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7/24/2019 ADI 4650 - Defesa Formal Da AGU Do Ato Inconstitucional
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AO DIRETA E INCONSTITUCIONALIDADE N 4650
Requerente: Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil
Requeridos: Congresso Nacional e Presidente da Repblica
Relator: Minis tro Luiz Fux
Eleitoral. Artigos 23
r
incisos I e ; 24; e 81
caput e r , da Lei n 9.504 97, e artigos 31; 38
inciso
;
e
39 caput
e 5 da Lei n 9.096/95.
Doaes
p r
pessoas jurdicas para campanhas
eleitorais e partidos polticos. Fixao de limites
para as doaes efetuadas p r pessoas fsicas e
para a utilizao de recursos prprios em
campanhas polticas. Preliminar. Impossibilidade
jurdica
de
parte dos pedidos veiculados na inicial e
parcial inadequao da via eleita. Mrito.
Inexistncia de afronta aos principios democrtico,
republicano, da igualdade e da proporcionalidade.
Os dispositivos impugnados atendem ao conceito
amplo de cidadania e de pluralismo poltico.
Manifestao pelo no conhecimento parcial da
ao direta
e
no mrito, pela improcedncia
do
pedido.
Egrgio Supremo Tribunal Federal
O Advogado-Geral da Unio tendo em vista o disposto no artigo
103 3 da Constituio da Repblica bem como na Lei
n
9.868/99 vem
respeitosamente manifestar-se quanto
presente ao direta de
inconstitucionalidade.
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I D O DIRET
Trata-se de ao direta de inconstitucionalidade com pedido de
liminar ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil
tendo por objeto os artigos 23
1
incisos I e II; 24; e 81 caput e 1 todos da
Lei n 9.504 de 30 de setembro de 1997 assim como os artigos 31; 38 inciso
III; e 39 caput e 5 da Lei n 9.096 de 19 de setembro de 1995.
Os dispositivos
d
Lei n 9.504/97 disciplinam a forma e os limites
de doaes a campanhas eleitorais por pessoas fsicas e jurdicas enquanto os
dispositivos da Lei n 9.096/95 disciplinam a forma e os limites para efetivao
de doaes a partidos polticos no Brasil. Eis o inteiro teor dos dispositivos
impugnados:
Lei n 9.504/97:
"Art.
23
Pessoas fsicas podero fazer doaes em dinheiro
ou
estimveis em dinheiro para campanhas eleitorais, obedecido ao
disposto nesta Lei.
O
As doaes e contribuies de que trata este artigo ficam
limitadas:
I - no caso de pessoa fsica, a dez por cento dos rendimentos brutos
auferidos no ano anterior eleio;
I
no caso em que o candidato utilize recursos prprios, ao valor
mximo
de
gastos estabelecido pelo seu partido, na forma desta Lei.
Art. 24. vedado, a partido e candidato, receber direta ou
indiretamente doao em dinheiro ou estimvel em dinheiro , inclusive
por meio
de
publicidade de qualquer espcie, procedente de:
I - entidade ou governo estrangeiro;
I rgo da administrao pblica direta e indireta ou fundao
mantida com recursos provenientes do Poder Pblico;
/11
- concessionrio
ou
permissionrio de servio pblico;
IV
-
entidade de direito privado que receba, na condio
de
beneficiria, contribuio compulsria em virtude de disposio
legal;
V - entidade de utilidade pblica;
VI
-
entidade de classe ou sindical;
AD
n 4650, Rei. Min. Luiz Fux
2
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VII
-
pessoa jurdica sem fins lucrativos que receba recursos do
exterior.
VIII - entidades beneficentes e religiosas;
IX
-
entidades esportivas;
X -
organizaes no-governamentais que recebam recursos pblicos;
XI - organizaes da sociedade civil de interesse pblico.
Pargrafo nico. No se incluem nas vedaes de que trata este
artigo as cooperativas cujos cooperados no sejam concessionrios
ou permissionrios de servios pblicos, desde que no estejam sendo
beneficiadas com recursos pblicos, observado o disposto no art. 81.
Art. 81. s doaes e contribuies de pessoas jurdicas para
campanhas eleitorais podero ser feitas a partir do registro dos
comits financeiros dos partidos ou coligaes.
1
0
s doaes e contribuies de que trata este artigo ficam
limitadas a dois por cento do faturamento bruto do ano anterior
eleio."
Lei n 9.096/95:
"Art. 31. vedado ao partido receber, direta ou indiretamente, sob
qualquer forma ou pretexto, contribuio ou auxlio pecunirio ou
estimvel em dinheiro, inclusive atravs de publicidade de qualquer
espcie, procedente de:
I
-
entidade ou governos estrangeiros;
II
-
autoridade ou rgos pblicos, ressalvadas as dotaes referidas
no art. 38;
III - autarquias, empresas pblicas ou concessionrias de servios
pblicos, sociedades de economia mista e fundaes institudas em
virtude de lei e para cujos recursos concorram rgos ou entidades
governamentais;
N - entidade de classe ou sindical.
Art.
38
O
Fundo Especial
de
Assistncia Financeira aos Partidos
Polticos (Fundo Partidrio) constitudo por:
)
III - doaes de pessoa fsica ou jurdica, efetuadas por intermdio de
depsitos bancrios diretamente na conta do Fundo Partidrio;
Art. 39. Ressalvado o disposto no art. 31 o partido poltico pode
receber doaes de pessoas fsicas e jurdicas para constituio de
seus fundos.
. ..
)
S Em ano eleitoral, os partidos polticos podero aplicar ou
distribuir pelas diversas eleies os recursos financeiros recebidos de
ADJ n 4650 ReI. Min. Luiz Fux
3
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pessoas fsicas e jurdicas, observando-se o disposto no
do
art.
23
no art. 24 e no
10
do art. 81 da Lei n 9.504, de
3
de setembro
de
1997,
e os critrios definidos pelos respectivos rgos de direo e
pelas normas estatutrias.
o
autor pretende que sejam declarados inconstitucionais os artigos
24 e 81,
caput
e
1, da Lei n 9.504/97, assim como os artigos 31; 38, inciso
lU; e 39,
caput
e
5, da Lei n 9.096/95, mas sem que haja reduo de seu
texto, pois a invalidade das disposies referidas decorreria, a seu ver, do
silncio do legislador ordinrio, que teria violado os princpios constitucionais
da igualdade
I
,
do Estado Democrtico de Direito
2
e da Repblica
3
,
ao deixar de
vedar a realizao de doaes a campanhas eleitorais e partidos polticos por
pessoas jurdicas.
Aduz, nesse sentido, que no se afiguraria ( .. )
constitucionalmente
admissvel a pennisso de doaes a campanhas eleitorais feitas, direta ou
indiretamente, por pessoas jurdicas ,
que, por serem
entidades artificiais ,
no se amoldariam ao conceito de cidado, carecendo, assim, de legitimidade
para participar do processo poltico-eleitoral (fls. 8/9 da petio inicial).
o
autor sustenta, ademais, que os limites e critrios fixados em lei
para as doaes de pessoas fsicas a partidos e campanhas eleitorais afrontariam
os postulados da isonomia material e da proporcionalidade, pois aumentariam a
I Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e
propriedade, nos termos seguintes: (.. .). (Grifou-se).
Art.
4
A soberania popular ser exercida pelo sufrgio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual
para todos, e nos termos da lei, mediante: ( .. ). (Grifou-se).
2 Art. 1 A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos:
)
Pargrafo nico. Todo o poder emana do povo, que o exerce p r meio de representantes eleitos ou diretamente,
nos termos desta
Con
stituio.
(Grifou-se).
3 Art. A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos: ( ..). (Grifou-se).
ADI n 4650, Rei. Min. Luiz Fux
4
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influncia poltica dos cidados mais ricos em detrimento da exercida pelos mais
pobres, o que seria incompatvel com o direito participao igualitria no
processo poltico.
Para o requerente, o limite estipulado para o valor das doaes
efetuadas por pessoas naturais no deveria corresponder a um percentual dos
rendimentos auferidos no ano anterior ao pleito eleitoral, mas sim ser fixado de
modo uniforme e
em patamar baixo o suficiente para no comprometer em
demasia a igualdade fl. 28 da petio inicial).
or
conseguinte, o autor postula a declarao da
inconstitucionalidade do artigo 23,
1
incisos I e 11 da Lei n 9.504/97, e do
artigo 39,
5, da Lei n 9.096/95, mas sem pronncia de nulidade imediata, eis
que isso provocaria, em seu entendimento, uma lacuna jurdica ameaadora
fl. 28 da petio inicial).
o requerente prope, aSSIm que sejam modulados os efeitos
temporais da deciso a ser proferida por esse Supremo Tribunal Federal,
autorizando-se que tais preceitos mantenham a eficcia por mais 24 meses
fls. 35/36 da petio inicial).
Alm disso, o autor insurge-se contra a disposio legal que permite
aos candidatos utilizar, em campanha eleitoral, recursos prprios at o valor
mximo de gastos estabelecido pelo seu partido artigo 23,
1 inciso 11 da Lei
n 9.504/97).
E, por ltimo, requer que o Congresso Nacional seja instado para:
editar legislao que estabelea 1) limite per capita uniforme para
doaes a campanha eleitoral ou a partido
por
pessoa natural, em
DI n
4650, Rei. Min. Luiz Fux
5
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patamar baixo o suficiente para no comprometer excessivamente a
igualdade nas eleies, bem como 2) limite, com as mesmas
caractersticas, para o uso
de
recursos prprios pelos candidatos
em
campanha eleitoral, no prazo de 18 (dezoito) meses, sob pena de
atribuir-se ao Tribunal Superior Eleitoral
-
TSE a competncia para
regular provisoriamente a questo fi. 36 da petio inicial).
Distribudo o feito, os autos foram conclusos ao Ministro Relator
Luiz Fux, que, nos termos do rito previsto pelo artigo 12 da Lei n 9.868/99,
solicitou informaes s autoridades requeridas, bem como determinou a oitiva
do Advogado-Geral da Unio e do Procurador-Geral da Repblica.
Em atendimento solicitao, a Presidenta da Repblica defendeu a
constitucionalidade das normas hostilizadas, sustentando, a propsito, que as
pessoas jurdicas no devem ser alijadas do processo poltico, uma vez que elas
nada mais so do que um segmento da sociedade e constituem a organizao
dos fatores de produo dessa mesma sociedade fi. das informaes
pres idenciais).
Segundo a Chefe do Poder Executivo federal,
a possibilidade de
pessoas jurdicas financiarem campanhas eleitorais por
si s no se configura
em critrio de desequihrio, respeitadas as disposies legais no que concerne
a limites mximos para os montantes dos aportes privados e qualidade do
financiador
fi. 3 das informaes presidenciais).
Por sua vez, a Cmara dos Deputados afirmou no haver
fundamento constitucional a amparar a pretenso do Conselho Federal da
OAB fi. 3 das informaes prestadas). Em seu entendimento, verbis:
A deciso sobre o formato do financiamento das campanhas
eleitorais no
um dado pronto e acabado contido na norma
constitucional, extravel pelo hermeneuta habilidoso.
uma deciso
poltica do Congresso Nacional. No h apenas uma deciso
DI n 4650, Rei. Min. Luiz Fux
6
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correta, mas alternativas diferentes, que devem ser cotejadas e
sopesadas
por
quem de direito: o Poder Legislativo. Pode-se at
argumentar que permitir doaes de grandes corporaes a
candidatos e partidos em campanha no boa poltica. Mas o fato
de existir
uma
poltica melhor no equivale a dizer que a atual
inconstitucional.
e
assim fosse, a vida poltica soobraria no direito
constitucional fl. 3 das infonnaes
da
Cmara dos Deputados;
grifou-se).
De modo semelhante, o Senado Federal sustentou a improcedncia
dos pedidos veiculados pelo requerente, pois no desejvel nem aceitvel que
o Poder Judicirio avance sobre ( .. ) atribuies tpicas do Poder Legislativo
(fl.
das informaes prestadas).
Na sequncia, Vieram os autos para manifestao do Advogado
Geral da Unio.
- PRELIMINAR: DA IMPOSSIBILIDADE JURDICA DE PARCELA
DOS PEDIDOS E
DA
PARCIAL INADEQUAO
DA
VIA ELEITA
o requerente formulou, na petio inicial da presente ao direta, os
seguintes pedidos:
e.l -
seja declarada a inconstitucionalidade parcial, sem reduo
de texto, do art.
24
da Lei 9.504/97,
na
parte em que autoriza, a
contrario
sensu, a doao por pessoas jurdicas a campanhas
eleitorais, bem como a inconstitucionalidade do Pargrafo nico do
mesmo dispositivo, e
do
art. 81, caput e
] do
referido diploma
legal;
e.2
-
seja declarada a inconstitucionalidade parcial, sem reduo de
texto,
do
art.
31
da
Lei n
9.096/95,
na
parte em que autoriza,
a
contrario
sensu, a realizao de doaes
por
pessoas jurdicas a
partidos polticos; e a inconstitucionalidade das expresses ou
pessoa jurdica ,
constante
no
art.
38,
inciso
llI,
da mesma lei, e
e
jurdicas ,
inserida
no
art. 39,
caput
e
5 do citado diploma legal;
e.3
-
seja declarada a inconstitucionalidade, sem pronncia
de
nulidade,
do
art.
23
r,
incisos I e
li, da
Lei 9.504/97, autorizando
se que tais preceitos mantenham a eficcia por mais 24 (vinte e
ADI n
4650, ReI. Min. Luiz Fux
7
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quatro) meses, a fim de se evitar a criao de uma
lacuna jurdica
ameaadora
na disciplina
do
limite s doaes de campanha
realizadas
p r
pessoas naturais e ao uso de recursos prprios pelos
candidatos nestas campanhas;
e.4 - seja declarada a inconstitucionalidade, sem pronncia de
nulidade, do art. 39
5, da Lei 9.096/95 - com exceo da expresso
'e jurdicas', contemplada no pedido 'e-2', supra - autorizando-se que
tal preceito mantenha a eficcia
p r
mais at 4 meses, a fim de se
evitar a criao de uma
lacuna jurdica ameaadora
na disciplina do
limite s doaes a partido poltico realizadas
p r
pessoas naturais;
e.5 - seja instado o Congresso Nacional a editar legislao que
estabelea
1)
limite per capita uniforme para doaes a campanha
eleitoral ou a partido por pessoa natural, em patamar baixo o
suficiente para no comprometer excessivamente a igualdade nas
eleies, bem como
2)
limite, com as mesmas caractersticas, para o
uso de recursos prprios pelos candidatos em campanha eleitoral,
no prazo de 18 (dezoito) meses, sob pena de atribuir-se ao Tribunal
Superior Eleitoral TSE a competncia para regular
provisoriamente a questo.
(fls. 35 e 36 da petio inicial; grifou
se).
Considerando-se a fundamentao exposta na exordial, constata-se
que o autor pretende, por meio dos pedidos formulados nos itens
e.
i
e
e.2
transcritos
aCIma
que esse Supremo Tribunal Federal declare a
inconstitucionalidade, sem reduo de texto, de dispositivos legais que probem
determinadas pessoas jurdicas (e outros rgos e entidades) de efetuar doaes
para partidos polticos e campanhas eleitorais. O autor supe que a eventual
procedncia desses pedidos teria o condo de vedar, por completo, a realizao
de doaes dessa espcie por toda e qualquer pessoa jurdica.
Dessa forma, o requerente insurge-se contra permisso normativa
decorrente da ausncia de vedao instituda pelo legislador - que, como regra,
no proibiu, de forma ampla e irrestrita, a realizao de doaes pelas pessoas
jurdicas -, o que significa dizer que a pretenso exposta pelo requerente
consiste em que esse Supremo Tribunal Federal profira provimento de carter
positivo no sentido de que
as
pessoas jurdicas em geral no mais podero
ADI n
4650,
ReI
Min Luiz Fux
8
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efetuar doaes eleitorais, ainda que ISSO no conste de qualquer disposio
normativa.
Ademais, relativamente ao pedido constante do item e.5 da
fl
36
da inicial, nota-se que, embora no tenha ajuizado ao direta de
inconstitucionalidade por omisso o requerente pretende que essa Suprema
Corte reconhea a existncia de mora legislativa por parte do Congresso
Nacional e determine que essa suposta omisso seja solucionada por meio da
veiculao de normas que apresentem um determinado e especfico contedo.
Entretanto, os pedidos em exame - quais sejam, os constantes dos
referidos itens e. i , e.2 e e.5 - no devem ser conhecidos, uma vez que
so i) juridicamente impossveis, por contrariarem o princpio da separao de
Poderes artigo da Carta poltica)4; e ii) inadequados para a via eleita, pois
no se coadunam com o objeto prprio
ao direta de inconstitucionalidade.
Acerca da incompatibilidade entre os pedidos referidos e o
princpio da separao dos Poderes, cumpre ressaltar que o autor pretende, em
verdade, que esse Supremo Tribunal Federal instaure nova disciplina sobre o
tema versado pelas normas atacadas, bem como imponha ao Poder Legislativo o
dever de alterar a legislao vigente.
Com efeito, no se verifica, no ordenamento jurdico brasileiro, a
existncia de mora legislativa acerca da definio de limites e critrios para a
realizao de doaes a paltidos polticos e campanhas eleitorais, os quais esto
adequadamente definidos pelos dispositivos questionados.
4 Art. 2 So poderes da Unio, independentes e harmnicos entre si o Legislalivo, o Execulvo e o Judicirio.
ADI n 4650,
ReI.
Min. Luiz Fux
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Sendo assim, descabida a pretenso do requerente no sentido de
que essa Corte Excelsa profira deciso de natureza positiva e determine a
edio, pelo Congresso Nacional, de leis contendo regras de contedo pr
definido sobre assunto
disciplinado por normas em vigor. Semelhante
determinao ultrapassaria os estreitos limites do controle concentrado de
constitucionalidade, pOIS
afrontaria a independncia constitucionalmente
conferida ao Poder Legislativo para o exerccio de sua funo precpua, em cujo
desempenho lhe compete optar, livremente, entre
as
vrias hipteses normativas
que se coadunem com a Carta Republicana. A propsito, confira-se o
entendimento de Lus Roberto BalToso
5
:
Respeitadas as regras constitucionais e dentro das possibilidades de
sentido dos princpios constitucionais, o Legislativo est livre para
fazer as escolhas que lhe paream melhores e mais consistentes com
os anseios
d
populao que o elegeu. O reconhecimento de que
juzes e tribunais podem atuar criativamente em determinadas
situaes no lhes d autorizao para se sobreporem ao legislador,
a menos que este tenha incorrido em inconstitucionalidade.
Com efeito, viola o contedo da separao de Poderes a atuao
jurisdicional que desrespeite deciso poltica adotada pelo Legislativo dentro
dos limites de sua discricionariedade, pois isso ultrapassa a anlise de
compatibilidade vertical com o Texto Constitucional. Nesse sentido, veja-se o
posicionamento adotado por essa Corte Suprema no julgamento da Ao Direta
de Inconstitucionalidade
n
3459,
in verbis:
CARNCIA DA AO
-
PROCESSO OBJETIVO
-
PEDIDO DE
DECLARAO E INCONSTITUCIONALIDADE
CONSEQNCIA
-
SURGIMENTO E NORMATIZAO. Uma vez
surgindo, como conseqncia do pedido formulado na ao direta
de inconstitucionalidade, normatizao estranha ao crivo da Casa
Legislativa, foroso concluir pela impossibilidade jurdica . ADI
n 3459, Relator: Ministro Marco Aurlio, rgo Julgador: Tribunal
5 BARROSO, Lus Roberto. Curso de Direito Constitucional contemporneo: os conceitos fundamentais e a
construo do novo modelo. 2
ed
So Paulo: Saraiva, 2010, p 393/394.
ADJ n 4650, Rei. Min. Luiz Fux
10
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Pleno, Julgamento em 24/08/2005, Publicao em 07/04/2006; grifou
se) .
Tem-se, portanto, que os pedidos apresentados pelo autor nos itens
e.] , e.2
e
e.5
da fi 36 da petio inicial so juridicamente impossveis, de
modo que a presente ao direta no dever ser conhecida em relao a eles.
Ademais, como visto, o requerente cumula, em um s processo,
pedidos de ao direta de inconstitucionalidade e de ao direta de
inconstitucionalidade por omisso.
Note-se que, apesar de ambos serem instrumentos de controle
abstrato de constitucionalidade, tratam-se de aes diversas que, conforme
enfatizado pelo Ministro Celso de Mello
6
,
possuem ( ... ) caractersticas
prprias, finalidades especficas e pressupostos especiais
que as distinguem,
claramente, uma da outra .
Baseado nas mltiplas distines existentes entre
ambas, esse Supremo Tribunal Federal decidiu pela impossibilidade de
converso de uma ao em outra, deixando, inclusive, de conhecer de ao
direta de inconstitucionalidade em que se veiculava tpica alegao de
inconstitucionalidade por omisso. Confira-se:
IMPOSSIBILIDADE
DE
CONVERSO DA
O
DIRETA
DE
INCONSTITUCIONALIDADE, POR VIOLAO POSITIVA DA
CONSTITUIO, EM O DE INCONSTITUCIONALIDADE
POR OMISSO (VIOLAO NEGATIVA DA CONSTITUIO).
-
A
jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal, fundada nas mltiplas
distines que se registram entre o controle abstrato por ao e a
fiscalizao concentrada por omisso, firmou-se no sentido e no
considerar admissvel a possibilidade e converso da ao direta de
inconstitucionalidade , por violao positiva da Constituio, em
ao e inconstitucionalidade por omisso, decorrente da violao
negativa do texto constitucional.
(ADI-MC n 1439, Relator:
6
Excerto do voto proferido pelo Ministro Relator Celso de Mello nos autos da ADI-MC n 1439, rgo
Julgador: Tribunal Pleno, Julgamento em 22/05/1996, Publicao em 30/05/2003.
DI n 4650, ReI. Min. Luiz Fux
-
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Ministro Celso de Mello, rgo Julgador: Tribunal Pleno,
Julgamento em 22/05/1996, Publicao em
30/0512003 .
Assim, se as especificidades que diferenciam referidas aes
impedem a converso de uma em outra, conclui-se, com maior razo, pela
inviabilidade da cumulao de ambas em um mesmo processo. Veja-se, nesse
sentido, o entendimento do Ministro Marco Aurlio
:
( ) h incompatibilidade manifesta de formular-se na mesma pea
concernente a ao direta de inconstitucionalidade e de
inconstitucionalidade por omisso.
Desse modo, ainda que a lacuna legislativa suposta pelo requerente
venha a se formar a partir de eventual procedncia dos demais pedidos por ele
veiculados na presente ao direta - o que se admite por mera hiptese - no se
afigura vivel o exame do pleito de declarao de inconstitucionalidade por
omisso, constante do referido item
e.5 .
Admitir essa hiptese corresponderia
a permitir que essa Suprema Corte declarasse a invalidade de determinado
diploma normativo e, ato contnuo, reconhecesse a existncia de mora legislativa
sobre a matria que, at ento, era regularmente disciplinada por ele.
Desse modo, resta evidenciado o descabimento dos pedidos
apresentados pelo requerente nos itens e.
i ,
e.2 e e.5 da fi 36 da petio
inicial, o que impe, relativamente a esses pleitos, o no conhecimento da ao
direta.
7
Excerto do voto proferido pelo Ministro Marco Aurlio nos autos da ADI-MC n 1600, Relator : Ministro
Sydney Sanches, rgo Julgador: Tribunal Pleno, Julgamento em 27/08/1997, Publicao em 06/02/1998.
DI n 4650, Rei. Min. Luiz Fux
12
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I
-MRITO
Conforme relatado, o requerente insurge-se contra a prevlsao
normativa que permite doaes financeiras a partidos e
campanhas
eleitorais por
pessoas jurdicas,
bem
como
as definies legais referentes aos limites impostos
s pessoas fsicas quanto a
doaes em
favor dos partidos polticos e
campanhas
eleitorais. O autor impugna, tambm, norma que permite aos candidatos a
utilizao de recursos prprios
em campanhas
at o valor mximo de gastos
estabelecido por seu prprio partido, ao
argumento
de que tais previses
contidas nas Leis nOs 9.504/97 e 9.096/95 ofenderiam os princpios
constitucionais da igualdades, da democracia
9
, da Repblica 10 e da
proporcionalidade.
A suposta impossibilidade de pessoas jurdicas realizarem doaes
financeiras a partidos e
campanhas
eleitorais atrela-se, em primeiro plano,
anlise de conceitos doutrinrios e jurisprudenciais de cidadania e assenta-se, na
viso do autor, no argumento de que tais pessoas no so cidads (fi. 4 da
petio inicial) e, por essa razo, no
podem
ter pretenso legtima de
exercer
influncia no processo poltico-eleitoral.
x
'Ar/.
5
Todos
SflO
iguais perante a
lei,
sem diSlino
de
qualquer
nalure:::o.
garanlindo-se aos
hrc/SIleil Os
e
aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igllaldade. segurana e
propriedade, nos termos seguintes. .. -
grifou-se
Al'I.
I J
A
soberania popular ser exercida pelo sllfrgio unl'ersal e pelo voto direto e secreto. com valor igual
para todos. e nos termos da lei, mediante.
-
grifou-se
i Al'I.
I
A
Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissol el dos Estados e Mllnicpios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como jitndamentos :
)
Pargrafo nico. Todo o poder emana do povo. que o exerce por meio
de
repre,en/on/es eleitos 0 1 direto/llenle.
nos termos desta Constituio.' - grifou-se
lO
Al'I. A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolrel dos Estados e /'vl/lnicpios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico
de
Direito e tem como fundamentos:
-
grifou-se
AD n
4650, Rei.
/ v/in.
Luiz Fux
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A cidadania, enquanto fundamento da Repblica Federativa
do
Brasil \, pode ser entendida em sentido amplo (cidadania lato sensu e em
sentido estrito (cidadania stricto sensu . Interessa aqui, entretanto, a ideia ampla
de
cidadania e a anlise
da
possibilidade
de
a pessoa jurdica integrar o processo
poltico-eleitoral por meio de contribuies financeiras.
Na atualidade, o conceito
de
cidadania excede em muito o mero ato
de
votar, devendo ser considerado cidado toda pessoa fsica ou jurdica sujeita
aos efeitos das polticas pblicas governamentais. Nessa linha, o destinatrio
direto
ou
indireto das decises
de
governo detm legitimidade natural para
integrar, de diferentes formas, o processo
de
escolha dos governantes.
Essa concepo relaciona-se ideia de participao exposta por
Rousseau, para quem o cidado a fonte e a destinao da lei, devendo sempre
existir uma relao
de
intimidade e interdependncia entre governantes c
governados\2. Nesse contexto, no se pode afastar que
as
pessoas jurdicas,
assim como
as
pessoas naturais, esto subordinadas
s
polticas
de
governo, que
se
traduzem, em ltima instncia,
na
produo e aplicao concreta
de
atos pelo
Estado.
Diante
do cenrio constitucional vigente, percebe-se que as pessoas
jurdicas no participam do processo poltico por meio do voto, mas no
Conforme artigo 1 inciso lI, da Constituio Federal de 1988.
12 Esclarea-se que
as
idias
de
Rousseau sobre a cidadania esto espalhadas por suas obras, no tendo, ele
prprio, distinguido uma, em especial, que trata
ss
e diretamente do tema. Embora o
Emlio
e o
Contrato Social
sejam fundamentais para essa qu esto , o cerne de seu pensamento a respeito da cidadania parece encontrar-se no
Da Economia Poltica.
A
Df n
4650
ReI
Min.
Lui
Fax
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encontram bice no Texto Maior para atuar de forma participativa em algum
modelo
de
financiamento
de
campanhas polticas, atravs de doaes legalmente
contabilizadas, em obedincia
ao
princpio democrtico.
Essa linha de entendimento encontra consonncia com a legislao
em vigor em outros pases, valendo citar os Estados Unidos da Amrica, onde
possvel se efetivar doao a partido ou candidato por empresas, sindicatos e at
por organizaes no-governamentais. Em referido sistema legislativo, os
limites para doaes de pessoas fsicas e jurdicas so fixados em relao a
candidatos especficos, no a partidos 13.
o financiamento privado
de
campanhas e candidatos, por pessoas
jurdicas, igualmente admitido na Alemanha, Canad e Mxico
4
.
Cumpre frisar que a Constituio Federal de 1988 no traz um
modelo previamente estabelecido para o financiamento das campanhas
eleitorais. Em outras palavras: percebe-se, em face da Lei Maior, que os
modelos de financiamento no se encontram traados, de forma a atribuir
ao
legislador a escolha por um deles, mediante edio de lei especfica sobre a
matria.
1.1 Vide Lei
Shays-ivleehan,
proposta pelo democrata Marly Meehan de Massachusetts), e pelo republicano
Christopher Shays de Connecticut), aprovada em 2002 por 240 votos a 189,
na
Cmara
de
Representantes dos
EUA. Referida norma
foi
julgada conslilucional pela Suprema Corte dos Estados Unidos no final
de
2003,
no
caso MC Connell ersus Federal Eleclion Comission.
4 Como nos informa Fernando Trindade, em:
Financiamenlo Eleiloral e Pluralismo Pollico.
Coordenao
de
Esludos
da
Consultoria Legislativa do Senado Federal. Disponvel em
htl
p:
ijwww.senado.gov.
br
lsenado/con
le
g/texloS
di
scussao[ID4- Ferna ndo Trindade. pdf
A DI
n
4650. ReI Min Lui= FI/x
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Diante
das razes aqui expostas,
entende-se
que o financiamento
privado
das campanhas
eleitorais e dos partidos polticos , por
pessoas
jurdicas
,
compatvel com
a Constituio Federal ,
devendo ser julgado improcedente
o
pedido formulado pelo autor quanto ao tema.
Idntico raciocnio se aplica s disposies legais
que
preveem
limites para a utilizao de recursos prprios pelos
candidatos
e para as
doaes
feitas por pessoas naturais a campanhas e partidos artigo 23, 1, incisos I e 11
da
Lei n 9.504
/97).
De
fato, permitir que o
candidato
utilize
recursos prprios
para
financiar sua prpria
campanha
eleitoral homenageia os princpios da liberdade
de participao poltica, da cidadania e do pluralismo poltico, pelas
mesmas
razes
expostas
relativamente
permisso
legal de
doao
por
pessoas
jurdicas
.
Ademais
a fixao
de
percentual sobre os
rendimentos
auferidos no
ano anterior eleio
como critrio para limitar as
doaes
feitas por pessoas
fsicas a partidos e
campanhas
eleitorais no revela
qualquer
inconstitucionalidade por afronta aos
postulados
da
isonomia
e da
proporcionalidade.
Trata-se, na verdade de
opo
poltica
exercida
pelo
Poder
Legislativo no mbito de sua atuao discricionria, cuja deciso, por no
ser
incompatvel com
qualquer
disposio constitucional, no
pode
ser
simplesmente substituda pelo critrio sugerido pelo requerente. A mera
alegao do autor de que a fixao de
um
limite absoluto para as
doaes
constituiria uma
opo
poltica
melhor
do
que a
adotada
pelos dispositivos
atacados no implica a inconstitucionalidade destes, que, como dito, foram
A n a '650. ReI iv/in Lui:: FI x
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editados
pelo legislador dentro das possibilidades de sentido
dos
princpios
constitucionais que regem a matria.
A propsito, confira-se o seguinte excerto das informaes
prestadas pela Cmara dos
Deputados
in verbis:
No h apenas uma deciso correta, mas alternativas diferentes, que
devem ser cotejadas e sopesadas por quem
de
direito: o Poder
Legislativo. Pode-se at argumentar que permitir doaes
de
grandes
corporaes a candidatos e partidos em campanha no boa poltica.
Mas o fato
de
existir uma poltica melhor no equivale a dizer que a
atual inconstitucional.
fi. 3 das informaes prestadas
Idntico o
entendimento
de Lus Roberto Barrosol
5
acerca do
tema, conforme j referido anteriormente. Veja-se:
Respeitadas as regras constitucionais e dentro das possibilidades de
sentido dos princpios constitucionais,
o
Legislativo est livre para
fazer as escolhas que lhe paream melhores e mais consistentes com
os anseios da populao que o elegeu. O reconhecimento
de
que
juzes e tribunais podem atuar criativamente em determinadas
situaes no lhes d autorizao para se sobreporem ao legislador,
a menos que este tenha incorrido em inconstitucionalidade.
Destarte, no se vislumbra
qualquer
incompatibilidade entre os
dispositivos
impugnados
e a Constituio Federal de 1988.
1