 14 (circulou em Londres)
Link em português: https://issuu.com/brasilobserver/docs/bo_40_br
Link em inglês: https://issuu.com/brasilobserver/docs/bo_40_en
> 28/11 - Rede TVT - Programa: Olhar TVT
link: https://www.youtube.com/watch?v=TP-zpn03eio
AGRADECIMENTOS
Jorge Luiz, Pablo, Cecília Souza, Guilherme Blanco de Morais e Hélio Santos – nossas crianças
que participaram da montagem / Raimundo Souza / Antonio Apolinário / Dorberto
Carvalho / Will Cavagnolli / Marcelo Onofri / Luciano Santiago / Léo Santiago / Trupe
Artemanha de Investigação Teatral, Tiche Vianna, Dorberto Carvalho, Esio Magalhães, Pax
Bittar, João Araújo, Fábio Pinheiro,
RESUMO DE AÇÕES DO PROJETO