A VOZ DO ATOR DE TEATRO
Lucia Helena Da Cunha Gayotto 1
Thaisa Palma Pereira da Silva 2
RESUMO
A pluralidade de usos da voz de atores abrange diversas dimensões no teatro, que vão desde o estudo e domínio do aparelho fonador, de seus recursos técnicos, passando pelas tradições teatrais de uso vocal, de suas manifestações expressivas, até a constituição de uma poética da voz. Objetivo: Levantar, de maneira quantitativa, a produção bibliográfica fonoaudiológica na área teatral, sem a pretensão de descrever e analisar de modo qualitativo suas interfaces conceituais. Método: Este levantamento concentrou-se na área teatral, em seus desdobramentos de pesquisa, sejam eles princípios de trabalho, abordagens e/ou procedimentos, em produções de iniciação científica, monografias de conclusão de curso de graduação, monografias de especialização, dissertações, teses, publicações em revistas, jornais, anais, capítulos de livro e livros. Resultados: O ano de 2005 foi o mais produtivo dos três anos, com 48% do total de trabalhos, seguido de 2007, com 32%, e 2006 com 20%. Os principais meios para divulgação dos trabalhos foram os anais (30%), acompanhados pelos capítulos de livro (26%), e pelos trabalhos de conclusão de curso, 16%. Os temas mais abordados na área teatral foram a preparação de atores e a criação interpretativa. Conclusão: O interesse e o investimento de pesquisa na área teatral vêm crescendo, ano a ano, bem como o aprofundamento da compreensão artística do papel fonoaudiológico na intervenção com atores. As inserções e os papéis fonoaudiológicos no teatro tornam-se mais complexos; além do acompanhamento na formação de atores o fonoaudiólogo passa a ocupar a direção vocal interpretativa, engajando-se à equipe criativa.
Palavras-chave: Voz, Teatro, Fonoaudiologia, Técnica vocal, Criação, Interpretação, Atores, Produções científicas.
1 Fonoaudióloga. Mestre em Fonoaudiologia pela PUC-SP 2 Fonoaudióloga
INTRODUÇÃO
A voz no teatro é parte central do processo de criação e preparação de atores. A
pluralidade de seus usos abrange diversas dimensões no teatro, que vão desde o
estudo e domínio do aparelho fonador, de seus recursos técnicos, passando pelas
tradições teatrais de uso vocal, de suas manifestações expressivas, até a constituição
de uma poética da voz.
A mostra deste mapeamento de referências bibliográficas na área teatral, de
2005 a 2007, revela que as pesquisas de voz têm sido potencializadas, no sentido de
cruzar aspectos técnicos e criativos, em perspectivas teatrais abrangentes, com o
intuito de aprofundar a compreensão artística do papel do fonoaudiólogo na intervenção
com atores.
Ao contrário de conceber uma visão particularizada, as investigações têm
revelado que a constituição de uma voz teatral passa por dimensões que a colocam em
diálogo permanente com o corpo, com a psique, com o manejo das emoções, com as
tradições do uso vocal em cena, com os jogos teatrais, com a diversificação
dramatúrgica de textos a serem trabalhados, bem como com o estudo de teatrólogos
que alavancam perspectivas artísticas fundamentais: Antonin Artaud, Eugênio Barba,
Jean-Jaques Roubine, Jerzy Grotowski, Meyerhold, Stanislavski, Eugênio Kusnet, entre
outros.
Caminhando com estas dimensões, neste período buscou-se instrumentalizar o
fonoaudiólogo na busca do entendimento desta complexidade expressiva, em
pesquisas apoiadas por instrumentos como a análise acústica da voz e a avaliação
laringológica; particularmente em pesquisas que buscam o viés da preparação do ator
para a voz cênica. Outro destaque atual é o engajamento do fonoaudiólogo na equipe
criativa teatral, como membro e mentor artístico dos desdobramentos estéticos
pretendidos para o espetáculo.
Um autor, em especial, chama a atenção como referencial teórico estruturante
aos trabalhos pesquisados, desde as produções científicas anteriores: Rudolf Laban.
Artista cênico do corpo e mentor de procedimentos facilitadores ao trabalho de dança e
de expressão, Laban está presente em várias pesquisas. Desde 1997, Gayotto destaca
sua relevância na geração de uma partitura interpretativa, perseverando nesta
investigação em publicações de 2004, 2006 (1) e 2007 (2). Duas dissertações, intituladas
“A expressão vocal na paixão da dor em Medéia de Eurípides” e “Movimento vocal: a
fonoaudiologia na formação do ator sob a inspiração de Rudolf Laban”, de Guberfain
(2003) e Rezende (2006) (3), respectivamente, adotam novamente Laban como
referência aos seus procedimentos e abordagens, em sala de aula e, na criação de
personagem, em espetáculo teatral. Do mesmo modo, o Trabalho de Conclusão de
Curso (4), intitulado “Banco de falas teatrais a partir de dinâmicas da voz: forte, suave,
rápida e lenta”, investiga falas teatrais e suas dinâmicas sonoras, inspiradas pelo
método de Laban e sugeridas para construção de personagens.
No Livro “Voz em cena”, volume II, vários autores (5-8) tomam Laban como
parceiro em seus estudos; isto sem considerar outras produções anteriores que o tem
como referência bibliográfica, como a de Santiago (2001). Mesmo olhando
retrospectivamente, percebe-se que a descrição sensorial das palavras e a dimensão
espacial da voz pesquisadas por Beuttenmüller, em 1972, já abordava aspectos de
movimento sonoro, tal qual poderia-se supor dinâmicas de movimento da voz.
O segundo volume do livro “Voz em Cena”, publicado em 2005, merece destaque
como referência fundamental ao trabalho expressivo com atores. Sob a organização de
Jane Guberfain, os dois volumes de “Voz em cena” publicados seqüencialmente em
2004 e 2005 (9), tornaram-se investigações necessárias à futuras publicações: dois anos
mais tarde, Bianco e Santos (10) investiram sua pesquisa teórica nesses dois livros ao
escreverem o trabalho de conclusão de curso de graduação, na PUCSP, intitulado:
“Preparação do ator teatral e construção vocal de personagens segundo preparadores
da cidade do Rio de Janeiro”.
Alertando para a complexidade de pesquisar nesta área, a fonoaudióloga Mara
Behlau apresenta o volume dois do livro “Voz em cena”, em prefácio, apontando: “O
fonoaudiólogo que opta por dedicar-se a esta área vai conhecer o lado mais duro da
expressão vocal: do verniz social ao escárnio visceral, cada som terá um valor e um
risco. Há que ter preparo e coragem, não somente o ator, mas também o fonoaudiólogo
que trabalha com ele”. Suas palavras desvendam parte do que será visto neste artigo: a
riqueza e a diversidade necessárias ao encontro científico e poético da Fonoaudiologia
com a Arte Teatral.
MÉTODO
Este levantamento de produções científicas da Fonoaudiologia brasileira com os
profissionais da voz, atores, se concentrou na área teatral, em seus desdobramentos de
pesquisa, sejam eles princípios de trabalho, abordagens e/ou procedimentos. Foram
levantadas as produções de iniciação científica, trabalhos de conclusão de curso de
graduação, monografias de especialização, dissertações de mestrado, teses de
doutorado, publicações em revistas, jornais, anais, capítulos de livros e livros.
Como objetivo principal deste trabalho buscou-se levantar, de maneira
quantitativa, a produção bibliográfica na área teatral, sem a pretensão de descrever e
analisar suas interfaces conceituais.
Em relação aos levantamentos bibliográficos anteriores, de 2003 e de 2005,
feitos por Gayotto e Clemente e Gayotto e Pedra, respectivamente, tem-se consciência
de que suas porcentagens não refletem a totalidade de trabalhos, dada a dificuldade
encontrada, anteriormente, em mapear a grande maioria das produções científicas. Em
2003, considerando todos os trabalhos da Fonoaudiologia na área teatral, foram
encontradas 55 produções, e no ano de 2005, vinte e três. Cientes da não inclusão de
algumas produções científicas, posteriormente encontradas, resolveu-se por fornecer
um novo registro com a atualização de todos os trabalhos anteriores a 20053.
Na presente publicação, período de 2005 a 2007, acredita-se que esta realização
foi bem sucedida e completa, dadas algumas facilidades de buscas em bibliotecas,
internet e também à colaboração dos pesquisadores, os quais gostaríamos de
3 Outras referências de produções científicas na área teatral, anteriores a 2005 (citadas neste artigo ou não), podem ser consultadas nesse registro de pesquisas.
agradecer. Porém, é possível que alguns trabalhos não tenham sido rastreados na
presente publicação, o que certamente poderá ser revisto em levantamentos futuros.
Os resultados de busca serão apresentados em três categorias: 1- Distribuição
dos trabalhos por ano; 2- Tipos de produção; 3- Distribuição dos temas abordados nos
trabalhos realizados.
RESULTADOS
Dos três anos levantados, foram encontrados 50 trabalhos, número similar ao
encontrado no levantamento desta mesma área no ano de 2003, que teve um total de
55 produções.
1- Distribuição dos trabalhos por ano
O ano de 2005 foi o mais produtivo dos três anos, com 48% do total de trabalhos,
seguido por 2007, com um total de 32%, e 2006 com 20% (Gráfico 1).
48%
20%
32% Publicações de2005
Publicações de2006
Publicações de2007
Gráfico 1 – Distribuição de trabalhos por ano
Mesmo 2005 disparando como o ano de maior publicação na área
fonoaudiológica teatral (mais do que o dobro de 2006), observa-se que em 2007 a
porcentagem voltou a aumentar.
2- Tipos de produção
30%
26%16%
10%8%
6%
2%
2%
0%
Anais
Capítulo de livro
Trabalho de Conclusão de Curso
Dissertação de Mestrado
Monografia de Especialização
Revistas
Livro
Tese de Doutorado
Iniciação Científica
Gráfico 2 – Tipos de produção
Os principais meios de divulgação dos trabalhos foram os anais, com 30% de
publicações, seguidos pelos capítulos de livro com 26% (Gráfico 2). Os trabalhos de
conclusão de curso têm maior porcentagem em relação aos levantamentos anteriores
dos anos de 2003 e 2005, totalizando 16%. Vale ressaltar o aumento também da
porcentagem de dissertações, com 10% da totalidade da produção científica, a maior
de todos os três levantamentos.
As monografias de especialização e as publicações de artigos, em revistas,
aparecem em 5º e 6º lugares, com 8% e 6%, respectivamente. Há apenas uma tese de
doutorado e um livro, ambos com a porcentagem de 2% (Gráfico 2). Nota-se que o
investimento em trabalhos de conclusão de curso na graduação tem sido grande,
porém não foi encontrado nenhum trabalho de iniciação científica na área.
3- Distribuição dos temas abordados nos trabalhos realizados
A partir do levantamento dos 50 trabalhos na área teatral, propôs-se uma
subdivisão de acordo com os temas abordados nas pesquisas. Os eixos norteadores
desta subdivisão referem-se a dois pilares do trabalho fonoaudiológico com atores, a
preparação vocal e a criação interpretativa e, conjuntamente, mais três aspectos: o
primeiro, denominado saúde e subjetividade, trata de estudos focados no paciente ator,
totalizando apenas 2% das investigações (Gráfico 3).
O segundo aspecto refere-se às intervenções fonoaudiológicas no teatro - 5%
dos trabalhos - do ponto de vista das relações com a equipe criativa e/ou com o perfil
do trabalho desenvolvido pelo preparador vocal, in loco. O terceiro aspecto dá enfoque
ao estudo do histórico da voz no teatro, com 11% dos temas que abordam e refletem o
investimento e os resultados do intercruzamento Fonoaudiologia e Teatro, e investigam
alguns teatrólogos e/ou preparadores vocais, bem como o uso da voz no teatro ao
longo da história.
Abaixo é apresentado o Gráfico 3, com as porcentagens para os temas
encontrados; é importante frisar que esta análise não considerou, na somatória total, os
trabalhos que tiveram desdobramentos em outros tipos de publicação, mas cujos
assuntos foram mantidos; estes foram considerados apenas uma vez.
5% 2%11%
23%59%
Preparação de atores
Criação Interpretativa
Histórico no Teatro
IntervençõesFonoaudiológicas noTeatro
Saúde e subjetividade
Gráfico 3- Distribuição dos temas abordados
Ao analisar o Gráfico 3, nota-se que ainda há maior interesse em pesquisar a
preparação de atores, com 59% dos trabalhos, seguido pela criação interpretativa, com
23%. Porém, esta diferença, nos dois levantamentos de produções científicas
fonoaudiológicas anteriores era bem mais acentuada, o que revela que as questões
mais técnicas pretendidas com a preparação de atores ganhou forte aliada na criação e
na construção de personagens.
DISCUSSÃO
Nos últimos anos, percebe-se uma intensa produção de pesquisas
fonoaudiológicas na área teatral e, do mesmo modo, a multiplicidade de temas
abordados, com visível verticalização do conhecimento na arte teatral.
De todos os tipos de produção levantados, em 2005, os capítulos de livro são os
que aparecem em primeiro lugar, com 42%: certamente a contribuição dos autores da
cidade do Rio de Janeiro, com o livro “Voz em Cena”, volume II, foi estrutural para tal
avaliação, mostrando, neste caso, quantidade e qualidade aliadas à contribuição para
área teatral.
Os anos de 2006 e 2007 apontam para uma participação fonoaudiológica em
eventos, encontros e congressos, totalizando, respectivamente, 50% e 12,5% de
publicações em anais (11- 25). Os anais foram os principais meios para divulgação dos
trabalhos, seguidos pelos capítulos de livro com 26%, que elevaram esta porcentagem,
em sua quase totalidade, pela presença do Livro “Voz em Cena”: 10 capítulos
publicados na área teatral, dentre os 13 publicados no total. Em relação aos anais,
primeira colocação nesta área (o que é similar a outras áreas de voz profissional), é
comum que estes trabalhos sejam oriundos de trabalhos de conclusão de curso,
monografias de especialização, dissertações ou teses que, posteriormente, são
revisitadas em recortes para publicação em anais, ou mesmo em revistas.
Infelizmente, a produção de artigos em revistas foi mínima, com 6%, que se
referem aos artigos de Gayotto (2006) (1), Master (2007) (26) e à resenha da dissertação
de Rezende (2007) (27). Fica aqui registrada a necessidade deste investimento; a
exigência das universidades e dos órgãos de fomento à pesquisa, quanto à produção
bibliográfica dos docentes, deveria ativar este processo para futuros resultados na área
teatral.
Em trabalhos de conclusão de curso ainda é grande o interesse pela
investigação no teatro, com 16% de pesquisas (4, 10, 28-33). O que chama mais a atenção
é o investimento acadêmico que os fonoaudiólogos tiveram, nestes três últimos anos,
com especial atenção para o número de dissertações (34 – 37).
As dissertações foram realizadas nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro,
Campinas, e abordam temas variados. Encontrou-se apenas uma tese de doutorado,
de Suely Máster (38), concluída em 2005, com desdobramentos de publicações em anais
e um artigo em revista da área teatral, aumentando e diversificando, deste modo, o
acesso a tal trabalho em publicações nacionais.
Dentre os temas abordados na área teatral – preparação de atores, criação
interpretativa, histórico no teatro, intervenções fonoaudiológicas no teatro, saúde
e subjetividade – o aspecto de intervenções fonoaudiológicas já foi anteriormente
analisado com mais freqüência em pesquisas; o que se observa, nesta publicação, é
que em lugar deste enfoque de pesquisa, os temas encaminharam-se mais para as
respostas aos trabalhos fonoaudiológicos feitos em escolas, universidades, e em cursos
de formação de atores, especialmente referentes ao trabalho de preparação vocal do
ator. Outra questão de revelo é o fato de que o enquadre clínico, de alterações e
prevenções vocais de atores, comumente relacionado ao tema de saúde e
subjetividade, foi pouquíssimo investigado.
Dois trabalhos de Guberfain, um capítulo de livro (2005) (39) e uma publicação em
anais (2007) (15), encabeçam o tema de intervenção fonoaudiológica no teatro,
ressaltando para o papel do fonoaudiólogo como diretor vocal interpretativo, de seu
engajamento à arte teatral, avaliando-o como criador, terapeuta, preparador: “A direção
vocal-interpretativa é um trabalho que deve ser realizado de forma integrada às
atividades cênicas e de acordo com a proposta conceitual de um espetáculo,
estabelecida pelo encenador ou pelo diretor.” (39)
O interesse pelo tema de histórico da voz no teatro variou entre revisões
teóricas acerca de publicações dos trabalhos realizados por preparadores vocais; a
pesquisa de teatrólogos como Antonin Artaud; os caminhos e descaminhos da
Fonoaudiologia nas Artes (teatro, música e corpo); diferentes princípios e visões sobre
a pesquisa da voz no teatro; a retórica e a oralidade do ator contemporâneo; e a
evolução da voz em diferentes épocas teatrais.
Para subdivisão por temas, categorizou-se como preparação vocal de atores,
além dos conteúdos temáticos evidentes, os trabalhos que privilegiaram: instrumentos
de análise da voz, técnica vocal, formação de atores, estudos sobre a expressividade
vocal e seus procedimentos.
Nesta categoria de preparação, alguns trabalhos encaminham seu método por
meio do instrumental de análise perceptivo-auditiva e/ou por meio de análise acústica,
principalmente com intuito de lançar mão de ferramentas à preparação do ator. Assim o
fazem Barrichelo-Lindström (2007) (34) e Master (2005) (38). Adicionando a
instrumentalização de avaliação laringológica, Lago (anteriormente, em 2003), em
monografia de especialização do Centro de Estudos da Voz, e Molina e Gayotto (2005)
(21) pesquisam os efeitos de emoções na voz. Master (2005) (38), em sua tese, objetiva o
estudo da loudness de atores e não atores, em seus aspectos perceptivos e acústicos,
e contribui à avaliação e preparação de atores, concluindo a presença de um “formante
do ator” tal como investigado em cantores, em outras pesquisas.
Nos levantamentos, observa-se interesse em dimensionar a voz cênica e não
cênica de atores, em recortes de pesquisas sobre aquecimentos pré-cênicos (40), em
funções vocais no ensino teatral (41), no olhar sobre a fala espontânea (42) e sobre
necessidades expressivas (43, 44). Mendes, pesquisadora na televisão e no teatro,
contribui com dois trabalhos (45, 46) e oferece, a Fonoaudiologia brasileira, uma visão da
preparação de atores da pesquisadora Cicely Berry (diretora vocal da “Royal
Shakespeare Company”), referência primordial aos estudos nesta área.
Grande parte das monografias de especialização em voz (47-49) investiga a
preparação técnica de atores, em situações de formação, em oficinas expressivas;
somente uma destas pesquisas prioriza a voz do comediante, em visão mais específica
à criação (50).
O enfoque temático na criação interpretativa trata da elaboração criativa e
estética na montagem de peças teatrais; de procedimentos de compreensão da voz
cênica; das complementaridades entre a ação vocal e a ação física, em cena; da voz
em contexto criativo; de uma estética de voz para atores; como também de
especificações na construção de personagens, sejam elas timbrísticas e/ou de trabalho
com o texto teatral.
Embasados pelo método espaço-direcional-Beuttenmüller, grande parte das
publicações do livro “Voz em Cena”, volume II, trazem contribuições pilares aos
assuntos da criação; igualmente Becker (2007) (35) encaminha sua dissertação tendo
Beuttenmüller como referencial teórico. Maria da Glória Cavalcanti Beuttenmüller foi a
mentora deste método, que alia o conhecimento dos recursos da voz à sensibilidade
interpretativa, despertando a percepção de uma natureza da voz em seus diálogos com
o corpo, com o espaço e com a interlocução.
Ampliando as perspectivas de criação interpretativa no teatro, os demais
trabalhos revisados tratam do perfil vocal do ator comediante; das conexões entre o
corpo vocal e os tipos psicológicos descritos por Carl Yung; da investigação da voz
falada em cena; de dinâmicas de movimento da voz; da descrição de uma pesquisa
criativa em companhia teatral; e, novamente, novos recortes no estudo das emoções.
No enfoque temático de criação interpretativa, foram encontradas duas áreas
investigadas conjuntamente com o teatro: o cinema e a televisão.
CONCLUSÃO
Pode-se afirmar que o interesse por estudos na área teatral aumentou, as
pesquisas cresceram em quantidade e diversificaram-se quanto ao tipo de produção:
em todos os meios houve crescimento considerável, destacando-se as dissertações.
O ano de 2005 foi o mais produtivo dos três levantados, mas o ano de 2007
caminha logo atrás registrando movimentos intensos de produções científicas
fonoaudiológicas.
Nota-se que há grande investimento de pesquisa e que os temas abordados
tornaram-se mais complexos em investigações verticalizadas, principalmente nos
enfoques dos temas de preparação vocal e de criação interpretativa. Em comparação
ao levantamento de 2003, estes dois temas principais dobraram em número de
pesquisas.
Ainda é grande o interesse pela instrumentalização de procedimentos no
trabalho com atores, no teatro, e o detalhamento de técnicas vocais. Um aspecto muito
valorizado na preparação foi a formação de atores, em escolas e universidades.
Caminhando junto com estas descobertas, a criação interpretativa passa a ser
estrutural à atuação fonoaudiológica; aspira-se esclarecer questões que constituem a
voz na criação, modos e abordagens de aproximação com o fazer teatral.
As inserções e os papéis fonoaudiológicos no teatro tornaram-se mais
complexos; além do acompanhamento na formação de atores o fonoaudiólogo passa a
ocupar a direção vocal interpretativa, engajando-se à equipe criativa.
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