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Açude Grande: Uma Análise Socioambiental do Seu Entorno
Suely de Oliveira Pinheiro Costa (UFCG) Bióloga, Mestre em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande.Docente
do Curso de Ciências da UFCG/CFP. [email protected]
Sinthya Pinheiro Costa (UFRN) Turismóloga, Mestranda em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Bolsista
CAPES. [email protected]
José Cesário de Almeida (UFCG) Biólogo, Doutor em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Pernambuco. Docente do
Curso de Enfermagem da UFCG/CFP. [email protected]
Samir Augusto Pinheiro Costa (UNIVASF) Zootecnista. Mestrando em Ciência Animal pela Universidade Federal do Vale do São Francisco.
Bolsista da [email protected]
Manoel Francisco Gomes Filho (UFCG) Meteorologista. Doutor em Recursos Naturais pela Universidade Federal da Paraíba. Docente do
curso de Pós-Graduação em Recursos Naturais (Orientador) Resumo
Com o intuito de analisar socioambientalmente o reservatório superficial urbano Açude Grande localizado na cidade de Cajazeiras/PB foi realizado este estudo. Entre seus objetivos destaca-se a análise ambiental através da percepção de seus usuários, detectando o nível de informação dos mesmos acerca dos impactos gerados pela ocupação e intervenção antrópica e seus reflexos na saúde humana, bem como identificando o de interesse dos mesmos em participar de ações para melhorar a qualidade ambiental da área. Desta forma, o estudo deu-se em duas etapas: a primeira etapa compreendeu o levantamento bibliográfico onde se buscou embasamento teórico para referenciar o tema. A segunda etapa, compreendendo o estudo de campo, foi desenvolvida com a aplicação de questionário junto aos usuários do reservatório superficial urbano Açude Grande seguida por caminhadas em seu entorno para o registro fotográfico utilizando as imagens para analisar ações que alteram a paisagem. Conclui-se, contudo, que alguns dos entrevistados não apresentam relações afetivas com a área, no que se refere à qualidade ambiental demonstrando desconhecer a importância do reservatório para o ambiente, em contrapartida, demonstraram um apreço por sua função paisagística. Alguns, colocaram que o Meio Ambiente é um lugar natural necessário a existência humana, mas que se encontra em situação de degradação causada pelo próprio homem. Ao mesmo tempo em que degrada, o homem é quem mais pode contribuir com a reconstrução daquilo que já apresenta modificações antrópicas. Palavras-chave: Análise Socioambiental; Cidadão local; Preservação Ambiental.
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1 Considerações Iniciais
Diante da proporção que vem tomando os problemas ambientais neste início de
século, alargando-se como tema central de discussões em vários foros por todo o mundo, este
estudo objetivou analisar socioambientalmente o entorno do açude superficial urbano Açude
Grande da cidade de Cajazeiras/PB sob a ótica dos cidadãos locais. Local de extrema importância
na história da cidade, este reservatório foi construído em terras que pertenciam a Casa Grande da
Fazenda, ponto de partida para a origem da mesma, e serviu para abastecê-la até 1964, quando
foi implantado um sistema de abastecimento. Hoje é principalmente utilizado como forma de lazer.
O município de Cajazeiras, localizado na região oeste do estado da Paraíba (PB) a
cerca de 665 Km da capital estadual, apresenta uma altitude de 298m em relação ao nível do mar
e temperaturas maiores que 22oC, com chuvas escassas no inverno. A região é também
conhecida como Polígono das Secas. Possui um dos maiores PIBs do Sertão Paraibano, e é
considerado como um polo regional no setor educacional, contando com vários cursos de
graduação oferecidos pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG bem como por
Faculdades particulares favorecendo o seu desenvolvimento, encontrando-se entre as cidades
que mais cresce no estado.
Esse crescimento meteórico preocupa-nos, especialmente em relação as questões
ambientais, visto que o crescimento cultural é acompanhado em nível igual de desenvolvimento
urbanístico, sendo que este último deve ser regido de forma sustentável evitando a elevação dos
índices de deterioração ambiental
Neste sentido, o Açude Grande, reservatório superficial urbano, vem sofrendo as
conseqüências de práticas indevidas de respeito à natureza, o que nos motivou a desenvolver um
estudo na perspectiva avaliativa, onde se poderá compreender a postura dos usuários diante de
seus contextos práticos e realidades específicas. Espera-se contribuir para a identificação e a
compreensão dos fatores que interferem na relação pessoas/ambiente, de modo a buscar
soluções viáveis a uma interação que respeite os princípios de equilíbrio dos recursos naturais.
O presente estudo tem como objetivos caracterizar a situação atual da área de
inserção do reservatório superficial urbano „Açude Grande‟, na cidade de Cajazeiras - PB, através
da análise ambiental, do levantamento da intervenção e ocupação antrópica, que podem
comprometer a qualidade do meio ambiente e analisar a percepção dos seus usuários acerca das
interações existentes com o mesmo no que concerne a educação ambiental.
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2 Referencial Teórico
2.1 O Meio Ambiente e a sua Relação com o Desenvolvimento Local
Sucessivas tecnologias permitiram ao homem habitar praticamente todos os recantos dos
cinco continentes, em quase todas as altitudes e latitudes, o que representa um incomparável feito
em termos biológicos (ALMEIDA; FONSECA, 2005). Entretanto um significado mais recente, a de
gestão do território, trata de levar em conta, num mesmo enfoque, os aspectos demográficos,
econômicos e espaciais, a fim de corrigir os excessos decorrentes das evoluções espontâneas
induzidas por processos acelerados e insuficientes controlados de crescimento econômico e de
urbanização (VIEIRA, 1997).
Todavia, no limiar do século XXI, diante de um quadro de marcantes desafios a serem
enfrentados, dos problemas não resolvidos, dos obstáculos criados pela própria ação do homem,
o papel da ciência é posto em evidência em todos os balanços e análises prospectivas
(BURSZTYN, 2001). Em 27 de abril de 1999, foi promulgada a Lei. Nº 9.795, que dispõe sobre a
Educação Ambiental, definida em seu art.1º como: “O conjunto de processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial a sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (REIS, 2008, p.223).
Para Romeiro (2004) a eficácia da educação ambiental, por sua vez, depende do
ambiente cultural em geral e, mais especificamente, da qualidade da informação científica e da
contabilidade dos impactos ambientais disponíveis para a população. Requer a formação de uma
consciência crítica sobre as formas de inserção das comunidades na globalização, afirmando seus
direitos culturais e definindo novas formas de aproveitamento sustentável de seus recursos.
A consciência ambiental se coloca como consciência de todo o gênero humano,
convocando todo indivíduo como sujeito moral para construir uma nova racionalidade social. O
homem moderno, em seu afã de controlar a natureza através da ciência e da tecnologia, ficou
preso por uma racionalidade e por processos que dominam sua vida, mas ultrapassam sua
capacidade de decisão e entendimento. Do equilíbrio entre esses três elementos – população,
recursos naturais e poluição – dependerá o nível de qualidade de vida no planeta (BRAGA, 2007).
A Lei Nº 6.938, de 31de agosto 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, enfatiza que poluição é definida como a degradação da qualidade ambiental resultante
de atividades que direta ou indiretamente:
a) Criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
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b) Afetem desfavoravelmente a biota;
c) Afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
d) Lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos.
Para fins práticos, em especial do ponto de vista legal de controle da poluição, e em
consonância com Braga (2007), acrescenta-se que o conceito de poluição deve ser associado às
alterações indesejáveis provocados pelas atividades e intervenções humanas no ambiente. O
monitoramento e a avaliação de impactos ambientais, bem como sua contabilização econômica,
são hoje uma exigência da sociedade para todos os setores de atividade econômica e em todos
os níveis de escala espacial (ROMEIRO, 2004).
Desta forma, a Resolução nº 001/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) considera Impacto Ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e
biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem:
a saúde, a segurança e o bem estar da população;
as atividades sociais e econômicas;
a biota;
as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e
a qualidade dos recursos ambientais.
. O processo de gestão ambiental inicia-se, na concepção de Philippi Jr. (2004)
quando se promovem adaptações ou modificações no ambiente natural, de forma a adequá-lo às
necessidades individuais ou coletivas, gerando dessa forma o ambiente urbano nas suas mais
diversas variedades de conformação e escala. Neste sentido Vieira (1997) faz um recorte
pertinente quando diz que a gestão de recursos deve estar, portanto, imbuída de uma visão
estratégica do desenvolvimento em longo prazo, que lhe confere um sentido para além dos usos
cotidianos. O conteúdo daquilo que denominamos recursos transforma-se historicamente e
depende tanto da evolução dos ambientes quanto da evolução das possibilidades técnicas, da
natureza, das necessidades sociais e das condições econômicas.
Para Leff (2001), a racionalidade ambiental incorpora assim as bases do equilíbrio
ecológico como norma do sistema econômico e condição de um desenvolvimento sustentável. Se
funda numa nova ética que se manifesta em comportamentos humanos em harmonia com a
natureza; estes se traduzem num conjunto de práticas sociais que transformam as estruturas do
poder associadas à ordem econômica estabelecida, mobilizando um potencial ambiental para a
construção de uma racionalidade social alternativa.
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Ainda fundamentando-nos em Leff (2001), os desafios do desenvolvimento sustentável
implicam a necessidade de formar capacidades para orientar um desenvolvimento fundado em
bases ecológicas, de eqüidade social, diversidade cultural e democracia participativa. Sob a
perspectiva ética, as mudanças nos valores e comportamento dos indivíduos se convertem em
condição fundamental para alcançar a sustentabilidade.
Como Boff (2004) propôs, o cuidado com a terra representa o global; o cuidado com o
próprio nicho ecológico, o local. O homem possui estas duas dimensões: nos pés, o chão, e na
cabeça, desafio. Para isso, precisa ressurgir o significado e a importância do meio ambiente, pois
somente a partir desta redescoberta, pode-se mudar a situação ambiental, fazendo do meio em
que se vive um lar onde a qualidade de vida é reconquistada pelo poder da consciência global.
Portanto, em consonância com Braga (2007) é possível dizer que se o modelo de
desenvolvimento da sociedade não for alterado, estaremos caminhando a passos largos para o
colapso do planeta, com perspectivas nefastas para a sobrevivência do homem. Para Philippi Jr.
(2004) a tomada de consciência e o ato de conhecer todas as questões que envolvem esta tão
estreita trama de variáveis que compõem a realidade das cidades é parte da solução do problema.
Isso significa dizer que o conhecer procede o agir.
De acordo com Ceballos et al (1999), o melhoramento do meio ambiente obedece a
diversos fatores, entre os quais os mais importantes são:
Evitar a contaminação de corpos de água superficiais devido ao derramamento
direto das águas residuárias em rios, lagos ou mares. Desta maneira, os problemas
de contaminação ambiental reduzem significativamente, podendo-se evitar o
esgotamento de oxigênio dissolvido e da eutrofização, entre outros;
Melhorar as áreas recreativas das cidades mediante a irrigação e a fertilização de
espaços verdes (parques, campos de esporte) e aumentar a atração visual,
conforme parques ecológicos em torno da cidade.
Tomando por base os conceitos acima apresentados coloca-se a área, objeto do
estudo, em consonância com o exposto visando um estudo detalhado das condições em que se
encontra este reservatório superficial urbano dentro de uma perspectiva ambiental e a postura
adotada da comunidade em detrimento aos procedimentos com relação à deterioração do mesmo.
2.2 Açude Grande: aspectos e impactos ambientais
Na história da cidade de Cajazeiras, o Açude Grande configurou-se como importante
fonte de recursos para a população, pois subsidiava os habitantes no que concerne a criação de
peixes, propiciando o sustento de famílias, bem como o banho e lazer de uma forma geral.
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Todavia, a história e o passar dos tempos não o foram benéficos. No decorrer dos anos, o
crescimento populacional e sua conseqüente urbanização passaram a exercer uma pressão
antrópica sobre este reservatório, fato que contribuiu substancialmente para alterar as condições
ecológicas deste recurso no que se refere a sua funcionalidade enquanto ecossistema,
comprometendo em muito a qualidade ambiental do reservatório com extensão aos que dele
usufruem, das mais variadas formas, visto que começou a ser utilizado como depósito de esgotos,
lavagem de automóveis e roupas, despejo de entulhos, móveis velhos e animais mortos
(ALMEIDA, 2005)
Suas águas possuem um alto teor de poluição, isto como conseqüência de dejetos dos
esgotos residenciais e conteúdos de fossas sépticas que são jogadas dentro de suas águas.
Entretanto mesmo em face do seu índice de poluição, percebemos que a comunidade mantém
estreita relação com este reservatório, visto que é largamente utilizado por usuários freqüentes e
eventuais para lazer, prática de exercícios físicos, em especial caminhadas, e ainda criação e
pesca de peixes para o sustento familiar.
Entre estas atividades, algumas favorecem atitudes que causam deterioração
ambiental, não existindo, pelo menos não é de nosso conhecimento, nenhum projeto que ora seja
desenvolvido com o intuito de oferecer orientações no sentido da preservação e manutenção do
equilíbrio ambiental, além das informações complementares sobre a prática correta das atividades
físicas e informações que culminem com a melhoria da qualidade da saúde e, consequentemente,
da qualidade de vida das pessoas.
Atualmente parte do entorno do açude é ornado por um calçadão que favorece a
prática de exercícios físicos e ponto de encontro das pessoas, caracterizando-se como ponto
turístico, regionalmente conhecido devido ao seu pôr-do-sol, dos mais visitados da cidade,
popularmente conhecido como “Leblon”. É possível afirmar que esta área expressa uma visão do
ontem e do hoje para a comunidade que se encontra inserida em todo o processo de mudança,
crescimento e valorização do aspecto urbanístico.
Embora seja a mais visitada área da cidade, este açude sofre com a poluição de suas
águas, bem como a população que dele usufrui, pois diante de uma área tão rica em
possibilidades, existe o contraste com o desequilíbrio ambiental. Recentemete este reservatório
passou por um processo de revitalização, entretanto sabemos que se não for acompanhado com
um responsável processo de gestão a área revitalizada não demora muito para voltar as formas
anteriores, processo que se enquadra nos princípios da qualidade, conhecido como a Trilogia de
Juran: criar, manter e melhorar (JURAN, 1988).
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3 Metodologia
A metodologia de um estudo é um dos primeiros passos a ser definido, através da qual
se escolhem técnicas, ferramentas e estratégias adequadas para que seja estabelecida a
sistemática de trabalho, respondendo as indagações iniciais, como corroboram Gondim e Lima
(2002). Desta forma, o estudo deu-se em duas etapas: a primeira etapa compreendeu o
levantamento bibliográfico onde se buscou embasamento teórico para referenciar o tema. A
segunda etapa, compreendendo o estudo de campo, foi desenvolvida com a aplicação de
questionário junto aos usuários do reservatório superficial urbano Açude Grande seguida por
caminhadas em seu entorno para o registro fotográfico utilizando as imagens para analisar ações
que alteram a paisagem.
Utilizamos como instrumentos para coleta de dados questionário e associação livre de
palavras, tendo como termos indutores: Açude Grande, Meio Ambiente e os registros fotográficos,
que nos revelaram um entorno onde predomina a ocupação por edificações e algumas áreas
desprovidas de mata ciliar.
Este estudo priorizou o meio ambiente como fonte de informação, respaldando-se na
legislação vigente acerca dos meios de utilização e exploração dos recursos que compreendem e
constituem o ambiente natural. Realizou-se uma pesquisa qualitativa, de abordagem descritiva,
orientada para compreensão de processos subjetivos, almejando alcançar os objetivos propostos,
se buscou espaços para a reflexão acerca da realidade vivida, tal como ela é definida, os
fenômenos que influenciam as interações e processos relativos às pessoas em sua vida cotidiana,
quanto ao nível de informação e a importância deste reservatório, de seu entorno e do meio
ambiente.
Nesse contexto, procurou-se entender à lógica interna, a retórica e as contradições a
fim de acessar a construção do pensamento lógico da comunidade para as questões que dizem
respeito as suas interações com o meio ambiente. Assim, caracterizou-se por ser do tipo
descritiva, o que de acordo com Lakatos e Marconi (1991, p. 187):
[...] consiste em uma investigação cuja principal finalidade é o delineamento ou análise das características de fatos ou fenômenos, buscando responder a questões particulares que não podem ser quantificadas, e trabalhando com o universo de significados, crenças, valores e atitudes.
Um passo importante no delineamento da pesquisa consiste na definição de quem vai
se pesquisar. Para tanto, é preciso extrair do todo uma parte com o propósito de avaliar o modelo.
Nesse levantamento por amostragem, a seleção dos elementos que são efetivamente
observados, é conduzida de tal forma que, os resultados da amostra permitam que sejam
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avaliadas as características de toda a população. Foi necessário, então, estabelecer como
critérios: ser morador do entorno do açude; ser transeunte ou caminhante do contorno ornado do
açude, e ser freqüentador da área de lazer Leblon
Utilizando-se destes critérios, a amostra foi constituída por 30 (trinta) usuários.
Durante o processo para responder ao questionário evitou-se ao máximo interferir nas respostas.
Todos os participantes foram convidados a assinar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, baseado nas Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas envolvendo seres
humanos aprovadas pelo Conselho Nacional de Saúde, Resolução 196/96. A fim de colher e
poder cruzar dados significativos, escolheram-se as seguintes técnicas: Associação Livre de
Palavras e Questionário, que foram aplicadas individualmente e de forma idêntica para todos os
participantes.
A análise da associação livre de palavras agrupou as palavras por ordem de
evocação. Estes foram identificados, analisados e comparados segundo a freqüência e a ordem
média de evocações, respaldados na Teoria do Núcleo Central (ABRIC, 2000; SÁ, 1996). Os
dados dos questionários foram agrupados em tabelas e analisados segundo as características
sociodemográficas. Para análise do material coletado nos questionários, utilizamos a técnica da
Análise Temática de Conteúdo (BARDIN, 1977), técnica esta de investigação que descreve
objetiva, sistemática e quantitativamente o conteúdo das comunicações, tendo por finalidade
interpretá-las (LIMA, 2001), pois "tudo que é dito ou escrito é susceptível de ser submetido à
Análise do Conteúdo”, como cita Bardin (1977, p. 31).
4 Discussão dos Resultados
Das pessoas que participaram do estudo, 76,7% eram mulheres, 54% tinham idade
entre 20 e 30 anos, 67% eram solteiras e 37% já haviam concluído pós-graduação. Esses dados
refletem a preocupação da população com as questões de saúde, principalmente mulheres e
jovens com maior escolaridade, na busca de evitar doenças preveníeis comuns atualmente.
O TALP revelou que as evocações que vieram compor o Núcleo Central das
Representações para o termo Meio Ambiente estão categorizadas como sendo as Políticas
Públicas, demonstrando ser o compromisso social assumido pelos gestores valioso para
manutenção do equilíbrio necessário entre meio ambiente e meio antrópico (QUADRO 1).
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OME<2,93 F>30
Políticas públicas (43) 2,88
OME>2,93 F>30
Responsabilidade ambiental (50) 3,3
OME<2,93 F<30
Natureza (26) 2,8
Degradação ambiental (23) 2,82
Não se aplica (8) 2,87
OME>2,93 F<30
QUADRO 1: Identificação dos possíveis elementos do núcleo central das representações a cerca do termo indutor Meio Ambiente Fonte: Próprio Autor/2009.
As respostas obtidas a partir do estímulo Açude Grande foram organizadas e
resultaram na composição do Núcleo Central, composto por duas categorias paradoxais: Turismo
e Lazer; e Degradação Ambiental. O aspecto social representado pela diversão que o açude
proporciona foi enfatizado, sendo esta a forma mais explorada pela sociedade local na atualidade.
Em contrapartida, a degradação ambiental ocupa o espaço do que deveria corresponder a um
processo de interação entre homem e natureza, permitindo assim um contato maior com esta
(QUADRO 2).
QUADRO 2: Identificação dos possíveis elementos do núcleo central das representações a cerca do termo indutor AÇUDE GRANDE. Fonte: Próprio Autor/2009
Dessa forma, o local turístico e de lazer é representado também como algo que se
encontra desgastado e degradado, sendo necessária a adoção de políticas públicas que
revitalizem a área. Para a maioria dos pesquisados, Meio Ambiente reflete o lugar no qual estão
inseridos, convivendo com outras espécies e possibilitando a interação com aquilo que se
encontra ao seu redor. Este abriga fatores bióticos e abióticos e é organizado principalmente pelo
OME<2,71 F>37,5
Turismo e Lazer (53) 1,84
Degradação Ambiental (38) 2,5
OME>2,71 F>37,5
Interação com o Meio Ambiente (44) 3,02
OME<2,71 F<37,5
OME>2,71 F<37,5
Prática esportiva (15) 3,5
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conjunto de fatores físicos e humanos, agrupando a natureza, o verde e o Açude Grande, que faz
parte do cotidiano do local aonde vivem. Alguns pesquisados, ainda, colocaram que o mesmo é
um lugar natural necessário a existência humana, mas que se encontra em situação de
degradação causada pelo próprio homem (GRÁFICO 1).
GRÁFICO 1: Identificação de poluição no entorno do Açude Grande por parte dos pesquisados Fonte: Próprio Autor/2009.
Ao mesmo tempo em que degrada o homem é quem mais pode contribuir com a
reconstrução daquilo que já apresenta modificações antrópicas, cuidando do que lhe é mais
próximo, como por exemplo, a rua onde mora. As informações obtidas sobre meio ambiente
foram, em sua maioria, provenientes da escola e da mídia, demonstrando a necessidade de
implantação de medidas transformadoras na educação formal para que a consciência cidadã seja
despertada.
Neste estudo referenciamos o impacto ambiental causado sobre a carga hídrica do
reservatório superficial urbano Açude Grande, em virtude da descarga de esgoto doméstico que
suscitam risco de doenças endêmicas através da proliferação de insetos e roedores,
comprometendo assim, a qualidade de vida da população do entorno e da biota, bem como
variados meios de utilização da referida população que vêem corroborar com o aumento da
degradação ambiental que o mesmo enfrenta por carência de projetos de revitalização e
monitoramento para conservação e preservação de um ambiente equilibrado.
Identificação de poluição no entorno do Açude
Grande por parte dos pesquisados
96,67%
3,33% Não
Sim
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FIGURA 1: Despejo de águas residuárias e de lixo no interior do reservatório Fonte: Próprio Autor/2009.
Uma questão bastante comentada pelos participantes foi relativa às influências do
Açude Grande para a vida dos moradores da cidade, sendo a prática de atividades físicas no
entorno do reservatório e o banho de açude as principais delas.
Além disso, constatamos que a pescaria acontece diariamente e a luz dos nossos
olhos. Suas águas destinam-se principalmente à lavagem de veículos e roupas, banho de
pessoas e animais, pesca além de despejo do esgoto de algumas áreas da cidade. Gostaríamos
de ressaltar que as doenças de veiculação hídrica podem ser adquiridas de formas diversas onde
as mais comuns são por ingestão e pelo contato com a água contaminada.
Sendo assim, estas águas configuram-se como imprópria para banho e lavagem de
roupas, visto que pode contaminar as roupas como também pode, por via cutânea, causar
doenças de pele, ou seja, penetra no organismo do indivíduo que esteja executando este tipo de
tarefa. Por conseqüência, a lavagem de veículos, bem como de roupas, contribui para a
deterioração das águas por utilização de produtos químicos para estes fins (FIGURA 2).
FIGURA 2: Crianças e animais desfrutando do mesmo local para banho Fonte: Próprio Autor/2009.
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Os pesquisados relembraram também tempos de outrora, época em que o açude não
se encontrava com índice de deterioração elevado, remetendo-os ao cuidado que deveriam
exercer com o reservatório na tentativa de preservar o meio. A grande maioria considerava que a
área do entorno não apresentava condições satisfatórias para usufruto da população, porém a
questão ambiental não foi citada como o grande problema da área, apenas como um dos
problemas que interferia na construção de um local mais apropriado para o lazer (FIGURA 3).
FIGURA 3: Vista frontal do açude, enfatizando a eutrofização contornando o reservatório e pescaria. Fonte: Próprio Autor/2009.
5 Considerações Finais
Um fator determinante para os problemas que hoje são evidenciados no entorno do
Açude Grande na cidade de Cajazeiras/PB, ancora-se na expansão do ambiente urbano.
Consideramos que os indivíduos pesquisados preocupavam-se com as questões do meio
ambiente, pois consideravam a necessidade de melhorias urgentes na área, incluindo aquelas
estruturais que resultariam no bem estar coletivo.
Porém, atribuíam o cuidado ao meio como algo que devia ser de responsabilidade
governamental através da criação de políticas públicas, sendo o cuidado individual algo muito
pequeno e particularizado. A ausência de programas de proteção ao reservatório vem revelar que
este não costuma ser foco de atenção em relação aos serviços de atendimento ao ambiente e a
saúde. Urge, pois a desconstrução da visão de que os cuidados devem ser desprendidos quando
há objetivamente uma situação consolidada, bem como a necessidade de educação escolar
quanto a responsabilização pelas questões do meio ambiente, incluindo o Açude Grande.
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Acreditamos que esta conquista envereda pelos caminhos de uma política educacional
centrada na Educação Ambiental em toda forma de ser, desde um simples ato até a incrustação
de uma consciência cidadã voltada para o bem estar global, priorizando a capacitação técnica
com foco na formação de profissionais habilitados a desenvolverem projetos na área, atuando em
arranjos na criação de oportunidades.
Alguns dos entrevistados não apresentam relações afetivas com a área, no que se
refere à qualidade ambiental demonstrando desconhecer a importância do reservatório para o
ambiente, em contrapartida, demonstraram um apreço por sua função paisagística.
Fica evidente que este grupo pesquisado tem uma concepção formada a respeito do
meio ambiente, acreditamos que o que lhes falta é por em prática esta aprendizagem bancária
que completa a sua majestosa grade curricular. Remete-nos aos cuidados que devem ser
dispensados ao Açude, na tentativa de preservar o meio e garantir que as próximas gerações
usufruam do mesmo. Além do lixo depositado às suas margens, reservatório também recebe
efluentes, o que impossibilita o uso de suas águas para o consumo humano.
As principais ameaças identificadas para o Açude Grande e o meio ambiente, referem-
se as preocupações com as questões de saúde, principalmente pelo medo de que a poluição
evolua e cause danos a aqueles que vivem nas proximidades da área. Sentimos além da falta de
compromisso dos pesquisados com o ambiente, transferindo o problema para órgãos ou
instituições governamentais, tratando a situação como um problema que eles tivessem que
resolver sem que seja de sua responsabilidade.
O desafio que se coloca é transformar os cidadãos em educadores, evitando o
distanciamento entre os mesmos, prendendo que o processo não é um ato isolado e sim da
coletividade visando a qualidade de vida para todos. Percebemos que as representações sobre o
Açude Grande são bastante homogêneas, pairadas em visões a partir do aprendizado acadêmico,
destacando-o como um fenômeno ambiental natural que pode trazer danos, e tão logo estes
sejam diagnosticados, precisam ser monitorados por práticas ambientais.
Portanto, diante desta situação, os pesquisados se detêm aos cuidados gerais e
orientações básicas para prevenção dos agravos relacionados. Em contrapartida, afirmaram ser a
interação com este reservatório superficial urbano uma etapa importante para sua vida, gerando
expectativas em sua recuperação. Esta é uma visão baseada no que rege o saudosismo de uma
época remota em detrimento as questões ambientais que afloram pelo descaso como o açude é
tratado na atualidade.
Conclui-se que o açude encontra-se numa área com alto risco de poluição e/ou
contaminação devido à crescente urbanização que vem sofrendo, evidenciando a necessidade de
intervenções no que concerne a produção de um programa de recuperação da qualidade
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ambiental da área de seu entorno, que inclui desde a recuperação da mata ciliar até a implantação
de programas permanentes de Educação Ambiental, voltada para a busca da consciência
ambiental e o exercício de seus direitos como cidadãos.
Referências
ABRIC, Jean Claud. A abordagem estrutural das representações sociais. In: MOREIRA, Antonia Silva Paredes; OLIVEIRA, Denise Cristina de. Estudos interdisciplinares de representação social. Goiânia: AB, 2000. p. 27-38.
ALMEIDA, Francisco Sales de; FONSECA, Josias da Silva. Legislação ambiental, ética e sustentabilidade: a revitalização do Açude Grande de Cajazeiras/PB. Cajazeiras: UFCG, 2005.
Monografia (Especialização em Gestão Ambiental). ANTUNES, Paulo Bessa. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1999.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Persona, 1977.
BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. 11. ed. Petrópolis:
Vozes, 2004. BRAGA, Benedito et al. Introdução à engenharia ambiental. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice
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