Download - A Frpmaçãp Da Classe Trabalhadora
A Formao da Classe OperriaCapitulo Explorao
A manufatura como uma centro potencial de rebelio poltica, dessa
forma, fbrica surge como o smbolo das energias sociais que esto
destruindo o verdadeiro curso da Natureza". Ela incorpora uma dupla
ameaa ordem estabelecida. A primeira, proveniente dos proprietrios
da riqueza industrial, esses novos-ricos que desfrutavam de uma
vantagem injusta sobre os proprietrios de terras, cuja renda estava
limitada aos arrendamento. A segunda, proveniente da populao
trabalhadora industrial, considerada uma hostilidade aliterante que
denuncia uma reao no totalmente distinta daquela do branco racista
em relao populao de cor nos dias de hoje.A equivalncia entre a
indstria do algodo e a nova sociedade industrial se tornava cada
vez mais intrigante e inovadora. No era apenas o proprietrio da
fbrica, mas tambm a populao trabalhadora trazida a viver junto e ao
redor dela que parecia "nova" aos seus contemporneos. Nas dcadas de
1830 e 1840. os observadores ainda se admiravam com a novidade do
sistema fabril, a mquina a vapor "aglutinou a populao em densas
massas".
Os efeitos dessas inovaes sobre o homem so impactantes. A populao,
tal como o sistema a que ela pertence, nova. mas cresce a cada
momento em fora e extenso. Ela um agregado de massas que nossas
concepes revestem com termos que exprimem algo de prodigioso e
terrvel. A populao manufatureira no nova apenas em sua formao: nova
tambm em seus hbitos de pensamento e ao, que se formaram. pelas
circunstncias da sua condio, com pouca instruo, e orientao externa
ainda menor. Os operrios eram os filhos primognitos da revoluo
industrial eformaram, do principio atualidade. o ncleo do Movimento
Trabalhista. Os instrumentos fsicos da produo eram vistos, numa
forma direta e mais ou menos compulsiva, como responsveis pelo
surgimento de novas relaes sociais. instituies e hbitos culturais.
Entre 1811 e 1813. a crise dos ludditas; em 1817, a ascenso de
Pentridge; em 1819, Peterloo; por toda a dcada seguinte, a
proliferao da atividade sindical, propaganda owenista, jorna- lismo
radical, o Movimento das Dez Horas, a crise revolucionria de
1831-2; e, alm disso, a multiplicidade de movimentos que
constituram o Cartismo. Foram, talvez, a extenso e a intensidade
dessa agitao popular multivariada, mais do que qualquer outra
coisa, que criaram a imagem de uma mudana catastrfica.
Quase todo acontecimento radical na dcada de 1790 se reproduziu com
fora dez vezes maior aps 1815. Quando se recorda toda a agitao
popular no decorrer da dramtica evoluo da indstria algodoeira,
natural assumir uma relao causal direta. A tecelagem e' vista tanto
como agente de uma revoluo industrial como tambm social, produzindo
no apenas maior quantidade de mercadorias. mas o prprio Movimento
Trabalhista.
perceptvel que a imagem da fbrica tenebrosa e satnica" domina nossa
reconstruo visual da Revoluo Industrial. Em parte, talvez, porque
essa uma imagem visual dramtica - edifcios semelhantes a um
quartel, grandes chamins, as crianas da fbrica, os tamancos e
xales, a aglomerao de habitao ao redor das indstrias como que
geradas por elas. Em parte, porque a tecelagem e as novas cidades
industriais pela rapidez do seu crescimento, engenhosidade das suas
tcnicas e novidades ou dureza da sua disciplina - pareciam
dramticas e portentosas aos seus contemporneos.
A indstria do algodo foi certamente a pioneira na Revoluo
industrial e a tecelagem foi o modelo preeminente para o sistema
fabril. Ainda assim, no podemos assumir qualquer correspondncia
automtica ou excessivamente direta entre a dinmica do crescimento
econmico e a dinmica da vida social ou cultural.Os operrios, longe
de serem os "filhos primognitos da revoluo industrial". tiveram
nascimento tardio. Muitas das suas ideias e formas de organizao
foram antecipadas por trabalhadores domsticos. discutvel se os
operrios - exceto nos distritosalgodoeiros - "formaram o ncleo do
Movimento Trabalhista" antes do final da dcada de 1840 e da regio
central. nos anos de 18234.
O jacobinismo criou razes profundas entre os artesos. O luddismo
foi obra de trabalhadoresqualificados de pequenas oficinas. De 1817
at o Cartismo, os trabalhadores de pequenas oficinas, na regio
norte e central, eram to proeminentes em toda agitao radical quanto
os operriosindustriais. Em muitas cidades, o verdadeiro ncleo de
onde o movimento trabalhista retirou suas ideias, organizao e
liderana era constitudo por sapateiros. teceles. seleiros e
fabricantes dearreios. livreiros, impressores. pedreiros. pequenos
comerciantes e similares. A vasta rea da Londres radical, entre
1815 e 1850, no extraiu sua fora das principais indstrias pesadas
(a construo de navios tendia a declinar, e os mecnicos causariam
impacto somente no final do sculo). mas das fileiras dos pequenos
ofcios e ocupaes.O fato relevante do perodo entre 1790 e 1830 a
formao da classe operria", isso revelado. em primeiro lugar, no
crescimento da conscincia de classe: a conscincia de uma
identidadede interesses entre todos esses diversos grupos de
trabalhadores, contra os interesses de outras classes. E. em
segundo lugar., no crescimento das formas correspondentes de
organizao poltica eindustrial.
O fazer-se da classe operria , um fato tanto da histria politica e
cultural quanto da econmica. Ela no foi gerada espontaneamente pelo
sistema fabril. O operrio ou o tecedor foram objeto de doutrinao
religiosa macia e criadores de tradies polticas. A classe operria
formou a si prpria, tanto quanto foi formada.
O territrio da Revoluo Industrial. que foi primeiramente demarcado
e explorado por Marx, Arnold Toynbee, os Webbs e os Hammonds,
assemelhase agora a um campo de batalha acadmico.Ponto por ponto, a
familiar viso "catastrfica" do perodo tem sido contestada. Embora
fosse costumeiro julgar o perodo como marcado pelo desequilbrio
econmico. misria e explorao intensas, represso politica e heroica
agitao popular, a ateno agora dirigida taxa de crescimento
econmico. Os sofrimentos do perodo so considerados como consequncia
das mudanas provocadas pelas Guerras, das comunicaes deficientes,
das operaes bancrias e de troca incipientes, dos mercados incertos
e do ciclo econmico, ao invs da explorao ou da competio encarniada.
A agitao popular considerada como resultado da coincidncia
inevitvel da alta dos preos do trigo com as depresses econmicas, e
explicvel em termos de um quadro elementar de tenso social,
derivado dessas condies. Em geral, se sugere que a situao do
trabalhador industrial em 1840 era melhor, em muitos aspectos, que
a do trabalhador domstico em 1790. A Revoluo Industrial foi um
perodo, no de catstrofes ou conflitos e opresso de classe, mas de
desenvolvimento.
A clssica ortodoxia catastrfica foi substituda por uma nova
ortodoxia anticatastrfica, os estudos da nova ortodoxia
enriqueceram nosso conhecimento histrico, modificando e revisando
em aspectos importantes o trabalho da escola clssica.
No perodo em que metade da Europa estava intoxicada e a outra
metade deslumbrada ante a nova magia da palavra cidado, a nao
inglesa se encontrava nas mos de homens que encaravam a ideia de
cidadania como uma ameaa para sua religio e sua civilizao. e que
buscavam. Deliberadamente, fazer das desigualdades da vida a base
para o listado, enfatizando c perpetuando a posio dos trabalhadores
como uma classe subalterna. Por esse motivo. a Revoluo Francesa
dividiu o povo da Frana menos do que a Revoluo industrial dividiu o
povo da Inglaterra.Nessa percepo de que a revoluo que nau aconteceu
na Inglaterra foi to devastadora e, em alguns aspectos, mais
desagregadora do que aquela que aconteceu na Frana, encontramos uma
pista para a natureza verdadeiramente catastrfica do perodo. Nesta
poca, houve trs, e no duas, grandes influncias simultneas sobre o
trabalho. Houve o tremendo aumento da populao, h tambm a Revoluo
Industrial. Nos seus aspectos tecnolgicos. E. finalmente. a contra
revoluo poltica, entre l792-l832. Enfim. tanto o contexto politico
quanto a mquina a vapor tiveram a maior influncia sobre a formao da
conscincia e das instituies da classe operria.
Aps oxito dos Direitos do Homem, a radicalizao e o terror da
Revoluo Francesa e a represso de Pitt, a plebia Sociedade de
Correspondncia resistiu sozinha s guerras contrarrevolucionrias,
alarmados com o exemplo francs, e envolvidos pelo fervor patritico
da guerra, a aristocracia e os industriais buscaram uma causa
comum. O antigo regime ingls recebeu um novo impulso vital noapenas
nos negcios nacionais, mas tambm na perpetuao de corporaes arcaicas
que desgovernavam as cidades industriais em expanso. Os
industriais. em compensao, receberam importantes concesses.
principalmente a abolio ou revogao da legislao "paternalista"
relativa ao aprendizado, regulamentao de salrios, ou s condies de
trabalho na indstria. A aristocracia estava interessada em reprimir
as "conspiraes" jacobinas populares, e os industriais buscavam
derrotar as "conspiraes pelo aumento dos salrios: os Decretos sobre
as Associaes (Combination Acts) serviram aos dois propsitos.Os
trabalhadores foram, portanto, forados a se sujeitarem a um
apartheid poltico e social durante as Guerras. Era a coincidncia
com uma revoluo na Frana. com uma crescente autoconscincia e
aspiraes mais ambiciosas com o aumento da populao que, em valor
absoluto, tanto em Londres quanto em outros distritos industriais,
se tornava mais impressionante, ano aps ano e com formas de
explorao econmica mais intensas, ou mais transparentes. Na
agricultura, os anos entre 1760 e 1820 foram a poca de intensificao
dos cercamentos, em que os direitos a uso da terra comunal foram
perdidos numa vila aps a outra; os destitudos de terras e. no sul,
os camponeses empobrecidos so abandonados s expensas dos
granjeiros. dos proprietrios de terrase dos dzimos da Igreja. Nas
indstrias domsticas, a partir de l800, os pequenos mestres foram
cedendo lugar aos grandes empregadores (industriais ou
atacadistas), e a maioria dos teceles e dos fabricantes de pregos
tornaram-se trabalhadores assalariados externos, com um emprego
mais ou menos precrio. Nas tecelagens e em vrias reas mineradoras,
esses so anos de trabalho de crianas (e, clandestinamente, de
mulheres).