ACIDIFICAÇÃO E LIBERAÇÃO DE SULFATO EM FUNÇÃO DE
DIFERENTES DOSES DE CALCÁRIO EM SOLO CONTAMINADO
COM PIRITA EM ÁREA DE MINERAÇÃO DE CARVÃO
Márcio R. Nunes, Luiz F. S. Pinto, Eloy A. Pauletto, Flavia F. Fernandes Universidade Federal de Pelotas, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Departamento de Solos,
Campus Universitário Cx. Postal 354, Capão do Leão – RS, CEP 96001-970
E-mail: [email protected]
RESUMO
A mineração do carvão desencadeia sérias alterações no ambiente, sendo uma delas a formação
de drenagem ácida devido à oxidação da pirita A acidificação, além de rebaixar o pH a valores abaixo de
3,5, provoca a dissolução dos silicatos e a liberação de metais, gerando grandes quantidades de sulfato e
de metais nas águas. Esse trabalho teve por objetivo estudar a liberação de sulfato a partir de material de
estéril presente em solos construídos na mina de carvão de Candiota-RS submetido a diferentes doses de
calcário. O experimento foi conduzido em laboratório em colunas de lixiviação, com quatro doses de
calcário (0, ½, 1 e 2 vezes a dose indicada) em material de estéril e nesse misturado com 50% de solo. As
lixiviações foram feitas a intervalos de uma semana, totalizando até o presente 245 lixiviações. Em todos
os lixiviados foram feitas análises de pH e condutividade elétrica e em 16 intervalos foi realizada a
análise de sulfato. O teor de enxofre presente em cada lixiviação foi estimado por correlação com a
condutividade elétrica. Observou-se que somente a dose dupla conseguiu manter o pH acima da
testemunha, chegando a 4,5 no estéril e 5,5 no estéril+solo, contra 3,0 e 3,5 nos demais tratamentos para
estéril e solo+estéril, respectivamente. A condutividade elétrica (CE) tendeu a diminuir gradativamente,
variando em ciclos relacionados com as estações do ano, inicialmente inversamente proporcional as
doses, com a meia dose e a dose indicada se tornando mais próximas a testemunha na medida em que
foram acidificando. A intensidade da liberação estimada de sulfato foi diminuindo com o tempo,
chegando ao final da 245ª lixiviação a corresponder ao consumo de mais de 70% e 80% da quantidade
inicial de S no estéril e solo+estéril, respectivamente.
PALAVRAS-CHAVE: pirita, drenagem ácida, solos, mineração.
1. INTRODUÇÃO
Os depósitos de carvão mineral de maior importância econômica para o Brasil
concentram-se nos estados do Sul do País, na formação Rio Bonito. No Brasil, assim
como na Austrália e nos Estados Unidos, a maior parte deste minério é explorado na
forma de lavra a céu aberto (ANEEL, 2010), o que acarreta em revolvimento das
camadas suprajacentes e a exposição das camadas sotopostas da coluna geológica local.
Nestas camadas, denominadas de estéril, ocorre a presença de pirita, principalmente na
camada de carvão denominada Banco Louco, que por não apresentar características
econômicas viáveis, acaba permanecendo no estéril, que irá compor o perfil da área
recomposta (Pinto, 1999). A pirita (FeS2), quando em contato com oxigênio e água,
oxida-se gerando a drenagem acida de minas (DAM), que juntamente com seus
contaminantes compõem um dos problemas mais relevantes das áreas degradadas pela
mineração de carvão (Evangelou, 1995; Pinto e Kämpf, 2002).
O sulfato, quando em ambiente anaeróbico e sendo rico em material orgânico, é
reduzido a sulfeto. Posteriormente pode combinar-se com o Fe(II) formando a pirita,
processo conhecido por sulfidização (evangelou, 1995). Materiais portadores de pirita,
quando expostos a uma condição oxidante provocam uma reação contrária, ocorrendo
então a oxidação e liberação de enxofre na forma de ácido sulfúrico, originando um
processo pedogenético natural chamado de sulfurização (Carson e outros, 1982). Este
processo é dependente da atividade microbiana, sendo, segundo Ehrlich (1990), a
bactéria Acidithiobacillus ferrooxidans considerada o microorganismo mais importante
em lugares onde ocorre DAM.
Nos solos construídos, após mineração de carvão, a condição ambiente somada
ao aumento da superfície de contato da pirita, acelera o processo de sulfurização, o que
poderá levar a formação de um horizonte sulfúrico (Pinto e Kämpf, 2002). Inicialmente
o processo depende basicamente de oxigênio, e à medida que o pH diminui (<4), a
oxidação fica por conta do Fe+3
, que nesta condição passa a ter maior solubilidade
acarretando em um efluente com pH menor que 3, com alta concentração de sulfato e
metais. Esse processo, além de contaminar as águas superficiais e subsuperficiais, torna
difícil a revegetação das áreas mineradas. Os ácidos produzidos podem ser naturalmente
tamponados pelos carbonatos, bases trocáveis e silicatos presentes no solo e nos
materiais estéreis (Dent, 1986).
Esse trabalho teve por objetivo estudar a liberação de sulfato a partir de material
de estéril presente em solos construídos na área regenerada da mina de carvão de
Candiota-RS submetido a diferentes doses de calcário.
2.MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no laboratório de solos da Universidade Federal de
Pelotas. O solo, correspondente ao horizonte A+B de um Argissolo Vermelho Eutrófico
típico (Pinto, 1999), e o estéril utilizados no experimento foram coletados nas camadas
superficial e subsuperficial, respectivamente, de um solo construído em área regenerada
da malha VII da mina de carvão de Candiota/RS. O estéril foi moído, homogeneizado e
caracterizado quanto ao seu potencial de acidificação (PA) pelo método de O’shay e
outros (1990). A média de quatro repetições resultou em 9,4kg de CaCO3 por Mg de
estéril, o que corresponde a 0,28% de pirita. O pH em água do estéril se encontrava em
3,02 e a acidez potencial em 10,57 cmolc.kg-1
, realizados conforme Embrapa (1997), ao
passo que os do solo em 5,35 e 3,81 cmolc.kg-1
, respectivamente.
As colunas de lixiviação forma feitas com tubos de PVC, de 100 mm de
diâmetro externo e 25 cm de altura, nas quais foi adaptada uma câmera de ar de 3 cm de
altura, para garantir o fluxo de oxigênio na coluna. Em cada coluna colocou-se 15 cm de
altura de amostras compostas por duas proporções de solo/estéril (0/100 e 50/50), o que
correspondeu a valores de massa com em média 1330g de solo/estéril, contendo 7,31g
de pirita (3910 mg de S) no 0/100 e 3,66g de pirita (1955 mg de S) no 50/50. Cada
proporção (solo/estéril) foi tratada com quatro diferentes doses de CaCO3,
correspondendo a 0, ½, 1 e 2 vezes a dose recomendada pela acidez potencial do
material. As doses foram (base seca e PRNT 100%) de 1,91 g calcário / kg solo e de
5,29 g calcário kg estéril, equivalendo a 5730 e 15870 kg/ha, respectivamente,
admitindo 3000 Mg de solo/estéril por ha.. Para cada tratamento realizou-se três
repetições (2x4x3 = 24 colunas). Antes do início das lixiviações, as amostras foram
umedecidas até atingir a máxima capacidade de retenção de água. A partir desta
condição, no dia 6 de janeiro de 2005, iniciaram-se as lixiviações, com 333mL de água
destilada, correspondente a 45 mm de altura de coluna.
São apresentados os resultados até a 245ª lixiviação, realizada ao longo de 2203
dias (média de 9 dias entre as lixiviações). Após a passagem completa da solução pela
coluna, as amostras eram recolhidas e realizadas leituras de pH e condutividade elétrica.
Nas soluções da 3ª, 6ª, 12ª, 16ª, 20ª, 30ª, 37ª, 44ª, 56ª, 79ª, 100ª 140ª, 162ª, 185ª, 200ª e
226ª lixiviação foram determinadas a concentração de sulfato, realizada por
turbidimetria com BaCl2-gelatina, sem fazer digestão da solução (modificado de
Tedesco e outros, 1995). Nas mesmas lixiviações, exceto na 12a, 16
a 20
a, 37ª e 44ª,
determinou-se o cálcio e magnésio, por espectroscopia de absorção atômica, e o silício
por espectroscopia de UV-visível. O enxofre liberado nas lixiviações onde não foi
determinado foi estimado por correlação com a condutividade elétrica.
3.RESULTADOS E DISCUSSÃO
A variação dos valores de pH das soluções lixiviadas no decorrer do
experimento está apresentada na figura 1. Nesta fica claro que o material estéril oriundo
da mina de Candiota/RS, portador de grande concentração de pirita, apresenta alto poder
de acidificação, como indicado pelos baixos valores de pH, principalmente na solução
lixiviada do estéril puro (100/0). Neste material, o tratamento correspondente a dose 0
manteve os valores de pH entre 2 e 3 até a lixiviação número 130. A partir de então,
seus valores, juntamente com o dos tratamentos 1/2 e 1 dose, mantiveram leve tendência
de elevação. Isto pode indicar que o material está começando a se dirigir para a fase de
pós sulfurização. Conforme Inda e outros (2010), o solo construído a 2, e 24 anos, por
ele estudado, encontrava-se na sulfurização ativa e próximo a fase pós-sulfurização,
respectivamente.
(a)
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250
lixiviações
pH
0/100-0 0/100-1/2 0/100-1 0/100-2
(b)
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250
lixiviações
pH
50/50-0 50/50-1/2 50/50-1 50/50-2
Figura 1. pH das soluções lixiviadas das amostras de estéril (a); e estéril / solo 50/50
(b), tratadas com 0, ½, 1 e 2 vezes a dose de calagem indicada pelo H + Al.
A partir da lixiviação 130, o pH dos três tratamentos (0, 1/2 e 1 vez a dose)
uniram-se com valores próximos a 3,0. Isto indicada que a quantidade de calcário
remanescente nas colunas pode ter sido consumido ou não ser mais suficiente para
elevar o pH de maneira significativa. A dose dupla. manteve o pH acima de 6,0 até a
lixiviação número 77, sendo que a partir de então os valores decaíram permanecendo
em uma zona pouco acima de 5,0 até a 114a. Posteriormente caíram para um patamar
abaixo de 5,0 permanecendo até a 245a lixiviação. A dose dupla mesmo após 226
lixiviações ainda apresenta poder de neutralização da DAM.
Para o material contendo relação solo/estéril de 50/50 (figura 1b), o pH da dose
0, ao contrário da do material 100/0 se comportou de forma constante, porém uma
unidade acima, se mantendo sempre abaixo de 4,0. Nas demais doses, ainda se observa
um certo poder de neutralização, visto que os valores de pH sempre se mantém acima
daqueles obtidos na dose 0. A dose dupla também mantém valores mais elevados do que
no material 100/0, na faixa entre 5,0 e 6,0.
Os valores de condutividade elétrica (CE) são mostrados na figura 2. Os altos
valores de CE, bem como os elevados teores de sulfato (figura 3), nas primeiras oito
lixiviações podem ser devido à oxidação dos sulfetos presentes no material estéril no
período antecedente a montagem do experimento e início das lixiviações, ocorrida no
tempo em que esse permaneceu no campo, após ter sido minerado. O sal concentrado
não lixiviado ao longo desse período, foi então carreado pela água das primeiras
lixiviações, elevando assim a CE e liberando uma grande quantidade de sulfato.
Passado esse período inicial, referido anteriormente, a CE baixou
consideravelmente para o material estéril (figura 2a) e também para o material contendo
50% solo e 50% estéril (figura 2b). Essa se comportou de forma inversa aos valores de
pH, sendo assim, os maiores valores foram obtidos no material estéril e no tratamento 0,
sendo que o material estéril apresentou valores aproximadamente 3 vezes mais elevados
para as mesmas datas e tratamentos quando comparado ao material 50/50. Também é
evidenciada, em todos os tratamentos, a presença de picos, onde a condutividade se
eleva, sendo três deles no mês de fevereiro e três no mês de março, ou seja, todos em
épocas com temperaturas elevadas. Isto poderia ser explicado pela teoria de que o
aumento da temperatura favorece a difusão de gases, particularmente de O2 atmosférico
nos sistemas aquosos e para dentro dos poros dos substratos, portanto favorecendo a
cinética das reações produtoras de acidez. Por outro lado, esses picos de CE podem estar
associados ao aumento da atividade microbiana, uma vez que a reação da oxidação da
pirita é catalisada por microorganismos. Segundo Ehrlich (1990) a bactéria
Acidithiobacillus ferrooxidans é considerado o microorganismo mais importante em
lugares onde ocorre DAM. Esta bactéria é classificada como mesófila em relação a
temperatura (Ingledew, 1980).
(a)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250
Lixiviações
CE
(m
S/c
m)
0/100-0 0/100-1/2 0/100-1 0/100-2
14/02/2005
24/02/2006
13/02/2009
02/03/201018/01/2011
05/03/2008
27/03/2007
(b)
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250
Lixiviações
CE
(m
S/c
m)
50/50-0 50/50-1/2 50/50-1 50/50-2
14/02/2005
24/02/2006 27/03/2007
05/03/2008
13/02/2009 02/03/201018/01/2011
Figura 2. Condutividade elétrica das soluções lixiviadas das amostras de estéril (a); e
estéril mais solo 50/50 (b) tratadas com 0, ½, 1 e 2 vezes a dose de calagem
indicada pelo H + Al.
Após a 100ª lixiviação, a CE passou a diminuir gradativamente, ainda com picos
coincidentes com as épocas mais quentes do ano (Figura 2), com a CE nitidamente
inversamente proporcional as doses no material 50/50 e com a meia dose e a dose
indicada se tornando mais próximas a testemunha no material 100/0.
A concentração de sulfato é mostrada na Figura 3. Nessa, além de se observar
aquelas concentrações muito elevadas presentes nas primeiras lixiviações, que foram
comentada anteriormente, também se pode notar os aumentos de sulfato coincidindo
com os picos de CE, denotando a estreita relação entre o fenômeno de oxidação da pirita
e liberação de sulfato e o aumento da CE das águas. Na figura também se observa, para
ambos os materiais (0/100 e 50/50) e em todos os tratamentos, após a 160a lixiviação
uma diminuição no teor de sulfato, concomitantemente observada na CE (figura 2).
(a)
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
0 5 10 15 20
Su
lfa
to (
mm
ol/
dm
3)
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240
lixiviações
0/100-0 0/100-1/2 0/100-1 0/100-2
(b)
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240
lixiviações
50/50-0 50/50-1/2 50/50-1 50/50-2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
0 5 10 15 20
su
lfato
(m
mo
l/d
m3
)
Figura 3. Concentração de sulfato nas soluções lixiviadas das amostras de estéril (a); e
estéril mais solo 50/50 (b) tratadas com 0, ½, 1 e 2 vezes a dose de calagem
indicada pelo H + Al.
Os percentuais remanescentes de enxofre nas colunas para os materiais 100/0 e
50/50, calculados a partir do teor estimado de enxofre por correlação com a CE, são
apresentados nas figuras 4a e 4b.
A figura 4 mostra que até a 10a lixiviação entre 10 e 20% do enxofre presente foi
liberado, destacando-se os tratamentos com calagem. Após, a liberação diminuiu
gradativamente de intensidade em todos os tratamentos, com a situação entre
tratamentos se modificando, onde a dose dupla passou a liberar menos em relação aos
outros tratamentos. Assim, até a metade do período do experimento (120a lixiviação), os
tratamentos tinham liberado entre 50 e 60% do enxofre presente na pirita no material
100/0 e entre 55 e 65% do enxofre no material 50/50. Aos 245a, a taxa de liberação
nitidamente diminuiu, restando ainda entre 20 e 30% do enxofre no material 100/0 e
entre 15 e 25% no material 50/50.
(a)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240lixiviações
En
xo
fre r
em
an
escen
te (
%)
0/100-0 0/100-1/2 0/100-1 0/100-2
(b)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240
lixiviações
En
xo
fre r
em
an
escen
te (
%)
50/50-0 50/50-1/2 50/50-1 50/50-2
Figura 4. Percentual do enxofre remanescente nas colunas das amostras de estéril (a); e
estéril mais solo 50/50 (b) tratadas com 0, ½, 1 e 2 vezes a dose de calagem
indicada pelo H + Al.
Para melhor observar essa taxa de liberação, foi estimado na figura 5, a partir da
tangente média das cinco últimas liberações, para cada ponto, em quantas lixiviações o
enxofre seria consumido. No material 100/0, fica claro que até a 120a lixiviação, a
expectativa seria do enxofre ser consumido em 200 e 300 lixiviações, e que entre a 120a
lixiviação e a 180a lixiviação essa passou a ser entre 300 e 450 e após entre 350 e 550
lixiviações, dependendo do tratamento e da época do ano (temperatura). No caso do
material 50/50, até a 120a lixiviação, a expectativa do enxofre ser consumido ficou entre
200 e 300 lixiviações; entre a 120a lixiviação e a 180a lixiviação essa passou a ser entre
250 e 400 lixiviações e após entre 300 e 520 lixiviações, também com diferenças entre
tratamentos e dependendo da época do ano. Assim, a tendência observada indica um
provável comportamento assintótico na liberação do enxofre.
(a)
0
100
200
300
400
500
600
700
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250
lixiviações
no d
e l
ixiv
iaçõ
es p
ara
co
nsu
mir
o S
0/100-0 0/100-1/2 0/100-1 0/100-2
(b)
0
100
200
300
400
500
600
700
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250
lixiviações
no d
e l
ixiv
iaçõ
es p
ara
co
nsu
mir
o S
50/50-0 50/50-1/2 50/50-1 50/50-2
Figura 5. Estimativa do número de lixiviações necessárias para que o enxofre
remanescente nas colunas das amostras de estéril com 0, ½, 1 e 2 vezes a
dose de calagem indicada pelo H + Al fosse consumido pelo processo de
oxidação da pirita.
As figuras 6 e 7 mostram as liberações de Ca e Mg. Nestas se observa que as
liberações tanto de Ca como de Mg tenderam a ser maiores nos tratamentos que
receberam calcário, o que seria de se esperar como resultado da reação deste com a
acidez produzida pela oxidação da pirita. Por outro lado, o tratamento testemunha, sem
calcário, para ambos os materiais (0/100-0 e 50/50-0), também apresentou
concentrações elevadas de Ca e Mg liberados até aproximadamente a metade do
experimento, mesmo comportamento dos outros tratamentos, indicando uma fonte de
liberação de Ca e Mg outra sem ser a do calcário magnesiano (CaO = 26% e MgO =
14%) adicionado. A liberação de Ca e Mg pode ser explicada pela lixiviação dos cátions
presentes no complexo de troca, deslocados pelos íons H+ da acidez produzida.
(a)
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240
lixiviações
Ca
(m
mo
l d
m-3
)
0/100-0 0/100-1/2 0/100-1 0/100-2
(b)
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240
lixiviações
Ca (
mm
ol
dm
-3)
50/50-0 50/50-1/2 50/50-1 50/50-2
Figura 6. Concentração de cálcio nas soluções lixiviadas das amostras de estéril (a); e
estéril mais solo 50/50 (b) tratadas com 0, ½, 1 e 2 vezes a dose de calagem
indicada pelo H + Al.
(a)
0
2
4
6
8
10
12
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240
lixiviações
Mg
(m
mo
l cm
-3)
0/100-0 0/100-1/2 0/100-1 0/100-2
(b)
0
1
2
3
4
5
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240
lixiviações
Mg
(m
mo
l cm
-3)
50/50-0 50/50-1/2 50/50-1 50/50-2
Figura 7. Concentração de magnésio nas soluções lixiviadas das amostras de estéril (a);
e estéril mais solo 50/50 (b) tratadas com 0, ½, 1 e 2 vezes a dose de calagem
indicada pelo H + Al.
Os valores de silício encontrados nos lixiviados são mostrados na figura 8. Neste
caso se observa uma relação muito clara entre esses valores e o pH, como indicado
pelos valores bem menores dos tratamentos com dose dupla de calagem (100/0 – 2 e
50/50- 2). Essa liberação de silício é explicada pela dissolução dos silicatos,
particularmente dos filossilicatos de pequeno tamanho (argila e silte) presentes tanto no
material do estéril quanto do solo.
(a)
0
10
20
30
40
50
60
0 50 100 150 200 250lixiviações
Si
(mg
dm
-3)
0/100-0 0/100-1/2 0/100-1 0/100-2
(b)
0
10
20
30
40
50
60
0 50 100 150 200 250lixiviações
Si
(mg
dm
-3)
50/50-0 50/50-1/2 50/50-1 50/50-2
Figura 8. Concentração de silício nas soluções lixiviadas das amostras de estéril (a); e
estéril mais solo 50/50 (b) tratadas com 0, ½, 1 e 2 vezes a dose de calagem
indicada pelo H + Al.
4.CONCLUSÕES
Somente a dose dupla de calagem indicada pela acidez potencial conseguiu manter o pH
acima da testemunha, chegando a 4,5 no estéril e 5,5 no estéril+solo, contra 3,0 e 3,5 nos demais
tratamentos para estéril e solo+estéril, respectivamente.
A condutividade elétrica (CE) tendeu a diminuir gradativamente, variando em ciclos
relacionados com as estações do ano, provavelmente com influências devido a atividade
microbiana que catalisa a reação de oxidação da pirita.
A intensidade da liberação estimada de sulfato foi diminuindo com o tempo, chegando
ao final da 245ª lixiviação a corresponder ao consumo de mais de 70% e 80% da quantidade
inicial de S no estéril e solo+estéril, respectivamente.
Além de sulfato, quantidades apreciáveis de Ca e Mg também são liberados por
deslocamento do complexo trocável bem como de silício por dissolução dos silicatos
5.AGRADECIMENTOS
Ao CNPq pela concessão da bolsa PIBIC do segundo autor e à Companhia
Riograndense de Mineração (CRM) e a Rede Carvão pelo apoio financeiro.
6. REFERÊNCIAS
ANEEL. Agência Nacional de Energia Elétrica. Disponível em:
<http://www.aneel.com>, acesso em: 31 de agosto de 2010.
Carson, C.D.; Fanning, D.S. & Dixon, J.B. Alfisols and ultisols with acid sulfate
weathering features in Texas. In: Kittrick, J.A.; Fanning, D.S. & Hossner, L.R. (Ed.).
Acid sulfate weathering. Madison, SSSA, 1982. p.127-146. (SSSA Spec. Publ., 10).
Dent, D. Acid sulphate soils: A baseline for research and development. Wageningen, ILRI. 1986.
200p. (ILRI Publ., 39).
Ehrlich, H.L. Geomicrobiology. Marcel Dekker. New York. NY. 350-370, 1990.
Evangelou, V.P. Pyrite oxidation and its control: solution chemistry, surface chemistry,
acid mine drainage (AMD), molecular oxidation mechanisms, microbial role, kinetics
control, ameliorates and limitations, microencapsulation. Editorial Press CRC, New
York, 1995.
Inda, A.V.; Quinõnes, O.R.G.; Giasson, E.; Bissani, C.A.; Dick, D.P. & Nascimento,
P.C. Atributos químicos relacionados ao processo de sulfurização em solos construídos
após mineração de carvão. Ciência Rural, v.40, n.5, mai, 2010.
Ingledew, W.J. & Cobley, J.G. A potentiometric and kinetic study on the respiratory
chain of ferrous-iron-grown Thiobacillus ferrooxidans. Biophys Acta 590, P. 141-158,
1980.
Kämpf, N.; Schneider, P. & Giasson, E. Propriedades, pedogênese e classificação de
solos construídos em áreas de mineração na bacia carbonífera do Baixo Jacuí (RS). Ver.
Brás. Ci. Solo, Campinas, v. 21, p. 79-88, 1997.
O’Shay, T.; Hossner, L.R. & Dixon, J.B. A modified hydrogen peroxide oxidation
method for determination of potential acidity in pyritic overburden. J. Environ. Qual.,
Madison , v.19, p.778-782. 1990
Pinto, L. F. S. & Kämpf, N. Contaminação dos solos construídos. In: Teixeira, E. C. &
Pires, M. J. R. coord. Meio ambiente e carvão. Impactos da exploração e utilização.
Porto Alegre, FINEP/CAPES/ PADCT/GTM/PUCRS/UFSC/FEPAM, 2002. p. 69-92.
Pinto, L.F.S. Potencial de acidificação e de neutralização do carvão, cinzas e materiais
geológicos para da área de mineração de Candiota-RS. Relatorio da FAPERGS,UFPel,
Pelotas-RS, 1999. 31p
Tedesco, M. J.; Bassani, C..A.;Bohnen, H. & Volkweiss, S.J. Análises de solo, plantas
e outros materiais. Porto Alegre: Faculdade de Agronomia. Departamento de Solos
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. RS, p. 174, 1995.