Psicologia da Motivação e Emoção 1 – Aulas 2009/2010 1
Psicologia da Motivação e da Emoção I
Caracterização do conceito de Motivação.
O conceito de motivação deriva da expressão latina movere que significa movimento.
A motivação será o conjunto de forças que mobilizam e orientam a acção de um organismo em
direcção a determinados objectivos.
Pode ser definida como a variedade do comportamento intra e inter-individual devido a
diferenças individuais e competências no controlo das exigências do meio que a acção exige
(Vroom, 1964).
As variáveis direcção do comportamento, intensidade da acção e persistência do esforço são
as componentes que a pesquisa empírica mais tem procurado investigar (Neves, 2002).
A motivação é a base de todo o comportamento, porque não há comportamento sem
motivação. Entende-se por motivação o conjunto de forças que sustentam, regulam e
orientam as acções de um organismo para determinado fim.
Em Psicologia têm surgido imensas teorias reltivas ao conceito de motivação, o que tem
dificultado o processo de delimitação do próprio conceito e até do campo de acção da
Psicologia da Motivação.
Os autores têm adoptado diferentes atitudes:
Atitude anti-teórica
Atitude eclética
Atitude de opção teórica
Atitude integrativa
A integração permite:
- Identificar conceitos que têm o mesmo significado (expectativa de resultado; expectativa de
controlo, expectativa de contingência; expectativa “se… então”).
- Conjugar os contributos de várias teorias comparáveis e complementares (expectativa de
controlo e expectativa de eficácia).
- Diferenciar entre conceitos que são confundidos, nomeadamente expectativa e atribuição.
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Teorias
Motivação:
Concepção Mecanicista
Psicologia Etológica: Psicologia Animal.
Psicologia Behaviorista: O comportamento é o resultado dos
estímulos observáveis do exterior.
Psicologia Psicanalítica: O pensamento freudiano é centrado no
carácter imperioso dos instintos: agressão e sexo.
Concepção Cognitiva
Psicologia Cognitivista: Os indivíduos não reagem aos
estímulos, mas à representação que elaboram da acção.
Psicologia Humanista. As influências no desenvolvimento são
consideradas interaccionistas. As necessidades básicas são
hereditárias, mas a concretização é função do contexto de vida no qual
cada um se insere.
Porquê a opção pela Concepção Cognitivista?
As teorias humanista e cognitiva, consideram que o princípio básico do funcionamento dos
motivos é o da persistência de tensão ou homeoquinesia.
O sujeito é agente activo e selectivo do próprio comportamento, capaz de estimular-se em
função de metas a atingir e das oportunidades fornecidas pelas situações. O sujeito é o próprio
agente da sua aprendizagem e comportamento.
Diferenças entre concepções Mecanicistas e cognitivistas.
Concepções Mecanicistas Concepções Cognitivistas
Objectivo do comportamento Adaptação ao meio Realização de projectos pessoais
Diferenças individuais Hábitos (passado) Objectivos pessoais (futuro)
Fórmulas teóricas S-O-R S-C-R
Aprendizagem Estabelecimento de conexões s-r
Mudanças na percepção da situação
Sujeito Passivo e reactivo Agente da própria aprendizagem
Educação Reforços ou manipulação extrema
Responsabilidade pessoal
Motivação Extrínseca Intrínseco
Motivos Só os biofisiológicos são primários
Todos são primários
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Modelos Impulso-Hábito vs. Expectativa-Valor.
Os modelos impulso-hábito defendem que os comportamentos derivam de estímulos internos
ou impulsos, devido a estados de provação biofisiológica, ou seja, são eles que dão ao
indivíduo a energia.
Os modelos expectativa-valor alegam que não são os estímulos que causam a acção, mas os
objectos ou metas pessoais, uma vez que o alcance de certas metas permite a realização
pessoal.
Teorias.
Hierarquia das necessidades de Maslow (1954)
Maslow dividiu as cinco necessidades em dois grupos:
Ordem inferior: Necessidades Fisiológicas e de Segurança;
Ordem Superior: Necessidades Socias, de Estima e de Realização.
As necessidades de ordem inferior são predominantemente satisfeitas extrinsecamente,
enquanto as de ordem superior são satisfeitas internamente.
Insatisfação Satisfação
Insucesso na profissão Desprazer no trabalho
Necessidades de Realização Sucesso na profissão Prazer no trabalho
Baixo status Sensação de inequidade
Necessidades de Estima Status
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Baixa interacção com os colegas, chefia e subordinados
Necessidades Sociais Elevada interacção com os colegas, chefia e subordinados
Tipo de trabalho e ambiente Politicas da empresa imprevisíveis
Necessidades de Segurança Tipo de trabalho e ambiente estruturados Politicas da empresa estáveis
Confinamento no local de trabalho Renumeração inadequada
Necessidades Fisiológicas Renumeração adequada
Teoria dos dois factores de Herzberg (1959).
Pense em algo que tenha acontecido no seu trabalho e que o tenha feito sentir-se
especialmente satisfeito ou insatisfeito.
Quais os factores que o fizeram sentir-se satisfeito?
Quais os factores que o fizeram sentir-se insatisfeito?
A teoria assenta em dois principais pressupostos:
As pessoas são motivadas pelo desejo de satisfazer um determinado tipo de necessidades;
Essas necessidades são universais e apresentam-se de forma sequencial ou hierárquica.
A teoria dos dois factores de Herzberg apresenta muitos pontos comuns com a de Maslow,
existindo mesmo autores que têm procurado fazer corresponder as necessidades de Maslow
aos factores de Herzberg (Jesus, 1996)
O autor distingue entre Factores Higiénicos (necessidades de segurança e sociais de Maslow) e
Factores Motivadores (necessidades de estima e realização de Maslow).
Os factores responsáveis pela satisfação não eram simultaneamente responsáveis pela
insatisfação:
A satisfação decorria do trabalho em si;
A insatisfação dos factores contextuais.
O autor sugere que:
O oposto da satisfação é a não satisfação;
O inverso da insatisfação é a não insatisfação.
A grande novidade desta teoria reside no postulato da independência entre factores de
satisfação e insatisfação.
Os factores higiénicos eliminam a insatisfação, mas não provocam a motivação.
Independentemente do grau de motivação, o individuo poderá sentir-se satisfeito ou não com
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as condições que lhe são propostas. (Exemplos: pagamento, condições de trabalho, politicas
de gestão, segurança no emprego, etc.)
Os factores motivacionais geram a motivação, mas não eliminam a insatisfação. Os
colaboradores estarão motivados se lhes forem atribuídas tarefas interessantes e ricas, em
termo de conteúdo. (Exemplos: responsabilidade, sucesso, conteúdo do trabalho,
reconhecimento, oportunidade de desenvolvimento pessoal, etc.)
Teoria X e Y de McGregor (1960).
McGregor propôs duas visões distintas relativamente à forma de pensar o homem:
Uma visão tradicional, fundamentalmente, negativa – Teoria X;
Uma visão contemporânea, fundamentalmente positiva – Teoria Y.
Teoria X:
O trabalho é intrinsecamente desagradável para a maioria das pessoas.
Poucas pessoas são ambiciosas, têm desejo de responsabilidade; a maioria prefere ser
orientada pelos outros.
A maioria das pessoas tem pouca capacidade para criar e encontrar solução para os
problemas das organizações.
A motivação ocorre apenas nos níveis fisiológico e de segurança.
Para a realização de objectivos da organização, a maioria das pessoas precisa de ser
estritamente controlada.
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Teoria Y:
O trabalho é tão natural quanto o jogo, desde que as condições sejam favoráveis.
O auto-controlo é frequentemente indispensável para realização dos objectivos da
organização.
A capacidade para criar e resolver problemas das organizações está muito distribuída na
população.
A motivação ocorre no nível social, de estima e auto-realização, bem como no nível fisiológico
e de segurança.
As pessoas podem orientar-se e ser criativas no trabalho, desde que motivadas.
O que bloqueia a iniciativa O que favorece a iniciativa
Não ter direito de errar. Aprende-se com os erros, conservando o apoio superior
Uma pessoa sabe… a outra não sabe. Cada um detém uma parte pertinente do saber.
Só há uma boa maneira de fazer correctamente: é como o chefe faz.
O subordinado encontra a sua própria maneira de se realizar.
O responsável só se preocupa com o “curto prazo”.
Objectivos ambiciosos e realistas.
O lider pensa que os subordinados não trabalham
O líder adopta um estilo de liderança
autoritário
O lider tem comportamentos
autoritários
Os subordinados sentem-se
insatisfeitos
Os subordinados farão apenas o
que lhes for dito
O lider tem confiaça nos subordinados
O líder delega e informa
O lider toma decisões em cooperação
Os subordinados estão satisfeitos
Os subordinados trabalham sobre a
sua responsabilidade
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A iniciativa é privilégio do responsável. Todos podem ter iniciativa.
Não executar mais do que uma função limitada.
Confiar em missões abertas. Estar disponível.
Ensinar a aprender. Descobrir por si mesmo.
Condicionamento e conformismo. Adaptação, inovação e desenvolvimento.
Estabelecendo uma comparação com a teoria da Maslow verificamos que:
A teoria X assume que as necessidades de ordem inferior regulam os comportamentos das
pessoas.
A teoria Y garante que os indivíduos são determinados por necessidades de ordem superior.
Não há evidência empírica que permita considerar como unicamente válidos os pressupostos
da teoria Y. Nem a garantia de que se alterarmos os nossos comportamentos de acordo com
esses pressupostos haverá um aumento na motivação dos indivíduos.
Em ultima instância a grande mais-valia desta teoria constitui a confirmação de que a
motivação dos indivíduos depende do contexto e situações particulares.
Teoria das necessidades apreendidas de McClelland (1961).
O autor considerou a existência de três necessidades motivacionais fundamentais, que variam
e indivíduo para indivíduo, em termos de frequência e grau:
Necessidade de realização: Desejo de ser bem sucedido.
Necessidade de poder: desejo de influenciar o comportamento dos outros.
Necessidade de afiliação: desejo de estabelecer relações interpessoais.
Para MClelland estas necessidade são aprendidas no contexto das experiências de vida do
indivíduo, sendo sobretudo as práticas educativas na infância as que determinam a realização
do indivíduo. Assim, contempla as diferenças intra e inter-individuais.
O comportamento das pessoas é influenciado pelos motivos, os quais têm características
semelhantes aos traços de personalidade (consistentes ao longo do tempo e resistentes à
mudança).
Robbins (1996) considera que os dados utilizados pelo autor apresentam uma generalização
limitada, uma vez que foram obtidos a partir de amostras constituídas apenas por homens
americanos.
A perspectiva de uma alta realização funcionar como factor motivador intrínseco pressupõe o
desejo de aceitar tarefas de risco (exclui países com elevado grau de instabilidade e incerteza
face ao futuro), o que varia consoante as características culturais.
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No caso particular do nosso pais, um estudo realizado por Rodrigues (1995) demonstra que a
população portuguesa valoriza excessivamente os aspectos materiais, pelo que as conclusões
de McClelland não são aplicáveis à nossa sociedade.
Teoria da motivação para a realização de Atkinson (1957).
Principais conceitos – Atkinson defende que a tendência dos indivíduos na aproximação de
uma tarefa (T) é determinad por quatro elementos:
1. Ms: Motivos para alcaçar o sucesso;
2. Mf: Motivos para evitar o fracasso;
3. P: Probalidade sentida de sucesso na tarefa;
4. Is: Valor do incentivo para o sucesso na tarefa.
O comportamento orientado para a realização é o resultado do conflito (C) entre a tendência
para alcançar o sucesso (Ts) e a tendência para evitar o fracasso (Tf).
C = Ts + Tf
O pior inimigo do sucesso é o medo do fracasso.
A tendência para alcançar o sucesso é função do motivo para alcançar o sucesso (Ms), da
probabilidade subjectiva de que o empenho será seguido de sucesso (Ps) e do valor do
incentivo do sucesso (Is).
(Ts = Ms x Ps x Is)
A tendência para evitar o fracasso é função do motivo para evitar o fracasso (Mf), da
expectativa de fracasso (Pf) e do valor negativo do fracasso para o sujeito (If).
(Tf = Mf x Pf x If)
O medo do fracasso é a antítese da tendência para alcançar o sucesso. Leva ao evitamento das
tarefas que possuam contribuir para o sucesso e é inibitório por natureza (Atkinso & Raunor,
1974).
Como é que se comportam as pessoas com elevada necessidade de realização?
Estabelecem metas moderadamente difíceis, mas potencialmente atingíveis;
Estão mais preocupados com a realização pessoal do que com a recompensa de sucesso;
Apreciam a comparação das suas realizações com as das outras pessoas;
Preferem um feedback referente a tarefas do que o feedback social ou de atitude;
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Gostam de saber o resultado das suas actividades;
Confiam nos seus esforços e capacidades.
O que conduz ao stress e torna o indivíduo ansioso?
Desvalorizar as suas capacidades para resolver problemas;
Recorrer a pensamentos derrotistas do tipo “não vou conseguir”;
Generalizar uma situação frustrante passada e acreditar que vai ser sempre assim;
Afastar-se da realidade pressente (irrealismo);
Exagerar a dificuldade da situação;
Aumentar o poder dos outros, diminuindo o seu próprio poder e importância.
O balanço do stress varia em função do grau de exigência estabelecido pela circunstância e as
aptidões e recursos pessoais e sociais que o indivíduo possui para a confrontar (Vaz Serra,
1999).
Aptidões e recursos
Exigências
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Diferença entre Eustress e Distress (Jesus, 1998).
Qual o papel dos incentivos extrínsecos?
Fazer uma lista dos seus recursos e capacidades, relevando os sues pontos fortes;
Dizer a si próprio palavras estimulantes motivadoras e calmantes;
Fazer uma coisa de cada vez. Confiar nas suas capacidades. Deixar o passado e concentrar-se
no presente (step-by-step);
Respirar devagar e prolongadamente. Descontrair-se. (Estado de activação biofisiológico
equilibrado);
Desdramatizar a situação e confiar em si. (Optimismo),
Reapropriar-se do seu próprio poder. Não exagerar o poder dos outros (Assertividade);
Fixar um objectivo e visualizar o sucesso decorrente da sua consecução.
Resistência (tentativa de lidar com a situação)
"Coping" (Eustress) - (Resolução do problema)
Optimização do funcionamento adaptativo
"Exaustão" (Distress) - (Tensão muito elevada e/ou durante demasiado tempo)
Sintomas de mal-estar
"Reacção de alarme" (percepção da situação)
Potencial factor de mal-estar (exigências profissionais)
Desafio Problema
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Quais as implicações dos resultados obtidos nas investigações?
Os sujeitos com maior motivo de realização (Ms) apresentam maior performance e
persistência;
Os sujeitos com maior motivo de realização e menor ansiedade apresentam maior actividade
orientada para a realização, na direcção do comportamento, na performance e na persistência;
Os sujeitos, de qualquer classe social, com maior motivo de realização apresentam melhores
resultados escolares;
Os sujeitos, se possuem Ms > Maf, preferem áreas de estudo de dificuldade intermédia e
apresentem aspirações vocacionais mais realistas;
Os sujeitos com maior motivo de realização apresentam ocupações profissionais de estatuto
superior do que as dos seus pais. Quando o estatuto das profissões destes é baixo;
Os sujeitos com Ms > Maf aumentam o nível de aspirações após o sucesso e diminuem após o
fracasso;
Após o fracasso, os sujeitos com Ms > Maf são mais persistentes em tarefas fáceis, enquanto
aqueles com Ms < Maf são mais persistentes em tarefas difíceis;
Os sujeitos com Ms > Maf apresentam maior aprendizagem e interesse escolar.
Teoria da expectativa (Vroom, 1964).
No domínio das teorias da expectativa, a teoria de Vroom é considerada uma das mais aceites,
visto constituir uma conceptualização pioneira no âmbito dos modelos cognitivos de
expectativa-valor.
Considera que o comportamento resulta de escolhas conscientes e alternativas e que estas
escolhas (comportamentos selectivos) estão intimamente relacionadas aos processos
psicológicos (percepção e atitude).
São crenças que estimulam o comportamento:
F (expectativa x instrumentalidade x valência)
De acordo com Ferreira et al. (2001), Vroom baseou-se em três tipos de relações para formular
a sua teoria da expectativa:
Relação Esforço/Desempenho
Relação Desempenho/Recompensa
Relação Recompensa/Objectivos pessoais.
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A estes três tipos de relações o autor acrescentou cinco conceitos chave que funcionam como
pilares de teoria:
Resultados: o que a organização proporciona ao profissional como contrapartida do seu
desempenho;
Valência: grau de atracção que o resultado represente para o indivíduo;
Instrumentalidade: percepção do grau de relação entre o desempenho e os resultados
alcançados;
Expectativa: aquilo que a pessoa antevê como provável resultado, em função do seu
desempenho;
Força: quantidade de esforço dispensado ou tensão existente no interior da pessoa, capaz de a
motivar.
Teoria da Aprendizagem Social de Rotter:
Compreender o comportamento do sujeito numa ampla diversidade de situações, ou seja,
oferecer uma teoria sistemática da personalidade que pudesse ser útil no domínio da
psicologia clínica.
A teoria da aprendizagem social pretende explicar e prever as escolhas que os sujeitos fazem
quando confrontados com diversas alternativas ao comportamento, em situação de tomada
de decisão (Jesus, 2000).
É uma teoria interaccionista que considera, para explicação do comportamento do sujeito, a
influência da sua personalidade e o significado das situações específicas em que o
comportamento ocorre.
Quais os principais conceitos desta teoria?
C = f (E & V)
A probabilidade de ocorrência de um determinado comportamento, numa determinada
situação, ou seja, o comportamento potencial (C) é função da expectativa (E) de que esse
comportamento permitirá alcançar um certo resultado e do valor do esforço (V)desse
resultado para o sujeito.
Segundo o autor, existe uma relação independente entre as variáveis expectativa e valor, o
facto de se valorizar muito alguma coisa não quer dizer que se tenha grandes expectativas.
O comportamento potencial é a probabilidade de ocorrência de um comportamento numa
determinada situação, sendo escolhido comparativamente a outras alternativas de
comportamento.
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O valor do resultado é o grau em que o sujeito prefere que um determinado resultado ocorra.
Este valor depende do estado de necessidade em que o sujeito se encontra.
A expectativa constitui a probabilidade do sujeito considerar a ocorrência de um determinado
resultado, em função de um comportamento numa determinada situação. É determinada pela
experiência anterior, levando o sujeito a aprender que há uma relação entre determinados
comportamentos e o alcance de certas metas.
As expectativas podem ser gerais ou específicas.
Gerias – baseiam-se em situações semelhantes.
Específicas – baseiam-se na experiência anterior.
Quais as relações possíveis entre expectativa e valor?
Expectativa Valor + - - + + + + +
Alguns valores podem estar na base da discrepância entre expectativa e valor:
O desconhecimento dos meios para alcançar os fins. (fornecer valor instrumental aos meios).
A generalização inadequada de experiências fracassadas anteriormente. (procurar discriminar
as situações).
A não aprendizagem de determinadas competências. (treino dessas competências mas com
carácter comportamental).
As necessidades são orientadoras do comportamento, na medida que definem a direcção do
mesmo. Podemos distinguir seis necessidades básicas.
Conforto físico, necessidade de satisfação no plano biofisiológico;
Protecção ou dependência, necessidade de segurança;
Amor e afeição, necessidade de ser aceite pelos outros e sentir-se integrado;
Reconhecimento e estatuto, necessidade de ser reconhecido;
Dominância, necessidade de controlar a acção dos outros;
Independência autonomia, necessidade de tomar as suas próprias decisões.
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O conceito mais desenvolvido na teoria de Rotter é expectativa de controlo dos resultados ou
locus de controlo: traduz as diferenças individuais na expectativa de contingência entre
comportamento pessoal e os resultados obtidos.
As expectativas de controlo vão influenciar as expectativas do sucesso do sujeito no sentido de
serem maiores quanto mais o sujeito apresenta expectativas de controlo interno numa tarefa
em que tenha sido bem sucedido no passado.
Em tarefas de controlo interno a expectativa do sucesso é maior após o sucesso, enquanto que
em tarefas de controlo externo a expectativa de sucesso é maior após o fracasso.
Seeman& Liverant, 1962, cit. in Jesus, 2000)
Qual o instrument de avaliação deste constructo?
O autor construiu a escala de internalidade – externalidade de Rotter para avaliar a tendência
dos sujeitos para perceberem os acontecimentos como sendo controlados mais internamente
ou mais externamente.
A escala apresenta 29 itens que representam uma amostragem de crenças relativas a seis
categorias: reconhecimento académico; amor e afecto, reconhecimento social; gestões
sociopolíticas, dominância; filosofia de vida.
As investigações mostram a tendência, sobretudo nas sociedades ocidentais, para o aumento
da externalidade, ou seja, cada vez mais os indivíduos crêem não poder controlar os resultados
(Jesus, 2000).
No entanto os indivíduos com maior internalidade têm mais motivação para a realização e
apresentam menos sintomas depressivos.
Findley e Cooper (1983) analisaram 98 estudos e concluíram que, em geral, os alunos com
expectativas de controlo interno obtêm melhores resultados escolares, comparativamente
com aqueles que apresntam expectativas de controlo externo.
No caso dos professores, aqueles que apresentam maior internalidade têm menos nível de
stress profisional e maior satisfação profisional; enquanto que os professores com amior
externalidade têm maior tendência para o mal estar docente (Jesus, 2000).
Teoria da atribuição causal de Weiner (1972)
Centra-se no estudo de explicações (para o sucesso e para o fracasso) apresentadas pelos
sujeitos para os resultados obtidos em tarefas de realização. Esta teoria constitui o suporte
teórico de grandes investigações realizadas no âmbito da psicologia da motivação.
Distingue três grandes dimensões das atribuições, sendo que cada uma deve ser entendida
num conjunto bipolar.
Locus: refere-se à localização da causa relativamente ao autor, ou seja, se é interna ou
externa;
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Estabilidade: diz respeito à permanência ou não da causa ao longo do tempo, isto é, se é
estável ou instável;
Controlabilidade: refere-se à capacidade que o sujeito julga possuir para actuar sobre a causa,
modificando-a ou não, ou seja, se é global ou específica.
Resultado Atribuição Sucesso Fracasso
Interna – Estável (i.e. capacidade)
Auto-confiança Desânimo
Interna – Instável (i.e. esforço imediato ou
estado de ânimo)
Satisfação Desgosto
Externa – Estável (dificuldade da tarefa)
Esperança Desinteresse
Externa – Instável (Sorte)
Surpresa Espanto
As investigações têm verificado que quanto mais internas, estáveis e globais forem as
atribuições para os fracassos obtidos, maior a expectativa de fracasso e consequentemente,
maior desânimo.
Domínio educativo.
Os estudos têm demonstrado que os alunos que atribuíam o seu insucesso numa avaliação a
causas estáveis obtinham notas mais baixas na avaliação seguinte, em comparação com
aqueles que atribuíam o seu insucesso a causas instáveis. As expectativas de sucesso e o grau
Resultado (desejado)
Antecipação emocional &
Expectativa de sucesso/fracasso
Comportamento
Resultado (obtido)AtribuiçãoReacçaõ emocional
& Expectativa de sucesso/fracasso
Comportamento
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de esforço dos alunos constituem variáveis mediadoras de influência das atribuições sobre os
resultados posteriores. (Jesus, 2000)
Domínio Sociocultural.
Verificou que a maioria dos desempregados atribuem a situação de desemprego a factores
externos (i.e. governo), mas seis meses depois aqueles que entretanto tinham encontrado
emprego haviam mudado de opinião. (Jesus, 2000)
Domínio clínico.
Um estudo de Eiser, Raw e Sutton (1985), constatou que os fumadores que atribuem o
insucesso a deixar de fumar a causas instáveis apresentam maiores expectativas de sucesso,
relativamente ao comportamento de deixar de fumar, o qual influencia a respectiva intenção.
O modelo do desânimo aprendido decorrente da teoria da atribuição causal.
Os indivíduos expostos a fracasso incontrolável sucessivo aprendem que não têm qualquer
influência nos resultados obtidos, desenvolvendo uma postura de desânimo, próxima dos
estados depressivos. (Seiligman, 1976)
Podemos distinguir três estádios neste processo:
Após uma experiência de fracasso, na qual o indivíduo se empenhou, começa a percepcionar
que não há uma relação positiva entre o seu comportamento e os resultados obtidos;
Desenvolve a expectativa que o comportamento e os resultados continuarão independentes
no futuro;
O sujeito apresenta deficiências na aprendizagem futura e distúrbios emocionais.
Qual a intervenção adequada para mudança de atribuições?
A intervenção para mudança de atribuições baseia-se no princípio de que as atribuições
influenciam os esforços de realização, então uma mudança de atribuições pode modificar o
comportamento, pelo que se deve procurar alterar as atribuições, para situações de fracasso,
de estáveis para instáveis, de forma realista.
Exemplo: o indivíduo que explique o fracasso por falta de capacidade (estável), tende a
diminuir a auto-estima e a manifestar vergonha, o que tem repercussões negativas no
desempenho; enquanto se explica esse fracasso por falta de esforço (instável), pode
desenvolver expectativas de sucesso, aumentando o esforço e melhorando o desempenho.
Teoria da motivação intrínseca de Deci (1975).
A presente teoria cognitivista pretende explicar porque é que o sujeito realiza e persiste em
determinadas actividades apenas pela satisfação que estas lhe proporcionam.
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Estas actividades são um fim em si mesmas, não resultando quaisquer recompensas
extrínsecas. Inclusivamente, neste tipo de actividades, o sujeito tolera mais a fadiga e é capaz
de adiar a saciação de certas actividades. (Jesus, 2000)
Na motivação intrínseca não há recompensas, os sujeitos envolvem-se pelo interesse que a
realização proporciona. Enquanto a motivação extrínseca é estimulada pelo incentivo externo
associado ao resultado da tarefa. A última pode conduzir a uma diminuição da motivação
intrínseca.
Quais as bases da motivação intrínseca?
Deci (1975) conceptualizava a motivação em termos de:
Necessidade de competência;
Auto Determinação.
O sujeito procura fazer actividades que o façam sentir competente e auto-determinado, logo
constituem a base da motivação intrínseca.
O desenvolvimento das competências, desde as mais simples às mais complexas, é uma parte
aprendido, sendo a aprendizagem estimulada pela necessidade de competência.
Quais os resultados das investigações realizadas?
Gottfried (1982, cit in Jesus 2000) verificou que os alunos que apresentam maior motivação
intrínseca para a realização de certas tarefas são aqueles que obtêm melhores resultados
nestas tarefas.
Tem-se verificado que a introdução de recompensas externas, após a realização bem sucedida
de tarefas que os alunos gostam de realizar, faz diminuir o interesse pela realização dessas
tarefas quando a recompensa é retirada.