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  • SOFOCLES nasc-eu em Colono,pente de Atenas, entre 496 e 494a. C., e fa.leceu em Adenas, em 406a. C. 'Pouco se sabe da sua activi-dade poltica. Filho de 1I1:marmeiro,recebeu uma educao esmerada,contactou de perto com Pric\es eHerdoto e a sua carreira teatralfoi das mais brilhantes. Dos 123dramas que escreveu, apenas setenos chegaram inteiros, de acordocom 'Uma escolha feita no SOlXloIIda nossa era por vrios gramticos:Ajax (c. 450), AnUgona (c. 442),Rei diPo (pouco depois de 430)- reunidos na presente edio c.c.,E/eetra (e, 425), As Traquinias(entre 420 e 410). Flocteto (409)e diPo em Colono (representadopstomamenm, em 401, graas aS6focles, o Jovem, filho de Arlston,por sua vez filho ilegtimo do poeta).De muitas outras peas se conhe-cem apenas '05 itbulos ou nos che-garlilmalg'Ulls 'fragmentos. Tendoh-traduzido vrios aperfeioamentosna tcnica ,teatra.l, S6focles elevouo nmero de coreutas de doze paraquinze, deu maior importncia' aocenrio e ao guarda-roupa e, sobre-tudo, introduziu o terceiro actor.Substjt uiu a trilogia enca.deruda pelabrilogia livre, em que cada peaconsfibui um todo, dando maiorimportncia ao di:logo, em detri-mento do ,1iT.ismo.Caracterizam-se assuas obras por urna aco eminen-temente psicolgica. Poeta da con-dio humana, as suas peas sodominadas pelos temas da incon-sistncia da felicidade, da grandezada vontade em 'luta contra a injus-tia, da nobreza do sofrimento e dador. dipo e &ntf.gona so certa-mente as duas personagens maisnotveis de toda a sua obra.

    SFOCLES

    ANTGONA

    Verso portuguesa deAntnio Manuel Couto V:iana

    Composto e impresso porGris. Impressores

    Lisboa EDITORIAL VERBO

  • PERSONAGENS

    AnttgonaIsmene

    Filha de Edipo

    Filha, de dipo

    Rei, tio de An tlgona e :

    Rainha, mulher de Creo:

    Filho de Creonte

    Adivinho, velho e cego

    CreonteEur!dice

    Hmon

    Tirsias

    Um .Guarda

    Um Mensageiro

    COI'O de velhos, nobres de Tebas, presidido pelo Coriieu

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    (A ce11a representa o prtico do Palcio Real de Tebas,a que urna escadaria d acesso. Ao tunda, a montanha.Antlgolla atravessa a cena, entra no palcio e sai,instantes depois, trazendo pelo brao a sua irm Ismene .Descem juntas a escadaria, afastando-se do palcio.)

    ANTIGONA-Irm do meu sangue, Ismene querida; tu,que conheces as desgraas que afligem a casa de Edipo, sabesde alguma que Zeus no tenha feito cair sobre ela, depois donosso nascimento? No! No h vergonha nem infmia, dor oum sorte, que no haja tombado sobre as nossas desgraas, tuase minhas. Que sabes tu desse dito que o estratega 1 acaba deimpor a todos os cidados? Tens dele conhecimento, ou ignorasos males iminentes que os nossos inimigos tecem contra os quenos so mais queridos?

    ISMENE - Nada sei, Antgona. Nenhuma notcia me che-gou, trisle ou alegre, desde que ns duas nos vimos privadas denossos dois irmos mortos, num s dia, s mos um do .outro 2.Depois da partida do exrcito arg,ivo, nessa mesma noite, nadamais soube que pudesse tornar-me ou mais feliz ou mais des-graada. .

    ANTlGONA - Estava certa disso, e foi essa a razo porque vim aqui, fazendo-te transpor os umbrais do palcio, paraque me escutasses sem testemunhas.

    . ISMENE'- Queatb~tece? Vejo que o que vais dizer-me teperturba ..

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  • ANTIGONA-E como no uavia de ser assim? Pois nojulgou Creonte merecedor de honras sepulcrais um s dos nossosirmos, deixando o outro insepulto? Eis o que dizem: Etoclesfoi considerado digno de receber as costumadas honras, e sepul-taram-no, para que os mortos o. acolham dignamente, sob aterra. Ao pobre cadver de Polinices, pelo contrrio, proibiu,por um dito que fez publicar, que algum lhe desse sepultura;ou at que o chorasse. Deix-lo assim, sem pena, o insepulto,doce tesouro merc das aves de rapina, vidas de sustento!Foi isto, segundo se diz, que o bom Creonte decretou, tambmpara ti e para mim; sim, tambm para mim. E ele prprio aquivir anunci-lo, claramente, aos que ainda o no sabiam.E o caso no de pouca monta, nem assim pode ser considerado,pois quem transgredir qualquer dessas ordens ser ru de morte,lapidado, na cidade, publicamente. So estes os factos: s teresta mostrar se sabes honrar a tua dignidade, ou se s indignados teus ilustres antepassados.

    ISMENE - No adiantes maisl Que ganharia eu em atarou desatar este n?

    ANTIGONA - Poderei contar com a tua colaborao, coma tua ajuda? Pensa bem nisto.

    ISMENE - O que tens no pensamento? A que audaciosaempresa te vais abalanar?

    ANTIGONA - Trata-se de um irmo meu - e tambmteu, ainda que o no queiras -; quando me prenderem, nopodero acusar -me de traidora.

    ISMENE - Irs contra o que foi ordenado por Creonte?Que tremenda audcia I .

    ANTIGONA - Ele no tem poder para me separar dosmeus.

    ISMENE -:- Ai, reflecte irm! .Lembra-ta de como morreunosso pai,. desgostoso, clesonrado, cegando os prprios olhos, ao

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    enfrentar os crimes que cometera 3. E, depois, a sua me eesposa - porque era ambas as coisas - pe fim vida, cominfame, entrelaada corda ~. Em terceiro lugar, nossos doisirmos, desgraados. cumprem, no mesmo dia, o seu negrodestino: morrem s mos um do outro. E, agora, que s nsduas restamos, pensa que ignominioso fim nos espera, se vio-larmos o que est prescrito; se transgredirmos a vontade ou opoder dos que mandam. No! H que aceitar os factos: somosduas fracas mulheres, incapazes de lutar contra homens 5, contraos poderosos que ditam as leis, e temos de cumpri-las - estas e,possivelmente, outras mais dolorosas ainda. Contudo, peo aosque esto debaixo da terra o seu perdo, pois que, emboracontrariada, penso obedecer s autoridades. Procurar no pro-ceder como os mais, carece totalmente de sentido.

    ANTIGONA - Ainda que me pudesses ajudar, agora, jno to pediria. A tua ajuda no seria do meu agrado. Enfim,reflecte sobre as tuas ideias. Eu vou enterr-lo e, depois, quea morte venha. Permanecerei, como amiga, junto do bom amigo;tranquila por haver cometido um delito piedoso. M3Jis tempoagradar a minha conduta aos debaixo da terra do que aos deaqui, pois o meu descanso entre eles durar eternamente.Quanto a ti, pensando como pensas, desonras os que honram osdeuses.

    ISMENE - Quanto a mim? Mas eu no quero fazer nadade desonroso. S no encontro, em mim, foras para: desafiaro poder da cidade. .

    ANTIGONA ~ Est bem! Tu escudas-te com esse pretexto,e eu vou cobrir de terra o meu queridssimo irmo, at quetenha uma digna sepultura.

    ISMENE - Ai, desgraada, como temo por ti!

    ANTl GON A - Nada receis por mim; antes procura afirmaro teu destino.

    ISMENE - Ao menos, no confies o teu projecto seja aquem for. Guarda segredo, que eu tambm guardarei.

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  • ANTIGONA - No, isso, no! Espaihao por toda a parte.Mais te desprezarei se te calares!

    ISMENE - Tens um corao ardente, mesmo para ascoisas que gelam.

    ANTIGONA - Fica sabendo que, assim, agrado a quemmais devo dar prazer.

    ISMENE - Sim, sim, algo conseguirs ... l\las julgo queno poders realizar o que projectas.

    ANTIGONA - Posso,tiver foras. sim! E no recuarei, enquanto

    ISMENE - No tentes ir atrs de impossveis.

    ANTIGONA - Se continuas a falar dessa maneira, aca-barei por odiar-te; e ters, tambm, como mereces, o dio domorto. Basta! Deixa-me, e minha funesta resoluo! Correreio risco, certa como estou de que nada ser pior do que morrerde modo desonroso.

    ISMENE - Vai, pois, se assim o crs. Mas quero dizer-teque, se revelas pouco juizo, demonstras, ao menos, uma ami-zade sem pecado pelos teus amigos.

    (I smene entra no palcio. Desaparece Antgona, emdireco montanha. E, enquanto o coro no entra,a cena fica, por instantes, vazia.)

    CORO - O raio de sol, luz mais bela -__mais bela, sim,de quantas at hoje brilharam em Tebas, a das sete portasV-surgiste, enfim, ovante .da dourada manh, deslizando porsobre a corrente dirceia6 Com rpida brida, fizeste correr natua frente, fugitivo, o homem vindo de Argos 7, de escudobranco e 'revestido de armadura.

    Pol,inices, que se revoIta'u contra a nossa ptria, levadopor mesquinhas querelas, com agudo rudo, como guia qnese lana sobre a vtima; como por asa de branca neve, coberto14

    por uma multido de armas e capacetes adornados com crinasde cavalo; voava sobre os tectos das nossas casas, de faucesencancaradas -lanas sedentas de sangue, .emJ_e9Q.r_dass~!~bocas da cidade. Mas, hoje, partiu, antes de ter podido-saciaras mandbulas no nosso- sangue; e antes de conseguir lanarties ardentes sobre as torres que coroam as muralhas _ talfoi o estrpito blico que atrs dele se desencadeou. E....difclY.yHqll" quando se tem a serpente por adversrio 8.' Zeus, queodeia a lngua do enftico jactancioso, ao v-los vir contra ns,em prodigiosa avalanche, atrados pelo ruidoso ouro, lana oseu tremendo raio contra aquele que, tendo chegado ao limitedas nossas barreiras, se exaltava j com brados de vitria.

    Qual Tntalo 9, empunhando um archots, deu, afinal, con-sigo em terra, quando/ com bacanal arrebatamento,' soprava,contra Tebas, ventos de destruio. Correram, de outro modo,as coisas, pois Ares, o propcio deus, destribuiu entre os chefes- um para cada um - mortferos golpes.

    Sete chefes, postados junto das sete portas, igual contraigual, deixaram Zeus ser juiz da vitria. Apenas aqueles dois

    . desafortunados, nascidos do mesmo pai e da mesma me, levan-taram as lanas, um contra o outro; e ambos foram atingidosmortalmente 10. .

    Assim a Vitria, a exaltadora de heris, chegou a Tebasrica em carros, devolvendo cidade a alegria. Esquecidas aslutas, que se organizem, agora, nocturnas rondas, percorrendoos templos de todos os deuses; e, em honra de Tebas, comecemas danas que sempre deram prazer cidade; e seja Baco quemas dirija.

    [Creonte sai do palcio, a,companhado do squito.}

    CORIFEU - Eis que chega o rei desta terra; Creonte,filho de Meneceu. Eis que se aproxima o novo chefe, reclamadopelas actuais circunstncias. Para que nos convocou ele? Queprojecto desejar discutir com esta assembleia de ancios, quese reuniu aqui, acudindo chamada?

    CREONTE - Ancios, o timo da cidade que os deuses,sob tremenda tempestade, tinham torcido, hoje, de novo, marcarumo certo. Se eu, pelos meus emissrios, vos convidei a vir

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  • aqui, porque muito bem conheo o ininterrupto respeito quesempre manifestastes pelo governo de Laia, e igualmente en-quanto governou Edipo a cidade; porque sei que, quando elemorreu, o VOssa sentimento de lealdade vos fez permanecer aolado de seus filhos. Mas estes, num s dia, foram vtimas de umduplo fratricdio que causaram e sofreram. Assim eu, dados osmeus laos de parentesco com os que tombaram, assumo todo opoder; toda a realeza. :E: irnpossve conhecer as opinies e prin-cpios do homem que no tenha enfrentado, ainda, o exercciodo governo e da legislao. Para mim, qualquer que, encarre-gado do total governo de uma cidade, no ausculte o parecer, osconselhos, dos melhores; e, com medo do que possa suceder,se mantenha calado; esse tal, o classifico eu _ e no s6 agora,mas desde sempre! - um pssimo indivduo. E quem mais estimeo amigo do que a prpria ptria: esse, no me merecer qual-quer considerao. Porque eu - saiba-o Zeus, que tudo vl-no poderei ficar calado, ao saber que ameaa os meus conci-dados, no a salvao, mas um castigo divino; nem podereiconsiderar amigo um inimigo desta terra, c'I1vencidode que nestanave est a salvao, e, se singrar por bom caminho, nelapoderemos fazer amigos. So estas as normas com que me pro-ponho engrandecer Tebas; e principiarei pelas ordens que man-dei hoje apregoar, relativas aos filhos de Edipo ; a Etocles,sempre o Pllimeiro no manejo da lana, que, lutando na defesada cidade, por ela sucumbiu, ordeno o enterrem em sepulcro,e lhe sejam prestadas quantas honras e sacrifcios so devidosaos mais ilustres mortos. Quanto a Polinices, o exilado, que pelofogo tentou destruir, de alto a baixo, a sua ptria e os deuses dasua raa; que 'quis derramar o sangue de alguns parentes eescravizar outros; a esse, mandei anunciar pelos arautos, emtoda a cidade, que nenhumas honras lhe sejam prestadas, nemcom sepultura nem com lgrimas, e o deixem sobre a terra,presa exposta voracidade das aves e .dos ces; miservel des-pojo vista de todos. Foi esta a minha deciso, pois, porminha parte, nunca os criminosos tero as honras que cabem aoscidados justos. Ser sempre honrado, por mim, todo aqueleque saiba cumprir os seus deveres pra com os astros, tantona vida como na morte.

    CORIFEU - Filho de Meneceu: d-te prazer procederassim, tanto para com o amigo como para com o inimigo da16

    cidade. E, sim!, podes usar da lei como o entendas, quer para.os vivos, quer para os mortos.

    CREONTE - E agora, vs, como guardies das ordensdadas ...

    CORIFEU - ... Designa um jovem para tomar esse en-cargo.

    CREONTE - No isso. ] ~ encarreguei alguns homens deguardar o cadver.

    CORIFEU - Sendo assim, que mais queres de ns?

    CREONTE - Que no pactueis com os infractores dasminhas ordens.

    CORIFEU - S um louco pode desejar a morte.

    CREONTE ~:E;' justamente essa a paga. J muitos homens,'.pela usura, se perderam.

    (Do lado da montanha chega um soldado, um dos guardas.do cadver de Polinices. Abeira-se de Creonie quesubia j a escadaria do palcio. Este Pra ao ver osoldado.)

    I!

    GUARDA - Senhor! No te direi que vim com tantapressa, que me falta j o alento; nem que tenha movido os pscom ligeireza. No, que muitas vezes me fizeram parar asminhas reflexes e dei voltas no caminho, com a inteno deretroceder. Muitas vezes a minha alma, na sua linguagem, medizia: Infeliz! Onde vais, se sers castigado?, ou ento: Prasoutra vez, atrevido? ... Quando Creonte souber a notcia poroutro, pensas que no sofrers duro castigo? ... y, Com tantasvoltas e maquinaes, fui andando lentamente, e, deste modo,no h caminho que no se torne longo. Por fim, venceu, em

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  • mim, a deciso de vir at junto de ti; e aqui estou. E, aindaque nada te possa explicar, ao menos, falarei. O caso que Ivim atido esperana de que nada sofrerei que no esteja mar-cado no meu destino.

    CREaNTE - Vejamos: que razo h para estares, assim,to desanimado?

    GUARDA - Antes do mais, quero expor-te a minha situa-o: eu no o, fiz, nem vi quem o fez; por isso, no justoque caia em desgraa.

    CREaNTE - Porqu, tantos rodeios, e no chegas ao fim?Trazes-nos, evidentemente, novidades.

    GUARDA - As ms notcias devem retardar-se.

    eREaNTE - Fala de uma vez; acaba e vai-te embora.

    GUARDA - Falo, sim! Houve algum que, recentemente,enterrou o morto, espalhou sobre o seu corpo o fino p e cum-priu todos os ritos necessrios.

    CREaNTE - Que dizes?

    GUARDA -Nada sei, seno que ali no havia sinal denun-oiador de golpe de picareta ou sulco de enxada. O solo estavaintacto, duro e seco, e no se viam rodados de carro. Foi obrade cauteloso homem que se esmerou em no deixar vestgios.Quando a sentinela do primeiro turno da manh nos chamou aateno para o facto, tivemos todos uma desagradvel surpresa.O cadver havia desaparecido; no enterrado, no!, mas cobertocom leve camada de 'p, por mo de quem quisera evitar umaofensa aos deuses ... No havia; 'tambm,sinCIJis de fera ou deco que se aproximasse do cadver; e muito menos que o tives-sem arrebatado. Entre ns, logo se levantaram infamantes sus-peitas; cada guarda acusava o, outro; e tudo podia ter termi-nado em feroz luta, por no surgir quem o'impedisse. Cada um,18

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    por seu turno, podia ter sido o culpado; mas nenhum se denun-ciava. Todos estvamos dispostos a provar a nossa inocncia,pondo a mo em ferro candente, andando sobre o fogo; e jur-vamos, pelos deuses, que no fizramos aquilo e ignorvamosquem o planeou e executou.

    Por fim, como nada resultava do nosso inqurito, falou umde ns; e a todos fez baixar os olhos de medo.

    O caso que no podamos contradize-lo, nem tnhamosoutra maneira de sair bem de tal apuro, se no fazendo o quepropus: informar-te urgentemente do que se passava, e eraimpossvel ocultar. Prevaleceu a minha opinio e tocou-me, des-graadamente, a m sorte de desempenhar esse difcil encargo.Por isso, aqui estou, no por minha vontade, nem para vossoprazer, pois sei quanto se detesta o mensageiro portador de ms'novas.

    CORIFEU - (A Creonte.] Senhor, desde h momentos,assalta-me a ideia de que nisto andou a mo dos deuses.

    I

    CREONTE - (Ao coro.) Basta, antes que eu rebente emira com o que dizes! E: melhor que te no acusem, simultnea-mente, de velhice e falta de juizo, pois, na verdade, o que dizes i!1suportvel, se pensas que as divindades se preocupam comaquele morto ... Porque o haviam de enterrar, honrando-o demodo especial como benfeitor, a ele, que se propunha queimarascolunatas dos seus templos, com as oferendas dos fiis, e

    J. , .arrasar a terra e as leis que lhes foram confiadas? Quando que. viste os deuses honrarem os malvados? No, no pode ser!' Quando s minhas ordens, h gente na cidade que se nega aacat-las e, desde h tempo a esta parte, murmuram em segredo,contra mim; e erguem cabea, incapazes de baixar a cerviz sob'omeu jugo, como era justo, s porque no suportam as minhasordens, Estou convencido de que algum se deixou corromperpelo dinheiro dessa gente, afim de praticar tal desatino, pois,entre os homens, nada se criou de to funesto como as moedas.. , ,Elas destroem as cidades; afastam da ptria os cidados; encar-regam-se de perdera gente de bons princpios, ao ensinarem-lhea ocupar, cmodamente, a v.iJeza;'tanto para o bem como para

    , o mal, dispemqos homens e tazem-nos conhecer a impiedade;e a tudo mais se atrevem. Quantos se tenham deixado subornarpor dinheiro, e hajam' cometido desacatos desta espcie, mais

    r'i.r

    i

  • ~ - ----,--- -tarde ou mais cedo, com o tempo, se continuarem a procederassim, sofrero o merecido castigo; (Ao guarda.) To certo comoo respeito que devo a Zeus, ouve o que, sob juquuent, afirmo:

    'se no encontrardes quem preparou, com as suas mos, essasepultura; se no o trouxerdes perante mim, para vs, no che-gar apenas Hades, pois, vivos ainda, vos pendurarei, at con-fessardes a vossa' incomensurvel aco. Assim, aprendereisdonde se tira o dinheiro; e como o haveis de tirar no futuro. Jvereis de que vale o lucro, vindo no se sabe de onde. Da gann-ciaque gera actos vergonhosos, poucos se salvam; mas, comodeveis saber, muitos mais, por ela, so castigados.

    GUARDA - Posso responder, ou tenho que voltar costase partir?

    CREONTE - No te ds conta de que as tuas palavrasferem?

    GUARDA - As minhas palavras? Mordem-te o ouvido oua alma?

    CREONTE - Porque te pes a descobrir em que lugarme doem?

    GUARDA..:-.-.. Porque o que te fere a alma Eu s te firo os ouvidos.' o culpado.

    CREONTE -'Ah! V-se bem que nasceste charlato!

    GUARDA - possvel. Mas aquele crime no o cometi eu.

    CREONTE - E um charlato que, ainda para mais, ven-deu a alma por dinheiro.

    GUARDA - terrvel ter suspeitas e serem elas infundadas.

    CREONTE - Enfeita o teu palavreado como, entendas;mas, se no aparecerem os culpados, anunoiars, com os teusgritos, os tristes resultados de miserveis ganncias.?fI

    [Creonie retira-se com o squito. Nas escadas, ainda ouveas palavras do guarda.}

    i!

    GUARDA - Se encontrarem o culpado, tanto melhor!Mas, quer o encontrem quer no - s o acaso decidir+: nocorro perigo, no!, de que me vejas voltar tua presena,Agora, que me encontro salvo, contra o que esperava e pensei,sinto-me gratssmo aos deuses.

    iIIII

    I

    CORO - H coisas prodigiosas, mas nenhuma como ohomem! Ele, que ajudado pelo tempestuoso vento sul, chega aooutro extremo do espumante mar, atravessando-o, apesar dasondas que rugem descomunais; ele, que fatiga a sublime, divinae inesgotvel terra, com o vaivm do arado puxado por mulas,e, ano atrs ano, a vai sulcando; ele, que, com armadilhas,captura os inocentes pssaros e aprisiona os animais selvagens,e, com as malhas das entrelaadas redes, colhe os peixes quevivem no mar; o engenhoso homem que, com a habilidade.domina o selvagem animal monts; que sabe subjugar o cavalode abundantes crinas e o infatigvel touro da serra; o homemque, por si prprio, aprendeu a falar e tem pensamentos rpidoscomo o vento, e criou em si um carcter que regula a vida emsociedade, e aprendeu a fugir das implacveis intempries, comseus dardos de chuva e de neve; o homem que possui recursospara todos os males, pois, sem recursos, no se aventuraria aencarar o futuro: apesar de tudo isto, no conseguiu evitar amorte, embora engendrasse formas de combater as enfermidadesinevitveis. Quanto ao seu poder inventivo, logrou conhecimen-tos tcnicos que superam o inesperado; mas, algumas vezes,os encaminha para o mal e, outras vezes, para o bem. Se res-peita os usos e costumes locais e a justia confirmados por divi-nos juramentos, consegue chegar ao cimo da cidadania; mas oque, ousadamente, se deleita no erro, perde os direitos de cida-do; esse, no poder sentar-se minha mesa, pois, quem assimprocede, no pensa como eu.

    (Entra o meS111.0 guarda conduzindo Antgona.)

    CORIFEU - No sei; duvido que isto seja um prodgiooperado pelos deuses ... (Ao notar a presena de Antgona.)

  • Reconheo-a, sim, e no poderei negar que esta a jovemAntgona. O msera filha do desventurado dipol Trazem-te porteres, acaso, desobedecido s ordens do rei? Detiveram-te, porteres ousado cometer qualquer loucura?

    GUARDA - Sim, foi ela; ela a culpada. Prendmo-Iaquando estava a enterrar o cadver ... Mas, onde est Creonte?

    (Ao ouvir as exclamaes do guarda, Creonte Sal, nova-mente, do palcio, com o squito.)

    ,\ CORIFEU - Ei-Io que, no momento preciso, torna a sairdo palcio.

    GUARDA - Senhor, nunca um mortal se atreva a suporque existem impossveis: a reflexo logo desmente esta ideia.Assim, estava eu convencido, pelo desencadear das ameaas quesobre mim fizeste cair, que no tomaria a pr aqui os ps; massurgiu-me esta alegria que sobrelevou toda a esperana e togrande que no se compara a qualquer outra satisfao. Aquivoltei - apesar de jurar no o fazer -, trazendo-te esta raparigaque foi encontrada a abrir um coval, Porm, agora, no venhoporque me tenha cado em sorte, nol; venho porque este felizachado obra minha e de mais ningum ...

    Agora, senhor, a ti a entrego e podes interrog-la e Inves-tigar os factos. Quanto a mim, libertei-me do perigo que meameaava. Estou livre e isento de injustias.

    CREONTE - Mas, esta que me trazes, onde e de quemodo a prendeste?

    GUARDA - Estava a enterrar o morto. Eis tudo.

    CREONTE - Ds-te conta da gravidade da tua afir-mao?

    . . GUARDA - Surpreendi-a a enterrar o marta; aquele quedeterminaste ficar insepulto. Julgo que bem claro o que digo.22

    r - _.. - WiIl!R ~-~mo=.~~"""",~W""""._CREONTE - E como a surpreendeste e aprisionaste err

    pleno delito?

    GUARDA - Foi assim: regressado ao servio, sob o pesedas tuas terrveis ameaas, depois de varrermos todo o p qurcobria o cadver, deixando o corpo bem patente, j em Irancsdecomposio, sentmo-nos, abrigados do vento, para evita]que o seu sopro nos trouxesse, do alto dos rochedos, o Iedoique do cadver se desprendia. Com injuriosas palavras nosespicavamos uns e outros, para nos conservarmos atentos evigilantes, no fosse algum de ns adormecer. Isto durou bas-tante tempo - at subir, no alto do cu, a rutilante esfera deSol e o calor queimar. Ento, um torvelinho de vento levantoudo solo nuvens de p - castigo enviado pelos deuses _ quscobriu toda a plancie, desfigurando as rvores do prado, eobscurecendo o ar. Suportmos! de olhos fechados, aquele malque os deuses nos mandavam. Muito tempo passado, quandctudo se dissipou, vimos esta donzela, gemendo dolorosamente,com dor igual da ave que encontra vazio o ninho onde deixaraas crias. Assim ela, ao ver o cadver desprezado, gemia e cho-rava, maldizendo os autores de tal acta. Rpidamente, as suasmos espalham sobre o cadver um p finssimo; e, despejando,com trplice libao, um gomil de bronze bem lavrado, prestaas honras ao morto. Ns, ao ver isto, apressmo-nos a prend-la,sem que ela mostrasse qualquer temor.

    Deste modo, fica aclarado o que antes se passara, e queela no negou. A mim, tudo isto me alegra e me d pena;pois, que prazer nos d evitarmos um perigo, causando malesaos amigos? Mas, estas consideraes valem menos para mim do

    '. que ver-me a salvo.

    I

    CREONTE - (A Antgona.) E tu, tu, que inclinas acabea para o cho, confirmas ou desmentes ter feito isto?

    ANTIGONA - Confirmo-o, sim. Disse-o, no o nego.

    CREONTE - (Ao guarda.) Tu, podes ir para onde queiras,livre do peso da minha acusao .

    (O guarda retira-se.}

    23

  • Mas tu (a Antgona) dize-me, sem rodeios; sabias que teera vedado, por um dito, fazer o que fizeste? '

    ANTIGONA - Sim, sabia-o bem. Com., poderia ignor-lo,se toda a gente o sabe?

    CREONTE - E, apesar disso, atreveste-te a passar porcima da lei?

    ANTIGONA - No foi Zeus que ditou esse decreto; nemDice, companheira dos deuses subterrneos, estabeleceu tVisleispara os homens. E no creio que os teus decretos tenham tantopoder que permitam a algum saltar por cima das leis, noescritas, mas imutveis, dos deuses; a sua vigncia no , nemde hoje nem de ontem, mas de sempre, e ningum sabe como equando apareceram. No iria atrair o castigo dos deuses, comreceio de determinao dos mortais: s via na minha frente omorto, sem cuidar do que decretaste. E, se morrer agora, lucra-rei com isso; pois quem, como eu, vive entre tantos males,ganha com a morte. S encaro, corno desgraa, ficar insepultoum filho de minha me e eu consentir: isso, siml, que me seriadoloroso. Pode parecer-te que procedi como uma 10ijca, mas quase a um louco que dou conta da minha loucura.

    CORIFEV - A jovem demonstra coragem e audcia.Como filha de um pa.j corajoso, no cede ante o infortnio.

    CREONTE - (Ao coro] Sabei que os pensamentos maisinflexlveis so os mais prontos a ceder, como o ferro que, sepelo .fogo se toma durssimo, pronto quebrar e se encher defendas. Vi fogosos cavalos serem fcilmente domados com umsimples freio. No se concebe a arrogncia no 'que escravo dovizinho. Ela foi conscientemente arrogante, quando transgrediuas le'is estabeleci das e, logo que assim procedeu, veio com novaarrogncia: vangloria-se por ter procedido assim. Na verdade,no serei eu o homem, mas sim ela lI, se ela no sentir o pesoda minha autollidade. Ela minha sobrinha, mas, embora sejamais do meu sangue'lque qualquer" outro que".habita 'a minhacasa, nem ela, nem, a irrn, escaparo ~-mortt;! infql1lan

    te, pois

    24,,-,

    '---o,~ :

    tambm acuso a irm de colaborar no enterram(?,~~k)~as~

    I' ~os.) Chamai-a~ (Ao coro.) Vi-a,. h mornene-; j%-~_ ,::J,') ',

  • CREONTE - Sendo assim, como ousas tributar,honras que ofendem a memria do outro?

    ANTIGONA - Essa no seria a opinio do morto.

    CREONTE - Pois se tu lhe ds honras iguais s dor IUUplO. '"

    ANTIGONA - Quando morreu, no era seu escravo, eraseu irmo.

    CREONTE - Mas vinha para arrasar esta cidade, que oseu ,irmo defendia, de armas nas mos.

    ANTIGONA - As leis de Hades so iguais para todos.

    CREONTE - Mas, o que bem procede deve ter a mesmasorte que o malvado?

    ANTIGONA - Quem sabe se, de baixo da terra, a minhaaco no merece louvores?

    CREONTE - No! O certo que no considerarei amigo 13um inimigo meu, nem mesmo morto.

    ANTIGONA - No nasci para odiar, mas para amar.

    CREONTE - Pois vai-te, para debaixo da terra; e se tensdesejos de amar, ama os mortos, que eu, enquanto viva, noreceberei ordens de uma mulher.

    (Chega I smene, entre dois escravos.)

    CORIFEU - Eis Ismene, que atravessa a porta. Lgrimasverte, por amor de sua irm. Uma nuvem, obscurecendo os seus

    \26'

    a um1, !

    !fI\;.llf~.. '.

    ill!i::~its$,~:ilJlJ>

    -- RDn"C""'TlW QjjmmMHit'&!'*1MW8\&&iPMQ~_

    olhos, afeia-lhe o rosado rosto, banhando-lhe de pranto as facesbelas.

    CREONTE --'- (A Ismene.) Eras tu quem, silepciosamente,andava pelo palcio, como uma vbora, toldando-m o sangue ...Sem me dar conta, "eu alimentava, afinal, duas desgraas que-queriam arruinar-me o trono. Anda, fala! Confessas que tambm

    - participaste no caso da sepultura, ou vais jurar que nada sabes?.,.

    lSMENE - Se ela mo consente ... eu tambm colaboreinesse acto. Aceito essa responsabilidade; tomo-a sobre os meusombros.

    ANTIGONA - No.. que o no consente a justia: nadafizeste/ nem aceitei a tua ajuda.

    ISMENE - Perante a tua desgraa, no me envergonhode te soc'Orrer com um remo, no mar da tua dor.

    ANJ;lGONA - A quem pertence a obra, sabe-o Hades eos que ~sto debaixo da terra. No suporto amizades que osejam apenas por palavras.

    ISMENE - No, irm! No me recuses a honra de morrer' .contigo e a de t~ hav~r ajudado a cumprir os ritos devidos aomortal -C-'~I,

    ANTICONA - No quero que morras comigo, nem que teacuses do que no fizeste. Bastar que eu morra.

    f2ISMENE - E como poderei viver, se me abandonas?

    ~' . ',:::).'.- , - )'7 ..

    ANTfGONA - Pergunta-o a Creonte, j que tanto tepreocupas com ele.

    i1ISMENE --::-}~orque me feres, sem proveito teu?

    ANTfGONA - Mesmo que ria de ti, fazes-me pena.)

    ~.-

  • - ---- """- ~ ~ .D1Ii!!i' -'~c;.:;'!;l:.~";~~=- "~ "~"~~~~~~~ISMENE - E eu, agora, como poderei ser-te til?

    (Os guardas conduzem Antgona e lsmene ao palcio..Creonie segue-os.)

    CREONTE - No h-de faltar terra para fecundar.ANTIGONA - Salva-te, que no te invejarei\; se te sal-

    "',vares.ISMENE - Ma~\ isso, faltar ao acordo entre ele e ela

    ISMENE - Ai de mim, desgraada!, que no posso se-guir-te no destino! CREONTE - No quero ms mulheres para os meus filhos.

    ANTIGONA - Tu escolheste viver e eu morrer.ANTIGONA - Ai, querido Hrnon, o teu pai injuria-te! 15.

    CORIFEU - Ento, pensas privar teu Ifilho de Antgona?ISMENE - Mas no sem que as minhas palavras te t,jves-sem avisado.

    CREONTE - Hades quem pe fim a este noivado.""

    ANTIGONA - Para alguns, eras tu quem pensava bem . .-para outros, era eu. CORIFEU - Ento, est decidido que ela morra?

    ISMENE ~ Mas; agora; somos as duas, igualmente, :incri-minadas. . 'CREONTE - Por ti e por mim. E sem mais demora.

    Levai-as para dentro, escravos! Convm que estas mulheresfiquem bem presas, pois at os mais corajosos tentam fugir, sea morte lhes ameaa a vida.

    ANTIGONA '- nimo] No penses nisso. A ti, toca-teviver; quanto a mim, a vida acabou, desde que me propusajudar os mortos.

    CREONTE - (Ao coro.] Destas duas clianas, digo-vosque uma acaba de enlouquecer e outra louca de nascena.

    CREONTE - Pela tua, quando escolheste o mal, juntan-do-te aos maus.

    CORO - Felizes os que a desgraa no experimentou. Pois,quando um deus inunda de males a casa de um mortal, acegueira ,no pra, vai at extino da raa. como quando

    '''; ventos contrrios e enfurecidos, soprando da TrDia, fazemalterar-se as ondas do profundo mar; e dos abismos erguem,remoinhando, a negra areia, e ruidosamente gemem, batendo edesfazendo-se de encontro aos rochedos da praia.

    VejO;.( assiny como os males da casa de Labdcidas/u seabatem sobre as dores dos seus mortos; nenhuma gerao liber-tar a seguinte, porque algum deus a aniquilar, sem remdio.Cobria, agora, uma luz de esperana os ltimos rebentos deddpo, mas, de novo o machado homicida de um deus subterr-

    )

    . neo os destri.,.", Que humana soberba deteria Zeus, tado poderoso? Nem o

    . ~.sono poderia distra-lo, a ele, que tdo domina, nem a durao

    ISMENE -: que a razo, senhor, ainda que em algunsd os seus frutos, abandona os escolhidos pela desgraa.

    ISMENE - Como poder ser j a minha vida, sem 'ela?

    CREONTE -- No, no digas ela! Ela j no existe.

    ISMENE - Como? Vais matar a noiva do teu fllho? li.,28

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    infatigvel do tempo entre os deuses. Tu, Zeus, s o soberanoa quem no atinge a velhice, e reinas sobre a cintilante, esplen-dorosa serenidade do Olimpo. No presente, no passado e nofuturo, perdurar esta lei: na vida dos homens nenhum se arras-tar - ao menos por largo tempo _ sem cegueira.

    A esperana errante, pode ser til a alguns homens, mas,para outros, a ilusria ambio pode faz-los tombar no nada,O homem desconhece o momento em que ter de caminharsobre o' fogo 17.

    sbia esta sentena de que se ignora o autor: aos que omal parece um bem, leva-os um deus runa _ pouco tempovivero sem que os atinja a desgraa.

    r . -r: ~'--\_~'.':_\:> .. ::';'''-' "' (.'

    (0

    (Sai Creonts do palcio. Hmon aparece ao longe.}

    vCORIFEU - (A Creonie.] Eis que chega Hmon, o mais

    jovem dos teus filhos. Vir.- acaso) dolorido pela sorte de Ant- fIgona, sua noiva, e por ver frustrada a sua boda?

    CREONTE - J o vamos saber, com mais segurana queos adivinhos. (A Hmon.) Filho meu,! vieste por conheceresj a minha deciso sobre a donzela que em breve desposarias,ou queres desencadear a tua fria sobre teu pai? Faa eu o quefizer, sou teu anligo.

    .- I-':'.)..} ."\ '-'J

    HEMON - PaJ, sou teu filho, e s tu quem me guia combenvolos conselhos que sempre seguirei.

    Nenhuma boda me prazer tanto que a prefira obedincia'que te devo.

    0::.) ''','

    1 ~

    CREONTE - Filho meu, guardars isto no teu corao:seguir sempre a opinio paterna; s assim os homens podemgerar filhos e conserv-los obedientes no lar, para que devolvamao inimigo os males ,causados e honrem os amigos: tanto comoao prprio pai. O que, pelo contrrio, semeia filhos inteis,que outra coisa se pode dizer dele, se no que gerou sofrimentos,sendo para os inimigos motivo de escrnio? No, meu filhol,no te deixes arrastar pelo amor de uma mulher. Saibas tu que

    30

    ---. - .-.~ WD'jIJ'IS T;1!WUSil;' r.nt,".,;;g~_.,;c; ..Et9'"lTnftiii~-!1$~!!I/.~~":Bf!i.~!JS~~:?;.l~:'::~=:!,""~-:'.-, , I,..Z;'

    partilhar o leito com uma m mulher, t-la em casa, ligaoque avilta ... O que pode ferir-nos mais do que um mau filho?Deixa-a, despreza-a como coisa odiosa ... Que v para Hades;em busca de outro noivo. J que, entre todas as da cidade, sela me desobedeceu;;p

  • ces e aves vorazes. Tudo isto a tornou credor~(. na foca dopovo, de douradas honrarias. So estes dize.res que. se o pro-pagando clandestinamente. Pail, para mime no h iJJ rn maisprecioso' do qu~ a tua felicidade e boa sorte. O que, ode .sermais caro a? filho. do qu; ,.g:,b?l11no~e de que. goza 9 pa! ; e,para um paI, a fama de 'seu' filho? Nao te habItues,Ror ISSO,

    :ue uma maneira exclusiva,,'que s tl!.,decides ~ment,"pois esses. que se julgam com uma i.nteligncia. ~uperior de todos, ~sse_s.~quando bem observados, I1~()-p_3J!l1~e poosde vaidade,

    Ch~'r',( Mas um homem prudente l!.~_9~~.eenvergonha _d~ colherensinarnentos, ou de no ser intranSigente em demasia. vl comoKno Inverno, nas margens das torrente~raumentadas pel chuva, .as rvores' cedem para salvar os ramos. Se resistissem acaba- Iriam arrancadas pela raiz. Ass[ni:C>sucea'e'o'qu~ s!! o de si)mantm tensa a escota da nave,,,/ sem manobra, (poi far o.. _ . ~ rresto da travessia de quilha para o ar. Portanto, l!o t !!~s_nOt HEMON - Uma CIdade nao perte~ce a um so homem.teu rigor, e admite a possibilidade de mudares de p opsito, ; .:..,. ';,', y.' ,.' _Se mi~ha ju:,entude permitdo arrisc~r uma opinilo, _dir~l'.:;'" :/ CJ:'{EONTE_ Ento, a cidade no pertence a quem aque admiro mais um ho.mem nascido com mata sabedorIa;. ma.~._\.;:;'- - governa? . ~sp a balana no se inclinar para este lado, 0.11v:U1~,utar o. .bom conselho dos que o podem dar. .:, , . "-, -te ' ~.U ..;~ , J

    - ~

    CORIFEU - Senhorl ~ conveniente que medites] no queele acaba de dizer. (A Hmorc.) E tu, no que ele disse Ambosfalaram bem.

    CREONTE - Ento, na minha idade, terei ainda d~ apren-der a pensar como os jovens?

    IffiMON - No, no que no parea justo . .E: certo quesou jovem, mas convm atentar mais ao procedimento ~o que idade de cada um.

    CREONTE - Bom proceder.; esse, de honrar ogressores da ordem! trans-

    f 3,!Wi't ,...mn-WWUBfiwua~'fI!i~lI~l'fCiW'l'iw&..iK!~~{{.~,o!.!!~SiA.~.7'.J!;'.'!i.t';""f:ft",...,....,:~.c-~,!'I:':;- ... '... '-', .......

    CREONTE - No? Acaso, no est ela enferma da mal-dade?

    HMON - No o que dizem os seus cornpatriotng tebanos.'. '\

    CREONTE - Ento, ser o povo que vai ensinar-me agovernar?

    '"

    HMON - No vs que falas como jovem inexperiente?

    CREONTE -. Hei-de governar esta terra, segundo a OPI-nio de outros, ou segundo o meu parecer?

    Hf:MON- Tu, o que mereces, governar uma terradeserta 18.

    CREONTE - (Ao coro.) Vede como se pe do lado damulher! .

    Hf:MON - SiII1",simj.tu s mulher, pois a ti que defendo.. '.

    CREONTE - Ah, miservel! Como ousas julgar teu pai?

    HMON - Se no posso aprovar os teus erros!

    .

  • CREONTE - Infame! E tudo por causa de uma mulher!

    HMON - Talvez, mas no podes acusar-me de ter cedidoa infmias.

    CREONTE - Mas, tudo quanto dizes em favor dela.'__L) : ~/ rJLe..>"'"

    HMON - Tambm em teu favor, e meu, e ainda dosdeuses subterrneos.

    CREONTE - Pois, viva, no casars com ela!

    HEMON - Sim, ela morrer, mas a sua morte ser aruna de algum 19.

    CREONTE - Atreves-te, agora, a ameaar-me?

    HMON - Refutar vazios argumentos, chamas a issoameaa?

    CREONTE - Chamares-me insensato h-de custar-te lgri-mas; tu que tens vazio o juizo.

    HMON - Se no fosses meu pai, diria que s tu quemest louco.

    CREONTE - Deixa de me aborrecer com as tuas pala-vras; no passas de um joguete de mulher!

    HMON - Falar e falar:r

  • - -.a., iJifl&M pJi'L WMl1 m:=''' ~~%~~~~~~'7~~~j'lIl!!!"''''',~f.u;":t''''''~',:imortais, e muita menos os homens, enquanto vivos; mas o teudomnio pode levar loucura 21. Tu, que transformas os justosem injustos; tu, que" entre homens do mesmo sangue, promovesa discrdia, como agora, destruindo o encanto que brilha nosolhos da noiva j destinada ao leito conjugal; tu, associado sleis sagradas que regem o rnundo.; vais fazendo, sem luta" ojogo da divina Afrodte 22.

    CORIFEU - At eu, ao ver o que se passa, sou impelidoa rebelM-me contra as sagradas leis, sem poder evitar ummanancial de lgrimas, quando vejo Antgona dirigir-se, noao seu tlamo, mas ao leito de morte.

    (AParece Antgona com as mos atadas atrs das costase escoltada pelos guardas.]

    ANTIGONA - Vede, compatriotas meus, como vou seguiro meu derra:deiro caminho, ~ ver o esplendor do 001 pela ltimavez; a luz que no voltar a alumiar-me: Hades, que tudoadormece, vai receber-me, viva, nas praias do Aqueronte 28,sem ter participado no himeneu, sem ter ouvido os hinosnupcias. No! CO'In Aqueronte que vou desposar-me!

    CORIFEU - Ilustre e louvada.. caminhas para o antro dosmortos, no vencida por mortal enfermidade, ou por a espadaprovocar tal sorte. Ao contrrio, por tua prpria deciso e fide-lida/de s leis imontais, descers com vida e s, entre os mortos,a Hades.

    ANTiGONA - Ouvi falar da tristssirna sorte de Nidbe 24,a estrangeira frigia, filha de Tntalo, que, no cume do monteSpilo, foi vencida pela rocha que ali brotou e ali ficou presacomo a hera. E ali est penando - como consta entre os mor-tais -, chuva e ao frio, com os ptreos olhos destilando lgri-mas e humedecendo-lhe a 'face. Como a ela, igual destino me,adormecer,

    CORIFEU - Mas ela era uma deusa, de estirpe divina,enquanto ns somos simples mortais. Contudo.; depois da tua

    ' , I

    mort7-. se espalhar grande rumoy que~nquanto viva"e depoisde morta, mereceste o lugar dos heris prximos dos deuses.

    ANTIGONA - Ai de mim, assim escarnecida! Pelos deusespaternos!, porque no esperas a, minha morte para me insul-tares 25? Ai, ptria! Ai, hericos vares da minha ptrial Aifontes dirceias! Ai, sagrado recinto de Tebas, opulento de carros!Tambm a vs vos tomo por testemunhas de que morro semque me acompanhe o pesar dos meus amigos; e, no sei por queleis, vou ser encerrada num tmulo 'de pedra, sepultura jamaisvista. Ai de mim, msera, que nem depois de morta podereiviver entre os mortosl

    CORIFEU - Superando a todos 'em coragem, como teenobreces, filha, at alcanares, sorridente, o alto trono de Dice!Sobre ti, pesa a culpa de alguma falta paterna!

    ANTIGONA - Despertaste em mim uma dor que meesmaga: a lembrana do destino de meu pai, trs vezes reno-vado, como a terra trs vezes lavTada; o destino dos nclitosLabdcidas. Ai, desvario do 'leito de minha me; desgraadomatrimnio de minha me com meu pai, que ela havia parido!Destes pais, nasci eu, infortunada! E, agora, solteira e mal-dita, partilharei, noutro lugar, da sua morada. Ai, irmo!, quedesgraadas bodas tiveste: com a tua morte, arruinaste, at morte, a minha vida!

    CORIFEU -:E:s digna de piedade, sim!, mas quem governano deve ser, de qualquer modo, desrespeitado. Tu sabias isto,mas o teu 'Carcter perdeu-te.

    -+ ',_J2~t_/'-.,"lANTIGON A - Sim: que ningum me chore('por ser levada,

    i sem amigos' e sem himene~pelo caminho que' 'me destinaram.,1 Infortunadamente, no voltarei a ver, nunca mais, o rosto

    sagrado do Sol. E o meu destino ficar sem chorar, sem umamigo que o lamente.

    'I~,

    (Sai Creonie do palcio e dirige-se aos escravos que levamAntgona.)

  • - - fffl!lWtA DPb f~..--" .~ .". _".H'~_ >.0_' H_o _... .~_",:.,~~~~~~~CREONTE - No vedes que, se a deixais falar, no mais

    . findaro as suas lamentaes, as suas queixas? Levai-a, pois;e quando a encerrardes num sepulcro abobadado, 'Como ordenei,deixai-a s, 'desprotegida; e se tiver de morrer, que morra.E se viver, que faa vida na casa dos mortos, como deter-minei ... Deste modo, ficaremos puros 26, e ela privada de vivercom os vivos.

    ANTIGONA -.ru, tmulol Ai, leito nupciall Ai, subterr-nea moradia 'que para sempre habitarei! Para ti me dirijo, aoencontro dos meus. Destes,,( colheu Persfona 21 j umayultadonmero, mortos todos de miservel morte. Faltava '~J e aminha morte ser a mais horrvel de todas. VOl.!,.tambf0yparadebaixo da terra, sem que haja cumprido a vida 'que o destinome concedera. Mas alimento, ainda, a esperana de, ao chegarl abaixo, ser bem recebida. por meu pai e por minha me;e que tu me aceitesy meu querido irmo! Com minhas prpriasmos lavei vossos cadveres, preparei-os e sobre os vossos.tmulos fiz as libaes rituais. E eis o que obtive, por quererobservar o respeto devido ao teu corpo, Polinices ... Os pru-dentes no ho-de censurar-me por isso; pois, nem que tiverafilhos e meu marido estivesse moribundo, eu deixaria, contra avontade do povo, de desempenhar este doloroso papel. Em vir-tude de que lei digo isto? que, se um marido me morresse,podia encontrar outro; e at outro filho, se algum perdesse doanterior matrimnio. Mas, mortos meu pai e minha me, ambosj em Hades, nenhum outro irmo podia ter. Por isso, irmo,te honrei a Iti, mais que a ningum. Mas Creonte viu nisto umaaco m e um terrvel atrevimento. E,/ agora, prendeu-me;estou nas suas mos, arrasta-me para um sacrifoio, sem boda,sem himeneu, sem esponsais, sem filhos para criar. Assim.-semamigos que me valham, vou - desgraada: e viva, ainda!-para o tmulo. Por haver transgredido alguma lei divina?'E qual? Servir, agora, ai, pobre de rnirnl, voltar-me para osdeuses? A qual poderia, agora, implorar auxlio? Por ter pie- 'dade, sou 'chamada mpia; e se os deuses me julgarem assim,reconhecerei o meu erro. Porm, se so outros os que erram,que todos os seus males sejam maiores do que os meus _ estesque injustamente sofro.

    CORIFEU - Os mesmos ventos impulsivos continuam adominar-lhe a alma.

    CREONTE - Por isso, os que a conduzem pagaro caraa demora.

    CORIFEU - Ai de mim! As tuas palavras dizem-me quea mame est prxima.

    CREONTE - No duvides de que a minha sentena secumpra.

    (Os escravos empurram Antgona pm'a fora da cena.]

    ANTIGONA - O, terra tebana, cidade de meus pais!Deuses da minha estirpe! Vede com que pressa me levam; vede,cidados principais de Tebas, como levam a ltima filha dosvossos reis! 2

    8 Vede o que vou sofrer e por obra de quem!

    E tudo, por prestar o respeito devido aos mortos.

    (Sai Antgona)

    CORO - Tambm Dnas 29 foi obrigada a trocar a luz dodia por um 'crcere fechado com portas 'de bronze; e, ali,submetida ao jugo de um tlamo sepulcral. Contudo _ pobreAntgona! - tambm era fliha de famlia ilustre, e recebera,alm disso, a semente de Zeus, que sobre ela desceu como umachuva de ouro. implacvel a fora do destino 80. Nem a feM-

    . cidade, nem a guerra, nem torre forti'ficada, nem as negrasnaves batidas pela violncia do mar, lhe podem ;fugir!

    Tambm foi ,dominado o irascvel filho de Driante, rei dos: Edonos. Pela sua clera mordaz sr, Dioniso meteu-o, como. numa couraa, em priso de pedra; e deste modo se vai consu.Ipindo o terrvel, o desatinado furor da sua loucura. Assimconheceu ele a divindade, que ofendeu com lngua enlouque-cida, quando pretendia apaziguar as mulheres que o deus pos-sua e extinguir o fogo bquico; quando irritava as Musas que. deleitam com os SO'Dsharmoniosos das flautas. Junto dasescuras Simplegadas n2, beira de dois mares, ficam as margensdoBsforo e as costas do trcio ~"ln-o;A~~~ . _ _

  • - - -- -portas Ares viu como, de uma esposa selvagem, recebiam atrozcegueira os dois filhos de Fineu; cegueira que reclamava vin-gana nos olhos vazios rebentados por cruis mos, ponta deagulha.~):) . :

    Lamentavam os infelizes, com ~hr:-Sl- a .sua trgica des-graa; esses dois filhos de uma me mal casada, ainda que,por nascimento, remontasse aos antigos Erectidas 84. A ela, quefoi criada e~ cavernas distantes, ao acaso dos ventos pater-

    . nais, Hlha do deus Breas, veloz como um corcel sobreescarpadas colinas; tambm a ela, as Parcas S~ revelaram oseu poder.

    (Entra o velho e cego Tirsias, guiado POI; UI1J, moo.)

    TIRSIAS - Soberanos de Tebas, aqui c~egmos os dois,guiados apenas pelos olhos de um. esta a maneiraqus quadraaos cegos: ser acompanhado por um guia.

    CREONTE - Que h de novo, velho Tirsias?

    TIRSIAS - J to vou explicar, e cr no que ouvires aoadivinho. '

    CREONTE - Nunca, pelo menos at hoje, desprezei osteus conselhos.

    TIRSIAS - Por isso, tens dirigido, rectamente, a navedo estado.

    CREONTE - O meu governo pode testemunhar como temsido provelosa a tua ajuda.

    TIRSIAS - Pois bem: pensa, agora, que chegaste a ummomento crucia:l -do teu destino.

    CREONTE - Que se passa? As tuas palavras fazem-meestremecer.

    _.~~~~~~'_U

  • i~ !!!!!!!

    queda bem ignominiosa, quando ocultam a sua avareza comi TIRJ':SIAS -- Obdga>-me a dizer-te o que no quero queum 'belo disfarce de palavras. ' .me passe sequer pelo pensamento.

    TIRf:SIAS - Ai! Hpossa afirmar ...

    TIRSIAS - Na parte que me toca, assim ser.

    a algum homem que saiba, que!;. CREONTE - Mas di-lo, contanto que no 'fales s no teuinteresse. .

    CREONTE - O qu? Com que mxima j sabida vens"agora?

    , m CREONTE - Est bem. Mas sabe, desde j, que asTIRSIAS - '" em que medida a maior l1iqueza ter f minhas decises no se vendem.juizo?

    CREONTE - Na medida justa, parece-me, em que o maiorf.mal no o ter. . ,

    TIRESIAS - Mas tu, afinal, nasceste j enfermo _ e deque rnaneirat - dessa enfermida.de.

    TIRSIAS - Est bem; mas sabe, desde j, que o Sol norodar muito sem que um teu descendente morra, para com-pensar os mortos que tens enviado l para' baixo; e, tambmpela vida que indecorosamente encerraste num trnulo, enquanto'conservas, sobre a terra, um morto que pertena dos deusessubterrneos, e ao qual privas do seu direito a oferendas e apiedosos ritos. Nada disto de tua incumbncia, nem tem aaceitao dos deuses celestes. No passa de violncia, o quefazes a ambos. Por isso, destruidoras e vingativas, j se acercamde ti as divinas, mas mortferas, Ernias 39, para punir os teuscrimes. Reflecte que no falo de dinheiro; digo~te que, dentroem pouco tempo, se ouviro, em tua casa, gemidos de homense de mulheres. E todas as cidades se agitam, inimigas; todasonde haja chegado o fedor dos despojos dos seus soldados, atl levado por ces, por feras ou aves que os devoraram 40.

    ' Porque me desafiaste. aqui esto os dardos que, como archeiro,!. te atiro direitos ao cora.o. E no conseguirs fug' dor queho-de causar-te. (Ao moo que o guia.] Leva-me para casa,filho, e 'que este descarregue a sua clera contra gente maisjovem; e que aprenda a usar da lngua com 'mais acerto e a

    ' pensar rnelhor do que pensa agora.

    CREONTE - Recuso-me a responder, com injrias, ao. adivinho.

    TIRSIAS - Mas usas delas, quando dizes que no certoquanto vaticino.

    CREONTE - Toda a classe de adivinhos vida dedinheiro.

    . TIRSIAS - E classe dos tira:nos agradam as nquezasmal ganhas.

    CREONTE - No reparas que o que dizes o dizes aosteus chefes?

    '; CREONTE - Sagaz adivinho s tu, mas agrada-te a m-justia.

    (Tirsias e o l11OO saem de cena.)TlRESIAS - Sim, reparo; e mais reparo que, se mantns a

    salvo a cidade, a mim mo deves.

    CORIFEU -- Partiu, enfim, senhor, deixando-nos terrveisY vaticnios. E sabemos _ rlpc:.r!p n"n ~,"j __

  • se tornaram brancos - que sempre as suas predies saramcertas.

    CREONTE - Sei-o bem e, por isso, o meu esprito vacila. terrvel ceder; mas terrvel, tambm, resistir teimosamente,concitando um castigo enviado pelos deuses.

    CORIFEU - Convm que raciocines com cuidado, Whode Meneceu.

    CREONTE - Mas que hei-de eu fazer? Fala, porque estoudisposto a obedecer~te.

    !CORIFEU - Seja assim: retira Antgona da sua morada

    subterrnea, e d sepultura ao morto que jaz a'bandonado.

    CREONTE - f: ISSO que aconselhas? Segundo pensas,devo, ento, ceder?

    CORIFEU - E o mais depressa possvel, senhor! Aos queteimam em pensamentos errados, cortam-lhes o caminho osrnades que, velozes, os deuses lhes enviam.

    CREONTE - Ai de mim! ~ com sacrifcio que sou foradoa mudar de ideias sobre o que dispus. No h maneira de lutarcontra o destino.

    CORIFEU - Vai, pois, e f-lo tu prprio; no confies a,ningum essa tarefa.

    CREONTE - Sim, vou, e imediatamentel Vamos, venhamservos, os que esto aqui e outros maisl Muni-vos, rpidos, de ,'"ps e picaretas, e subi quele lugar que se v l em cima. ,c

    'Quanto a mim, j que mudei de opinio, quero ser eu prprioa desatar o n que atei. Pois considero, neste momento, que o 'melhor no passar toda a vida na observncia das lei:j cons-titudas, '

    44

    L0RO - O deus de mItiplas invocaes H, orgulho detua esposa Cadmea 42, filho de Zeus tonitruante; tu, que circun-das a Itlia de vinhedos e reinas nas encostas de Demeter Eleu-sim iB'; deus Ba:co, que habitas Tebas, a oidade-me dasbacantes, situada junto da corrente hmida do Ismene, sobrea sementeira do feroz drago H. A ti, te viu o fumo, radiantecomo um relmpago, sobre a rocha de dois cumes H, por ondepasseiam as ninfas carcias 46, tuas bacantes; e tambm te viua fonte de Castla 41. Oferecem-se as lombas cobertas de herae os cumes cercados de v'inhedo dos montes de Nisa 48, quandovisitas as ruas de Tebas, cidade que mais amas entre todas;tu e Srnels, tua me ferida por uin raio. E, agora, que todaa cidade foi atingida por uma grande desgraa, acode-lhe, atra-vessa-a com o teu p que puri'fca tudo quanto pisa; vem pelaencosta do Parnaso ou pelo Euripo iU, o ,rurnorejante estreito.O tu, que diuges a dana dos astros que sopram fogo I O tu,senhor, que presides aos nocturnos clamores! O tu, filho de Zeus;vem, agora, com a tua comitiva de tiadas 50, que, em tornode ti, danam, enlouquecidas, toda a noite, chamando-telaco 61, o Prdigo.

    MENSAGEIRO - Vizinhos do palcio que Cadmo e An-fisso 52 fundaram, jamais direi que este ou aquele homem,durante a sua vida, no seja digno de louvor ou censura; no possvel, porque o acaso, sem pausa, tanto levanta comoafurida o afortunado ou o desafortunado. Nada se pode prever,porque nada definitivo para os mortais. Por exemplo, pareciaque Creonte era digno de inveja, por ter salvo dos seus inimigosesta terra de Cadmo. E, chamando sobre si todo o poder, seimpunha cidade, e florescia na nobre senda dos seus filhos.De tudo isto, porm, j nada resta, pois, se um homem teimaem renunciar ao que era a sua alegra, no o considero j nonmero dos vivos, antes o julgo um morto vivo. Acrescenteele os seus bens, e tente viver com a dignidade de um rei: fal-tando ..lhe a alegria, o mais no o compraria eu, nem pelo preode uma nuvem de fumo, pois a feJ,icidade estava ausente.

    (Abre-se a porta do palcio e, sem que os presentes onotem, aparece Eurdice, mulher de Creonte, acom-panhada das suas servas.)

    45

  • CORIFEU - Quem matou e quem so os mortos?

    deusa Palas 58. Precisamente, ao abrir o fecho da porta, che-gou-me ao ouvido o rumor de um mal que caiu sobre a nossacasa. DesmaJiei nos braos das mi!l.1hasescravas e, por momentos,f,jquei inconsciente. Seja qual for a notcia, repeti-a, pois estouj bem experimentada pelo infortnio e saberei ouvi-la.

    ._. :>._- k_CORIFEU - Que infortnio dos reis esse que vens anun-ciar-nos?

    MENSAGEIRO - Morreram. E os responsveis pelas suasmortes so os vivos.

    AJ::

    MENSAGEIRO - Presenciei os factos, respeitvel senhora,i e no omitire,i pormenor do su'Cedido. De que servir rodear averdade, se, com isso, posso ficar ,por mentiroso? A verdade sempre o mais recto caminho. A'companhei teu marido at aocimo do planalto, aonde estavam, ainda, abandonados sem pie-dade, os destroos, deixados pelos ces, do 'cadver de Polinices.,Dirigimos uma splica deusa dos caminhos 54 e a Pluto 55,para que nos fossem propcios, e contivessem as suas iras; tom-.rnos um banho purificador, juntmos ramos de oliveira, e,pegando-lhes fogo, queimmos o que restava do cadver, dei-tando, depois, terra sobre os restos do morto, at 'Conseguiruma alta sepultura. Dirigimo-nos, ento, para o lugar onde a

    i rapariga tem o seu tlamo nupcial, 1eito de pedra e cova"de Hades.

    ~' Algum que ouvira, desde longe, vozes, agudos lamentos,. em tomo do tmulo a que faltaram honras fnebres, veio junto"do nosso amo Creonte, chamando-lhe a ateno para aquilo.''Creonte, conforme se aproxima, mais ntido lhe chega aos ouvi- ,

    ' dos o rumor dos queixumes. Com voz gemebunda, Creonte diz,. .' '. usando leut? entra sot~o,; Ai de mim. desgraado! Como poderiaMENSA GEIR O - ASSIm sucedeu, e podei' Ir pe . adlVlllha< IRI coisa? PelTorro, agora, o mais doloroso carrullho

    quantos percorri na vida. de meu filho esta voz que ouo!, servidores! Correi, velozes, para junto do tmulo; des-

    uma das pedras, abri-lhe uma entrada, metei-vos dentro,verifiocai se a voz que escuto a de meu filho Hmon, ou se,trata de um engano, forjado pelos deuses.

    E ns, cumprindo o que o nosso desalentado chefe nosa, olhmos para o interior da caverna e vimo-la, a ela,a pelo pescoo, estrangulada por um lao feito com

    seu lfino vu; enquanto ele, a seu lado, abraando-a pela cin-, chorava, no s a perda da noiva, agora morta, mas tam-o crime do pai e o desgraado amor. Quando Creonte oso 'dilacerantes as suas queixas. Vai junto do Who e

    com dolorosos lamentos: Que fizeste, infeliz? Queagma? Q~e desgraa te privouda razo? Sai da, meu

    MENSAGEIRO - Hmon morreu, e, com as suas prpriasmos, derramou o seu sangue.

    CORIFEU - Pela mo de seu pai ou pela sua prpria mo?

    MENSAGEIRO - Por SUas prprias mos, como desespe-rado protesto 'contra o crime peI1petrado por seu pai.

    (Eurdice e as servas desaporecem pela porta do palcio.)

    CORIFEU -O adivinho, quo certas foram as tuaspalavras I

    no outro.

    ,(Depois.de breve pausa, reaparece Eurdice que desce,.alguns degraus da escadaria, para melhor ouvir omensageiro. )

    CORIFEU - Estou a ver a infeHz Eurdice, a sair docio, talvez para mostrar a sua dor pela morte do filho,mero acaso,

    EURIDICE - Cidados, voaram at mim algumas dvossas' palavras, quando me dispunha a ir suplicar a ajuda

  • filhol Rogo-te, suplico-te. Hrnon olha-o, ento, de cima abaixo, cospe-lhe no rosto; e, sem nada responder, tira da bainha]a espada de dois gumes. O pai, de um salto, evita o golpe.Falhando, o desgraado volta-se, iroso, contra si prprio: incli."na-se sobre a espada, fazendo que ela se enterre no corpo, atmeio. Consciente ainda, mas j sem foras nos braos, enlaalt:a jovem e, sobre a branca face dela, lana uma golfadasangue. Ali ificaram, cadver ao lado de cadver, celebrando,finalmente, a boda - mas no Hades. Isto uma lio para os.mortais: para que vejam at que ponto o pior ma-l do homem a irreflexo.

    (Sem proferir palavra, Eurfdce sobe as escadas e entrano palcio.)

    CORIFEU - Tinhas necessidade de contar tudo com taispormenores? A rainha saiu daqui sem dizer palavra, nembem nem para mal.

    r

    MENSAGEIRO - Eu tambm estranhei o facto, mas tenhaesperana que procure apenas no chorar em pblico, depoisde ouvir o triste fim de seu filho. Na intimidade da casa, man-dar que as escravas preparem o luto. No lhe falta juizo e nadafar mal feito.

    OORIF'EU - No sei. Tamanho silncio no anunciade bom, tanto corno uma v gritaria.

    MENSAGEIRO - Sim. Vamos! Entrando, logo saberemqse ela esconde, no corao animoso, algum fatal desgnio;tens razo: em tal silncio, adivinho algo de funesto.

    (Entra no palcio. Momentos depois, surge emCreonie, acompanhado do squito,trazendo,brt;los, o cadver do filho. Tem o rosto despelo sojrimento.]

    48

    CORIFEU - Eis que chega o rei, traze

  • ;MENSAGEIRO - Ela feriu-se com afiado gume, senradaao p do altar domstico, deixando que a escurido da mo~tedescesse sobre os seus olhos, depois de chorar a morte de Mee-ceu 56, ocorrida h tempo, e a de Hmon, e de implorar topaa sorte de ill'fortlnios para o matador de seus filhos. 1

    eREONTE - Ai!, ai! Ai!, ai!,que me sinto tomado aepavor! Venha algum ferir-me no peito, com uma espada illedois gumes. Que miservel' sou e de 'quanta desgraa participh]

    - MENSAGEIRO - Segundo esta morta que aqui vs, o eJpado de urna e outra morte s s tu. (Os escravos leo am. Creonte, profunda'mente abatido. Ficas em cena o coro.)

    ,."'" ="Iiii'."" ....,_'"m~.:l:_.",'""=~"""~-"~ -_~ ...~~Ml!Kt~1dt~~~

    CORIFEU - V com teus prprios olhos. No ii segredoo que se passou. I

    CREONTE - Ai de mim, infortunado, j nova desgrJavem juntar-se s mais. E porqu? Que destino me esperr?Sustenho nos braos o corpo morto de meu filho e j, ante mim,se 'aipresenta outro cadver. Ai, lamentvel sorte, ai!, a da mee a do ~ilho! I

    I

    CORIFEU - Tudo vir na hora prpria. Agora, convmencarar o presente com 'Coragem, Do futuro, que cuidem os quedele ho-de c~dar.

    CREONTE - Na minha splica est quanto desejo.

    CORIFEU - No este o momento para splicas. Noh homem que possa fugir ao destino que lhe foi marcado,

    eREONTE - (Aos seruos.} V, levai daqui este nscio!(Aponta para si. Depo, voltando-se para os dois cadveres.)Filho 'querido, que sem querer matei; e a ti, tambm, esposa!Que miservel sou! '" No sei sobre qual dos dois me inclinarei.TUdo em que ponho mo, resulta em mal; e sobre a minhacabea desabou um destino cruel que ningum pode alterar.

    CREONTE - E ela, de que modo se matou?

    CORIFEU - A prudncia , em muito, a base da felici-dade. E, no que devido aos deuses, no se pode C'll1eterqualquer deslize, No! As palavras de altivez, ditadas peloorgulho, acarretam, para os orgulhosos, os mais rudes golpes.

    os anos se aprende a ser prudente.

    MENSAGEIRO - Golpeando o peito com sua prpria mo,ao inteirar-se do lamentvel infortnio do filho. i

    eREONTE - Ail Ai de mim! A culpa de tudo, s a.cabe e a mais ningum .... Sim, fui a 'Causa da morteinfeliz. Digo a verdade! Levai-me, servidores, o maispossvel; tirai-me da:qui, a mim, que j nada sou.

    t;()

    OORIFEU - Isso que pedes te aproveitar, se podealgo de proveitoso entre tantas Idesgraas. Os males queum ter de enfrentar, quanto mais cedo vierem, melhor

    CREONTE - Que venha, que venha, que surja,os meus dias, o ltimo: o que me levar ao derradeiroQue venha! Que venha!, e j no veja eu um novo dia!

  • II'IStiI:,l;nl.

    I~c

    ) Morto Etocles em combate, recebeu Creonte, no prprio campoda luta, o c~mando do exrcito. Assim, estratega significa chefemlitar.

    " Etoales e PaI inices , os prelimina,res do tema da Antigona.foram tratados por squilo na sua obra Os sete contra Tebas.

    ' Um orculo profetizava a Edipo que havia de matar o paie desposlJr a me. Ao descobrir o que havia feito, des8sper3Jdo. cega-se.

    ' J ocasta suicidou-se, ao descobrir que o estrangeiro que deci-frara o enigma da esfinge de Tebas e, por morte de Laia, lhe foradado como esposo, era, no fim de contas, o matador do prprio Laiae filho de 'ambos (ver Rei dipo).

    , A submisso da ill,U'lher ao homem , em S6focles, um temaconstante. Aqui, a atitud de Ismeno, ao' aceitar, corno inbalvel,a deciso dos chefes, traduz bem essa submisso. .

    o Trata-se de uma fO!1Jte existente dentro de uma gruta, ao pda acrpole de Tebas. As suas guas representam Tebas,

    1 Polinices -tomou como mulher uma das filhas de Adrasto, reide Argos, ao qual convenceu a vir atacar Tebas,

    8 Os Tebanos consideravam_s'e filhos da serpenteJ>, nascidos dasementeira de dentes deste animal, reaJizada antigamente por Cadma.Note-se, porm, que a se.fpente surge, aqui, trazida pela referncia gua, sabendo-se que os dois an irna.s , a ave e o rptl , so figadaisinimigos,

    Tnta!lo, filho de Zeus, q'ue fora outrora um ,deus destacadoentre os mais, cita-se aqui como exemplo,de arrogncia, comparando-oa Polinices, pois foi 'Por arrogncia que Tntalo sofreu o conhecidosuplcio, no qual, metido na gua at ao pescoo, q'uase morto desede, e pos-to sombra de urna rvore frutal, padece fome, pois,quando tenta tocar-lhes com a boca, tanto as guas como os frutosa!astam-se dele.

    10 Etocles e Polinices, filhos de dipo e Jocasta, mataram-seum ao outro, em combate singular.

    11 Aqui se d a Antgona um carter viril. decidi:do, indivi-dualista.

    )2 Cadmeus so os descendentes de Cadmo, o lendrio primeirorei de Tebas o semeador dos dentes da serpente, dos quais, segundose acrediJtava, provm os Tebanos.

  • li O tom duro de Creonte e a srua deciso relativamente a Poli-nices assemelham-se s falas de Menelau e de Agammnon, em Ajax .

    14 Arrtgona tara prometida a HmO'J1, filho de Creonte, que,pa:ra poder casar-se com outra mu'lher, fa:Hou . 'PrOlI1eSSa , embora jestivesse aprazada a boda, facto a que Ismene se referir mais adiante.

    " Os manuscritos atribuem esta exclamao a Ismene; porm,alguns editores, como Jebb, indicam-na como proferida por Antigona.j-ulgamos mais plausvel que seja ela a defender o noivo, fi.lho do rei.

    1. Famflia .real de Tebas, descendente de Lbdaco, pai de Laia.1T Significa, como ainda hoje, caminhar sobre brasas; isto ,

    avenburar-se a difkeis e arrtscadasempresas.18 Para urn rgrego , a cidade so os cidados 'e, como uma nave,

    no se aventurada ao mar sem tripulao. Vazias ou desertas, nema cidade nem a nave serviriam para alguma coisa. Assim, se tornariaridcula a posio de quem, numa ou noutra, se considerasse chefe.

    18 Hmon refere-se sua prpria morte, mas Creonte pensa que dele.

    2. Os deuses castigavam quem causasse a morte de algum.Assim, no comeo do Rei dipo, grassava em Tebas uma grande pestepor o assassino -de Laio no ,ter sofrido o casHgo devido.

    21 Eras, Hlho de Arodite, queartira setas aos coraes' de deusese h=eTIS, para os enamorar.

    2~ O coro, que primeiro invoca' Eras, termina, dirigindo-se aMrodite, me de Eros, a deusa do amor.

    21 Aqueronte o rio qrue separa os vivos dos mortos. 'Nobe, filha de Tnta'lo e mulh-er de Anfon , rei de Tebas,

    vangloriou-se, peramte a deusa Latona, de ter muitos filhos. Ento,os filhos daquela deusa, ApoIo e r temis, ofiwtaram todos os filhos deNobe, ql\le, pela dor sofrida, se rnetarnorfoseou em pedra. da qualbrotou uma forrte: as lgrimas da pobre me.

    " O corieu sincero ao referir-se hroicidade de Antgona;mas esta, no seu abatmento, pensa que ele troa.

    21 A atitude de Creonte , pode dizer-se, formalista: mata AnH-gana sem derramarnerrto de sangue, para que, no havendo sangue,no seja exigida expiao.

    ., Persona, mulher de Hades, rainha dos Infernos.28 A btima filha , porque Ismene no conta, dada a Iraglhdade

    do seu carcter. O coro invoca. as trs famosas personagens reais que no con-

    seguiram fugir ao desrtino. Ean pr1meiro .lugar, Driae, q'ue o pai meteunuma priso, fechada 'Com portas de bronze, que no impediram, con-tudo, a visita de Zeus,

    ao A irmrtab ilidade do destino era crena segura dos Gregos.31 O filho de Drrante, Licurgo, sobre o qual Esquilo escreveu

    urna trilogia, hoje perdida, cujo tema. o do rei que se ope divin-dade e castigado por 'ela.

    Rochas negras, enbraxla do B6sfoTO.

    11 Cidade sibuada a nordeste do Bsoro. O terceiro personagem a madrasta dos filhos de F'Inio e Cle6patra, que que cegou os enteados.Cle6pwtra foi vtirrna, depois de morta, de uma maldio. A relaoentre estes factos e o caso de Antigona no se compreende bem.

    I< Gle6patra era filha de Orfia , filha, por sua vez, de Erecteu.

    } Parcas, ou Moirai, eram as divindades que fiavam o destino" 'dos homens.

    lO O conhecer a vorutade dos deuses, atravs do movimento dasaves (os cha:ma:dos (causpici05U), era crena, entre os Gregos cama,depois, entre os Romanos.

    91 Outro processo de adivinhar, consistia em queimar, comosacrificio aos deuses, carne de animais, observando a forma das chamas.

    Hefesto , deus do fogo, significa, aqui, o prprio fogo.lU As Ernias erarn divindades do Hades (isto , do Inferno),

    enC31rregadas de punir os crimes de sangue ou outros que afectassem,; a ordem estabelecida pelos deuses.

    .0 Daqui, ressal-ta a aluso ao fado de, no s Polinices, mas osS1mS aliados,' ficarem insepubtos. Foi esta a causa da Guerra dos Ep-gonos. que descendiam desses mortos.

    U Trata-se de Dioniso, considerado patrono de Tebas, o de maisde sessenta invocaes. A hera e o vinhedo so atributos deste deus.

    Smele, fi'lha de Cadrno, era amada 'por Zeus, tendo pedidoa este que Ihe aparecesse com todo o seu 'poder. Ento, Zeus enviou

    ,. raios etroves ql\le fulrninaram Smele, mas salvou-1he filho Dioniso." Dioniso era venerado em Elusis, ao lado de Demter, com o

    nome de laca. Ver nota 8.


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